A definição mais comum de Teologia é “a ciência de Deus”. Muitas
definições tendem a interpretar literalmente o termo “Teologia” e chegam à conclusão de que Deus deve ser objeto do estudo científico do homem. Essa ideia é, de fato, insatisfatória, porque Deus não é passível de investigação por um ser inferior, pois ele chamou à existência todas as coisas. Ele é a realidade última de tudo, e é aquele que põe em ordem e sistematiza todas as coisas.
Abraham Kuyper desafiou essa definição de Teologia como “o estudo de
Deus”, argumentando que Deus não pode ficar debaixo de investigação, ou seja, debaixo de um microscópio,6 como os outros campos da investigação ficam. Numa ciência, o pesquisador está sempre debruçado sobre o objeto investigado. Mas isso não acontece com Deus. Ele está sobre e além da capacidade do homem de investigá-lo. O homem não tem condições de investigar Deus porque ele está muito acima de seu alcance, pelo fato de sua natureza ser infinitamente superior e inatingível pelo homem. Se é assim, como se pode saber alguma coisa sobre Deus? Por meio de sua autorrevelação. Deus é autoexistente, não verificável em si mesmo, mas é um ser pessoal que se comunica e se torna acessível, deixando marcas na história, sendo conhecível através de proposições revelacionais que estão registradas na Escritura. Essa, sim, é o objeto da investigação do homem. O homem estuda Deus mediante aquilo que Deus revela de si mesmo. Portanto, a Teologia deve ser entendida como a “ciência da revelação” ou a “ciência da Escritura”. De modo inverso, dentro do estudo científico da Teologia, o pesquisador está debaixo do “objeto” investigado, porque depende dele para obter as informações necessárias. Nas outras ciências, o pesquisador trabalha com elementos que não têm resposta voluntária, somente reagindo a estímulos que são governados pelas leis naturais. Mas não é assim na pesquisa científica da Teologia. Nela, o pesquisador não tem controle sobre o “objeto” pesquisado, como acontece nas outras ciências. Nesse sentido, a Teologia é uma ciência singular. O pesquisador tem de estar submisso às informações que Deus dá de si mesmo em sua revelação, ficando dependente e sob a autoridade das Escrituras.