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Esta colectânea é, de facto, a única referência existente sobre a abordagem
“chopiniana” do canto, sendo bastante útil para a reinterpretação das peças
seleccionadas do Cancioneiro.
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Depois de termos apresentado várias propostas temáticas para
este trabalho, a ideia “Chopin” pareceu-nos adequada, original e um
tanto ou quanto arrojada. Apresentamos então as peças “O
Guerrilheiro”, “As Estrellas”, “A Judia” e “Poesia Amor” do já referido
Cancioneiro, com arranjos originais feitos pelo grupo, que farão parte
da nossa performance na apresentação oral deste trabalho.
O trabalho escrito segue então com uma descrição das obras e
uma devida contextualização histórica, política, artística e biográfica.
No Anexo apresentamos partituras das peças originais, assim
como dos arranjos que fizemos.
Cancioneiro de Músicas Populares de César Augusto Pereira
das Neves (1893) Vol.I
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uma intenção não só de divulgar as práticas musicais em uso na
época (e não apenas as de matriz rural), como de providenciar
repertório para consumo doméstico nos salões da burguesia de
então. Os volumes dedicam cada uma das harmonizações a uma
senhora dessa sociedade.
As canções apresentadas no Cancioneiro são, como acima
referido, harmonizadas para piano. É de salientar que o piano,
embora não seja um instrumento tradicional ou tipicamente
português, era o instrumento de eleição do séc. XIX, possibilitando ao
músico amador “toda a gama harmónica e tonal da grande orquestra
em troco de um investimento de talento e esforço
surpreendentemente pequeno” (Moore 1962:137).
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César Augusto Pereira das Neves - Biografia
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Géneros em Chopin
a. Nocturno
“usually quiet and meditative” (Brown 2001:11)
b. Baladas
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francesas - « no princípio do século XIX, a balada (Fr. Ballade) tinha
passado a designar uma forma de poesia lírica e um tipo de música
vocal.» (Nicholas 2007:237)
Balada como Chopin e Liszt, por exemplo, escreveram, consiste
no mesmo significado mas passa a ser apenas música instrumental
em estilo narrativo. As baladas de Chopin são composições mais
extensas do que geralmente escrevia (por exemplo mazurcas ou
nocturnos) e eram em parte inspiradas na poesia nacionalista do
amigo Adam Mickiewicz.
c. Barcarola
“sentimental, even melancholy atmosphere” (Brown 2001:710)
d. Canções polacas
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sua morte. Todavia, as páginas dispersas de dezassete canções foram
coligidas por Julian Fontana e publicadas, com o consentimento da
família, simultaneamente em Varsóvia e Berlim, em 1857, tendo
ficado classificadas com um Opus 74. Estas canções musicam poemas
polacos da autoria de contemporâneos de Chopin. Possuem dualidade
temática: existem as românticas e as nacionalistas. Dão a impressão
de que foram escritas como reacção a poemas que descreviam o seu
estado de espírito ou os seus sentimentos num determinado
momento, e também para satisfazer necessidades sociais e a
amizade. Apesar do encanto melódico e da sinceridade emocional,
estas obras de Chopin não tiveram grande acolhimento por parte dos
cantores até à actualidade. Algumas destas peças gozam de maior
popularidade mais pelas transcrições para piano solo que Liszt
produziu.” (Chopin Nicholas 211)
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Contextualização Histórica, Política e Artística dos
documentos
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políticos, sufragismo. Uma enorme transformação social ocorria e
ninguém ficava indiferente.
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Portugal
Mundo
Friso Cronológico
O movimento
republicano Convite dos governos
ganhou força; Inauguração do francês e alemão para
fundados clubes e Teatro Aveirense Portugal participar na
dezenas de Conferência de Berlin (teve
jornais como objectivo organizar a
Inaugurado o Expresso do
Construção da primeira
balão dirigível em
primeiro automóvel;
Paris
Rodin esculpe “O
inauguração da Estátua
da Liberdade em Nova
pensador”
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Inglaterra contesta o facto
Hintze Ribeiro substitui José Dias
de Angola e Moçambique
Ferreira como Primeiro Ministro
pertencerem a domínio
em Portugal
português
Primeira
projecção pública
de um percursor 11
do cinema
Descrição e interpretação dos documentos
O Guerrilheiro
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nacionalistas de Chopin. O poema representa a individualização sob
alegoria do exército português que, tal como todos os outros
exércitos em todas as guerras, independentemente da vitória ou não
nessas batalhas, acabam sempre por deixar uma grande
percentagem dos seus de “luz extinta” no campo de batalha. A forte
crítica implícita destas estrofes permite deduzir a revolta do povo
face às frequentes guerras de outrora.
A personagem abordada, um “pequeno creado na guerra”,
escravo das suas obrigações militares, funciona como uma pessoa
colectiva, pois representa todos os soldados que lidam com o sentido
patriótico de defesa das suas terras e, ao mesmo tempo, com o
sofrimento de presenciar a morte dos seus, sendo que a sua própria
vida corre um sério risco. A defesa da terra face às invasões inimigas
é deduzida pela “visão”, por parte da personagem, da “terra da pátria
aggredida”.
As duas estrofes seleccionadas do poema apresentam uma
progressão temporal, quando confrontadas uma com a outra. Na
primeira estrofe, o homem encontra-se “erguido no topo da serra”
com o seu amuleto e instrumento de defesa (o “arcabuz” – arma
antiga de cano curto e largo), disposto a defender a sua nação; é
referido que ele não tem outra vida para além do compromisso militar
(“não conhece, não vê outra luz”), mas existe nele uma força interior,
um “rude cantar” que lhe referve no sangue. Já na segunda estrofe, o
guerrilheiro, atingido pelo inimigo, já não pode defender a pátria, pois
“desaba” da montanha com o seu sangue paralisado; o arcabuz
permaneceu, mas o seu cantar desvaneceu-se.
No arranjo produzido para este poema, a letra é cantada em
dueto, sendo que seria indiferente a escolha dos intérpretes, visto
que todo o texto é narrado, não havendo confronto de diálogo.
As Estrellas
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Música recolhida por: Ex. Sr. D. Manuel Maria de Castro Corte Real
Autor: J.M.B. Carneiro
Ano: 1890, Coimbra
Cancioneiro: Cancioneiro de César das Neves do Ano 1893
Dedicatória: A Ex. ma Sra. D. Constancia Barboza
Género: Nocturno
A Judia
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Poesia: Thomas Ribeiro
Cancioneiro: Cancioneiro de César das Neves do Ano 1893
Dedicatória: A Ex. ma
Sra. D. Anna Adelaide Leite Bastos
Género: Barcarolla
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poderá, de alguma forma, explicar a impossibilidade de concretização
do amor do protagonista masculino do poema, impotente perante a
instalada “desgraça austera”, propiciada pela “inabalável fé” da judia.
Poesia , Amor
Tudo é Poesia,
Poesia, amor;
Tudo são encantos
Para o trovador!
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da Natureza cria-se um efeito de paz, pureza e amor. Esta Ballada
surge aqui, assim, como divergente da anteriormente apresentada,
podendo esta ser comparada com as Canções Polacas de Chopin
inscritas no grupo das sentimentais e românticas.
Na nossa interpretação, e apesar do contexto da estrofe na
íntegra ser o mesmo, construímos uma divisão bipartida, atribuindo a
cada uma delas uma personagem (masculina e feminina). A “nuvem
mimosa” descrita poderia ser uma afirmação da sensação de amor,
mas a nossa reinterpretação tomou-a como uma metáfora descritiva
de uma personagem feminina. Assim nascem duas personagens no
poema, sendo que o discurso de um é completado pelas palavras de
outra. No refrão, ambas coincidem expressivamente na conclusão de
que tudo o que vêem em seu redor é “poesia, amor”.
A repetição do refrão é interpretada por todos os elementos
do grupo, em jeito de conclusão da performance.
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2. Análise formal – explicitação dos arranjos
O Guerrilheiro
(arranjo)
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Balada nº 1 Op. 23 - http://imslp.info/files/imglnks/usimg/7/7f/IMSLP00115-Chopin_-
_Ballade_No1.pdf
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De facto, um pouco por toda a obra de Frédéric Chopin, e mais
concretamente na Balada referida, é possível verificar a utilização
frequente de ornamentos expressivos em sequência, assim como as
melodias encadeadas no baixo oitavado.
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Evidência dessa tentativa pode ser encontrada na transcrição
transposta de um fragmento do tema da popular «Marcha Fúnebre»:
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Numa versão bastante simplificada, esta frase aproveita a força
da tónica que a original exerce no Scherzo, para afirmar a inesperada
cadência interrompida no arranjo.
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Canção Polaca nº 9 Op. 74 - http://imslp.info/files/imglnks/usimg/8/8c/IMSLP54246-
SIBLEY1802.9252.10aa-39087012078772score.pdf
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Estudo nº 9 Op. 10 - http://imslp.info/files/imglnks/usimg/3/30/IMSLP00313-Chopin_-
_OP10_9.PDF
24
Balada nº 4 Op. 52 - http://imslp.info/files/imglnks/usimg/e/e9/IMSLP00118-Chopin_-
_Ballade_No4.pdf
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que, por consequência, procurámos manter as linhas do violino e da
flauta o mais simples possível na generalidade dos casos, aparecendo
apenas em momentos raros com algum apontamento melódico
relevante. Servem, então, de mero suporte harmónico ao piano.
Abaixo é observável a estrutura simplificada das linhas do violino e da
flauta no arranjo realizado, assim como, mais abaixo, um exemplo do
minimalismo pretendido por Chopin no acompanhamento ao canto.
As Estrellas
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violino possa parecer estranho à música de Chopin, consideramos
interessante incluí-lo, salientando o “luzir” das estrelas com pizzicato.
O soprano abre a peça, fazendo uma interrogação em tom leve e
pueril, à qual o barítono responde de forma mais forte, um tanto ou
quanto dramática. Procurámos “chopinizar” a peça através de
citações de obras de Chopin e acompanhamentos pianísticos
característicos.
A peça original está na tonalidade de Sol maior e inicia-se com
a voz em anacruse, acompanhada muito simplesmente de um baixo
de Alberti pela totalidade dos 32 compassos que a constituem.
(original)
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Canção Polaca op. 74 nº16 http://imslp.info/files/imglnks/usimg/9/9f/IMSLP40261-PMLP13698-
Chopin--Polish_Songs_-_16_Lithauisches_Lied.pdf
(arranjo)
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Prelúdio op. 28 n.º 4 http://imslp.info/files/imglnks/usimg/f/fc/IMSLP79718-PMLP02344-
FChopin_Preludes_Op28.pdf
(arranjo)
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A Judia
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Chopin, Barcarola op. 60 -
http://imslp.info/files/imglnks/usimg/9/96/IMSLP00631-Chopin_-
_Barcarole__Op_60.pdf
(original)
(arranjo)
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Chopin, Nocturno op. 37 nº2 -
http://imslp.info/files/imglnks/usimg/f/f9/IMSLP48577-PMLP02307
-Chopin_Nocturnes_Schirmer_Mikuli_Op_37.pdf
(arranjo)
(arranjo)
(arranjo)
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Um movimento muito típico da obra de Chopin é o acompanhamento
com sequências do mesmo acorde utilizando as várias inversões.
Veja-se, por exemplo, a seguinte comparação com a Balada op.23
nº1.
(arranjo)
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Poesia, amor
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À entrada do canto existe logo no piano a primeira referência
directa a uma Valsa chopiniana, apesar da execução arpejada:
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Sonata nº 2 Op. 35 Grave / Doppio movimento
http://imslp.info/files/imglnks/usimg/0/00/IMSLP79668-PMLP02363-Chopin--Sonata-No2-Op35--
Ed-Peters.pdf
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Canção Polaca nº 17 Op. 74 – http://imslp.info/files/imglnks/usimg/8/8c/IMSLP54246-
SIBLEY1802.9252.10aa-39087012078772score.pdf
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Conclusão
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Anexo
(Partituras dos arranjos pelos elementos do grupo de trabalho)
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“O Guerrilheiro”
40
41
42
43
44
45
“As Estrellas”
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
“A Judia”
56
57
58
59
60
61
62
63
64
“Poesia, Amor”
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
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Bibliografia
Webgrafia
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Chopin, Balada nº 1 Op. 23 -
http://imslp.info/files/imglnks/usimg/7/7f/IMSLP00115-Chopin_-
_Ballade_No1.pdf
79