Um tema de grande relevância nacional permanece ausente dos debates da grande
mídia e da sociedade brasileira. Trata-se das relações entre as religiões e o Estado laico, que tem chamado a atenção dos estudiosos pelo avanço crescente dos interesses e grupos religiosos sobre os poderes legislativos e executivos, configurando demandas religiosas como políticas de Estado. Não bastassem os casos de rivalidade e intolerância religiosa registrados em vários estados, especialmente de grupos evangélicos – mais especificamente neopentecostais – contra praticantes de Umbanda e Candomblé, conforme registrou a revista ISTOÉ, edição nº 2191, de 04/11/2011; despontam grandes preocupações com a questão do Ensino Religioso na escola pública. O Acordo Brasil-Vaticano (2010), ao determinar que o Ensino Religioso deva ser “católico e de outras confissões religiosas”, provocou ação de inconstitucionalidade pela Procuradoria Geral da União. Já o Conselho Nacional de Educação enviou comissão ao Supremo Tribunal Federal (STF) reforçando o pedido de suspensão dos efeitos do Acordo sobre o Ensino Religioso, que deixa de ser não-confessional para se tornar Ensino de Religião. Outra situação relacionada à questão, mas de profunda gravidade, diz respeito à proposta de Emenda Constitucional (PEC 99, 19/10/2011), do dep. João Campos (PSDB-GO), que: “Acrescenta ao art. 103, da Constituição Federal, o inciso X, que dispõe sobre a capacidade postulatória das Associações Religiosas para propor ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos, perante a Constituição Federal.” Noutras palavras, um conjunto de entidades representativas da igreja católica e de diversas igrejas evangélicas, citadas na proposta, formaria uma Corte Eclesiástica acima do Congresso Nacional e do STF, com poderes de referendar ou não as leis do país. A proposta tanto tem de ousada quanto de perigosa. A julgar pelas últimas investidas clericais contra o Estado laico, esboça-se não apenas o sepultamento do mesmo, da cidadania e da democracia, como a germinação obscurantista de uma teocracia.
(*) Historiador. Prof. da UECE. Pesquisador do Núcleo de Estudos de Religião, Cultura e
Capítulo 9 - A Democracia Liberal em Face Das Ideologias Dissolventes - A Maçonaria Cearense Frente À Aliança Nacional Libertadora e Ao Integralismo em 1935. Marcos José Diniz Silva