Experimenta-se, nos últimos anos, uma verdadeira guinada de Cesar a Deus. Ou
melhor, talvez, de Deus a Cesar. Testemunhamos a colocação de imagens de santos católicos nas praças públicas de Fortaleza, com recursos do contribuinte. Acompanhamos os projetos de lei da bancada evangélica da Câmara Municipal, para a distribuição obrigatória de exemplares da Bíblia nas escolas púbicas. Tivemos Ministro da Saúde e autoridades médicas excomungados, por bispo católico pernambucano, com apoio do Vaticano, no caso do aborto da criança estuprada. A última é a votação em regime de urgência no Congresso Nacional, da Concordata Brasil-Vaticano. Aprovado celeremente na Câmara dos Deputados, agora no Senado, o Estatuto Jurídico da Igreja Católica é uma obra prima de inconstitucionalidade, decretando o fim do Estado laico no Brasil. Como saída para o engodo do privilégio, a bancada evangélica engatou projeto de Lei Geral das Religiões, estendendo os benefícios do Acordo às demais confissões. A Constituição brasileira não regulamenta, nem protege a religião católica e as demais? Por que uma lei para as religiões? Por que votação de urgência e sem debate público? O que está por trás desses acordos entre parlamentares, governantes e religiões organizadas? Os desdobramentos futuros da aprovação desse Acordo e dessa Lei, nas relações Estado/religiões – marcadas pela ambigüidade – prometem a promiscuidade legalizada, ameaçando o pluralismo, a liberdade de consciência e a democracia. A onda fundamentalista, teocrática e fanática ganha terreno a cada dia. Haverá saída? Fica a sugestão da filósofa Marília Fiorillo, em O Deus exilado: ‘A nova era dos extremos que se inaugura, a do delírio religioso, já desenvolve seu antídoto: o secularismo. O secularismo é o iluminismo do século XXI, a retomada daquele projeto de tolerância, convívio e aventura do espírito anunciado pelos homens do século XVIII, interrompido e deturpado pela doença dos totalitarismos do século que passou. Sapere aude, ousar saber era o lema de gente como Kant, Hume, Diderot, Valtaire. Os camaradas da Luzes...O secularismo é a terapêutica contra os novos cruzados, o fármaco para os fanatismos’.
Capítulo 9 - A Democracia Liberal em Face Das Ideologias Dissolventes - A Maçonaria Cearense Frente À Aliança Nacional Libertadora e Ao Integralismo em 1935. Marcos José Diniz Silva