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1º Estamira e os 27 Trocadilhos"

  Em 22 de fevereiro de 2015, quando completei 27 anos decidi comemorar na chácara de meu pai, e convidei meu
amigo e vizinho Alexandre (Guitarrista da banda "Piratas do Cachimbo", graduando em audiovisual na UEG) para
levarmos os nossos instrumentos musicais, algum adereço tambem, e gravarmos algo, na época eu estava com o
gravador de áudio de bolso da produtora na qual trabalho, Kam Filmes, e levei tambem a câmera T4i que possuo.
  Quando chegamos, fizemos uma caminhada antes, e ao anoitecer estávamos com os instrumentos montados, e
conversando surgiu o tema "Estamira", que é o nome de uma mulher paulista já falecida que inspirou o  nome do
documentário do Padilha, e assim ficamos inspirados também com a pessoa retratada no documentário, por se
tratar de alguem que sofreu tanto, e mesmo assim buscava liberdade e autenticidade em sua vida e idéias.
  Nisto decidimos gravar tanto a trilha sonora quanto a parte de vídeo, com este estado de espírito que estávamos,
tendo a Estamira como um ícone memorável,  e assim começou O "Lux Sonora", através do primeiro vídeo
intitulado "Estamira e os 27 Trocadilhos".

- Conceitos:

*Dadaísmo
*Surrealismo
*Psicodelia
*Experimentalismo
*Arte coletiva
*Estamira

2º Prenúncio&Perfume

  Alguns meses após gravar "Estamira e os 27 Trocadilhos" já havia conversado com algumas pessoas e notei que
se  interessariam  em produzir  uma segunda edição, nisto senti uma necessidade de buscar algum tema para
nortear a inspiração desta nova edição, assim  percebi dentro o meu círculo social das redes sociais, trabalho e
faculdade,  que havia um discurso daquele momento rolando, e se tratava de liberdade sexual das mulheres,
homossexuais e outras minorias, disto bolei uma frase que serviria como eixo para nos apoiarmos para produzir a
trilha sonora e a parte videográfica, e a frase era: "Toda flor tem o direito  de desabrochar".
  Quando já possuia a frase contatei uma ex-colega do curso anterior que eu cursava, artes visuais, que se chama
Larissa Cezar de Almeida para performar, convidei tambem uma poetisa que encontrei pesquisando nas redes
Sociais chamada Ingrid Oliveira, para produzir e recitar um poema inspirado na frase tema, e um amigo músico
para ajudar a compor a parte instrumental da trilha sonora do  vídeo.

- Conceitos:

*Experimentalismo
*Arte Coletiva
*Dadaísmo
*Psicodelia
*Liberdade de expressão e sexual

3º Ao Leste

  Após alguns meses a publicação do vídeo “Prenúncio&Perfume” me pus na busca pelo próximo tema do vídeo
que seguiria a sequencia do projeto, e através de influências da cultura do surf-music, rockabilly, e outras vertentes
da música, assim optei por retratar em um vídeo algumas experiências filmadas por mim em 3 viagens que realizei,
sendo a primeira que ocorreu em julho para Itacaré-Bahia, a segunda aconteceu no final do ano para o Festival
Universo Paralelo em pratigi-Bahia, e a terceira foi no carnaval de 2016 onde fui em outro festival de música
eletrônica em Luziânia-GO, chamado Zuvuya.
  Nisto a temática do terceiro vídeo ficou sendo como viagem para a praia, o vídeo apresentaria estas imagens
retratando como narrativa um personagem (eu) indo para o leste caminhando até chegar ao mar, e paralelamente a
estas cenas apareceriam outras cenas destas experiências dos festivais que estive presente. A idéia seria fazer algo
no espírito de algumas obras do Jack Kerouak, como “Na estrada” e “Vagabundos Iluminados”, outra influencia
também foi um artista de surf music que se apresenta como “Dirty Beaches”.
  Depois de decidir o tema, convidei a Letícia Pereira, uma amiga para atuar, a Nataly Martins para atuar também,
e o namorado da Nataly, João Victor, que é músico nas bandas “Carne Doce”, e “Luzi Luzia”, para compor a trilha
sonora, nisto gravei algumas cenas com elas sem roteiro prévio, eu disse dias antes da gravação qual é o tema e
juntos decidimos como e que seria filmado.

 
- Conceitos

*Experimentalismo
*Viagem
*Praia
*Surf-music
*Arte coletiva
*Psicodelia
*Trance
*Estrada
*Surrealismo

No ano de 2012 ocorreu a décima segunda edição da mostra


cinematográfica “Goiânia Mostra Curtas”, nesta mostra foi exibido diversos
filmes de diversos formatos e gêneros, inclusive vários com propostas
temáticas e estéticas experimentais, o qual pude ter a felicidade de assistir,
o que me deu idéias e estímulo para produzir filmes. Após esta mostra
audiovisual estive envolvido na produção de alguns filmes independentes,
como “Visceralidade à flor da pele” de 2013, “Desplugue” de 2013, “O
Roteiro” de 2014, dentre outros, até que em 2015 surgiu a idéia de fazer um
projeto audiovisual experimentalista no âmbito da criação da imagem e do
som, e como ocorreu comigo na mostra de cinema, de ver o mundo com uma
nova perspectiva, mais independente, livre e desapegada das definições
sobre o mundo que a sociedade nos impõe, isso depois de ver as obras dos
diretores apresentadas na mostra, essa alternativa de perspectiva de mundo
me motivou a criar, a fazer como vi, contribuir para a multiplicidade de idéias
e convicções, essa foi a principal motivação deste projeto experimental.
Primeiro foi feito um vídeo inicial (Estamira e os 27 Trocadilhos), que
propiciou a idéia de um projeto, que seria a continuação da produção de
vídeos ao estilo do filme até então produzido, seguindo a mesma linha livre
de produção, logística, coneitos, e participação, e assim surgiu o Lux
Sonora, que em latim quer dizer “Luz e Som”, fazendo uma referencia direta
ao propósito do que seria o projeto, criação através de experimentações
livres na produção de imagens e sonoridades
O intuito do Lux Sonora é experimentar a geração e expressão de
uma comunicação audiovisual, feita com o fim de ser publicado na internet. A
experiência se dá ao agregar em um único projeto de filme, as idéias de
todos aqueles que participam da realização da obra, podendo o filme ter ou
não ter um roteiro, a maioria dos elementos são decididos pouco antes ou até
no momento da gravação, idéias e conceitos são propostos antes para
inspirar os realizadores antes de encontrarmos e executarmos os “takes”.
O Lux Sonora é um manifesto contra a normatividade que busca
limitar o pensamento, através de sensuras, preconceitos, ou outras
manifestações da ignorância que impõe “cercas” na construção e na vivência
do “eu”, o Lux Sonora é um manifesto pela liberdade de pensamento,
procurando sempre aceitar e agregar os conceitos e formas de expressão de
artistas através da linguagem do cinema experimental, este signo final gerado
com a finalidade de propor uma nova forma de interpretar o mundo, é
publicado através do youtube, cotendo em a sua descrição o nome e a
função de cada realizador.
“Estamira e os 27 trocadilhos” foi o vídeo que deu origem ao projeto
“Lux Sonora”, a idéia de fazê-lo foi espontânea. No dia 22 de fevereiro de
2015 eu juntamente com um amigo, “Alexandre Ventana”, fomos para uma
chácara levando uma guitarra com amplificador, um sintetizador, câmera
fotográfica dslr t4i com 2 lentes (18-55mm e a 50mm), um tripé para a
câmera, e um gravador de áudio. Nossa idéia inicial era passar o final de
semana tocando de forma improvisada. Chegamos no local sábado, era meu
aniversário de 27 anos, por esta razão o número 27 integrou o título da obra,
que foi pensado em uma lógica dadaísta como também ocorreu com o filme.
No final da tarde, logo após iniciarmos a “jam session” e conversarmos um
pouco, passamos a discutir sobre o documentário do Marcos Prado,
“Estamira”, a personagem que protagonizou e que foi responsável pelo título
do documentário, Estamira Gomes de Souza, falecida dia 28 de julho de
2011 nos corredores do hospital Miguel Couto, por negligência do Estado no
Rio de Janeiro, era uma senhora habitante no aterro sanitário Jardim
Gramacho, sofria de distúrbios mentais como a esquizofrenia, não acreditava
nos diagnósticos e recitas médicas, tinha convicção que eram ilusórios, sem
a real motivação de cura, para ela o objetivo do sistema de saúde brasileiro
não passava de iludir os miseráveis receitando remédios para dopá-los,
silenciá-los de sua dor e carência, ao invés de sarar o problema que gera os
sintomas e dores.
Estamira, a mulher retratada no documentário de Marcos Prado, era
uma pessoa notável em sua história, fala e idéias, apresentava
intrinsecamente com sua loucura uma lucidez peculiar, captava as
contradições sociais, e injustiças veladas pela sociedade, e através de uma
fala muitas vezes desordenada expunha este panorama desconhecido e
ignorado pela maioria, e mesmo mal sabendo escrever apresentava ter
ciência do contexto social no qual estava inserida, e acreditava estar viva
com o único propósito de revelar a verdade e nada mais, assumindo uma
postura profética em seu discurso e seus delírios.
Inspirados nas qualidades de Estamira, na sua visão frente a o caos a
que ela estava inserida, nós tocamos nossos instrumentos musicais, guitarra
e sintetizador, e nos gravamos alternando entre estes instrumentos para a
produção sonora, e cenários que a chácara em que estávamos nos oferecia
para retratar este contexto as idéias e a pessoa da Estamira, e assim foi feito
pensando no âmbito subjetivo.
Os figurinos improvisamos com o que tínhamos ali naquela ocasião, e
para isso, nos gravamos mascarados, como personagens que ocuparam o
cenário que gerou as condições diversas de miséria de Estamira, nisto nos
vestimos e interpretamos aquilo que Estamira se refere como trocadilhos, o
que para ela queria dizer as contradições, injustiças e hipocrisia da
sociedade, o personagem de chapéu, interpretado por mim, foi utilizado
alguns recursos em seu figurino, como um lenço no rosto, como os assaltante
dos filmes de bang-bang usavam, além de chapéu preto de feltro, e uma
peruca de cabelos compridos, e isto foi para simbolizar a vilania, o
desassossego, e o crime que se acomodaram na sociedade, gerando
distúrbios sociais de onde saem histórias de vida com a da Estamira. O outro
personagem usando máscara branca, simboliza a hipocrisia mantida pela
sociedade, como a que Estamira denuncia no documentário, dizendo que as
receitas médicas dos hospitais públicos aos quais ela tinha acesso tinham
objetivos dopantes em seus pacientes, e não curativas.
O espaço utilizado como locação não foi um espaço escolhido, foi o
espaço em que estávamos no momento em que decidimos fazer o vídeo
sobre Estamira, portanto por ser uma casa antiga, no meio rural, sendo um
cenário muito adverso ao que foi mostrado no documentário, isto nos fez
retratar qualidades subjetivas da história da Estamira, como o passado, o
tempo, o caos, a solidão, loucura e outros valores. O cenário da primeira
cena do vídeo, onde há uma vela acesa sobre uma mesa com objetos
diversos ao seu redor, incluindo a capa de um disco com o rosto do Tim
Maia a mostra, e um violão, sendo uma referencia a cultura popular brasileira,
à musica que também fazia parte do universo vivido por Estamira, e a vela
mostra o lado místico, profético que Estamira assumia em diversos
momentos, neste cenário ao lado da mesa há um pilão objeto muito utilizado
décadas atrás principalmente no meio rural, este item trouxe um tom rústico
do passado, fazendo alusão a um tempo que não muda nem passa, no caso
da história de Estamira se trata de um tempo marcado pela desigualdade,
abandono, miséria e violência, calamidades que não desaparecem, nem se
resolvem, mas permanece enraizado nas bases da população carente
brasileira.
A atuação foi definida a modo de expressar a tetricidade do contexto
do aterro sanitário Jardim Gramacho, onde Estamira atuava na reciclagem de
materiais descartados pela população do Rio de Janeiro, para isto
buscamos reproduzir movimentos retos, que trouxessem um ar de
impessoalidade, também foi explorado atuações frente a câmera marcados
por uma performance mais confrontadora, transmitindo uma atmosfera de
medo e julgamento, sendo que em todas as tomadas gravadas ficamos sem
nos deslocar, simbolizando a estagnação, a acomodação das contradições,
chamadas trocadilhos por Estamira, na sociedade que mantinha o cenário do
lixão no documentário.
A direção fotográfica do filme se estruturou em planos frontais, com
aberturas que variavam e se intercalavam nas cenas, do aberto (geral),
médio, ao fechado (sem ser detalhe), nas cenas em que ambos aparecem
utilizamos o tripé, estas foram todas abertas, as cenas em que apenas um
aparece, teve o uso do tripé também, mas a maior parte foram feitas com
câmera na mão parada, como não tínhamos equipamento de iluminação,
nos aproveitamos da idéia das velas para dar um ar de obscuridade nas
cenas, vimos que apesar de ser um recurso limitado, tem suas vantagens,
como uma textura singular de dramaticidade, devido o bruxulear da chama,
criando uma fonte de luz que “dança” na cena, isso traz um movimento que
uma luz artificial não traz igual, o mover deste foco de luz durante a gravação
também foi uma qualidade descoberta no uso de vela como fonte luminosa,
tornando-a quase que a protagonista da cena, revelando o personagem que
ali está, este mover da fonte luminosa sobre o personagem frente à câmera,
trouxe a idéia da loucura esquizofrênica, a algo maníaco, psicótico, etc, pois
transparece uma instabilidade mental, uma instabilidade de si mesmo, como
se ao ver a referencia de luz se mover sobre o personagem e não o contrário
como normalmente acontece, é como se o eixo da realidade fosse efêmero,
próximo ao caos. As cenas gravadas enquadrando uma janela emoldurando
o personagem, sendo planos , médios e fechados de cada um dos
personagens por vez, sendo que foram gravados de maneira similar, mas
modificados diferentemente entre si na pós-produção,
O enquadramento da cena que tem um ribeirão como fundo, e os
personagens aparecem juntos no mesmo enquadramento, sentados com o
da máscara branca tocando violão em primeiro plano, e o de chapéu em
segundo plano, a correnteza passando por tudo, e após a aplicação de um
efeito de negativo nas cores, esta corrente se fundindo com o restante da
superfície remete a volatilidade do lixo no lixão, o efeito de negativo
transgrediu o visual original com as multicores em harmonia, e isto é um
referencial ao “rio” de lixo que corre no aterro sanitário Jardim Gramacho. Há
uma cena que foi um registro da produção da trilha sonora, nela está o
Alexandre com o figurino do seu personagem operando o seu sintetizador, e
eu tocando guitarra vestindo o figurino do personagem com lenço no rosto. A
cena final em que os personagens estão dispostos acomodados em cadeiras
como se estivessem em um momento descontraído e tranquilos, esta cena
expressa que mesmo no turbilhão de contradições e “trocadilhos” é possível
ter momentos mesmo que fugazes, de descanso e contemplação.
A etapa crucial para o vídeo “Estamira e os 27 trocadilhos” foi a etapa
da edição, onde pude manipular os áudios gravados, ordenando-os, ou
desordenando-os, até criar uma sequencia formando algo como uma
narrativa sonora, e apartir desta definição do áudio, é que iniciei a montagem
das cenas seguindo um corte de acordo com áudio previamente definido na
edição, esta etapa pós-gravação foi a mais importante para a criação de um
conceito visual ao filme, pois através da aplicação de filtros, ruídos e
distorções foi possível trazer para a obra o espírito caótico que permeia a
visão de Estamira. Os efeitos de ruídos foram aplicados para denotar a
sujeira resultante das condições precárias de saneamento que Estamira se
coloca para trabalhar, e também para denotar as sujeiras sociais que geram
estes refugos humanos que acabam por ir morar no aterro sanitário, os
efeitos de molhado, e subaquático fazem referencia aos momentos de lucidez
de Estamira, pois em vários momentos percebe-se uma clareza na sua visão
sobre como a sociedade funciona e se manifesta se auto-sabotando, outro
efeito que remete a esta lucidez de Estamira é a sobreexposição de um
triângulo com números e retas sobre ele aplicada sobre uma imagem do
personagem com meascara branca empunhando uma vela, este conjunto
sobreexposto remete a lucidez e ao tom profético de Estamira, logo em
seguida esta cena aparece uma cena rápida com efeito de espelhamento
prismático, mostrando que esta lucidez também é fugaz e logo dá vazão a
loucura e ao delírio, sendo que a cena que vem em seguida é marcada pelos
efeitos de ruídos, e mostra um personagem colocando algo imaginário nas
mãos do outro personagem, sendo uma menção aos delírios e as relações
que Estamira mantem com os demais companheiros no aterro, uma relação
de companheirismo, mesmo que estejam em um contexto de carência e
abondono, o filtro simulando rolo de cinema remete ao passado, transmitindo
o pensamento de estagnação do tempo, permanência das contradições e
dificuldades, os efeitos de multiplicação dos personagens remete a paranoia
que muitas vezes é gerado pela esquizofrenia de Estamira, onde nestes
estados psicóticos de alucinações ocorre o enfrentamento da memória, onde
lembranças conturbadas são resgatadas, o efeito de estrobo vermelho
inserido na cena em que o personagem com máscara branca se move ruma
a câmera com a máscara encarando a lente, gera uma significação relativa
as dores, as mortes, traumas, angústias, e etc, vividos por Estamira, como
algo impossível de se escapar, algo inevitável de se lembrar, ao pânico de
uma dor inevitável, ao horror de um grito que ninguém ouve, na cena final foi
inserido um efeito de papel envelhecido, como a um monumento
estabelecido, a algo que não muda, como a o passado que não volta mas é
sempre lembrado.
Conclusão

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