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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


Departamento de Engenharia de Estruturas

ESTRUTURAS DE CONCRETO:
FUNDAMENTOS

Libânio M. Pinheiro

2017
ESTRUTURAS DE CONCRETO – CAPÍTULO 1

Libânio M. Pinheiro
Colaboradores:
Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos,Thiago Catoia, Bruna Catoia, Artur L. Sartorti

Março de 2017

1. INTRODUÇÃO

Este é o capítulo inicial de um livro cujos objetivos consistem em apresentar:


 os fundamentos do concreto e dos aços para armadura;
 as bases para cálculo de concreto armado;
 o estudo das seções transversais submetidas a solicitações normais e
tangenciais;
 os conceitos referentes à ancoragem das barras e à interrupção delas fora
dos apoios;
 a verificação dos estados limites de serviço.

É um trabalho dedicado a alunos de graduação e a iniciantes em Engenharia


Estrutural. Os interessados em aprofundar conhecimentos deverão consultar
bibliografia complementar adequada.

1.1 DEFINIÇÕES
Concreto é um material de construção proveniente da mistura, em proporção
adequada, de aglomerantes, agregados e água. Também é frequente o emprego
de aditivos e adições.

a) Aglomerantes
Os aglomerantes unem os fragmentos de outros materiais. No concreto em
geral se emprega cimento Portland, que, por ser um aglomerante hidráulico, reage
com a água e endurece com o tempo.

b) Aditivos
Os aditivos são produtos que, adicionados em pequenas quantidades aos
concretos de cimento Portland, modificam algumas de suas propriedades, no sentido
de melhorar esses concretos para determinadas condições.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 2 Introdução

A maioria dos fabricantes de aditivos recomenda, exceto em casos especiais,


não adicionar teores maiores que 5% em relação à massa do cimento.
Os principais tipos de aditivos são: plastificantes (P), retardadores de pega (R),
aceleradores de pega (A), plastificantes retardadores (PR), plastificantes
aceleradores (PA), incorporadores de ar (IAR), superplastificantes (SP),
superplastificantes retardadores (SPR) e superplastificantes aceleradores (SPA).

c) Adições
As adições constituem materiais que, em dosagens adequadas, atuam
somando ou substituindo parcialmente o cimento, dadas as suas propriedades
semelhantes e, em geral, adiciona-se teor maior ou igual a 5% em relação à massa
do cimento, melhorando significativamente o desempenho do concreto.
Podem ser incorporadas aos concretos ou inseridas nos cimentos ainda na
fábrica, o que resulta na diversidade de cimentos comerciais.
As adições são materiais extremamente finos, diminuem o volume de vazios
(contribuindo para uma menor porosidade), reduzem a permeabilidade e,
consequentemente, melhoram a resistência mecânica. Portanto, provocam efeitos
permanentes.
Os exemplos mais comuns de adições são: escória de alto forno, cinza volante,
sílica ativa de ferro-silício e metacaulinita.

d) Agregados
Os agregados são materiais com dimensões variadas, que aumentam o
volume da mistura, reduzindo seu custo, além de contribuir para que haja menor
variação volumétrica do produto final. São também os maiores responsáveis pela
elevação do módulo de elasticidade do concreto. Dependendo das dimensões
características , dividem-se em dois grupos principais:

 agregados miúdos: 0,075mm <  < 4,8mm. Exemplo: areias;

 agregados graúdos:   4,8mm. Exemplo: pedras britadas, seixos rolados.

e) Pasta
A pasta resulta da mistura do cimento com a água. Quando há água em
excesso, denomina-se nata. Durante o processo de adensamento do concreto, a
nata pode aflorar na face superior da peça.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 3 Introdução

PASTA  CIMENTO + ÁGUA

f) Argamassa
A argamassa provém da mistura de cimento, água e agregado miúdo, ou
seja, pasta com agregado miúdo.

ARGAMASSA  CIMENTO + ÁGUA + AREIA

g) Concreto simples
O concreto simples é formado por cimento, água, agregado miúdo e
agregado graúdo, ou seja, argamassa e agregado graúdo.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 4 Introdução

CONCRETO SIMPLES  CIMENTO + ÁGUA + AREIA + PEDRA

No estado endurecido, o concreto em geral apresenta:


 adequada resistência à compressão;
 baixa resistência à tração;
 comportamento frágil, isto é, rompe com pequenas deformações.

Na maior parte das aplicações estruturais, para melhorar as características do


concreto, ele é usado junto com outros materiais.

h) Concreto armado
O concreto armado é a associação do concreto simples com uma armadura,
usualmente constituída por barras ou fios de aço.
Os dois materiais devem resistir solidariamente aos esforços solicitantes. Essa
solidariedade é garantida pela aderência.

CONCRETO ARMADO  CONCRETO SIMPLES + ARMADURA + ADERÊNCIA

i) Concreto protendido
No concreto armado, a armadura não tem tensões iniciais. Por isso, é
denominada armadura frouxa ou armadura passiva.
Já no concreto protendido, pelo menos uma parte da armadura tem tensões
previamente aplicadas, denominada armadura de protensão ou armadura ativa.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 5 Introdução

CONCRETO PROTENDIDO  CONCRETO + ARMADURA ATIVA

j) Concreto pré-moldado
Tradicionalmente, uma peça de concreto é moldada na sua posição definitiva,
situação em que o concreto é conhecido como moldado in loco ou concreto
moldado no local.
Porém, as peças também podem ser moldadas fora da posição definitiva, ao
que se dá o nome de concreto pré-moldado. Por exemplo, as peças podem ser
moldadas no canteiro de obra, e posteriormente içadas para sua posição definitiva.
Se as peças são produzidas em uma fábrica, tem-se concreto pré-fabricado,
que posteriormente é transportado para a obra e colocado na posição final.

k) Concretos leves
Os concretos leves são conhecidos pela reduzida massa específica e elevada
capacidade de isolamento térmico e acústico.
Por exemplo, a ABNT NBR 6118:2014 aplica-se às estruturas de concretos
normais, identificados por massa específica seca maior do que 2000 kg/m3, não
excedendo 2800 kg/m3.
Portanto, consideram-se concretos leves aqueles com massa específica seca
no máximo igual a 2000 kg/m3.
Os mais utilizados são os concretos porosos, celulares, sem finos e concretos
com agregados leves, como poliestireno expandido – EPS (Isopor®), argila
expandida, vermiculita etc.

ℓ) Argamassa armada
A argamassa armada é constituída por agregado miúdo e pasta de cimento,
com armadura de fios de aço de pequeno diâmetro, formando telas.
No concreto, a armadura é localizada em regiões específicas. Na argamassa
armada, ela é distribuída por toda a peça e o material é considerado como se fosse
homogêneo.

m) Concreto de alto desempenho


Um concreto de alto desempenho – CAD apresenta características
diferenciadas do concreto tradicional, e deve ser entendido como um material que
atende a expectativas para fins pré-determinados, relativos a comportamento
estrutural, lançamento, adensamento, estética e durabilidade frente ao meio
ambiente atual e futuro.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 6 Introdução

Como exemplos podem ser citados: Concreto de Alta Resistência – CAR e


Concreto Autoadensável – CAA.

n) Concretos especiais
Todos os concretos citados do item k em diante podem ser considerados
concretos especiais, pois há características que os diferenciam do concreto comum.
A eles se juntam diversos outros, como por exemplo: concreto autoadensável,
concreto bombeado, concreto projetado, concreto com fibras, concreto compactado
a rolo (CCR), concreto colorido, graute e muitos outros.

1.2 VANTAGENS DO CONCRETO, RESTRIÇÕES E PROVIDÊNCIAS


Como material estrutural, o concreto apresenta várias vantagens em relação a
outros materiais. Serão relacionadas também algumas de suas restrições e as
providências que podem ser adotadas para contorná-las.

1.2.1 Vantagens do concreto armado


Suas grandes vantagens são:
 é moldável, permitindo grande variabilidade de formas e de concepções
arquitetônicas;
 apresenta boa resistência à maioria dos tipos de solicitação, desde que seja
feito um cálculo correto e um adequado detalhamento das armaduras;
 a estrutura é monolítica, com trabalho conjunto para resistir às ações;
 reduzido custo dos materiais – água e agregados, graúdos e miúdos;
 baixo custo de mão de obra, pois, em geral, a produção de concreto
convencional não exige profissionais com elevado nível de qualificação;
 processos construtivos conhecidos em quase todo o mundo;
 facilidade e rapidez de execução, principalmente para peças pré-moldadas;
 é durável e protege as armaduras contra corrosão;
 reduzidos gastos de manutenção, desde que a estrutura seja bem projetada e
adequadamente construída;
 é pouco permeável à água, quando dosado corretamente e executado em
boas condições de plasticidade, adensamento e cura;
 apresenta bom comportamento em situações de incêndio, desde que
adequadamente projetado para essas situações;
 possui resistência significativa a choques e vibrações, efeitos térmicos,
atmosféricos e a desgastes mecânicos.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 7 Introdução

1.2.2 Restrições do concreto


Providências adequadas devem atenuar as consequências de algumas
restrições do concreto. As principais restrições são:
 retração e fluência;
 baixa resistência à tração;
 pequena ductilidade;
 fissuração;
 peso próprio elevado;
 custo de fôrmas para moldagem;
 corrosão das armaduras.

1.2.3 Providências
Para suprir as deficiências do concreto, há várias alternativas.
Tanto a retração quanto a fluência dependem da estrutura interna do
concreto.
Portanto, para minimizar seus efeitos, adequada atenção deve ser dada a
todas as fases de preparação, desde a escolha dos materiais e da dosagem até o
adensamento e a cura do concreto colocado nas fôrmas.
A fluência depende também das forças que atuam na estrutura. Portanto, um
programa adequado das fases de carregamento, tanto na fase de projeto quanto
durante a construção, podem atenuar os efeitos da fluência. As fases de
carregamento incluem um programa de retirada de escoramento.
A baixa resistência à tração pode ser contornada com o uso de adequada
armadura, em geral constituída de barras de aço, obtendo-se o concreto armado.
Além de resistência à tração, o aço garante ductilidade e aumenta a resistência à
compressão, em relação ao concreto simples.
Em peças comprimidas, como nos pilares, os estribos, além de evitarem a
flambagem localizada das barras, podem confinar o concreto, o que também
aumenta sua ductilidade.
A fissuração pode ser contornada ainda na fase de projeto, com armação
adequada e limitação do diâmetro das barras e da tensão na armadura.
Também é usual a associação do concreto com pelo menos uma parte de
armadura ativa, ou seja, com tensões prévias, formando o concreto protendido.
A utilização de armadura ativa tem como principal finalidade aumentar a resistência
da peça, o que possibilita a execução de grandes vãos ou o uso de seções
menores, diminuindo o peso próprio, sendo que também se obtém uma melhora do
concreto com relação à fissuração. Uma peça de concreto somente poderá estar
isenta de fissuras se for executada com protensão.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 8 Introdução

O concreto de alto desempenho – CAD – apresenta características melhores


do que o concreto tradicional – como resistência mecânica inicial e final elevada,
baixa permeabilidade, alta durabilidade, baixa segregação, boa trabalhabilidade, alta
aderência, reduzida exsudação, menor deformabilidade por retração e fluência, entre
outras.
O CAD é especialmente apropriado para obras em que a durabilidade é
condição indispensável. A alta resistência é uma das maneiras de se conseguir
peças de menores dimensões, aliviando o peso próprio das estruturas.
Ao concreto também podem ser adicionadas fibras, principalmente de aço, que
aumentam a ductilidade, a absorção de energia (tenacidade), a durabilidade etc.
Com a padronização de dimensões, a pré-moldagem e o uso de sistemas
construtivos adequados permitem a racionalização do uso de fôrmas, levando a
economia neste quesito. Outro fator pode contribuir para maior reutilização de
fôrmas é o uso de materiais alternativos, como o plástico.
A argamassa armada é adequada para pré-moldados leves, de pequena
espessura.
A corrosão da armadura pode ser prevenida com controle da fissuração e
com o uso de adequado cobrimento da armadura, cujo valor depende do grau de
agressividade do ambiente (Classe de Agressividade Ambiental – CAA) em que a
estrutura for construída.

1.3 APLICAÇÕES DO CONCRETO


É o material estrutural mais utilizado no mundo. Seu consumo anual é da
ordem de uma tonelada por habitante.
Entre os materiais utilizados pelo homem, o concreto perde apenas para a
água.
Outros materiais como madeira, alvenaria e aço também são de uso comum e
há situações em que são imbatíveis. Porém, suas aplicações são bem mais
restritas.
Algumas aplicações do concreto são relacionadas a seguir.
 Edifícios: mesmo que a estrutura principal não seja de concreto, alguns
elementos, pelo menos, o serão;
 Galpões e pisos industriais ou para fins diversos;
 Obras hidráulicas e de saneamento: barragens, tubos, canais, reservatórios,
estações de tratamento etc.;
 Rodovias: pavimentação de concreto, pontes, viadutos, passarelas, túneis,
galerias, obras de contenção etc.;
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 9 Introdução

 Estruturas diversas: elementos de cobertura, chaminés, torres, postes,


mourões, dormentes, muros de arrimo, piscinas, silos, cais, fundações de
máquinas etc.

1.4 ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS


Estrutura é a parte resistente da construção e tem as funções de suportar as
ações e as transmitir para o solo.
Em edifícios, os elementos estruturais principais são:
 lajes: são elementos planos que podem apresentar duas funções distintas. São
denominadas placas quando absorvem ações normais ao seu plano principal.
Essas ações, além das cargas permanentes, são também as ações de uso
que são transmitidas para os apoios. Quando as lajes absorvem esforços
paralelos ao seu plano principal, como as ações horizontais (vento
desaprumo etc.), formam diafragmas rígidos, que travam os pilares e
distribuem essas ações horizontais entre os elementos de contraventamento.
Neste caso são denominadas de chapas ou membranas;

Laje em função de placa Laje em função de chapa

 vigas: são barras em geral horizontais que delimitam as lajes, suportam


paredes e recebem ações das lajes ou de outras vigas e as transmitem para
os apoios;
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 10 Introdução

 pilares: são barras em geral verticais que recebem as ações das vigas ou
das lajes e dos andares superiores e as transmitem para os elementos
inferiores ou para a fundação;

 fundação: são elementos como blocos, lajes, sapatas, vigas, estacas etc.,
que transferem os esforços para o solo.

Pilares alinhados ligados por vigas formam os pórticos, que devem resistir
às ações do vento e às outras ações que atuam no edifício, sendo o mais utilizado
sistema de contraventamento.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 11 Introdução

Em edifícios esbeltos, outros tipos de contraventamento são: pórticos


treliçados, paredes estruturais ou núcleos. Os dois primeiros situam-se, em
geral, nas extremidades, e os núcleos, em volta da escada e dos elevadores.

Nos andares com lajes e vigas, o conjunto desses elementos pode ser
denominado tabuleiro, andar, piso ou pavimento. Esses termos piso e pavimento
devem ser evitados quando puderem ser confundidos com pavimentação.
É crescente o emprego do concreto em pisos industriais e em pavimentos
de vias urbanas e rodoviárias, principalmente para tráfego intenso e pesado.
Nos edifícios com tabuleiros sem vigas, as lajes se apoiam diretamente nos
pilares, sendo denominadas lajes lisas. Se nas ligações das lajes com os pilares
houver capitéis, elas recebem o nome de lajes-cogumelo.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 12 Introdução

FONTE: LIMA NETO et al. (2013)

Os capitéis podem ser constituídos por um aumento da seção transversal do


pilar sob a laje. Também podem ser formados por um aumento da espessura da laje,
caso em que podem ser denominados ábacos, pastilhas ou drop panels.
Nas lajes lisas, há casos em que, nos alinhamentos dos pilares, uma
determinada faixa é considerada como viga, sendo projetada como tal, e podem ser
denominadas vigas embutidas, vigas-faixa ou vigas chatas.
São muito comuns as lajes nervuradas. Se as nervuras e as vigas que as
suportam têm a mesma altura, essas vigas também são denominadas vigas
embutidas. Se a largura dessas vigas for maior que o dobro da sua altura, elas
também podem ser chamadas de vigas-faixa ou vigas chatas. Nesses casos em
que as vigas e as nervuras têm a mesma altura, as lajes são denominadas lajes
lisas nervuradas. Elas também podem ter capitéis embutidos. O uso de um forro
de gesso, por exemplo, dão a essas lajes a aparência de lajes lisas.
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 13 Introdução

Fonte: http://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-laje-cogumelo.html.
Acesso em 11/02/2017

Nos edifícios, há elementos estruturais denominados complementares, tais


como: escadas, caixas d’água, muros de arrimo, consolos, marquises, vigas
parede, etc.

1.5 EDIFÍCIOS DE PEQUENO PORTE


Como foi comentado no início, este é o primeiro texto de uma série cujos
objetivos são: apresentar os fundamentos do concreto, as bases para cálculo e a
rotina do projeto estrutural de edifícios.
Em exemplos simples, serão dimensionadas e detalhadas vigas, lajes e
pilares. As fundações serão estudadas em uma fase posterior.
Como é um texto dedicado a iniciantes, será dada maior atenção a edifícios
de pequeno porte, assim admitidos aqueles com estruturas regulares muito
simples, que apresentem:
 até quatro pavimentos;
 ausência de protensão;
 cargas de uso nunca superiores a 3 kN/m2;
 altura de pilares até 4 m e vãos não excedendo 6 m;
 vão máximo de lajes até 4 m (menor vão) ou 2 m, no caso de balanços.

O efeito do vento poderá ser omitido, desde que haja contraventamento em


duas direções.

QUESTIONÁRIO

1. Quais os objetivos deste curso?


2. O que é concreto?
3. O que são aglomerantes e qual é o utilizado no concreto?
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 14 Introdução

4. O que são aditivos e quais os principais tipos?


5. O que são adições e quais as mais comuns?
6. O que são agregados e por que eles são utilizados no concreto?
7. Como se definem os agregados miúdos e os graúdos?
8. Como se obtém pasta de cimento?
9. O que é nata de cimento?
10. Do que é formada a argamassa de cimento?
11. Quais os materiais necessários para preparar o concreto simples?
12. Quais são as principais deficiências do concreto simples, como material
estrutural? Como elas podem ser contornadas?
13. O que é concreto armado?
14. Qual a importância da aderência entre o concreto e sua armadura?
15. O que é concreto protendido? Qual a diferença entre armadura ativa e
armadura passiva?
16. O que é concreto pré-moldado? Qual a diferença entre concreto pré-
moldado e concreto pré-fabricado?
17. O que é concreto leve e quais os mais utilizados?
18. O que é argamassa armada? Quais são suas principais diferenças em
relação ao concreto armado?
19. O que é concreto de alto desempenho (CAD)?
20. O que são concretos especiais?
21. Quais as vantagens do concreto como material estrutural?
22. Quais as principais restrições do concreto?
23. Quais as providências para suprir as deficiências do concreto?
24. Como se combate a baixa resistência do concreto à tração?
25. Como se consegue adequada ductilidade para o concreto?
26. O que pode ser feito com relação à fissuração?
27. Quais as principais vantagens da protensão?
28. Quais as principais características do CAD?
29. O que se consegue com a adição de fibras ao concreto?
30. O que pode ser feito para racionalizar o uso de fôrmas?
31. Em que tipo de peças é adequado o uso de argamassa armada?
32. Como se previne a corrosão da armadura?
33. Além do concreto, quais os principais materiais usados nas estruturas?
USP – EESC – Dep. Eng. de Estruturas 15 Introdução

34. Quais as principais aplicações do concreto?


35. Quais os principais elementos estruturais que constituem a estrutura de um
edifício e quais são suas características?
36. O que são pórticos? Qual sua função na estrutura?
37. Quais os principais tipos de contraventamento em edifícios esbeltos?
38. Como se denomina o conjunto formado por lajes e vigas nos andares?
39. Em que situações o concreto é utilizado como pavimentação?
40. O que são lajes lisas? E lajes-cogumelo?
41. Quais são os tipos de capitéis?
42. Nas lajes lisas ou cogumelo, o que são vigas-faixa?
43. O que são lajes lisas nervuradas?
44. Quais os principais elementos complementares usados nos edifícios?
45. O que são edifícios de pequeno porte?
46. Nesses edifícios, em que condições o efeito do vento pode ser omitido?

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de


estruturas de concreto. Rio de Janeiro, 2014.
________. NBR 7211 - Agregados para concreto - especificação. Rio de Janeiro,
2011.
________. NBR 11768 - Aditivos para concreto de cimento Portland - especificação.
Rio de Janeiro.
________. NBR 12653:2014 Versão Corrigida: 2015 - Materiais pozolânicos -
Requisitos - Rio de Janeiro.
IBRACON (2001). Prática recomendada IBRACON para estruturas de pequeno
porte. São Paulo, Instituto Brasileiro do Concreto: Comitê Técnico CT-301
Concreto Estrutural. 39p.
LIMA NETO, A. F.; FERREIRA, M. P.; OLIVEIRA, D. R. C.; MELO, G. S. S. A.
Análise experimental e numérica de lajes cogumelo de concreto armado.
IBRACON, São Paulo, v. 6, n. 2, abril 2013. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1983-41952013000200007t. Acesso em:
14/11/2013.
PINHEIRO, L. M., GIONGO, J.S. (1986). Concreto armado: propriedades dos
materiais. São Carlos, EESC-USP, Publicação 005 / 86. 79p.
PINHEIRO, L. M. (2017). Notas de aula da disciplina Estruturas de Concreto
Armado I. São Carlos, EESC-USP.
ESTRUTURAS DE CONCRETO – CAPÍTULO 2

Libânio M. Pinheiro
Colaboradores:
Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos, Thiago Catoia, Bruna Catoia e Artur L. Sartorti
Março de 2017

CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO

Como foi visto no capítulo anterior, a mistura em proporção adequada de


cimento, agregados, água e, em alguns casos, adições e/ou aditivos resulta num
material de construção, o concreto, cujas características diferem substancialmente
daquelas apresentadas pelos elementos que o constituem.
Este capítulo tem por finalidade destacar as principais características do
material concreto, incluindo aspectos relacionados à sua utilização.

2.1 MASSA ESPECÍFICA


Serão considerados os concretos de massa específica normal (c), entre
2000 kg/m3 e 2800 kg/m3.
Para efeito de cálculo, pode-se adotar para o concreto simples o valor
2400 kg/m3, e para o concreto armado, 2500 kg/m3.
Quando se conhecer a massa específica do concreto utilizado, pode-se
considerar, para valor da massa específica do concreto armado, aquela do concreto
simples acrescida de 100 kg/m3 a 150 kg/m3.

2.2 ESTRUTURA INTERNA


O concreto tem uma estrutura interna altamente complexa e heterogênea,
sendo essa a dificuldade para entendê-la. Entretanto, o conhecimento da estrutura e
das propriedades individuais dos materiais constituintes e da relação entre elas
auxilia a compreensão das propriedades dos vários tipos de concreto.
Por isso o concreto é dividido em três fases constituintes:
 pasta de cimento hidratada;
 agregado;
 zona de transição na interface da pasta de cimento com os agregados.
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

A fase agregados é a principal responsável pela massa unitária, pelo módulo


de elasticidade e pela estabilidade dimensional.

Essas propriedades do concreto dependem, principalmente, da densidade e da


resistência do agregado, que por sua vez são determinadas mais por suas
características físicas do que pelas químicas.
A pasta de cimento hidratada é resultado das complexas reações química do
cimento com a água. A hidratação do cimento evolui com o tempo, o que resulta em
diferentes fases sólidas, vários tipos de vazios e água em diferentes formas.
As quatro principais fases sólidas são:
 silicato de cálcio hidratado (C-S-H), parte resistente da pasta;
 hidróxido de cálcio (Ca(OH)2 ou CH), parte frágil da pasta;
 sulfoaluminato de cálcio;
 grão de clinquer não hidratado.

Os vazios presentes na pasta de cimento hidratada são classificados de acordo


com o tamanho:
 espaço interlamelar no C-S-H, que são os menores vazios;
 vazios capilares, espaço entre os componentes sólidos da pasta;
 ar incorporado, cujos vazios só são superado pelos de ar aprisionado;
 ar aprisionado, que ocupam os maiores vazios.

A classificação da água presente na pasta de cimento hidratada é baseada no


grau de dificuldade ou de facilidade com que pode ser removida. São elas, na ordem
crescente de dificuldade de remoção:
 água capilar ou água livre;
 água adsorvida;
 água interlamelar;
 água quimicamente combinada.

A zona de transição, na interface das partículas grandes de agregado e da


pasta de cimento, embora composta pelos mesmos elementos que a pasta de
cimento hidratada, apresenta propriedades diferentes da matriz. Esse fato se deve
principalmente ao filme de água formado em torno das partículas de agregado, que
alteram a relação água-cimento nessa região, formando uma estrutura mais porosa
e menos resistente.

2.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

2.3 DEFORMAÇÕES
O concreto apresenta deformações elásticas e inelásticas, no carregamento, e
deformações de retração por secagem ou por resfriamento. Quando restringidas, as
deformações por retração ou térmicas resultam em padrões de tensão complexos,
que costumam causar fissuração.
As deformações do concreto dependem essencialmente de sua estrutura
interna. A contração térmica é de maior importância nos elementos de grande
volume de concreto. Sua magnitude pode ser controlada por meio do coeficiente de
expansão térmica do agregado, consumo e tipo de cimento e da temperatura dos
materiais constitutivos do concreto.

2.3.1 Retração por Secagem e Fluência


Denomina-se retração a redução de volume que ocorre no concreto, mesmo na
ausência de tensões mecânicas e de variações de temperatura. A retração por
secagem, ou retração capilar, é aquela associada à perda de umidade.
A fluência é o fenômeno do aumento gradual da deformação ao longo do
tempo, sob um dado nível de tensão constante.
Nas estruturas reais, a retração por secagem e a fluência podem ser
consideradas em conjunto, por conta dos aspectos:
 tanto a retração por secagem quanto a fluência têm a mesma origem, ou
seja, a pasta de cimento hidratado;
 elas ocorrem ao mesmo tempo;
 as curvas deformação versus tempo são muito semelhantes;
 os fatores que influem na retração por secagem também normalmente
interferem na fluência, da mesma forma;
 no concreto a microdeformação de cada fenômeno é significativa e não
pode ser ignorada em projetos estruturais;
 a retração por secagem e a fluência são parcialmente reversíveis.

A principal semelhança da retração por secagem com a fluência é que ambas


são relativas à remoção da água existente na pasta de cimento. A diferença é que a
retração por secagem decorre da diferença de umidade entre o concreto e o
ambiente, enquanto, a fluência, da tensão constante aplicada.
As causas da fluência são mais complexas. Além dos movimentos de umidade
há outros fatores que contribuem, principalmente a microfissuração da zona de
transição e a resposta elástica retardada no agregado.

2.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Além da retração por secagem, ou retração capilar, que ocorre por evaporação
parcial da água capilar e perda da água adsorvida, gerando tensão superficial e fluxo
de água nos capilares, que provocam a retração, há também a retração química,
que é a contração da água denominada não evaporável, consumida nas reações de
hidratação do cimento, que ocorrem com redução de volume.
A retração por carbonatação também pode ser considerada uma retração
química. Entretanto, ocorre pela reação de um produto do cimento já hidratado, o
hidróxido de cálcio (CH), com o dióxido de carbono (CO2), produzindo o carbonato
de cálcio mais água [Ca(OH)2 + CO2  CaCO3 + H2O]; esta reação também ocorre
com diminuição de volume.
A carbonatação pode melhorar algumas características do concreto, como a
resistência, pois transforma um material não resistente (o hidróxido de cálcio) e outro
resistente (o carbonato de cálcio). Porém, devido ao cobrimento inadequado e a
fissuração, a carbonatação pode diminuir o pH do concreto e despassivar a
armadura, deixando-a suscetível à corrosão.

2.3.2 Expansão
Expansão é o aumento de volume do concreto, que ocorre em peças
submersas e em peças tracionadas, devido à fluência.
Nas peças submersas, no início tem-se retração química. Porém, o fluxo de
água é de fora para dentro. Por conta disso, as decorrentes tensões capilares
anulam a retração química e, em seguida, provocam a expansão da peça.

2.3.3 Deformações térmicas


Em geral, sólidos se expandem com o aquecimento e se retraem com o
resfriamento. A não ser sob condições extremas de temperatura, as estruturas
comuns de concreto sofrem pouco ou nenhum dano com as alterações da
temperatura ambiente.
No entanto, em estruturas massivas, a combinação do calor produzido pela
hidratação do cimento com as condições desfavoráveis para sua dissipação resulta
em grande elevação da temperatura do concreto, após o lançamento, que pode
provocar fissuração.
A deformação associada à mudança de temperatura depende do coeficiente de
expansão térmica do material e da magnitude da variação de temperatura.
Define-se coeficiente de variação térmica  como a variação na unidade de
comprimento por variação na unidade de temperatura. Para o concreto armado, para
variações normais de temperatura, a NBR 6118:2014 permite adotar  = 10-5 /C.

2.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

2.3.4 Deformação imediata


A deformação imediata acontece por ocasião do carregamento e ocorre de
acordo com a Teoria da Elasticidade. Corresponde ao comportamento do concreto
como sólido verdadeiro, e é causada por uma acomodação dos cristais que formam
o material.
Os valores dessas deformações são apresentados nas Tabelas de Lajes e nas
Tabelas de Vigas.

2.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS


As principais propriedades mecânicas do concreto são: resistência à
compressão, resistência à tração e módulo de elasticidade. Essas propriedades
são determinadas a partir de ensaios, executados em condições específicas.
Geralmente, os ensaios são realizados para controle da qualidade e atendimento
às especificações.

2.4.1 Resistência à compressão


A resistência à compressão simples, denominada fc, é a característica
mecânica mais importante.
Para estimá-la em um lote de concreto, são moldados e preparados corpos de
prova segundo a NBR 5738 – Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos
ou prismáticos de concreto, os quais são ensaiados de acordo com a NBR 5739 –
Concreto – Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos.
O corpo de prova padrão brasileiro é o cilíndrico, com 15 cm de diâmetro e
30 cm de altura, e a idade de referência é 28 dias.
Após ensaio de um número muito grande de corpos de prova, pode ser feito
um gráfico com os valores obtidos de fc versus a quantidade de corpos de prova
relativos a determinado valor de fc, também denominada densidade de frequência. A
curva encontrada denomina-se Curva Estatística de Gauss ou Curva de
Distribuição Normal para a resistência do concreto à compressão (Figura 2.1).
Na curva de Gauss encontram-se dois valores de fundamental importância:
resistência média do concreto à compressão, fcm, e resistência característica
do concreto à compressão, fck.
O valor fcm é a média aritmética dos valores de fc para o conjunto de corpos de
prova ensaiados, e s é o desvio padrão. Ambos são utilizados na determinação da
resistência característica, fck, por meio da fórmula:

fck  fcm 1,645.s


2.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Cada corpo de prova gera uma resistência f ci . O desvio padrão s é calculado


pela equação:
s  f cm .
O valor  é a variância determinada pela fórmula indicada a seguir, na qual N
é o número de corpos de prova do lote.
2
1 N  fci  fcm 
 . 
N i 1  fcm 

Figura 2.1 – Curva de Gauss para a resistência do concreto à compressão.

O desvio padrão s corresponde à distância entre a abscissa de fcm e a do ponto


de inflexão da curva (ponto em que ela muda de concavidade).
O valor 1,645 corresponde ao quantil de 5 %, ou seja, apenas 5 % dos corpos
de prova possuem fc  fck, ou, ainda, 95 % dos corpos de prova possuem fc  fck.
Portanto, pode-se definir fck como sendo o valor da resistência que tem 5%
de probabilidade de não ser atingido, em ensaios de corpos de prova de um
determinado lote de concreto.
Como será visto posteriormente, a NBR 8953 define as classes de resistência
em função de fck. Concreto classe C30, por exemplo, corresponde a um concreto
com fck = 30 MPa.
Nas obras, devido ao pequeno número de corpos de prova ensaiados, calcula-
se fck,est, valor estimado da resistência característica do concreto à compressão.
A NBR 6118:2014 trabalha com as classes de resistência dos grupos I e II da
NBR 8953 até a classe C90. No grupo I estão os concretos das classes C20 a C50.
No grupo II estão contidos os concretos das classes C55 a C90.

2.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Comumente o valor fck refere-se à resistência do concreto à compressão na


idade de 28 dias. Quando não existirem valores de ensaio para idades inferiores a
28 dias e a cura for normal, o valor da resistência característica à compressão do
concreto aos j dias pode ser estimada por:

fcj  1. fck


1/ 2
1  exp{s[1 (28/ t)1/ 2 ]} e{s[1(28/ t ) ]}

e é a base neperiana;
t é a idade efetiva do concreto em dias;
s é um coeficiente função do tipo de cimento utilizado:
s  0,28 para concreto de cimento CPIII e CPIV;

s  0,25 para concreto de cimento CPI e CPII;

s  0,20 para concreto de cimento CPV-ARI.

2.4.2 Resistência à tração


Os conceitos relativos à resistência do concreto à tração direta, fct, são
análogos aos expostos no item anterior, para a resistência à compressão.
Portanto, tem-se a resistência média do concreto à tração, fctm, valor obtido
da média aritmética dos resultados, e a resistência característica do concreto à
tração, fctk ou simplesmente ftk, valor da resistência que tem 5% de probabilidade de
não ser alcançado pelos resultados de um lote de concreto.
Este valor também pode ser chamado de resistência característica inferior
do concreto à tração, fctk,inf.
Em alguns casos, como na determinação da armadura mínima de tração, pode
ser de interesse a resistência característica superior do concreto à tração, fctk,sup,
relativa ao quantil de 95%.
A diferença no estudo da tração encontra-se nos tipos de ensaio. Há três
normalizados: tração direta, compressão diametral e tração na flexão.

a) Ensaio de tração direta


Neste ensaio, considerado o de referência, a resistência à tração direta, fct, é
determinada aplicando-se tração axial, até a ruptura, em corpos de prova de
concreto simples (Figura 2.2). A seção central é retangular, com 9 cm por 15 cm, e
as extremidades são quadradas, com 15 cm de lado.
2.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Figura 2.2 – Ensaio de tração direta.

b) Ensaio de tração na compressão diametral (splitting test)


É o ensaio mais utilizado, por ser mais simples de ser executado e utilizar o
mesmo corpo de prova cilíndrico do ensaio de compressão (15 cm por 30 cm).
Também é conhecido internacionalmente como Ensaio Brasileiro, pois foi
desenvolvido por Lobo Carneiro, em 1943.
Para a sua realização, o corpo de prova cilíndrico é colocado com o eixo
horizontal entre os pratos da máquina de ensaio, e o contato entre o corpo de prova
e os pratos deve ocorrer somente ao longo de duas geratrizes, onde são colocadas
tiras padronizadas de madeira, diametralmente opostas (Figura 2.3), sendo aplicada
uma força até a ruptura por fendilhamento, devido à tração indireta (Figura 2.4).

O valor da resistência à tração por compressão diametral, fct,sp, encontrado


neste ensaio, é um pouco maior que o obtido no ensaio de tração direta. Isto pode
ser explicado pelas características diferentes dos ensaios. No ensaio de tração, a
superfície de ruptura é aleatória, isto é, pode ocorrer em qualquer seção. No ensaio
de compressão diametral, a seção de ruptura é fixada pelas condições de ensaio,
além de ocorrer perturbação junto às faces da prensa.

CARGA

Talisca de Barra de aço suplementar


madeira
(3 mm x 25 mm) Corpo-de-prova cilíndrico
(15 cm x 30 cm)

Plano de ruptura à tração

Base de apoio da
máquina de ensaio

Figura 2.3 – Ensaio de compressão diametral. Adaptado de Metha e Monteiro (2008)


2.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Tração Compressão

D/6

D/3

D/2

2D/3

5D/6

D
2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 10
Tensão x LD/2P

Figura 2.4 – Distribuição de tensão no corpo de prova. (MEHTA e MONTEIRO, 2008)

c) Ensaio de tração na flexão


Para a realização deste ensaio, um corpo de prova de seção prismática é
submetido à flexão, com carregamentos em duas seções simétricas (Figura 2.5).
Analisando os diagramas de esforços solicitantes (Figura 2.6), pode-se notar
que na região de momento máximo tem-se cortante teórica nula. Portanto, nesse
trecho central ocorre flexão pura.
Os valores encontrados para a resistência à tração na flexão, fct,f, são
maiores que os encontrados nos ensaios descritos anteriormente (tração direta e
compressão diametral). Isto também se explica pelas características diferentes de
cada ensaio. Nos ensaios de tração e de compressão diametral, tem-se tração
praticamente uniforme.
No ensaio de tração, tem-se diagrama praticamente triangular de tensões, com
tensão máxima na fibra mais tracionada. Por ocasião da ruptura, ocorre
plastificação, havendo solidariedade das fibras próximas daquelas mais tracionadas,
aumentando o valor da tensão de ruptura.
O ensaio também é conhecido por “ensaio de quatro pontos”, pois há duas
linhas de carregamento do corpo de prova e duas de apoio.

2.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Extremidade da máquina de ensaio

25 mm no mínimo
Esfera de aço

Elemento de apoio e
D=L/3 Corpo-de-prova aplicação da carga

Estrutura rígida de
carregamento
Barra
Esfera de aço
de aço

L/3 L/3 L/3 Base de apoio da


máquina de ensaio
Vão

Figura 2.5 – Ensaio de tração na flexão. (MEHTA e MONTEIRO, 2008)

Figura 2.6 – Diagramas de esforços solicitantes (ensaio de tração na flexão).

d) Relações entre os resultados dos ensaios


Como os resultados obtidos nos dois últimos ensaios são diferentes dos
relativos ao ensaio de referência, de tração direta, há coeficientes de conversão.

2.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Considera-se a resistência à tração direta, fct, igual a 0,9 fct,sp ou 0,7 fct,f, ou
seja, coeficientes de conversão 0,9 e 0,7, para os resultados de compressão
diametral e de flexão, respectivamente.
Na falta de ensaios, as resistências à tração direta podem ser obtidas a partir
da resistência à compressão fck:
f ctk,inf  0,7 f ctm
f ctk,sup  1,3 f ctm

- para concretos de classes até C50:

f ct, m  0,3 f ck2/3

- para concretos de classes C55 a C90:


f ct, m  2,12. ln(1  0,11. f ck )

Nessas equações, as resistências são expressas em MPa. Cada um desses


valores é utilizado em situações específicas, como será visto oportunamente. Se
f ckj  7 MPa estas expressões podem também ser usadas para idades diferentes de
28 dias. A Tabela 2.1 apresenta os valores de f ct, m , f ctk,inf e f ctk,sup .

Tabela 2.1 – Valores de f ct, m , f ctk, inf e f ctk,sup em MPa.

f ck 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
f ct, m 2,21 2,56 2,90 3,21 3,51 3,80 4,07 4,14 4,30 4,45 4,59 4,72 4,84 4,95 5,06
f ctk, inf 1,55 1,80 2,03 2,25 2,46 2,66 2,85 2,90 3,01 3,11 3,21 3,30 3,39 3,47 3,54
f ctk,sup 2,87 3,33 3,77 4,17 4,56 4,93 5,29 5,38 5,59 5,78 5,96 6,13 6,29 6,44 6,58

2.4.3 Módulo de elasticidade


Outro aspecto fundamental no projeto de estruturas de concreto consiste na
relação entre as tensões e as deformações.
Sabe-se da Resistência dos Materiais que a relação entre tensão e
deformação, para determinados intervalos, pode ser considerada proporcional linear
(Lei de Hooke), ou seja, σ  E ε , sendo  a tensão,  a deformação específica e E o
Módulo de Elasticidade ou Módulo de Deformação Longitudinal (Figura 2.7),
que corresponde à inclinação da reta.

2.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto


Figura 2.7 - Módulo de elasticidade ou de deformação longitudinal.

Para o concreto, a expressão do Módulo de Elasticidade é aplicada somente à


parte retilínea da curva tensão versus deformação ou, quando não existir uma parte
retilínea, a expressão é aplicada à tangente da curva na origem. Desta forma, é
obtido o Módulo de Deformação Tangente Inicial, Eci (Figura 2.8), também
chamado, simplesmente, de Módulo de Elasticidade Inicial.

Eci


Figura 2.8 - Módulo de deformação inicial (Eci).

O módulo de deformação tangente inicial é obtido segundo ensaio descrito na


NBR 8522 – Concreto – Determinação do módulo de deformação estática e diagrama
tensão-deformação.
Quando não forem feitos ensaios e não existirem dados mais precisos sobre o
concreto, para a idade de referência de 28 dias, pode-se estimar o valor do módulo
de elasticidade inicial usando as expressões:

2.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

- para concretos C20 a C50:

E ci   E .5600. f ck

- para concretos C55 a C90:


1/ 3
f 
Eci  21500. E . ck  1,25 
 10 
O coeficiente  E depende do tipo de agregado graúdo utilizado:

 E  1,2 para basalto e diabásio;

 E  1,0 para granito e gnaisse;

 E  0,9 para calcário;

 E  0,7 para arenito.

O Módulo de Elasticidade Secante, Ecs, ou simplesmente Módulo Secante,


corresponde à inclinação da reta que passa pela origem e que corta a curva no
ponto c = 0,4 u, sendo u o máximo valor alcançado pela tensão c. O módulo
secante pode ser calculado pela expressão:
Ecs   i .Eci

f ck
 i  0,8  0,2.  1,0
80
Em todas as equações de módulo, os valores de f ck devem ser colocados em
MPa.
No cálculo, o módulo secante é utilizado nas análises elásticas de projeto,
especialmente para determinação de esforços solicitantes e verificação de estados
limites de serviço.
Na avaliação do comportamento de um elemento estrutural ou de uma seção
transversal, pode ser adotado um módulo de elasticidade único, à tração e à
compressão, igual ao módulo de elasticidade secante (Ecs).
A Tabela 2.2 apresenta os valores de Eci e Ecs para as diversas classes de
resistência e os possíveis agregados graúdos indicados na NBR 6118:2014.
As equações apresentadas para Eci e Ecs valem para concretos com idade
igual ou superior a 28 dias. O módulo de elasticidade em uma idade menor que
28 dias, Eci (t ) pode ser avaliado pelas expressões a seguir:

2.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

- para concretos C20 a C45:


0,5
f 
Eci (t )   cj  .Eci
 f ck 
- para concretos C50 a C90:
0, 3
f 
Eci (t )   cj  .Eci
 f ck 

Os valores de f cj e f ck devem ser expressos em MPa.

Tabela 2.2 – Valores de Eci e Ecs .


f ck (MPa)
20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
Agregado
basalto e
30,1 33,6 36,8 39,8 42,5 45,1 47,5 48,8 49,9 51,1 52,1 53,2 54,2 55,1 56.0
diabásio
granito e
25,0 28,0 30,7 33,1 35,4 37,6 39,6 40,6 41,6 42,5 43,4 44,3 45,1 45,9 46.7
Eci gnaisse
(GPa)
calcário 22,5 25,2 27,6 29,8 31,9 33,8 35,6 36,6 37,5 38,3 39,1 39,9 40,6 41,3 42.0

arenito 17,5 19,6 21,5 23,2 24,8 26,3 27,7 28,4 29,1 29,8 30,4 31,0 31,6 32,2 32.7

basalto e
25,5 29,0 32,2 35,3 38,3 41,1 44,0 45,7 47,4 49,1 50,8 52,5 54,2 55,1 56.0
diabásio
granito e
21,3 24,2 26,8 29,4 31,9 34,3 36,6 38,1 39,5 41,0 42,4 43,8 45,1 45,9 46.7
Ecs gnaisse
(GPa)
calcário 19,2 21,7 24,2 26,5 28,7 30,9 33,0 34,3 35,6 36,9 38,1 39,4 40,6 41,3 42.0

arenito 14,9 16,9 18,8 20,6 22,3 24,0 25,6 26,7 27,7 28,7 29,7 30,6 31,6 32,2 32.7

i 0.85 0,86 0,88 0,89 0,90 0,91 0,93 0,94 0,95 0,96 0,98 0,99 1,00 1,00 1,00

2.4.4 Coeficiente de Poisson


Quando uma força uniaxial é aplicada sobre uma peça de concreto, resulta uma
deformação longitudinal na direção da carga e, simultaneamente, uma deformação
transversal com sinal contrário (Figura 2.9).
A relação entre a deformação transversal e a longitudinal é denominada
coeficiente de Poisson e é indicada pela letra . Para tensões de compressão
menores que 0,5 fc e de tração menores que fct, pode ser adotado  = 0,2.

2.14
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

Figura 2.9 – Deformações longitudinais e transversais.

2.4.5 Módulo de elasticidade transversal


Para tensões de compressão menores que 0,5 fc e de tração menores que fct,
pode ser adotado o valor do módulo de elasticidade transversal igual a
Gc  Ecs / 2,4 .

2.4.6 Estados múltiplos de tensão


Na compressão associada a confinamento lateral, como ocorre em pilares
cintados, por exemplo, a resistência do concreto é maior do que o valor relativo à
compressão simples.
O cintamento pode ser feito com estribos, que impedem a expansão lateral do
pilar, criando um estado múltiplo de tensões. O cintamento também aumenta a
ductilidade do elemento estrutural.
Na região dos apoios das vigas, pode ocorrer fissuração por causa da força
cortante. Essas fissuras, com inclinação aproximada de 45, delimitam as chamadas
bielas de compressão.
Portanto, as bielas são regiões comprimidas com tensões de tração na direção
perpendicular, caracterizando um estado biaxial de tensões. Nesse caso tem-se uma
resistência à compressão menor que a da compressão simples.
Portanto, a resistência do concreto depende do estado de tensão a que ele se
encontra submetido.

2.15
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

2.4.7 Diagramas tensão-deformação na compressão


Para tensões de compressão menores que 0,5. f c , pode-se admitir uma relação
linear entre tensões e deformações, adotando-se para módulo de elasticidade o
valor secante.
Para análise no estado-limite último, pode ser empregado o diagrama tensão-
deformação idealizado na Figura 2.10.

Figura 2.10 – Diagrama tensão-deformação idealizado.

Os valores a serem adotados para os encurtamentos  c 2 (deformação


especifica de encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e  cu
(deformação específica de encurtamento do concreto na ruptura) são definidos a
seguir.
- Para concretos de classes C20 a C50:

 c 2  2 0 00 ;

 cu  3,5 0 00 .

- Para concretos de classes C55 a C90:

 c 2  2 0 00  0,085 0 00 .( f ck  50)0,53 - f ck em MPa;

 cu  2,6 0 00  35 0 00 .[(90  f ck ) / 100]4 - f ck em MPa.


2.16
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

O valor f cd é a resistência de cálculo do concreto à compressão. Para


combinações normais de ações do estado-limite último, f cd  f ck / 1,4 .

A Tabela 2.3 indica os valores de  c 2 e  cu em função de f ck .

Tabela 2.3 – Valores de  c 2 e  cu .


f ck (MPa) 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
 c 2 ( 00)
0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,2 2,3 2,4 2,4 2,5 2,5 2,6 2,6
 cu ( 0 00) 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,1 2,9 2,7 2,7 2,6 2,6 2,6 2,6

2.4.8 Diagramas tensão-deformação na tração


Para concreto não fissurado, pode ser adotado o diagrama tensão-deformação
bilinear de tração indicado na Figura 2.11.

Figura 2.11 – Diagrama tensão-deformação bilinear de tração.

2.5 FATORES QUE INFLUEM NAS PROPRIEDADES DO CONCRETO

Com base no que foi apresentado neste texto, os principais fatores que influem
nas propriedades do concreto são:
 tipo e quantidade de cimento;
 qualidade da água e relação água-cimento;
 tipos de agregados, granulometria e relação agregado-cimento;
 presença de aditivos e adições;
 procedimento e duração do processo de mistura;

2.17
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

 condições e duração do transporte e do lançamento;


 condições de adensamento e de cura;
 forma e dimensões dos corpos de prova;
 tipo e duração do carregamento;
 idade do concreto, umidade, temperatura etc.

QUESTIONÁRIO

1. O que são concretos de massa específica normal?


2. Para cálculo, qual é a massa específica do concreto simples? E do concreto
armado?
3. Quantos quilos de aço podem ser considerados por m3 de concreto armado?
4. Qual a dificuldade para entender a estrutura interna do concreto?
5. O que auxilia a compreensão das propriedades dos vários tipos de concreto?
6. Quais são as fases constituintes do concreto? Qual a importância da fase
agregados?
7. Quais os fatores que influenciam nas propriedades do concreto?
8. O que é pasta de cimento hidratada? Quais as quatro principais fases
sólidas? Como são classificados os vazios? E como se classifica a água
presente no concreto?
9. Sendo composta pelos mesmos elementos que a pasta de cimento, por que a
zona de transição apresenta propriedades diferentes?
10. Quais as deformações que ocorrem no concreto? E no que elas influenciam?
11. O que é retração? E retração por secagem? E retração capilar? O que é
fluência?
12. Por que ocorre a retração por secagem e a fluência?
13. Quais os aspectos que permitem a consideração conjunta da retração e da
fluência?
14. Qual a principal semelhança entre a retração por secagem e a fluência? E a
diferença?
15. O que é retração química e quais suas causas? E retração por
carbonatação?
16. Quais as principais influências da carbonatação no concreto?
17. Em que situação ocorre e quais as causas da expansão do concreto?
18. Por que ocorrem as deformações térmicas? Quais seus efeitos nas estruturas?
2.18
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

19. O que é coeficiente de variação térmica? Qual o valor adotado para o


concreto?
20. Como ocorre a deformação imediata, quais suas causas e como ela pode ser
obtida?
21. Quais as principais propriedades mecânicas do concreto?
22. Por que são realizados ensaios para determinar as propriedades do concreto?
23. Qual a característica mecânica mais importante?
24. Como são os corpos de prova para ensaios de compressão? Qual a idade de
referência?
25. Como é o tratamento estatístico para quantificar a resistência à compressão?
26. O que significa resistência média fcm? E desvio padrão?
27. Como é considerada a dispersão dos resultados? Como se define fck?
28. Como a NBR 8953 define as classes de resistência? O que significa C30? E
fck,est?
29. Quais os conceitos estatísticos associados à resistência à tração?
30. O que significa resistência característica inferior do concreto à tração, fctk,inf? E
superior?
31. Quais os ensaios para se determinar a resistência do concreto à tração?
32. Qual o ensaio de referência, qual o mais utilizado e como é o de compressão
diametral?
33. Por que o valor obtido na compressão diametral é maior que o relativo à tração
direta?
34. Como é obtida a resistência do concreto à tração no ensaio de flexão?
35. Por que a resistência à tração na flexão é maior que as outras duas?
36. Como se determina fct a partir de fct,sp? E a partir de fct,f?
37. Na ausência de ensaios de tração, como se obtém os valores de fct?
38. O que significa módulo de elasticidade inicial? Como ele pode ser estimado?
39. O que é o módulo de elasticidade secante? Como ele pode ser obtido?
40. No cálculo, em que situações o módulo secante é utilizado?
41. O que é o coeficiente de Poisson? Qual seu valor para o concreto?
42. Qual o valor considerado para o módulo de elasticidade transversal?
43. O que significa concreto confinado? Em que situações ele pode ocorrer?
44. O que são bielas de compressão? Por que elas têm resistência menor que fc?
45. Relacionar os fatores que influem nas propriedades do concreto.

2.19
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Características do Concreto

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5738:


Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro,
2015.
______. NBR 5739: Concreto - Ensaio de compressão de corpos-de-prova
cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.
______. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de
Janeiro, 2014.
______. NBR 7222: Concreto e argamassa — Determinação da resistência à tração
por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2011.
______. NBR 8522: Concreto - Determinação do módulo estático de elasticidade à
compressão. Rio de Janeiro, 2008.
______. NBR 8953: Concreto para fins estruturais - Classificação pela massa
específica, por grupos de resistência e consistência. Rio de Janeiro, 2015.
______. NBR 12142: Concreto — Determinação da resistência à tração na flexão de
corpos de prova prismáticos. Rio de Janeiro, 2010.
MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. (2008). Concreto: microestrutura, propriedades
e materiais. São Paulo: IBRACON, 3.ed., 674p.

2.20
ESTRUTURAS DE CONCRETO – CAPÍTULO 3

Libânio M. Pinheiro, Andreilton P. Santos, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos

Março de 2017

AÇOS PARA ARMADURAS

3.1 DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA

O aço é uma liga de ferrocarbono em que o teor de carbono varia de zero a


1,7%. Nessa liga há elementos adicionais: silício, manganês, fósforo, enxofre etc. O
aço é resultante da eliminação total ou parcial de elementos inconvenientes que se
fazem presentes no produto obtido na primeira redução do minério de ferro.

Os aços estruturais para construção civil possuem teores de carbono da


ordem de 0,18% a 0,25%. Esse material tem grande aplicação na Engenharia
graças às seguintes características: ductilidade; incombustibilidade; facilidade de ser
trabalhado; resistência a tração, compressão, flexão e torção; resistência a impacto,
abrasão e desgaste. Em condições adequadas, apresenta também resistência a
variações de temperatura, intempéries e agressões químicas.

Como o concreto simples apresenta pequena resistência a tração e é frágil,


é muito conveniente sua associação com o aço, obtendo-se o concreto armado.

Esse material, adequadamente dimensionado e detalhado, resiste muito


bem à maioria dos tipos de solicitação. Mesmo em peças comprimidas, além de
fornecer ductilidade, o aço aumenta a resistência do concreto à compressão.

3.2 OBTENÇÃO DO PRODUTO SIDERÚRGICO

O ponto de partida para obtenção do aço é o minério de ferro. A hematita


(Fe2O3) é atualmente o minério de ferro de maior emprego na siderurgia, sendo o
Brasil um dos grandes produtores mundiais.

Generalizando, pode-se resumir o processo de transformação do minério em


aço em quatro grandes estágios: preparação ou tratamento do minério e do carvão;
redução do minério de ferro; refino e tratamento mecânico.
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

a) Preparação ou tratamento do minério e do carvão

A primeira fase consiste na preparação do mineral extraído da natureza,


geralmente feita a céu aberto, visto que a sua ocorrência é em grande quantidade.
Nessa fase o material é passado por britadeiras, seguida de classificação pelo
tamanho. É lavado com jato de água, para eliminar argila, terra etc.

Como o minério deve entrar no alto forno com granulometria padronizada, os


pedaços pequenos são submetidos à sintetização ou pelotização, para se
aglutinarem em pedaços maiores.

O coque é um combustível obtido com o aquecimento do carvão mineral,


resultando carbono e cinzas.

Atualmente costuma-se misturar, já nesta fase, um fundente (como o


calcário), necessário à formação da escória de alto forno, que abaixa o ponto de
fusão da mistura, e com isso se obtém maior eficiência das operações de alto forno.

b) Redução do minério de ferro

A redução tem como objetivo retirar o oxigênio do minério, que assim será
reduzido a ferro, e o separa da ganga. Esta é o resultado da combinação de carbono
(coque) com o oxigênio do minério.

Em temperaturas elevadas, as reações químicas que ocorrem entre o coque


e o minério de ferro separam o ferro do oxigênio. Este reage com o carbono do
coque, formando dióxido de carbono (CO2), principalmente.

Simultaneamente, a combustão do carvão e o oxigênio do ar fornecem calor


para fundir o metal reduzido e a ganga, que se combina ao mesmo tempo com os
fundentes, formando a escória, que se separa do ferro no estado líquido, em virtude
do seu menor peso específico.

Esse processo ocorre no alto forno, com altura de 50 m a 100 m. Um


elevador alimenta o forno com o minério de ferro, coque e o fundente. Na base é
injetado ar quente. A temperatura varia de 1000C no topo a 1500C na base.
3.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

Na base do alto forno obtém-se a escória de alto forno e o ferro gusa, que é
quebradiço e tem baixa resistência, por apresentar altos teores de carbono e de
outros materiais, entre os quais silício, manganês, fósforo e enxofre.

c) Refino

O refino ocorre nas aciarias. Ele consiste na transformação do ferro gusa em


aço, com a diminuição de teor de carbono e de outros materiais. Essa transformação
é feita pela introdução controlada de oxigênio.

O aço líquido é transferido para a segunda etapa do processo na aciaria,


que é o lingotamento contínuo, em que são produzidos os tarugos, que são barras
de aço de seção quadrada e comprimento de acordo com sua finalidade.

Nas lingoteiras, inicia-se o processo de solidificação do aço, com a formação


de uma fina casca sólida na superfície do material.

Após a passagem pela lingoteira, existe a câmara de refrigeração, onde é


feita a aspersão de água que se encontra sobre a superfície sólida e ainda rubra do
material, auxiliando sua solidificação até o núcleo.

d) Tratamento mecânico

As próprias leis que regem a solidificação do aço líquido nas lingoteiras


impedem a obtenção de um material homogêneo, resultando sempre num material
com granulação grosseira, quebradiço e de baixa resistência.

Por isso, a etapa final é o tratamento mecânico dos tarugos, que os


transformam em produtos com características adequadas à sua utilização.

3.3 TRATAMENTO MECÂNICO DOS AÇOS

Como foi visto, o aço obtido nas aciarias apresenta granulação grosseira, é
quebradiço e de baixa resistência. Para aplicações estruturais, ele precisa sofrer
modificações, o que é feito por dois tipos de tratamento: a quente e a frio.
3.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

a) Tratamento a quente

Chama-se tratamento mecânico a quente quando a temperatura de trabalho


é maior 720C (zona crítica), situação o aço é mais mole, sendo mais fácil de
trabalhar. Nessas temperaturas há uma modificação da estrutura interna do aço,
ocorrendo homogeneização e recristalização com a redução do tamanho dos grãos,
melhorando as características mecânicas do material.

Os tipos de tratamento a quente são: forjamento, laminação e extrusão


(Figura 3.1). A trefilação é usada em tratamento a frio, como será visto mais adiante.

Figura 3.1 – Tipos de tratamento mecânico no aço.

No forjamento a forma desejada da peça é obtida por martelamento ou por


aplicação gradativa de pressão. A maioria das operações de forjamento ocorre a
quente, embora certos metais possam ser forjados a frio.

A laminação consiste na passagem do material entre dois rolos que giram


em sentidos opostos e estão espaçados de uma distância inferior à espessura da
peça a laminar. Nessas condições, em função do atrito entre o metal e os rolos, a
peça é “puxada” pelos rolos, tendo sua espessura reduzida, o comprimento
alongado e a largura levemente aumentada.

3.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

Na laminação, o controle do atrito entre os rolos é fundamental, pois ele


define a maior redução possível, sem forças externas que empurrem a peça.

Na extrusão o tarugo é refundido e forçado a passar por orifício com a forma


desejada.

São tratados a quente os aços CA-25 e CA-50. A sigla CA refere-se a


concreto armado, e o número que a sucede corresponde à resistência característica
de escoamento em kN/cm2 (ou kgf/mm2). Por exemplo, para o CA-50, fyk é igual a
50 kN/cm2 ou a 500 MPa.

Esses aços tratados a quente apresentam como principais características:


melhor trabalhabilidade, aceitam solda comum, possuem diagrama tensão-
deformação com patamar de escoamento e resistem a incêndios moderados.
Perdem resistência, apenas, com temperaturas acima de 1150 C.

A Figura 3.2 apresenta um diagrama tensão versus deformação para uma


barra de aço CA-50.

800

700

600

500
Tensão (MPa)

400

300

200

100

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Deformação (‰)

Figura 3.2 – Diagrama de aço tratado a quente (Fonte: Toshiaki Takeya).

3.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

Nessa Figura 3.2 tem-se:

 Aço CA 50 e diâmetro de 6,3 mm;


 Valores nominais As = 31,2 mm2; fyk = 500 MPa; fstk = 550 MPa;
 Valores medidos As = 31,2 mm2; fy = 640 MPa; fst = 750 MPa; Øeq = 6,3 mm.

b) Tratamento a frio ou encruamento

Neste tratamento é imposta uma deformação dos grãos por meio de tração,
compressão ou torção. Suas consequências são: aumento da resistência mecânica
e da dureza, e diminuição da resistência à corrosão e da ductilidade, ou seja,
decréscimo do alongamento e da estricção.

O processo é realizado abaixo da zona de temperatura crítica (720 C). Os


grãos são deformados e diz-se que o aço está encruado.

O trefilamento é o processo mais utilizado de tratamento mecânico a frio.


Nesse processo o metal é forçado a passar por orifícios de moldagem. É o processo
das fieiras de arames. No trefilamento, os fios endurecem rapidamente e têm que
ser recozidos a cada passagem.

As principais características dos aços tratados a frio são: o diagrama tensão


versus deformação não apresenta patamar de escoamento (é considerado um
escoamento convencional), a solda torna-se mais difícil e, à temperatura da ordem
de 600C, o encruamento é perdido, ou seja, o aço volta a ter as características
anteriores às do tratamento a frio.

O aço CA-60 é tratado a frio. Na Figura 3.3 apresenta-se um diagrama


tensão versus deformação para esse tipo de aço. Nessa figura tem-se:

 Aço CA 60 e diâmetro de 8 mm;


 Valores nominais As = 50 mm2; fyk = 600 MPa; fstk = 630 MPa; Es = 210 GPa;
 Valores medidos As = 49,6 mm2; fy = 750 MPa; fst = 757 MPa; Es = 188 GPa;
Øeq = 7,94 mm.

3.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

800

700

600

500
Tensão (MPa)

400

300

200

100

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Deformação (‰)

Figura 3.2 - Diagrama de aço tratado a frio (Fonte: Toshiaki Takeya).

3.4 BARRAS E FIOS

A ABNT NBR 7480:2007 “Aço destinado a armaduras para estruturas de


concreto armado” fixa as condições exigíveis na encomenda, fabricação e
fornecimento de barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado,
com ou sem revestimento superficial.

Classificam-se como barras os produtos de diâmetro nominal 6,3 mm ou


superior, obtidos exclusivamente por laminação a quente, sem processo posterior de
deformação mecânica. De acordo com o valor característico da resistência de
escoamento, as barras de aço são classificadas nas categorias: CA-25 e CA-50.

Os fios são aqueles de diâmetro nominal 10 mm ou inferior, obtidos a partir


de fio-máquina por trefilação ou laminação a frio. Segundo o valor característico da
resistência de escoamento, os fios são classificados na categoria CA-60.

Esta classificação pode ser visualizada na Tabela 3.1.

3.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

Tabela 3.1 – Diâmetros nominais conforme a ABNT NBR 7480 (2007).

As barras da categoria CA-50 são obrigatoriamente providas de nervuras


transversais oblíquas.

Os fios podem ser lisos, entalhados ou nervurados. Os de diâmetro nominal


igual a 10 mm devem ter obrigatoriamente entalhes ou nervuras.

A categoria CA-25 deve ter superfície obrigatoriamente lisa, desprovida de


quaisquer tipos de nervuras ou entalhes. Deve-se adotar como coeficiente de
conformação superficial mínimo, para todos os diâmetros,  = 1.

Não é aconselhável o emprego de diâmetros inferiores a 5 mm em


elementos estruturais moldados in loco, pois os inconvenientes de seu manuseio
durante a obra, tais como transporte desde a central de armação até sua colocação
na fôrma e posterior concretagem, podem comprometer o bom funcionamento da
armadura.

O comprimento de fornecimento das barras e fios retos deve ser de 12 m e a


tolerância de ± 1%. São fornecidos em peças, feixes, rolos ou conforme acordo entre
fornecedor e comprador.

3.5 CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS

As características mecânicas mais importantes para a definição de um aço


são o limite elástico, a resistência e o alongamento na ruptura. Essas características
são determinadas em ensaios de tração.

3.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

O limite elástico é a máxima tensão que o material pode suportar sem que
se produzam deformações plásticas ou remanescentes, além de certos limites.

Resistência é a máxima força de tração que a barra suporta, dividida pela


área de seção transversal inicial do corpo de prova.

Alongamento na ruptura é o aumento do comprimento do corpo de prova


correspondente à ruptura, expresso em porcentagem.

Os aços para concreto armado devem obedecer aos requisitos:


 Ductilidade e homogeneidade;
 Valor elevado da relação entre os limites de resistência e de
escoamento;
 Soldabilidade;
 Resistência razoável a corrosão.

A ductilidade é a capacidade do material de se deformar plasticamente sem


romper. Pode ser medida por meio do alongamento específico () ou da estricção.

Quanto mais dúctil o aço, maior é a redução de área ou o alongamento


antes da ruptura.

Um material não dúctil, como o ferro fundido, não se deforma plasticamente


antes da ruptura. Diz-se, então, que o material possui comportamento frágil.

Adota-se, para aço destinado a armadura passiva (para concreto armado),


massa específica de 7850 kg/m3, coeficiente de dilatação térmica  = 10-5/C, para
temperatura entre -20C e 150C, e módulo de elasticidade de 210 GPa.

3.6 ADERÊNCIA

A própria existência do concreto armado decorre da solidariedade entre o


concreto e o aço, que é proporcionada pela aderência. As nervuras e os entalhes
nas barras melhoram a aderência, pois garantem maior eficiência na ligação dos
dois materiais.
3.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

Esse comportamento solidário é quantificado pelo coeficiente de


conformação superficial de barras e fios, , também conhecido como coeficiente de
aderência. A ABNT NBR 7480:2007 indica valores mínimos de  para   10 mm
(Tabela 3.2).

Tabela 3.2 – Valores mínimos de  para   10 mm (ABNT NBR 7480:2007)

A ABNT NBR 6118:2007 considera um coeficiente semelhante para cálculo,


1, cujos valores encontram-se na Tabela 3.3. Nessa tabela, as barras de CA-25 são
admitidas lisas, as de CA-50, de alta aderência, e as de CA-60, entalhadas.

Tabela 3.3 – Valores mínimos de 1 conforme a ABNT NBR 6118:2007

3.7 DIAGRAMA DE CÁLCULO

O diagrama a ser empregado no cálculo, tanto para aço tratado a quente


quanto o tratado a frio, é o indicado na Figura 3.4, que representa um material
elastoplástico perfeito. Nessa figura, tem-se:

fyk: resistência característica do aço à tração;


fyd: resistência de cálculo do aço à tração, igual a fyk / 1,15;
fyck: resistência característica do aço à compressão;
se não houver determinação experimental, considera-se fyck = fyk ;
fycd: resistência de cálculo do aço à compressão, igual a fyck /1,15;
yd: deformação específica de escoamento (valor de cálculo).

3.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

Os alongamentos (s) são limitados a 10‰, valor que é admitido como


relativo a deformação plástica excessiva, e os encurtamentos a 3,5‰, no caso de
flexão simples ou composta, e a 2‰, no caso de compressão simples. Esses
valores limites de encurtamento são fixados em função dos valores máximos
admitidos para o concreto.

Figura 3.4 - Diagrama tensão-deformação dos aços para cálculo

3.8 QUESTIONÁRIO

1. O que é aço? Quais seus elementos adicionais?


2. Quais os teores de carbono dos aços estruturais para construção civil? Quais as
características desses aços?
3. Qual a função do aço em peças de concreto tracionadas ou fletidas? E em
peças comprimidas?
4. Qual o minério de ferro de maior emprego na siderurgia?
5. Quais os estágios de transformação do minério de ferro em aço?
6. Em que consiste a primeira fase? O que significa sintetização ou pelotização?
7. O que é e como é obtido o coque?
8. Por que é necessário usar um fundente? Qual é o geralmente utilizado?
3.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

9. O que significa redução do minério de ferro? E ganga?


10. Na obtenção do aço, como se forma o CO2? E a escória?
11. Qual a faixa de altura de um alto forno? Quais os materiais colocados nele? Qual
sua variação de temperatura?
12. Que materiais são obtidos na base do alto forno?
13. Quais as principais características do ferro gusa? Quais as causas delas?
14. Onde ocorre o refino do aço e o que isto significa? Como é feita essa
transformação?
15. Qual a segunda etapa do processo na aciaria?
16. Durante o refino, o que acontece nas lingoteiras? E na câmara de refrigeração?
17. Na etapa final de produção, por que é necessário um tratamento mecânico?
18. A que temperatura é feito o tratamento a quente? Por quê?
19. Quais os tipos de tratamento a quente? O que é forjamento, laminação e
extrusão?
20. Quais os aços para concreto armado (CA) que são tratados a quente?
21. Para concreto armado, quais os aços tratados a quente? O que significa CA-50?
22. Quais as principais características dos aços tratados a quente? A que
temperatura ocorre perda de resistência?
23. Como é feito o tratamento a frio? Quais suas consequências?
24. Qual a máxima temperatura em que o tratamento é admitido como feito a frio?
25. O que é trefilamento? Quais as principais características dos aços tratados a
frio? A que temperatura ocorre perda de resistência?
26. Para concreto armado, qual o tipo de aço tratado a frio?
27. Qual a norma brasileira que fixa as exigências relativas às armaduras de aço
para estruturas de concreto armado?
28. Como se classificam as barras? Quais seus diâmetros nominais?
29. Como se classificam os fios? Quais seus diâmetros nominais?
30. Que tipo de armadura que deve ser provida de nervuras transversais oblíquas?
31. Quais os tipos de conformação superficial dos fios? Para qual diâmetro nominal
o fio deve obrigatoriamente ter entalhes ou nervuras?
32. Qual a categoria de aço que deve ter superfície obrigatoriamente lisa?
33. Qual o diâmetro mínimo aconselhável para peças moldadas in loco? Por quê?

3.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aços para armaduras

34. Qual o comprimento de fornecimento das barras e fios retos?


35. Quais as mais importantes características mecânicas exigíveis para o aço?
Como elas são determinadas?
36. Quais os requisitos que os aços para concreto armado devem obedecer?
37. O que significa ductilidade? Como pode ser medida? O que é um material frágil?
38. Qual a massa específica adotada para o aço? E para o módulo de elasticidade?
39. O que garante a solidariedade entre o concreto e o aço? Qual função das
nervuras e dos entalhes?
40. Como é quantificado o comportamento solidário entre o aço e o concreto?
41. Esquematizar o diagrama tensão versus deformação do aço para o cálculo?
Qual o significado das grandezas nele indicados?
42. Por que o alongamento do aço é limitado a 10 ‰?
43. Quais os valores limites de encurtamento do aço? Como eles foram fixados?

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de


estruturas de concreto. Rio de Janeiro, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7480: Aço destinado


a armaduras para estruturas de concreto armado. Rio de Janeiro, 2007.

SUSSEKIND, J. C. Curso de Concreto. v.1. 6.ed. São Paulo: Globo, 1989.

PETRUCCI, E. G. R. Materiais de construção civil. 10.ed. São Paulo: Globo, 1995.

GÓIS, W. Aços para armaduras. Seminário apresentado junto à disciplina:


Fundamentos do Concreto I. Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2002.

3.13
BASES PARA CÁLCULO – CAPÍTULO 4

Libânio M. Pinheiro

Colaboradores:

Cassiane D. Muzardo; Sandro P. Santos; Vinicius Slompo Pinto; Artur L. Sartorti

Março de 2017

BASES PARA CÁLCULO

4.1 ESTADOS LIMITES

As estruturas de concreto armado devem ser projetadas de modo que


apresentem segurança satisfatória. Essa segurança está condicionada à verificação
dos estados limites, que são situações em que a estrutura apresenta desempenho
inadequado à finalidade da construção, ou seja, são estados em que a estrutura se
encontra imprópria para o uso. Os estados limites podem ser classificados em
estados limites últimos ou estados limites de serviço, conforme sejam referidos à
situação de ruína ou de uso em serviço, respectivamente. Assim, a verificação da
segurança é feita de modo diferente, em relação à capacidade de carga da estrutura
e às condições de sua utilização em serviço.

4.1.1 Estados limites últimos

São aqueles que correspondem à máxima capacidade portante da estrutura,


ou seja, sua simples ocorrência determina a paralização, no todo ou em parte, do
uso da construção. São exemplos:

a) Perda de equilíbrio como corpo rígido: tombamento, escorregamento


ou levantamento;
b) Resistência ultrapassada: ruptura do concreto;
c) Escoamento excessivo da armadura:  s  1,0% ;
d) Aderência ultrapassada: escorregamento da barra;
e) Transformação em mecanismo: estrutura hipostática;
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

f) Flambagem;
g) Instabilidade dinâmica  ressonância;
h) Fadiga – cargas repetitivas;
i) Colapso progressivo;
j) Exposição ao fogo;
k) Ações sísmicas.

4.1.2 Estados limites de serviço

São aqueles que correspondem a condições precárias em serviço. Sua


ocorrência, repetição ou duração causam efeitos estruturais que não respeitam
condições especificadas para o uso normal da construção ou que são indícios de
comprometimento da durabilidade. A ocorrência repetitiva de situações que se
configurem como estados limites de serviço pode conduzir a algum estado limite
último. Podem ser citados como exemplos:

a) Danos estruturais localizados que comprometam a estética ou a durabilidade


da estrutura  fissuração;
b) Deformações excessivas que afetem a utilização normal da construção ou o
seu aspecto estético  flechas;
c) Vibrações excessivas que causem desconforto a pessoas ou danos a
equipamentos sensíveis.

4.2 AÇÕES

Ações são causas que provocam esforços ou deformações nas estruturas.


Na prática, as forças e as deformações impostas pelas ações são consideradas
como se fossem as próprias ações, sendo as forças chamadas de ações diretas e as
deformações, ações indiretas.

4.2.1 Classificação das ações

As ações que atuam nas estruturas podem ser classificadas, segundo sua
variabilidade com o tempo, em permanentes, variáveis e excepcionais.
4.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

a) Ações permanentes

As ações permanentes ocorrem com valores constantes, com pequena


variação em torno da média, durante praticamente toda a vida da construção, ou
com valores que aumentam no tempo, tendendo a um valor limite.

Essas ações podem ser subdivididas em permanentes diretas  como peso


próprio da estrutura ou de elementos construtivos permanentes (paredes, pisos e
revestimentos, por exemplo), peso dos equipamentos fixos, empuxo de terra não
removível etc.  e ações permanentes indiretas  como retração, recalques de apoio,
protensão, fluência do concreto e imperfeições geométricas.

Em alguns casos particulares, como reservatórios e piscinas, o empuxo de


água pode ser considerado uma ação permanente direta.

Segundo o item 11.3.3.4 da ABNT NBR 6118:2014, as imperfeições


geométricas podem ser divididas em imperfeições globais, como mostra a Figura
4.1, e imperfeiçoes locais, indicadas na Figura 4.2.

Figura 4.1 – Imperfeições geométricas globais.


FONTE: ABNT NBR 6118:2014

4.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Figura 4.2 – Imperfeições geométricas locais.


FONTE: ABNT NBR 6118:2014

Essas imperfeições são importantes, por exemplo, no cálculo de pilares,


situação em que essas ações serão apresentadas com mais detalhes.

b) Ações variáveis

São aquelas cujos valores têm variação significativa em torno da média,


durante a vida da construção. Há dois tipos de ações variáveis: as diretas, como as
cargas acidentais previstas para construção, e as indiretas, como a temperatura e as
ações dinâmicas. Podem ser fixas ou móveis, estáticas ou dinâmicas, pouco
variáveis ou muito variáveis. São exemplos: cargas de uso (pessoas, mobiliário,
veículos etc.) e seus efeitos (frenagem, impacto, força centrífuga), vento, variação
de temperatura, empuxos de água, alguns casos de abalo sísmico etc.

c) Ações excepcionais

Estas ações têm duração extremamente curta e muito baixa probabilidade


de ocorrência durante a vida da construção, mas que devem ser consideradas no
projeto de determinadas estruturas, nas quais seus efeitos não podem ser
controlados por outros meios. São, por exemplo, as ações decorrentes de
explosões, choques de veículos, incêndios, enchentes ou abalos sísmicos
excepcionais.

4.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.3 VALORES REPRESENTATIVOS DAS AÇÕES

No cálculo dos esforços solicitantes, devem ser identificadas e quantificadas


todas as ações passíveis de atuar durante a vida da estrutura e capazes de produzir
efeitos significativos no comportamento da construção.

4.3.1 Para estados limites últimos

Com vistas aos estados limites últimos, as ações podem ser quantificadas
por seus valores representativos, que podem ser valores característicos, valores
característicos nominais, valores reduzidos de combinação e valores convencionais
excepcionais.

a) Valores característicos (Fk)

Os valores característicos quantificam as ações cuja variabilidade no tempo


pode ser adequadamente expressa por meio de distribuições de probabilidade.

Os valores característicos das ações permanentes que provocam efeitos


desfavoráveis na estrutura correspondem ao quantil de 95% da respectiva
distribuição de probabilidade (valor característico superior  Fk,sup). Para as ações
permanentes favoráveis, os valores característicos correspondem ao quantil de 5%
de suas distribuições (valor característico inferior  Fk,inf). Seus valores estão
indicados na ABNT NBR 6120:1980, norma em fase de revisão.

Para as ações variáveis, os valores característicos são aqueles que têm


probabilidade entre 25% e 35% de serem ultrapassados no sentido desfavorável,
durante um período de 50 anos. As ações variáveis que produzam efeitos favoráveis
não são consideradas.

As ações em geral são quantificadas pelos seus valores representativos,


como se indica a seguir.

 Valores característicos nominais

Os valores característicos nominais quantificam as ações cuja variabilidade


no tempo não pode ser adequadamente expressa por distribuições de probabilidade.

4.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Para as ações com baixa variabilidade, com valores característicos


superiores e inferiores diferindo muito pouco entre si, adotam-se como
característicos os valores médios das respectivas distribuições.

 Valores reduzidos de combinação

Os valores reduzidos de combinação são empregados quando existem


ações variáveis de naturezas distintas, com possibilidade de ocorrência simultânea.

Esses valores são determinados a partir dos valores característicos com o


uso da expressão  0 Fk . O coeficiente de combinação  0 leva em conta o fato de
que é muito pouco provável que essas ações variáveis ocorram simultaneamente
com seus valores característicos.

 Valores convencionais excepcionais

São os valores arbitrados para as ações excepcionais. Em geral, esses


valores são estabelecidos em acordo entre o proprietário da construção e as
autoridades governamentais que nela tenham interesse.

4.3.2 Para estados limites de serviço

Com vistas aos estados limites de serviço, os valores representativos das


ações podem ser valores reduzidos de utilização e valores raros de utilização.

a) Valores reduzidos de utilização

Os valores reduzidos de utilização são determinados a partir dos valores


característicos, multiplicando-os por coeficientes de redução. Distinguem-se os
valores frequentes  1 Fk e os valores quase permanentes  2 Fk das ações
variáveis, sendo ψ1 e ψ2 dados pela tabela 11.2 da ABNT NBR 6118:2014.

Os valores frequentes decorrem de ações variáveis que se repetem muitas


vezes (ou atuam por mais de 5% da vida da construção). Os valores quase
permanentes, por sua vez, decorrem de ações variáveis de longa duração (podem
atuar em pelo menos metade da vida da construção, como, por exemplo, a fluência).

4.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

b) Valores raros de utilização

São valores representativos de ações que atuam com duração muito curta
sobre a estrutura (no máximo algumas horas durante a vida da construção, como,
por exemplo, um abalo sísmico), sendo que sua colaboração é dada pelo valor
característico nominal da ação.

4.4 TIPOS DE CARREGAMENTO

Entende-se por tipo de carregamento o conjunto das ações que têm


probabilidade não desprezível de atuarem simultaneamente sobre a estrutura,
durante um determinado período de tempo pré-estabelecido. Pode ser de longa
duração ou transitório, conforme seu tempo de duração.

Em cada tipo de carregamento, as ações devem ser combinadas de


diferentes maneiras, a fim de que possam ser determinados os efeitos mais
desfavoráveis para a estrutura. Devem ser estabelecidas tantas combinações
quantas forem necessárias para que a segurança seja verificada em relação a todos
os possíveis estados limites (últimos e de serviço).

Podem-se distinguir os seguintes tipos de carregamento, passíveis de


ocorrer durante a vida da construção: carregamento normal, carregamento especial,
carregamento excepcional e carregamento de construção.

4.4.1 Carregamento normal

O carregamento normal decorre do uso previsto para a construção,


podendo-se admitir que tenha duração igual à vida da estrutura. Esse tipo de
carregamento deve ser considerado tanto na verificação de estados limites últimos
quanto nos de serviço.

Um exemplo desse tipo de carregamento é dado pela consideração, em


conjunto, das ações permanentes e variáveis (g + q), com seus valores
característicos, e das demais ações variáveis, com seus valores reduzidos de
combinação.
4.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.4.2 Carregamento especial

O carregamento especial é transitório e de duração muito pequena em


relação à vida da estrutura, sendo, em geral, considerado apenas na verificação de
estados limites últimos. Esse tipo de carregamento decorre de ações variáveis de
natureza ou intensidade especiais, cujos efeitos superam os do carregamento
normal. O vento é um exemplo de carregamento especial. Devem estar presentes as
ações permanentes e a ação variável especial, com seus valores característicos, e
as demais ações variáveis com probabilidade não desprezível de ocorrência
simultânea, com seus valores reduzidos de combinação.

4.4.3 Carregamento excepcional

O carregamento excepcional decorre da atuação de ações excepcionais,


sendo, portanto, de duração extremamente curta e capaz de produzir efeitos
catastróficos. Como exemplo podem-se citar sismos e incêndios. Esse tipo de
carregamento deve ser considerado apenas na verificação de estados imites últimos
e para determinados tipos de construção, para as quais não possam ser tomadas,
ainda na fase de concepção estrutural, medidas que anulem ou atenuem os efeitos.
Devem figurar as ações permanentes e a ação variável excepcional, quando existir,
com seus valores representativos, e as demais ações variáveis com probabilidade
não desprezível.

4.4.4 Carregamento de construção

O carregamento de construção é transitório, pois, como a própria


denominação indica, refere-se à fase de construção, sendo considerado apenas nas
estruturas em que haja risco de ocorrência de estados limites já na fase executiva.

Devem ser estabelecidas tantas combinações quantas forem necessárias


para a verificação das condições de segurança em relação a todos os estados
limites que são de se temer durante a fase de construção. Como exemplo, tem-se:
cimbramento e descimbramento. Devem estar presentes as ações permanentes e a
ação variável especial, com seus valores característicos, e as demais ações
variáveis com probabilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus
valores reduzidos de combinação.
4.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.5 SEGURANÇA DAS ESTRUTURAS

Uma estrutura apresenta segurança se tiver condições de suportar todas as


ações possíveis de ocorrer, durante sua vida útil, sem atingir um estado limite.

4.5.1 Métodos probabilísticos

Os métodos probabilísticos para verificação da segurança são baseados na


probabilidade de ruína, com curvas de distribuição normal das solicitações e das
resistências, conforme indica a Figura 4.3.

O valor da probabilidade de ruína (p) é fixado pelas normas e embutido nos


parâmetros especificados, levando em consideração aspectos técnicos, políticos,
éticos e econômicos. Por questão de economia, em geral, adota-se p  0,1  10 6 .

Figura 4.3 – Esquema dos métodos probabilísticos

4.5.2 Método dos coeficientes parciais de segurança

O método dos coeficientes parciais é um método semiprobabilístico, em que


se continua com números empíricos, baseados na tradição, mas se introduzem
dados estatísticos e conceitos probabilísticos, na medida do possível. São utilizados

4.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

para a aplicação dos princípios dos estados limites. Em outras palavras, os estados
limites são verificados com a aplicação de coeficientes de cálculo individuais para
cada variável do problema (coeficientes parciais).

É o melhor que se têm condições de aplicar atualmente, sendo uma situação


transitória, até se conseguir maior aproximação com o método probabilístico puro ou
com outro que se constitua em evolução na consideração da segurança.

Sendo Rk e Sk os valores característicos da resistência e da solicitação,


respectivamente, e Rd e Sd os seus valores de cálculo, o método pode ser
representado pelo esquema da Figura 4.4.

Figura 4.4 – Esquema do método dos coeficientes parciais (semiprobabilístico)

A idéia básica é:

a) Majorar ações e esforços solicitantes (valores representativos das ações),


resultando nas ações e solicitações de cálculo, de forma que a
probabilidade desses valores serem ultrapassados é pequena;
b) Reduzir os valores característicos das resistências (fk), resultando nas
resistências de cálculo, com pequena probabilidade dos valores reais
atingirem esse patamar;
c) Equacionar a situação de ruína, fazendo com que o esforço solicitante de
cálculo seja igual à resistência de cálculo.

4.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Os coeficientes de majoração das ações e das solicitações são


representados por f. Os coeficientes de minoração das resistências são indicados
por m, sendo c para o concreto e s para o aço, e seus valores são dados no item
12.4 da ABNT NBR 6118:2014, para cada situação de análise.

4.6 ESTÁDIOS DE TENSÃO NO CONCRETO

Denominam-se estádios às fases do diagrama de tensões no concreto em


uma seção transversal submetida à flexão, desde o início do carregamento até a
ruptura da seção. Há três fases distintas: estádio I, estádio II e estádio III.

4.6.1 Estádio I

Esta fase corresponde ao início do carregamento, em que o concreto resiste


tração. As tensões normais são de baixa intensidade e o diagrama de tensões linear
ao longo de toda a seção. Portanto, é válida a lei de Hooke (Figura 4.5).

Figura 4.5 – Comportamento do concreto no estádio I

Levando-se em conta a baixa resistência do concreto à tração, se


comparada com a resistência à compressão, percebe-se a inviabilidade de um
possível dimensionamento nessa fase. É no estádio I que é feito o cálculo do
momento de fissuração, que separa o estádio I do estádio II.

Esse momento é usado para calcular a armadura mínima, de modo que esta
seja capaz de absorver, com adequada segurança, as tensões causadas por um
momento fletor de mesma magnitude, garantindo ductilidade à seção de concreto
4.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

armado. Também é no estádio I que se verificam as deformações por flexão em


serviço, para peças não fissuradas, como acontece na maioria das lajes maciças.

Portanto, o estádio I termina quando a seção fissura. Na ABNT NBR


6118:2014, esse estádio I é utilizado na verificação do estado limite de formação de
fissuras. O estádio I é importante para o dimensionamento dos elementos que
utilizem armaduras de protensão, já que se faz necessária, nesses elementos, a
verificação da segurança em relação aos estados limites de descompressão e de
formação de fissuras.

4.6.2 Estádio II

O estádio II corresponde a um nível de carregamento em que o concreto não


mais resiste à tração. Portanto, a seção encontra-se fissurada na região de tração. A
contribuição do concreto tracionado pode ser desprezada. No entanto, o diagrama
de tensões permanece linear na parte comprimida, onde permanece válida a lei de
Hooke (Figura 4.6).

Figura 4.6 – Comportamento do concreto no estádio II

Basicamente, o estádio II é empregado na verificação de peças em serviço,


para seções fissuradas. Como exemplos, citam-se o estado limite de abertura de
fissuras e o estado limite de deformações excessivas. Os valores estimados das
aberturas máximas das fissuras são da ordem de 0,3 mm em concreto armado e
0,2 mm em concreto com armaduras ativas.
4.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

O estádio II termina com o início da plastificação do concreto comprimido.

Com a evolução do carregamento, a fissura e a linha neutra caminham no


sentido da borda comprimida da seção, até que ocorra a ruptura do concreto, após a
completa plastificação da parte comprimida da seção.

4.6.3 Estádio III

No estádio III, a região comprimida encontra-se plastificada e o concreto


dessa região está em fase de ruptura (Figura 4.7).

c2

Figura 4.7 – Comportamento do concreto na flexão pura (Estádio III).

Os valores das deformações c2 e cu são indicados a seguir.

- Para concretos de classes C20 a C50:

 c 2  2 0 00 ;

 cu  3,5 0 00 .

- Para concretos de classes C55 a C90:

 c 2  2 0 00  0,085 0 00 .( f ck  50)0,53 – f ck em MPa;

 cu  2,6 0 00  35 0 00 .[(90  f ck ) / 100]4 – f ck em MPa.

Admite-se que o diagrama de tensões seja da forma parabólico-retangular,


também conhecido como diagrama parábola-retângulo.
4.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

A ABNT NBR 6118:2014 permite, para efeito de cálculo, que se trabalhe


com um diagrama retangular equivalente (Figura 4.8), ou seja, para os dois
diagramas, devem ser próximos os respectivos valores da resultante de compressão
e da distância de seu ponto de aplicação até a linha neutra.

σcd
x
c2

Figura 4.8 – Deformações e tensões no concreto no estádio III.

O coeficiente  indicado na Figura 4.8 tem os valores indicados a seguir.

- Para concretos de classes C20 a C50:

  0,8

- Para concretos de classes C55 a C90:

  0,8  ( f ck  50) / 400 , com f ck em MPa

 cd é o valor de cálculo da tensão resistente do concreto, que já leva em


conta o efeito Rüsch e é obtida como se indica a seguir.

 cd   c . f cd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha


neutra, não diminuir a partir desta para a borda comprimida (Figura 4.9).

4.14
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

LN

Figura 4.9 – Largura da seção não diminui da linha neutra para a borda comprimida.

 cd  0,9. c . fcd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha


neutra, diminuir a partir desta para a borda comprimida (Figura 4.10);

LN

Figura 4.10 – Largura da seção diminui da linha neutra para a borda comprimida.

O coeficiente  c leva em conta três fatores: a diminuição da resistência

devida ao efeito de longa duração (efeito Rüsch, com coeficiente multiplicador da


ordem de 0,75); o estado triaxial de tensões provocado pelo atrito entre as
superfícies da prensa e do corpo de prova (0,95); e o aumento da resistência do
concreto ao longo do tempo (1,20). A multiplicação desses três valores resulta em
0,75 x 0,95 x 1,20 = 0,855.

A ABNT NBR 6118:2014 apresenta os seguintes valores para  c :

- Para concretos de classes C20 a C50:

 c  0,85

- Para concretos de classes C55 a C90:

 c  0,85.[1,0  ( fck  50) / 200] , com f ck em MPa

É no estádio III que é feito o dimensionamento da seção à flexão, situação


que denomina cálculo no estado limite último por ruptura do concreto, cálculo na
ruptura ou cálculo no estádio III.
4.15
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.6.4 Diagramas de tensão no concreto

O diagrama parábola-retângulo (Figura 4.7 e Figura 4.8) é formado por um


trecho em que a tensão varia segundo uma parábola e um trecho retangular.

Para análise no estado limite último, pode ser empregado o diagrama tensão-
deformação indicado na Figura 4.11 (ABNT NBR 6118:2014).

Figura 4.11 – Diagrama tensão-deformação do concreto.

Os valores a serem adotados para os encurtamentos  c 2 (deformação


especifica de encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e  cu
(deformação específica de encurtamento do concreto na ruptura) são definidos a
seguir.
- Para concretos de classes C20 a C50:

 c 2  2 0 00 ;

 cu  3,5 0 00 .

- Para concretos de classes C55 a C90:

 c 2  2 0 00  0,085 0 00 .( f ck  50)0,53 , com f ck em MPa;

 cu  2,6 0 00  35 0 00 .[(90  f ck ) / 100]4 , com f ck em MPa.


4.16
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

f cd é a resistência de cálculo do concreto à compressão. Para combinações


normais de ações no estado limite último, f cd = f ck /  c , com  c = 1,4, em geral.

A Tabela 4.1 indica os valores de  c 2 e  cu para concretos de classes C20 a


C50.

Tabela 4.1 – Valores de  c 2 e  cu .


f ck (MPa) 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
 c 2 ( 0 00) 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,2 2,3 2,4 2,4 2,5 2,5 2,6 2,6
 cu ( 0 00) 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,1 2,9 2,7 2,7 2,6 2,6 2,6 2,6

4.6.5 Equacionamento dos estádios I e II

Seja uma seção transversal retangular solicitada por momento fletor positivo
(tração em baixo), como a ilustrada na Figura 4.12.

s'
cc
Rs'
d'

s'

Rcc
x
x-d'
M
Zc

LN
d
h

Zt

d-x

Rct
Rs s

ct
h-d

As
b

Figura 4.12 – Seção transversal, esforços e deformações.

Nessa figura, tem-se que:

As é a área da seção transversal da armadura de tração;

As' é a área da seção transversal da armadura de compressão;

LN é a linha neutra, onde as tensões e deformações são nulas;


d é a altura útil da armadura de tração (distância do CG até a borda comprimida);

4.17
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

d ' é a distância do CG de As' até a borda comprimida;

x é a profundidade da linha neutra, medida a partir da borda comprimida;


M é o momento fletor aplicado;
Rs é a resultante de tração na armadura de área As ;

Rs' é a resultante de compressão na armadura de área As' ;

Rcc é a resultante de compressão do concreto;

Rct é a resultante de tração do concreto, que existe apenas no Estádio I;

zc é a distância da LN até Rcc ;

zt é a distância da LN até Rct ;

 cc a máxima deformação de compressão do concreto;


 ct é a máxima deformação de tração do concreto;
 s é a deformação na armadura de área As ;

 s' é a deformação na armadura de área As' .

Com o equilíbrio de forças obtém-se:

Rs + Rct = Rcc + Rs'

Fazendo-se o equilíbrio de momentos fletores em relação à LN, tem-se:

M = Rcc . zc + Rs' ( x - d ' ) + Rct . zt + Rs ( d - x )

Se não existir armadura de compressão, Rs' = 0.

No estádio I, Rct  0, pois o concreto resiste à tração.

No Estádio II, o concreto estará fissurado, logo Rct  0 .

Podem ainda ser escritas as seguintes equações de compatibilidade de


deformações:

 cc  s' s  ct
  
x (x  d ') ( d  x) ( h  x)

4.18
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

a) Homogeneização da seção transversal

Nas análises de seções que envolvem materiais diferentes, existe a


necessidade de se fazer uma homogeneização da seção transversal. Essa
homogeneização consiste em transformar um dos materiais diferentes em uma área
equivalente ao outro material. No caso das estruturas de concreto armado, a
homogeneização é realizada “transformando-se” a seção de aço em uma área
equivalente de concreto, por meio da razão modular, que é a razão entre os módulos
de elasticidade do aço e do concreto.

Portanto, essa razão modular é dada por:

Es
e 
Ec

Es é o módulo de elasticidade do aço, com valor de 210 GPa;


Ec é o módulo de elasticidade do concreto, com o valor tangente inicial ( Eci ) para o
Estádio I e o valor secante ( Ecs ) para o Estádio II.

Seja a seção homogeneizada indicada na Figura 4.13.

Acs' - Área de concreto


As' equivalente a As'
cc cc
d'

s' cs'
x-d'

x-d'

LN
d
h

d-x

d-x

s cs

ct ct
h-d

As DEFORMAÇÕES TENSÕES
b Acs - Área de concreto
equivalente a As

Figura 4.13 – Seção transversal homogeneizada.

Nessa figura,  cs e  'cs são as tensões nas áreas equivalentes de concreto

Acs e A'cs , respectivamente. Esses valores são calculados como se indica a seguir:

4.19
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

s  s'
Acs   e . As A'cs =  e . As'  cs   cs' =
e e

É importante destacar que as deformações são as mesmas, tanto na seção


real quanto na homogeneizada.

Com o diagrama de tensões da Figura 4.13, podem ser escritas as


seguintes equações de compatibilidade de tensões:

 cc  cs '  cs  ct
  
x (x  d ') (d  x) (h  x)

Reescrevendo tem-se:

 cc  s' s  ct
  
x  e .( x  d ' )  e .(d  x) (h  x )

b) Tensões e deformações no estádio I

Os cálculos no estádio I são feitos com base na Figura 4.14.

e.As'
d'
x
x-d'
x/2

LN
d

(h-x)/2
h

d-x
h-d

e.As

Figura 4.14 – Seção homogeneizada no estádio I.

Inicialmente é necessário o cálculo da posição ( x ) da LN, que é


determinada com a condição de que a somatória dos momentos estáticos ( Qs ) em

relação à LN seja igual a zero.

4.20
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

 Q  s LN 0
x hx
b.x.  As ' . e .( x  d ' )  b.(h  x).   As . e .(d  x)  0
2  2 

b.h 2
  e .( As .d  As ' .d ' )
x 2
b.h   e .( As  As ' )

Em seguida é calculado o momento de inércia da seção, que no estádio I é


dado por:

2
b.h3 h 
II   b.h.  x   As ' . e .( x  d ' ) 2  As . e .(d  x) 2
12 2 

Com os valores de x e de I I determinam-se as tensões no concreto na


seção homogeneizada, que para um momento fletor característico M k são dadas

por:

Mk Mk
 cc  .x  ct  .(h  x)
II II

 s' M k s Mk
 cs '   .( x  d ' )  cs   .(d  x)
e II e II

Os respectivos valores das deformações são dados por:

 cc  ct
 cc   ct 
Eci Eci

 s' s
 cs '  s 
Es Es

c) Tensões e deformações no estádio II

Os cálculos no estádio II são feitos com base na Figura 4.15.

4.21
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

e.As'

d'
x
x-d'
x/2
LN

d
h

d-x
h-d
e.As

Figura 4.15 – Seção homogeneizada no Estádio II.

Os cálculos da posição ( x ) da LN e do momento de inércia no estádio II


( I II ) são semelhantes aos que foram feitos no item anterior, porém sem a
consideração do concreto inferior (tracionado), que está fissurado. Esses valores
são obtidos com as expressões:

2. e 2. e
x2  .( As  As ' ).x  .( As .d  As ' .d ' )  0
b b
b.x3 b.x 3
I II    As ' . e .( x  d ' ) 2  As . e .(d  x)2
12 4

As tensões na seção homogeneizada são obtidas de modo semelhante ao


que foi feito para o estádio I. Para o estádio II, as tensões são dadas por:

Mk
 cc  .x  ct  0
I II

 s' M k s Mk
 cs '   .( x  d ' )  cs   .(d  x)
 e I II  e I II

Os respectivos valores das deformações, no estádio II, são dados por:

 cc  cc .(h  x)
 cc   ct 
Ecs x

 s' s
 cs '  s 
Es Es

4.22
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.6.6 Momento de fissuração ( M r )

Para uma viga de concreto armado submetida à flexão, pode-se imaginar o


“histórico de carregamento” de forma que a seção de momento máximo tenha
comportamento como o ilustrado na Figura 4.16.

Ruína

M=0 M = Mr M = Múltimo

Este ponto caracteriza o ELS-F


Estádio I Estádio II
Estádio III
- Concreto não fissurado; - Concreto fissurado;
- Algumas peças tem o ELS-DEF - Verificações dos ELS: - Pontual
verificado aqui. ELS-W - Concreto e aço plastificados;
ELS-DEF - Dimensionamento é aqui (ELU);
- Aqui que se aplica a teoria dos
Domínios de deformação.

Figura 4.16 – Histórico do carregamento de uma viga.

A passagem do Estádio I para o Estádio II ocorre quando o momento fletor


solicitante alcança o valor do momento de fissuração ( M r ).

A ABNT NBR 6118:2014, no item 17.3.1, estabelece que o valor do


momento de fissuração é dado por:

 . f ct .I c
Mr 
yt

 é o fator que relaciona a resistência à tração na flexão com a resistência à


tração direta, sendo dado por:
  1,2 para seções T ou duplo T (seções π);
  1,3 para seções I ou T invertido;
  1,5 para seções retangulares.
fct é a resistência do concreto à tração direta, com valor apropriado a cada
verificação particular; para determinação do momento de fissuração, deve
ser usado o fctk ,inf no estado limite de formação de fissura (ELS-F), e o

f ct , m no estado limite de deformação excessiva (ELS-DEF).

I c é o momento de inércia da seção bruta de concreto.

4.23
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

yt é a distância do centro de gravidade da seção bruta de concreto à fibra

mais tracionada.

Portanto, se o momento fletor aplicado na viga for menor que M r , ela estará
no Estádio I. Caso contrário, a seção de momento máximo estará no Estádio II, e em
casos extremos, no Estádio III.

4.7 DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO NA RUÍNA

Como foram indicados no item anterior, os estádios consideram o diagrama


de tensões no concreto na seção transversal. Já os domínios referem-se às
deformações. São situações em que pelo menos um dos materiais aço ou
concreto atinge o seu limite de deformação, caracterizando dessa forma um dos
estados limites últimos:

 alongamento último do aço (s = 10 ‰);

 encurtamento último do concreto (cu na flexão e c2 na compressão


uniforme).

O primeiro caso é denominado ruína por deformação plástica excessiva


do aço, e o segundo, ruína por ruptura do concreto. Ambos serão estudados nos
itens seguintes, e referem-se a uma seção como a indicada na Figura 4.17.

As'
d'
d
h

h-d

As
b

Figura 4.17 – Seção retangular com armadura dupla


4.24
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Algumas hipóteses iniciais devem ser destacadas. A primeira é a perfeita


aderência entre aço e concreto, ou seja, a deformação das barras é a mesma do
concreto que as envolve. A segunda é a Hipótese de Bernoulli (seções planas
permanecem planas durante a deformação). A terceira refere-se à nomenclatura:
quando mencionada a flexão, sem que se especifique qual delas simples ou
composta, entende-se que pode ser tanto uma quanto a outra.

4.7.1 Ruína por deformação plástica excessiva do aço

Para que o aço atinja seu alongamento máximo, é necessário que a seção
seja solicitada por tensões de tração capazes de produzir na armadura As uma

deformação específica de 1% (s = 1% = 10‰). Essas tensões podem ser

provocadas por esforços tais como:

 Tração (uniforme ou não uniforme)


 Flexão (simples ou composta)

Considere-se a Figura 4.18, na qual se encontram, à esquerda, uma vista


lateral da peça com a seção indicada na Figura 4.17, e à direita, o diagrama em que
serão marcadas as deformações limites de tração e de compressão.
cu

As'

As

10‰
Figura 4.18 – Vista lateral da peça e deformações limites

Nesse diagrama, a linha tracejada à esquerda corresponde ao alongamento


máximo de 1% limite do aço, e a linha tracejada à direita, ao encurtamento
máximo do concreto. A linha cheia corresponde à deformação nula, ou seja, ela
separa as deformações de alongamento e as de encurtamento.
4.25
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

A ruína por deformação plástica excessiva do aço pode ocorrer na reta a e


nos domínios 1 e 2, como será visto a seguir.

a) Reta a

A linha correspondente ao alongamento constante e igual a 1% é


denominada reta a (indicada também na Figura 4.19). Ela pode ocorrer na tração
simples, se as áreas de armadura As e A’s forem iguais, ou na tração excêntrica em
que a diferença entre As e A’s seja tal que garanta o alongamento uniforme da
seção.
cu

s'
As'
Reta a

As s

10‰
Figura 4.19 – Alongamento uniforme de 1 % – Reta a

Para a notação ora utilizada, a posição da linha neutra é indicada pela


distância x até a borda superior da seção, sendo esta distância considerada positiva
quando a linha neutra estiver abaixo da borda superior, e negativa no caso contrário.

Como para a reta a não há pontos de deformação nula, considera-se que x


tenda para –∞.

b) Domínio 1

No domínio 1 a seção ainda se encontra inteiramente tracionada, mas com


diagrama de deformação não uniforme. A armadura mais tracionada (As) continua
com deformação plástica máxima (s = 1%) e a deformação na borda menos
tracionada varia entre 1% e zero (Figura 4.20). O domínio 1 corresponde a tração
excêntrica, e a posição x da linha neutra varia entre –∞ e zero.

4.26
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

x
0 cu

As' s'

Reta a

d
N 1
As s

10‰
Figura 4.20 – Deformações no domínio 1

c) Domínio 2

No domínio 2, parte da seção é comprimida. A armadura As continua com


deformação plástica máxima (s = 1%) e a deformação na borda comprimida c varia
entre zero e cu (Figura 4.21).

0 cu
s'

x
As'
M
2
Reta a

N d
d-x

1
As s

10‰

Figura 4.21 – Deformações no domínio 2

Esse domínio correspondendo a flexão simples ou composta, com força


normal de tração ou de compressão. Neste caso a linha neutra já se encontra dentro
da seção, variando de zero a x23, limite entre os domínios 2 e 3.
O domínio 2 é o último caso em que a ruína ocorre com deformação plástica
excessiva. O aço é bem aproveitado, pois trabalha com tensão fyd. Porém, o
concreto é mal aproveitado, pois não é solicitado em sua capacidade máxima.

4.27
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

No domínio 2, a solicitação predominante é o momento fletor. A força normal


de tração ou de compressão, se houver, é de pequena intensidade.

4.7.2 Ruína por ruptura do concreto na flexão

A ruína por ruptura do concreto na flexão (simples ou composta) ocorre nos


domínios 3, 4 e 4a, como será apresentado a seguir.

Como já foi visto, denomina-se flexão a qualquer estado de solicitações


normais em que se tenha a linha neutra dentro da seção. Na flexão, a deformação
específica última do concreto, na borda comprimida, é cu.

a) Domínio 3

No domínio 3 ocorre ruptura do concreto com cu na borda comprimida, e s

varia entre 1% e yd, ou seja, o concreto encontra-se na ruptura e o aço tracionado


em escoamento (Figura 4.22).

0 cu
s'
As'
M x
2
Reta a

N
d
3

d-x

1
As s
yd

10‰

Figura 4.22 – Deformações no domínio 3

Nessas condições, a seção é denominada subarmada. Tanto o concreto


como o aço trabalham com suas resistências de cálculo. Portanto, há o
aproveitamento máximo dos dois materiais.

A ruína ocorre com aviso, pois a peça apresenta deslocamentos visíveis


(flechas) e intensa fissuração.
4.28
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Esse domínio pode ocorrer na flexão simples ou na composta, com força


normal de tração ou de compressão. A linha neutra ocorre no intervalo entre x23 e
x34, limites entre os domínios 2 e 3 e os domínios 3 e 4, respectivamente.

Da mesma forma que no domínio 2, no domínio 3 a solicitação predominante


é o momento fletor. A força normal de tração ou de compressão, se houver, é de
pequena intensidade.

b) Domínio 4

No domínio 4 também ocorre ruptura do concreto com deformação


cu na borda comprimida, e s varia entre yd e zero (Figura 4.23), ou seja, o
concreto encontra-se na ruptura, sendo bem aproveitado, mas o aço tracionado não
atinge o escoamento. Portanto, o aço é mal aproveitado. Neste caso, a seção é
denominada superarmada. A ruína ocorre sem aviso, pois os deslocamentos são
pequenos e há pouca fissuração, difícil de serem percebidos.

0 cu
s'
As'
M
2
Reta a

d
x
3

1 4
d-x

As s
yd

10‰

Figura 4.23 – Deformações no domínio 4

Nesse domínio, a solicitação predominante continua sendo o momento fletor.


Se houver força normal, embora seja possível que ela seja de tração com valor
pequeno, é mais comum que ela seja de compressão. Portanto, no domínio 4
geralmente ocorre flexão simples ou compressão excêntrica (flexocompressão).

A linha neutra varia no intervalo entre x34 e 1, limites entre os domínios 3 e 4


e os domínios 4 e 4a, respectivamente.

4.29
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

c) Domínio 4a

No domínio 4a (Figura 4.24), as duas armaduras são comprimidas. A ruína


ainda ocorre com cu na borda comprimida. A deformação na armadura As é muito
pequena e, portanto, essa armadura é muito mal aproveitada. Esta situação só é
possível na compressão excêntrica (flexocompressão). A linha neutra encontra-se
entre d e h.
0 cu
s'
As'
M

2
Reta a

d
x
h
3
1 4 4a
As
s
yd

10‰

Figura 4.24 – Deformações no domínio 4a

4.7.3 Ruína de seção Inteiramente comprimida

Os dois últimos casos de deformações na ruína, domínio 5 (Figura 4.25) e


reta b (Figuras 4.26).
( cu - c2).h
cu

0 c2 cu
s'

As'
M
2
Reta a

N
h
3

4a
x

1
As 4 5
yd s

10‰

Figura 4.25 – Deformações no domínio 5

4.30
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

a) Domínio 5

No domínio 5 tem-se a seção inteiramente comprimida (x  h), com c

variando de cu até c2 na linha distante [(cu-c2).h]/cu da borda mais comprimida
(Figura 4.25). Esse domínio só é possível na compressão excêntrica
(flexocompressão).

b) Reta b

Na reta b tem-se deformação uniforme de compressão, com encurtamento


igual a c2 (Figura 4.26). Nesse caso, x tende para +∞.

0 c2 cu
s'
As'

2
Reta a

h
3
4a
1
As 4 5
yd s
Reta b
10‰

Figura 4.26 – Deformação na Reta b

4.7.4 Diagrama único de deformações da ABNT NBR 6118:2014

Para todos os domínios de deformação, com exceção das retas a e b, a


posição da linha neutra pode ser determinada por relações de triângulos.

Os domínios de deformação podem ser representados em um único


diagrama, indicado na Figura 4.27.

Verifica-se, nessa figura, que da reta a para os domínios 1 e 2, o diagrama


de deformações gira em torno do ponto A, o qual corresponde à ruína por
deformação plástica excessiva da armadura As.

4.31
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Nos domínios 3, 4 e 4a, o diagrama de deformações gira em torno do


ponto B, relativo à ruptura do concreto com deformação cu na borda comprimida.
Finalmente, verifica-se que do domínio 5 para a reta b, o diagrama gira em
torno do ponto C, correspondente à deformação c2 e distante [(cu-c2).h]/cu da
borda mais comprimida.

Figura 4.27 – Domínios de deformação na ruína.


FONTE: ABNT NBR 6118:2014

4.7.5 Limites entre os domínios

Os limites entre os domínios são caracterizados por posições da linha


neutra, que podem ser encontradas por relações gráficas retiradas dos diagramas
x
dos domínios de deformação. Definindo a relação  x  têm-se os seguintes limites
d
expressos por  x .

a) Limite entre a reta a o domínio 1 (  xRa1 )

xRa1     xRa1  

b) Limite entre os domínios 1 e 2 (  x12 )

x12  0   x12  0
4.32
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

c) Limite entre os domínios 2 e 3 (  x 23 )

x23  cu   cu   cu
  x23   .d   x 23 
d 10 0 00   cu  10 0 
00 cu  10 0 
00 cu

d) Limite entre os domínios 3 e 4 (  x 34 )

 cu   cu 
x34
  x34   .d   x 34   cu
d  yd   cu     yd   cu
 yd cu 

f yd f yk
Como  yd  , f yd = e Es = 210 GPa = 21000 kN/cm2, pode ser obtido
Es s
o valor de  yd para cada tipo de aço:

25 / 1,15
CA-25 →  yd   1,035 0 00
21000
50 / 1,15
CA-50 →  yd   2,070 0 00
21000
60 / 1,15
CA-60 →  yd   2,484 0 00
21000

e) Limite entre os domínios 4 e 4a (  x 44 a )

x44 a  d   x 44 a  1

f) Limite entre os domínios 4a e 5 (  x 4a 5 )

h
x4 a 5  h   x 4 a 5 
d

g) Limite entre o domínio 5 e a reta b (  x5 Rb )

x5 Rb     x5 Rb  

Os limites de  x entre os domínios 2 e 3 e os domínios 3 e 4 estão

indicados na Tabela 4.2.

4.33
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Tabela 4.2 – Valores de  x nos limites dos domínios 2 e 3 e dos domínios 3 e 4.

fck (MPa) 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
 x 23 0,259 0,259 0,259 0,259 0,259 0,259 0,259 0,238 0,224 0,215 0,210 0,207 0,207 0,206 0,206

CA-25 0,772 0,772 0,772 0,772 0,772 0,772 0,772 0,751 0,736 0,726 0,720 0,717 0,716 0,715 0,715

 x 34 CA-50 0,628 0,628 0,628 0,628 0,628 0,628 0,628 0,602 0,582 0,569 0,562 0,558 0,557 0,557 0,557

CA-60 0,585 0,585 0,585 0,585 0,585 0,585 0,585 0,557 0,537 0,524 0,517 0,513 0,512 0,511 0,511

A ABNT NBR 6118:2014 estabelece, no item 14.6.4.3, que para proporcionar


o adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, a posição da linha neutra no
ELU deve obedecer aos limites indicados a seguir.

- Concretos com fck ≤ 50 MPa

x
 lim   0,45
d

- Concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa

x
 lim   0,35
d

QUESTIONÁRIO

1) O que são estados limites e em que níveis de solicitação eles podem ocorrer?
2) O que são estados limites últimos? Relacionar os principais.
3) E de serviço? Quais são os principais e quais os problemas que eles podem
ocasionar?
4) O que são ações permanentes, variáveis e excepcionais? Dar exemplos.
5) Como se quantificam os valores característicos das ações permanentes e das
variáveis?
6) O que são valores característicos nominais?
7) Quando são empregados valores reduzidos de combinação?
8) Como são arbitrados os valores convencionais excepcionais?
9) Como são determinados os valores reduzidos de utilização?

4.34
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

10) O que são valores frequentes? E valores quase permanentes? Dar exemplos.

11) Quais os tipos de carregamento que podem atuar em uma construção, e em que
estados limites eles devem ser considerados?
12) O que se entende por carregamento normal e por carregamento especial? Dar
exemplos.
13) E carregamento excepcional? Em que situação ele deve ser considerado?

14) O que é carregamento de construção? Dar exemplos.

15) Em que condição se considera que uma estrutura apresenta segurança?

16) O que são métodos probabilísticos? Como é fixado o valor da probabilidade de


ruína?
17) O que é um método semiprobabilístico?

18) Qual a ideia básica do método dos coeficientes parciais de segurança?

19) O que são estádios?

20) Quais as características do estádio I com relação a: resistência do concreto à


tração, intensidade e forma do diagrama de tensões. Para que serve esse
estádio?
21) Idem para estádio II e estádio III.

22) Qual a diferença entre estádios e domínios?

23) Quais os limites de deformação para o aço e para o concreto?

24) Quais os tipos de ruína relativos a cada um desses limites?

25) Quais as hipóteses iniciais que devem ser ressaltadas?

26) Quais os tipos de solicitação que podem provocar deformação plástica excessiva
do aço?
27) Quais os domínios em que ocorre ruína por deformação plástica excessiva?

28) O que caracteriza uma ruína na reta a, para tração simples e para tração
excêntrica?
29) Como se considera a posição da linha neutra na reta a?

30) O que é domínio 1? Qual a deformação na armadura As e qual a variação da


deformação na borda menos tracionada? Qual o tipo de solicitação e a variação
da linha neutra?

4.35
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

31) O que é domínio 2? Qual a deformação na armadura As e qual a variação da


deformação na borda comprimida? Quais os tipos de solicitação e a variação da
linha neutra? Quais as características desse domínio, com relação ao
aproveitamento dos materiais?
32) Em que domínios ocorrem ruptura do concreto na flexão? Qual a deformação
última do concreto nesses casos?
33) Como ocorre a ruína no domínio 3? Qual a deformação no concreto e na
armadura As? Quais as características desse domínio, com relação ao
aproveitamento dos materiais? Quais os tipos de solicitação e a variação da
linha neutra?
34) O que significa ruína com aviso?

35) Como ocorre a ruína no domínio 4? Qual a deformação no concreto e na


armadura As? Quais as características desse domínio, com relação ao
aproveitamento dos materiais? Quais os tipos de solicitação e a variação da
linha neutra?
36) O que são seções subarmadas e seções superarmadas?

37) Como se comportam as armaduras no domínio 4a? Como ocorre a ruína? A


armadura é bem aproveitada? Por quê? Quais os tipos de solicitação e a
variação da linha neutra?
38) Quais os domínios relativos a seções inteiramente comprimidas?

39) Quais as deformações no concreto em cada um desses casos? E os tipos de


solicitação? E a variação da linha neutra?
40) No diagrama único da ABNT NBR 6118:2014, qual o polo de rotação do
diagrama de deformações da reta a para os domínios 1 e 2. Onde se situa esse
ponto?
41) Idem nos domínios 3, 4 e 4a? E do domínio 5 para a reta b?

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118:2014:


Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6120:1980:


Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro.

4.36
FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: EQUAÇÕES – CAPÍTULO 5

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos,


Winston Jr. Zumaeta M., Artur L. Sartorti, Karen F. Bompan Schiavon

Julho de 2018

FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: EQUAÇÕES

5.1 HIPÓTESES

No dimensionamento à flexão simples, os efeitos do esforço cortante podem ser

considerados separadamente. Portanto, neste capítulo, será considerado somente o

momento fletor, ou seja, flexão pura.

Admite-se a perfeita aderência entre as armaduras e o concreto que as envolve, ou

seja, a deformação específica de cada barra da armadura é igual à do concreto

adjacente.

No cálculo no estado limite último - ELU, a resistência do concreto à tração é

desprezada, ou seja, na região do concreto sujeita à deformação de alongamento, a

tensão no concreto é considerada nula.

Nas peças de concreto submetidas a solicitações normais, admite-se a validade da

hipótese de manutenção da forma plana da seção transversal até o ELU, desde que

a relação abaixo seja mantida:


lo
>2
d
lo  distância entre as seções de momento fletor nulo;

d  altura útil da seção (do CG da armadura tracionada à borda oposta).

Com a manutenção da forma plana da seção, as deformações específicas

longitudinais em cada ponto da seção transversal são proporcionais à distância até a

linha neutra.
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

5.2 DIAGRAMA DE TENSÕES NO CONCRETO

A ABNT NBR 6118:2014 permite, para efeito de cálculo, que se trabalhe com um
diagrama retangular equivalente (Figura 5.1), ou seja, para os dois diagramas, devem
ser próximos os respectivos valores da resultante de compressão e da distância de
seu ponto de aplicação até a linha neutra.

σcd

x
c2

Figura 5.1 – Deformações e tensões no concreto no estádio III.

Segundo a ABNT NBR 6118:2014, o valor de λ varia de acordo com a classe do


concreto.

- Para concretos de classes C20 a C50:

λ = 0,8

- Para concretos de classes C55 a C90:

λ = 0,8 - (fck - 50) / 400 , com fck em MPa

A tensão resistente do concreto com o valor de cálculo cd, já levando em conta o


efeito Rüsch, é dada pelos seguintes valores:

σcd = αc .fcd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra, não
diminuir a partir desta para a borda comprimida (Figura 5.2);

5.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

LN

Figura 5.2 – Seções nas quais a largura não diminui da LN até a borda comprimida.

σcd = 0,9.αc .fcd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra,
diminuir a partir desta para a borda comprimida (Figura 5.3);

LN

Figura 5.3 – Seções nas quais a largura diminui da LN até a borda comprimida.

O coeficiente αc leva em conta três fatores: a) diminuição da resistência devida ao

efeito de longa duração (efeito Rüsch) – diminuição da ordem de 25 %,


correspondente a um fator 0,75; b) estado triaxial de tensões provocado pelo atrito
das superfícies da prensa no corpo de prova – 0,95; c) aumento da resistência do
concreto ao longo do tempo – 1,20. A multiplicação desses três valores resulta
0,75.0,95.1,20 = 0,855. A NBR 6118:2014 apresenta os seguintes valores para αc :

- Para concretos de classes C20 a C50:

αc = 0,85

- Para concretos de classes C55 a C90:

αc = 0,85 . [1,0 - (fck - 50) / 200] , com fck em MPa

5.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

5.3 DOMÍNIOS POSSÍVEIS

Na flexão, como a tração é resistida pela armadura, a posição da linha neutra deve

estar entre zero e d (domínios 2, 3 e 4), já que para x < 0 (domínio 1) a seção está

toda tracionada, e para x > d (domínio 4a e 5) a seção útil está toda comprimida. Os

domínios citados estão indicados na Figura 5.4.

Figura 5.4 – Domínios de deformação

O valor de yc2 é função da classe do concreto:

- Para concretos de classe C20 a C50:

3
yc2 = h
7

- Para concretos de classe C55 a C90:

y c2 
 cu - c2  h
cu

5.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

5.3.1 Domínio 2

No domínio 2, a ruína ocorre por deformação plástica excessiva do aço com

deformação máxima de 1%; portanto, sd = fyd. A deformação no concreto varia de 0

até εcu (Figura 5.5). Logo, o concreto não trabalha com sua capacidade máxima e,

portanto, é mal aproveitado. A posição da linha neutra varia de zero a x23 (limite

entre os domínios 2 e 3). Tomando-se a posição relativa da linha neutra (x) como

sendo x/d, tem-se que esta varia de zero a x23 (0< x < x23), sendo:
cu
βx23 =
 cu + 1%

Figura 5.5 – Deformações no Domínio 2

5.3.2 Domínio 3

No domínio 3, a ruína ocorre por ruptura do concreto com deformação máxima cu.

Na armadura tracionada, a deformação varia de yd até 1%, ou seja, o aço está em

escoamento, com tensão s = fyd (Figura 5.6).

É a situação ideal de projeto, pois os dois materiais são bem aproveitados. Ocorre

ruína dúctil, com aviso, havendo fissuração aparente e flechas significativas. A

posição da linha neutra varia de x23 a x34, ou seja, a posição relativa da linha neutra

(x) varia de x23 até x34 (x23 < x < x34).

5.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

cu
βx34 =
 cu + yd 
fyd
 yd =
Es

Figura 5.6 – Deformações no Domínio 3

5.3.3 Domínio 4

Assim como no domínio anterior, no domínio 4 o concreto encontra-se na ruptura,

com deformação cu. Porém, o aço apresenta deformação abaixo de yd e, portanto,

ele está mal aproveitado. As deformações são indicadas na Figura 5.7.

A posição da linha neutra varia de x34 até d, ou seja, x34 < x < 1.

Figura 5.7 – Deformações no Domínio 4

5.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

O dimensionamento nesse domínio é uma solução antieconômica, além de perigosa,

pois a ruína se dá por ruptura do concreto e sem escoamento do aço. Portanto, é

uma ruptura brusca, ou seja, ocorre sem aviso. Entende-se por aviso de uma

estrutura os grandes e visíveis estados de deformação (flecha) e fissuração.

O dimensionamento no domínio 4 deve ser evitado; para isso pode-se usar uma das

alternativas:
 Aumentar a altura h, porque normalmente b é fixo, dependendo da
espessura da parede em que a viga é embutida;
 Fixar um adequado valor de xlim no domínio 3, ou seja, x = xlim, e adotar
armadura dupla.

A ABNT NBR 6118:2014 estabelece no item 14.6.4.3 que para proporcionar o


adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, a posição da linha neutra no ELU
deve obedecer aos limites indicados.

- Para concretos com fck ≤ 50 MPa:


x
βx =  0,45
d
- Para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa:
x
βx =  0,35
d

5.4 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO

Para o dimensionamento de peças na flexão simples com armadura dupla (Figura

5.8), considera-se que as barras que constituem a armadura estão agrupadas,

concentradas no centro de gravidade dessas barras. As distâncias das armaduras

A’s e As até a borda superior e inferior, respectivamente , foram consideradas iguais.

5.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

Figura 5.8 - Resistências e deformações na seção

A partir da vista lateral representada na Figura 5.8, as equações de equilíbrio de

forças e de momentos são respectivamente:


(+ ←) ΣFH = 0
∴ Rc + R's - Rs = 0 (1)
Fazendo o somatório de momentos no CG da armadura As:
(+ ↺) ΣM3 = 0
y
∴ Md = Mk ∙ γf = Rc ∙ (d - ) + R' s ∙ (d - d' )
2
Sabendo-se que:
y y
(d - ) = d (1 - )
2 2d
Tem-se:
y
Md = Rc ∙ d ∙ (1 - ) + R's ∙ (d - d') (2)
2d

As resultantes no concreto (Rc ), Figura 5.9, e nas armaduras (Rs e R's ) são dadas
por:

5.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

Figura 5.9 – Resultante no concreto (Rc )

Rc = bw ∙ y ∙ σcd (3)
Rs = As ∙ σs (4)
R's = A's ∙ σ's (5)

Para seções retangulares de largura bw, tem-se duas situações possíveis de

dimensionamento, indicadas a seguir.

5.4.1 Concretos C20 a C50

Como foi visto no item 5.2, para classes de concreto C20 a C50:

 λ = 0,8
 αc = 0,85

Assim, a equação 3 fica:


Rc = bw  y  σcd = bw  λ  x  αc  fcd = bw  0,8  x  0,85  fcd

Rc = 0,68  bw  x  fcd
Multiplicando e dividindo o segundo membro por d, tem-se:
d
Rc = 0,68  b w   x  fcd
d
x
Fazendo β x = ,tem-se:
d
Rc = 0,68  bw  d  βx  fcd

5.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

Substituindo a equação acima, a (4) e a (5) nas equações 1 e 2, resulta:


0,68  bw  d  βx  fcd + As'  σs' - As  σs =0 (6)

 0,8  x 
Md = 0,68  b w  d2  β x  fcd   1 -  +A s'  σ s'  (d - d')
 2d 

Md = 0,68  b w  d2  β x  fcd  1 - 0,4  β x  + A s'  σ s'  (d - d') (7)

5.4.2 Concretos C55 a C90

O equacionamento é igual ao anterior (item 5.4.1), com


Rc = bw  y  σcd = bw  λ  x  αc  fcd

Para esses concretos, λ e αc recebem outros valores, calculados de acordo com as


seguintes equações (item 5.2):

 λ = 0,8 -  fck - 50  400

 αc = 0,85 1,0 -  fck - 50  200 

(9)
Para todas as situações de dimensionamento da Figura 5.8, podem ser escritas as
seguintes equações de compatibilidade de deformações:
εc εs ε s'
= =
x d-x x - d'
x d
Sendo β x = e multiplicando-se tudo por , obtém-se:
d d
εc εs ε s'
= =
βx 1 - βx β x - (d'/d)

A partir dessas igualdades, pode ser observado que:


εc
βx = (10)
εc + εs

(1 - β x )
εs = εc  (11)
βx

β x - (d'/d)
ε 's = ε c  (12)
βx

5.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

5.5 EXEMPLOS

A seguir apresentam-se alguns exemplos de cálculo de flexão simples em seção


retangular. Todos os exemplos aqui resolvidos consideram concreto C25.

5.5.1 Exemplo 1

Cálculo da altura útil (d) e da área de aço (As).

a) Dados

Concreto C25, aço CA-50, b = 30 cm, d’ = 4 cm, Mk = 206 kN.m, x= x23
𝜀𝑐 𝜀𝑐𝑢 3,5
𝛽𝑥23 = = = = 0,259
(𝜀𝑐 + 𝜀𝑠 ) (𝜀𝑐𝑢 + 10‰) (3,5 + 10)

b) Equações de equilíbrio com A’s = 0

0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑 − 𝐴𝑠 ∙ 𝜎𝑠 = 0 (6𝑎)


𝑀𝑑 = 0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 2 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 ) (7𝑎)

c) Cálculo de d (equação 7a)

2,5
1,4 ∙ 206 ∙ 100 = 0,68 ∙ 30 ∙ 𝑑 2 ∙ 0,259 ∙ ∙ (1 − 0,4 ∙ 0,259)
1,4
𝑑 = √3409,98
𝑑 = 58,4 𝑐𝑚
ℎ = 58,4 + 4 = 62,40

d) Cálculo de As (equação 6a)

2,5 50
0,68 ∙ 30 ∙ 58,40 ∙ 0,259 ∙ − 𝐴𝑠 ∙ =0
1,4 1,15
𝐴𝑠 = 12,67 𝑐𝑚2 (4  20 mm)

5.5.2 Exemplo 2

Idem exemplo anterior com x = 0,45, segundo item 14.6.4.3 da NBR 6118:2014.

5.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

a) Cálculo de d (equação 7a)

2,5
1,4 ∙ 206 ∙ 100 = 0,68 ∙ 30 ∙ 𝑑 2 ∙ 0,45 ∙ ∙ (1 − 0,4 ∙ 0,45)
1,4
𝑑 = √2145,49
𝑑 = 46,32 𝑐𝑚
ℎ = 46,32 + 4 = 50,32 cm

b) Cálculo de As (equação 6a)

2,5 50
0,68 ∙ 30 ∙ 46,32 ∙ 0,45 ∙ − 𝐴𝑠 ∙ =0
1,4 1,15
759,317 − 𝐴𝑠 ∙ 43,478 = 0
𝐴𝑠 = 17,46 𝑐𝑚2 (6  20 mm)

O mesmo exemplo com x = x34.

a) Cálculo de βx34
𝜀𝑐 𝜀𝑐𝑢 3,5
𝛽𝑥34 = = =
(𝜀𝑐 + 𝜀𝑠 ) (𝜀𝑐𝑢 + 𝜀𝑦𝑑 ) (3,5 + 𝜀𝑦𝑑 )
𝑓𝑦𝑑 50⁄1,15
𝜀𝑦𝑑 = = = 2,07 ‰
𝐸𝑠 21000
3,5 3,5
𝛽𝑥34 = = = 0,628
(3,5 + 𝜀𝑦𝑑 ) (3,5 + 2,07)

b) Cálculo de d (equação 7a)

2,5
1,4 ∙ 206 ∙ 100 = 0,68 ∙ 30 ∙ 𝑑 2 ∙ 0,628 ∙ ∙ (1 − 0,4 ∙ 0,628)
1,4
𝑑 = √1683,56
𝑑 = 41 𝑐𝑚
ℎ = 41 + 4 = 45

c) Cálculo de As (equação 6a)

2,5 50
0,68 ∙ 30 ∙ 41 ∙ 0,628 ∙ − 𝐴𝑠 ∙ =0
1,4 1,15
𝐴𝑠 = 21,57 𝑐𝑚2 (7  20 mm)
5.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

5.5.3 Exemplo 3

Verificar o domínio em que se encontra a seção. Se houver solução com armadura

simples, calcular a área de aço (As).

a) Dados

Concreto C25, Aço CA-50, b = 30 cm, h = 45 cm, d = 41 cm, Mk = 247 kN.m.

b) Cálculo de x
Na equação (7a), supondo armadura simples:

𝑀𝑑 = 0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 2 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )


2,5
1,4 ∙ 247 ∙ 100 = 0,68 ∙ 30 ∙ 412 ∙ 𝛽𝑥 ∙ ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )
1,4
34580 = 61236,43 ∙ 𝛽𝑥 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )
34580
= 𝛽𝑥 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )
61236,43
0,565 = 𝛽𝑥 − 0,4𝛽𝑥 2
0,4𝛽𝑥 2 − 𝛽𝑥 + 0,565 = 0
Resulta:
𝛽𝑥1 = 1,637 (𝑥 > 𝑑, 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑎𝑟𝑡𝑎𝑑𝑜)
𝛽𝑥2 = 0,863 (0,628 < 𝛽𝑥 < 1, 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑚í𝑛𝑖𝑜 4)

No domínio 4 é possível armadura simples, mas com 𝜎𝑠𝑑 = 𝐸𝑠 ∙ 𝜀𝑠 , pois o aço ainda
não chegou no patamar de escoamento, diferentemente dos domínios 2 e 3 em que
𝜎𝑠𝑑 = 𝑓𝑦𝑑 . Pode-se observar isso na Figura 5.10.
S
DOMÍNIOS 2
4 3
f yd
TRAÇÃO

ES
 yd 1% S
Figura 5.10 – Domínios de deformação
5.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

c) Cálculo de s
Para o cálculo de 𝜀𝑠 , considera-se semelhança de triângulos:
𝜀𝑠 𝜀𝑐 𝜀𝑐 ∙ (1 − 𝛽𝑥 ) c =3,5
= 𝜀𝑠 =
𝑑−𝑥 𝑥 𝛽𝑥
3,5 ∙ (1 − 0,863)
𝜀𝑠 ∙ x = 𝜀𝑐 ∙ (d − x) 𝜀𝑠 =
0,863 x
𝜀𝑐 ∙ (d − x) d
𝜀𝑠 = 𝜀𝑠 = 0,556 ‰
x
d x
𝜀𝑐 ∙ ( − )
d d
s
𝜀𝑠 = x 𝜀𝑠 = 0,556 ∙ 10−3
d
d) Cálculo de s
𝜎𝑠 = 𝐸𝑠 ∙ 𝜀𝑠 = 21 ∙ 103 ∙ 0,556 ∙ 10−3 = 11,676 𝑘𝑁/𝑚2

e) Cálculo de As (equação 6a)


𝐴𝑠 ∙ 𝜎𝑠 = 0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑
2,5
𝐴𝑠 ∙ 11,676 = 0,68 ∙ 30 ∙ 41 ∙ 0,863 ∙
1,4
𝐴𝑠 ∙ 11,676 = 1288,95
𝐴𝑠 = 110,39 𝑐𝑚2 (23  25 mm em cinco camadas; não é solução viável)

f) Conclusão
Mesmo a seção estando no domínio 4, há solução com armadura simples, porém
resulta uma armadura exageradamente grande. Há solução viável com armadura
dupla.

5.5.4 Exemplo 4

Idem exemplo anterior, com Mk = 309 kN.m

a) Cálculo de x (equação 7a) supondo amadura simples


𝑀𝑑 = 0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 2 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )
2,5
1,4 ∙ 309 ∙ 100 = 0,68 ∙ 30 ∙ 412 ∙ 𝛽𝑥 ∙ ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )
1,4

5.14
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

43120 = 61236,43 ∙ 𝛽𝑥 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )


43120
= 𝛽𝑥 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 )
61236,43
0,704 = 𝛽𝑥 − 0,4𝛽𝑥 2
0,4𝛽𝑥 2 − 𝛽𝑥 + 0,704 = 0
∆= 𝑏 2 − 4 ∙ 𝑎 ∙ 𝑐
∆= (−1)2 − 4 ∙ 0,4 ∙ 0,704
∆= −0,13 < 0

b) Conclusão

Não há solução para armadura simples. Neste caso só é possível armadura dupla
(exemplo 5).

5.5.5 Exemplo 5

Solução do exemplo anterior com armadura dupla.

a) Dados

Mk = 309 kN.m, x = x34 = 0,45, d’ = 4 cm

b) Cálculo de A’s (Equação 7)

𝑀𝑑 = 0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 2 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑 ∙ (1 − 0,4𝛽𝑥 ) + 𝐴´𝑠 ∙ 𝜎´𝑠 ∙ (𝑑 − 𝑑´)


2,5 50
1,4 ∙ 30900 = 0,68 ∙ 30 ∙ 412 ∙ 0,45 ∙ ∙ (1 − 0,4 ∙ 0,45) + 𝐴´𝑠 ∙ (41 − 4)
1,4 1,15
43260 = 22596,24 + 𝐴´𝑠 ∙ 1608,70
20663,76
𝐴´𝑠 =
1608,70
𝐴´𝑠 = 12,85 𝑐𝑚2

c) Cálculo de As (equação 6)
0,68 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 ∙ 𝛽𝑥 ∙ 𝑓𝑐𝑑 + 𝐴´𝑠 ∙ 𝜎′𝑠 − 𝐴𝑠 ∙ 𝜎𝑠 = 0
2,5 50 50
0,68 ∙ 30 ∙ 41 ∙ 0,45 ∙ + 12,85 ∙ − 𝐴𝑠 ∙ =0
1,4 1,15 1,15

5.15
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

672,107 + 558,696 − 𝐴𝑠 ∙ 43,478 = 0


1230,803 − 𝐴𝑠 ∙ 43,478 = 0
1230,803
𝐴𝑠 =
43,478
𝐴𝑠 = 28,31 𝑐𝑚2

d) Armaduras possíveis

As : 9 Ø 20 (Ase = 28,27 cm²) 2 camadas

A’s : 7 Ø 16 (Ase = 14,07 cm²) 2 camadas

QUESTIONÁRIO

1) O que é flexão pura?


2) O que se entende por perfeita aderência?
3) Em que situação é desprezada a resistência do concreto à tração?
4) Qual a condição para que seja válida a hipótese de manutenção da forma plana
da seção até o ELU?
5) Em consequência dessa hipótese, o que se pode concluir sobre as deformações
específicas longitudinais da seção?
6) No diagrama retangular de tensões no concreto no ELU, qual a altura desse
diagrama e qual o valor da tensão?
7) Para mesmo diagrama retangular, em que condições deve ser adotado
cd = 0,80 fcd?
8) Na flexão simples, qual o intervalo de variação da linha neutra?
9) Quais os domínios possíveis?
10) Como ocorre a ruína no domínio 2?
11) Qual o valor da deformação específica do aço? E da tensão?
12) Qual a deformação no concreto?
13) Há bom aproveitamento do concreto e do aço no domínio 2? Explicar.
14) Qual o intervalo de variação da LN no domínio 2?
15) Como se determina x23?
16) Como ocorre a ruína no domínio 3?
17) Qual o valor da deformação do concreto? E da tensão?
18) Qual a variação da deformação na armadura tracionada?
19) Qual o valor da tensão nessa armadura?
20) Como é o desempenho do concreto e do aço nos domínios 3?
21) Qual a variação da LN no domínio 3? Como se determina x34?
5.16
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: equações

22) Como ocorre a ruína no domínio 4?


23) Quais os valores c e de s no domínio 4?
24) Qual o intervalo de variação da linha neutra no domínio 4?
25) Como é o desempenho do concreto e do aço no domínio 4?
26) Quais as alternativas para se evitar o dimensionamento no domínio 4?
27) Fazer um esquema de uma seção retangular com armadura simples, submetida
a Md, indicando as dimensões da seção e as posições dos esforços Rc e Rs.
28) Desenhar o diagrama de deformações da seção com armadura simples e
apresentar as equações de compatibilidade de deformações.
29) Para diagrama retangular, indicar o valor de Rc para seção de largura b e altura
útil d.
30) Para armadura simples, apresentar as equações de equilíbrio de forças e de
momentos em relação ao centro de gravidade da armadura tracionada e em
relação ao ponto de aplicação da resultante Rc.

REFERÊNCIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118:2014:


Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro.

5.17
FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: TABELAS – CAPÍTULO 6

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos

19 abril 2012

FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: TABELAS

O emprego de tabelas facilita muito o cálculo de flexão simples em seção


retangular.

Neste capítulo será revisto o equacionamento na flexão simples, com o


objetivo de mostrar a obtenção dos coeficientes utilizados nas tabelas, além de
mostrar o uso dessas tabelas.

6.1 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO

Para o dimensionamento de peças na flexão simples, considera-se que as


barras que constituem a armadura estão agrupadas, e se encontram concentradas
no centro de gravidade dessas barras.

Do equilíbrio de forças e de momentos (Figura 6.1), tem-se que:

Rc + R’s – Rs = 0
Md = f . Mk = Rc . (d - y/2) + R’s . (d - d’)

b
d' c = 3,5‰ cd
R's  's
A's y = 0,8x
Rc x
Md
d
h

As
s
s

Figura 6.1 - Resistências e deformações na seção


USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

As resultantes no concreto e nas armaduras podem ser dadas por:

Rc = b y cd = b . 0,8 x . 0,85 fcd = 0,68 b d x fcd


Rs = As s

R’s = A’s ’s

Do diagrama retangular de tensão no concreto, tem-se que:

y = 0,8x  d – y/2 = d (1 - 0,8x/2d) = d (1 - 0,4 x)

Substituindo-se esses valores nas equações de equilíbrio, obtêm-se:

0,68 b d x fcd + A’s ’s - As s = 0 (1)

Md = 0,68 b d² x fcd (1 - 0,4 x) + A’s ’s (d – d’) (2)

6.1.1 Armadura Simples

No caso de armadura simples, considera-se A’s = 0; portanto, as equações


(1) e (2) se reduzem a:

0,68 b d x fcd - As s = 0 (1’)


Md = 0,68 bd² x fcd (1 - 0,4 x) (2’)

6.1.2 Armadura Dupla

Para armadura dupla tem-se A’s  0, sendo válidas as equações (1) e (2).

Quando, por razões construtivas, se tem uma peça cuja seção não pode ser
aumentada, e seu dimensionamento não é possível nos domínios 2 e 3, resultando
portanto no domínio 4, torna-se necessária a utilização de armadura dupla, uma
parte da qual se posiciona na zona tracionada, e outra parte, na zona comprimida
da peça, ajudando o concreto a resistir compressão. O objetivo da armadura dupla,
neste caso, e fazer com que a seção permaneça no domínio 3.

Portanto, para o cálculo dessa armadura, limita-se o valor de x em x34 e


calcula-se o momento fletor máximo (M1) que a peça resistiria com armadura
simples. Com este valor, calcula-se a correspondente área de aço tracionado (As1).

6.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

Como este valor do momento (M1) é ultrapassado, calcula-se uma seção


fictícia com armadura dupla e sem concreto, parte comprimida e parte tracionada,
para resistir o restante do momento (M2), obtendo-se a parcela As2 da armadura
tracionada e a armadura A’s comprimida. No final, somam-se as duas armaduras
tracionadas, calculadas separadamente.

6.2 EQUAÇÕES DE COMPATIBILIDADE

Para a resolução das equações de equilíbrio de forças e de momentos,


necessita-se de equações que relacionem a posição da linha neutra e as
deformações no aço e no concreto. Tais relações podem ser obtidas com base na
Figura 6.2.
c
d'  's

x
d

s

Figura 6.2 – Deformações no concreto e no aço

c s 's
 
x (d  x ) ( x  d ' )
c s 's
  (3)
 x (1   x ) ( x  d' / d)
c
x  (3a)
c  s
 c (1   x )
s  (3b)
x
 c ( x  d' / d )
's  (3c)
x

6.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

6.3 TABELAS PARA ARMADURA SIMPLES

Para facilitar o cálculo feito manualmente, pode-se desenvolver tabelas com


coeficientes que reduzirão o tempo gasto no dimensionamento. Esses coeficientes
serão vistos a seguir.

6.3.1 Coeficiente kc

bd 2
Por definição: kc 
Md

Da equação (2’), tem-se que:

bd 2 1
kc  
M d 0,68 x f cd (1  0,4 x )

Portanto, kc = f (x, fcd), sendo fcd = fck / c

6.3.2 Coeficiente ks

Asd
Este coeficiente é definido pela expressão: ks 
Md

Da equação (1’) obtém-se que: 0,68 bd x fcd = As s.

Substituindo na equação (2’), tem-se:

Md = As  s d (1 – 0,4x)

A partir desta equação, define-se o coeficiente ks :

As d 1
ks  
M d  s (1  0,4  x )

Portanto, ks = f (x, s); nos domínios 2 e 3, tem-se s = fyd .

Os valores de kc e de ks encontram-se na Tabela 1.1 (PINHEIRO, 2004).

6.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

6.4 TABELAS PARA ARMADURA DUPLA

Assim como para armadura simples, também foram desenvolvidas tabelas


para facilitar o cálculo de seções com armadura dupla.

De acordo com a decomposição da seção (figura 6.3), tem-se:

b
Seção 1 Seção 2
d'

A's A's


h d
+ d - d'

As A s1 A s2

Md = M1 + M2

Figura 6.3 – Decomposição da seção para cálculo com armadura dupla

Seção 1: Resiste ao momento máximo com armadura simples.

M1 = b d² / kclim, em que kclim é o valor de kc para x = x34

As1 = kslim M1 / d

Seção 2: Seção sem concreto que resiste ao momento restante.

M 2 = M d – M1
M2 = As2 fyd (d – d’) = A’s ’s (d – d’)

6.4.1 Coeficiente ks2

Da equação de equilíbrio da seção 2, resulta:

1 M2
A s2 
f yd d  d'

6.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

1
Fazendo k s2  , tem-se:
f yd

M2
A s2  k s2 , com ks2 = f (fyd)
d  d'

6.4.2 Coeficiente k’s

De modo análogo ao do item anterior, obtém-se:

1 M2
A's 
's d  d '

1
Fazendo k's  , tem-se:
's

M2
A's  k 's , com k’s = f (’s) = f1 (fyd, ’s) = f2 (fyd, d’/h)
d  d'

6.4.3 Armadura Total

Os coeficientes ks2 e k’s podem ser obtidos na Tabela 1.2 (PINHEIRO, 2004).

Armadura tracionada: As = As1 + As2

Armadura comprimida: A’s

6.5 EXEMPLOS

Apresentam-se alguns exemplos sobre o cálculo de flexão simples.

6.5.1 EXEMPLO 1

Calcular a área de aço (As) para uma seção retangular. Dados:

Concreto C25, aço CA-50, b = 30 cm, h = 45 cm, Mk = 170 kN.m,

h – d = 4 cm
6.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

Solução:

d = 45 – 4 = 41 cm

kc = bd² = 30 . 41² _ = 2,1  ks = 0,029 - Tabela 1.1 (PINHEIRO, 2004)


Md 1,4 . 17000

ks = As
Md

As = 0,029 . 1,4 . 17000 / 41 As = 16,83 cm²

6.5.2 EXEMPLO 2

Mesma seção do exemplo anterior, para Mk = 309 kN.m e armadura dupla.

Dados: d’ = 4 cm, x = x34

bd 2 30  412
M1    28017 kN .cm (Tabela 1.1, PINHEIRO, 2004)
k c lim 1,8

M1 28017
As1  k s   0,031   21,18cm 2
d 41

M2 = Md – M1 = 1,4 . 30900 – 28017 = 15243 kN.cm

M2 15243
As 2  k s 2   0,023   9,48 cm 2 (Tabela 1.2, PINHEIRO, 2004)
d  d' 41  4

d' 4
  0,09  k ' s  0,023  A' s  9,48 cm 2 (Tabela 1.2, PINHEIRO, 2004)
h 45

As = As1 + As2 = 21,18 + 9,48 = 30,66 cm²

As : 6 Ø 25 (Ase = 30 cm²) 2 camadas


8 Ø 22,2 (Ase = 31,04 cm²) 2 camadas

A’s : 2 Ø 25 (Ase = 10 cm²)


3 Ø 20 (Ase = 9,45 cm²)

6.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: tabelas

Solução adotada (Figura 8.4):

Figura 8.4 – Detalhamento da seção retangular

QUESTIONÁRIO

1) Quais as equações de equilíbrio para armadura simples em seção retangular?


2) Como se determinam as expressões de kc e ks para elaboração das tabelas?
3) Como se decompõe uma seção retangular com armadura dupla para cálculo
usando tabelas? Qual o significado das seções 1 e 2?
4) Como se determina o momento na seção 1 e a correspondente armadura As1?
5) Como se calcula M2?
6) Como são obtidos os valores de ks2 e As2?
7) E de k’s e A’s?
8) Como se obtém a armadura total, tracionada e comprimida?

REFERÊNCIA

PINHEIRO, L. M. (2004). Tabelas gerais. Disponíveis no site:


www.set.eesc.usp.br/mdidatico/concreto. Acesso em 19 abril 2012.

6.8
FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: SEÇÃO T – CAPÍTULO 7

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos.

17 de abril de 2012

FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: SEÇÃO T

7.1 SEÇÃO T

Até agora, considerou-se o cálculo de seções transversais de vigas isoladas


com seção retangular, mas nem sempre é isso que acontece na prática, pois em
uma construção podem ocorrer lajes descarregando em vigas (Figura 7.1). Portanto,
há um conjunto laje-viga resistindo aos esforços. Quando a laje é do tipo pré-
moldada, a seção é realmente retangular.

Figura 7.1 – Piso de um edifício comum – Laje apoiando em vigas

7.2 Ocorrência

Esse tipo de seção ocorre em vigas de pavimentos de edifícios comuns, com


lajes maciças, ou com lajes nervuradas com a linha neutra passando pela mesa, em
vigas de pontes (Figura 7.2), entre outras peças.

Figura 7.2 – Seção de uma ponte


USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

7.3 Largura Colaborante

No cálculo de viga como seção T, deve-se definir qual a largura colaborante


da laje que efetivamente está contribuindo para absorver os esforços de
compressão.

De acordo com a NBR 6118:2007, a largura colaborante bf será dada pela


largura da viga bw acrescida de no máximo 10% da distância “a” entre pontos de
momento fletor nulo, para cada lado da viga em que houver laje colaborante.

A distância “a” pode ser estimada em função do comprimento L do tramo


considerado, como se apresenta a seguir:

 viga simplesmente apoiada ............................................................. a = 1,00 L


 tramo com momento em uma só extremidade ................................. a = 0,75 L
 tramo com momentos nas duas extremidades ................................. a = 0,60 L
 tramo em balanço ............................................................................. a = 2,00 L

Alternativamente o cálculo da distância “a” pode ser feito ou verificado


mediante exame dos diagramas de momentos fletores na estrutura.

Além disso, deverão ser respeitados os limites b1 e b3 conforme indicado na


Figura 7.3.

 bw é a largura real da nervura;


 ba é a largura da nervura fictícia obtida aumentando-se a largura real para
cada lado de valor igual ao do menor cateto do triângulo da mísula
correspondente;
 b2 é a distância entre as faces das nervuras fictícias sucessivas.

Quando a laje apresentar aberturas ou interrupções na região da mesa


colaborante, esta mesa só poderá ser considerada de acordo com o que se
apresenta na Figura 7.4.

7.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

0,5b 2 b
b1   b3   4 (NBR 6118:2007)
0,10a 0,10a

bf

b3 c b1 b1

b4 c b2

bw bw
ba

bf

hf

b3 bw b1

Figura 7.3 - Largura de mesa colaborante

abertura
2 2
1 1
bf bef

Figura 7.4 - Largura efetiva com abertura

7.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

7.4 Verificação do Comportamento (Retangular ou T Verdadeira)

Para verificar se a seção da viga se comporta como seção T (Figura 7.5), é


preciso analisar a profundidade da altura y do diagrama retangular, em relação à
altura hf do flange (espessura da laje). Caso y seja menor ou igual a hf, a seção
deverá ser calculada como retangular de largura bf; caso contrário, ou seja, se o
valor de y for superior a hf, a seção deverá ser calculada como seção T verdadeira.
O procedimento de cálculo é indicado a seguir.

Calcula-se xf = hf / (0,8d)

Supondo seção retangular de largura bf, calcula-se kc.

kc = bf d² / Md, entrando na tabela 1.1 (PINHEIRO, 2004), obtém-se x.

Se x  xf  cálculo como seção retangular com largura bf,

Se x > xf  cálculo como seção T verdadeira.

bf

y hf

d
h

As

bw

Figura 7.5 – Seção T

7.5 Cálculo como Seção Retangular

Procede-se o cálculo normal de uma seção retangular de largura igual a bf


(Figura 7.6). Utiliza-se a tabela com o x calculado para verificação do
comportamento, pois se partiu da hipótese que a seção era retangular. Com este
valor de x, obtém-se o valor de ks e calcula-se a área de aço com a equação:
ks M d
As 
d

7.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

bf bf
cd
y hf y = 0,8x

d
h

As

bw

Figura 7.6 – Seção T “falsa” ou retangular

7.6 Cálculo como Seção T Verdadeira

Para o cálculo como seção T verdadeira, a hipótese de que a seção era


retangular não foi confirmada, portanto procede-se da seguinte maneira (Figura 7.7).

bf bf - bw bw

hf hf
y y


h
+

bw

Md = M0 + M
Figura 7.7 – Seção T verdadeira

Calcula-se normalmente o momento resistente M0 de uma seção de concreto


de largura bf - bw, altura h e x = xf. Com esse valor de M0, calcula-se a área de aço
correspondente. Com a seção de concreto da nervura (bw x h) e com a parcela de
momento que ainda falta para completar o momento solicitante, M = Md – M0,
calcula-se como uma seção retangular comum (Figura 7.7), podendo ser esta com
armadura simples ou dupla. A área de aço total será a soma das armaduras
calculadas separadamente para cada seção.

7.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

Para garantir a solidariedade entre a laje e a nervura, deverá existir nessa


ligação uma armadura transversal com área mínima de 1,5 cm²/m.

7.7 EXEMPLOS

A seguir apresentam-se alguns exemplos envolvendo o cálculo de flexão


simples em seção T.

7.7.1 EXEMPLO 1

Calcular a área de aço para uma seção T com os seguintes dados:

Concreto classe C25, Aço CA-50


bw = 30 cm, bf = 80 cm
h = 45 cm, hf = 10 cm
Mk = 315 kN.m
h – d = 3 cm
Seria melhor adotar h – d = 4 cm, por conta do cobrimento da armadura.

Solução:

d = 45 – 3 = 42 cm

hf 10
 xf    0,30
0,8d 0,8  42
2 2
bf d 80  42
kc    3,2  x = 0,29
Md 1,4  31500

x = 0,29 < xf  T “Falsa” (Cálculo como seção retangular de largura bf)

ks = 0,026 – Tabela 1.1 (PINHEIRO, 2004)

Md 1,4  31500 2
As  ks   0,026   27,30cm
d 42
As: 6 Ø 25 (30 cm²)
7 Ø 22,2 (27,16 cm²) 2 camadas

7.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

7.7.2 EXEMPLO 2

Calcular a área de aço para a mesma seção do exemplo anterior, para um


momento Mk = 378 kN.m (20% maior).

a) Verificação do comportamento

hf 10
 xf    0,30  kcf = 3,1 e ksf = 0,026
0,8d 0,8  42

2 2
bd 80  42
kc    2,7  x = 0,36 > xf  T Verdadeira
Md 1,4  37800

b) Flange

2 2
bd (80  30)  42
M0    28452 kN.cm
k cf 3,1

28452 2
A s0  0,026   17,61 cm
42

c) Nervura

M = Md – M0 = 1,4 x 37800 – 28452 = 24468 kN.cm


2 2
30  42
bwd
kc    2,2  k c lim  1,8  Armadura Simples
M 24468

24468 2
A s  0,028   16,31 cm
42

d) Total

As = 17,61 + 16,31 = 33,92cm²

As  7 Ø 25 (35 cm²) 2 na 2ª camada

A solução adotada é indicada na Figura 7.8, cujo detalhamento pode ser


modificado, por exemplo, adotando-se estribos fechados na nervura.

7.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Flexão simples na ruína: seção T

Figura 7.8 – Detalhamento da seção T

QUESTIONÁRIO
1) Em que tipos de estruturas podem ocorrer seção T?
2) O que significa largura colaborante?
3) Como se calcula a largura colaborante, de acordo com a NBR 6118:2007?
4) Quais os tipos de comportamento de uma seção T? Em que situações ocorrem?
5) Qual o significado de xf?
6) Como se faz o cálculo de uma seção T que se comporta como retangular?
7) Como se decompõe uma seção T verdadeira para cálculo usando tabelas?
8) Como se determina o momento Mo, atuante na parte da seção que contém o
flange? Qual a posição admitida para a linha neutra no cálculo de As0?
9) Qual o procedimento para cálculo da parte da seção relativa à nervura?
10) Como se garante a solidariedade entre a laje e a nervura?

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118:2007:


Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro.
PINHEIRO, L. M. (2004). Tabelas gerais. Disponíveis no site:
www.set.eesc.usp.br/mdidatico/concreto. Acesso em 19 abril 2012.

7.8
ESTRUTURAS DE CONCRETO – CAPÍTULO 8

Libânio Miranda Pinheiro; Ewerton Costa Amaral

2 maio 2012 (Revisão 18 maio 2017)

FLEXÃO COMPOSTA NORMAL

1 Introdução
Flexão corresponde à atuação de um momento fletor M. Ela é
denominada Flexão Normal quanto ocorre no plano de um dos eixos principais
de inércia de uma seção transversal. Nos casos mais comuns, de seção
simétrica, essa flexão atua em um dos planos de simetria da seção. Nos casos
de atuação conjunta de momento fletor M e força normal N, neste texto será
utilizada a denominação Flexão Composta num sentido mais amplo. A rigor, ela
deveria se restringir aos casos em que a linha neutra se encontra dentro da
seção, portanto com predominância de momento fletor.
Nos casos de armadura bilateral, com armaduras dispostas ao longo de
faces opostas perpendiculares ao plano de ação do momento fletor, a flexão
composta também pode ser considerada como relativa aos casos em que uma
armadura é tracionada e a outra comprimida, ou seja, com a posição da linha
neutra variando entre d’ e d, correspondendo aos domínios de deformação 2b
(x > d'), 3 e 4.
Para a reta a e os domínios 1 e 2a (x < d'), portanto com a linha neutra no
intervalo entre -  e d', as denominações mais adequadas seriam Tração
Excêntrica ou Flexo-tração. Analogamente, para os domínios 4a, 5 e reta b,
em que x > d (x > 1), as respectivas denominações seriam Compressão
Excêntrica ou Flexo-compressão.
Neste texto, serão estudados os casos de armadura bilateral abrangendo
todos os domínios, desde a reta a até a reta b, pois a subdivisão indicada é
decorrente apenas da variação do sentido e da magnitude e dos esforços
solicitantes M e N, que atuam simultaneamente em uma determinada seção.
Assim, os seguintes casos serão abordados:
 Duas armaduras tracionadas (reta a, domínios 1 e 2a, com x < d´)
 Uma armadura tracionada e outra comprimida (Domínios 2b, 3 e 4)
 Duas armaduras comprimidas (Domínios 4a, 5 e reta b)

A notação empregada está indicada na figura 1.

1
Figura 1: Notação empregada na flexão normal composta

2 Hipóteses básicas
As hipóteses básicas dão as indicadas pela NBR 6118:2007:
a) As seções transversais mantêm-se planas após a deformação;
b) A deformação das barras aderentes, sob tração ou compressão, é a
mesma do concreto em seu entorno;
c) As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, podem
ser desprezadas;
d) As seções transversais mantêm-se planas após a deformação;
e) A deformação das barras aderentes, sob tração ou compressão, é a
mesma do concreto em seu entorno;
f) As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, podem
ser desprezadas;
g) A distribuição de tensões no concreto é de acordo com o diagrama
retangular de altura 0,8 x, sendo x é a posição da linha, e a tensão é
0,85 fcd, para seções retangulares, como mostra a figura 2;

Figura 2: Diagrama parábola-retângulo e diagrama retangular

2
h) A tensão nas armaduras é obtida a partir do diagrama tensão-
deformação do aço (diagrama bilinear);
i) O estado limite último é caracterizado quando a distribuição das
deformações na seção transversal encontra-se em um dos domínios
definidos na figura 3.

Figura 3: Domínios de deformação

3 Duas armaduras tracionadas


Têm-se duas armaduras tracionadas quando a linha neutra varia de
- até d', podendo ocorrer, portanto, reta a, domínios 1 e 2a (Figura 4).

Figura 4: Duas armaduras tracionadas

Esta situação ocorre principalmente em tirantes, embora seja pouco usual


na engenharia o uso de tirantes de concreto armado. O estado limite último é
caracterizado pela deformação no aço s1 = 10‰.
Este estado de deformação é decorrente da solicitação normal de tração
N apresentar pequena excentricidade. O dimensionamento pode ser feito na
reta a, ou seja, admitindo tração uniforme.

3
3.1 Equações de Equilíbrio
Fazendo o equilíbrio da seção indicada na figura 4, tem-se:
N d  R s1  R s 2

h  h 
N d  e  R s1    d   R s 2    d 
2  2 
Mas:
R s1  A s1  f yd

R s 2  A s 2  s 2

Portanto:

N d  A s1  f yd  A s 2  s 2

h 
M d  A s1  f yd  A s 2  s 2    d 
2 

3.2 Equações de compatibilidade


A equação de compatibilidade das deformações é obtida por semelhança
de triângulos, a partir do diagrama de deformações da figura 4:
s2  s1

d   x  d  x 
Portanto:

 s 2   s1 
d   x 
d  x 

3.3 Exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, concreto C25, aço CA-50, Nk = 680 kN (tração),
Mk = 2720 kN.cm (e = 4 cm), d' = 3 cm (seria melhor considerar d' = 4 cm, por
conta dos cobrimentos da armadura especificados pela NBR 6118:2007).
Utilizando as equações de equilíbrio, obtém-se:
50
1,4  680  A s1   A s2  s2
1,15

 50  60 
1,4  2720   A s1   A s 2   s 2   3 
 1,15  2 

4
Admitindo s2 = fyd, ou seja, situação que inclui tração uniforme na reta a:

952  A s1  A s 2   43,5

3808  A s1  A s 2   1173,9

Donde:

A s1  12,57 cm 2

A s 2  9,33 cm 2

4 Uma armadura tracionada e outra comprimida


Neste caso, a posição da linha neutra deve estar necessariamente entre
as armaduras As1 e As2, para que uma esteja tracionada e outra comprimida.
Portanto, d’ < x < d, correspondendo aos domínios 2b, 3 e 4. Os diagramas de
deformações e de tensões são mostrados na figura 5.

Figura 5: Uma armadura tracionada e outra comprimida

O que caracteriza o estado limite último é a deformação s1 = 10‰, no


domínio 2b, e a deformação c = 3,5‰, nos domínios 3 e 4.
Este estado de deformação é decorrente da solicitação normal N
apresentar grande excentricidade. Este esforço normal pode ser de tração,
sendo denominada flexo-tração com grande excentricidade, ou de compressão,
ocorrendo flexo-compressão com grande excentricidade.
É o caso de pilares com pequena força normal e grande momento fletor.
Também pode ocorrer em vigas de edifícios, quando é levada em consideração
a ação do vento na estrutura, que devido ao efeito de pórtico geram esforços
normais nas vigas. Esse caso em geral pode ser desprezado, devido à
pequena intensidade e, também, por ser decorrente de uma ação de curta
duração, no caso o vento.

5
Uma situação importante ocorre quando a linha neutra está no limite entre
os domínios 3 e 4, ou seja, x = x34, pois a armadura As1 está no início do
patamar de escoamento, garantindo ductilidade na ruína, e o concreto, na fibra
mais comprimida, está na ruptura, caracterizada por deformação de 3,5‰.
Quando a linha neutra está próxima da borda superior, pode ser
adequado adotar As2 = 0, pois as tensões s2 seriam baixas e o equilíbrio da
seção pode ser garantido apenas pela resultante de compressão no concreto.

4.1 Equações de equilíbrio


Como o esforço normal pode ser de tração ou de compressão, as
equações de equilíbrio serão diferentes em cada caso, como apresentado nos
dois itens seguintes.

4.1.1 Flexo-compressão
Considerando-se o equilíbrio da seção indicada na figura 5, com força
normal de compressão, tem-se:
N d  R c  R s 2  R s1

h  h  h 
N d  e  R c    0,4  x   R s 2    d    R s1    d  
2  2  2 

Mas:
R s1  A s1   s1

R s 2  A s 2  s 2

Pelo diagrama retangular de tensões no concreto, tem-se:

 d
R c  0,8  x  0,85  f cd  b   
 d
R c  0,68  b  d   x  f cd

Portanto:
N d  0,68  b  d   x  f cd  A s1   s1  A s 2   s 2

h  h 
M d  0,68  b  d   x  f cd     0,4  x   A s1   s1  A s 2   s 2     d  
2  2 

6
4.1.2 Flexo-tração

Com o equilíbrio da seção da figura 5, para o caso de força normal de


tração, tem-se:

N d  R s1  R s 2  R c

h  h  h 
N d  e  R s1    d    R s 2    d    R c    0,4  x 
2  2  2 

Comparando-se os dois casos, verifica-se que a equação de equilíbrio de


momentos não se altera, e que basta inverter o sinal da normal N na equação
de equilíbrio de forças na flexo-compressão para obtê-la na flexo-tração.

Portanto:

N d  A s1   s1  A s 2   s 2  0,68  b  d   x  f cd

h  h 
N d  e  A s1   s1  A s 2   s 2     d    0,68  b  d   x  f cd     0,4  x 
2  2 

4.2 Equações de compatibilidade

A partir do diagrama de deformações da figura 5, obtém-se:

 s1 s2 
  c
d  x  x  d  x

Portanto:

 s1  s2 
  c
1   x     d   x

 x 
 d

Essas equações são as mesmas para a flexão simples, visto que o estado
de deformação da seção é o mesmo.

7
4.3 Exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, concreto C25, aço CA-50, Nk = 680 kN (tração),
Mk = 47.600 kN.cm (e = 70 cm), d' = 3 cm (seria melhor considerar d' = 4 cm).

Admitindo x = x34 = 0,628, as deformações nas armaduras são iguais ou


maiores que yd = 2,07‰, como mostra a figura 6, e, consequentemente,

s1 = s2 = fyd .

Figura 6: Diagrama de deformações para uma armadura tracionada e outra


comprimida

Assim, tem-se:

952  A s1  A s 2   43,5  869,33

66640  A s1  A s 2   1174,5  13632,5

Resolvendo, obtêm-se as armaduras:

As1 = 43,51 cm 2

As 2 = 1,63 cm 2

Se a excentricidade for reduzida para e = 32 cm, por exemplo, a situação


econômica seria As2 = 0, e as incógnitas do problema passariam a ser As1 e x,
que resultariam:

As1 = 46,44 cm 2

 x = 0,013 (x = 0,87 cm) (Respostas a confirmar)

8
5 Duas armaduras comprimidas
Para duas armaduras comprimidas, a linha neutra deve estar além da
armadura inferior, portanto x > d, que corresponde a x > 1. Em função disto, a
seção pode estar nos domínios 4a, 5 e reta b, conforme mostra a figura 7.

Figura 7: Duas armaduras comprimidas

O que caracteriza o estado limite último é a deformação no concreto de


3,5‰, no domínio 4a, e 2‰ a 3/7 de h, no domínios 5. Na reta b tem-se
deformação constante igual a 2‰.
Esta situação é decorrente da força normal de compressão N, apresentar
pequena excentricidade, caso típico de pilares, principalmente no domínio 5.
Se a linha neutra estiver próxima da borda inferior, pode resultar As1 = 0,
pois as tensões s1 seriam baixas. Outra situação econômica consiste em fazer
o dimensionamento na reta b, ou seja, admitindo-se compressão uniforme.
Porém, como no caso de tração uniforme, se houver excentricidade,
resultam armaduras assimétricas, que, na prática usual, não são empregadas
em pilares.

5.1 Equações de equilíbrio


Para se fazer o equilíbrio, devem ser analisados dois casos: o primeiro
quando y < h, e o segundo, quando y ≥ h. Nesta situação a resultante de
compressão no concreto passa a ser centrada, não produzindo momento.

5.1.1 Equações de equilíbrio para y < h


N d  R c  R s1  R s 2

h  h  h 
N d  e  R c    0,4  x   R s 2    d    R s1    d  
 2   2   2 

9
Como:
R s1  A s1   s1

R s 2  A s 2  s 2

R c  0,68  b  d   x  f cd

Resulta:
N d  0,68  b  d   x  f cd  A s1   s1  A s 2   s 2

h  h 
M d  0,68  b  d   x  f cd     0,4  x   A s 2   s 2  A s1   s1     d  
2  2 

5.1.2 Equações de equilíbrio para y ≥ h


R c  0,85  b  h  f cd (NÃO PRODUZ MOMENTO)

N d  0,85  b  h  f cd  A s1   s1  A s 2   s 2

h 
M d  A s 2   s 2  A s1   s1     d  
2 

5.2 Equações de compatibilidade


As equações de compatibilidade podem ser determinadas a partir da
figura 8. Observa-se que as equações são específicas para cada domínio.

Figura 8: Diagramas de deformação em cada domínio

10
Domínio 4 a:  c  0,35%

 s1 s2 
  c
x  d  x  d  x
3
Domínio 5:  c  0,2% a h
7
 s1  s2 0,2%
 
x  d  x  d   x  3 h 
 
 7 

Reta b:  c   s1   s 2  0,2%

s 2  420 MPa para CA - 50

5.3 Exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, concreto C25, aço CA-50, Nk = 1.650 kN
(compressão), Mk = 6.600 kN.cm (e = 4 cm), d' = 3 cm (seria melhor considerar
d' = 4 cm).
Utilizando-se as equações de equilíbrio, e admitindo-se compressão
uniforme (reta b), tem-se que s1 = s2 = c = 0,2% e, consequentemente,
s1 = s2 = 42 kN/cm2:
2,5
1,4  1650  0,85  20  60   A s1  42  A s 2  42
1,4

 60 
1,4  6600  A s 2  42  A s1  42   3 
 2 

Resolvendo, obtêm-se as armaduras:

A s1  1,74 cm 2

A s 2  9,89 cm 2

6 Equações adimensionais
Até aqui, foi apresentado o dimensionamento por meio das equações de
equilíbrio e de compatibilidade.
Porém esse procedimento é muito trabalhoso, além de ser restrito a
armaduras bilaterais assimétricas, que consiste em um caso particular.

11
Esse problema pode ser solucionado com o uso de programas de
computador, e com isso poder dimensionar qualquer tipo de seção, para várias
disposições de armadura na seção. Para isso, é muito melhor empregar
equações adimensionais, que consistem nas mesmas equações de equilíbrio e
de compatibilidade já apresentadas, adaptadas para que todos os termos
sejam adimensionais. Para isso, emprega-se a notação:
Nd
  Força normal adimensional
b  h  f cd
Md e
 2
  Momento fletor adimensional
b  h  f cd h
A s1  f yd
1   Taxa mecânica da armadura As1
b  h  f cd
A s 2  f yd
2   Taxa mecânica de armadura As2
b  h  f cd

Se a armadura for simétrica, tem-se: ω1 = ω2 = ω/2

6.1 Equações de equilíbrio para armadura assimétrica


a) Duas armaduras tracionadas

  1  2

 1 d 
  1   2     
2 h 
b) Uma armadura tracionada e outra comprimida

 Flexo-compressão
d  
  0,68    x  1  s1   2  s 2
h f yd f yd

 d  1 x      1 d 
   0,68    x     0,4     1  s1    2  s 2     
 h  2 h   f yd f yd   2 h 

 Flexo-tração
d  
  0,68    x  1  s1   2  s 2
h f yd f yd

 d  1 x      1 d 
   0,68    x     0,4     1  s1    2  s 2     
 h  2 h   f yd f yd   2 h 

12
c) Duas armaduras comprimidas

 Para y < h:

d  
  0,68    x  1  s1   2  s 2
h f yd f yd

d 1 x      1 d 
  0,68    x    0,4      2  s 2  1  s1     
h 2 h   f yd f yd   2 h 

 Para y ≥ h:

 s1 
  0,85  1   2  s2
f yd f yd

     1 d 
    2  s 2  1  s1     
 f yd f yd   2 h 

6.2 Equações de compatibilidade


As equações de compatibilidade podem ser escritas em função dos
parâmetros adimensionais , x e d'/h, resultando, também, equações
adimensionais.

7 Construção dos ábacos


O dimensionamento pode ser feito por meio de ábacos. Esse recurso é
bastante utilizado, visto que nem todos os projetistas utilizam softwares para
dimensionamento de peças submetidas à flexão composta normal.

Os ábacos consistem num gráfico  versus , que para cada par ( ) é
obtida a taxa mecânica de armadura ω e, consequentemente, a área de
armadura necessária.

Para construir os ábacos, fixa-se a posição das barras, a relação d'/h e o


aço. Analisando as equações de equilíbrio, verifica-se que  e  são funções de
x e ω. Para cada par adotado (x, ω) existe um único par ( ). Desse modo,
pode-se construir os ábacos para cada tipo de aço (por exemplo, CA-50) e para
alguns valores adequados de d'/h.

13
8 Uso dos ábacos - exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, Nk = 1.650 kN (compressão), Mk = 6.600 kN.cm
(e = 4 cm), d' = 3 cm, concreto C25, aço CA-50 (seria melhor considerar
d' = 4 cm).

Solução:

1,4  1650
  1,078
2,5
20  60 
1,4

4
  0,071
60

d´ 3
  0,05
h 60

Com o ábaco relativo a armadura bilateral simétrica, CA-50, d'/h = 0,05,


obtém-se:

ω = 0,38

E, portanto:

As = 18,72 cm 2

As
A s1  A s 2   9,36cm 2
2

Essa armadura corresponde a 3  20 em cada face (9,42 cm2), totalizando

6  20 (18,85 cm2).

Como alternativa poderiam ser usadas 5  16 em cada face (10,05 cm2),

perfazendo 10  16 (20,11 cm2). Neste caso, em cada face, as barras

precisariam ser alojadas em duas camadas: três na primeira e duas na


segunda camada.

14
Questionário
1) Com base na notação utilizada na flexão composta, qual o significado de
As1 e As2?
2) Com relação às armaduras bilaterais assimétricas, quais os casos
possíveis na flexão composta?
3) Quais as solicitações que podem acarretar duas armaduras tracionadas?
Qual o esforço predominante?
4) Idem para duas armaduras comprimidas.
5) Idem para uma armadura tracionada e outra comprimida.
6) Quais os domínios possíveis na flexo-tração e qual o intervalo de variação
da linha neutra?
7) Idem na flexo-compressão?
8) Quais os domínios em que ocorre ruína por deformação plástica excessiva
da armadura?
9) Idem para ruína por ruptura do concreto?
10) Qual a deformação máxima no concreto no domínio 5?
11) O que significa domínio 5a?
12) Quais as condições que podem levar ao mínimo consumo de armadura na
flexo-tração?
13) Idem na flexo-compressão?
14) Como são elaborados os ábacos para flexão composta?
15) Como se dimensiona uma seção usando ábacos para flexão composta?

15
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

FLEXÃO COMPOSTA OBLÍQUA

Libânio Miranda Pinheiro

Colaboradores:

Bruna Catoia
Lívio Túlio Baraldi
Marcelo Eduardo Porem
Melina Benati Ostini
Thiago Catoia
Túlio Raunyr Cândido Felipe
Walter Luiz Andrade de Oliveira

Abril de 2016
1. INTRODUÇÃO

A flexo-compressão oblíqua é muito comum em peças de concreto armado,


principalmente em pilares de edifícios. Essa solicitação é caracterizada quando o
momento fletor atuante na seção transversal de uma peça não tem a direção de um
dos eixos principais de inércia.

Entretanto, nos problemas de dimensionamento, como são desconhecidas a


distância e a inclinação da linha neutra, obter uma solução geral é praticamente
impossível, tendo em vista que a linha neutra não é perpendicular ao plano de
carregamento.

Os problemas são resolvidos com a imposição de algumas restrições, como,


por exemplo, a adoção de seções regulares e a distribuição de barras de forma
simétrica na seção transversal da peça. Mesmo assim, a solução com as equações
de equilíbrio e as condições de compatibilidade é muito trabalhosa e requer o uso de
computador.

Para seção retangular, o cálculo também pode ser feito por processos
aproximados, nos quais a flexão oblíqua é substituída por uma ou duas flexões
normais. Porém, salvo algumas exceções, os resultados são imprecisos, ora a favor
ora contra a segurança. Diversos processos aproximados são apresentados por
Santos (1981), onde se encontra um estudo mais completo sobre o assunto.

Do ponto de vista prático, alternativa muito adequada para seções


retangulares e usuais consiste no uso de ábacos, que são de fácil utilização e de
boa precisão. Esses ábacos são obtidos com a resolução das equações de
equilíbrio, por meio de programas de computador, cujos dados de entrada, que
funcionam como condições de contorno, incluem o tipo de aço, a distribuição das
barras e suas distâncias relativas às bordas da seção.

Os ábacos ora apresentados foram obtidos com programas elaborados por


Venturini (1990) e Bortolin (1991), que gentilmente cederam o programa fonte e
permitiram que fossem feitas pequenas adaptações. Os autores expressam aqui
seus agradecimentos.
2. CASOS ABORDADOS

Alguns autores apresentam ábacos para flexão oblíqua, entre os quais se


encontram os de Marino (1978), reproduzidos por Fusco (1981), e os de Süssekind
(1985), Dumont (1987) e Venturini (1990).

Embora constituam excelentes contribuições, esses ábacos não abrangem


todos os casos de interesse prático. As principais restrições são: poucos arranjos de
barras; alguns só consideram aço CA-50B, que não é especificado na ABNT NBR
7480:2007, a maioria só considera a posição relativa das barras, d’/h, igual nas duas
direções e a notação nem sempre é a mais adequada.

Tentando sanar algumas dessas restrições e complementar os ábacos


existentes, foram adotados seis arranjos de barras, que se encontram na Figura 1, e
aço CA-50, com diagrama bilinear, de acordo com o item 8.3.6 da ABNT NBR
6118:2014. Os valores de d'/h podem variar nas duas direções, ficando no intervalo
entre 0,05 e 0,25, dependendo do arranjo de barras. Os casos abordados
encontram-se na Tabela 1, perfazendo 48 ábacos.

hx
d'x

hy

7 8
1 2 39 d' y

41 56 6

Figura 1 - Arranjos das barras.


Tabela 1 - Relação dos ábacos

d' y d' x d' y d' x


Arranjo Ábaco Arranjo Ábaco
hy hx hy hx

1 0,05 0,25 1 5 0,05 0,15 24

2 0,05 0,25 2 1 0,10 0,15 25

3 0,05 0,25 3 2 0,10 0,15 26

1 0,10 0,25 4 3 0,10 0,15 27

2 0,10 0,25 5 4 0,10 0,15 28

3 0,10 0,25 6 6 0,10 0,15 29

4 0,10 0,25 7 5 0,10 0,15 30

2 0,15 0,25 8 2 0,15 0,15 31

3 0,15 0,25 9 3 0,15 0,15 32

4 0,15 0,25 10 4 0,15 0,15 33

1 0,05 0,20 11 6 0,15 0,15 34

2 0,05 0,20 12 5 0,15 0,15 35

3 0,05 0,20 13 2 0,05 0,10 36

1 0,10 0,20 14 6 0,05 0,10 37

2 0,10 0,20 15 5 0,05 0,10 38

3 0,10 0,20 16 1 0,10 0,10 39

4 0,10 0,20 17 2 0,10 0,10 40

2 0,15 0,20 18 3 0,10 0,10 41

3 0,15 0,20 19 4 0,10 0,10 42

4 0,15 0,20 20 6 0,10 0,10 43

1 0,05 0,15 21 5 0,10 0,10 44

2 0,05 0,15 22 6 0,05 0,05 45

3 0,05 0,15 23 5 0,05 0,05 46


3. EQUACIONAMENTO

A notação relativa a uma seção retangular submetida a flexão oblíqua


encontra-se indicada na Figura 2. Estão também indicados os diagramas de
deformações e de tensões. As barras são distribuídas ao longo do contorno da
seção, em posições previamente fixadas.

Y
ex
Nd
X

ey
dy
Y dx

hy X c
x
cd
h

hx
 si

Figura 2 - Seção retangular submetida a flexão oblíqua.

No estado limite último, devem ser obedecidas as condições de equilíbrio e


as de compatibilidade das deformações.

3.1. Condições de equilíbrio

Os esforços solicitantes de cálculo Nd, Mxd e Myd devem ser equilibrados


pelos esforços resistentes. As equações de equilíbrio podem ser colocadas na
forma:

n
N d    cd dx dy   Asi  sid (1)
Acc i 1
n
M xd  N d e x    cd y dx dy   Asi  sid y si (2)
Acc i 1

n
M yd  N d e y    cd x dx dy   Asi  sid x si (3)
Acc i 1

Acc: área da seção de concreto comprimido


n: número de barras
Asi: área da seção transversal da barra genérica i
sid: tensão na barra genérica i
X: abscissa do elemento infinitesimal de área dx dy
Y: ordenada do elemento infinitesimal de área dx dy
Xsi: abscissa da barra genérica i
Ysi: ordenada da barra genérica i

Essas equações também podem ser expressas em termos adimensionais,


com o emprego dos esforços reduzidos ν, x, y e da taxa mecânica de armadura ω,
dados por:

N
  d
A f
c cd

M  ey
yd
y  
Ac f h hy
cd y

A f
s yd

A f
c cd

Ac = hx hy e As representa a armadura total da seção.

3.2. Condições de compatibilidade

As condições de compatibilidade são decorrentes da hipótese de manutenção da


forma plana da seção transversal e dos domínios de deformação, relativos aos
estados limites últimos, conforme o item 17.2.2 da ABNT NBR 6118:2014, os quais
são indicados na Figura 3.

Figura 3 - Domínios de deformação de uma seção transversal no estado limite


último para concretos de classe C20 a C90 (Figura 17.1 da ABNT NBR 6118:2014).

Nos casos de concretos com resistência característica menor ou igual a 50 MPa,


os domínios de deformação podem ser esquematizados de acordo com a Figura 4.

Alongamento Encurtamento
d' 2% 3,5%

a 3h
7
d
1 2 h
3
4
5
 yd b
4a
10%

Figura 4 - Domínios de deformação no estado limite último de uma seção


transversal para concretos até C50.

Conhecidas as deformações si nas barras, as tensões podem ser obtidas


no diagrama  versus  relativo ao aço utilizado.
4. CONTRUÇÃO DOS ÁBACOS

Os ábacos são construídos com base nas condições de equilíbrio e de


compatibilidade, apresentadas no item anterior. Como já foi visto, a solução só é
possível quando se adotam algumas restrições.

Portanto, para a construção dos ábacos, são fixados os dados iniciais: tipo de
aço (CA-50), quantidade e disposição das barras e suas posições relativas d'x/hx e
d'y/hy. Os arranjos adotados encontram-se na Figura 1 e as posições relativas estão
indicadas na Tabela 1.

Com os dados iniciais fixados, fica definido cada um dos ábacos relacionados
na Tabela 1.

Definido o ábaco, devem ser adotados valores da força normal reduzida de


cálculo , sendo considerados oito valores:

 = 0; 0,2; 0,4; 0,6; 0,8; 1,0; 1,2 e 1,4.

Cada valor de  corresponde a um quadrante do ábaco, perfazendo oito


quadrantes, representados em duas páginas.

Para cada valor de , são adotados valores da taxa mecânica de armadura ω,


incluídos no intervalo entre 0 e 1,9, dependendo das condições da seção.

A construção dos ábacos foi baseada no fato de que, fixados valores de , ω


e da inclinação θ da linha neutra, existe um único terno (x, x, y) que corresponde
ao estado limite último.

Fixados , ω e θ, a posição x da linha neutra é obtida por tentativas, de


maneira que se obtenha, com a expressão (1), a igualdade entre a força normal
resistente R e a força normal solicitante S. Conhecido x obtém-se x e y com as
expressões (2) e (3), correspondendo a um ponto do ábaco.

Para obtenção dos pontos dos ábacos, foi utilizado um programa principal,
apresentado no item subsequente, cujos resultados são armazenados em um
arquivo.
Para desenhar os ábacos, foi utilizado outro programa, elaborado por Bortolin
(1991) e adaptado por Baraldi (1992), visando melhorar o aspecto final dos ábacos.
Esse programa faz a leitura do arquivo, contendo os pontos obtidos no programa
principal, e os une por curvas contínuas. Além disso, acrescenta uma moldura, a
notação e a malha sobre o qual se encontram as curvas do ábaco.

A saída desse programa é outro arquivo, que contém os comandos para


impressão final.
Salienta-se que esses ábacos são válidos apenas para concretos de classes
C20 a C50. Para classes C55 a C90, novos ábacos deverão ser construídos.

5. PROGRAMA PRINCIPAL

O programa principal, que foi elaborado por Venturini (1990) e por Bortolin
(1991), ora será comentado de maneira resumida. Maiores detalhes poderão ser
encontrados nos trabalhos originais.

A entrada de dados é feita via teclado e inclui:


 d'y/hy e d'x/hx ;
 número de barras ao longo de cada face;
 tipo de aço.

Conhecidos os dados iniciais, o programa determina as posições das barras


na seção e adota o valor da força normal solicitante, correspondente a um dos
quadrantes do ábaco, por exemplo,  = 0. Um valor de ω também é adotado, ao
qual corresponderá uma curva do ábaco.

De posse dos valores  e ω, são considerados valores de θ entre 90º e 180º,


que foram divididos em 20 intervalos de 4,5º (ver Figura 2). Para cada valor de θ,
podem ocorrer cinco situações diferentes, dependendo da posição da linha neutra, a
saber:

 compressão uniforme ( x tende a + );


 compressão não uniforme (h < x < + );
 parte da seção tracionada e parte comprimida; neste caso adotou-se a linha
neutra no limite entre os domínios 3 e 4;
 tração não uniforme (x < 0);
 tração uniforme (x tende a – ).

Com o valor de θ fixado, admite-se inicialmente compressão uniforme e, caso


essa situação não seja a correta, outros valores de x são considerados, percorrendo
as diversas situações possíveis.

Para cada valor de x, define-se um novo sistema de coordenadas, cuja


origem passa pelo ponto onde a linha neutra encontra o eixo y. O novo eixo das
abscissas coincide com a linha neutra e o eixo das ordenadas é perpendicular a ela.
Podem, então, ser determinados os pontos extremos da seção de concreto e as
posições das barras em relação ao novo sistema de coordenadas.

Com o valor de x fixado, podem ser calculadas as deformações no concreto e


nas barras e as correspondentes tensões. Consequentemente, podem ser
determinados os esforços adimensionais (s, xs, ys) e (c, xc, yc), relativos
respectivamente ao aço e ao concreto, que satisfaçam às expressões:
R = c + s
xR = xc + xs
yR = yc + ys

Verifica-se, então, se o esforço resistente R está próximo do solicitante ,


conforme precisão pré-fixada. Se R = , o valor de x é o correto; os respectivos
valores de x e y serão guardados em um arquivo, pois constituirão um ponto da
curva relativa ao ω considerado. Caso a condição R =  não se verifique, adota-se
um novo valor de x e repete-se o processo até determinar o valor correto.

Sendo considerados todos os valores de θ no intervalo entre 90º e 180º,


obtém-se a curva correspondente ao ω adotado. Os valores de ω também são
incrementados de maneira a se obter todas as curvas do quadrante. Adotando-se
outros valores de  e repetindo-se o processo, são obtidos os oito quadrantes
referentes ao caso considerado.

Todos os pontos obtidos são armazenados em um arquivo de dados, que


será utilizado na impressão dos ábacos, conforme foi apresentado no item anterior.
6. USO DOS ÁBACOS

Considere-se a seção retangular com dimensões e excentricidades totais, em


centímetros, indicadas na Figura 5.

Y
13,5 Nd
20
h yy=40
= 60
X
7,5
5

hhx=20
= 30
x

Figura 5 - Dimensões e excentricidades totais (em centímetros).

6.1. Dados

Aço CA-50 (fyk = 50 kN/cm2)


Concreto C25 (fck = 25 MPa = 2,5 kN/cm2)
Nd = 860 kN
d' = 4 cm

De acordo com a notação dos ábacos tem-se:


hx = 20 cm
hy = 40 cm
ex = 5 cm
ey = 13,5 cm

6.2. Posições relativas das barras


d'y 4
  0,10
hy 40

d' x 4
  0,20
h x 20
6.3. Esforços adimensionais
N 860
  d   0,60
Ac f 20 . 40 . 2,5/1,4
cd
M  e x 0,60 . 5
x  xd    0,15
Ac f hx hx 20
cd
M  e y 0,60 . 13,5
yd
y     0,20
Ac f h hy 40
cd y

6.4. Primeira alternativa: arranjo nº 1

Como em geral se coloca maior número de barras ao longo da maior


dimensão da seção, adota-se como primeira alternativa o arranjo 1 (ver Figura 2),
válido para cinco ou mais barras em cada face.

Para esse arranjo, aço CA-50 e os valores de d'y/hy e d'x/hx dados no item 6.2,
conforme a Tabela 1, o ábaco correspondente é o número 14, no qual, para os
esforços adimensionais do item anterior, resulta aproximadamente:

ω = 1,07

 Ac f
As  cd  1,07 . 20 . 40 . 2,5/1,4  35,2 cm2
f 50/1,15
yd

Quantidade de barras:

8  25, Ase = 40,0 cm2

12  20, Ase = 37,8 cm2

Para este arranjo de barras, 12  20 seria a melhor opção.

6.5. Segunda alternativa: arranjo 3

Na procura de uma solução mais econômica, uma alternativa possível é com


6  25 (Ase = 30,0 cm2) e o arranjo 3 (ver Figura 2), correspondendo ao ábaco 16, no
qual se obtém:
ω = 0,87

As = 28,6 cm2 < Ase = 30,0 cm2

Esta solução é bem mais econômica que as anteriores.

6.6. Solução adotada

Pode-se adotar a solução com 6  25, indicada na Figura 6.

6  25
40 (Ase= 30 cm2)

20
Figura 6 – Solução adotada.

6.7. Observações

Para valores de d'y/hy e d'x/hx diferentes dos indicados nos ábacos, podem ser
adotados valores aproximados ou se faz interpolação linear. No caso de dúvida
considera-se, a favor da segurança, o ábaco de maior valor de d'/h,

Para valores de  diferentes daqueles correspondentes aos ábacos, em geral


deve ser feita interpolação linear.

Para resistência característica do concreto acima de 50 MPa, os ábacos


citados não podem ser utilizados, pois foram feitos com hipóteses que só são
validas para concretos com fck até 50 MPa.

7. ÁBACOS

Os ábacos aqui utilizados e diversos outros, podem ser encontrados no site:

www.set.eesc.usp.br/mdidatico/concreto.
QUESTIONÁRIO

1) Em que situações ocorre flexão oblíqua em uma seção retangular?

2) Desenhar uma seção retangular com um arranjo simétrico qualquer de barras,


submetida a excentricidades ex e ey. Indicar a notação adotada para as
dimensões da seção. Qual é a direção x?

3) Esboçar três arranjos de barras, adequados quando o plano de flexão está


próximo da diagonal.

4) Idem para My predominante.

5) Idem para Mx predominante.

6) No cálculo de flexão oblíqua usando equações, por que os arranjos de barras


precisam ser pré-fixados?

7) Quais as grandezas adimensionais usadas nos ábacos para flexão oblíqua?

8) Como é obtido cada ponto dos ábacos para flexão oblíqua?


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de


estruturas de concreto. Rio de Janeiro.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7480:2007 - Barras e


fios de aço destinados a armaduras para concreto armado. Rio de Janeiro.

BARALDI, L. T.; PINHEIRO, L. M. Elaboração de ábacos para dimensionamento de


seções retangulares de concreto armado submetidas a flexão oblíqua. In:
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CISALHAMENTO EM VIGAS – CAPÍTULO 10

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos, Artur L. Sartorti

01 maio 2017

CISALHAMENTO EM VIGAS

Nas vigas, em geral, as solicitações predominantes são o momento fletor e a


força cortante.
Em etapa anterior o efeito do momento fletor foi analisado separadamente.
Neste capítulo considera-se o efeito conjunto dessas duas solicitações, com
destaque para a força cortante.

1 COMPORTAMENTO RESISTENTE

Considere-se a viga biapoiada (Figura 1) submetida a duas forças F iguais e


equidistantes dos apoios, armada com barras longitudinais tracionadas e com
estribos, para resistir os esforços de flexão e de cisalhamento, respectivamente.
A armadura de cisalhamento poderia também ser constituída por estribos
associados a barras longitudinais curvadas (barras dobradas). Essas barras
dobradas, também conhecidas como cavaletes, eram comuns até os anos 1970 e
não são mais usadas atualmente, principalmente por razões construtivas.
Para pequenos valores da força F, enquanto a tensão de tração for inferior à
resistência do concreto à tração na flexão, a viga não apresenta fissuras, ou seja, as
suas seções permanecem no Estádio I. Nessa fase origina-se um sistema de
tensões principais de tração e de compressão.
Com o aumento do carregamento, no trecho de momento máximo (entre as
forças), a resistência do concreto à tração é ultrapassada e surgem as primeiras
fissuras de flexão (verticais). Nas seções fissuradas a viga encontra-se no Estádio II
e a resultante de tração é resistida exclusivamente pelas barras longitudinais. No
início da fissuração da região central, os trechos junto aos apoios, sem fissuras,
ainda se encontram no Estádio I.
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Continuando o aumento do carregamento, surgem fissuras nos trechos entre


as forças e os apoios, as quais são inclinadas por causa da inclinação das tensões

principais de tração I (fissuras de cisalhamento). A inclinação das fissuras


corresponde aproximadamente à inclinação das trajetórias das tensões principais,
isto é, aproximadamente perpendicular à direção das tensões principais de tração.
Com carregamento elevado, a viga, em quase toda sua extensão, encontra-se
no Estádio II. Em geral, apenas as regiões sobre os apoios permanecem isentas de
fissuras, até a ocorrência de ruptura na região central da viga.
A Figura 1 indica a evolução da fissuração de uma viga de seção T, para
vários estágios de carregamento.

Figura 1 – Evolução da fissuração

2 MODELO DE TRELIÇA

O modelo clássico de treliça foi idealizado por Ritter e Mörsch, no início do


Século XX, e se baseia na analogia entre uma viga fissurada e uma treliça.

10.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

Considerando uma viga biapoiada de seção retangular, Mörsch admitiu que,


após a fissuração, seu comportamento era similar ao de uma treliça como a indicada
na Figura 2, formada pelos elementos:

 banzo superior  cordão de concreto comprimido;


 banzo inferior  armadura longitudinal de tração;
 diagonais comprimidas  bielas de concreto entre as fissuras;
 diagonais tracionadas  armadura transversal (de cisalhamento).

Na Figura 2 está indicada armadura transversal com inclinação de 90,


formada por estribos.

Figura 2 – Analogia de treliça

Essa analogia de treliça clássica considera as seguintes hipóteses básicas:

 fissuras, e portanto as bielas, com inclinação de 45;


 banzos paralelos;
 treliça isostática; portanto, não há engastamento nos nós, ou seja, nas
ligações entre os banzos e as diagonais;
 armadura de cisalhamento com inclinação entre 45 e 90 (em geral, 90º).

Porém, resultados de ensaios comprovam que há imperfeições na analogia de


treliça clássica, que de maneira geral elevam a resistência da peça ao cisalhamento.
Isso se deve principalmente aos fatores:

 a inclinação das fissuras é menor que 45;


 os banzos não são paralelos; há o arqueamento do banzo comprimido,
principalmente nas regiões dos apoios;
10.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

 a treliça é altamente hiperestática; ocorre engastamento das bielas no banzo


comprimido, e esses elementos comprimidos possuem rigidez muito maior
que a das barras tracionadas.
 engrenamento dos agregados entre as superfícies das bielas;
 efeito de pino da armadura longitudinal.

Esses fatores são denominados mecanismos resistentes complementares aos


da analogia de treliça.
Para um cálculo mais refinado, tornam-se necessários modelos que
considerem melhor a realidade do problema.
Por essa razão, como modelo padrão, adota-se a analogia de treliça, mas
introduzidas correções para levar em conta as imprecisões verificadas.

3 MODOS DE RUÍNA

Numa viga de concreto armado submetida a flexão simples, vários tipos de


ruína são possíveis, entre as quais: ruínas por flexão; ruptura por falha de
ancoragem no apoio, ruptura por esmagamento da biela, ruptura da armadura
transversal, ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento e ruína por flexão
localizada da armadura longitudinal.

a) Ruínas por flexão

Nas vigas dimensionadas nos domínios 2 ou 3, a ruína acontece após o


escoamento da armadura, ocorrendo abertura de fissuras e deslocamentos
significativos (flechas) que servem como “aviso” da ruína.
Nas vigas dimensionadas no Domínio 4, a ruína se dá pelo esmagamento do
concreto comprimido, não ocorrendo escoamento da armadura nem grandes
deslocamentos, o que caracteriza uma “ruína sem aviso”.

b) Ruptura por falha de ancoragem no apoio

A armadura longitudinal é altamente solicitada no apoio, em decorrência do


efeito de arco. No caso de ancoragem insuficiente, pode ocorrer o colapso na junção
da diagonal comprimida com o banzo tracionado, junto ao apoio.
10.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

A ruptura por falha de ancoragem ocorre bruscamente, usualmente se


propagando e provocando também uma ruptura ao longo da altura útil da viga.
O deslizamento da armadura longitudinal, na região de ancoragem, pode
causar ruptura por cisalhamento da alma. A rigor, esse tipo de ruptura não decorre
da força cortante, mas sim da falha na ancoragem do banzo tracionado na diagonal
comprimida, nas proximidades do apoio.

c) Ruptura por esmagamento da biela

No caso de seções muito pequenas para as solicitações atuantes, as tensões


principais de compressão podem atingir valores elevados, incompatíveis com a
resistência do concreto à compressão com tração perpendicular (estado duplo de
tensões). Tem-se, então, uma ruptura por esmagamento do concreto (Figura 3).
A ruptura da diagonal comprimida determina o limite superior da capacidade
resistente da viga à força cortante, limite esse que depende, portanto, da resistência
do concreto à compressão.

Figura 3 – Ruptura por esmagamento da biela

d) Ruptura da armadura transversal

Corresponde a uma ruína por cisalhamento, decorrente da ruptura da armadura


transversal (Figura 4). É o tipo mais comum de ruína por cisalhamento, resultante da
deficiência da armadura transversal para resistir às tensões de tração devidas à
força cortante, o que faz com que a peça tenha a tendência de se dividir em duas
partes.

10.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

A deficiência de armadura transversal pode acarretar outros tipos de ruína, que


serão descritos nos próximos itens.

Figura 4 – Ruptura da armadura transversal

e) Ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento

No caso de armadura transversal insuficiente, essa armadura pode entrar em


escoamento provocando intensa fissuração (inclinada), com as fissuras invadindo a
região comprimida pela flexão. Isto diminui a altura dessa região comprimida e
sobrecarrega o concreto, que pode sofrer esmagamento, mesmo com momento
fletor inferior àquele que provocaria a ruptura do concreto por flexão (Figura 5).

Figura 5 – Ruptura do banzo comprimido, decorrente da força cortante

f) Ruína por flexão localizada da armadura longitudinal

A deformação exagerada da armadura transversal pode provocar grandes


aberturas das fissuras de cisalhamento. O deslocamento relativo das seções
adjacentes pode acarretar na flexão localizada da armadura longitudinal, levando a
viga a um tipo de ruína que também decorre do cisalhamento (Figura 6).
10.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

Figura 6 – Ruína por flexão localizada da armadura longitudinal

4 MODELOS DE CÁLCULO

A ABNT NBR 6118:2014, item 17.4.1, admite dois modelos de cálculo, que
pressupõem analogia com modelo de treliça de banzos paralelos, associado a
mecanismos resistentes complementares, traduzidos por uma parcela adicional Vc.
O modelo I admite (item 17.4.2.2):

 bielas com inclinação  = 45º;


 Vc constante, independente de VSd.

VSd é a força cortante solicitante de cálculo, na seção em estudo.

O modelo II considera (item 17.4.2.3):

 bielas com inclinação  entre 30o e 45o;

 Vc diminui com o aumento de VSd.

Nos dois modelos devem ser consideradas as etapas de cálculo:

 verificação da compressão na biela;

 cálculo da armadura transversal;

 deslocamento aℓ do diagrama de força no banzo tracionado.

Na sequência será considerado o modelo I. Destaca-se ainda que o modelo II


pode conduzir a valores contra a segurança quando adotados ângulos de inclinação
das bielas inferiores a 45°, em algumas situações em que isto não é realidade.
10.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

Recomenda-se que, para a utilização do modelo II, o leitor aprofunde seus


conhecimentos sobre o assunto na bibliografia indicada ao final deste capítulo.

5 VERIFICAÇÃO DA COMPRESSÃO NA BIELA

Independente da taxa de armadura transversal, deve ser verificada a condição:

VSd  VRd2

VSd é a força cortante solicitante de cálculo (f . VSk); na região de apoio, é o


valor na respectiva face (VSd = VSd, face);

VRd2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruptura da biela; no


modelo I (item 17.4.2.2 da ABNT NBR 6118:14):

VRd2 = 0,27 v2 fcd bw d

v2 = (1 – fck / 250), com fck em MPa, ou v2 = (1 – fck / 25), com fck em kN/cm2

6 CÁLCULO DA ARMADURA TRANSVERSAL

Além da verificação da compressão na biela, deve ser satisfeita a condição:

VSd  VRd3 = Vc + Vsw

VRd3 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por tração


diagonal;
Vc é parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares
ao de treliça (resistência ao cisalhamento da seção sem armadura
transversal);
Vsw é a parcela de força absorvida pela armadura transversal.

No cálculo da armadura transversal considera-se VRd3 = VSd, resultando:

Vsw = VSd – Vc

10.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

a) Cálculo de VSd

Prescrições da ABNT NBR 6118:2014, item 17.4.1.2.1, para o cálculo da


armadura transversal no trecho junto ao apoio, no caso de apoio direto (carga e
reação de apoio em faces opostas, comprimindo-as):

 para carga distribuída, VSd = VSd,d/2, valor igual à força cortante na seção
distante d/2 da face do apoio;
 a parcela da força cortante devida a uma carga concentrada aplicada à
distância a < 2d do eixo teórico do apoio pode ser reduzida, multiplicando-a
por a / (2d).

Nesses casos, considerar VSd igual a VSd,face ou VSd,eixo está a favor da


segurança.

As reduções indicadas não se aplicam na verificação da resistência à


compressão diagonal do concreto (VSd  VRd2), nem nos casos de apoios indiretos,
em que as tensões se transferem para os apoios ao longo da altura da ligação entre
os elementos.

b) Cálculo de Vc

Para o modelo I, na flexão simples, item 17.4.2.2.b da ABNT NBR 6118:2014:

Vc = 0,6 fctd bw d

fctd = fctk,inf / c

Segundo o item 8.2.5 da mesma norma:

fctk,inf = 0,7 fct,m

De acordo com esse mesmo item, o cálculo de fct,m depende da classe de


resistência do concreto, como se indica a seguir.

 Para concretos de classes até C50

fct,m = 0,3 fck2/3 (fck em MPa)

10.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

Resulta:
fctd = fctk,inf / c = 0,7 fct,m / c = 0,7 . 0,3 fck2/3 / c , ou seja:

fctd = 0,21 fck2/3 / c (fck em MPa)

Para c = 1,4, obtém-se:

fctd = 0,15 fck2/3 (fck em MPa)

Lembra-se que, no cálculo de Vc, o valor de fctd deve estar em kN/cm2.

 Para concretos de classes C55 até C90


fct,m = 2,12 ℓn (1 + 0,11 fck) (fck em MPa)

Resulta:

fctd = fctk,inf / c = 0,7 fctm / c = 0,7 . [2,12 ℓn (1 + 0,11 fck)]/ c , ou seja:

fctd = [1,484 ℓn (1 + 0,11 fck)]/ c (fck em MPa)

Para c = 1,4, obtém-se:

fctd = 1,06 ℓn (1 + 0,11 fck) (fck em MPa)

Mais uma vez lembra-se que, no cálculo de Vc, coloca-se fctd em kN/cm2.

c) Cálculo da armadura transversal

De acordo com o modelo I (item 17.4.2.2 da ABNT NBR 6118:2014):

Vsw = (Asw / s) 0,9 d fywd (sen  + cos  )

Asw é a área de todos os ramos da armadura transversal;


s é o espaçamento da armadura transversal;
fywd é a tensão na armadura transversal;

 é o ângulo de inclinação da armadura transversal (45    90).

Em geral adotam-se estribos verticais ( = 90) e determina-se a área desses


estribos por unidade de comprimento, ao longo do eixo da viga:

10.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

asw = Asw / s

Nessas condições, tem-se:

Vsw = asw 0,9 d fywd ou

asw = Vsw / (0,9 d fywd)

No caso de estribos, a tensão fywd é dada pelo menor dos valores: fyd e
435 MPa. Para barras dobradas, o valor fica limitado a 70% de fyd e 435 MPa.
Somente 60% da força cortante pode ser resistida por barras dobradas; o restante
deve ser obrigatoriamente resistido por estribos. Portanto, para estribos dos aços
CA-50 ou CA-60, pode-se adotar:

fywd = 435 MPa = 43,5 kN/cm2

7 ARMADURA TRANSVERSAL MÍNIMA

Para garantir ductilidade à ruína por cisalhamento, a armadura transversal


(estribos) deve ser suficiente para suportar o esforço de tração resistido pelo
concreto na alma, antes da formação de fissuras de cisalhamento.
Segundo o item 17.4.1.1.1 da ABNT NBR 6118:2014, a armadura transversal
mínima deve ser constituída por estribos, com taxa geométrica:

A f
  sw  0,2 ctm
sw b  s  sen  f
w ywk

fctm = 0,3 fck2/3 (item 8.2.5 da ABNT NBR 6118:2014);

fywk é resistência característica de escoamento da armadura transversal.

Portanto, a taxa mínima sw,min da armadura transversal depende das

resistências do concreto e do aço. Os valores de sw,min são dados na Tabela 1.


A armadura mínima é calculada por meio da equação:

A
a  sw   .b
sw , min s sw , min w

10.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

Tabela 1 – Valores de sw,min (%)

Concreto
Aço
C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50 C55 C60 C65 C70 C75 C80 C85 C90

CA-25 0,177 0,205 0,232 0,257 0,281 0,304 0,326 0,331 0,344 0,356 0,367 0,377 0,387 0,396 0,405

CA-50 0,088 0,103 0,116 0,128 0,140 0,152 0,163 0,166 0,172 0,178 0,183 0,189 0,194 0,198 0,203

CA-60 0,074 0,085 0,097 0,107 0,117 0,127 0,136 0,138 0,143 0,148 0,153 0,157 0,161 0,165 0,169

8 FORÇA CORTANTE RELATIVA À TAXA MÍNIMA

A força cortante solicitante VSd,min relativa à taxa mínima é dada por:

VSd,min = Vsw,mín + Vc

com Vsw,mín = sw,mín 0,9 b d fywd

9 DETALHAMENTO DOS ESTRIBOS

Apresentam-se as prescrições da ABNT NBR 6118:2014, item 18.3.3.2.

a) Diâmetro mínimo e diâmetro máximo

O diâmetro do estribo deve estar no intervalo: 5 mm  t  bw /10.

Quando a barra for lisa, t  12 mm.

No caso de estribos formados por telas soldadas, t,min = 4,2 mm, desde que

sejam tomadas precauções contra a corrosão da armadura.

b) Espaçamento longitudinal mínimo e máximo

O espaçamento mínimo entre estribos, na direção longitudinal da viga, deve ser


suficiente para a passagem do vibrador, garantindo um bom adensamento.
Para que não ocorra ruptura por cisalhamento nas seções entre os estribos, o
espaçamento máximo deve atender às seguintes condições:

VSd  0,67 VRd2  smáx = 0,6 d  300 mm;

VSd > 0,67 VRd2  smáx = 0,3 d  200 mm.


10.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

c) Número de ramos dos estribos

Em geral são adotados estribos de dois ramos, ou seja, a barra que forma o
estribo tem dois trechos verticais. São eles que vão resistir ao cisalhamento. Em
vigas largas, esses trechos verticais poderiam ficar muito distantes. Portanto, deve
ser verificado o espaçamento máximo permitido pela Norma para essa armadura
transversal. Se necessário, devem ser adotados estribos múltiplos: duplos (com
quatro ramos verticais), triplos (com seis ramos) etc. O número de ramos dos
estribos deve ser calculado em função do espaçamento transversal máximo, entre
ramos sucessivos dos estribos. A ABNT NBR 6118:2014 indica duas condições:

VSd  0,20 VRd2  st,máx = d  800 mm;

VSd > 0,20 VRd2  st,máx = 0,6d  350 mm.

d) Ancoragem

Os estribos para cisalhamento devem ser fechados na face tracionada da viga,


com um ramo horizontal envolvendo as barras da armadura longitudinal de tração e
ancorados na face oposta.

Portanto, nas vigas biapoiadas, os estribos podem ser abertos na face superior,
com ganchos nas extremidades.

Quando esta face também puder estar tracionada, o estribo deve ter o ramo
horizontal nesta região, ou complementado por meio de barra adicional.

Portanto, nas vigas com balanços e nas vigas contínuas, devem ser adotados
estribos fechados tanto na face inferior quanto na superior.

e) Emendas

As emendas por transpasse são permitidas quando os estribos forem


constituídos por telas.

Embora não sejam usuais, as emendas por traspasse também são permitidas
se os estribos forem constituídos por barras de alta aderência, ou seja, de aço
CA-50 ou CA-60.

10.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

10 EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Trecho de viga com 14 cm x 50 cm, c = 2,5 cm, d = 46 cm, C25, CA-50,


ℓ = 6,49 m, dimensões dos apoios tesq = 0,30 m e tdir = 0,30 m, pd = 30,21 kN/m,
VSd1,eixo = 92,81 kN, VSd2,eixo = 103,28 kN.

a) Verificação da biela

VSdmax,face  VRd2 (A favor da segurança: VSdmax,eixo  VRd2)

VRd2 = 0,27 v2 fcd b d, com v2 = 1 – fck / 25 (fck em kN/cm2)


VRd2 = 0,27 (1 – 2,5/25) 2,5/1,4 . 14. 46 = 279,45 kN > VSd,eixo,max = 103,28 kN (OK)

b) Contribuição do concreto Vc

Itens 17.4.2.2 e 8.2.5 da ABNT NBR 6118:2014, com c = 1,4 e fck em MPa:

fctd = fctk,inf / c = 0,7 fct,m / c = 0,7. 0,3 fck2/3 / 1,4 = 0,15 fck2/3

fctd = 0,15 fck2/3 = 1,2825 MPa = 0,12825 kN/cm2


Vc = 0,6 fctd b d = 0,6 . 0,12825 . 14 . 46
Vc = 49,56 kN

c) Taxa mínima

fck em MPa: fct,m = 0,3 fck2/3 = 2,565 MPa = 0,2565 kN/cm2


f 0,2565
  0,2 ct, m = 0,2 = 0,001026 = 0,1026 %
w, min f 50
ywk

Na Tabela 1 é dado o valor: w,mín = 0,103 %.

d) Diâmetro dos estribos

5 mm  t  bw /10 = 14 mm. Em geral resultam  5 mm ou  6,3 mm.

e) Número de ramos dos estribos

VSd  0,20 VRd2: st,max = d  80 cm;


VSd > 0,20 VRd2: st,max = 0,6d  35 cm

Considerando-se o maior valor VSd = VSd2,eixo = 103,28 kN (poderia ser adotado


o valor na face):

10.14
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

103,28 > 0,20 . 279,45 = 55,89 kN


Portanto, st,max = 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm  35 cm

Em vigas usuais de edifícios, em geral são suficientes dois ramos (n = 2).


Exceção: vigas-faixa (muito largas) e vigas muito carregadas, como algumas vigas
de fundação, vigas de transição etc.

f) Espaçamento máximo dos estribos

VSd  0,67 VRd2: smáx = 0,6 d  30 cm; VSd > 0,67 VRd2: smáx = 0,3 d  20 cm
Neste exemplo, VSd  0,67 VRd2, o que acontece em geral. Portanto:

smáx = 0,6 d = 0,6 . 46 = 27,6  28 cm < 30 cm (OK)

g) Taxa de armadura transversal para espaçamento máximo dos estribos

Tabela 1.4a:  5 c/ 28, asw,smáx = 0,70 cm2/m; w,smáx = 2 (asw,smáx / b) = 2 . 0,70/14

w,smáx = 0,10% < w,mín = 0,1026%

h) Armadura transversal adotada no trecho central do vão

Maior valor entre w,mín = 0,1026% e w,smáx = 0,10%. Portanto: w,vão = 0,1026%
asv/n = w,vão . b/2 = 0,1026 . 14/2 = 0,72 cm2/m (vezes 100 para obter área em cm2/m)
Tabela 1.4a:  5 c/ 27 (0,73 cm2/m)
Taxa efetiva: we,vão = 2 (asw,e / b) = 2 . 0,73/14 = 0,1043%

i) Força cortante resistente para os estribos adotados no vão

fywd = 43,5 kN/cm2


Vsw,vão = we, vão . 0,9 fywd bd = 0,1043% . 0,9 . 43,5 . 14 . 46
Vsw,vão = 26,29 kN
VRda = Vc + Vsw,vão = 49,56 + 26,29
VRda = 75,85 kN

j) Trechos com VSd,d/2 > VRda


VSd,d/2 = VSd,eixo - pd (t + d) / 2

Para pd = 30,21 kN/m, tesq = 0,30 m, tdir = 0,30 m, d = 0,46 cm, tem-se:
pd (t + d) / 2 = 30,21 (0,30 + 0,46)/2 = 11,48 kN

10.15
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

À esquerda do trecho de viga (VSd,eixo = 92,81 kN) e à direita (103,28 kN)


resultam, respectivamente:
VSd,d/2,esq = 81,33 kN > VRda
VSd,d/2,dir = 91,80 kN > VRda

k) Comprimento dos trechos com VSd,d/2 > VRda


a = (VSd,eixo – VRda) / pd

Resultam, respectivamente:
a1,esq = 0,56 m e a1,dir = 0,91 m

l) Estribos para VSd > VRda


Para VSd,d/2,esq = 81,33 kN
Vsw = VSd,d/2 – Vc = 81,33 – 49,56 = 31,77

fywd = 43,5 kN/cm2


V 31,77
  sw = = 0,1260 %
w 0,9 b d f 0 ,9 . 14 . 46 . 43 ,5
ywd
a
sw =  . b = 0,1260 . 14 = 0,88 cm 2 / m  5 c/ 22 (0,89 cm2/m), à esquerda.
n w 2 2

Analogamente, para VSd,d/2,dir = 91,80 kN:


Vsw = VSd,d/2 – Vc = 91,80 – 49,56 = 42,24
V 42,24
  sw   0,1675 %
w 0,9 b d f 0,9 . 14 . 46 . 43,5
ywd
a
sw   . b  0,1675 . 14  1,17 cm 2 / m  5 c/ 17 (1,15 cm2/m), à direita.
n w 2 2

Nos casos em que VSd,d/2  VRd,vão, os espaçamentos junto aos apoios são os
mesmos obtidos para o trecho central.

m) Detalhamento

No final da memória resumida da viga, deve ser indicado o diâmetro dos


estribos e uma linha de cota, com os comprimentos dos trechos e o espaçamento
dos estribos em cada um deles.
10.16
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas

QUESTIONÁRIO

1) O que é cisalhamento?
2) No dimensionamento de peças submetidas a flexão e cisalhamento, qual o
tipo de ruína que deve prevalecer? Por quê?
3) Como se distribuem as tensões no cisalhamento?
4) Quais as providências para garantir o tipo de ruína admitido?
5) Quais os tipos de barras para resistir aos esforços de cisalhamento?
6) Como são as fissuras de flexão e como são as de cisalhamento?
7) Na analogia de treliça, quais as partes da viga de concreto correspondentes a
cada um dos elementos da treliça?
8) Quais as formas de ruína para excesso de deformação nos estribos?
9) Quais as hipóteses da analogia de treliça clássica?
10) O que significa taxa de armadura transversal?
11) Quais as principais causas que fazem com que os resultados obtidos com a
analogia de treliça clássica sejam diferentes dos resultados experimentais?
12) Como é evitado o esmagamento das bielas, conforme a NBR 6118:2014?
13) Qual o valor da tensão na armadura de cisalhamento?
14) Como é feito o cálculo da armadura transversal?
15) Qual o intervalo de variação do diâmetro dos estribos?
16) Qual o espaçamento máximo dos estribos?

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118: Projeto
de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
FUSCO, P. B. Estruturas de concreto: solicitações tangenciais. Pini. São Paulo,
2008.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. v.1. Interciência. Rio de
Janeiro, 1977.

10.17
ANCORAGEM – CAPÍTULO 11

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo

06 maio 2016

ANCORAGEM

Ancoragem é a fixação da barra no concreto, para que ela possa ser


interrompida. A transferência de esforços entre aço e concreto e a
compatibilidade de deformações entre eles são fundamentais para a existência
do concreto armado. Isto só é possível por causa da aderência.
Aderência (bond, em inglês) é a propriedade que impede que haja
escorregamento de uma barra em relação ao concreto que a envolve. É,
portanto, responsável pela solidariedade entre o aço e o concreto, fazendo com
que esses dois materiais trabalhem em conjunto.
Na ancoragem por aderência, deve ser previsto um comprimento
suficiente para que o esforço da barra (de tração ou de compressão) seja
transferido para o concreto. Ele é denominado comprimento de ancoragem.
Além disso, em peças nas quais é necessário fazer emendas nas barras,
por razões construtivas ou pelo grande comprimento da peça, também se deve
garantir um comprimento suficiente para que os esforços sejam transferidos de
uma barra para outra. Isto também é possível graças à aderência entre o aço e
o concreto.

1 TIPOS DE ADERÊNCIA
Esquematicamente, a aderência pode ser decomposta em três parcelas:
adesão, atrito e aderência mecânica. Essas parcelas decorrem de diferentes
fenômenos que intervêm na ligação dos dois materiais.

1.1 Aderência por Adesão


A aderência por adesão caracteriza-se por uma resistência à separação
dos dois materiais. Ocorre em função de ligações físico-químicas na interface
das barras com a pasta, geradas durante as reações de pega do cimento. Para
pequenos deslocamentos relativos entre a barra e a massa de concreto que a
envolve, essa ligação é destruída.
A Figura 1 mostra um bloco de concreto moldado sobre uma placa de
aço. A ligação entre os dois materiais se dá por adesão. Para separá-los, há
necessidade de se aplicar uma ação representada pela força Fb1. Se a força
fosse aplicada na horizontal, não se conseguiria dissociar a adesão do
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

comportamento relativo ao atrito. No entanto, a adesão existe independente da


direção da força aplicada.

Figura 1 – Aderência por adesão

1.2 Aderência por Atrito


Por meio do arrancamento de uma barra em um bloco concreto (Figura
2), verifica-se que a força de arrancamento Fb2 é maior do que a força Fb1
mobilizada pela adesão. Esse acréscimo é devido ao atrito entre a barra e o
concreto.

Figura 2 – Aderência por atrito

O atrito manifesta-se quando há tendência ao deslocamento relativo entre


os materiais. Depende da rugosidade superficial da barra e da pressão
transversal , exercida pelo concreto sobre a barra, em virtude da retração
(Figura 2). Em barras curvas ou em regiões de apoio de vigas em pilares,
aparecem acréscimos dessas pressões de contato que favorecem a aderência
por atrito.

11.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

O coeficiente de atrito entre aço e concreto é alto, em função da


rugosidade da superfície das barras, resultando valores entre 0,3 e 0,6
(LEONHARDT, 1977).
Na Figura 2, a oposição à ação Fb2 é constituída pela resultante das
tensões de aderência (b) distribuídas ao longo da barra.

1.3 Aderência Mecânica


A aderência mecânica é devida à conformação superficial das barras. Nas
barras de alta aderência (Figura 3), as saliências mobilizam forças localizadas,
aumentando significativamente a aderência.

Figura 3 – Aderência mecânica em barras nervuradas

A Figura 4 (LEONHARDT, 1977) mostra que mesmo uma barra lisa pode
apresentar aderência mecânica, em função da rugosidade superficial, devida à
corrosão do aço e ao processo de fabricação da barra, gerando irregularidades
na superfície. Para efeito de comparação, são apresentadas superfícies
microscópicas de: barra enferrujada, barra recém-laminada e fio de aço obtido
por laminação a quente e posterior encruamento a frio por estiramento. Nota-se
que essas superfícies estão muito longe de serem efetivamente lisas.
Portanto, a separação da aderência nas três parcelas (adesão, atrito e
aderência mecânica) é apenas esquemática, pois não é possível quantificar
isoladamente cada uma delas.

Figura 4 – Rugosidade superficial de barras e fios lisos (LEONHARDT, 1977)

11.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

2 TENSÃO DE ADERÊNCIA
Para uma barra de aço imersa em uma peça de concreto, como a
indicada na Figura 5, a tensão média de aderência é dada por:

Figura 5 – Tensão de aderência

Rs
b 
  b
Rs é a força atuante na barra;
 é o diâmetro da barra;
b é o comprimento de ancoragem.

A tensão de aderência depende de diversos fatores, entre os quais:


 Rugosidade da barra;
 Posição da barra durante a concretagem;
 Diâmetro da barra;
 Resistência do concreto;
 Retração;
 Adensamento;
 Porosidade do concreto etc.

Alguns desses aspectos serão considerados na sequência deste texto.

3 SITUAÇÕES DE ADERÊNCIA
Na concretagem de uma peça, tanto no lançamento como no
adensamento, o envolvimento da barra pelo concreto é influenciado pela
inclinação dessa barra. Sua inclinação interfere, portanto, nas condições de
aderência.

11.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

Por causa disso, a ABNT NBR 6118:2014 considera em boa situação


quanto à aderência os trechos das barras que estejam com inclinação maior
que 45º em relação à horizontal (Figura 6a).

FIGURA 6 – Situações de boa e de má aderência (PROMON, 1976)

As condições de aderência são influenciadas por mais dois aspectos:

 Altura da camada de concreto sobre a barra, cujo peso favorece o


adensamento, melhorando as condições de aderência;

 Nível da barra em relação ao fundo da forma; a exsudação produz


porosidade no concreto, que é mais intensa nas camadas mais altas,
prejudicando a aderência.

Essas duas condições fazem com que a ABNT NBR 6118:2014 considere
em boa situação quanto à aderência os trechos das barras que estejam em
posição horizontal ou com inclinação menor que 45º, desde que:

11.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

 para elementos estruturais com h < 60 cm, localizados no máximo 30 cm


acima da face inferior do elemento ou da junta de concretagem mais
próxima (Figuras 6b e 6c);
 para elementos estruturais com h  60 cm, localizados no mínimo 30 cm
abaixo da face superior do elemento ou da junta de concretagem mais
próxima (Figura 6d).
Em outras posições e quando forem usadas formas deslizantes, os
trechos das barras devem ser considerados em má situação quanto à
aderência.
No caso de lajes e vigas concretadas simultaneamente, as barras na
parte inferior da viga podem estar em uma região de boa aderência e na parte
superior, em região de má aderência.
Se a laje tiver espessura menor do que 30 cm, as barras estarão em uma
região de boa aderência.
Sugerem-se, então, as indicações das Figuras 6e e 6f para determinação
das condições de aderência.

4 RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA
A resistência de aderência de cálculo entre armadura e concreto é dada
pela expressão (ABNT NBR 6118:2014, item 9.3.2.1):
f bd  1  2  3  f ctd

1,0 para barras lisas



1  1,4 para barras entalhadas
2 ,25 para barras nervuradas

1,0 para situações de boa aderência


2  
0,7 para situações de má aderência

1,0 para   32 mm
3  
(132   ) / 100 para   32 mm
O valor fctd é dado por (item 8.2.5 da ABNT NBR 6118:2014):
f ctk,inf
f ctd  com f ctk, inf  0,7 f ct, m
c
f ct, m  0,3 f ck2 / 3 para concretos até C50
f ct,m  2,12 n (1  0,11 f ck ) para concretos C55 até C90
sendo fct,m e fck expressos em megapascals (MPa).

11.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

5 ANCORAGEM DAS ARMADURAS


As prescrições ora indicadas sobre ancoragem das armaduras são dadas
no item 9.4 da ABNT NBR 6118:2014.
Todas as barras das armaduras devem ser ancoradas de forma que as
forças a que estejam integralmente sejam integralmente transmitidas ao
concreto, por meio de aderência, de dispositivos mecânicos ou por combinação
de ambos.
Na ancoragem por aderência, os esforços são ancorados por meio de um
comprimento reto ou com grande raio de curvatura, seguido ou não de gancho.
Com exceção das regiões situadas sobre apoios diretos, as ancoragens
por aderência devem ser confinadas por armaduras transversais ou pelo
próprio concreto, considerando-se este caso quando o cobrimento da barra
ancorada for maior ou igual a 3 e a distância entre as barras ancoradas
também for maior ou igual a 3.
Nas regiões sobre apoios diretos, não é necessária armadura de
confinamento, pois a pressão do concreto sobre a barra aumenta da aderência
por atrito.

5.1 Comprimento de Ancoragem Básico


No item 9.4.2.4 da ABNT NBR 6118:2014, define-se comprimento de
ancoragem básico b (Figura 5) como o comprimento reto necessário para
ancorar a força limite FSd = As fyd, admitindo-se, ao longo desse comprimento,
resistência de aderência uniforme e igual a fbd, obtida de acordo com o item 4.
O comprimento de ancoragem básico b é obtido igualando-se a força
última de aderência b  fbd com o esforço na barra FSd = As fyd (ver Figura 5):

b   fbd = s fyd
 2
Como As  , obtém-se:
4
 f yd
b  , com  b  25
4 fbd

De maneira simplificada, pode-se dizer que, a partir do ponto em que a


barra não seja mais necessária, basta assegurar a existência de um
comprimento suplementar b que garanta a transferência das tensões da barra
para o concreto.

11.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

5.2 Comprimento de Ancoragem Necessário


Nos casos em que a área efetiva da armadura s,ef for maior que a área
calculada As,calc, a tensão nas barras diminui e, portanto, o comprimento de
ancoragem pode ser reduzido na mesma proporção. A presença de gancho na
extremidade da barra também permite a redução do comprimento de
ancoragem.
Com base nessas duas condições, o comprimento de ancoragem
necessário pode ser calculado por (item 9.4.2.5 da ABNT NBR 6118:2014):
As ,calc
 b ,nec   .  b    b,mín
As ,ef

1,0 para barras sem gancho


0,7 para barras tracionadas com gancho , com cobrimento no plano normal ao

 gancho  3
 
0,7 quando houver barras transversais soldadas
 0,5 quando houver barras transversais soldadas e gancho com cobrimento no

 plano normal ao do gancho  3

b é o comprimento de ancoragem básico, calculado conforme o item 5.1;


b,min é o comprimento de ancoragem mínimo, maior valor entre 0,3b, 10 e
100 mm.

As barras transversais soldadas devem atender as prescrições do item


9.4.2.2 da ABNT NBR 6118:2014.

5.3 Ancoragem de Barras Comprimidas


Nas estruturas usuais de concreto armado, pode ser necessário ancorar
barras compridas, nos seguintes casos:

 em vigas – quando há barras longitudinais compridas (armadura dupla);


 em pilares – nas regiões de emendas, no nível dos andares ou da
fundação.

As barras exclusivamente compridas ou que tenham alternância de


solicitações (tração e compressão) devem ser ancoradas em trecho reto, sem
gancho (Figura 7). A presença do gancho gera concentração de tensões, que
pode levar ao fendilhamento do concreto ou à instabilidade da barra.
Em termos de comportamento, a ancoragem de barras comprimidas e a
de barras tracionadas são diferentes em dois aspectos. Primeiramente, por
11.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

estar comprimido na região da ancoragem, o concreto apresenta maior


integridade (está menos fissurado) do que se estivesse tracionado, e poderiam
ser admitidos comprimentos de ancoragem menores.
Um segundo aspecto é o efeito de ponta, como pode ser observado na
Figura 7. Esse fator é bastante reduzido com o tempo, pelo efeito da fluência
do concreto. Na prática, esses dois fatores são desprezados.
Portanto, os comprimentos de ancoragem de barras comprimidas são
calculados como os das tracionadas. Porém, nas comprimidas não se usa
gancho.
No cálculo do comprimento de traspasse 0c de barras comprimidas,
adota-se a seguinte expressão (ABNT NBR 6118:2014, item 9.5.2.3):
 0 c   b ,nec   0 c , mín

0c,mín é o maior valor entre 0,6 b , 15  e 200 mm.

Figura 7 – Ancoragem de barras comprimidas (FUSCO, 1975)

6 ANCORAGEM NOS APOIOS


De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, item 18.3.2.4, os esforços de
tração junto aos apoios de vigas simples ou contínuas devem ser resistidos por
armaduras longitudinais que satisfaçam a mais severa das seguintes
condições:

a) no caso de ocorrência de momentos positivos, as armaduras obtidas


através do dimensionamento da seção;

11.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

b) em apoios extremos, para garantir ancoragem da diagonal de


compressão, armaduras capazes de resistir a uma força de tração
a 
FSd      Vd  N d (4)
d 
na qual Vd é a força cortante no apoio e Nd é a força de tração eventualmente
existente." A área de aço, neste caso, é calculada pela equação:
FSd
As,calc 
f yd
c) em apoios extremos e intermediários, por prolongamento de uma parte
da armadura de tração do vão (As,vão), correspondente ao máximo momento
positivo do tramo (Mvão), de modo que:

As,apoio  1/3 (As,vão) se Mapoio ≤ 0 e de valor absoluto |Mapoio|  0,5 Mvão;


As,apoio  1/4 (As,vão) se Mapoio 0 e de valor absoluto |Mapoio|  0,5 Mvão.

6.1 Comprimento Mínimo de Ancoragem em Apoios Extremos


Em apoios extremos, para os casos (b) e (c) anteriores, a ABNT NBR
6118:2014 (item 18.3.2.4.1) prescreve que as barras devem ser ancoradas a
partir da face do apoio, com comprimento mínimo dado por:

 b ,nec conforme o item 5.2



 be ,mín  (r  5,5 ) sendo r o raio interno de curvatura do gancho (Tabela 1)
60 mm

Desta forma, pode-se determinar o comprimento mínimo necessário do
apoio:

t min   be ,min  c
c é o cobrimento da armadura (Figuras 8a e 8b).

A ABNT NBR 6118:2014, ainda no item 18.3.2.4.1, estabelece que


quando houver cobrimento da barra no trecho do gancho, medido normalmente
ao plano do gancho, de pelo menos 70 mm, e as ações acidentais não
ocorrerem com grande frequência com seu valor máximo, o primeiro dos três
valores anteriores pode ser desconsiderado, prevalecendo as duas condições
restantes.

11.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

a) Barra com ponta reta b) Barra com gancho


Figura 8 – Ancoragem no apoio

6.2 Esforço a Ancorar e Armadura Calculada


Na flexão simples, o esforço a ancorar é dado por:
a 
FSd     Vd
d 
Vd é a força cortante no apoio.
A armadura para resistir esse esforço, com tensão s = fyd, é dada por:
FSd
As,calc 
f yd

6.3 Armadura Necessária em Apoios Extremos


Na expressão do comprimento de ancoragem necessário (item 5.2),
As ,calc
 b, nec    b
As ,ef
Impondo-se  b ,nec   b ,disp e As ,ef  As ,nec , obtém-se:

 b
As ,nec  As,calc
 b,disp
A área das barras ancoradas no apoio não pode ser inferior a As,nec.

7 ANCORAGEM FORA DE APOIO


Algumas barras longitudinais podem ser interrompidas antes dos apoios.
Para determinar o ponto de início de ancoragem dessas barras, há
necessidade de se deslocar, de um comprimento a (decalagem), o diagrama
de força no banzo tracionado.

11.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

7.1 Deslocamento a do Diagrama

O valor do deslocamento a é dado por (item 17.4.2.2c da ABNT NBR


6118:2014).
Quando a armadura longitudinal de tração for determinada através do
equilíbrio de esforços na seção normal ao eixo do elemento estrutural, os
efeitos provocados pela fissuração oblíqua podem ser substituídos no cálculo
pela decalagem do diagrama de força no banzo tracionado, dada pela
expressão:

 VSd ,max 
a  d    (1  cot g )  cot g   d
 2  (VSd ,max  Vc ) 
onde
a  d , para |VSd,máx| ≤ |Vc|

0,5d , no caso geral;


a  
0,2d , para estribos inclinados a 45º.
Essa decalagem pode ser substituída, aproximadamente, pela
correspondente decalagem do diagrama de momentos fletores.
O ângulo  é a inclinação da armadura transversal em relação ao eixo
longitudinal da peça (45    90). O valor de Vc para flexão simples, flexo-
tração com a linha neutra cortando a seção ou para flexo-compressão em vigas
não protendidas é dado por:
Vc = Vco = 0,6 fctd bw d

Vale ressaltar que, nos casos usuais, em que a armadura transversal


(estribos) é normal ao eixo da peça,  = 90o e a expressão de a resulta:

 VSd ,max 
0,5d  a  d   d
 2  (VSd ,max  Vc ) 
O deslocamento a é fundamentado no comportamento previsto para a
resistência da viga à força cortante, em que se considera que a viga funcione
como uma treliça, com banzo comprimido e diagonais comprimidas (bielas)
formadas pelo concreto, e banzo tracionado e montantes tracionados
constituídos, respectivamente, pela armadura longitudinal e pelos estribos.
Nesse modelo há um acréscimo de esforço na armadura longitudinal de tração,
que é considerado através de um deslocamento a do diagrama de momentos
fletores de cálculo.

11.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

7.2 Trecho de Ancoragem


Apresentam-se as prescrições do item 18.3.2.3.1 da ABNT NBR
6118:2014 para ancoragem por aderência de armaduras de tração na flexão
simples.
O trecho da extremidade da barra de tração, considerado como de
ancoragem, tem início na seção teórica em que sua tensão s começa a
diminuir, ou seja, a força de tração na barra começa a ser transferida para o
concreto.
A barra deve prolongar-se pelo menos 10 além do ponto teórico de
tensão s nula, não podendo, em caso algum, ser inferior ao comprimento de
ancoragem necessário calculado conforme o item 5.2 deste texto.
Assim, na armadura longitudinal de tração dos elementos estruturais
solicitados por flexão simples, o trecho de ancoragem da barra terá início no
ponto A (Figura 9) do diagrama de forças RSd = Md/z, decalado do
comprimento aℓ, conforme o item 7.1 deste texto.
Se a barra não for dobrada, o trecho de ancoragem deve prolongar-se
além de B, no mínimo 10 (ver Figura 9).
Se a barra for dobrada, o início do dobramento poderá coincidir com o
ponto B. Atualmente é raro o emprego de barras dobradas.

Figura 9 – Cobertura do diagrama de força de tração solicitante pelo diagrama


resistente
11.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

7.3 Ancoragem em Apoios Intermediários


Se o ponto A de início de ancoragem estiver na face do apoio, ou além dela
(Figura 10a), e a força FSd diminuir em direção ao centro do apoio, o trecho de
ancoragem deve ser medido a partir dessa face, com a força FSd dada no item
6.2.
Quando o diagrama de momentos fletores de cálculo não atingir a face do
apoio, as barras prolongadas até o apoio (Figura 10b) devem ter o
comprimento de ancoragem marcado a partir do ponto A e, obrigatoriamente,
deve ultrapassar 10 da face de apoio.
Quando houver qualquer possibilidade da ocorrência de momentos
positivos nessa região, provocados por situações imprevistas, particularmente
por efeitos de vento e eventuais recalques, as barras deverão ser contínuas ou
emendadas sobre o apoio.

Figura 10 – Ancoragem em apoios intermediários

8 GANCHOS DAS ARMADURAS DE TRAÇÃO


Os ganchos das extremidades das barras da armadura longitudinal de
tração podem ser (item 9.4.2.3 da ABNT NBR 6118:2014):
 semicirculares, com ponta reta de comprimento não inferior a 2 
(Figura 11a);
 em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento não inferior a
4  (Figura 11b);
 em ângulo reto, com ponta reta de comprimento não inferior a 8 
(Figura 11c).
11.14
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

Para barras lisas, os ganchos devem ser semicirculares.

(a) (b) (c)

Figura 11 – Tipos de ganchos

Ainda segundo a ABNT NBR 6118:2014, o diâmetro interno da curvatura


dos ganchos das armaduras longitudinais de tração deve ser pelo menos igual
ao estabelecido na Tabela 1 (Tabela 9.1 da Norma).

Tabela 1 – Diâmetros dos pinos de dobramento

BITOLA CA - 25 CA - 50 CA - 60
(mm)

 < 20 4 5 6

  20 5 8 -

9 GANCHOS DOS ESTRIBOS


A ABNT NBR 6118:2014, item 9.4.6, estabelece que a ancoragem dos
estribos deve necessariamente ser garantida por meio de ganchos ou barras
longitudinais soldadas. Os ganchos dos estribos podem ser:

 semicirculares ou em ângulo de 45o (interno), com ponta reta de


comprimento igual a 5 t, porém não inferior a 5 cm;
 em ângulo reto, com ponta reta de comprimento maior ou igual a 10 t,
porém não inferior a 7 cm (este tipo de gancho não deve ser utilizado para
barras e fios lisos).

11.15
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

O diâmetro interno da curvatura dos estribos deve ser, no mínimo, igual ao


valor dado na Tabela 2 (Tabela 9.2 da Norma).

Tabela 2 – Diâmetros dos pinos de dobramento para estribos

BITOLA (mm) CA - 25 CA - 50 CA - 60

t  10 3 t 3 t 3 t

10 < t < 20 4 t 5 t -

t  20 5 t 8 t -

10 EXEMPLOS DE CÁLCULO DO COMPRIMENTO DE ANCORAGEM


Apresentam-se dois exemplos, um para concreto C30 e outro para C70.

10.1 Exemplo 1
Calcular o comprimento de ancoragem em situação de boa e má
aderência, sem e com gancho. Dados: concreto C30, aço CA-50 (nervurado),
 16 mm.

a) Cálculo de fctd
Para concreto de classe até C50, fctd é dado por (item 4):
2/ 3
0,7  0,3  f ck 0,21  302 / 3
f ctd    1,448 MPa
c 1,4

b) Resistência de aderência
Para boa aderência, sem gancho, a resistência de aderência é dada por
(item 4):
f bd  1   2   3  f ctd  2,25  1,0  1,0  1,448 = 3,259 MPa

c) Boa aderência, sem gancho


Para boa aderência, sem gancho, o comprimento de ancoragem básico é
dado por (item 5.1):
 f yd 1,6 500 / 1,15
lb    25 
 lb    53 cm  25  1,6  40 cm 
 OK
4 fbd 4 3,259

11.16
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

Portanto:
lb  53 cm (boa aderência, sem gancho)

d) Boa aderência, com gancho


De acordo com o item 5.2, o valor anterior deve ser multiplicado por
 = 0,7 (efeito do gancho), resultando:
lb  37 cm (boa aderência, com gancho)

e) Má aderência, sem gancho

No cálculo de f bd (item b deste exemplo), para má aderência, deve-se


considerar  2  0,7 :
f bd  1   2   3  f ctd  2,25  0,7  1,0  1,448 = 2,281 MPa
 f yd 1,6 500 / 1,15
lb    25 
 lb    76 cm  25  1,6  40 cm 
 OK
4 f bd 4 2,281
Portanto:
l b  76 cm (má aderência, sem gancho)

Este valor também poderia ser obtido, simplesmente, dividindo o do item c


(53 cm) por 0,7.

f) Má aderência, com gancho


Conforme o item 5.2, o valor anterior deve ser multiplicado por  = 0,7
(efeito do gancho), resultando:
lb  53 cm (má aderência, com gancho)

10.2 Exemplo 2
Idem exemplo anterior para concreto C70.

a) Cálculo de fctd
Para concreto de classe superior a C50, fctd é dado por:

0,7  2,12  n ( 1  0,11 fck ) 0,7  2,12  n ( 1  0,11 70 )


fctd    2,293
c 1,4

11.17
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

b) Resistência de aderência
Para boa aderência, sem gancho, a resistência de aderência é dada por
(item 4):
f bd  1  2  3  f ctd  2,25  1,0  1,0  2,293 = 5,160 MPa

c) Boa aderência, sem gancho


Para boa aderência, sem gancho, o comprimento de ancoragem básico é
dado por (item 5.1):

 f yd 1,6 500 / 1,15


lb    25 
 lb    34 cm
4 f bd 4 5,160
Este valor deve ser pelo menos igual a 25  = 25 . 1,6 = 40 cm.
Portanto:
lb  40 cm (boa aderência, sem gancho)

d) Boa aderência, com gancho


De acordo com o item 5.2, o valor anterior deve ser multiplicado por
 = 0,7 (efeito do gancho), resultando:
lb  28 cm (boa aderência, com gancho)

e) Má aderência, sem gancho

No cálculo de f bd (item b deste exemplo), para má aderência, deve-se


considerar  2  0,7 :
f bd  1   2   3  f ctd  2,25  0,7  1,0  2,293 = 3,612 MPa
 f yd 1,6 500 / 1,15
lb    25 
 lb    48 cm  25  1,6  40 cm 
 OK
4 fbd 4 3,612
Portanto:
lb  48 cm (má aderência, sem gancho)

g) Má aderência, com gancho


Conforme o item 5.2, o valor anterior deve ser multiplicado por  = 0,7
(efeito do gancho), resultando:
lb  34 cm (má aderência, com gancho)

11.18
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

QUESTIONÁRIO

1. O que é ancoragem por aderência?


2. Quais as parcelas da aderência e quais as causas delas?
3. Por que existem situações de boa e de má aderência? Quais as causas?
4. Como se determina o comprimento para ancoragem de uma barra?
5. Como se pode reduzir o comprimento de ancoragem?
6. Para estribos a 90º, segundo a ABNT NBR 6118:2014, como se determina
o deslocamento a?

7. Como se determinam os pontos de início de ancoragem e de interrupção


de uma barra?
8. Qual a dimensão mínima do apoio, para ancoragem das barras que
chegam até o apoio?
9. Como se determina o esforço nas barras para verificação da ancoragem
em apoios estreitos?
10. Como se determina o número de barras que devem ser prolongadas até o
apoio?
11. Quando no apoio não for possível a ancoragem das barras utilizadas, quais
as providências que podem ser adotadas?
12. Como este questionário pode ser complementado, com base nos demais
conceitos apresentados neste texto?

AGRADECIMENTOS

Aos colaboradores na redação e na revisão deste texto:

Marcos Vinícius Natal Moreira,


Matheus Bueno Quirino,
Murilo Alessandro Scadelai e
Sandro Pinheiro Santos.

11.19
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2014). NBR 6118 –
Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro, ABNT.
FUSCO, P.B. (1975). Fundamentos da técnica de armar: estruturas de
concreto. v.3. São Paulo, Grêmio Politécnico.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. (1977). Construções de concreto: princípios
básicos do dimensionamento de estruturas de concreto armado. v.1. Rio de
Janeiro, Interciência.
PROMON ENGENHARIA (1976). Tabelas para dimensionamento de concreto
armado: segundo a NB-1/76. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 269p.

11.20
VIGAS – CAPÍTULO 12

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos

15 de maio de 2016

VIGAS

Vigas são “elementos lineares em que a flexão é preponderante”


(ABNT NBR 6118: 2014, item 14.4.1.1). Portanto, os esforços predominantes são:
momento fletor e força cortante.
Nos edifícios, em geral, as vigas recebem cargas de lajes e de paredes,
conduzindo-as até os pilares.
Como neste capítulo o efeito do vento não será considerado, as vigas serão
dimensionadas para resistir apenas às ações verticais.

1 DADOS INICIAIS

A primeira etapa do projeto das vigas consiste em identificar os dados iniciais.


Entre eles incluem-se:
 classe do concreto e do aço e seu cobrimento;
 forma estrutural do andar, com os nomes das vigas e as dimensões preliminares
em planta;
 distância até o piso do andar superior;
 reações de apoio das lajes;
 cargas de parede por metro quadrado.

Em seguida, devem ser considerados: esquema estático, vãos e dimensões das


seções transversais.

1.1 Vinculação
No início deste cálculo simplificado, as vigas serão admitidas simplesmente
apoiadas nos pilares. Posteriormente, serão consideradas suas ligações com os
pilares de extremidade.

1.2 Vão livre e vão efetivo

Vão livre (ℓ0) é a distância entre as faces dos apoios (Figura 1). O vão efetivo
(ℓef), também conhecido como vão teórico (ℓ), pode ser calculado por:

ℓ = ℓ0 + a1 + a2
com a1 igual ao menor valor entre t1/2 e 0,3h e a2 obtido com o mesmo critério (ABNT
NBR 6118: 2014, item 14.6.2.4).
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

No entanto, quando os comprimentos dos apoios não forem muito grandes, é


usual considerar ℓ igual à distância entre seus eixos, ou seja, a1 = t1/2 e a2 = t2/2.
Nas vigas em balanço, vão livre é a distância entre a extremidade livre e a face
externa do apoio, e o vão teórico pode ser considerado até o centro do apoio.

Figura 1 – Vão livre e vão efetivo (Adaptada da ABNT NBR 6118:2014)

1.3 Pré-dimensionamento
As vigas não devem apresentar largura menor que 12 cm. Esse limite pode ser
reduzido, respeitando-se um mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais, sendo
obrigatoriamente respeitadas as condições da ABNT NBR 6118:2014, item 13.2.2:
 alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros
elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e coberturas estabelecidos
nesta Norma;
 lançamento e vibração do concreto de acordo com a ABNT NBR 14931.

Em edifícios, geralmente essas condições são adequadamente respeitadas


quando se adota largura mínima de 14 cm. Sempre que possível, a largura das vigas
deve ser adotada de maneira que elas fiquem embutidas nas paredes.
Porém, nos casos de grandes vãos ou de tramos muito carregados, pode ser
necessário adotar larguras maiores. Nesses casos, procura-se atenuar o impacto na
arquitetura do edifício.
Uma estimativa grosseira para a altura das vigas pode ser dada por:

 tramos intermediários: hest = ℓ0/12


 tramos extremos ou vigas biapoiadas: hest = ℓ0/10
 balanços: hest = ℓ0/5
12.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

As vigas não podem invadir os espaços de portas e de janelas. Nas estruturas


de edifícios, em geral se considera a abertura de portas com 2,20 m de altura.
Para simplificar o cimbramento, procura-se padronizar as alturas das vigas. Não
é usual adotar mais que duas alturas diferentes. Tal procedimento pode,
eventualmente, gerar a necessidade de armadura dupla, em alguns trechos.
Os tramos mais carregados, e principalmente os de maiores vãos, devem ter
suas flechas verificadas posteriormente, ainda na fase de projeto.

2 AÇÕES

Em geral, as cargas nas vigas são: peso próprio, reações de apoio das lajes e
peso de paredes. Eventualmente, as vigas podem receber cargas de outras vigas.
As vigas podem, também, receber cargas de pilares, nos casos de vigas de
transição ou vigas de fundação.
Com exceção das cargas provenientes de outras vigas ou de pilares, que são
concentradas, as demais podem ser admitidas uniformemente distribuídas.

2.1 Peso próprio

Com base no item 8.2.2 da ABNT NBR 6118:2014, na avaliação do peso próprio
de peças de concreto armado, pode ser adotada a massa específica (c) 2500 kg/m3.

2.2 Reações das lajes

No cálculo das reações das lajes e de outras vigas, é recomendável discriminar


as parcelas referentes às ações permanentes e às ações variáveis, para que se
possam estabelecer as combinações das ações, inclusive nas verificações de abertura
de fissuras e de deformações excessivas (flechas).

2.3 Peso de paredes

No cômputo do peso das paredes, em geral nenhum desconto é feito para vãos
de portas e de janelas de pequenas dimensões.
Essa redução pode ser feita quando a área de portas e janelas for maior do que
1/3 da área total, devendo-se, nesse caso, incluir o peso dos caixilhos, vidros etc.
Os pesos específicos dos materiais que compõem as paredes podem ser obtidos
na “Tabela 8 – Peso específico dos materiais de construção”, que se encontra no
capítulo sobre “Lajes Maciças”.

12.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

3 ESFORÇOS
Nas estruturas usuais de edifícios, para o estudo das ações verticais, as vigas
podem ser admitidas simplesmente apoiadas nos pilares, observando-se a
necessidade das correções indicadas no item 14.6.6.1 da ABNT NBR 6118:2014,
reproduzidas no item 3.1 deste texto.
Versões anteriores dessa norma indicavam que, se a carga variável fosse no
máximo igual a 20% da carga total, a análise estrutural poderia ser realizada sem a
consideração da alternância de cargas. Essa indicação não consta mais da versão
atual (ABNT NBR 6118:2014), mas pode ser útil quando se deseja fazer um cálculo
simplificado. Mais detalhes serão vistos na sequência, no item 3.2.

3.1 Correções adicionais para vigas simplesmente apoiadas nos pilares


A ABNT NBR 6118:2014, no item 14.6.6.1, indica que pode ser utilizado o
modelo clássico de viga contínua, simplesmente apoiada nos pilares, para o estudo
das cargas verticais, observando-se a necessidade das seguintes correções
adicionais:
a) não podem ser considerados momentos positivos menores que os que se
obteriam se houvesse engastamento perfeito da viga nos apoios internos;
b) quando a viga for solidária com o pilar intermediário e a largura do apoio, medida
na direção do eixo da viga, for maior que a quarta parte da altura do pilar, não
pode ser considerado momento negativo de valor absoluto menor do que o de
engastamento perfeito nesse apoio;
c) quando não for realizado o cálculo exato da influência da solidariedade dos
pilares com a viga, deve ser considerado, nos apoios externos, momento fletor
igual ao momento de engastamento perfeito (Meng) multiplicado pelos
coeficientes estabelecidos nas seguintes relações:
r  rsup
M  Meng  inf
vig r  r  rsup
vig inf
I
r  rigidez do elemento, avaliada conforme indicado na

figura 14.8 da ABNT NBR 6118:2014;

inf, sup, vig  índices referentes ao pilar inferior, ao pilar superior e


à viga, respectivamente.
De modo mais simples, esses índices podem ser indicados por i, s, v. A
indicação das rigidezes resultaria: rv, ri, rs.

3.2 Carga acidental maior que 20% da carga total


No cálculo de uma viga contínua com carga uniforme, para se determinar a
combinação de carregamento mais desfavorável para uma seção, deve-se considerar,
em cada tramo, que a carga variável atue com valor integral ou com valor nulo.
12.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Na verdade, devem ser consideradas pelo menos três combinações de


carregamento: (a) todos os tramos totalmente carregados, (b) tramos alternados
totalmente carregados ou com valor nulo da carga variável e (c) idem, alterando a
ordem dos carregamentos, isto é, os tramos totalmente carregados passam a ter carga
variável nula e vice-versa. Essas três situações devem ser consideradas quando a
carga variável for maior que 20% da carga total.
Mesmo assim, é prática comum, no projeto de edifícios usuais, considerar
apenas a primeira das três combinações citadas. Esse procedimento em geral não
compromete a segurança, dada a pequena magnitude das cargas variáveis nesses
edifícios, em relação à carga total.

4 VERIFICAÇÕES

Antes do cálculo das armaduras, é necessário verificar se a seção transversal é


suficiente para resistir à flexão e ao cisalhamento.

4.1 Flexão

O momento fletor máximo na viga Md,máx deverá ser comparado com Md,lim,
relativo ao valor limite de x = x/d especificado em função das classes do concreto:
x = 0,45 para concretos até C50 (Md,lim = Md,0,45) e x = 0,35 (Md,lim = Md,0,35) para
concretos de classe C55 até C90. Considera-se que esses limites correspondem aos
máximos valores para os quais se pode usar armadura simples.
Esses limites referem-se a um dimensionamento com ductilidade, boas
condições econômicas e construtivas e situações também adequadas com relação aos
estados limites de serviço.
As comparações de Md,máx com Md,lim poderão ser feitas utilizando a Tabela 1.1
(PINHEIRO, 2016), por meio da fórmula nela indicada:
bd2
Md  ,
kc
Utiliza-se, para a classe do concreto em questão, os valores de k c relativos a
xlim (0,45 ou 0,35).
Pode-se usar armadura simples para Md,máx ≤ Md,lim. Se resultar Md,máx > Md,lim, a
seção deverá ser aumentada ou ser adotada armadura dupla. O emprego de seção T,
quando for possível, também é uma alternativa.

4.2 Cisalhamento

O cálculo será feito pelo Modelo de Cálculo I da ABNT NBR 6118:2014. Porém,
nada impede que ele seja feito pelo Modelo II.

12.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

A força cortante na face do apoio VSd,face, ou, a favor da segurança, VSd,eixo, deve
ser comparada com VRd2, valor relativo ao esmagamento da biela. Se resultar
VSd,face > VRd2, a seção, necessariamente, deverá ser aumentada.
De acordo com o item 17.4.2.2 da ABNT NBR 6118:2014, tem-se:
VRd2 = 0,27v2 fcd bw d
v2 = (1 – fck / 250) , fck em MPa ou v2 = (1 - fck / 25) , fck em kN/cm2
fcd  resistência de cálculo do concreto à compressão
bw  menor largura da seção, compreendida ao longo da altura útil
d  altura útil da seção, igual à distância da borda comprimida ao centro de
gravidade da armadura de tração

O estudo completo da ação da força cortante encontra-se no capítulo sobre


“Cisalhamento em Vigas”.

5 CÁLCULO DAS ARMADURAS E OUTRAS VERIFICAÇÕES

O cálculo das armaduras é feito a partir dos diagramas de esforços, já com seus
valores de cálculo (ver Figura 3: memória resumida).
As armaduras longitudinais e transversais são calculadas, respectivamente, das
maneiras indicadas nos capítulos sobre “Flexão Simples na Ruína: Tabelas para
Seção Retangular” e “Cisalhamento em Vigas”.
As verificações de ancoragem nos apoios e o estudo dos estados limites de
serviço encontram-se, respectivamente, nos capítulos sobre “Aderência e Ancoragem”
e “Estados Limites de Serviço”.
Exemplos desses cálculos são apresentados no item 7.

6 REAÇÕES DE APOIO TOTAIS


Calculadas as reações de apoio de todas as vigas do andar, pode ser elaborado
um esquema do tabuleiro, com as reações em cada pilar, discriminando-se as
parcelas referentes a cada viga e indicando-se os valores totais. Estes serão somados
às ações provenientes dos demais andares para se efetuar o dimensionamento de
cada tramo dos pilares.

7 EXEMPLO DE VIGA BIAPOIADA


Apresenta-se o projeto da viga V1, apoiada nas vigas V2 e V3 (Figura 2).

12.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Figura 2 – Forma da viga biapoiada

Recomenda-se elaborar uma memória resumida, como a indicada na Figura 3, o


que facilita o trabalho do autor do projeto e de outros que precisem utilizar essa
memória de cálculo, como, por exemplo, em trabalhos de verificação.
Essa memória resumida deve conter as informações essenciais para o projeto e
os principais resultados obtidos, entre os quais:
 nome da viga e dimensões da seção transversal (em cm);
 classe do concreto e do aço e cobrimento nominal c da armadura (em cm);
 valores de referência para cálculo de flexão – Md,0,45 (em kN.m);
 valores de referência para cálculo de cisalhamento – VRd2 e VRd,vão (em kN);
 esquema estático com identificação dos apoios e seus comprimentos (em m);
 vão equivalente (em m);
 valores característicos das cargas parciais, relativas a peso próprio (pp), laje
superior (ℓ,sup, acima da viga, na planta), laje inferior (ℓ,inf, abaixo da viga, na
planta), parede (par) etc., e totais (p), com destaque para as cargas variáveis (q)
(todas em kN/m);
 esforços característicos Vk, Rk e Mk (unidades kN e m);
 diagramas de esforços de cálculo – Vd e Md (unidades kN e m);
 barras longitudinais (ℓ em mm) com seus comprimentos (em cm);
 estribos t (em mm), espaçamento e comprimento dos trechos com mesmo
espaçamento (em cm).

7.1 Dados iniciais


Os dados iniciais estão indicados na Figura 3 (dimensões em metros):
Nome da viga (V1); dimensões da seção (22 x 40) (em centímetros);
Classe do concreto (C25) e do aço (CA-50); cobrimento c = 2,5 (Classe I);
Esquema estático;
Dimensões dos apoios na direção do eixo da viga (0,22);
Vão teórico (4,10)
Nome dos apoios (V2 e V3).

12.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Observação – A Figura 3 está desatualizada. Precisa ser adaptada, nos seguintes


itens:

a) Dados acima do esquema estático

V1 (22x40) Md,0,45 = 126,0 kN.m


C25, CA-50, c = 2,5 VRd2 = 342,7 kN
VRd,vão = 100,7 kN (smáx)

b) Na carga da laje inferior

ℓ,inf 20,0 (4,3), colocar 15,0 (4,3)

c) No diagrama de Vd

Substituir Vdmín por Vd,vão e, no trecho de comprimento 69, colocar 61.

d) No final da figura, na indicação dos estribos

Substituir 73 por 61.

7.2 Ações
As cargas da viga, admitidas uniformes, são: peso próprio, reações das lajes e
peso de parede (Figura 3). As partes das reações de apoio das lajes, relativas às
cargas variáveis, são indicadas entre parênteses.
 pp = 0,22 x 0,40 x 25 = 2,2 kN/m
 ℓ,sup = 20,0 kN/m (5,7 kN/m), ℓ,inf = 15,0 kN/m (4,3 kN/m)
(valores obtidos no cálculo de lajes)
 par = 4,00 x 3,2 = 12,8 kN/m (4 m de parede, 3,2 kN/m2)
 carga total p = 50,0 kN/m; carga variável q = 10,0 kN/m

7.3 Esforços e diagramas


Numa viga biapoiada, o cálculo dos esforços é muito simples. Seus valores
característicos são (Figura 3):
Vk = pℓ / 2 = 50,0 x 4,10 / 2 = 102,5 kN

Mk = pℓ2 / 8 = 50,0 x 4,102 / 8 = 105,1 kN.m


Neste caso, as reações nos apoios V2 e V3 são iguais às forças cortantes nos
eixos dos apoios. Portanto, seus valores são: V2 = 102,5 kN e V3 = 102,5 kN.

12.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Figura 3 – Memória resumida

12.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Em seguida, são traçados os diagramas dos esforços de cálculo (Figura 3), cujos
valores máximos são:
Md,máx = f Mk = 1,4 . 105,1 = 147,1 kN.m
Vd,eixo = f Vk = 1,4 . 102,5 = 143,5 kN
Nas faces dos apoios tem-se:
Vd,face = Vd,eixo – pd . t / 2 = 143,5 - 1,4 . 50,0 . 0,22 / 2 = 135,8 kN

7.4 Altura útil d


Para a seção indicada na Figura 4, tem-se:
d’ = h – d = c + t + ℓ/2
O cobrimento é um dado inicial: c = 2,5 cm.
Para vigas com larguras da ordem de 20 cm ou maiores, pode-se admitir,
inicialmente t = 0,63 cm.
Em vigas de edifícios, os valores máximos de ℓ em geral não ultrapassam
16 mm ou 20 mm, respectivamente 1,6 cm e 2,0 cm. Considerado ℓ = 2 cm, resultam
os valores estimados:
d’ = 2,5 + 0,63 + 2,0/ 2 = 4,13  4,1 cm
d = h – d’  40 – 4,1 = 35,9 cm

Figura 4 – Seção transversal da viga

7.5 Verificação da seção


Inicialmente, a seção deverá ser verificada para flexão e cisalhamento.

a) Flexão
Utilizando a Tabela 1.1 (PINHEIRO, 2016), para C25, obtém-se:
bd2 22  35,9 2
M d , 0, 45 d    12602 kN .cm  126,0 kN .m
kc , 0, 45 d 2,25

12.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Md,máx = 147,1 kN.m > Md,0,45 = 126,0 kN.m → armadura dupla.

Com armadura dupla, resultaria a mesma armadura de tração e 2  10 mm de


armadura de compressão.
Mesmo sabendo que seria necessária armadura dupla, será dado
prosseguimento à elaboração do exemplo com armadura simples, até futura
atualização deste exemplo.

b) Cisalhamento
Para unidades kN e cm, tem-se:
 2,5  2,5
V Rd 2  0,27   v 2  f cd  bw  d  0,27  1    22  35,9  342,7 kN
 25  1,4
VSd,face = VSd,eixo – pd . t/2 = 143,5 – 1,4 . 50 . 0,22/2 = 135,8 kN

Portanto, VSd,face << VRd2 ➜ As bielas resistem, com folga!

7.6 Armadura longitudinal


Com base na Tabela 1.1 (PINHEIRO, 2016):

b  d 2 22  35,9 2
kc    k c  1,9  k s  0,030
Md 14710

k s  M d 0,030 14710
As    12,29 cm 2
d 35,9
Na Tabela 1.3a (PINHEIRO, 2016), obtém-se: 4  20 (12,57 cm2), que podem ser
alojadas em uma única camada, desde que o diâmetro máximo dos agregados
corresponda ao da brita 1 (diâmetro máximo de 19 mm).
As barras longitudinais de flexão estão indicadas na Figura 3. O cálculo dos
comprimentos das barras interrompidas antes dos apoios, denominado decalagem,
será visto no item 7.10.

7.7 Estribos

a) Contribuição do concreto Vc
Vc = 0,6 fctd b d
Itens 17.4.2.2 e 8.2.5 da NBR 6118:2014, com c = 1,4 e fck em MPa:

fctd = fctk,inf /c = 0,7 fct,m / c = 0,7. 0,3 fck2/3 /1,4 = 0,15 fck2/3

fctd = 0,15 . 252/3 = 1,2825 MPa = 0,12825 kN/cm2

12.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Vc = 0,6 fctd b d = 0,6 . 0,1282 . 22 . 35,9


Vc = 60,8 kN

b) Taxa mínimawmín
f
  0,2 ct, m
w, min f
ywk

fck em MPa i fct,m = 0,3 fck2/3 = 2,565 MPa = 0,2565 kN/cm2

0,2565
w,mín = 0,2 = 0,001026 = 0,1026%
50
Este valor também pode ser obtido no capítulo sobre “Cisalhamento em Vigas”,
na Tabela 1.

c) Diâmetro dos estribos (item 18.3.3.2 da NBR 6118:2014)

 t,mín  5 mm

 t,máx  0,1  b w  22 mm
Adotando-se t = 5 mm ou t = 6,3 mm, são satisfeitas as duas condições. Esses
diâmetros são os mais utilizados em vigas de edifícios. Como já foi citado, para vigas
com larguras da ordem de 20 cm ou maiores, são mais comuns os estribos de 6,3 mm.

d) Número de ramos (n) e espaçamento transversal dos estribos (st)


Em vigas usuais de edifícios, em geral são usados estribos de dois ramos (n = 2)
e esta verificação é desnecessária.
Constituem exceções as vigas com grande largura, como as vigas chatas (ou
vigas-faixa), e vigas muito carregadas, como algumas vigas de fundação, vigas de
transição etc., nas quais os estribos múltiplos podem ser necessários (n = 4, 6 etc.).
Nesses casos, deve ser feita a verificação do espaçamento transversal máximo
(st,máx) dos ramos dos estribos, como se indica a seguir.
Se VSd,face  0,20 VRd2, st,max = d  80 cm;
Se VSd,face > 0,20 VRd2, st,max = 0,6d  35 cm.

Para ilustrar o procedimento, neste exemplo tem-se:


VSd,face = 135,8 kN e VRd2 = 342,7 (item 7.4b)
Resulta VSd,face = 0,40 VRd2, ou seja, VSd,face > 0,20 VRd2 e:

st,máx = 0,6 . d = 0,6 . 35,9 ≅ 22 cm < 35 cm ➜ st,máx = 22 cm

12.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Como a viga tem b = 22 cm, a distância transversal entre os eixos dos ramos do
estribo não pode ultrapassar:
st = b – 2 (c + t/2) = 22 – 2 (2,5 + 0,63/2) = 16,4 cm < 22 cm.
Portanto, adota-se estribo de dois ramos, com st = 16,4 cm.

e) Espaçamento máximo longitudinal dos estribos (smáx)

Se VSd  0,67 VRd2, então smáx= 0,6 d  300 mm.


Se VSd > 0,67 VRd2, então smáx= 0,3 d  200 mm.
No item anterior verificou-se que VSd,face = 0,40 VRd2, ou seja,
VSd,face < 0,67 VRd2 ➜ smáx= 0,6 d  300 mm
É o que geralmente acontece. Portanto:
st,máx = 0,6 . d = 0,6 . 35,9 ≅ 22 cm < 30 cm ➜ st,máx = 22 cm
ou seja, no trecho central, uma possibilidade seria usar estribos  6,3 mm cada 22 cm,
ou seja,  6,3 c/ 22.

f) Taxa de armadura dos estribos com espaçamento máximo (w,smáx)

Na Tabela 1.4a (PINHEIRO, 2016), para  6,3 c/ 22 determina-se:

asw,smáx = 1,42 cm2/m, valor que corresponde a:

w,smáx = 2 (asw,smáx / b) = 2 . 1,42/22

w,smáx = 0,1291% > w,mín = 0,1026%

g) Área das barras dos estribos no trecho central do vão (asw,vão)

Entre w,mín = 0,1026% e w,smáx = 0,1291%, adota-se o maior valor.

Portanto: w,vão = 0,1291%, valor que corresponde a  6,3 c/ 22, de acordo com
o item anterior 7.6e, que corresponde a asw,smáx.

h) Força cortante resistente para os estribos do vão (VRd,vão)


VRd,vão = Vc + Vsw,vão, com Vc = 60,8 kN (item 7.6a).
Vsw,vão = w, vão . 0,9 fywd . bd

fywd = 43,5 kN/cm2


Vsw,vão = w,vão . 0,9 fywd . bd = 0,1291% x 0,9 x 43,5 x 22 x 35,9
Vsw,vão = 39,9 kN

12.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Resulta:
VRd,vão = Vc + Vsw,vão = 60,8 + 39,9
VRd,vão = 100,7 kN

i) Trecho de comprimento a com VSd,d/2 > VRd,vão


Força cortante a d/2 da face do apoio (item 17.4.1.2.1 da NBR 6118:2014):
VSd,d/2 = VSd,eixo - pd (t + d) / 2

Para pd = 70 kN/m, t = 0,22 m, d = 0,359 m, tem-se:


pd (t + d) / 2 = 70 (0,22 + 0,359)/2 = 20,3 kN

Resulta:

VSd,d/2 = 143,5 – 20,3 = 123,2 kN > VRd,vão = 100,7 kN


Portanto, há necessidade de calcular os estribos junto aos apoios, no trecho de
comprimento:

VSd ,eixo  VSd ,mín 143,5  100,7


a   0,61 m  61 cm
pd 70
j) Estribos junto aos apoios

Vsw  VSd,d / 2  Vc  123,2  60,8  62,4 kN

A sw Vsw 62,4
asw     0,0444cm2 / cm  4,44cm2 / m
s 0,9  d  fywd 0,9  35,9  43,5
a sw
 2,22 cm 2 / m (estribos de 2 ramos)
n
Pode-se adotar:
 6,3 c/ 14 (2,25 cm2/m)

7.8 Comprimento de ancoragem

O comprimento de ancoragem básico pode ser obtido na Tabela 1.5a ou na


Tabela 1.5b (PINHEIRO, 2016), como indicado nos itens a e b a seguir.
Pode ser obtido, também, em função da resistência de aderência, como se vê
nos itens c e d, com procedimento visto no capítulo sobre “Ancoragem”. De fato, foi
com esse procedimento que se construíram as tabelas 1.5a e 1.5b.

a) Tabela 1.5a

Nessa tabela, para C25, boa aderência, CA-50, sem gancho, tem-se:
ℓb = 38 = 38 . 2 = 76 cm
12.14
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

b) Tabela 1.5b

Na Tabela 1.5b, para as mesmas condições,  = 20 mm, tem-se:


ℓb = 75 cm
A diferença em relação ao valor anterior (76 cm) deve-se a erro de aproximação,
erro este que é menor na Tabela 1.5b.

c) Resistência de aderência

f bd   1   2   3  f ctd

1  2,25 (CA  50 barras nervuradas)


 2  1,0 ( situação de boa aderência)
 3  1,0 ( para   32 mm)
f ctd  0,1282 kN / cm 2 (Item 7.6a)

f bd  2,25  1,0  1,0  0,1282  0,289 kN / cm 2

d) Comprimento de ancoragem básico

 f yd 2,0 50
b      75 cm
4 fbd 4 1,15  0,289

Este é o valor indicado na Tabela 1.5b.

7.9 Ancoragem no apoio


A notação é indicada na figura 5.5.

Figura 5.5 – Ancoragem no apoio

12.15
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

a) Dimensão mínima do apoio


O comprimento de ancoragem mínimo ℓb,mín em apoios extremos, de acordo com
o item 18.3.2.4.1 da ABNT NBR 6118:2014, é dado por:

(r  5,5)  4    5,5    9,5  2,0  19 cm


 b,mín  
60mm  6 cm
Como  b,disp  t  c  22  2,5  19,5 cm   b,mín  19cm  OK

Na direção perpendicular ao gancho deve-se ter cobrimento c  7 cm.

b) Esforço a ancorar e armadura calculada para tensão fyd

a
Rs   Vd,face
d
a Vd,face 135,8
  = 0,905 > 0,5 OK!
d 2  ( Vd,face  Vc ) 2  (135,8  60,8)

R s  0,905  135,8  122,9 kN


Rs 122,9
As ,calc    2,83 cm 2
f yd 50 / 1,15
c) Armadura necessária no apoio
A s,cal
 b,disp   1   b 
A s,nec

1   b 0,7  75
A s,nec   A s,calc   2,83  7,62 cm 2
 b,disp 19,5

1 1
Como M apoio  0 : As ,apoio   As ,vão   12,29  4,10 cm 2
3 3

É necessário prolongar três barras até o apoio:


320 : A s,apoio  9,45 cm 2  As, mec  7,62 cm 2

7.10 Decalagem da armadura longitudinal


Como foi visto no item 7.8c, três barras devem ser prolongadas até os apoios.
Portanto deve ser calculado, somente, o comprimento da 4a barra (ver Figura 3).
Como As , ef  12,60 cm 2  As , calc  12,29 cm 2 , o comprimento de ancoragem
necessário é menor que  b , porém não pode ser menor que  b,mín , dado pelo maior
dos valores:

12.16
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

0,3   b  0,3  75  22,5 cm



 b,mín  10    10  2,0  20 cm
100mm  10 cm

No cálculo de  b,mec , adota-se:


1 = 1 (Barra sem gancho)
 b  75 cm (Item 7.7)

A s,calc  12,29 cm 2 (Item 7.5)

As ,ef  12,57 cm 2 (4  20)

Com esses valores, obtém-se:


As ,cal 12,29
 b ,mec   1   b   1,0  75   73 cm > b,min = 22,5 cm
As ,ef 12,57

a) Deslocamento a

a
Como  0,905 (Item 7.8), resulta:
d
a   0,905  d  0,905  35,9  32 cm
b) Comprimento da 4a barra

102  a   10    102  32  10  2,0  154 cm 


 4e  
0  a    b,mec  0  32  73  105 cm
 4   4 e   4 d  2  154  308 cm

Valor adotado:  4t  310 cm (múltiplo de 10 cm)

7.11 Estados limites de serviço


A verificação dos estados limites de serviço (momento de fissuração, abertura de
fissuras e deformação excessiva) encontra-se no capítulo sobre “Estados Limites de
Serviço”. Não há providências a tomar.

7.12 Desenho de armação


Com base na memória resumida da Figura 3, pode ser construído o desenho de
armação, que se encontra na Figura 6, que também precisa ser adaptada. Na barra
N3, deve ser indicado o diâmetro de dobramento.

12.17
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Vigas

Figura 6 – Desenho de armação

12.18
ESTADOS-LIMITES DE SERVIÇO EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO
IBRACON, CT-301, atualizado em outubro de 2015

Autor: Libânio M. Pinheiro (1);


Revisor da primeira edição: José Martins Laginha (2)
Revisor da segunda edição: Daniel Miranda dos Santos (3)

(1) Prof. Dr., USP, Escola de Engenharia de São Carlos. E-mail: libanio@sc.usp.br
(2) Eng. Civil, GTP Grupo Técnico de Projetos. E-mail: projeto@gtp.com.br
(3) Eng. Civil, EGT Engenharia Ltda. E-mail: danielmiranda@usp.br

1. Dados iniciais

Apresenta-se a verificação dos estados limites de serviço para a viga biapoiada de um edifício
residencial, indicada na Figura 1, com seção de 22 cm x 40 cm, vão equivalente ℓ = 410 cm,
concreto C25, aço CA-50, armadura longitudinal 4  16 (8,04 cm2), d = 35,5 cm, classe II de
agressividade ambiental (c = 3 cm, conforme o item 7.4, tabela 7.2). Os itens e as tabelas aqui
indicadas referem-se à NBR 6118:2014. Serão admitidos os valores característicos das ações:

gk = 28 kN/m, qk = 7 kN/m, pk = gk +qk = 35 kN/m

Figura 1 – Viga biapoiada

2. Estado-limite último (ELU) de flexão

O momento de cálculo é:
1,4 ∙ 35 ∙ 4,1
= = 102,96 ∙
8

A posição da linha neutra e a armadura relativa ao ELU de flexão resultam:

10296 ∙ ∙ 1,4
= 1,25 ∙ 35,5 1− 1− = 12,66
0,425 ∙ 22 ∙ 35,5 ∙ 2,5 ⁄

⁄ = 0,36 < 0,45 ( ) – item 14.6.4.3

102,96
= = 7,78 (4 ∅ 16)
(0,355 − 0,4 ∙ 0,1266) ∙ 43,5

3. Momento de fissuração

O cálculo do momento de fissuração é indicado no item 17.3.1:


  f ct  I c
Mr  (1)
yt
 = 1,5 (seção retangular)
b  h3 22  40 3
Ic    117 333 cm 4 (2)
12 12
h 40 (3)
yt    20 cm
2 2

3.1 Formação de fissuras

No estado-limite de formação de fissuras (ELS-F), segundo o item 17.3.1, deve ser usado o fck,inf
(8.2.5 da Norma):

f ct  f ctk ,inf  0,7  0,3  f ck2 / 3  0,21  25 2 / 3  1,795 MPa  0,1795 kN / cm 2 (4)

1,5  0,1795  117333 (5)


Mr   1580 kN .cm  15,80 kN .m
20

3.2 Deformação excessiva

No estado-limite de deformação excessiva (ELS-DEF), deve ser usado o fct,m (8.2.5 da Norma):

f ct  f ctm  0,3 f ck2 / 3  0,3  25 2 / 3  2,565 MPa  0, 2565 kN / cm 2 (6)

1,5  0,2565  117333 (7)


Mr   2257 kN .cm  22,57 kN .m
20

4. Cálculo em serviço para seção fissurada

Neste item são consideradas as combinações de serviço, as posições da linha neutra e o


momento de inércia.

4.1 Combinações de serviço

Como se trata de elemento estrutural de concreto armado de uma edificação residencial, os


estados-limites de serviço a serem verificados são o ELS-W (abertura de fissura) e o ELS-DEF
(deformação excessiva).

A combinação de ação a ser considerada para a verificação do ELS-W é a combinação frequente


(tabela 13.4). No caso do ELS-DEF, as flechas são, usualmente, verificadas com a combinação
quase permanente (item 11.8.3.1a). No entanto, em casos especiais em que os elementos não
estruturais (como vedações) são sensíveis às deformações da estrutura, o ELS-DEF pode ser
verificado com a combinação frequente (11.8.3.1b).

 Combinação quase permanente

Para edifícios residenciais, 2 = 0,3 (conforme 11.7.1, tabela 11.2). Neste exemplo, a única ação
variável é a carga de uso e, portanto, a combinação quase permanente das ações é (tabela 11.4):
p  p CQP  g k   2  q k  28  0,3  7  30,1 kN / m (8)

O momento da combinação quase permanente é:


30,1  4,10 2
M CQP   63,25 kN.m (9)
8

2
 Combinação frequente

Para edifícios residenciais, 1 = 0,4 (tabela 11.2, edifícios residenciais), obtêm-se (tabela 11.4):
p  pCF  g k  1  q k  28  0,4  7  30,8 kN / m (10)

30,8  4,10 2
M CF   64,72 kN.m (11)
8

Como MCQP = 63,25 kN.m > Mr = 22,6 kN.m, ou seja, há fissuras e é necessário calcular a posição
da linha neutra (xII) e o momento de inércia ( III) no estádio II, para ambas as verificações (ELS-W
e ELS-DEF).

4.2 Linha neutra

Para seção retangular com armadura simples, xII é obtido com a equação:

b 2
x   e As x   e As d  0 (12)
2

Es = 210 GPa = 210000 MPa (conforme 8.3.5) (13)

Ecs = 24000 MPa (conforme 8.2.8, tabela 8.1) (14)

No caso do ELS-DEF, a relação entre os módulos é dada por:

E s 210000
e    8,75 (conforme 17.3.2.1.1) (15)
E cs 24000

Logo,

22 2
x  8,75  8,04 x  8,75  8,04  35,5  0
2
11x2 + 70,35 x – 2497,425 = 0
xII = 12,21 cm (a raiz negativa é ignorada) (16)
No entanto, para a avaliação da abertura de fissura, o cálculo no estádio II pode ser feito
considerando a relação e entre os módulos igual a 15 (NBR 6118, item 17.3.3.2).
Logo, para a avaliação da abertura de fissura, a linha neutra no estádio II pode ser considerada
como sendo:
22 2
x  15  8,04 x  15  8,04  35.5  0
2
11x2 + 120,6 x – 4281,3 = 0
xII = 14,99 cm (a raiz negativa é ignorada) (17)

4.3 Momento de inércia

Para seção retangular com armadura simples, III é dado por:

b xII3
III    e As (d  xII ) 2 (18)
3
3
Para avaliação do ELS-DEF, tem-se:
22  12 , 213
I II   8,75  8,04 (35,5  12 ,21) 2  I II  51509 cm 4 (19)
3
Para avaliação do ELS-W, tem-se:

22.14,99 3
I II   15  8,04 (35,5  14,99) 2  I II  75432 cm 4 (20)
3

5. Estado limite de deformação excessiva

Como a seção está fissurada, antes do cálculo das flechas, é necessário calcular o
momento de inércia equivalente.

5.1 Momento de inércia equivalente

Com base em 17.3.2.1.1:


3 3
M   M  
I eq   r   I c  1   r    I II (21)
 Ma    M a  
São conhecidos os valores:
Mr = 22,57 kN.m (ELS - DEF) (equação 7)
Ma = MCQP = 63,25 kN.m (equação 9)
Ic = 117333 cm4 (equação 2)
4
III = 51509 cm (equação 19)
Resulta:
3
 22,57    22,57  3 
I  I eq    117 333  1     51509  54500 cm 4 (22)
 63,25    63,25  

5.2 Flecha imediata

Para viga biapoiada, a flecha imediata (assumida elástica) é dada pela expressão:
5 p  4 (23)
ai  
384 E  I

E = Ecs = 24000 MPa = 2400 kN/cm2 (equação 14)

Substituindo, na equação 23, ℓ = 410 cm e os valores obtidos nas equações 8, 14 e 22, resulta:
5 30,1 410 4
ai     a i  0,85 cm (24)
384 100 2400.54500

5.3 Flecha diferida

De acordo com 17.3.2.1.2:

4
 (25)
f 
1  50  '
t  70 meses 
   2  0,68  1,32 (tabela 17.1) (26)
t 0  1 mês 

’ = 0 (armadura simples)
1,32
f   1,32 (27)
1
af = f . ai = 1,32 . 0,85  af = 1,12 cm (28)

5.4 Flecha total

A flecha total pode ser obtida conforme indicado no final em 17.3.2.1.2:

at = ai (1+f) = 0,85 (1+1,32)  at = 1,97 cm (29)

5.5 Flecha limite

Para aceitabilidade visual, da maneira indicada em 13.3, tabela 13.3:


 410
alim    1,64 cm (30)
250 250

Há necessidade de contraflecha, pois:

at = 1,97 cm > alim=1,64 cm

5.6 Contraflecha

Pode ser adotada uma contaflecha da ordem da flecha imediata:

a c  a i  0,85 cm (31)

A contraflecha, também, pode ser um pouco maior que a flecha imediata. Porém, a NBR6118, em
sua tabela 13.3, não permite contraflecha maior que o valor:

ac,lim 
 410 (32)
  1,17 cm
350 350
Como é usual adotar um valor múltiplo de 0,5 cm, pode-se adotar contraflecha de 1,0 cm, menor
que o limite de 1,17 cm, e que acarretaria uma flecha final de 0,97 cm, menor que alim = 1,64 cm.

5.7 Outras providências

Quando forem necessárias, há outras providências que podem ser adotadas para diminuir as
deformações. As mais comuns são: aumentar a seção transversal (b ou h), aumentar As ou adotar
armadura de compressão A’s.
Deve-se ressaltar que aumentar h é a alternativa mais eficiente.

6 Abertura de fissuras

A verificação do ELS-W pode ser feita com base no item 17.3.3 da Norma.

5
6.1 Dados iniciais

 = 16 mm

 = 2,25 (Barras nervuradas, CA-50, 9.3.2.1 e tabela 8.3)

Es = 210 000 MPa = 21 000 kN/cm2 (equação 13)

As = 8,04 cm2 (4  16)

fct,m = 0,2565 kN/cm2 (equação 6)

6.2 Taxa de armadura

Será considerada a taxa de armadura de tração em relação à área da região de envolvimento Acr
(Figura 2).

Para b = 22 cm, c = 3,0 cm, t = 0,63 cm e ℓ = 1,6 cm, resulta:

Acr = b (d’ + 7,5 ℓ) = 22 (4,5 + 7,5 x 1,6) = 363 cm2 (33)

As 8,04
r    0,0221  2,21 % (34)
A cr 363

Figura 2 - Área Acr

6.3 Cálculo de  s no estádio II com e = 15

 e M CF (d  x II ) 15  6472  (35,5  14,99 )


s    26,40 kN / cm 2 (35)
I II 75432

MCF (equação 11); x II (equação 17) e I II (equação 20)

6.4 Cálculo de  s no estádio II com e = Es /Ec = 8,75

Para comparar os resultados, será considerado e = Es/Ecs = 8,75 (equação 15). Nessas
condições tem-se: xII = 12,21 cm (equação 16) e III = 51509 cm4 (equação 19). Resulta:
6
 e M CF (d  x II ) 8,75  6472  (35,5  12,21)
s    25,61 kN / cm 2 (36)
I II 51509

Como este valor é muito próximo do obtido no item anterior (3% menor), parece não haver
diferença significativa em se considerar e = Es/Ecs = 8,75, em vez de e = 15, como preconiza a
Norma.

6.5 Cálculo aproximado de s


Para seção retangular com armadura simples, no estádio II, um valor aproximado de s pode ser
obtido com a expressão:
MCF 6472
s    26,68 kN / cm2 (37)
0,85 d  As 0,85 35,5  8,04
Nota-se que este valor de s é muito próximo dos obtidos nos dois itens anteriores. Em relação ao
obtido com e = 15, ele resultou pouco mais de 1% maior, e 4,2% maior que o relativo a e= 8,75.
Portanto, em um cálculo preliminar, a verificação pode ser feita com a tensão s obtida com este
cálculo aproximado.

6.6 Cálculo de wk

Com as expressões indicadas em 17.3.3.2, fctm dado pela equação 6, s = 26,40 kN/cm2 e com os
demais valores obtidos nos itens anteriores, obtêm-se:

 i  si 3   si
w 1  12,5    E  f
 1 si ctm
(38)
wk  
w  i   4 
 si    45 
 2 12,5  1 E si   ri 

16 26,40 3  26,40
w1     0,22 mm
12,5  2,25 21000 0,2565
16 26,40  4 
w2     45   0,16 mm
12,5  2,25 21000  0,0221 

Como se considera o menor valor entre w1 e w2, resulta:

wk = 0,16 mm (39)

6.7 Verificação da abertura limite

A abertura limite é dada na tabela 13.4 (item 13.4.2). Para concreto armado e classe de
agressividade ambiental II, tem-se: wlim = 0,3 mm. Portanto:

wk = 0,16 mm < wim = 0,3 mm  OK! (40)

Constata-se que a verificação ocorre com folga, o que justificaria o emprego do cálculo
aproximado para determinação de s.

7
6.8 Providências

Caso a verificação de abertura de fissuras não seja atendida, as principais providências são:

 diminuir o diâmetro das barras da armadura de tração (respeitando-se As,nec);


 aumentar a quantidade de armadura (diminuir s);
 aumentar a seção transversal (b ou h).

Agradecimentos

À colaboração de:
Ana Maria da Silva Brandão,
Anastácio Cantisani de Carvalho,
Cassiane Daniele Muzardo,
Lezzir Ferreira Rodrigues,
Marcos Vinícius Natal Moreira
Rafaela Montefusco e
Sandro Pinheiro Santos.

Referência

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014. Projeto de


estruturas de concreto – procedimento. Rio de Janeiro.

8
ESTRUTURAS DE CONCRETO – CAPÍTULO 18

Juliana S. Lima, Mônica C.C. da Guarda, Winston Zumaeta, Libânio M. Pinheiro

8 de junho de 2016

TORÇÃO

1. GENERALIDADES
O fenômeno da torção em vigas vem sendo estudado há algum tempo, com
base nos conceitos fundamentais da Resistência dos Materiais e da Teoria da
Elasticidade. Vários pesquisadores já se dedicaram à compreensão dos tipos de
torção, à análise da distribuição das tensões cisalhantes em cada um deles, e,
finalmente, à proposição de verificações que permitam estimar resistências para as
peças e impedir sua ruína.
Apesar dos primeiros estudos sobre torção serem atribuídos a Coulomb, as
contribuições de Saint-Venant (aplicação da torção livre em seção qualquer) e
Prandlt (utilização da analogia de membrana) é que impulsionaram a solução para o
problema da torção. No caso específico de análise de peças de concreto, foi a partir
de Bredt (teoria dos tubos de paredes finas) que o fluxo das tensões foi
compreendido. Na parte experimental, podem-se destacar os estudos de Mörsch,
Thürlimann e Lampert, fundamentais para o conhecimento do comportamento
mecânico de vigas submetidas à torção.
Em geral, os estudos sobre torção desconsideram a restrição ao
empenamento, como nas hipóteses de Saint-Venant, mas, na prática, as próprias
regiões de apoio (pilares ou outras vigas) tornam praticamente impossível o livre
empenamento. Como consequência, surgem tensões normais (de coação) no eixo
da peça e há uma redução da tensão cisalhante. Esse efeito pode ser
desconsiderado no dimensionamento das seções mais usuais de concreto armado
(perfis maciços ou fechados, nos quais a rigidez à torção é alta), uma vez que as
tensões de coação tendem a cair bastante com a fissuração da peça, e o restante
passa a ser resistido apenas pelas armaduras mínimas. Assim, os princípios básicos
de dimensionamento propostos para a torção clássica de Saint-Venant continuam
adequados, com certa aproximação, para várias situações práticas. No caso de
seções delgadas, entretanto, a influência do empenamento pode ser considerável, e
para o dimensionamento devem ser utilizadas as hipóteses da flexo-torção de
Vlassov. Um método simplificado é apresentado na ABNT NBR 6118:2014, mas não
será objeto de análise deste trabalho.
O dimensionamento à torção baseia-se nas mesmas condições dos demais
esforços: enquanto o concreto resiste às tensões de compressão, as tensões de
tração devem ser absorvidas pela armadura. A distribuição dos esforços pode ser
feita de diversas formas, a depender da teoria e do modelo adotado.
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

A teoria que é mais amplamente aceita para a distribuição das tensões


decorrentes da torção é a da treliça espacial generalizada, na qual se baseiam as
formulações das principais normas internacionais. A filosofia desse método é a
idealização da peça como uma treliça, cujas tensões de compressão causadas pelo
momento torçor serão resistidas por diagonais comprimidas de concreto (bielas), e
as de tração, por diagonais tracionadas (armaduras).
Vale a lembrança de que não é todo tipo de momento torçor que precisa ser
considerado para o dimensionamento das vigas. A chamada torção de
compatibilidade, resultante do impedimento à deformação, pode ser desprezada,
desde que a peça tenha capacidade de adaptação plástica. Em outras palavras,
com a fissuração da peça, sua rigidez à torção cai significativamente, reduzindo
também o valor do momento atuante. É o que ocorre em vigas de borda, que
tendem a girar por conta do engastamento na laje e são impedidas pela rigidez dos
pilares. Por outro lado, se a chamada torção de equilíbrio, que é a resultante da
própria condição de equilíbrio da estrutura, não for considerada no dimensionamento
de uma peça, pode ocorrer sua ruína. É o caso de vigas-balcão e de algumas
marquises.
A seguir, será apresentada uma síntese dos conceitos que fundamentam os
critérios de dimensionamento à torção, relacionados com a ABNT NBR 6118:2014.

2. TEORIA DE BREDT
A partir dos estudos de Bredt, percebeu-se que quando o concreto fissura
(Estádio II), seu comportamento à torção é equivalente ao de peças ocas (tubos) de
paredes finas ainda não fissuradas - Estádio I (figura 1c). Essa afirmativa é
respaldada na própria distribuição das tensões tangenciais provocadas por
momentos torçores (figura 1b), as quais, na maioria das seções, são nulas no centro
e máximas nas extremidades.

t
c Ae
T c

(a) (b) (c)

Figura 1 - Tubo de paredes finas

14.2
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

A partir dos conceitos de Resistência dos Materiais, pode-se chegar à


chamada primeira fórmula de Bredt, dada por:

= (1)
2∙ ∙
é a tensão tangencial na parede, provocada pelo momento torçor;
é o momento torçor atuante;
é a área limitada pela linha média da parede da seção vazada, real ou
equivalente, incluindo a parte vazada;
é a espessura equivalente da parede de seção vazada, real ou equivalente, no
ponto considerado.

3. TRELIÇA ESPACIAL GENERALIZADA


O modelo da treliça espacial generalizada que é adotado para os estudos de
torção tem origem na treliça clássica idealizada por Ritter e Mörsch para
cisalhamento, e foi desenvolvido por Thürlimann e Lampert. Essa treliça espacial é
composta por quatro treliças planas na periferia da peça (tubo de paredes finas da
Teoria de Bredt), sendo as tensões de compressão absorvidas por barras (bielas)
que fazem um ângulo  com o eixo da peça, e as tensões de tração absorvidas por
barras decompostas na direção longitudinal (armação longitudinal) e na transversal
(estribos a 90o). Pode-se observar que a concepção desse modelo baseia-se na
própria trajetória das tensões principais de peças submetidas à torção (figura 2).

I II
T T x
I
II

Figura 2 - Trajetória das tensões principais provocadas por torção

Apenas para a apresentação das expressões que regem o dimensionamento,


será considerada uma seção quadrada com armadura longitudinal formada por
quatro barras, uma em cada canto da seção, e armadura transversal formada por
estribos a 90o (figura 3).

3.1 Biela de concreto


Como o momento atuante deve igualar o resistente, tem-se, no plano ABCD:
2  Cd  sen θ    Td (2)
Td
Cd 
2    sen θ (3)

14.3
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

Estribo
B Barras
A Longitudinais
 Y

Bielas T
comprimidas

D Z X
NÓ A C = inclinação
c da biela
Rd R wd otg

A Cd 
PLANO ABCD
Cd Cd sen
Rd
R wd

 C sen Cd sen
d

y
y Cd sen

c
otg

c
otg

c
otg

Figura 3 - Treliça espacial generalizada

Sendo cd o valor de cálculo da tensão de compressão, e observando que a


força Cd atua sobre uma área dada por y  t , tem-se:
Td
cd  y  t 
2    sen θ
Td
cd 
2  y    t  sen θ (4)
Mas
y    cos θ (5)
2
Ae   (6)
Logo,
Td
cd 
A e  t  sen2 θ (7)

14.4
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

Nas bielas, a tensão resistente é menor que o valor de fcd. Dentre as várias
razões, pode-se citar a existência de tensões transversais (que não são
consideradas no modelo e interferem no estado de tensões da região), e a abertura
de fissuras da peça. Assim:
cd  0,5   v  f cd
(8)
fcd é a resistência de cálculo do concreto à compressão;
v é o coeficiente de efetividade do concreto, dado por:

 f 
 v  1  ck  (MPa) (9)
 250 

3.2 Armadura longitudinal


Para o equilíbrio de forças na direção X,
4  R d  4  Cd  cos θ (10)
Como
R d  A so  f ywd
sendo
Aso a área de uma das barras longitudinais;
fywd, a tensão de escoamento do aço, com seus valores de cálculo, e,

As  4  Aso

utilizando-se a equação (3), a equação (10) pode ser escrita como:


2  Td
A s  f ywd   cotg θ

Distribuindo a armação de forma uniforme em todo o contorno ue  4   , para
reduzir a possibilidade de abertura de fissuras nas faces da viga, e levando em
conta a equação (6), tem-se:

 As  2  Td
   f ywd   cotg θ
 ue    ue

 As  Td
    cotg θ (11)
 ue  2  Ae  f ywd

3.3 Estribos
Para o equilíbrio das forças do nó A, na direção Z,
R wd  Cd  sen θ (12)

14.5
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

Mas
  cotg 
R wd   A 90  f ywd
s
sendo
s o espaçamento longitudinal dos estribos e
  cotg 
, o número de estribos concentrados na área de influência do nó A.
s
Substituindo na equação (12), considerando da equação (2):
  cotg  Td
 A 90  f ywd   sen 
s 2    sen 
Substituindo a equação (6) e rearrumando, resulta:
A90 Td
  tg  (13)
s 2  A e  f ywd

3.4 Momento torçor resistente


Para determinação do momento torçor resistente de uma seção já
dimensionada, pode-se rearrumar a equação (11),
Td
tg θ 
A 
2  Ae  f ywd   s 
 ue 
que fornece a inclinação da biela, e substituí-la na equação (13), resultando:
2
 A90   As  Td
   
 s   u e  2  Ae  f ywd 
2

A  A 
Td  2  Ae  f ywd   90    s  (14)
 s   ue 

4. INTERAÇÃO DE TORÇÃO, CISALHAMENTO E FLEXÃO


Boa parte dos estudos de torção é relativa à torção pura, isto é, aquela
decorrente da aplicação exclusiva de um momento torçor em uma viga. Essa
situação, entretanto, não é usual. A grande maioria das vigas com torção também
está submetida a forças cortantes e momentos fletores, o que dá origem a um
estado de tensões mais complexo e mais difícil de ser analisado.
A experiência vem demonstrando que, de uma maneira geral, a filosofia e os
princípios básicos de dimensionamento propostos para a torção simples também
são adequados, com certa aproximação, para solicitações compostas.

14.6
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

Por isso, em geral, o procedimento adotado para o dimensionamento a


solicitações compostas é a simples superposição dos resultados obtidos para cada
um dos esforços solicitantes separadamente, que se mostra a favor da segurança.
Por exemplo, a armadura de tração prevista pela torção que estiver na parte
comprimida pela flexão poderia ser reduzida, se fosse considerado o alívio sofrido
por sua resultante (de tração) nessa região. Ou ainda, como em uma das faces
laterais da peça as diagonais solicitadas pela torção e pelo cisalhamento são
opostas, poderia ser considerado o alívio na resultante de tração no estribo, e
consequentemente, reduzir-se sua área.
Evidentemente, na face lateral oposta, as diagonais têm a mesma direção, e a
armação necessária vem do somatório daquelas calculadas para cada um dos dois
esforços separadamente. E para a verificação da tensão na biela desta face, não
bastará se observar o comportamento das resultantes relativas à torção e ao
cisalhamento separadamente – surge a necessidade de uma nova verificação, que
considere a interação delas.
Na figura 4, apresenta-se uma superfície que mostra a interação dos três
tipos de esforços, com base em resultados experimentais. Qualquer ponto interior a
essa superfície indica que a verificação da tensão na biela foi atendida.
V
Pode-se observar que, para uma mesma relação Sd , o momento torçor
Vult
M
resistente diminui com o aumento da relação Sd .
M ult
Cabe a ressalva de que a superposição dos efeitos das treliças de
cisalhamento e de torção só estará coerente se a inclinação da biela comprimida for
adotada a mesma nos dois casos.

Tsd
Tult
1
1

0,3 0,5 a 0,6 1 Vsd


1 Vult
1
1
M sd
M ult
Figura 4 - Diagrama de interação

14.7
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

5. DIMENSIONAMENTO À TORÇÃO SEGUNDO A ABNT NBR 6118:2014


O modelo adotado por essa Norma é o de treliça espacial generalizada,
descrito anteriormente, e não a treliça clássica.
Dessa forma, o projetista tem a possibilidade de determinar a inclinação da
biela comprimida, com mais liberdade para trabalhar o arranjo das armaduras,
realizando um dimensionamento totalmente compatível com o cisalhamento.

5.1 Torção de compatibilidade


Como já foi comentado, apenas a torção de equilíbrio precisa ser considerada
no dimensionamento de vigas. A torção de compatibilidade pode ser desprezada,
desde que sejam respeitados os limites de armadura mínima de cisalhamento, e:
Vsd  0,7  VRd , 2 (15)
sendo
VRd , 2  0,27   v  f cd  b w  d  sen2  (16)

já para estribos a 90o em relação ao eixo da peça.

5.2 Determinação da seção vazada equivalente


Segundo a ABNT NBR 6118:2014, ficam definidos os seguintes critérios:

ℎ ≤ (17)

ℎ ≥ 2 (18)

ℎ é a espessura equivalente da parede da seção vazada, real ou equivalente;


é a área da seção cheia;
é o perímetro da seção cheia;

c1     t  c (19)
2
 é o diâmetro da armadura longitudinal;
t é o diâmetro da armadura transversal;
c é o cobrimento da armadura.

Caso A/u resulte menor que 2c1, pode-se adotar he = A/u ≤ bw – 2c1 e a
superfície média da seção celular equivalente Ae definida pelos eixos das armaduras
do canto (respeitando o cobrimento exigido nos estribos).

14.8
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

5.3 Definição da inclinação da biela comprimida


Assim como no cisalhamento, a inclinação das bielas deve estar entre 30o e
45o, sendo que o valor adotado deve ser o mesmo para as duas verificações.

5.4 Verificação da biela


Para se assegurar o não esmagamento da biela na torção pura, a ABNT NBR
6118:2014 exige a verificação da seguinte condição:
TSd  TRd , 2 (20)
sendo TRd,2 o momento torçor que pode ser resistido pela biela. Esse momento
torçor pode ser obtido pela substituição da equação (8) na equação (7), que,
rearrumada com t = he, fornece:
TRd , 2  0,5   v  f cd  A e  h e  sen2 θ (21)

5.5 Verificação da tensão na biela comprimida para solicitações combinadas


A ABNT NBR 6118:2014 menciona que, no caso de torção e cisalhamento,
deve ser obedecida a seguinte verificação:
VSd T
 Sd  1 (22)
V`Rd , 2 TRd , 2

Observa-se que essa expressão linear (figura 5) fornece resultados


conservadores em relação àqueles esboçados na figura 4. No EUROCODE 2
(1992), por exemplo, a expressão equivalente à equação (22) é de segundo grau.
Observa-se ainda, também com base na figura 4, que a equação (22) só se
mostra adequada para situações em que o momento fletor de cálculo não ultrapassa
cerca de 50 a 60% do momento último da seção, apesar da ABNT NBR 6118:2014
não apresentar comentários a respeito disso.

Tsd
TRd,2
1

1 Vsd
VRd,2

Figura 5 - Diagrama de interação momento torçor versus força cortante, segundo a


ABNT NBR 6118:2014

14.9
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

5.6 Determinação dos estribos


Deve ser verificada a seguinte condição:
TSd  TRd ,3 (25)
sendo TRd,3 o momento torçor que pode ser resistido pelos estribos, dado por:
A 
TRd ,3   90   2  A e  f ywd  cotg θ (26)
 s 
que é obtida a partir da equação (13).

5.7 Determinação da armadura longitudinal


Deve ser verificada a seguinte condição:
TSd  TRd , 4 (23)
sendo TRd,4 o momento torçor que pode ser resistido pela armadura longitudinal,
dado por:
A 
TRd , 4   s   2  Ae  f ywd  tg θ (24)
 ue 
que é decorrente da equação (11), lembrando que ue é o perímetro da seção
equivalente.

5.8 Armadura longitudinal e estribos para solicitações combinadas


No banzo tracionado pela flexão, somam-se as armaduras longitudinais de
flexão e de torção. A armadura transversal total também deve ser obtida pela soma
das armaduras de cisalhamento e de torção.
No banzo comprimido, pode-se reduzir a armadura de torção, devido aos
esforços de compressão do concreto na espessura he e comprimento u
correspondente à barra considerada.

5.9 Verificação da taxa de armadura mínima


A taxa de armadura mínima, como se sabe, vem da necessidade de se
garantir a ductilidade da peça e melhorar a distribuição das fissuras. A
ABNT NBR 6118:2014 é coerente ao considerar que há influência da resistência
característica do concreto. Essa taxa é dada por:
A f
w  sw ³ 0,2  ctm (27)
bw  s f ywk

com fywk ≤ 500 MPa e a tensão média de tração dada por f ctm  0,3  3 f ck 2 .

Essa taxa mínima vale também para a armadura longitudinal.

14.10
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

6. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS
Apenas as barras longitudinais e os estribos que estiverem posicionados no
interior da parede da seção vazada equivalente deverão ser considerados efetivos
para resistir aos esforços gerados pela torção.
São válidas as mesmas disposições construtivas de diâmetros,
espaçamentos e ancoragem para armaduras longitudinais de flexão e estribos de
cisalhamento, propostos na ABNT NBR 6118:2014. Especificamente para a torção,
valem as recomendações apresentadas a seguir.

6.1 Armaduras longitudinais


Para que efetivamente existam os tirantes supostos no modelo de treliça, é
necessário se dispor uma barra de armadura longitudinal em cada canto da seção.
A s
De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, deve-se procurar atender à relação
u
em todo o contorno da viga, sendo u o trecho do perímetro correspondente a cada
barra, de área As. Em outras palavras, a armadura longitudinal de torção não deve
estar concentrada nas faces superior e inferior da viga, e sim, uniformemente
distribuída em todo o perímetro da seção efetiva.
Apesar de não haver prescrição na Norma, deve-se preferencialmente adotar
 ³ 10 mm nos cantos. O espaçamento de eixo a eixo de barra, tanto na direção
vertical quanto na horizontal, deverá ser s  350 mm.

6.2 Estribos
Os estribos devem estar posicionados a 90o com o eixo longitudinal da peça,
devendo ser fechados e adequadamente ancorados por ganchos em ângulo de 45o.
Além disso, devem envolver as armaduras longitudinais.

7. EXEMPLO
Seja a viga V1 da marquise esquematizada na figura 6, a qual está submetida
à torção de equilíbrio, além de flexão e cisalhamento.
O cálculo da laje L1, engastada na V1, não será aqui apresentado. Ela aplica
nessa viga um momento torçor de 21,45 kN.m/m, uniformemente distribuído.
A reação de apoio da L1, somada ao peso próprio da V1 e à carga de parede
sobre a V1 perfazem um carregamento uniformemente distribuído de 19,23 kN/m.

14.11
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

320

A
430
35 285
V1
V1 - 35 x 50

50
P1 P2 8
30 x 35 30 x 35 16
320

L1
h = var.

300
430
A

FORMA ESTRUTURAL CORTE A-A


SEM ESCALA SEM ESCALA

Figura 6 – Forma estrutural da marquise

7.1 Momento nas extremidades da V1


Na ligação da viga V1 com os pilares, será considerado momento fletor Mvig
obtido de acordo com adaptação do item 14.6.6.1.c da ABNT NBR 6118:2014.
Nesse cálculo, precisa-se do vão equivalente do pilar ( ) que será
calculado de acordo com o item 15.6 da ABNT NBR 6118:2014. Portanto, ele é dado
por = + ℎ, ou seja, o vão livre somado à dimensão h da seção transversal do
pilar, medida na direção do eixo da viga.
Admitindo-se o topo da fundação 35 cm abaixo do piso acabado ( = 335 )
e considerando que ℎ = 30 , resulta:
= + ℎ = 335 + 30, ou seja: = 365
Portanto, valor de junto ao pilar P1 pode ser obtido como indicado a
seguir, considerando = ∙ ⁄12 (viga biengastada):
+
= ∙
+ +
0,35 ∙ 0,30
3∙ ∙ 3∙ ∙ 12
= = = 1,29 ∙ 10 ∙
⁄2 3,65⁄2
3∙ ∙
= =0
⁄2
0,35 ∙ 0,50
4∙ ∙ 4∙ ∙ 12
= = = 2,43 ∙ 10 ∙
4

14.12
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

Portanto, junto ao P1 resulta:


∙ 1,29 ∙ 10 ∙ + 0
=+ ∙
12 2,43 ∙ 10 ∙ + 1,29 ∙ 10 ∙ + 0
19,23 ∙ 4 1,29 ∙ 10 ∙
=+ ∙
12 3,72 ∙ 10 ∙
= +8,89 ∙

Junto ao P2, resulta um mesmo valor, porém de sinal contrário, coerente com
a convenção de sinais adotada (Convenção de Grinter). Portanto, junto ao P2:
= −8,89 ∙

Na figura 7, pode-se observar o esquema estático da viga V1, na qual se


considera a viga biapoiada nos pilares, para o cálculo de esforços cortantes e
momentos fletores, e biengastada para o cálculo de momentos torçores. Para estes
foi utilizada a convenção de vetor momento, na qual se utiliza a regra da mão direita
para indicar o sentido da rotação do momento.

V1 - 35 x 50 V1 - 35 x 50

0,15 m 0,15 m 0,15 m 0,15 m


4m 4m

M vig = p = 19,23 kN/m M vig =


M T = 21,45 kN.m/m
8,89 kN.m 8,89 kN.m

35,58
39,68
38,46 31,12
42,90
d/2

DEC [kN] DMT [kN.m]

d/2 2m
42,90
31,12 38,46
2m 39,68
35,58

8,89 DMF [kN.m] 8,89

29,57

Figura 7 – Diagramas de esforços solicitantes

14.13
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção

7.2 Verificação da biela comprimida


Foi adotado fck = 25 MPa, cobrimento de 2,5 cm e, provisoriamente, foram
admitidas barras longitudinais de diâmetro 10 mm e estribos de 6,3 mm para o
cálculo da altura útil:
1,0
= 50 − 2,5 − − 0,63 = 46,37
2
Para não haver esmagamento da biela comprimida, de acordo com a
equação (22):

+ ≤1
, ,

Segundo o item 17.4.2.1 da ABNT NBR 6118:2014, os cálculos devem


considerar as forças cortantes nas respectivas faces dos apoios, ou seja, nas faces
dos pilares:

= 1,4 ∙ 35,58 = 49,81 = 1,4 ∙ 39,68 = 55,55 = 5555 .

Considerando a inclinação  = 45o, na equação (16):


= 0,27 ∙ ∙ ∙ ∙

25
= 1− = 1− = 0,9
250 250
2,5
= 0,27 ∙ 0,9 ∙ ∙ 35 ∙ 46,37
1,4

= 704,24

Segue-se a determinação da seção vazada equivalente, a partir das


equações (17) e (18):
∙ℎ 35 ∙ 50 1750
ℎ ≤ = = = = 10,29
2 ∙ ( + ℎ) 2 ∙ (35 + 50) 170
ℎ ≥ 2
∅ 1,0
= +∅ + = + 0,63 + 2,5 = 3,63
2 2
ℎ ³ 2 = 2 ∙ 3,63 = 7,26
Portanto, podem ser adotados valores de he entre 7 cm e 10 cm. Adotou-se,
então, ℎ = 7,0 , aproximadamente igual ao limite inferior 7,26 cm.

14.14
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Na figura 8, pode-se observar a espessura ℎ e a área limitada pela linha


tracejada, que é a linha média da parede da seção vazada.

3,5
he
50 cm

43 cm
h e = 7 cm Ae

3,5
35 cm 28 cm

Figura 8 – Seção transversal da viga V1

Com base nessa figura, obtém-se:


= 28 ∙ 43 = 1204
= 2 ∙ (28 + 43) = 142
Tem-se, então, a partir da eq. (21):

, = 0,50 ∙ ∙ ∙ ∙ℎ ∙ (2 )

25
= 1− = 1− = 0,9
250 250
2,5
, = 0,50 ∙ 0,9 ∙ ∙ 1204 ∙ 7 ∙ (2 ∙ 45)
1,4

, = 6772,5 .

Conhecidos esses valores, pode ser feita a verificação:

+ ≤1
, ,

49,81 5555
+ = 0,89 < 1 ∴ !
704,24 6772,5

Nota-se certa folga, o que permitiria uma redução da inclinação da biela.


Como consequência, haveria uma redução da área de aço transversal necessária, e
um acréscimo da área de aço longitudinal. Observa-se, entretanto, que esse
procedimento é mais eficiente nos casos em que o esforço cortante é grande, e a
redução da área dos estribos é maior que o acréscimo das barras longitudinais. Em
geral, nos demais casos, não compensa adotar valores menores de .

14.15
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7.3 Dimensionamento à flexão


Para o momento máximo positivo:
= 1,4 ∙ 2957 = 4139,8 .
∙ 35 ∙ 46,37
= → = → = 18,2
4139,8
∙ 0,023 ∙ 4139,8
= → = → = 2,05
46,37
Para o momento máximo negativo:
= 1,4 ∙ 889 = 1244,6 .
∙ 35 ∙ 46,37
= → = → = 60,5
1244,6
∙ 0,023 ∙ 1244,6
= → = → = 0,62
46,37
Entretanto, a ABNT NBR 6118:2014 prescreve a área mínima de aço, que
deverá ser respeitada tanto para a armadura positiva quanto para a negativa. Para
seções retangulares com fck = 25 MPa:
, = , ∙ ∙ ℎ = 0,0015 ∙ 35 ∙ 50 = 2,63

7.4 Dimensionamento ao cisalhamento


= = 0,6 ∙ ∙ ∙ ( = na flexão simples)
/
, 0,7 ∙ 0,7 ∙ 0,3 ∙ 0,21 ∙ √25
= = = = = 1,28
1,4 1,4 1,4
= 0,6 ∙ 0,128 ∙ 35 ∙ 46,37 = 124,642
≤ = +
49,81 ≤ = 124,642 +
49,81 = 124,642 +
= −74,83 ∴ não é necessária armadura transversal.
A partir das verificações realizadas no dimensionamento ao cisalhamento,
também para  = 45o, observa-se que a própria seção já resistiria à força cortante
atuante. É necessário que a peça tenha apenas uma armadura mínima, dada por:

= 0,2 ∙ ∙ ∙

0,3 ∙ √25
= 0,2 ∙ ∙ 35 ∙ 90 = 0,036
500
14.16
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= 0,036 = 0,036 = 0,036 = 0,036 ∙ 10


10

= 3,60

é a inclinação dos estribos em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural,


portanto, 90 .

7.5 Dimensionamento à torção


Considera-se também a inclinação da biela comprimida  = 45o.

a) Cálculo da armadura longitudinal


A partir das equações (23) e (24):

≤ , = ∙2∙ ∙ ∙

50
5555 ≤ , = ∙ 2 ∙ 1204 ∙ ∙ 45
1,15

5555 ≤ ∙ 104695,65

≥ 0,053 = 0,053 = 0,053 = 0,053 ∙ 10


10

≥ 5,3

b) Cálculo dos estribos

Utilizando-se as equações (25) e (26):

≤ , = ∙2∙ ∙ ∙

50
5555 ≤ , = ∙ 2 ∙ 1204 ∙ ∙ 45
1,15

5555 ≤ ∙ 104695,65

≥ 0,053 = 0,053 = 0,053 = 0,053 ∙ 10


10

≥ 5,3

14.17
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7.6 Detalhamento

a) Armadura longitudinal
A área total da armadura longitudinal é obtida pela soma das parcelas
correspondentes à flexão e à torção, que deve ser feita para cada uma das faces da
viga.
Na face superior, a flexão exige As- = 0,62 cm2. A parcela da torção é dada
por As  5,30  (0,35  0,07)  1,48 cm 2 . A área de aço total nessa face vale, então:
As,tot = 0,62 + 1,48 = 2,10 cm2
Observa-se, entretanto, que esta área é menor que a mínima prescrita na
ABNT NBR 6118:2014. Portanto, para a face superior, a área de aço vale:
As,tot = As min = 2,63 cm2  (4  10)

Na face inferior, a flexão exige As- = 2,05 cm2. A parcela da torção é a


mesma anterior, As  1,48 cm 2 . A área de aço total nessa face vale, então:
As,tot = 2,05 + 1,48 = 3,53 cm2  (5  10)
que já supera a área de aço mínima exigida pela flexão.
Nas faces laterais, como a altura da viga é menor que 60 cm, não é
necessária a utilização de armadura de pele. Há apenas a parcela da torção, cuja
área de aço vale As  5,30  (0,50  0,07 )  2,28 cm 2 , ou seja,
As,tot = 2,28 cm2  (3  10)

b) Estribos

A área final dos estribos é dada pela soma das parcelas correspondentes ao
A A
cisalhamento e à torção, sw  90 , mas neste exemplo, como já foi visto, não é
s s
necessária armadura para o cisalhamento. Há apenas a parcela da torção, que já
supera a área de aço mínima exigida. Assim, em cada face deve-se ter:
2
 A90  cm
   5,30   8 c/ 9
 s TOTAL m

que obedece ao espaçamento longitudinal máximo entre estribos, segundo a Norma:

Vd  0,67 VRd,2  smáx = 0,6d  30 cm  smáx = 27,8 cm


O detalhamento final da seção transversal é apresentado na figura 9.

14.18
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4 N3 10

N4 8 C/9

3 N2 10 3 N2 10

5 N1 10

Figura 9 - Detalhamento final da Viga V1(35 x 50)

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do modelo de treliça espacial generalizada é uma importante
característica da ABNT NBR 6118:2014, permitindo que se trabalhe com a mesma
inclinação da biela (de 30o a 45o) tanto na torção quanto no cisalhamento. Além
disso, com essas diretrizes, o projetista tem a possibilidade de realizar um
dimensionamento mais eficiente para cada seção estudada, já que, com a escolha
dos valores de  e he, pode-se distribuir mais conveniente as parcelas de esforços
nas bielas e nas armaduras.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de
estruturas de concreto. Rio de Janeiro.
COMITÉ EURO-INTERNACIONAL DU BÉTON. CEB-FIP Model Code 1990. Bulletin
d’ Information, n. 204, 1991.
COMITE EUROPEEN DE NORMALISATION. Eurocode 2 - Design of concrete
structures. Part 1: General rules and rules for buildings. Brussels, CEN, 1992.
FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. Structural concrete: textbook on
behavior, design and performance. FIB Bulletin, v. 2, 1999.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto: princípios básicos de
estruturas de concreto armado. v. 1. Rio de Janeiro, Interciência, 1977.
SUSSEKIND, J.C. Curso de concreto. v. 2. Rio de Janeiro, Globo, 1984.

14.19

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