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ASSISTENTE DE DESPACHANTE

ADUANEIRO - Módulo 2
1 INTRODUÇÃO

O comércio internacional, que conhecemos hoje, é o resultado de


inúmeros processos históricos e políticos. Na atualidade, tudo o que
ocorre no comércio exterior exige uma grande força de trabalho e uma
extensa malha de órgãos que precisam trabalhar em conjunto para
atender as demandas do mercado, num tempo hábil, sem que se perca a
qualidade nos processos, nem que se permita fraudes.

Nesse módulo, iremos entender como foi que o Brasil se inseriu no


comércio exterior, quais são os órgãos que atuam na área, suas
respectivas competências e quais são os impostos aplicados no comércio
entre países e suas funções.

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2 PROCESSO DE FORMAÇÃO DO COMÉRCIO
EXTERIOR BRASILEIRO

O processo de formação do comércio exterior brasileiro remonta ao


século 19 quando da vinda da família real portuguesa para o Brasil, que
fugia da dominação imposta por Napoleão em toda a Europa.

O marco inicial do comércio exterior do Brasil se dá em 1808, quando foi


assinada a Carta Régia de Abertura dos Portos da colônia. Era evidente
que seria impossível manter os portos brasileiros fechados, agora que
estava sobre o controle da França e o comércio Europeu. O estoque
aurifico da família real estava se esgotando, sendo assim, a única forma
de dar movimentação aos recursos da corte seria dar início ao comércio
internacional do Brasil colônia. É importante ressaltar, que apesar de ter
ocorrido a abertura às nações amigas, a única que se beneficiava dessa
abertura foi a Inglaterra. A Inglaterra, único país que conseguiu resistir as
investidas de Napoleão, viu no Brasil, um excelente campo para negócios.
É neste período, também, que foi firmado o Tratado de Comércio com o
Brasil colônia onde obtinha benefícios preferenciais em relação a outros
países. As taxas que eram concedidas a Inglaterra chegavam a ser 50%
inferior às aplicadas aos demais países.

Figura 1 – Abertura dos portos às nações amigas

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Em 1822, sob o clima liberal que se espalhava no ocidente e de forma
particular nas Américas, D. Pedro I proclama a independência do Brasil e
em 1824 outorga a Carta Magna, o que refletiria de forma significativa no
controle da economia brasileira nas décadas que viriam. Devido ao
Tratado Comercial, o Brasil sofreu com o déficit na balança comercial,
encontrou no café e na extração da borracha um meio de impulsionar o
comércio exterior brasileiro.

Entre 1841 e 1850, o Brasil começa a tomar medidas para romper o


Tratado Comercial com a Inglaterra, isso acaba por elevar os direitos
alfandegários e aumentar os custos de importação. É nesta época, que a
dívida externa do Brasil atinge o marco de cinco milhões de libras
esterlinas. Já na década que se seguiu, o Brasil atingiu o superávit na
balança comercial com a exportação do café, do açúcar, do algodão e da
borracha. Essa é uma época de crescimento econômico e modernização
que vai até meados de 1898, quando começa uma crise econômica que
ficou conhecida como “Encilhamento”, que gerou altos níveis
inflacionários obrigando o Brasil a contrair empréstimo com a Inglaterra.
No primeiro decênio do século XX, o Brasil encontra na exportação de
borracha o seu melhor negócio, agora que a exportação do café começa
a cair no mercado exterior devido à queda na demanda e os baixos
preços oferecidos pelos seus grãos.

A baixa no preço do café permanece, passando pelo período da 1ª


grande Guerra Mundial e tem seu pior nível em 1929, com o crash da
bolsa de valores de Nova Iorque, fazendo com que o governo brasileiro
seja obrigado a queimar todo o estoque em excesso.
Nos anos de 1940 com a 2ª Grande Guerra, o Brasil aumentou sua
participação na exportação de matérias-primas específicas como
minerais e borracha. Com o fim da guerra, a exportação do café voltou a
renascer com força total.

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A partir da década de 50, no Governo de Juscelino Kubitschek, a
economia brasileira entra em uma nova era. Seguindo o plano de metas,
o Brasil se desenvolve de forma acelerada e consolida seu processo de
industrialização. O Plano de Metas para o período 1956-61 previa a
instalação de novos ramos nos setores industriais, como o de
automóveis, autopeças e insumos industriais, além da produção de
alguns bens de capital.

A consolidação do Plano se torna viável, devido à participação do Estado


no setor de infraestrutura, ao investimento direto pela gestão do Estado
no processo de industrialização e a atração de empresas multinacionais,
cujo destaque está na indústria automobilística.
Comercialmente, é promovida a diversificação na matriz das
exportações, tanto de produtos quanto de mercados. O Plano de JK
estabelecia o objetivo de "crescer cinquenta anos em cinco”, por meio do
desenvolvimento da indústria de base, da construção de grandes obras,
como estradas e hidrelétricas e aumento na extração de petróleo.

O principal objetivo era retirar o Brasil do estágio de


subdesenvolvimento e transformá-lo num país industrializado e
desenvolvido. Os industriais brasileiros permaneceram investindo nos
setores tradicionais (tecido, móveis, alimentos, roupas e construção civil)
e as multinacionais, assim que entram no Brasil, se encarregam de
produzir bens de consumo.

O plano tem consequências tanto positivas quanto negativas. Se por um


lado, a indústria se modernizou, por outro, os empréstimos que foram
usados para à execução do plano culminam em um forte endividamento
internacional. Aumenta também, frente aos países desenvolvidos, nossa
dependência tecnológica e o êxodo rural.
Como estímulo a instalação de empresas internacionais no país, é

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editada, em 14 de agosto de 1957, com a Lei de Tarifas Aduaneiras, que
instaura em nosso sistema aduaneiro a tarifa “ad valorem”, que de acordo
com a Nomenclatura Aduaneira de Bruxelas, permite a elevação de
tarifas para proteção das indústrias nascentes.

Para gerenciar esse novo sistema, é criado o Conselho de Política


Aduaneira (CPA). Os anos JK, apesar de terem tido um impacto positivo
na indústria nacional, com diversificação da matriz produtiva e aumento
da produtividade, não conseguiram transformar de maneira definitiva o
comércio exterior do Brasil. Na década de 60, as exportações do café
ainda perfaziam 60% do valor das exportações brasileiras e, ainda que o
PIB tenha crescido uma média de 8,1% ao ano durante o período 1955 a
1960, as exportações, indo em contramão, caíram no período observado.

Entre 1960 a 1980, foi criado o Conselho Nacional do Comércio Exterior,


o qual torna obrigatório o registro de exportador para melhorar o
controle daqueles que exportam e incentivar assim, o financiamento à
exportação. Neste mesmo período é instituída uma política de
substituição de importações que incentiva as indústrias nacionais
nascentes.

Já em meados dos anos 80, a crise do petróleo afeta a economia mundial


e de maneira ainda mais significativa a economia brasileira, provocando
uma alta na inflação e baixas taxas de crescimento econômico.

A última década do século XX, foi marcada regionalmente pela


assinatura do Tratado de Assunção, no qual surge o Mercosul, composto
naquela época pela Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. O Brasil decide
incentivar a ampla abertura comercial por reduzir as tarifas de
importação, criando incentivos e financiamentos para a exportação.

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3 PRINCIPAIS ÓRGÃOS DO COMÉRCIO EXTERIOR

O comércio exterior trata dos mais diversos assuntos relacionados a


importação e a exportação. Para isso existem diversos órgãos que têm o
objetivo de dar proteção, monitoramento e ajuda em todas as questões
aduaneiras, que são de extrema importância para a proteção comercial
do país e para eventos diplomáticos.

Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços


(MDIC)

O Ministério da Industria, Comércio Exterior e Serviços foi criado pela lei


°3.782 de 22 de julho de 1960, durante o governo de JK. É um órgão que
integra a estrutura da administração pública federal direta. Ele tem como
objetivo proporcionar o desenvolvimento econômico por meio de
políticas que estimulem o comércio exterior, a indústria, comércio e
1.2.1
serviços, e a inovação empresarial.

Por meio da Secex, Secretaria de Comercio Exterior, o MDIC realiza


inúmeras ações e executa diversos programas que são voltados para o
estímulo do comércio exterior e das exportações brasileiras. Destes
podemos destacar: Projeto Primeira Exportação, Programa Nacional de
Apoio Tecnológico à Exportação, Rede Nacional de Agentes de Comércio
Exterior e o Encontros de Comercio Exterior.

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Comex Vis

Para fortalecer o compromisso de facilitar o acesso às informações


estatísticas do comercio exterior, o MDIC lançou a plataforma Comex Vis.
Trata-se de uma forma inovadora de visualizar e entender os dados do
comércio exterior. O cidadão, por meio da ferramenta, tem acesso
facilitado e pode navegar e interagir com as estatísticas das exportações
e importações brasileiras.

O MDIC possui diversas áreas de competências:

• Política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos


serviços.

• Propriedade intelectual e transferência de tecnologia.

• Metrologia, normalização e qualidade industrial das políticas de


comercio exterior.

• Regulamentação e execução dos programas e atividades relativas


ao comercio exterior.

• Aplicação dos mecanismos de defesa comercial.

• Participação em negociações internacionais relativas ao comercio


exterior.

• Formulação da política de apoio à microempresa, empresa de


pequeno porte e artesanato.

• Execução das atividades de registro do comércio.

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Câmara de Comércio Exterior (Camex)

A câmara de Comércio Exterior tem como funções adotar, formular,


implementar e coordenar políticas e atividades relativas ao comércio
exterior de bens e serviços. O Turismo também está incluído, pois tem
como objetivo principal promover o comércio exterior, atrair
investimentos e a competitividade internacional do país.

A câmara é composta pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento,


Indústria e Comércio Exterior, a quem fica responsável pela presidência
da Camex, e pelos Ministros de Estado Chefe da Casa Civil; das Relações
Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do
Planejamento, Orçamento e Gestão; e do Desenvolvimento Agrário.

Dentre as muitas competências do Camex, podemos destacar:

• Definir os procedimentos e as diretrizes relativos à


implementação de uma política de comércio exterior que vise a
inserção do Brasil na economia internacional de forma competitiva.
• Dar orientação à política aduaneira, observando a competência
específica do Ministério da Fazenda.
• Participar na formulação de diretrizes básicas da política
tarifária aplicadas na importação e exportação.
• Opinar e participar na política de frete e transportes
internacionais, portuários aeroportuários e de fronteiras,
objetivando a sua adaptação aos propósitos da política de comércio
exterior e ao aprimoramento da concorrência.
• Decidir sobre a manutenção ou suspensão da exigibilidade dos
direitos provisórios;
• Estabelecer parâmetros e medidas dirigidas a simplificação e a

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Ministério das Relações Exteriores (MRE)

O Ministério das Relações Exteriores, também conhecido como


Itamaraty. É o órgão que auxilia a presidência na realização, na
elaboração e direcionamento da política externa nacional, garantindo
sua execução correta e propiciando uma boa relação diplomática com os
governos dos países estrangeiros. Desse modo, promove os interesses
do Estado e da coletividade brasileira no exterior.
A atuação do MRE, está centrada nas áreas de política internacional, nas
relações diplomáticas e nos serviços consulares. Sendo ativa sua
participação em toda negociação, cooperação internacional e de
promoção comercial que se revele importante para o Brasil. Assim, como
todo o amparo necessário a qualquer representação brasileira no
exterior.

Dentre as funções exercidas pelo MRE, podemos destacar:

• Serviços consulares: Auxilio jurídico e informacional aos


brasileiros no exterior.
• Serviço cerimonial: Organização de eventos que visem a
promoção do país perante autoridades e representantes de países
estrangeiros.
• Controle das emissões de passaportes e documentos análogos.
• Organização de visitas guiadas: dá suporte e guia a população
em geral dentro do Palácio do Itamaraty.

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Receita Federal do Brasil (RFB)

A Receita Federal é responsável por administrar os tributos que


competem a União. Isso inclui incidentes a respeito do comércio exterior,
que abrange uma parte importante das contribuições sociais do país. O
Poder Executivo Federal conta, também, com a Receita Federal, na
elaboração da política tributária brasileira. Além disso, trabalha na
prevenção e no combate aos atos ilícitos do comércio exterior.

Dentre suas funções podemos destacar:

• Controle Aduaneiro:
A Receita Federal regulamenta tudo o que tenha relação direta ou
indireta com o comércio exterior. Tanto na exportação quanto na
importação, as operações que envolvem pagamento de tributos,
como: PIS, IPI, COFINS, são controlados pela Receita Federal. A Receita
também é responsável pelo acompanhamento de entrada de pessoas
no país e os bens que elas trazem consigo do exterior.

• Combate ao crime:
A RFB auxilia também as investigações que combatem crimes
relacionados as importações e as exportações, funções fiscais e
administração dos tributos federais, como: falsificação de notas
fiscais, sonegação e fraude fiscal, descaminho, tráfico de drogas e
animais, contrabando e pirataria. Logo, é necessário que haja um
trabalho em conjunto entre a Receita, a Polícia Federal, o Ministério

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4 CLASSIFICAÇÃO FISCAL DE MERCADORIAS

Todo profissional que queira permanecer e se destacar no mercado de


comércio exterior precisa entender muito bem como funciona o sistema
de classificação de mercadorias.

Uma classificação fiscal equivocada pode ocasionar o recolhimento


indevido de impostos, descumprir os procedimentos administrativos
aplicáveis sobre os produtos e sobre os processos de exportação e
importação, multas, correções, além de possível perda de uma eventual
venda, devido a não concordância entre o vendedor e o comprador
sobre o código que deve ser adotado. Em outras palavras, é importante
que o profissional adquire os conhecimentos necessários para elaborar a
classificação fiscal adequada com sua mercadoria ou acabará por ter
problemas e prejuízos em suas operações, sejam elas nacionais ou
internacionais.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar, ainda, que a classificação se


aplique tanto em operações do mercado interno, em emissões de notas,
quanto no mercado internacional, em registros das operações de

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importações e de exportações, as regras que regem os procedimentos
não advieram da elaboração de leis pelo poder legislativo.

Os procedimentos de identificação mercadológica datam de muitos


anos e ao longo dos anos, vem sendo aperfeiçoados e adaptados por
meio de conferências internacionais. Esses aperfeiçoamentos levam em
conta o desenvolvimento e a disponibilidade de novas tecnologias que
permitem ao ser humano desfrutar de mercadorias que tornem a vida
mais fácil, minimizem o trabalho e proporcionem lazer.

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Assim sendo, para que o importador, ou o exportador, ou o fabricante ou
o produtor determinem a correta classificação fiscal de suas mercadorias,
faz se necessário que o mesmo seja conhecedor do Sistema
Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias, conhecido
simplesmente como Sistema Harmonizado (SH), tal como previsto no
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and
Trade – GATT), do qual o Brasil é um dos signatários, e encontra-se
vigente desde 1.988. Este sistema já sofreu algumas alterações com
intuito de adequá-lo à evolução do comércio exterior, sendo a mais
recente em 2012.

Trata-se de uma metodologia internacional, que se baseia em uma


estrutura de códigos e suas respectivas descrições, que foi elaborada
para promover o desenvolvimento do comércio internacional,
aperfeiçoar a coleta e a comparação das estatísticas de compra e venda
no mercado internacional, além da correta aplicação tributária.

Os códigos que compõem o Sistema Harmonizado (SH), são formados


por seis dígitos, esses dígitos possibilitam identificar as características de
cada mercadoria tais como: sua origem, material utilizado em sua
constituição, aplicação e demais quesitos de ordem técnica, os quais
aparecem da seguinte forma:

Os dois primeiros dígitos que indicam o Capítulo vão de 01 a 99, ou seja,


são ao todo 99 capítulos que possibilitam a identificação dos mais
diversos tipos de mercadorias.
O mesmo se dá nos dois dígitos seguintes que identificam a Posição

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ocupada dentro do capítulo ao qual a mercadoria pertence, de acordo
com suas características próprias.

O penúltimo dígito representa a Subposição de 1º nível que vai de 1 a 9


e o mesmo se dá com o sexto e último dígito que representa a
Subposição de 2º nível.

O conjunto de todos estes dígitos possibilita uma gama de códigos, os


quais permitem que se identifiquem os mais diversos tipos de
mercadorias. Importante ainda saber que essa estrutura se acomoda em
21 seções distintas, representando os mais diversos universos de
mercadorias.

Em primeiro momento, toda essa classificação pode se apresentar como


confusa, entretanto, vale lembrar que a nomenclatura também é
composta de Notas de Seção, de Capítulo e de Subposição, que auxiliam
na identificação do código a ser utilizado, seja por textos específicos ou,
ainda, textos que orientam qual o código a ser pesquisado.

1.2 Além dessa classificação, o Sistema Harmonizado também contém


Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado e das Notas
Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH), que dão as informações
necessárias para a interpretação do Sistema Harmonizado, firmando em
detalhes o alcance e conteúdo da Nomenclatura. Asim como as notas
mencionadas no parágrafo anterior, a leitura das Regras Gerais e da NESH
é de fundamental importância.

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O Brasil como signatário do GATT acata e aplica as normas do Sistema
Harmonizado – SH. Entretanto, para a identificação da classificação fiscal
será necessário a identificação dos dois últimos dígitos – 7º e 8º – que
representam o Item, e o Subitem, respectivamente dentro da
Nomenclatura Comum do MERCOSUL – NCM.

A inclusão de dígitos adicionais – 7º e 8º – visa formar a classificação fiscal


da mercadoria, ou seja, o código da Nomenclatura Comum do
MERCOSUL – NCM, que é utilizado pelo Brasil, pela Argentina, Paraguai e
Uruguai com o advento do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL,
instituído em 1995.

A sistemática de classificação dos códigos na Nomenclatura Comum do


MERCOSUL (NCM) obedece à seguinte estrutura:

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A classificação fiscal de mercadorias utilizada no Brasil é a combinação
dos seis dígitos do Sistema Harmonizado – SH e a inclusão de dígitos que
permitem a identificação de mercadorias no território nacional e do
MERCOSUL.

5 TRIBUTOS NO COMÉRCIO EXTERIOR

Vejamos como o Código Tributário Nacional define tributo:

Art. 3° – Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou


cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,
instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.

Dada essa definição podemos ainda exprimir outras informações:

• Tributo é uma prestação pecuniária: ou seja, em dinheiro.


• Tributo é uma prestação compulsória: isso significa dizer que
como o Direito Tributário está inserido no ramo do Direito Público
logo, pelo interesse público, existe a imposição unilateral da
obrigação, que independe da vontade do obrigado.
• Tributo é uma prestação em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir: quando o legislador usa a palavra moeda fica claro do que
se trata, uma vez que a prestação é compulsória. Já a expressão “ou

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cujo valor nela se possa exprimir” indica que o tributo pode ser
cobrado em: indexadores, títulos da dívida pública e ação de
pagamento em bens imóveis.
• Tributo não é sanção de ato ilícito: é necessário fazer a distinção

8 entre tributo e multa tributária. O tributo nunca é punição por um


ilícito e a multa sempre é uma penalidade por ato contrário à
legislação.
• Tributo é prestação instituída em lei: a competência tributária é
inalienável. Só as autoridades competentes por meio da Lei podem
exigir tributo de alguém.
• Tributo é cobrado mediante atividade administrativa
plenamente vinculada: essa parte da lei indica que não há qualquer
margem de liberdade ao agente público da administração
tributária, no que diz respeito à cobrança de tributos. Se o agente,
enquanto no exercício de suas funções, toma ciência da ocorrência
de um fato gerador, deve fazer o lançamento e cobrar o tributo. Não
é sua a decisão se é oportuno e conveniente cobrar, ou dispensar a

IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

Para Machado (2004), o imposto de importação, também conhecido


vulgarmente como "tarifa aduaneira", "direitos de importação", "tarifa
das Alfândegas", "direitos aduaneiros", entre outras denominações, é da
competência da União Federal, e assim se deve ser, porque no que tange
os impostos com implicações na relação do País com o exterior, seu trato
deve ser ministrado exclusivamente pela União, que é a responsável por

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esse relacionamento, que precisa ser uniforme, pois no âmbito
internacional a personalidade jurídica dos Estados-membros não deve
ser projetada, e sim a própria Federação, como um todo.

No imposto de importação a sua função é predominantemente


extrafiscal. Esse imposto é muito mais importante como instrumento
que objetifica proteger a indústria nacional, do que como instrumento
que visa arrecadar recursos financeiros para o tesouro público.

Se não houvesse o imposto de importação, a maior parte dos produtos


industrializados no Brasil não teria condições de competir no mercado
com seus similares, produzidos em países economicamente mais
desenvolvidos, uma vez que nesses países o custo industrial é reduzido,
graças aos processos de racionalização da produção e ao aparato
tecnológico de um modo geral. Além disto, vários países dão subsídios
as exportações de produtos industrializados, de forma que os seus
preços ficam consideravelmente reduzidos. Assim, o imposto de
importação serve como um importante instrumento de política
econômica.

Fato gerador

O Imposto de Importação é assim definido pelo Código Tributário


Nacional no seu art. 19 como de competência exclusiva da União, que
incide na importação de produtos estrangeiros cujo fato gerador é a
entrada destes no país.

Segundo Luz (2006), o território aduaneiro compreende todo território


nacional, e a Lei n° 8.617, de 4 de janeiro de 1993, dispõe que o território
nacional compreende o mar territorial, que se estende 12 milhas

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marítimas a partir da costa. Logo, saber em qual momento a mercadoria
entrou no país é uma tarefa muito complicada, pois não há ninguém e
nenhuma fiscalização no meio do oceano, na linha das 12 milhas
marítimas, para atestá-lo. Portanto, sem ter certeza se o navio entrou nas
águas territoriais antes da meia-noite ou após da meia-noite, não se
pode definir se a legislação aplicável é a de ontem ou a de hoje.

Para resolver esse impasse, o Regulamento Aduaneiro criou o Elemento


Temporal do Fato Gerador, que é diferente do Elemento Espacial do fato
Gerador, que é a entrada da mercadoria no território aduaneiro:

Art. 73 – Para efeito de cálculo do imposto, considera-se ocorrido o fato


gerador:

I - Na data do registro da declaração de importação de mercadoria


submetida a despacho para consumo.

II – No dia do lançamento do correspondente crédito tributário, quando


se tratar de:
a) bens contidos em remessa postal internacional não sujeitos ao regime
de importação comum;
b) bens compreendidos no conceito de bagagem, acompanhada ou
desacompanhada;
c) mercadoria constante de manifesto ou de outras declarações de efeito
equivalente, cujo extravio ou avaria tenha sido apurado pela autoridade
aduaneira.

III – na data o vencimento do prazo de permanência da mercadoria em


recinto alfandegado, se iniciado o respectivo despacho aduaneiro antes
de aplicada a pena de perdimento da mercadoria, na hipótese a que se

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refere o inciso XXI do artigo 618 (Nova Redação dada pelo Decreto n°
4
4.765/03).

Parágrafo único: O disposto no inciso I aplica-se, inclusive, no caso de


despacho para consumo de mercadoria sob regime suspensivo de
tributação, e de mercadoria contida em remessa postal internacional ou
conduzida por viajante, sujeita ao regime de importação comum.

O Decreto-Lei n° 37 de 18 de novembro de 1966 no seu art. 1° também


enumera os casos em que não há a incidência do imposto [6].

Art.1º - O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria


estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.
(Redação dada pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)

§ 1º - Para fins de incidência do imposto, considerar-se-á também


estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que
retornar ao País, salvo se: (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de
01/09/1988)
a) enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado; (Incluído
pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)
b) devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou substituição;
(Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)
c) por motivo de modificações na sistemática de importação por parte
do país importador; (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)
d) por motivo de guerra ou calamidade pública; (Incluído pelo
Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)
e) por outros fatores alheios à vontade do exportador. (Incluído pelo
Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)

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§ 2º - Para efeito de ocorrência do fato gerador, considerar-se-á entrada
no Território Nacional a mercadoria que constar como tendo sido
importada e cuja falta venha a ser apurada pela autoridade aduaneira.
(Parágrafo único renumerado para § 2º pelo Decreto-Lei nº 2.472, de
01/09/1988)

§ 3º - Para fins de aplicação do disposto no § 2º deste artigo, o


regulamento poderá estabelecer percentuais de tolerância para a falta
apurada na importação de granéis que, por sua natureza ou condições de
manuseio na descarga, estejam sujeitos à quebra ou decréscimo de
quantidade ou peso. (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988)

§ 4o - O imposto não incide sobre mercadoria estrangeira: (Incluído pela


Lei nº 10.833, de 29.12.2003)
I - avariada ou que se revele imprestável para os fins a que se destinava,
desde que seja destruída sob controle aduaneiro, antes de despachada
para consumo, sem ônus para a Fazenda Nacional; (Incluído pela Lei nº
10.833, de 29.12.2003)
II - em trânsito aduaneiro de passagem, acidentalmente destruída; ou
(Incluído pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)
III - que tenha sido objeto de pena de perdimento, exceto na hipótese em
que não seja localizada, tenha sido consumida ou revendida. (Incluído
pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

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Alíquotas

Duas são as espécies de alíquotas que incidem no imposto de


importação.

A primeira espécie é a chamada alíquota específica, que é um valor em


moeda, que é multiplicado por uma unidade de medida, determinando
o total do tributo a ser pago. O que deve ser observado no caso da
alíquota específica é que a base de cálculo não é um valor em dinheiro,
mas sim uma unidade de medida (ALEXANDRINO, 2006, p.81).

A segunda espécie de alíquota é a “ad valorem”, que é um percentual


aplicado sobre uma base de cálculo determinada em moeda de onde é
gerado o total do imposto a pagar.

Como já vimos, o imposto de importação é um tributo com função


predominantemente extrafiscal. O que faz com que ele possa ser
aumentado no decorrer do exercício financeiro. Também não é aplicável
a ele o princípio da legalidade, uma vez que suas alíquotas podem ser
elevadas e reduzidas, dentro dos limites fixados em lei, por ato do Poder
Executivo.

O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em


lei, fazer alteração nas alíquotas do imposto de importação, a fim de
adequá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. É a
constituição no art. 153, § l° que outorga tal faculdade ao Poder
Executivo.

Entretanto, segundo Hugo de Brito Machado, quando se estabelecem


alíquotas elevadas acaba-se por estimular à prática do descaminho, na

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medida em que estabelecem uma grande diferença de preço entre o
produto importado regularmente e aquele procedente de descaminho,
sem imposto. Passando a funcionar a lei natural, na qual a tendência para
a sonegação cresce na medida em que é maior a alíquota do tributo.
(MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 2008, p. 287).

Base de Cálculo

Na declaração do CTN, quando a alíquota estiver especificada, a base


que era usada é a unidade de medida, que foi adotada pela lei para o
caso. No entanto, quando a alíquota for ad valorem, a base que será
utilizada para cálculo é o preço normal que o produto, ou seu similar,
alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda normal sob
condições de livre concorrência. Por fim, no que tange aos produtos
apreendidos ou abandonados, que são levados a base de cálculo será o
preço da arrematação (CTN, art. 20).

Contribuinte

Para o Código Tributário Nacional contribuinte de imposto de


importação é o importador ou aquele a quem ele a lei equiparar. No caso
de produtos apreendidos ou abandonados, o contribuinte é aquele que
o arremate (CTN, art. 22, inc. I e II).

Nos termos do Regulamento Aduaneiro os contribuintes e responsáveis


estão assim definidos:

Art. 103. É contribuinte do imposto (Decreto-lei no 37, de 1966, art. 31,


com a redação dada pelo Decreto-lei no 2.472, de 1988, art. 1o):
I - o importador, assim considerada qualquer pessoa que promova a

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entrada de mercadoria estrangeira no território aduaneiro;
II - O destinatário de remessa postal internacional indicado pelo
respectivo remetente;

III - o adquirente de mercadoria entrepostada.

Art. 104. É responsável pelo imposto:


I - o transportador, quando transportar mercadoria procedente do
exterior ou sob controle aduaneiro, inclusive em percurso interno
(Decreto-lei no 37, de 1966, art. 32, inciso I, com a redação dada pelo
Decreto-lei no 2.472, de 1988, art. 1o);

II - o depositário, assim considerada qualquer pessoa incumbida da


custódia de mercadoria sob controle aduaneiro (Decreto-lei no 37, de
1966, art. 32, inciso II, com a redação dada pelo Decreto-lei no 2.472, de
1988, art. 1o); ou

III - qualquer outra pessoa que a lei assim designar.

Art. 105. É responsável solidário:


I - o adquirente ou o cessionário de mercadoria beneficiada com isenção
ou redução do imposto (Decreto-lei no 37, de 1966, art. 32, parágrafo
único, inciso I, com a redação dada pela Medida Provisória no 2.158-35,
de 2001, art. 77);
II - o representante, no País, do transportador estrangeiro (Decreto-lei no
37, de 1966, art. 32, parágrafo único, inciso II, com a redação dada pela
Medida Provisória no 2.158-35, de 2001, art. 77);
III - o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de
importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa
jurídica importadora (Decreto-lei no 37, de 1966, art. 32, parágrafo único,

24
inciso III, com a redação dada pela Medida Provisória no 2.158-35, de
2001, art. 77);
IV - o expedidor, o operador de transporte multimodal ou qualquer
subcontratado para a realização do transporte multimodal (Lei no 9.611,
de 19 de fevereiro de 1998, art. 28); e
V - qualquer outra pessoa que a lei assim designar.
§ 1oA Secretaria da Receita Federal poderá (Medida Provisória no
2.158-35, de 2001, art. 80):
I - estabelecer requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica
importadora por conta e ordem de terceiro; e
II - exigir prestação de garantia como condição para a entrega de
mercadorias, quando o valor das importações for incompatível com o
capital social ou o patrimônio líquido do importador ou do adquirente.

Lançamento

Assim está definido o conceito de lançamento pelo Código Tributário


Nacional e suas funções:

Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa


1.2 constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o
procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável,
calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e,
sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e


obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.

25
De forma resumida, o lançamento é o ato ou procedimento
administrativo privativo da autoridade administrativa, que constitui o
crédito tributário. O lançamento tem natureza constitutiva do crédito e
declaratória da obrigação, isso porque a obrigação existe antes do
lançamento e independente dele. O lançamento confere certeza e
liquidez à obrigação tributária, tornando-a exigível, é o momento no
qual a partir dele passa a existir o crédito tributário (ALEXANDRINO,
2006, p.236)

Segundo Luciano Amaro, a prática do lançamento se faz necessária para


que o sujeito ativo possa exercitar atos de cobrança do tributo, primeiro
administrativamente e depois caso não haja sucesso, mediante ação
judicial, que é chamada de execução fiscal, sendo essa precedida por
uma outra providência formal, que é a inscrição do crédito em dívida
ativa (AMARO apud ALEXANDRINO, 2006, p.236).

IMPOSTO SOBRE EXPORTAÇÃO (IE)

Existe muita discussão no que envolve o imposto de exportação e seu


caráter antieconômico. Este imposto, muitas vezes, age na contramão do
mercado nacional, dificultando nossa concorrência no mercado
internacional, uma vez que, pesa de forma negativa a produção interna
do país.

Levando em conta disso, o imposto de exportação só deve incidir sobre


os produtos nos quais o país exportador apresenta vantagens
competitivas em relação aos outros países, e que mesmo com a
tributação, ele continuará competitivo.

26
Versando sobre o assunto, segundo Ives Gandra Martins: "A tradição do
comércio exterior é a de exportar produtos e não exportar tributos. E só
se exporta tributos quando a exportação de produtos com tributos não
retire a competitividade dos produtos nacionais" (MARTINS CREMONINI,
2001)

Diante disto, atualmente apenas são tributados com o imposto de


exportação:

a) Fumo, cigarro e papel de cigarro, sujeitos à alíquota de 150%, como


definido nos Decretos n° 2.876, de 14 de dezembro de 1998, e 3.646, de
30 de outubro de 2000, e na resolução CAMEX n° 26, de 28 de agosto de
2003;

b) Armas e munições, sujeitas à alíquota de 150%, como definido na


Resolução CAMEX n° 17, de 6 de junho de 2001;

c) Couros e peles, sujeitos às alíquotas de 9% e 7%, como dispõe, a


Circular BACEN 2.767, de 11 de julho de 1997, e a Resolução CAMEX n°
38, de 13 de dezembro de 2004; e

d) Castanha de caju, com casca, sujeita à alíquota de 30%, como definido


na Resolução CAMEX n° 31, de 20 de outubro de 2003.

Nos dois primeiros casos, a tributação foi imposta a fim de evitar que
esses bens saiam de forma legal do país e depois, voltem de forma
clandestina ao Brasil. Como na saída não há tributação de IPI, ICMS, PIS e
COFINS por imunidade e estes bens quando no país observam uma
carga tributária altíssima, por não serem bens essenciais e causarem
danos à saúde pública, há vantagens financeiras em sair de forma legal e

27
voltar ilegalmente.
Cabe frisar que, seguindo esta lógica do governo, só há tributação nesses
casos quando a exportação é para a América do Sul ou para a América
Central. Esta possibilidade de cobrar imposto de exportação apenas para
alguns países, sendo dispensado em relação a outros, é prevista no §2°
do artigo 216 do Regulamento Aduaneiro. No que se refere aos dois
últimos casos, as exportações são oneradas, com a cobrança de imposto
para que se evite um desabastecimento no mercado interno. (LUZ, 2006,
p.205)

Fato gerador

No caso do imposto que incide na exportação tem como fato gerador a


saída da mercadoria do território nacional. É isso que está
regulamentado no art. 153, inciso III, da Constituição, e do art. 23, do
Código Tributário Nacional. Lembrando ainda que esse imposto não
recai sobre todos os produtos, ele deve estar indicado na lista aprovada
pelo Poder Executivo (Decreto-lei n. 1.578/77, art. 1Q, e seu § 3°). Caso
não esteja não há incidência tributária.

O fato gerador ocorre quando se é emitido a guia de exportação ou


documento equivalente (Decreto-lei n. 1.578/77, art. 1", § 1°). O Código
Tributário Nacional diz que o fato gerador ocorrerá na saída do produto
do território nacional, essa saída, por ficção legal, acontece no momento
da expedição da guia de exportação ou documento equivalente. Isso
ocorre por questões práticas. Uma vez, que o próprio contribuinte está
afirmando que fará uma exportação. Essa ficção jurídica ocorre porque é
o momento em que a exportação se exterioriza no mundo jurídico. A
expedição da guia de exportação não é fato gerador do tributo. Ela é
apenas o momento em que se considera, para fins de cobrança do

28
imposto, exteriorizado o fator exportação. (MACHADO, 2004, p.290)

Se por motivos diversos não houver a exportação, independentemente


do motivo, o imposto será restituído, pois o fato gerador passa a inexistir,
sendo o seu pagamento ilícito (Decreto-lei n. 1.578/77, art. 6°).

Alíquotas

A alíquota aplicada na exportação, tal como ocorre no imposto de


importação, pode ser especifica e ad valorem. O Poder Executivo pode,
dentro das condições e nos limites estabelecidos em lei, realizar
alterações nas alíquotas ou nas bases de cálculo do imposto, para
ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior (CTN,
art. 26).

A alíquota ad valorem do imposto de exportação é de 30% (trinta por


cento), "facultado ao Poder Executivo reduzi-la ou aumentá-la, para
atender aos objetivos da política cambial e do comércio exterior" (Lei n.
9.716, de 26.11.1998, art. 3°). Como definido por lei a alíquota máxima
não pode ser superior a 150% (cento e cinquenta por cento) (Lei n.
9.716/98, art. 3°, parágrafo único). O Regulamento Aduaneiro estabelece
que a alíquota de imposto de exportação é de 30%.

Entretanto, a CAMEX tem a competência de alterar esta alíquota para


qualquer produto. Ela pode reduzir por completo ou majorar até a
alíquota de 150% que é a alíquota máxima. Com base nisto, e para
fomentar a exportação a CAMEX reduziu a zero a alíquota de quase
todos os produtos, exceto os dos itens supracitados, para se evitar
descaminho e contrabando. Vale lembrar, que toda redução ou aumento
na alíquota precisa ser justificado, sendo passivo de

29
inconstitucionalidade a não justificação.

Base de cálculo

A base de cálculo do imposto de exportação, utilizada nos produtos que


estão sujeitos, é a alíquota ad valorem, o preço normal que o produto, ou
similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em
condições de livre concorrência (CTN, art. 24).

Para se determinar o preço normal sobre o qual incidirá o imposto faz-se


a dedução dos tributos diretamente incidentes sobre a operação de
exportação, e, nas vendas efetuadas a prazo superior aos correntes no
mercado internacional o custo do financiamento (CTN, art. 24, parágrafo
único).

Contribuinte

O Contribuinte do imposto é sujeito exportador ou quem a lei a ele


equiparar (CTN, art. 27). O sujeito passivo tributário deve ter a relação
pessoal direta com o fato gerador do tributo, uma vez que ele irá assumir
a responsabilidade e condição de sujeito passivo dessa relação
tributária. Machado (2004) afirma que a lei não pode, portanto,
equiparar ao exportador, pessoa que não tenha qualquer relação com a
exportação.

Lançamento

O lançamento do imposto de exportação será realizado mediante a


declaração prestada pelo exportador, podendo a autoridade
administrativa tributária recusar qualquer dos elementos dessa

301
declaração. Portanto, o imposto de exportação pode ser tornar objeto de
lançamento de ofício, nos termos do art. 149 do CTN.
A recite que advém desse tipo de imposto, destina-se à formação de
reservas monetárias, na forma da lei, segundo o art. 28 do CTN.

IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI)

O fato gerador do IPI na importação é o desembaraço aduaneiro,


descrito assim pelo artigo 238 do Regulamento Aduaneiro:

Art. 238 – O fato gerador do imposto, na importação, é o desembaraço


aduaneiro de produto de procedência estrangeira (lei n° 4.502/64)
Parágrafo único – Não constitui fato gerador do imposto o desembaraço
aduaneiro de produtos nacionais que retornem ao país:

I – nas hipóteses previstas nos incisos I a V do art. 70 (Decreto Lei n° 491,


de 5 de março de 1969, art. 11); e
II – sob o regime aduaneiro especial de exportação temporária.
No caso de alguma mercadoria ser extraviada ou sofrer a variação o
Regulamento Aduaneiro prevê a não cobrança do IPI para esta e a
não-incidência do IPI, para aquela. Leia o artigo:

Art. 237. O imposto de que trata este Título, na importação, incide sobre
produtos industrializados de procedência estrangeira (Lei no 4.502, de
1964, art. 1o, e Decreto-lei no 34, de 18 de novembro de 1966, art. 1o).
§ 1o O imposto não incide sobre:
I - os produtos objeto de extravio ocorrido antes do desembaraço
aduaneiro;
II - os produtos chegados ao País nas hipóteses previstas nos incisos I e II
do art. 71, que tenham sido desembaraçados; e

31
III - as embarcações referidas no inciso V do art. 71 (Lei no 9.432, de 1997,
art. 11, § 10).
§ 2o Na determinação da base de cálculo do imposto de que trata o
caput, será excluído o valor depreciado decorrente de avaria ocorrida em
produto.
É importante observar que o inciso I do § 1° e § 2° do artigo acima foi
tacitamente revogado pelo art. 80 da Lei 10.833, de 29 de dezembro de
2003 que, acabou por introduzir o fato gerador presumido do IPI:

Art. 80. O art. 2ºda Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, passa a


vigorar acrescido do § 3º, com a seguinte redação:
"Art. 2º ...
§ 3º Para efeito do disposto no inciso I, considerar-se-á ocorrido o
respectivo desembaraço aduaneiro da mercadoria que constar como
tendo sido importada e cujo extravio ou avaria venham a ser apurados
pela autoridade fiscal, inclusive na hipótese de mercadoria sob regime
suspensivo de tributação." (NR)
No que se refere a produtos que serão exportados não há incidência do
Imposto sobre Produtos Industrializados (artigo 153, § 3.º, inciso III, da
CF). Nesse caso, podemos tratar de imunidade, uma vez que essa
dispensa foi concedida pela própria Carta Magna.

Alíquotas

As alíquotas do IPI por mercadoria estão listadas na Tabela de Incidência


do IPI, aprovada pelo Decreto n° 4.542, de 26 de dezembro de 2002.
O Presidente da República, diante de suas prerrogativas, delegou a
CAMEX a competência para alterar as alíquotas do imposto de
importação e do imposto de exportação. No entanto, como o IPI é um
imposto cobrado também sobre as operações internas, não faz sentido

32
5
que a CAMEX, um órgão exclusivamente voltado para o comércio
exterior, fizesse alteração em tais alíquotas. Portanto, essas alterações
permanecem sob a competência do Presidente da República (LUZ, 2006,
p.202).
Pelo Decreto nº 6.006, de 28 de dezembro de 2006, o Presidente da
República permitiu que a Receita Federal fizesse a adequação da tabela
de imposto em virtude de alteração na Nomenclatura Comum do
Mercosul (NCM), desde que não seja feita alteração nas alíquotas do IPI,
visto que isto continua sendo de competência exclusiva do Poder
Executivo. Lê-se:

Art. 5° - Fica a Secretaria da Receita Federal autorizada a adequar a TIPI,


sempre que não implicar alteração de alíquota, em decorrência de
alterações promovidas na NCM, pela Câmara de Comércio Exterior -
CAMEX, ao amparo do disposto no art. 2º, inciso III, alínea “c”, do Decreto
no 4.732, de 10 de junho de 2003

Base de cálculo

O Regulamento Aduaneiro no seu artigo 239 dispõe que a base de


cálculo a ser utilizada no IPI na importação será o valor aduaneiro
acrescido do imposto e dos encargos cambiais.

A base de cálculo do imposto, na importação, é o valor que servir ou que


serviria de base para cálculo do imposto de importação, por ocasião do
despacho aduaneiro, acrescido do montante desse imposto e dos
encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele
exigíveis (Lei no 4.502, de 1964, art. 14, inciso I, alínea "b").

33
Contribuinte
O artigo 241 do Regulamento Aduaneiro determina: “É contribuinte do
imposto, na importação, o importador, em relação ao fato gerador
decorrente do desembaraço aduaneiro (Lei no 4.502, de 1964, art. 35,
inciso I, alínea "b")”.

Lançamento

Para Machado (2004), o IPI se torna objeto de lançamento por


homologação, nos termos do art. 150 do CTN. O contribuinte escritura
seus livros de entrada e de saída dos produtos, anotando, nos locais
próprios, como crédito, o valor do IPI relativo às entradas de
matérias-primas e outros insumos, e, como débito, o relativo às saídas de
produtos. Apura o saldo escriturando o livro específico, transferindo-o
para o período posterior, se for credor, ou recolhendo o valor
correspondente, se devedor. Como acontece com todos os outros
tributos, o IPI, também, pode ser lançado de ofício se o contribuinte não
apresentar, nas épocas próprias, as informações a que está legalmente
obrigado, dando conta da apuração, por ele efetuada, dos valores
devidos. Caso apresente as informações regularmente, mas não faz o
pagamento, a autoridade pode homologar as atividades apuratória e
notificar o contribuinte a fazer o pagamento do imposto, acrescido da
multa moratória e dos juros.

34
GLOSSÁRIO

Alfândega: É uma repartição governamental, criada para controlar a


entrada e saída de mercadorias para o exterior ou a que dele provenha.

Alíquota: É o percentual incidente sobre o valor de algo taxado.

Comércio Exterior: É a troca de bens e serviços, feita por países


distintos, que ocorrem em fronteiras internacionais ou territórios.

Despachante: O profissional responsável por fazer requerimentos,


encaminhamentos e iniciar trâmites burocráticos junto a órgãos
públicos.

Diário Oficial da União: É o veículo usado, pela Imprensa Nacional, para


comunicar todo e qualquer assunto de âmbito federal.

Exportador: É a pessoa (física ou jurídica) que vende mercadoria ao


exterior para que lá a mercadoria seja consumida ou comercializada.
Importador: É o indivíduo (pessoa física) ou empresa (pessoa jurídica)
que compra mercadoria estrangeira para consumi-la ou comercializá-la
no seu país.

Siscomex: É o Sistema Integrado de Comércio Exterior do governo


brasileiro, utilizado como instrumento exclusivo para as operações de
comércio exterior do país.

35
REFERÊNCIAS

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