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Estadio sem Arquibancadas — — Olhe, um padre de terno! — exclamou uma aluna do Ginasio meio escandalizada, ag yer um sacerdote de clergyman na galeria do pa- tio. Questéo de mentalidade! Um pedaco de fa=~ zenda, a mais ou a menos, atrapalhou a fé duma pessoa. O sacerdote é homem como qualquer ou- ~ tro, e 0 que o diferencia dos outros é a sua fun cao sobrenatural, pelo sacramento da Ordemyo qual é totalmente invisivel, e apenas tangivel pe= lo espirito de fé. — A Igreja vai mal! — disse um rapaz, num tom de agressividade reformista. — Sim, a Igreja vai mal! — retrucow 0 Sa — cerdote. — Mas vocé é a Igreja. Sim, a Igreja val mesmo mal. Quest&o de mentalidade! Para muitos a jee ja € o Papa, os bispos, os padres e freiras. E que S&0 Os simples cristaos? Estes 6 que sao a Igre ja, pois também o Papa, bispos, padres e f ' sao simples cristéos, tendo ane fun Que:tao de mentalidade! Ser santo, é jégio de sacerdotes e religiosas? Mentalidade futebol”, onde vinte e dois jogam, um apita, ajuntam @ bola € mais dois correm com a deirinha na mao, e milhares ficam olhando com os nervos retezados. Embora a vida do cristao se realize na mes: ma rua e no mesmo escritério, em que vive o ateu, ha grande diferenca: diferenca eterna. Todos os cristfos, embora um esteja bar- peando e o outro celebrando no altar, estao inti- mamente ligados por uma sé realidade: a vida divina, sobrenatural, o novo principio vital so- prenatural dado pelo mento do batismo. Na vida espiritual nao ha ingleses nem ita- lianos, nfo ha nor nem meridionais, nem orientais ou ocidentais. Nao ha classes, como aqui entre ricos e pobres, nobres e plebeus, ge- nerais e soldados. H4 uma so nobreza e fidal- —— guia, a qual coloca todos os cristaos no mesmo nivel de dignidade, seja éle Papa ou seja 0 em graxate daquela esquina. A graca santificante é a vida divina, trazi-’ da por Cristo a terra e continuamente transmi- tida, pelos séculos afora, por meio de sua Igre- ja, que a torna visivel e atuante, e é 0 unico pon- to de unio e o unico ponto de diferenca entre 0S cristaos. i Dai, ser sarito, nio é fazer milagres, N40 fazer peniténcias extraordindrias, mas é ter Sem em si esta vida sobrenatural, a pon & plena madureza. Passar dia, més por més, ano por ano, continua em graca santificante, isto é ser santo, isto po- de exigir heroismo de martir. Purpuras, dignidades de nada valem, se nao existe a graca santificante. Se aquele condutor de bonde esta de posse da vida divina, e aquele sacerdote em inimizade com Deus, podemos afir- mar, que o primeiro esta andando com o céu em si, e 0 outro como um deménio em poténcia. “Todos correm no estadio”, diz S. Paulo, usando a figura do atletismo romano. Portanto, nao ha expectadores. Todos devem merecer a yi- da eterna, seja qual for a sua vocacao. Tanto 0 Papa como o cristao mais humilde so poderao apoiar-se na divina realidade da graca santifi- tante. Entre um santo canonizado e um jovem es- tudante, que esta em graca santificante, ha ape- nas esta diferenga acidental: ambos possuem a mesma vida divina, que da direito a visao beati- fica, mas primeiro ja a possui face a face; @ se- gundo a possui,germinalmente, pela fé, com 0 constante perigo de perdé-la. Em nossas ruas, caminham santos poten- ciais, vivos, eternamente vivos. E se fizermos uma divisdo entre todos os que se cruzam conosco pe- las esquinas, podemos apenas fazer esta unica distincdo: ha somente vivos e mortos. Os vivos com o perigo de morrer, os mortos com a possi- bilidade de ressussitar. Os vivos, candidatos do céu, os mortos, candidatos do inferno. Aqui que terminar o Ultimo suspiro, em graca de posse da vida divina, é sanj santo. ; “Apenas € este o grande louvor e adn emos dar aos santos: chegaram quele caminho, que nés estamos palmi Diferenciam-se nisto: chegaram ao ponto nos estamos de viagem. Todos “correm no estadio”, diz S. Paulo, na Igreja nao ha expectadores, todos sao a uns chegam ao final, outros caem a meio ¢ nho. Os santos chegaram a meta final, nos é mos “ainda correndo”. Quando Criancas, também gatinhavam Ha santos, demasiadamente longe de nos, por culpa dos bidgrafos. Em vez de salientar o lado humano dos santos, caem os autores na tentacao do angelismo. Fatalmente deve tudo ser extraordinario e miraculoso. E uma ofensa aos proprios santos, que querem ser homens como nos, mas revestidos de Cristo e de sua vida di- vina. ; Quem vé S. Luis Gonzaga naquela modéstia “biografica” de nem sequer levantar os olds pa- ra o rosto de sua m&e — quem conhece a S. Pe- dro de Alcantara apenas dormindo duas horas por dia, numa dura enxerga — quem resume a santo Estanislau no gesto de ensopar de agua fria o seu peito escaldado pelo amor de Deus —_ quem coloca o auge da vida de santo Inacio de Loyola naquele éxtase continuo de oito dias na ‘vila Manresa, as margens do rio Cardoner yuem se pée a cacar avidamente os fatos inve- icaveis do santo breviario, em que al} ando criancas, nao n vam, feiras, em homenagem da santa Pa; tiver esta mentalidade, é herege, sem Ou A vida dos santos tem ponto de 6 0 nascimento e tem sua evolucéo lentg cil, com cada respiracao, executada nos ming sucessivos da vida. Nesta evolucdo, “neste «& constante pelo estadio da vida”, ha esfe tos, suores, cansacos, talvez quedas, tristezas @ alegrias. Cristo foi tao humano, justamente na § infancia e nascimento, que se tivéssemos ¢6 cado junto a Ele mais outras sete crian¢ recém-nascidas em Belém, dificilmente teri distinguido no primeiro instante, qual delas se ria o proprio Deus feito homem. Quando bri cava com os meninos de Nazaré, nao fazia os lagres de alguns escritores histéricos, dos los seis até nove. Nao amassava passarinh barro, soprando-lhes depois no rabo, para alga- rem o seu véo magico. ; Olhando os santos, sumidos nos altos niehos das igrejas goticas, e vendo ao mesmo tempo uma criancinha gatinhando pelos bancos da ma- ve junto 4 mae, podemos afirmar com téda a S¢- guranca, que aquele santo também gatinhou dia pelo chao, balbuciando palavras inin veis. Também éle um dia foi esta matéria 3 Também éle foi um Olhamos, com respeito, para pre a qual escorrem as aguas do batismo, nela ou um futuro santo ou um futuro conde- nado. ea Também dum santo canonizado podemos exigir, que seu bidgrafo nos diga com téda a na- turalidade, que éle nasceu, como qualquer crian- ca, sob as dores do parto e os vagidos de nasci- turo. Foram os santos colocados no chao duro da realidade, desde os primeiros instamtes de — sua vida. E Influxo do Ambiente No seu livro sobre a “Psicologia dos Santos Henry Joly cita a frase de Sao Bernardino Sena, que afirma ser 0 sangue dos habitantes Senai um sangue doce. Falando de santa Catarina de Sena, diz 0} que Deus tratou a Catarina de Sena de modo di ferente de Tereza de Avila, e no entanto a ca qual, conforme a sua natureza e temperamen proprio. A propria Catarina de Sena afirma, que a alma italiana é estética, que é facil de I os italianos a Deus, pelo amor. Embora san penitente, foi sempre de carater amavel, n dava ramalhetes de flores a amigas, beijava vorocada as criancas, deixou pousar sobre 0 seu regaco uma noite inteira a cabeca dum jovem de vinte anos, condenado 4 morte, ao qual conv tera e queria animar antes de subir o cadafal Todos os santos nao sé nasceram como qual- quer outra crianca, dando os vagidos inich enfrentar o mundo, mas também todos éles num determinado lugar, recebe te os influxos da familia da hoje é encantadora, com seu ambiente,’ tipi camente medieval: as ruelas estreitas, onde ndo Sena, a cidade natal de santa Catarina, ain- passa carro, os trajes simples do povo, tudo re- Jembrando a docura da santa, Teresa de Avila 6 0 reflexo da alma espa- nhola, e dum modo especial de sua cidade natal, situada numa altitude de 1.200 metros, Tam- bém cidade medieval, com a muralha forte, ro- deando-a macica e intransponiyel, lembra a an- tiga faganha das mulheres de Avila, que na au- sencia dos homens, sustentaram um assédio do inimigo, mostrando com isso a alma “viril” das mulheres de Avila, Quem nao admira esta san- ta, que reformou uma ordem de homens, decai- da de seu antigo fervor, qual foi a ordem dos carmelitas. Simao, o estilita, que viveu no século v,é um santo oriental. Viveu trinta anos, numa co- luna de 19 metros de altura; o capitel era de quatro metros quadrados, com tela ao redor; as tardes punha-se a disposic&o para instruir 0 po- vo, dando conselhos de renovacao interior. Fale- ceu em 459, com setenta anos de idade. EF um modo de vida, que parece extranho a um oci- dental, mas tornou-se um exemplo cativante pa- ‘ ra as igrejas do Oriente. xo de sua nacionalidade. Luis Gonzaga, Os trés padroeiros da juventude so de Castiglione, educado nas c ‘um cunho de austeridade e fidalguia tempo. Este reflexo culminou com o0 nobre de cair aos vinte e quatro anos pr, pelo contagio dos empestados, que carrega: jas ruas de Roma. : Joao Berchmans, natural das planicies 4 mengas da Bélgica, impressiona justamente 7 sua naturalidade e despretensao. Seu lema ¢ * de ser extraordinario nas tarefas comuns, Fale. ceu aos vinte e dois anos em Roma, como estu- dante de filosofia, muito estimado por sua sim plicidade e candura. Estanislau Kostka, que também faleceu em Roma, aos dezoito anos, é natural da nobreza polonesa, e seu afeto transbordante, herdado dos antepassados e do seu ambiente, refletiu-se ; sua espiritualidade exuberante: fugiu de casa, ™ caminhou dois mil quilometros a pé, para im: gressar na ordem dos jesuitas; o seu amor @ Deus afogueava-ihe o proprio rosto. Trés santos, jovens de idade, iguais no id mas diferentes em nacionalidade, consumind se, porém, integralmente pela santificacao. — Os santos nasceram como todos os homens, viveram sob 0 impacto do ambiente e do lu como os homens de seu tempo, diferencia! Se apenas na orientacao integral para De’ s de seu tempo, reflexos de suas nac ntos no seu ambiente. _ mente os anjos protetores dos lugares, que ia vi- | sitando. Nao devemos, porém, olvidar, que seu lugar de origem é a encantadora Savéia da Fran- ca, onde a natureza convida a cantar as joviali- dades do Criador. Se ainda hoje os turistas rodeiam, encanta- dos, os lagos de Genebra, recebendo por assim di- — zer um influxo de bem estar e suavidade inter- nha, nao podemos negar, que o santo da amabi- lidade, sao Francisco de Sales, chamado também pelos estilistas de “santo Gentleman”, buscou aqui a sua espiritualidade positiva do amor de Deus, que se reflete nas obras da Criacao. Visitando o castelo de Loyola, engastado nas montanhas da terra basca, ao norte da Espanha, compreendemos melhor o espirito didfano e 16- gico do antigo oficial de Pamplona, que é santo Inacio, o fundador da Companhia de Jesus. Nas montanhas da Suissa, onde a neve é eterna e o frio sempre glacial, achamos ainda ho- je a ermida que nos fala de sao Nicolau de Fliie, pai de familia, que se retirou a peniténcia e oracao, refletindo com isso a rigidez e austeri- dade dos montes nevados de seu pais natal. Os santos foram homens, no pleno sentido da palavra, foram homens desde 0 nascimento até a morte, foram homens tipicos de seus lu- es, mas foram homens, que viveram as suas idéias até as ultimas consequéncias. : O aspecto humano aproxima 0s B,° Aapecio sobtenaiiel 4a 26 ‘A importancia das (; Justamente por serem homens, os san yeram no decurso de sua vida momentos p gosos e “cruciais”, onde tomaram atitudes ¢ finidas. Tiveram que atravessar o Tubicio dt sua vida, como César, ao atravessar o rio hiss torico das guerras galicas, exclamando o seu ¢ to célebre: “alea iacta est!” (Os dados fo lancados). Quem ouve dos milagres que s&éo Pedro lizava com a sombra do seu manto, e se & ce de como por trés vezes atraicoou cruelme © divino Mestre, tem uma idéia incompleta santo, pois éle alicercou o seu amor devotad Cristo justamente nestas negacées vergonhi as quais lhe cavaram o fundamento inabe da humildade! Se o historiador exalta apenas as © 0 desapego de sao Bernardo de Claraval, to de um dia tomar azeite em vez de acusar a diferenca, e omite sendo fortemente atacad 4ico, tal qual éle foi, justamente por caus uta conquistadora de santidade. Isolaria tes e causa, apresentando valores aéreos, distantes e até opressores. = Pode-se afirmar, que cada santo teve que atravessar encruzilhadas decisivas, na proporcao de sua doacao total! Estes momentos foram co- mo a espada de Damocles, presa apenas por um fio de cabelo, e sempre pronta a despencar-se sobre a cabeca da vitima! E comovente ver o martir mexicano, padre Miguel Agostinho Pro, S. J., de pé, ante cinco fuzis escancarados, com os olhos abertos e a bo- ca exclamando corajosamente: “Viva Cristo Rei!”, enquanto as cinco balas se cravam yora- zes em seu coracao destemido. Caido por terra, uma sexta bala estrondeia sdbre a sua cabeca,™ para dar-lhe o tiro de misericérdia. Mas éste mesmo Padre Pro teve um momento perigoso na sua vida. Na juventude,*com o coracao es- caldante de amor, enamorou-se duma garota protestante, chegando quase a apostatar da fé dos seus pais. Foi um momento, que ameacou ~ um baque para o resto da vida, mas que pre-~ parou invisivelmente o martir da fé! ; Os jesuitas tiveram como fundador 0 capi t@o espanhol, Inécio de Loyola, cuja espirituali- dade deu novos rumos & Igreja, desde o lezesseis. Poucos se lembram do moment goso de sua vida, apds a sua con' the veio a tentacdo de se de -beneditino em Mon’ E so dar 0 passo decisivo, que tantos deram no torvelinho das idéias e teria desap cido na mudez da historia, e justamente instante cimentou 0 alicerce inconcusso de s indomavel confianca em Deus. E célebre 9 g uiasmo: “Confiar como se tudo viesse de e esforcar-nos como se tudo dependesse de négi Dizer de um santo canonizado, que esteve & bei. ra do suicidio, é aproxima-lo tanto de nés, que parece caminhar ainda pelas ruas trepidantes © de nossas cidades despersonalizadas. Francisco Xavier caminhava, no século XVI, pelos paises do Oriente, convertendo e batizan- do centenas de milhares de pagaos. Diz um bid-= grafo, que era necessdrio um ajudante, para suspender-Ihe o braco, de tao cansado que esta- _va ao batizar as multiddes. Seria incompleto 0 genuino Francisco Xavier, se nao lembrassemos a sua vida folgaza e ambiciosa, quando académi- co na universidade de Paris. Quando alcunhaya a seu colega de quarto, Ifligo de Loyola, de bea- to e capenga devoto, certamente nao 0 fazia, im- buido de fervor religioso. Se o vissemos hoje nu- ma de nossas Faculdades, nao alimentariamos muita esperanca de vé-lo um dia apdstolo de Cristo, Mas éle viveu momentos perigosos € V@- zios dum académico leviano, para depois corret faminto de almas, pela distante China, india € Japao. Os contrastes de sombra e luz realgam beleza artistica de uma imagem. Também @ as humanas dao um brilho fascinan' espiritual dos sé Ve a as Sao Clemente Maria Hofp; apdstolo de Viena, no século dez paz e oe de padeiro, por algumas senhoras da sociedad ’ ceram oO dinheiro suficiente Dee tee oe tudos do sacerdécio. Momento decisivo. que mu- dou o rumo de sua vida. Momento humano por- es que dependeu essencialmente da compreensio de : maos humanas e coracdes compreensiveis! Sao Joao Vianney, o santo cura d’Ars, nao devia ser ordenado sacerdote, conforme a opi- niao abalizada de seus mestres de Teologia, e no entanto tornou-se o confessor mais carismatico dos ultimos tempos, a ponto de passar quinze horas diarias no seu confessionario, sempre as- sediado por penitentes. Aspecto humano, que consola os menos prendados! Aparecendo o aspecto “humano” da vida, 0s santos tornam-se mais simpaticos e proximos dé nds. Quantos, que hoje poderiam ser santos con= firmados, (nao) fracassaram, por nao terem ~ aproveitado este momento “perigoso” e “criti- - co”! Exemplo tétrico é o de um jovem novi¢o (religioso), que era tao fervoroso, que chegou 4 assinar, com o préprio sangue, o nome santo de Jesus. Mas os pais, inconformados com a voca- co de seu filho querido, voltaram ao conyento e o exigiram de volta. Mais tarde, durante a Re- volucéo Francesa, este filho teve que subi “ dafalso da guilhotina, para Ihe ser dec cabeca, Era Robespiérre, o proprio te instrumento fatidico! auer, O g1 oito, quando” acaso encontrou Comovedor € 0 momento " perigoso” ga ;, vem martir Maria Goretti. Achega-se 9 s Alexandre Serenelli, com o pretexto de ger Te mendada a calca, mas o intento era de Praticay um ato de imoralidade. A pequena teve 9 mo. mento rapido de se decidir. Era s6 titubear teriamos mais uma destas cenas frequentes nossa juventude, rodeada de seducoes. Este mo. mento a torna tao humana e proxima a nés — que parece 0 mesmo, que tantas jovens passam, dia por dia, em nossas ruas e cidades sensuais, E o instante, que repercute por toda a vida é eternidade adentro: é o momento maximo da liberdade! Ser livre, é justamente escolher e de- finir-se entre duas ou mais possibilidades. B o momento, em que os anjos olham com fascinan- te expectativa para a deciséo a ser tomada, ain- da mais quando se trata da alternativa entre duas eternidades! Guy de Larigaudie, o jovem escoteiro fran=- cés, que no seu diario de “aventuras interiores” (Estréla de Alto Mar), escreve uma forte tenta- ¢&0, que venceu, é o exemplo cladssico de um ato decididamente livre. Escreve éle: “Devia ser uma mestica. Tinha uns ombros espléndidos e a be- leza animal das mulatas, de labios grossos © olhos imensos. Era bela, de uma beleza selvagem. Em verdade sé havia uma coisa a fazer. Nao 0 fiz. Tornei a montar o cavalo e parti a galope, sem me virar, chorando de desespéro e de raiva. enso que no dia do Juizo, se nao tiver outra @ apresentar, poderei oferecer a Deus, €O- omentos “perigosos”, sk m todos aqueles, que se di caminho da santidade. Paginas hum faz brotar & tona de nés aquilo que m tancia dos animais brutos, apenas m maquinaria de seus instintos: a libe ‘A Santidade dos Flagel © Padre jesuita Jodo Batista Reus, f do em fama de santidade, no Rio Grande do em 1947, parece ter tido uma preferéncia pel jaculatoria indulgenciada “S esus, Maria, José”, qual repetia milhares de vézes ao dia. yr Sa0 Simo, o estilita monge, que passon™ trinta anos vivendo sdbre a alta coluna, inclie nava-se mais de mil vézes ao dia, para omega gear a Majestade divina. Sao Francisco de Borgia repetia trés mil ve zes, ao dia, devotamente a genuflexao, para ado- rar a onipresenca de Deus. Estes atos, vistos em si, podem parecer cruel e insipida iniciativa. Ademais, a hei dos messalianos quis por a esséncia da santida= de na crueza das peniténcias. Os santos seriqm tristes e negativas figuras da Igreja. Ee A verdadeira ascese nao olha os tao ae yadamente em si, mas concentra a atengad B® dono dos atos. O que interessa é a atitude i terna do dono, o intimo, o amor pessoal, do em valores absolutos e impereciveis. O am engrandece as obras minimas, da-lhes a cor pre nova e rejuvenescida. Ama et fac, quod Os atos mais heréj gee tam do intimo da alma, como og eaplied L yore recebem a seiva da Taiz invisive] ? intimo em cada homem 6 g ue sh OF o seu “eu” inconfundivel, 9 ponto de a d todo o ato humano. Se fizermos a wi ida de santos, devemos atingir &ste intimo, do. Birr : taram tao espontaéneamente estas surpresas de é heroismos. cy Se ouvirmos, que o padre irlandés Guilher- me Doyle, capelaéo militar na primeira guerra mundial se flagelava com giletes, devemos othar © dono desta santa loucura: era uma doacéo to- tal a Cristo. Se o padre francés Paulo Gignac nunca se apoiava no espaldar da cadeira, devemos exami- Nar 0 que se passava no seu interior, todo abra- zado pela pessoa de Cristo. Este fogo interno é que decide, sendo as acdes apenas uma manifes- tacao da realidade interior. A tentac&ao natura- lista costuma apoiar-se naquilo que se vé e afe- ta os seus sentidos, e esquece-se da fonte. Se al- guém aprecia sOmente a lampada riquissima a noite, jamais lhe vira 4 mente, que dela mesma nao vem a luz, mas do dinamo talvez escondido nos pordes duma usina distante. as Deus nao precisa de nossas faganhas, pois — basta-se a Si mesmo. O que espera de nos, sete Séo parcelas fugidias, estes atos que ee rizamos, mas quer a nds mesmos, total, integral- mente, e talvez esmagados diante Del Analizando os santos, deduzimos sao as chicotadas e azorragues, que graduam nimbo de santidade, mas é€ o amor, que ener dece e da a cor auténtica aos atos externos, Francisco Xavier batizava milhares de Pagiios, A jovem carmelita Teresinha do Menino Jesyg subia esfalfada e doente os degraus do conven. to, oferecendo-os por um missionario longinguo, Devemos olhar o que passa no intimo de cada um déstes santos. Teresinha emoldurava cada gesto com tal veeméncia de amor, que 0 engran- decia .O amor nfo estaciona nos atos, atinge a pessoa, e pela pessoa os atos minimos. Como a mae, nao ama sé o filho quando trabalha e€ es- tuda, mas também quando come e dorme, por que o amor maternal atinge toda a crianga e nao s6 os seus atos. O amor dos santos foi inventivo, como tam-= bem costuma ser entre os homens: surpreende © e justamente nas coisas minimas. O namorado nao entrega um cheque de um milhao para a sua amada, mas colhe talvez uma violeta do campo e a oferta, com um sorriso inefAvel, tornando eS ta simples flor um gesto insubstituivel. Sao Bento Labre vivia como pobre mendt go sob as arcadas milenares de Roma. Sao f Cente de Paulo levava em Paris criancas abalt donadas, em seu colo acalentador. Sao Fran co de Sales sentava-se 4 mesa nos saldes da SO O padre Damiao de Ve -catorze punhaladas, pela p . tinho de Porres foi barbeiro, depois p minicano. O padre Pro despistava 1 secretas comunistas, que o buscava; Ihe a vida de apéstolo escondido da- ma Galgani achou o sentido de sua vid ditar constantemente a paixo de Cristo, | santo é uma estréla, e cada qual difere outra, mas todas luminosas, todas imbuid amor, que extravazava a sua riqueza int Se um santo vergastou a sua carne con gelos e cilicios, e 0 outro sentou-se aos” Jesus, como a candida Maria, saibamos guir entre as manifestagdes que sao ¥ aquilo que é invisivel e essencial, a saber, a : te destas manifestacdes as vezes inex] que é o AMOR... Enquanto os messali % cia da santidade no ene dn s asperezas ascéticas, outros exigignt'’ : lidade nos santos. Ambos os grupos oe 4 pois colocam a santidade em stage here tais e até mesmo impossiveis, ; Algumas biografias de santos sao des doras, porque o santo deve nascer, viver é rer santo, e se houver algum fato menos g so, também este deve ser emoldurado com bo de sobrenaturalidade. Certa jovem Yeio d cionada, apos a leitura duma vida de sao Gonzaga: o santo fora guindado a tais altur que ja parecia inimitavel, Foi removido dat humana, déste barro de Adao, do qual todos: somos feitos. ie Santo Inacio de Loyola, no seu aureo dos Exercicios Espirituais, fala, com muita a cia, dos engodos do deménio, em procurar justamente as almas bem intencionadas, § aparéncias do bem, sob a luz do anjo hom: dificil achar um santo, que nao tivesse § ganado, ainda que levemente, pelas ar do deménio, embora subjetivamente realizado com as melhores inten¢« on O jovem belga, séo Jo&o Berchm, eee nonizado e declarado padroeiro univerdat pe 3 ventude. Morreu aos 23 anos, e fez tudo com °O espirito de doagao total a Cristo, e justamente divinizava as acoes minimas, tendo sido o seu lema de vida: fazer extraordinariamente bem as coisas ordindrias. Mas examinando a vida, sob o aspecto humano, podemos dizer, que morreu de fome, nao se tendo alimentado bastante. Por ser humano errar, nao lhe acarreta nenhuma diminuicao, pelo contrario, mostra-nos um as- pecto consolador: até os santos se enganam, gra- cas a Deus. Somente Cristo, por férga da uniao hipos- tatica, é isento do pecado e até-mesmo impeca- vel. Nossa Senhora, pela previsao, dos méritos de Cristo, nasceu imaculada, para ser a Mae de Deus. Mas nos santos todos podemos e até de= vemos achar algumas fragilidades, que 0s apro= ximam de nos. Sado Francisco de Assis, 0 grande amigo das § pombas, do sol e da lua, chegou um dia a tomar duas varas, improvisando-se em violinista, can= tando e extravazando louvores a pelea amor eriador se refletia em todas as cri que pode ser de um alienado mas também de ue mistico, e até bem divertido, para os que © santo apenas, num ato isolado. Cons nhos para atrair pombas a seu hoje os turistas apreciam as pon r passeiam na sua Jnacio de Loyola era duma sensipjjj_ : inane muito fina: esquecia as coreg a ouvir musica. Diz-se, que gostava imensamente de comer castanhas assadas. Para consolar ym confrade doente, chegou a dansar musicas espa. nholas. Facetas, que amenizam a figura, as ve ges voluntarista e fria, que se apresenta déste santo basco, da Espanha. O florentino Felipe Nery é um dos santos que mais earacteriza a natureza humana. Tinha como lema: spernere mundum, spernere seip- sum, spernere sperni. (Desprezar 0 mundo, des- prezar a si mesmo, desprezar o ser desprezado). Eximia santidade, justamente por causa do des- prezo de ser desprezado. Consta, que nao bebia em copo ja usado por outrem. Igualmente nao dizia missa a nao ser no calice de seu uso pri- yvado. Fala-se também do seu gato velho, o trata- do com muito carinho e predilegao, que o acom- panhava até pelas ruas de Roma. E se ouvirmos, que o seu amor por Deus era tao veemente, que na autdpsia apds a morte descobriram o dilata- mento de algumas costelas devido ao forte pul- sar do coracao, devemos admitir, que estas ma- nias tornam-no mais simpatico e até consola- dor para nods frageis mortais. A santidade nao esta nos atos, que podem isoladamente ser fa- thos, mas no dono deles, neste intimo, donde bro- _ tam, e que pode ser uma fornalha ardente de he- _ Toismo. : a Santo Agostinho, um dos tedlogos mais da Igreja, tinha a mania surpree 6 comer com talheres de prata: exquisito 0 — ) jsolado, mas profundamente humano, quan- © gabern0s que foi um dos santos, que mais ar- tamente versou sdbre o tratado da Graga. ganta Teresa, 2 reformadora do Carmelo e fundadora de muitos conventos pela Espanha, no seculo XVI, tinha o complexo de limpeza, di- gia amar a pobreza, mas nao a imundicie. Cer- ta ocasiao, mobilizou todo o convento em ora- goes, para debelar certos insetos e microbios, que qnfestavam as vestes e a propria casa. Porme- nor acidental tido por importante por esta san- 4a e que na vida de outro santo, 0 mendigo Ben- to Labre, foi escandalosamente negligenciado. Sua cabeleira desleixada era um ninho de pio- Thos e seu corpo um centro de imundicie. Nestes dois santos, podemos ver a apreciag&o oposta quanto 4 limpeza, mas o que os santificou fol a atitude interior, dirigida para Deus e seu santo Servico. Conta-se do banqueiro alemao de Tréveris, Jerénimo Jaegen, falecido em fama de santida- de nos comecos déste século, que antes de viajar numerava escrupulosamente todas as pecas de Toupa e demais objetos, que levaria consigo: achava nisto um ponto indispensavel para 0 sos- ségo de sua consciéncia. Ato de per si quase ex- isito, mas que na_ vida déste servo de Deus — ‘Achou um prisma de perfeigao. aa Diz muito bem sao Joao Criséstomo, que na dos santos nem tudo foi santo: como higiene em sao Bento Lab: ilidade de santo Agostinho e€ ce 4s excentricas de sao Felipe Nery. (Nun seleta de cardeais, Felipe Nery pds 0 sey rete caido sobre @ orelha, para ridicularizar mia importancia que se dava a certas di des eclesidsticas) . O que importa é reconhecer, na vida santos, as falhas, historicamente comprovadag. que nao diminui a santidade, mas até Ihes ep prestam um tom atraente e humano. Assim consolador ouvir, que o santo asceta Francisco de Borgia, o terceiro Superior Geral da Compa~ nhia de Jesus, antes de ingressar na ordem, era um apaixonado da caca ¢ afeicoado ao vinho, e como Superior Geral tinha uma tendéncia exa: geradamente monastica, o que nao era tao con forme o espirito do proprio fundador. Ja nos primeiros tempos do cristianismo en-= contramos um sao Paulo, o gigante dos missio= narios e sio Pedro, o primeiro Papa da Igrejay, altercando, entre si, com certa énfase, sobre di- ferentes pontos de vista. O mesmo sao Paulo pa- recia nao simpatizar muito com o jovem sao Mak cos, por sinal que nao o admitiu em suas lon§ viagens apostolicas. Estas arestas externas, sejam manias quisitices, provam mais uma vez, que @ trabalha nao no ar, mas se incarna, e Substrato da natureza, com toda a sua bi Beteditéria e todas as circunstancias ex neira justamente esta ente humana, trabalhada e a “assim o piolhento Bento Labre, o “vinoso” Francisco de Borgia, o maniaco Agostinho, 0 ex- “syisito Felipe Nery, a virago Teresa de Jesus, e todos os mais aparecem com seu feitio prdéprio, jnsubstituivel, individual, humano, impregnado ee, pela acao transformadora da graca divina. : : diversas heresias, na apreciag; coeds, deupe um lugar de destaque, nay talidade popular, a ascese do jejum. Real te, Nosso Senhor deu a entender, que o um dos recursos mais comoyentes, pura ¢9 a atencfo do céu. Afirmou, que certa espa cie de deménios s6 se expulsam por meio da ¢ao e do jejum Colocar, porém, a esséncia da santidade exageradas peniténcias e flagelos, ou nas if terruptas oracOes labiais, na prépria impec dade, ou mesmo no jejum e abstenc&o dos mentos, é verdadeira heresia O homem é passageiro e Deus eterno. O mem veio de Deus e deve voltar a Deus. A Wi do homem é uma viagem, cuja meta é a etel dade. No meio desta viagem, ele topa ¢0 criaturas, que sio um reflexo, um vestigio, ¥ Sombra, um gesto, uma mensagem do CF Todas trazem o carimbo da fabrica de D ___O pecado nfo consiste no sentimen a, mas na inversdo de valores objeti' Je um porsnho e a meta a ser atingida, wa Ha so um ponto de referéncia em nossa vi- . peus, o autor da vida. Tudo o mais que nos cerca, deve ser como flecha na estrada da vida. Deve ser como 0 riacho, que mostra a fonte don- de yem e O mar, para onde se langa. Deve ser como 0 raio do sol, o vestigio do pé divino, como o sorriso de sua boca. Descobrir em tédas as eri- turas a mao criadora de Deus, é um belo tra- balho, que pode enriquecer a vida, a ponto de ela descobrir em cada gesto e em cada aconteci- mento o autor do Universo Tudo nos deve levar ao fim. Tudo deve ser usado, mas nao abusado. Ademais, devemos ver em todas as criaturas nao o pecado, o aspecto negativo, mas a m4o criadora de Deus. A bele- Za, por exemplo, nao deve ser olhada como pe- rigo de ofender a Deus, mas ocasiao de ser um Teflexo da beleza divina. E o que fez a jovem e lindissima espanhola, Teresa Quevedo (cfr. sua biografia “Da Beleza até Deus”), que se enfeita- va ainda mais, para ser admirada, e no seu in- timo rezava: “para que vendo a mim, vejam a vés, meu Deus”! Ela realmente quis ser um re- flexo da beleza de Deus, 0 que causou grande honra a Deus. Em vez de enterrar o talento re- cebido, com ares de uma austera ascese, valori- zou-0, aparecendo como mensageira da crista. o final, sendo apenas flecha que mos- __ ; odemos ver nisto a eg jado pelo jel eden Nao esté a sua san de sua naquilo que re Ee deixou, mas . de naquilo a quid hoc ad aeternitatem? lema ¢ nidade?). 2 ‘ ara a eter: me Se iro, Canisi0, o segundo apéstolo aha ainda hoje continua apéstolo, ape: Aleman rorrido ha mais de 400 anos. Pois de ja ter morrico Sete di fosse éle, milhdes para nao dizer dezenas de m jhoes teriam durante os séculos passados ase do no protestantismo. Caminhou infatigavel mente por todos os principados do reino germé. nico, evitando que os principes abandonassem verdadeira fé. No seu processo de canonizagad foi-lhe negada uma “virtude”, a saber, que nao jejuava suficientemente. Até se provou que Cos mia por trés. Realmente, para suportar estas in- — cansaveis viagens, necessitava de muita alime tacio. Gracas a Deus, que seu defensor sow achar um argumento irrespondivel, dizendo: mia por trés, mas trabalhava por seis’! Just mente porque comia por trés, é que tantos mi- Ihdes de catdlicos de hoje podem agradecer Deus, de terem nascido catdlicos. De sorte que a santidade nao esta nos mi mas no fim a ser alcancado. Os meios tém V na proporgaéo que levam ao fim. Desta mai um missionario n&éo se apega ao meio, mas © meio para o fim. Se anda de automovel _ Carro de boi, é acidental: o que interessa — Seu fim. Se o automovel ajuda. ‘ale-se dele, nao por ser um au or ser mais util ao fim. Tanto faz rolar mas e cascalho ou deslizar sobre o asfalto: in- re aa meta! teress Da mesma forma, jejuar ou comer por trés Bepmicios de per si indiferentes, mas que so va- jorizados, pelo fim que visam. Se o santo jejua, ara alcancar uma graca especial ou a vitoria duma tentacao, o meio é timo. Se o apéstolo jejuasse, em detrimento das almas a si confia- das, poderia ser grande érro, porque 0 meio nao condiz com o fim. # isto que diz também sao Paulo: usar as criaturas, como nao usando. Nao reduzir o hori- zonte dos olhos a criatura, ao meio, a flecha do caminho, mas ao fim, a meta, ao eterno, impe- recivel. O severo jejum de sao Luiz Gonzaga ou @ boa alimentacao de sao Pedro Canisio, nao sao a.esséncia da santidade. E o conceito exato que tiveram da vida: ela é preparacao para a eterni- dade. Ela foi o fim, que ambos procuraram e al- cancaram, um jejuando e outro comendo “per trés”. A sco de Sales dizia: um santo Sao Franci te 6 um triste santo! az da consciéncia é ele; «al na vida do santo, e portanto na y a pois o santo é um homem perfej Sendo Deus a fonte da nossa existéncia, cessariamente, é o tinico a poder estancar a de de felicidade, que nos importuna e inquietg Inquieto esta o meu coracéo, enquanto nao qd cansar em vs, meu Deus, disse santo Agostii Sabendo sermos, na expressao de sao Pag lo, filhos de Deus, herdeiros e coherdeiros d Cristo, necessariamente brota aquele bem &§ interior, que nao nos abandona nem sequer maiores abatimentos e decepcoes, Pois tem essencial em m&o: aquela vida, que é de vali a vida eterna, ja possuida em gérmem aqui la graca santificante. O padre Pro exclamou: “Viva Cristo A alegria e D 4 ressao a boa disposic¢fo e até mesmo gal idade interior. Santa Perpétua, ao ser con- __ a fel jada as feras, Nos primeiros tempos do cris- — dentsmo, amarrou OS cabelos bem alto, para de- 5 galhardia e boa disposicéo. O santo chan- celer da Inglaterra, Tomas Morus, ao ser execu- fado, abragou.o algoz, dizendo: “Vocé me pres- ta hoje o maior favor. Permanega firme no seu trabalho! Meu pescoco é curto, salve a situagao e nao corte do lado”! Vendou a si mesmo os olhos e ao se inclinar sdbre 0. balcfo, disse ao execu- tor, que se barbeara, para a barba nao lhe ar- mar uma traicao. Os santos sempre tiveram bom humor para com Deus. Sempre estavam atentos as suas men- sagens. Impregnavam tédas as agdes com 0 amor do servico. Qualquer acao, a mais banal que fos- Se, era embebida de amor, que engrandece as obras. Santa Teresinha subia os degraus da es- tada, com intensidade de amor, oferecendo-os © pelos missionarios distantes, estando certissima, de estes passos repercutirem entre as almas sel- vagens. A liberdade, o dom mais precioso, que pos- suimos, enche constantemente de expectativa — tanto a Deus como a seus anjos. Pois de instan- — te em instante podemos mudar o rumo de n Sa vida. A Sagrada Escritura salienta isto a dos santos: “Podia pecar e nao pi © mal e nao o fez”. er éu, atras nen atraem tanto a a ificos, a crianga Mais esfaye f COO al, e tem duas eternigab® : ane sua frente: ou o céu ou a Condens. 1 te ° + ussao de nossa vida, na Sinfonia g Pane aimas, levou a muitos santos a se £ sumirem nos trabalhos do apostolado. O zélo pop estas eternidades vivas provocou Invenc¢oes Cora. josas. Dai surgiram as ordens e congregacoes re ligiosas, com suas finalidades especificas. § Tam os apdstolos especializados: sao Pedro Cla- Ver, 0 apostolo dos escravos negros na Colémbia, Santa Madre Cabrini, que fundou a congrega- ao para socorrer os imigrantes italianos nos Es tados Unidos. E atualmente brotam constante- mente novos institutos seculares, para atingir as almas em todos os sentidos. Houve santos, que fizeram o voto de apro- Yeitar a0 maximo o seu tempo, tal a sua disposi gao para influir nas eternidades vivas. A boa disposicaéo do santo, também do eris- tao, deve ser confiante e uma prova da autenti- cidade de nossa Religiao, Os apdéstolos chama- Vam-se “testes ressurrectionis” (testemunhas da i ), © acontecimento mais e: € nosso também. os dos noe ; te us e 0 proximo, € 0 teste mais i co da Religiao. is ; HG iaiecido papa Joio XXIII era simpatilas) a constante boa disposigao. a one soube ser 0 grande realista e o bem humo- ae com Deus. Prometeu rezar no céu por : rae Despediu-se dos seus familiares. E quando avin a ladainha dos moribundos, teve ainda a energia de os corrigir, dizendo: “Vocés nao de- yem rezar “rogai por nos”, mas rogal por ele; pois agora é minha vez, mais tarde voces esta- yao morrendo”. Nos ultimos instantes da vida, eyolavam-se de seus labios as expressdes mais in- timas de sua espiritualidade: “Quero dissolver- me, para estar com Cristo”’! A boa disposicéo dos santos é a virtude ne- cessaria a ser imitada, pois o cristaéo néo morre, ja é eterno, desde que possua a vida divina em si, pela graca santificante, adquirida pelo batis- Mo e renovada pelo sacramento da confissao. Morrer € apenas despojar a mascara, pela qual acenamos ao mundo sensivel, é apenas mu- dar do modo de viver... o cristéo jamais morre. Por isto, éle tem o direito e a obrigac&o de estar Sempre disposto, e quanto mais certo estiver de Sua ressurreigéo futura, tanto mais bem dispos- to deveré estar para com Deus e 0 préximo, qual ha de contagiar nesta busca da para com oN do e sintomati Cristo — também — é Home Cristo foi homem como nds. Caminhoy ; las estradas poeirentas da Palestina. Dormia ¢ trabalhava e suava. Até chorou sobre Jerusalém que nao queria aceitar suas mensagens trazidas do Pai. Nasceu como nds, emitiu vagidos ng mangedoura. Nao caminhava circundado por auréola brilhante, mas aparecia entre a multi- dao como qualquer homem daqueles tempos. Por isso os inimigos o procuravam! Era o filho do carpinteiro de Nazaré. Fez seu primeiro milagre, num casamento, 6 por sinal o festim era bem movimentado, pois chegou a faltar vinho. Tinha uma familia muito amiga, onde gos- tava de repousar, foi a casa de Lazaro, em Be- tania, perto de Jerusalém. Gostava das criancas, acariciava-as! Teve também a sua M@e, e foi o homem mais cioso, na histéria, por sua Mae. Realizou © que sé o proprio Deus feito Homem podia exe- cutar: escolheu a mae antes de nascer, para nil- guém atacar-lhe a honra. Foi a Imaculada, po ' predilecao divina. a Foi tao homem, na expressdéo de Sao lo, que se tornou em tudo semelhante a no pecado. Pois como Deus nao podia dor. Mas defendeu, comovedoramente, pecadores, como foi o caso da adultera, que « via ser apedrejada. Provocou a primeira pedra daquele, que se Julgasse_ isento de pecado, e as edras iam caindo ao chao. E Ele disse: “Vai, eu também nao te condeno”! Podia condenar, pois estava sem pecado, mas nfo condenou. Um cora- cao verdadeiramente humano! Cristo esta perto de nés, ainda hoje caminha pélas ruas, e esquinas, as vézes bem desfigura- do e maltrapilho, mas sempre Jesus, As vézes es- gravata na lata de lixo, mas é sempre Ble. Des- cobri-lo € a nossa tarefa: vé-lo Homem, no meio dos homens, que nos rodeiam e que séo Ble. O que fizestes ao menor..., a MIM o fizestes. Se Deus se fez Homem, quer-nos convidar a sermos também primeiro homens, para depois sermos santos, cidadaos do céu! ? Incarnacionismo da Grae A graca supoe a natureza, e natureza con. creta, com sua data de nascimento, sey ambien. te familiar, seu temperamento, suas crises e Jy. tas. Nas cruzes das Missées, pode-se ler ainda hoje: “Salva a tua alma”! Expressao propria do individualismo religioso. Nao se salyam almas, mas homens, criancas, jovens e mulheres. Deve- mos salvar o Eduardo, que é condutor do Onibus n.° 328, devemos salvar a tia Sofia, com seus 124 &gs., devemos salvar a Jenny, que faz o trottoir na rua dezessete. A graca € 0 principio vital, nao natural, mas sobrenatural. O principio vital tem seu ponto de partida, crescimento, amadurecimento até desa- brochar na ressurreicao da carne. A graca nao vegeta no ar. Ela influi pela alma do individuo, até as ultimas provincias do seu reino psico-fisi- Co. Ela até se reflette no corpo, é mais tarde ha- de transparecer plenamente, na _ ressurreicao final. : Se quero por um liquido precioso num copo, devo primeiro providenciar pela limpeza do . Se houver imundicie, seria um despr Z IS 10 ao mesmo tempo do liquido purissimo. a m a graca nao pode atuar, se o homem, Tam todos os reinos ¢ toda a sua bagagem psico- “eica, AO estiver em condicdes para ser influen- edo pele graca, esta vida exuberante, cuja raiz oo do seio da propria Santissima Trindade. Re Se um jovem se queixa de nao poder rezar e nao tirar proveito da comunhao e que sempre esta as voltas com pecados contra a pureza, é necessario convencé-lo dum erro fundamental: pao pos em ordem aquilo, que a graca sup6e nor- malmente em dia, que é o “homem”, a nature- za. Primeiro devera fazer a sua higiene mental, devera superar a animalidade, espiritualizar-se, equilibrar-se, para ser susceptivel aos influxos da graca. Sendo acontece o que sao Francisco de Sales afirmou dos jansenistas: “Querem ser san- tos e nado comecaram a ser homens”! Se a graca é vida divina, deve realizar o con- ceito de “vida”, que é movimento e atuagao. O conceito de vida inclui evolucaéo organica, exige consciéncia de si mesma. Por isso esta excluida a mentalidade materialista de atos isolados, co- mo seja o mero “empilhar” Ave-Marias, mas € uma atitude vital, que repercute em téda a nos- sa vivéncia, 6 algo que vivemos no intimo, dis- postos a sacrificar tudo por este bem, que nos es- ta transformando. eee Ser santo é viver esta vida, instante, or do isto é acidental, é essencial Viver na, como valor absoluto, isto 6 po vida gindo uma barbearia, amassando 9 >oSsivel, do 0 pé no acelerador do carro, Picote tradas de cinema, picareteando no astelt brado, apertando o botao do elevador day mao a um amigo, dando aulas ou batendo | quina no escritorio. Pois se estamos em oral t santificante, somos filhos de Deus, e como tais herdeiros e coherdeiros de Cristo, Possuimos 3 mesma vida divina, que borbulha no Seio da Santissima Trindade, que por Cristo, na Igreja, foi canalizada até a alma de cada individuo, Por isso Deus nos deve amar, com rigorosa justica, pelo simples fato de possuirmos a sua propria vida, como a de seu divino Filho, € se somos filhos entéo todos os nossos atos tam- bém s&o dignos. O principe nao sé é principe, quando participa de grandes paradas, mas tam- bém quando dorme e come. Sao Paulo nos vem ao encontro, com a sua frase, forjadora de santos: “Quer durmais, quer bebais, quer trabalheis, fazei-o tudo no Senhor”! Ser santo é fazer tudo bem, com alegria de Ser agradavel a Deus, que é nosso Pai, e que nos criou por um sé motivo: seu Amor. Somos pro- dutos da fabrica: AMOR! ) “Obras do mesmo Autor “pespistou mil Secretas — 5.* edic¢ao. 9 Escandalo dos Kostkas — 4.3 edigao. © Porteiro de Montesion — 4.* edicao. A Guerrilheira de Deus — 3.4 edicao. 0 Limpa-Chaminé do Reno — 3.2 edicao. Pisei a Terra Sagrada — 12 edicao. O que vi por 1a — 12 edicao. SOS Ss) eae Liberato e Jenny — 1. edicdo (no prelo) 9. Os Santos duvidaram — 1. edic¢do (no prelo) ao 10. O Presidente Atraigoado — 1.4 edig&o (no prelo) Desculpa, sé um instante! $6 quero lembrar-te, que ha uma Colegao de livros, que esta tendo muita aceitagao entre os jovens leitores do Brasil, e que poderia desenvol- yer-se ainda mais, se tu deres 0 teu apoio con- creto, comprando e espalhando-os! Os titulos dos livros até agora publicados sao: 1. Despistou mil Secretas (historia do je- suita mexicano fuzilado pelos comunistas do Mé- xico). — 2. O Escandalo dos Kostkas (vida dum jovem polonés, que morreu aos 18 anos de ida- de). — 3. O Escravo de Cartagena (histéria do apostolo dos escravos negros da Colémbia). — 4. O Porteiro de Montesion (vida de um nego- ciante, que se tornou porteiro durante 40 anos no Colégio de Maiorca). — 5, A Guerrilhei- ta de Deus (vida duma jovem italiana, muito linda e de um carater indomavel). — 6. O Lim- pa-Chaminé do Reno (histéria dum menino, ér- fao de pai e mae, que levantou uma emprésa de Irmaos hospitalares). — 7. O Desertor de Cas- tiglione (vida de sdo Luis Gonzaga). Nao te esquecas, que a mé literatura 60 perdic&o de muito rapaz, com arrependimento. A = ‘ E nsto, e perante Deus, que julga a consciencia de cada um, dispde-te a difundir a dos bons livros entre a juventude, cuja _Terasia deve ser alimentada, ou por bem ou por Colegéo “Em Busca do Ideal” : Séde Padre Reus Caixa Posta, 285 Pérto Alegre — RGS. Pedidos — Sede PADRE REUS C.P. 285 Porto Alegre — RGS ou — Afonso de Santa Cruz — C.P. 1336 Curitiba — Pr.

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