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cy rN (eat Ensino Fundamental | Anos finais | 9° ano Componente curricular: Lingua Portuguesa Cty Cea DTCC eee ieee ee a Cure een eter Cee eee cee tes a0) Estudante. Este livro que vocé esté recebendo integra o Progravaa Nacional do Livro e do Material Didético (PNLD). Para disponibilizar as escolas piblicas brasileivas um material de qualidade, este contetido passou por uma criteriosa avaliagéo do Ministério da Educagdo e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagao. E importante lembrar que os livros deste PNLD sao veutilizaveis e devem ser devolvidos & escola ao final do ano letivo para a utilizag&o no ano seguinte, repetindo-se essa ag&o nos anos consecutivos até a conclusdo do ciclo, no final de 2023. Para que ele possa durar, vocé precisa c nserva-lo, protegendo-o de situagdes que possam causar danos, como sujeira e Agua. Procure manté-lo lipo, sem rabiscos, rasgos ou recortes. Lembre-se de que, depois de voce, ele sera usado por outros estudantes Por fim, na hipétese de vocé identificar alguma inconsisténcia neste material, ela deve ser comunicada ao FNDE por meio do telefone O800-616161 ou do e-mail livrodidatico@fnde.gov.br. Bons estudos! GERACAKO ALPHA Lingua Portuguesa Ensino Fundamental | Anos finais | 9° ano Componente curricular: Lingua Portuguesa Everaldo Nogueira Bacharel e Licenciado em Letras pela Universidade de Guarulhos (UNG) Especialista em Lingua Portuguesa pela Universidade Sao Judas Tadeu (USJT) Mestre e Doutor em Lingua Portuguesa pela Pontificia Universidade Catdlica de Sao Paulo (PUC-SP), Professor e Coordenador de Lingua Portuguesa na rede particular. Greta Marchetti Bacharela e Licenciada em Letras, Mestra em Educacao pela Universidade de Sao Paulo (USP), Doutora em Linguistica Aplicada pela PUC-SP. Professora e Coordenadora de Lingua Portuguesa na rede particular Mirella L. Cleto Bacharela e Licenciada em Letras pela USP. Professora de Lingua Portuguesa na rede particular Editora responsavel: Andressa Munique Paiva Bacharela em Jornalismo pela Faculdade Casper Libero Especiatista em Lingua Portuguesa pela PUC-SP. Especialista em Fundamentos da Cultura e das Artes Pela Universidade Estadual Paulista "lio de Mesquita Filho" (Unesp) Editora de livros didaticas, Organizadora: SM Educacao Obra coletiva, desenvolvida ¢ produzida por SM Educaréo. Sto Pato, 2 dia, 2018 sm Direczo eitorat ‘erdncia eitriat ‘eréncia de design e produsio Edigho executive ‘Coordenarie de design Coordenacio de arte Coordenagte de conogratia copa, Projetogréfico Esitorage eletrénice Infografia Febricacde Impressse Em reps 20 eio oben 32 ‘ots st ro foam preduaida om rss obige de sree areas ‘plntdee com niger cetiads ‘Gerapto Alpha Lingua Portuguesa ¥ © Ealcbes SM Ld “Todos os direitos reser Msther Neen Cldutia Carvalho Neves André Monti Andressa Munique Paiva Colaboraciotéenica-pedagéelea:Andréa Gomes de Aenea Lara Frues ilone Fernand Pcroso, Raquel Laie Vitovano, Tata Mochste Etigde: Ana Spinola, deatr2 Rezande, Camila Ribeiro, Carelina Temas, eda Rosrigues, lsadara Pegg Perassollo, Las Nébile, Liga Maria Marques, Milyane W. Moura Morera Nathalia Matsumoto, Resemeire Carbonan, Sandra Regine de Sova, Voléna Franco Jacinho ‘Suporte editorial: Azra Ap. Berinalm Mesna, Fernanda Fortunate, Monica Flicio da Rocha, Sivana Siqueira Claudia Rocrigues do Espirito Santo Preparagio erevisSo: Berenice sede, ida de Olvera Pereira, Maira de Freitas Cammarano, ‘ana Paula Pereatrelo Apo de equip: Lisa Taioguee Marco AurlioFltran Gieane Munnas Design: Caria Almeida Frere, Tiago Stan, Victor Mata (Ineracio) isses Pires Etigdo de arte: Andressa Foro ¢ Bruna Hashjmie Fare Josane Laurentino Pesquisa conageica: Ana Soin Tratamente da imagem: Marcelo Cssaro Jot Beto iwstragdo da capa: Estevan Sivera Rafael Vianna Leal Bebare Carnunieacaa Willams H Tacit, Mauro César Grote, Diego Revende, Alan Oainowskas Oaurado, Wagner Nogueira ‘Nevander Macds| ‘Soo Francisco Gratica @ Eatora hy a9 2 407/001-92 Vis Annanguora KM 305 30 Zone Rural, Redo Prato SP Brasil - CEP 1007-052 4 caaapaie na Pliage) a Neutra Evraldo ‘anos tnos aro Brcolo Nogueira, Geta Machel irate Gat eranaadars Mt Carcari oors cata, ‘mopar iste Murgue Pana” 268 ~ S80 Paul ganesh, 2018, ‘Srp ea itr Lin Sov yreae-c16 322 2tokek ISBN FA. 2260 goles gues, ve-te8 cop-res SM Eeucarao ua Tenente Lycurge Lopes a Cruz, 5 ‘gua Branca 05026120 Sse Paula SP een 2111-7400 ‘edicoessmegrupo-sm.com Apresentacao Cara aluna, caro aluno, Ser jovem no século XX! significa estar em contato constante com miltiplas formas de linguagem, uma imensa quantidade de informacdes e indmeras ferramentas tecnolégicas. Isso ocorre em um cenario mun- dial que apresenta grandes desafios sociais, econémicos e ambientais Diante dessa realidade, esta colecao foi cuidadosamente pensada tendo como principal objetivo ajudar vocé a enfrentar esses desafios com autonomia e espirito critico. Atendendo a esse propdsito, os textos, as imagens e as atividades nela reunidos oferecem oportunidades para vocé refletir sobre o que aprende, expressar suas ideias e desenvolver habilidades de comuni- cacao para as mais diversas situacdes de interacdo em sociedade Assim so apresentados, em situacées e atividades reflexivas, as- pectos sobre valores universais como justi¢a, respeito, solidarieda- de, responsabilidade, honestidade e criatividade. Esperamos, desse modo, que vocé compartilhe dos conhecimentos construfdos pelo estudo da Lingua Portuguesa e os utilize para fazer escolhas de forma consciente em sua vida. Desejamos, também, que esta cole¢ao contribua para que vocé se torne um(a) jovem atuante da sociedade do século XXI, que seja capaz de questionar o mundo & sua volta e de buscar respostas e solucées para os desafios presentes e para os que esto por vir. Equipe editorial oracag ubordinada adjetiva (Oy irsemys a) ABERTURA DE UNIDADE CRONICAE VLOG DEOPINIAG Noi ecto nade ond & acral) ts gba qu viet Primera iis Aguas uesties a estima acba ena Ucar das sb s cotios daunidade. Una imagen vainsigar sua cuioste Une prt vince ete da imagem vec are eb ves, ‘As questies orientam a leitura da ‘como justica, respeto, imspeme prmtomesabeoce| soli, enveetos rears eno ue esata 2 ou ck omer ce as, caPiTutos ‘Abertura de capitulo Serdes de capitulo As woaes sao composts de dos ars capitulo. £m Texto om estudo, vot vei deserolver suas hailiades de tua econecer as Cate capo ta um text de etura co géneo caracersticas do ger de esto. Em Lingua em estudo oc afer construe (que vce val estuar. bore O que vem a seguir sau conheciment sobre Lingua portuguesa. inguana rea, pr Sua er, ampla esses presenta alums infrmastes sabe texto e popde cones por mei de cifrentes situaoes de uso da lingua, Eserita am paua ofeece 6 levantameto de hipiteses ants altura atndades para vod amplareclocar em ptica seus conhecmentes sobre atop, ‘acenuardo epntuado, Ne sero Agora 6 com voc, sera asu verde preduar um tert do geo propos tividades oie a sepa0 Lingua em estudo, Una coisa pura outra asatvidaes Yao Esa sco permite ue sjudarvo voce estabeler o dalogo deserter itrentes entre tetos,ampinde sas habidades. pssibildades de eta = 8 om =< Valor ‘Ampliaga0 Relacionando Glossar, Promove fiero sobre Trea datos que Relacona as io abert,Passaporte Elica palawas e temas relacionalos@ complamestan —_conteids da seedo digital, Sétima arte, Fone expresses qe tavez valores uiversas para anplamo Ungua em estudo 20 de ido e Fora da escola voc rao camera oot se psicioar. assulaexpsta, gra tetual visto _ofrecem sugestes de ro capitulo. ios, sites, fieselugares ra vista relacionados an assnio om estuo, FECHAMENTO DE UNIDADE. ——————___________________» Anvestigar ‘vides integradas Nessa sero, oo vinta em contato com Oferee atvdaces que integra os asunts da ‘lumas metodlogia de pesquisa, diferentes una para vos testa seus conkecimentas, moos de colt e analie de dans. Também Av final da sae, uma questo de alr retoma \ai pratica varias frmas de comunicagza a0 a etlexdo fie inicio da ude, campartar os resultados de sues investiqagbes. FINAL DO LIVRO Ideias em construgao Apresenta questies que i jar vot a farer uma Interagao autatalago sobre sea Ase prone un pjto aprendzao, Asin, cb eo alto por semeste gra gerar um preduto que sed destnad ‘comunidade esol, stimuli trabalho em eqipe roessr podem ideniticar aspects do conteido que eis er evists op reloads. ma cee : PoC Te ee Texto: “Aquela dgus toda", e Joao Arzanello Carrescara 12 Texto em estudo 8 ‘Uma coisa pura oura: 0 pottco univeso infant Lingua em estudo: Reviso: Periodo compost por coodenaréo. 18 vidas 0 ‘lingua na real: Os valores to mas, a ‘Agora & com voce: Esrta de conte psicoldgeo Texto: "Por um pé de fijao, 4e Antonio Tones % Texto em estudo u rd: Periodo compesto por subowinagdo 30 Mtvidades 2 ‘AUUngua na real: As subordinadas ‘eduzdas e desenvolvides eos, efeitos de sentido B Escrita em pauta: Ortogpia e prosiia u ‘Agora é com vocé!: Escrita de conto social 6 Tet: Cinica de Artur Azevedo 4 Texto em estudo 6 ‘Uma coisa puxa outta: "Menas: 0 certo do era, 0 erado do certo” 48 ingua em estudo: ragdes subordinadas substantvas Subjetias, objetivas cirelas@ abjetiasiniretas fi Avidades 53 ‘Alingua na reat: A impessoalizaréo 6o dscursa por men das orages subjtivas 5h Agora é com voce! Escrita ecronica 56 Texto: “Menas’, e Juli Tolezano (JoutJout) 58 Texto em estudo 8 Lingua em estudo: Graces subordinadassubstantvas completes nominal, predicates e opsis a Atvidates “ A Lingua na rel: Reptiae a que 6 Escrita em pauta: Pontuacio nas ‘rages subordinades substantivas 6 Agora é com vocd!: Vlog de cpiniao 3 ae Bese Tet: Ine fue cide mulher”, de Marana Lajlo (Folta de S Peo) 1% Texto em estudo 8 (Uma coisa puxaoutra: anual por contetos esprtves 80 Pronomes eatvos vides au ‘lingua na real: A importancia dts pronames relatives na coeséo textual 5 ‘Agora € com voce: Esrita de cic espartia 6 Texto: “AS meninas que estio ‘mudando a escola’, de Paula Peres (Nove Escola) 8 = Texto em esto 2 em estudo: Oracdes sito ties % vidades 6 Atingua na ral: Oragdes suborinades adjtives: genetliaraoe especiticario 97 Escrta em pauta: Uso de est, esse, aquele 8 Agora € com vocé!: laborerao de reportagem muttmiidtica 100 ENO Texto: “Ruma a Proxima Centauri’, de Salvador Nogueira (Soperiteressante) m0 Texto em estudo m4 (Uma coisa puxa oura: A perspective Ga ia cientica 118 ingua em estudo: Oragdes subordinadas adverbiais temporas, condiconas, causais e consecutivas 120 Atividades 1% ‘Alingua na rea: As oragdes advetbiais ea expansao a informacao 1% ‘Agora 6 com vocé!:Escrita de reportagem do dvulgacao cientitca 128 Toto: "Uma farina nas estelas” (épocat 130 Texto em estudo 12 l rages subocinadas advebiais conessias, fnais,conformativas, propocioais e comparativas Tab Nividades m7 ‘Alingua na reat: Aconcessdo 143 Escrita em pauta: Pontuacao nas oragdes subordinadas adverbiais 146 Agora é com voce! laboracao 2 infogrtico 1b Ua Oh Ns AULT AS) Se eee Texto: “Hoje ta de Mara’, (de Luis Alberta de Abreu e (uie Femando Carvalho 156 Texto em estudo 189 Uma coisa puxa outra: Representacoes do amor we Concardénca verbal 166 Atividades er ‘Aingua na real A concordancia verbal ea variagae Linguistica 169 ‘Agora é com vocé!: Escrita de roteira de TY 170 Texto: "Meu tio matou um cara", de Jorge Furtado im Testo em estudo 17 Coneordncia nominal 7 Atvidades va Alingua na real: A concordncia nominal ea expressividade 179 Escrita em pauta: Ondee sone, se doe sendo 180 ‘Agora € com voc: Dramatizarao 182 f ? i : Texto: “Das ‘ake nens' ao fendmeno ‘slow news”, de Carlos Castitho (Gbservatirio da Imprensa) 190 Texto em estudo 19 Uma coisa pa outa: Coma identifica fae news? 196 em estudo: Regia verbal e regéncia nominal 198 ividades 700 A lingua na rel: Regia verbal: nox e vavagdes m2 Agore é com vocél: Esrita de artigo de opnido 208 Texto: Lei at 12.965/14 {Waco Civil da internet) 706 Texto em estudo 08 a Colocagao pronominal m tvidades nm ‘lingua na tea: As regéncias verbal e nominal na fla 16 Escrita em pauta: Usos da crase. 216 ‘Agora écom voc: iri simulado 218 Soy Texto: “Quiroga escreve para criancas deforma inusitada", de Michel Laub (Folha de S Paulo) 228 Texto em estudo my Uma ois pura outa: Un canto de Horacio Qioga ™ l wdo:Estrutura as palawas: radical eafos 234 Atvidades 2 +A lingua na real: A formar de palavas os novos sentidos. 237 Agora é com vocé!:Escrita de resenha oitica Texto: “Romance de formacéo", Bruno Carmelo (AdoroCinema) 240 Texto em estudo un Lin Estrutura das palavcs: desinéncia, vogaltematca, Consvante e vagal de ligerdo 244 Atividades ub ‘Alingua na rea: Os sufvas de rau € 0s novos sentidos ur Escrita em pauta: Graf de alguns suftos ede palavas cognates 248 ‘Agora 6 com vocé!:Elaboracéo de resenha em video 0 8 eNO UCD Uns PROPAGANDA........ 255 Texto: Aninciopubliitrio (a Nike 58 Texto em estudo 9 ‘Uma coisa pura outta: O-esportealém do esporte 282 Processos de formazao de galas: dervacdo composicdo 166 ‘ivdades 6 + Alingua na real: Os estrangeirismos 1a Lingua portuguesa 168 ‘Agora 6 com voct!: Etaborardo de anincio publitria m0. Texto: Anincio de propagande to Sese Texto em estudo mn Processos de formacéo de palaras: onomatopea, abreviado e sigla ™ ‘ividades m0 ‘lingua na real: Processes de foxmapao de palaas e efeitos humorsticos 181 Escrita em pauta: 0 uso de aspas 82 ‘Agora é com voce! Elaboracdo de campanha de propaganda 784 re ae aay ict CTE ee a Cri CONTO PSICOLOGICO E CONTO SOCIAL Per eel eee Reo er eueleuy eee MU MRE OMCs tte CPS ear uae Cnn a Te eee See nur a ase eee i seed oe eae a es Te? (Cena registrada na Espanha pelo fotdgrafo Pedro Sala, Capitulo 0 conto que vocé vai ler, de Jo3o Anzanello Carrascoza, d4 nome a um livro cujas narrativas relatam experiéncias marcantes na vida de personagens - crianca ou adolescente -, ambientadas | quase sempre dentro do nticleo familiar. A mengo & dgua abundante, no titulo “Aquela agua toda”, | pode evocar muitas ideias: enchente, mar, chuva, rio... Vecé imagina que esse titulo se refira a qué? Em sua opinio, seria um episédio feliz ou triste? Leia o conto para descobrir. TEXTO Aquela 4gua toda Era, de novo, o verio, © menino estava na alegria. Modesta, se comparada a que 0 ‘esperava Ié adiante. A mie 0 chamou, e 0 irmao, ¢ anunciou de uma vez, como se natural iriam a praia de novo, igualzinho ao ano anterior, a mesma cidade, mas um apartamento maior, que o pai jé alugara. Era uma noticia inesperada. E ao ouvicla ele se viu, no ato, ‘hum instante azul-azul, os pés na areia fervente, o rumor da arrebentacao ao longe, aquela ‘gua toda nos olhos, o menino no mar, outra vez, reencontrando-se, como quem pega uma concha na meméria. E verdade, mesmo?, queria saber. A mie confirmou. O irmio a abragou e riram alto, isturando os vivas, Ele flutuava no silencio, de to feliz. Nem lembrava mais que podia sonhar com o sal nos labios, o cheiro da natureza grande, molhada, a quentura do sol nos ombros, 0 menino ao vento, a realidade a favor, ele na sua proa dia mudou de mao, um vaivém se espalhou pela casa, A mie ia de um quarto ao ou- tro, organizava as malas, Vamos, vamos, dava ordens, pedia ajuda, nem parecia responsével pela alegria que causara. © menino a obedecia: carregava caixas, pegava roupas, deixava ‘suas coisas para depois. Temia que algo pudesse alterar os planos de viagem, ¢ ele jd se via 6, cereado de agua, em seu corpo-ilha; um navio passava ao fundo, 0 eéu lindo, quase vitreo, de se quebrat. Nao, no podia perder aquele futuro que chegava, de mansinho, aos seus pés. O menino aceitava a fatalidade da alegria, como a tristeza quando 0 obrigava a se encolher — caracol em sua valva. Nao iria abrir mao dela. Viver essa hora, na fabrica- io de outra mais feliz, ocupava-o, € ele, ancorado as antigas tradigées, fazia 0 possivel para preservé-la, A noite descia, ¢ mais grossa se tornava a casca de sua felicidade. ‘Quando se dew conta, cochilava no sofa, exausto pelo esforgo de preparar o dia seguinte. Esforcara-se para que, antes de dormir, a manha fosse aquela certeza, © ela seria mesmo sem a sua pobre contribuigao. Ignorava que a vida tina a sua pr6pria maré. O mar existia dentro de seu sonho, mais do que fora. E, de repente, sentia-se leve, a caminhar sobre as ‘iguas — o pai o levava para a cama, com seus bracos de espuma. Abriu os olhos: o sol estava ali, slide, o carro de portas abertas a frente da casa, 0 irmio em sua bermuda colorida, a vor do pai e da mie em altemancia, a realidade a se espalhar, 0 mundo bom, o cheiro do dia recém-nascido. O menino se levantou, vestiu seu destino, foi fazer o que Ihe cabia antes da partida, tomar 0 café da manha, levar as malas até o carro onde o pai as ajeitava com ciéncia, a mie chaveava a porta dos fundos, Pegou sua prancha?, ele, Sim, como se num dia co- ‘mum, fingindo que a satisfacdo envelhecia nele, que se habituara a ela, enquanto 16 no fundo brilhava o vero maior, da expectativa. Partiram. O carro as tampas, o peso extra do sonho que cada um construfa — seus castelos de ar. A viagem longa, 0 menino nem a sentiu, o tempo em ondas, cele $6 percebia que o tempo era o que era quando ja passara, misturando-se a ou- tras dguas. Recordava-se de estar ao lado do irmao no banco de trés, depois junto ao vidro, numa calmatia to euférica que, para suporté-la, dormiu, Ao despertar, saltou as horas menores —o lanche no posto de gasolina, as cur- vas na descida da serra, a garagem escura do edificio, o apartamento com méveis yelhos e embolorados — e, de stibito, se viu de sunga segurando a prancha, a Inde a passar 0 protetor em seu rosto, Sossega! Vé se fica paradol, ele & beira de um instante inesquecivel ‘Ao lado do edificio, a familia pegou 0 énibus, um trechinho de nada, mas demorava tanto para chegar... E pronto: pisavam na areia, carregados de bolsas, ccadeiras, toalhas, esteiras, cada um tentando guardar na sua estreiteza aquele aumento de felicidade. O menino, siltimo da fila, respirava fundo a paisagem, 0 aroma da maresia, 0s olhos alagados de mar, aquela gua toda. Avaro, ele se repre- sava. Queria aquela vivéncia, aos poucos. O pai demarcou o territ6rio, fincando 0 guarda-sol na arcia. O imao espalhow seus brinquedos a sombra, A mae observava o menino, sabia que ele cumpria uma paixdo, Nao era nada demais, $6 0 mar. Ea sua existéncia inevitavel. Sentado na ‘area, a prancha aos seus pés, ele mirava os banhistas que sumiam e reapareciam a cada onda, Entio, subitamente, ergucu-se, Vou entrar!, ¢ a mae, Nao vai li no fundo!, mas ele nem ouviu, jé corria, livre para expandir seu sentimento secreto, aquela égua toda pedia uma entrega maior. E. ele queria se dar, inteiramente, ‘como um homem. Foi entrando, até que o mar, 8 altura dos jocthos, comecou a frear 0 seu avango, ‘A figua friaarrepiava. Mas era um arrepio prazeroso, o sol se derramava sobre suas costas. Deitou de peito na prancha e remou com as maos, remou, remou, e af a primeira onda o atingiu, forte. Sentiu os cabelos duros, o gosto de sal, os olhos ardendo. O desconforto de uma alegria superior, sem remissao, a alegria que ele podia segurar, como um liquido, na concha das maos. ava: aquele que nao ‘ostuma gata e preter quacdar seu dine, Dida smudar de mio: ter 0 setido ova cirecdo attra; mer de rumo, roa: pate da frente ‘de uma embarcarao, pesdi; consol, Yale: Concha de molsco Je. enn sematO OCONTISTA DACONDICAD HUMANA Jodo Anzanello Carrascoza (1962-) nasceu fem Cravinhos, interior de S20 Poulo. Professor universtario, estreou com oro Hotel Solidao (1994). Recebeu gversos prémios, sendo considerado um dos maiores contistas da atuaidade Carrascoza faz em suas historias uma delicada celebracio da vide a0transformar situagdes cotdianas em acontecimentos memoréveis¢ profundos. .. a 0 escritor Joao Anzanello Carrascora. bitio:denominara0 coum espécies de molusens , Acesso em: 2 out. 2018. a) Os substantivos turista e passageiro fazem referéncia ao mesmo individuo: aquele que, em situaco de lazer, procura conhecer paisagens naturais de dificil acesso. Apresente uma razao para o fato de, no texto, o turista ser chamado de passageiro. ) Cada periado apresenta trés oracdes. Identifique-as, Lembre-se de que 0 procedimento fundamental para identlicar uma oracao é localizar seu verbo c) Como estéo articuladas as oracdes em cada periodo? 4) Nos dois periodos, apresenta-se o que o turista vai fazer na viagem. Associe esse contedido ao fato de as orapdes se articularem por coordenacao. @) Que classificago cada uma das oragdes recebe em ambos os perfodos? 3. Relacione as colunas indicando a ideia expressa por cada conjuncao. a) Ela fala muito e nao diz nada. |. Adigao b) Fique quieto, que eu estou falando I. Contraste. c) A agua potavel ¢ escassa; deve- IM Conctuséo. ‘M06, pois, usé-la com parciménia. WW: Explicscdo, 4d) Essa substancia nao sé alivia os sintomas, mas também auxilia em sua prevencao. 4. Leia o provérbio chings a sequir. ‘Quer a faca eaia no melio, quer 0 meléo caia na faca, o melo vai sofrer. a) Escreva com suas palavras um possivel significado para esse provérbio. b) Qual é a conjuneao presente no provérbio? Que sentido ela expressa? Nao escreva no vr,

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