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PNT. * - . we pie Wee wee wwe www ow EDITORA COMERCIAL LTDA. oy . Bx8 RyULO . @ We ww Com o presente trabalho a Associagto Cumercial de Sto Paulo dé inicio « uma noca série de publicucses de cardter eminentemente cultural. Serdo reunidos em lero os estudos de coluboradores regulares do “Digesto Econémico” com 0 ebjetico de sistematizar « produsdo esparsa em sun jd longa série, © colvcar a disposigao dos estudiosos trabalhos ndo apenas de natereza econémica ¢ financetra, como também os de ordem histériea, socilégiea, poltica, juidica « biogrdfica, Sendo 0 “Digests Econémico” um verdadeiro “forum” de debates, tem éle acolhido, muitas cézes em suas paginas, textos que contrariam a orientagio dow- trindria da Associagio Comercial de Sao Paulo. Nao assume, pois, a nossa instt- tuicio, responsabilidade pelos conceitos emitidos em tais artigos, inclusive os en- Jetsados no presente volume. Seu objetico & o de oferccer depoimentas sibre os grandes problemas nacionats, de autoridades incontestes, como so todos 0s co- laboradores do “Digesto Econdmico”” ada com a publicugéo de traballus de Afonso Arinos de is antigos & assiduas colaboradores do “Digesto Econé- Esta colegiv & in Melo Franco, um dos » mica”. Desnecessdrio se tort encarecer » seu imenso calor intelectual, paten rao por suas miltiplas atieidades e publicases: professor por concurso em duas Fax tldades de Dircito do Pais; autor de mais de tvinte obras; membro da Acadle- sia Brasilcira de Letras; além de parlamentar notével, das maiores que tem pas- sade pelo Legislatico Brasileiro, Justifica-se assim, plenamente, que esté série seja lancada com a coletinca de estudos de Afonso Arinos de Melo France, Camillo Ansarah, Presidente da Associegio Comercial de Sio Paulo —m— Carta de Afonso Arinos Rio, 9 de Janeiro de 1961 Meu caro Antonio Gontijo de Carvalho. Informado de que 0 “Digesto Econdmico” pretende reunir em lioro os estudor ¢ discursos de minha autoria, que teve a°bondade de abrigor na sua {8 ‘eolumosa colegio, é com sincero prazer que venho dar minha expressa anuéncia @ tal iniciatioa, Estou certo de que a strie de volumes que se sucederdo ao meu, todos de- dicados, de varios pontos de vista, ao exame de problemas brasileiros, constitulrd tum insirumento calioso de trabalho para quem queita se esclerecer’acérea dos dados do nosso passudo, das inquictantes realidedes do nosso presente ¢ das in ‘cégnitas que nos reserva o futuro. ° segundo testemunhos copiosos © autorizadas, o imenso material disperso na ininterrupta série de fasciculos da revista cultural que vocé téo bri- Thantemente dirige, merecia bem scr coordenado ¢ fixado em livros de autoria de alguns, dos seus mais antigos ¢ file claboradoret, ene ox quais me dewoe nego de figurar. Percorrendlo 0 indice onoméstico do “Digesto” cerifico que figuro néle com sna‘ Destante exons ¢ vata de taba : Alguns sio artigos ligeiros, escritos mais ou menos uo corrér da pena c ver- sando principalmente temas de Histéia Econénict, que, durante ceo tempo, absoreeram boa parte das minhas leituras, ‘Outras foram apresentadas como conferéncias, aulus ou teses, em centros culturais, escolas ou congresses, ¢ correspondem ao tratamento dado a assuntos pré-fizados como matéria da. expos Finalmente aparecem discursos que 0 “Digesto” escolhew ¢ retirou do olel- do dos anais parlamentares. Alguns.discursos”entre as centenas déles, que ful Yevado a proferir nos meus quatorze anos de mandato popular, entre os quals se conta metade de tideranca oposicionista, em um dos periods agitados e dra- maticos da Histéria Republicana. Como se vé, 0 material do licro, que 0 “Digesto” se propde generasamente « edit & tad te, ¢ na melhor acepeto da placa, obra te eruttincia Esta adverténcia serciré, sondo para explicar os defeitos dboios de trabalho deta gener, pelo menas para, me desculpzr,anteipadamente, dimte de algum leitor mals severo, ou, quem sabe, mais justo ‘Se alguma qualidade pode haver nestas piginas serd ela a de marcar a trax feta dem evra que, apa das suas lntagde, fot sempre fila uma carta ‘orientagéo intelectual € politica, por ela deu o que podia da sua mocidade, e, na paixéo efémera das horas, viveu, as vézes, a sua perenidade. Com os agradecimentos por. mas esta proca de aetwoma dedlario, abropa-o muito cordialmente 0 seu velho amigo ¢ grande admirador (a) Afons6 Arnos de’ Melo: Franco —Vve— ew YY Ew YE wr YS Estéo enfetrados, em “Estudos Discursos” — 0 primeiro volume da sie “Colesio Digesto Econsmico” — os trabathos que, na fevista da Associario Co. merci de S40 Poulo, Afonso Arinos de Atelo Franco. publicow em prime too ¢w autortow a sua serge. Ne relasto que consta do “Indice Onoméstico do Digesto Econdmica”, o)- mente ndo foi incluido 0 capitulo "“Afrdnio, eatudante”, por ter sido republicado, com ampliagdes, emt "Um Estadita da Repiblica, obra fundamental jure ¢ nhecimenta ‘da nossa histSna politi na Jose republicense que aleterow tsge tegen. £ esplicdcel que o “Digest Econdmico” tenha reprod puolamertaes de Mforso Atos de Mel Rance arity gue Ad tautoe anor com sen manta pula end mdsina dy conéreo prutta. além de sua felgio economtca, que ¢a prinetpal. tem wma fi halidade cteas manter os lames de wnidede waclowal Em suas colunas, sem se aler a considerngdes caractrisicas de regionaliomo, « seeerenciada « memérta de bons'e leas sercudores piblicos do Bras ¢ eultua. ‘us com tungio patritica as grandes datas nacional, do tendo ‘sido as peras poliicas eas biografus sinléicus de estaditas pensudores, dla Tucra' de Avinds, divulgadas nat tntegra pelos: matutinas. bros irs ¢ tendo presente wo pinta rte cerdndin de Feria Vien, “um dulzer guardar tim segrédo, ilove arqilté-lo no Diario Oficat” o. dretor da Bie 1. Kcondmico sempre tinbrou em dar-lhes: dioulgecdo empla e integral, ‘A oratéra paliten dle Afonso Arinos, sob os aspectos ta. grog, da eruiglo cxponidiea’e Teee, da meméria. pronta, lembre, os amantes de papéts celled rebuseadores' dents, «de David ampli’ 0 florentne dit le “jardin de Infancia, tniciador e mestre do género “Jolhetin falado”, que‘ tanto éstto obtece nas deboies sdbre a Casa de Conversto. hon tanto uo isto Iterdra «wos vee da imaginacdo podice, nenhun doe mos- awetaion te AfStae Pen te Bis acenata tt mons tobe Se i ana ‘Arinos é orador que ndo dit trabalho ao taquigrajo, A pripria pontuagdy ¢ acta pel respect adap. som me ver é chr comet ip ode de suas orapders Com ‘ufenia, pode-se afirmar: 0 Parlanento Brasco sempre fot um seme anrio de estadisas, wana acalemla ‘de grandes oraloves, em que pese aos seus onacldstas. (Os legisladores Francisco $4 © Epitdcto Pessoa, no Senado Federal; Barbosa Lima & Joo Mangabelra, na Cémara’ los Deputedos, para eller apencs algumes culminincias da veiha Repiiblica, eram tribunos que, embora vistcel a improvisagaa de impecéccis dicursos, do precisavam alterar sequer uma palavra hos tontot para'a sua insereao nor onais, faa puresa de forma jutesa de pensamento com 1 ee bh tne si ma , Quem poderd ofcidar a cdlebre oragdo de Francisco Sina Comvengio de 1w1O,natematizando os seus colegas pelo veto.a ful Berbuse!” Improcio que dew sos oucintes e deo tetor a impressto de oracéo lopidate, apenar de sue Jremens te paledo, ido inimeros discursos -~ Vi Outra ndo serd a de quem reler os discursos taquigrafados que 0 “Digesto megirico sdbre Joaquim Caetano da Sitea, proferido para Citemos a0 acaso: 0 pu ra uma solicitacgo de momento, de efelto obstrucionista, siquer revisto ery ublcads = Arine consttoa, como toda gente, a evado taqugrficn quar Paetas mais enereantes —~ impresiona pela erst O elogio de Alendre Cus, reco 1S upreoo de apartes para Seif do leer, const cerdad fn medida do gigante que tanto ; © necrologio. de Ouilon Braga postu 0 calor, oraydes ditas ‘coragio, ao sabor das emocdes do mom¢ Sr ee eta fr don ldo. ovr montid, ae ii don tc, eqns gs gmail imped Poe Aig oral <— como temibén foram conseretas, na mao- imperfecdes propre deventarce ax faterrapcoes, nem sempre oportunas dé seus vi so Sente do Paraménto & assim retrtedo a ceo. ", Nos ar scritos, com exclusividade, para o “Digesto Econdmico”, Afonso rina ge ere cohen ‘como, 0” econonista, te feign diddica, opal nal da’ nosa lista. " oe ensaioe, jue conpiem a primeira parte do lor, hio de ser étels aoe c 2" Bondains, gue preci conhecer metho “que tantas dificuldades tece de solver para se Mi ‘Geen as dices anepostos a sew pent se perder 0 fio da or Dprelecd dle historia diploindtica ¢ dé bem iusiasmo despertou em Camilo Castelo Branco. a vibragdo, a sinceridade das desencolcimento. imiade © « sitematzaco de “Um Esta da Repiia”, ines clmente “an de "O Indio railero © « Revolucéo Pron. ican Rowse obra de rn tondveimente sua oe capt ou de “In ra”, em que descenda segredos de um Montaigne ¢ 7 Feancnista, jue @ situa no plano de wm Afonso Pena Jinlor, de um Cléud dio, de um Arduino Bolivar; ou do seu “Curso de Dircito Constitucional Mi, de dette Boe tumivas deals do drt: serena de toro em que investiga com éxito « autoria das famosus “Cartas Chilo- fad asses “Estudos'e Discursos” ndo destustram, ow melhor, cnriquevem a sua tute bibliografia, pois, sob edrioe aspectos, & 0 licro que melhor reflete a Radade de Su cultura, que permite melhor ojuicar a cintlasco de sua inteligancie, Ss noder de sua essimiloran instantinen, @ fecilidade dle sua cxposigio cerbal que Ie cdquiria no uso ininternuplo da citedra, predicados que, em nossa Weratura, Gpenas’ encontram um simile om Afrdnio Peixoto, cujo concicio constitula um verdadeiro curso de brasilidade. es Pe “om a reedigto, em lio, déstes calisos trabalhos esparsos de Afonso Arinos de Nae Erinco’a ‘Acroctaplo Comercial de Sao Paulo, presta.sercigo assinalado G cultura, sobretudo aas mogos que Tutam com falta de loros sérios sdbre Homens 2 Cousas’da Brasil. , Sd0 Paulo, 12 de Janeiro de 1961 Anténio Gontjo de Carcalho diretor — val — fa, que uma amizade * A Sociedade Bandeirante das Minas (*) tema que me foi atribuido neste curso de Bandeirologia, em bza hora ‘organizado pelo govérno de Sio Paulo, deve ser considerado sob dois, aspectos: 0 sociolégico € 0 histories. ‘Trata-se, em suma, de caracteri- zar, através de fetos histéricos, 0 proceso de fixagio, no terri mineiro, da bandeira, esta patrulha avangada da sociedade brasileira da €poca colonial. Na Europa, desde a Idade na, 0 predominio de uma cultur bre cutras ocorreu, sempre, por meio de lutas em que avultavam os cho- ques entre povos. No seu periodo de expansio, a cultura romana sub- meteu poves europeus ¢ afrieenos, ‘em circulos coneéntricos de raio ca- da ver maior, desde a Italia até a Grécia, Cartago, Espanha ou Brita. nia, a0 passo que, na sua longe fe de decadéncia, foi se retraindo, em- purrada pelos chamados birbaros. Mas é de se acentuar que a expan- 380 no espaco se fezia, principa mente, pela sujeigao de nagies. « nao pela conquista de desertos. Na América atlantica, as culturas expansionistas no encontraram em nagdes diversas e hostis a principal dificuldade oposta a sua marcha de penetracio, mas, sim, no deserto, A histéria da fixagio da civilizagao no interior de paises como Brasil, Ar- Conferéncia felta no Curso” de B: Gelrologla, promovido pelo antigo De- Partamento’ Estadual de Informagies gentina cu Estados Unidos, antes de ser 0 rélato das lutas entre povos mais fortes contra outros mais fra- cos, é 2 narrativa da conquista do territério imenso pelo ousado pi neiro. Luta do hzmem contra o de- serto, da qual a palavra “sertao”, segundo alguns filélogos, ficou como Jembranca do nosso idioma agreste, @ que Mario de Andrade chamou certa vez “lingua do do”. Nao psdemos. é certo, 20 aprecia mos 0 pastado brasileiro, subesti- mar as lutas entre brancos e indios, que ensangitentaram o perfodo de desembarque da civilizagdo européia no nosso litoral. © branco invasor, ar a preia de que praticamen- te nao se afastou no primeiro século, com seus petrechos, sua religiio, seus métodos de trabalho, seus esti- los de vida bastante soltos, mas que guardavam estreitas ligagdes com a cultura de origem, teve de sofrer a hostilidede dos habitantes da nova terra e de reagir contra ela. Mas estas guervas entre cristios e bare baros s6 constituiriam o ponto cul minante do processo civilizador no deccrrer do século dezesseis e, assim mesmo, nao em todo éle. No século dezessete, a civilizacdo curopéia, ja representada pelo ben- deirante, mestigo de cultura quando nao de sangue, envolve-se, & verda- de, em dois graves choques, corpo a corpo, com povos hostis. Refiro- me & destruicao dos quilombos de

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