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Rogério Haesbaert
Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/confins/26401
DOI: 10.4000/confins.26401
ISSN: 1958-9212
Editora
Hervé Théry
Refêrencia eletrónica
Rogério Haesbaert, « Regionalizações brasileiras: antigos legados e novos desafios », Confins [Online],
44 | 2020, posto online no dia 15 março 2020, consultado o 24 março 2020. URL : http://
journals.openedition.org/confins/26401 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.26401
Confins – Revue franco-brésilienne de géographie est mis à disposition selon les termes de la licence
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tanto a “encontrar bases naturais para o estudo da geografia” porque ela permaneceu
“demasiadamente ligada à história”. Daí, afirma: “Para a classificação e a interpretação
dos fenômenos da Natureza [fundamento da Geografia] só mesmo a Natureza é que
pode oferecer quadros adequados, e estes são exatamente as regiões naturais”.
(Carvalho, 1925, apud Vlach, 1989, p. 153)
Figura 1. Regionalização do Brasil segundo Delgado de Carvalho (1913)
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12 Embora não sejam definidas com clareza expressões como “conjunto ecológico de
pessoas” ou “relações espaciais de população”, é evidente a relevância que o autor
concede às relações entre a sociedade e seu meio “ecológico” ao longo da formação
histórica de determinado espaço, especialmente em sua dimensão econômica. A própria
nomenclatura utilizada para definir as regiões culturais (v. figura 2) parece, na verdade,
dar um peso fundamental à atividade econômica predominante, fruto de uma
determinada relação com a natureza (base geológico-mineral, tipo de solo, clima e
vegetação).
Figura 2. Regionalização (cultural) do Brasil segundo Diégues Júnior (1960)
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Espírito Santo ao norte do Paraná] e do Cacau [sul da Bahia]), além das regiões da
Mineração (do centro de Minas à Chapada Diamantina) e da pequena região do Sal
(litoral norte potiguar). Uma nomenclatura está claramente ligada ao processo
colonizador (região de “Colonização Estrangeira” no planalto Meridional) e,
surpreendentemente, continuam presentes uma “Amazônia” (expandida até o norte de
Mato Grosso, atual estado de Tocantins e quase todo o Maranhão) e um Centro-Oeste
(restringido ao Mato Grosso do Sul, sul de Mato Grosso, maior parte de Goiás e cerrados
mineiros).
14 Apesar de receberem a denominação de regiões culturais, trata-se, podemos afirmar, de
uma das primeiras regionalizações econômicas do país, pautada nas formas
predominantes de uso do solo, especialmente através do trinômio extrativismo-
pecuária-agricultura. Sua preocupação, entretanto, através das características da
ocupação econômica do espaço brasileiro, era traduzir uma regionalização não setorial
ou “simples”, já que o critério econômico (e da formação histórica que o traduz) seria
tomado como o elemento integrador por excelência da diferenciação regional.
15 Essa preocupação com a dimensão econômica e as formas de ocupação do espaço
brasileiro se traduz de modo ainda mais evidente na regionalização proposta pelo
geógrafo Pedro Geiger, em 1964. Para Geiger, o primeiro ponto a ser ressaltado nos
estudos regionais é que a região, como parte de um todo, nunca pode ser vista
isoladamente. A interrelação parte (região) – todo torna-se assim fundamental.
Definindo a Geografia como “a ciência do espaço organizado pelo homem”, coloca a ação
humana em primeiro lugar. Desse modo, “uma vez que o espaço geográfico é um espaço
humano, as regiões são humanas. Assim, as regiões são unidades decorrentes do
desenvolvimento humano, fundamentalmente, da divisão territorial do trabalho”. (p.
26, grifo do autor) Diante do “envolvimento de todo o globo por um mecanismo único,
integrado, de caráter econômico”, diz o autor, “se acentua uma nova forma de
diferenciação regional”. (p. 28)
16 Geiger incorpora a conceituação de Fany Davidovich (citado como “trabalho inédito”),
que define regiões geográficas como:
17 Depois de apresentar as sete “regiões físicas brasileiras” (onde, além das então
recorrentes regiões Amazônia, Central, Nordeste, Leste e Sul, aparecem o Meio-Norte e
o Planalto Paulista) e propor uma síntese do processo histórico de colonização e
formação econômica do país, o autor conclui que resultou daí um Sul e Sudeste “de
maior influência das migrações europeias modernas” onde estão as “partes mais
desenvolvidas, mais industrializadas e mais urbanizadas”. Esse raciocínio “moderno-
colonial” da época, contrapondo “atraso” e “progresso”, tradição e modernidade,
concede ao Norte e Nordeste “a parcela mais tradicional, menos industrializada” e com
menor influência da migração europeia (p. 34), mas o autor ressalta que o
“crescimento” do Sul-Sudeste também se fez “às expensas de correntes de migrações
internas” e que nossa “miscigenação étnica” evitou a existência de “problemas étnicos
profundos” (p. 35).
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Figura 3. Regionalização do Brasil segundo Pedro Geiger (1964)
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21 Menos de uma década depois, Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro ampliariam a
concepção da “região core” propondo o termo “região concentrada” num trabalho que,
por referência do próprio autor (Santos, 1993), não chegou a ser publicado (Santos e
Silveira, 1979). É interessante notar que em 1993 Milton Santos, que ainda não havia
acrescentado o qualificativo “informacional” ao seu então “meio científico-técnico”,
chega a espacializá-lo, propondo substituir o termo “região concentrada”, como se o
efetivo “meio científico-técnico” estivesse circunscrito espacialmente à região Centro-
Sul5. Mas logo a seguir ele reafirma:
Hoje, pode-se falar de uma região concentrada que abrange, grosso modo, os
estados do Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) além de São Paulo
e Rio de Janeiro e parcelas consideráveis do Mato Grosso do Sul, Goiás e
Espírito Santo. Trata-se de uma área contínua onde uma divisão do trabalho
mais intensa que no resto do País garante a presença conjunta das variáveis
mais modernas – uma modernização generalizada – ao passo que no resto do
país a modernização é seletiva, mesmo naquelas manchas ou pontos cada vez
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22 Seis anos depois, em 1999, agora com Maria Laura Silveira (Santos e Silveira, 2001),
Milton Santos desdobra esse caráter concentrador, que – como na regionalização
proposta por Pedro Geiger – aparece caracterizando quase todo o Centro-Sul do país.
Trata-se ainda, em primeiro lugar, de reconhecer a “difusão diferencial do meio
técnico-científico-informacional” e as “rugosidades”, o acúmulo das heranças do
passado. Propõe-se, “grosseiramente – e como sugestão para um debate”, “quatro
Brasis (ver fig. 5): uma Região Concentrada, formada pelo Sudeste e pelo Sul, o Brasil do
Nordeste, o Centro-Oeste e a Amazônia” (p. 268). O que mais importa não é a
configuração, questionável, de base político-administrativa, mas o conteúdo das
relações de e entre essas regiões.
23 A partir da interpretação de Santos e Silveira (1999) denominação “Região
Concentrada” traduz agora a leitura crítica que fundamenta uma regionalização onde a
polarização e a “centralidade” (comandada, segundo os autores, por São Paulo e
Brasília) é “criadora de conflitos”. A ênfase ao processo de concentração supera em
muito, portanto, a concepção desenvolvimentista presente nas interpretações dos anos
1960/1970 – o que não significa que o imaginário político nacional não continue, ainda
hoje, moldado por aquele ideário.
24 Os autores consideram, assim, novas lógicas centro-periferia, muito distintas da
interpretação sistêmico-desenvolvimentista de Becker, anteriormente comentada 6.
Reconhece-se um crescimento econômico desigual e combinado em que o
aprofundamento das desigualdades pode ocorrer no próprio interior da “região
concentrada”. A informação e os serviços, desde os anos 1970, passam a comandar a
economia, reforçando a centralidade de São Paulo que, juntamente com Brasília, exerce
uma “regulação delegada”, subordinada às “forças centrífugas”, externas a sua
“competência territorial”. O padrão capitalista neoliberal vigente no final dos anos 1990
revela, por sua vez, um Estado também “centrifugador”, onde “sua regulação acaba por
ser desreguladora”, periferizando ainda mais o país na esfera internacional. (Santos e
Silveira, 1999:268)
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36 Não há como entender hoje nossa regionalização sem compreender a força dos
capitalistas (e também pequenos e médios produtores) provenientes da região Sul – e
não apenas da megarregião Rio-São Paulo e seus eixos de expansão. Em muitas áreas
eles foram os principais responsáveis pela introdução da cultura da soja, carro chefe de
todo o conjunto de atividades agroindustriais e financeiras que se projetou para os
cerrados do Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Tocantins, oeste baiano, sul do Piauí e
Maranhão e, mais recentemente, florestas do sul do Pará e sudeste do Amazonas. As
distintas des-articulações regionais daí advindas conformam um dos fenômenos mais
radicais de transformação na geografia brasileira nas últimas décadas.
37 Como decorrência, em parte, também, dessa migração sulista pelas novas áreas de
expansão agroindustrial temos a incorporação não apenas de terras dentro do
território nacional mas também fora dele. São tão intensas, muitas vezes, as
articulações transfronteiriças que não há como efetivar uma regionalização do Brasil
sem considerar a intensidade dos laços travados ao longo das fronteiras (ver por
exemplo as redes transfronteiriças com os vizinhos do Mercosul identificadas em
Haesbaert e Santa Bárbara, 2001). O caso mais evidente é o do leste paraguaio, tomado
pela migração sulista que devastou a floresta e disseminou a cultura da soja, mas isso
também se reproduz, em escalas menores, em casos como os do Uruguai e Argentina
(através da rizicultura) e da Bolívia e Venezuela (também com a soja).
38 Para completar, uma regionalização que se preze, hoje, além de incorporar relações
transfronteiriças, não pode se eximir de considerar a incorporação econômica de áreas
marítimas, onde o caso mais destacado é o do petróleo, notadamente no caso do pré-sal.
O mapa apresentado por Lencioni (2015) como “o reverso” da megarregião Rio-São
Paulo representa bem a relevância dessa nova configuração territorial para além do
espaço continental brasileiro (figura 8)
Figura 8. Exemplo de áreas marítimas a serem incorporadas à regionalização
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39 Finalmente, uma das questões mais importantes a ser considerada em novos processos
de regionalização do Brasil é a que envolve o que denominamos “regionalização de
baixo para cima”. Isso representa, também, de alguma forma, a busca de uma
“descolonização” do nosso pensamento sobre a regionalização brasileira. Normalmente
nosso raciocínio se dirige apenas às esferas hegemônicas da construção do espaço: as
grandes corporações capitalistas, os processos globalizadores, o “meio técnico-
científico-informacional”, as regiões das grandes empresas do agronegócio...
40 Parece, por vezes, que o espaço geográfico é moldado exclusivamente de cima para
baixo e a partir da imposição e/ou mediação de dinâmicas globalizadoras. Esquece-se
que há sempre espaços de resistência e/ou remanescentes profundamente marcados
pela ação de grupos subalternos que também podem articular-se espacialmente e,
portanto, regionalizar à sua maneira expressivas parcelas do território brasileiro. É o
que ocorre, por exemplo, com os chamados povos tradicionais.
41 Desconsiderar o papel das grandes áreas de preservação ambiental e também as de
resistência e/ou contenção (dependendo da perspectiva) como as de povos indígenas e
quilombolas, seria um grave equívoco em um processo de regionalização que leve em
conta, de fato, as distintas modalidades de diferenciação e/ou articulação do território
brasileiro. Neste caso, pelo menos, não há como não considerar suas configurações
zonais, já que se trata de áreas (em tese, pelo menos) linear e mais rigidamente
demarcadas. Em alguns momentos é quase como se voltássemos a considerar elementos
da “relação homem-meio” tão destacados em regionalizações tradicionais, como as aqui
citadas de Delgado de Carvalho e Fabio Guimarães – e, sobretudo, nos “tipos e aspectos
do Brasil” ilustrados por Percy Lau.
42 Ao lembrarmos hoje as imagens de Percy Lau podemos não apenas identificar
remanescentes de um Brasil tradicional, mas também evocar as tentativas de retomada,
em novos moldes, dessas relações sociedade-natureza, tantas vezes mergulhadas num
projeto de “modernização” tido como inexorável. As lutas dos povos tradicionais pelo
território nas últimas décadas estão entre as principais responsáveis por essas
resistências e/ou transformações na geografia brasileira
43 Uma “regionalização de baixo para cima”, contudo, enquanto voltada também para os
espaços efetivamente vividos, não envolve apenas processos como o dos povos
tradicionais. Trata-se ainda de considerar as inúmeras dinâmicas, especialmente
migratórias, dos mais pobres, seja como força de trabalho, seja como grupos que
expandem traços políticos e culturais (como no caso de gaúchos e nordestinos) e que,
assim, mesclam os múltiplos regionalismos e regionalidades do país.
44 A maioria das regionalizações abordadas aqui tomaram como referência quase que
exclusivamente os macroprocessos socioeconômicos, (dis)funcionais, do capitalismo
(inter)nacional-global. Mesmo frações regionais dos grupos hegemônicos, como as que
reivindicam maior autonomia para o Sul ou o Nordeste ficaram praticamente
esquecidas. É imprescindível, finalmente, mesmo dentro da ótica dos processos
hegemônicos, um tratamento aprofundado desses (neo)regionalismos, hoje também
embrionários nos casos da Amazônia e do “Brasil Central do agronegócio” (com sua
forte política lobística em Brasília).
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Considerações finais
45 Este texto foi estruturado em duas grandes partes: a primeira, que analisou algumas
regionalizações relevantes da história brasileira ao longo do século XX, e a segunda, que
se deteve em alguns dos principais desafios que se colocam para uma nova
regionalização do Brasil. O passado e o presente, é claro, não são excludentes, sendo
necessário um tratamento histórico consistente para entender as atuais transformações
em curso no nosso país. Embora a limitação de espaço neste artigo não tenha permitido
um maior detalhamento do processo histórico, o próprio percurso através da história
(incluindo a história das ideias) pelas distintas regionalizações aqui tratadas mostrou
um pouco das dinâmicas que, entre avanços e retrocessos, continuidades e
descontinuidades, desenhou o atual mapa regional do país.
46 A maioria de nossas regionalizações, geralmente vinculadas a interesses
administrativos (e do planejamento), foram delimitadas tomando como referência as
unidades político-administrativas. Delgado de Carvalho, entretanto, no início do século
XX, tal como o Vidal de la Blache do final do século XIX (Vidal de la Blache, 2012[1888]),
considerava as divisões regionais com base administrativa “divisões artificiais”,
devendo-se pautar pelas “divisões naturais”. Com o tempo, ignoramos as bases naturais
na construção do espaço geográfico e passamos a regionalizar considerando quase que
exclusivamente as funções e/ou os fluxos econômicos (comércio, indústria e serviços
nas regiões funcionais, por exemplo) ou a dinâmica de acumulação desigual capitalista
(região como produto da divisão espacial do trabalho).
47 Por mais que enfatizemos hoje as redes técnicas, de natureza econômica, nas
configurações regionais, temos que considerar a força, crescente em muitos contextos,
do conteúdo mais especificamente político e/ou cultural das redes (como vimos no caso
das redes transfronteiriças e das redes regionais para o caso brasileiro). Além disso, não
podemos esquecer que toda construção geográfica compreende também as des-
articulações (com hífen, pois são processos concomitantes), cada vez mais
problemáticas, com o espaço natural. Além disso, percebido, concebido e vivido (nos
termos de Lefebvre) se entrecruzam através da ação de múltiplos sujeitos sociais que
produzem as regiões em cada contexto histórico-geográfico.
48 É nesse sentido que propomos uma releitura do regional a partir de novos fundamentos
teóricos, especialmente através do chamado pensamento decolonial. Um olhar sobre o
regional que não leve em conta os processos de diferenciação geográfica “de baixo para
cima” ou a interferência do discurso e das práticas racializadas, por exemplo, está
fadado à extrema limitação, especialmente no caso dos países latino-americanos.
Mesmo autores que examinam a regionalização priorizando a produção das
desigualdades regionais, se considerarem apenas as distinções por condição
socioeconômica, terão uma perspectiva empobrecida da complexidade regional. Mas
deixamos aqui apenas essa constatação, pois “decolonizar” a região, é tema para um
próximo trabalho.
49 Para concluir, lembramos, para uma renovação da regionalização brasileira é
fundamental considerarmos que:
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50 Agradecimento: a Sandra Lencioni, pela gentileza da cessão das imagens das figuras 6 e
8.
BIBLIOGRAFIA
ANGOTTI-SALGUEIRO, H. “A construção de representações nacionais: os desenhos de Percy Lau
na Revista Brasileira de Geografia e outras ‘visões iconográficas’ do Brasil moderno”. Anais do
Museu Paulista v.13, n.2, jul.-dez., p. 21-72, 2005.
CONTEL, F. “As divisões regionais do IBGE no século XX (1942, 1970 e 1990)”. Terra Brasilis (Nova
Série), n. 3, 2014.
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THRIFT, N. “For a new regional Geography” (1, 2, 3). Progress in Human Geography vols. 14, 15 e 17,
1991, 1992 e 1993
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Pereira, S. e Ribeiro, G. (orgs.) Vidal, Vidais: textos de Geografia Humana, Regional e Política, 2012
(1888)
NOTAS
1. Mesmo se, como fizemos aqui para o caso brasileiro, priorizarmos a escala “macrorregional”,
não ignoramos a valorização, hoje, até mesmo do âmbito local no entendimento da região. O
famoso “localismo” de que Paul Vidal de la Blache foi equivocadamente acusado (a propósito, ver
Haesbaert et al., 2012), acabou voltando, renovado, nos anos 1990, no bojo do chamado
pensamento pós-moderno (v. por exemplo Nigel Thrift, 1991, 1992 e 1993).
2. É surpreendente que ainda hoje esse recorte se mantenha – talvez justificando a permanência,
também, de vínculos por vezes fortes entre a forma de ocupação socioeconômica de cada uma
dessas macrorregiões e seus traços naturais preponderantes.
3. “É a célebre questão da diversidade e da variedade que está em jogo, do genius loci, de uma
organização espacial dos contrastes típicos ao território do País (entendido aqui como nação). (...)
As figuras paisagísticas de cada região respondem a uma territorialidade marcada pela alteridade
de seus elementos naturais e por seus habitantes que os modificam ou se adaptam a eles”.
(Angotti-Salgueiro, 2005, p. 31)
4. A regionalização do país definida pelo IBGE que propôs a região Sudeste só viria a ser
oficializada em 1970. Para uma análise das regionalizações oficiais do Brasil de 1942, 1970 e 1990
ver Contel, 2014.
5. “Nesta ordem de ideias, a expressão meio científico-técnico poderia ser utilizada em substituição
àquela (que há alguns anos cunhamos juntamente com Ana Clara Torres Ribeiro) de região
concentrada”. (Santos, 1993, p. 39)
6. “... é difícil prosseguir falando de uma situação de polo-periferia, onde o polo seria
uma área circunscrita confundida com a própria extensão da principal aglomeração e
sua região de influência imediata como na proposta de Boudeville (1968) ou na de
Friedmann (1971)”. (Santos, 1993, p. 39)
7. Para Elias: “... as RPAs [regiões produtivas agrícolas] devem ser estudadas como
lugares funcionais de circuitos espaciais da produção e círculos de cooperação da
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RESUMOS
Este artigo problematiza a regionalização brasileira a partir de questões trazidas por antigas
regionalizações e dos desafios contemporâneos para sua realização. São consideradas tanto as
tendências de continuidade quanto as de ruptura, seja em termos analíticos quanto da realidade
empírica. São apontados alguns processos mais recentes, como o da megarregião Rio-São Paulo, o
das regiões e/ou redes regionais em áreas de modernização agrícola, as regiões transfronteiriças
e, sobretudo, as regionalizações “a partir de baixo”, construídas através de processos de
resistência de grupos subalternos.
This article problematizes the Brazilian regionalization from issues coming from old
regionalizations and the contemporary challenges to its realization. Both continuity and rupture
tendencies are considered, both analytically and empirically. Some recent processes are pointed
out, such as the Rio-São Paulo mega-region, the regions and/or regional networks in areas of
agribusiness, the cross-border regions and, above all, ” regionalizations “from below”, produced
through processes of resistance of subaltern groups.
Cet article problématise la régionalisation brésilienne à partir des questions posées par les
anciennes régionalisations et les défis contemporains pour sa réalisation. Les deux tendances de
continuité et de rupture sont considérées, à la fois en termes analytiques et dans la réalité
empirique. Quelques processus plus récents sont signalés, comme celui de la méga-région Rio-São
Paulo, celui des régions et/ou des réseaux régionaux dans les domaines de la modernisation
agricole, les régions transfrontalières et, surtout, les régionalisations « d'en bas », construites par
des processus de résistance des groupes subalternes.
ÍNDICE
Palavras-chave: região, regionalização, Brasil
Keywords: region, regionalization, Brazil
Mots-clés: région, régionalisation, Brésil
AUTOR
ROGÉRIO HAESBAERT
Professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal Fluminense e
de Políticas Ambientales y Territoriales da Universidade de Buenos Aires, rogergeo@uol.com.br
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