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© AUTOR: Kart R. Popper nasceu em 1902, em Viena. Em 1934, publicou Logik der Forschung, obra tna qual er jd visivel a sua conceps8o Fundamental da filosofia. Nos dois anos seguintes, view ramie ongosperiodos em Inglaterra. De 1937 até ao fim da Segunda Guerra Mundial, foi 60 de Filosofia no University College, Christchurch, na Nova Zelndia. Repressou a Ingla terri aps 1946, onde assumiu a direegBo do Departamento de Filosofia, Logica e Metodologia das Citncas na London Schoo! of Economics. Sbilou-se em 196. Ente as suas miltiplas obras, estacarse pela sua importancia, para além da jé refeida Logik der Forschung (1934), The (Open Society and its Enemies (1945), The Poverty of Historicism (1987), a atobiografia ite Jestual Unended Ques (1974) e a presente trilogia PSr-Excrito@ Logica da Descoberta Cienté ca (1982-1983). tT ee Karl R. Popper O UNIVERSO ABERTO Argumentos a favor do indeterminismo Organizagao de W. W. Bartley, III volume do Pos-Escrito 4 Logica da Descoberta Cientifica PUBLICAGOES DOM QUIXOTE. Lisboa 1988 cHa: lulo: © Universo Aberto or: Karl R, Popper. eto: Opus, n.° 6 1956, 1982, Kor! Roimund Popper. {ulo original: The Open Universe [Adugho: Nuno Ferrera da Fonseca, « partir de edicdo inglesa Ubucade por Hutchinson, Co., Lid, Londres. (pa: Fernando Felgueiras. * ego: Fevereiro de 1988. ligto n.t: BFL Fdsto legal n°: 18 191/87. ios os dizetos para a lingua portuguesa reservados por: Woleegdes Dom Quixote, Lde., Rua Luciano Cordeiro, 119, (08 Lisbow Codes, Portugal. Wovomposigto, paginasto e fotolitos: Texrype — Artes Grafica, Lda pteio « acabamento: Grafica Manuel Barbosa & Fithos, Lda, Fevereiro de 1988, lutbulgto: Dighoro, Rus lhe do Pico, 3-B, Pontinka, Lisboa, Movitivro, Rua do Bonfim, 98, /e, Porto. INDICE Preficio do organizador ‘Agradecimentos Preficio, 1982 Capito 1 (a2) ca) os) (65) (66) con) (268) (0) C7) Capito, 1 10.71) M.072) 12.07) 13.074) 14,075) ‘Capito 1 18,076) 16.07) 1.07) 079) 19. 80) 20.81) 21, m2) ESPECIES DE DETERMINISMO . Determinismo: Reliioso, «Cientifico» « Metafisico Perguntas «Porquén. Causalidade e Determinismo «Cientifcon (0 Principio da Determinabildade © Extudo do Comportamento ¢ 0 Principio da Determinabilidade ‘Temperatura Critcas e o Principio do Tude-ou-Nada Rel6pios e Nuvens Argumentos a favor do Determinismo @ partir da Psicologia ‘A Imagem Determinista do Mundo © Onus da Prova 0 DETERMINISMO «CIENTIFICO» 0 Determinismo Prima Facie da Fisica Classica. O Deménio de Laplace {A Ideia de Determinismo «Cientiticon: Previsiblidade @ partir de Dentro ‘Duas Definigdes de Determinismo «Cientticon © Determinismo «Cientifico» segue-se de uma Teoria Prima Facie Deter ‘Um Resultado Obtdo por Hadamard ‘A FAVOR DO INDETERMINISMO Porque E Que Sou Indeterminista: Teorias como Redes CComparagto com a Perspectiva de Kant AA Pisica Classica E Determindvel? © Passado e 0 Futuro © Veredicto da Relatividade Especial Previsto Historica ¢ Crescimento do Conhecimento Prever 0 Crescimento do Conhecimento Tebrico u 0 9 ro PD 2 3 ss 27 ” @ 4 %6 ‘Nota acerce da numerapto das sees. Bm cada um dos trés volumes do Pés- Escrito, as see $048 evtho mameradas de forma consecui ‘ls, que indicum a ordem he Indices gerai secede ‘enere pertntesls © 0 seguir a um anerlsco (*). Bd. 1. comeeando pela seego 1. Os alimeros de sec 0 og ‘quadro do Pds-Bseri(o enquanto todo, apresentam se, 22. (78) 2. (84) 26. 85) Capitulo 1¥° 25. (¢86) 26.87) 27. (088) 28. (289) 29.090) 30.91) 31.092) Adendas Adenda 1 Adenda 2 Adende 3 Indices 'A Impossiblidade de Autoprevisio ‘A Refutacto do Determinisme «Clentifico» ‘Um Argumento de Santo Agostinho, Descartes ¢ Haldane — QUESTOES METAFISICAS ‘As Doutrinas Metafisicas do Determinismo e do Indeterminisme Porque £ Que Rejeito © Determinismo Metafisico: Uma Conversa com Parménides 0 Proveto para a Citacia: Uma Teoria das Propensbes ‘Teoria Prima Facie Deterministas © Teorias Probabilisticas A Lamina de Lande ‘A Limina de Lande ¢ a Inerpretasio em Termos de Propeasio Concusio — 0 INDETERMINISMO NAO BASTA: UM POSFACIO (Os Mundos 1, 2¢ 3 ‘A Realidade dos Tr#s Mundos AA Realidade dos Mundos 1 e 2 ‘A Realidade e Autonomia Parcal do Mundo 3 {A Situagdo Humana e 0 Mundo Natural Determinism e Indeterminismo em Fisica (© Indeterminismo Nio Basta Determinismo e Naturalismo (© Universo Aberto — REDUCAO CIENTIFICA E A IMPERFEIGAO ESSENCIAL A CIENCIA ODA — MAIS OBSERVAGOES ACERCA DA REDUGAO, 1981 us m A Ernest Gombrich PREFACIO DO ORGANIZADOR mn, 60 segundo -uje publicagao era hd muito aguar- Bscrita embora ha cerca de vinte e cinco anos, a presente obra no foi, com © jamais editada. E no entanto ela apresenta a abordagem mais consistente ‘que conhego dos problemas do determinismo e do indeterminismo, © Pos-Escrito foi escrito principalmente entre os anos de 1951 e de 1956, ‘em que a Logik der Forschung, o primeiro livro de Popper a ser publi- (1934), era traduzido para inglés com 0 titulo de The Logic of Scientific [em portugues: A Logica da Descoberta Cientifica, N. do T,). 5 volumes do Pés-Escrito faziam primitivamente parte de uma série es a A Logica da Descoberta Cientifica em que Poppet se propés cor- @ desenvolver as ideias do seu primeiro livro, tendo alguns desses na verdade, incluidos em A Logica da Descoberta Cientifica foi publicada, em 1959. Mas um grupo desses apéndices adquiriu € ctesceu até constituir uma obra separada e una, a exceder em @xtensio da primitiva Logit der Forschung, Decidiu-se publicar esta = chamada Pds-Eserito: Vinte Anos depois — como se fosse uma ‘0 um volume complementar de A Logica da Descoberta Cien- 86, assim, a obra em letra de forma, em provas de granel, em ‘meses antes da esperada publicago, porém, o projecto encaminhou-sé argos para um impasse. Em Unended Quest, a autobiografia intelec- ir Karl, este refere-se da seguinte maneira as provas de granel: «A lei- rovas transformou-se num pesadelo (...) Tive entio de ser operado 08 olhos, € depois disso ndo pude recomegar, por algum tempo, a lei- as, Em consequéncia disso, o Pés-Escrito esta ainda por publica.» Ne distintamente desses tempos. Fui a Viena visitar Poppet ao hos- depois da sua operagdo a varios descolamentos de ambas as reti. o UNIVERSO ABERTO nas, e trabalhdmos no Pés-Escrito enquanto ele recuperava. Durante mt tempo, ele mal conseguia ver, ¢ recedvamos muito que viesse a ficar cego. Depois de ter tornado a ver, trabalhou-se muito no Pds-Escrito: acrescenta- ram-se varias secedes, ¢ fizeram-se milhares de correcgdes nas provas. Mas a ppressio de outros trabalhos tornava-se demasiadamente grande, ¢ a partir de 1962 praticamente nada foi acrescentado ao texto. Durante a década seguinte, uma década altamente produtiva, Popper, depois de publicar Conjectures and Refutations (1963), concluiu e publicou mais trés livros: Objective Knowledge: ‘An Evolutionary Approach (1972), Unended Quest (1974 ¢ 1976) ¢ Gjuntamente com Sir John Eccles) The Self and Its Brain (1977), bem como muitos artigos. Foram esses 05 anos, e essas as obras, em que se desenvolveu a sua tcoria, hoje “famosa, do espirito objectivo [Objective mind, N. do T.] (¢ dos Mundos 1, 2 “e 3), em que a sua abordagem se alargou até as ciéncias biolégicas. Entretanto, o Pds-Escrito, que representava o culminar da obra de Sir Karl em filosofia da fisica, ficava por publicar. Mas nio ficava por ler: a maior parte dos mais chegados dos alunos e colegas de Popper estudou esta obra, e muitos deles obtiveram, ao longo dos anos, cépias das provas de granel. E, para os que, como eu, conheceram esse livro e foram profundamente influenciados por ele, fonte de grande satisfagdo vé-lo finalmente acabado e a ser partilhado com © piblico em geral. texto que agora se preparou para publicacdo ¢ essencialmente 0 mesmo ‘que j existia em 1962, A ndo ser nalgumas partes, conforme se assinala, nao se fizeram grandes alteragdes. Sentiu-se que este era 0 tratamento apropriado a uma obra que adquirira j4, pela sua influéncia sobre os alunos ¢ os colegas de Popper, um cardcter hist6rico — tendo-se passado uns vinte ¢ cinco anos desde a sua composig&o e quarenta e cinco desde a redacgao da originaria Logik der Forschung. E evidente que muitas questdes seriam hoje tratadas de maneira diferente, mas uma revisio completa, feita pelo autor, teria demorado indefini- damente a publicacdo. ‘A preparagao da edigdo incluiu: a reuniao das diferentes verses de algu- mas partes do texto, j que tais verses se tinham acumulado ao longo dos anos; a organizacao do texto do livro (copy-editing); acrescentar notas, bibliografi- cas ¢ outras, para auxilio do leitor, Os poucos novos acrescentos que o préprio Popper fez estdo bem assinalados: so apresentados entre colchetes ¢ assinala- os com um asterisco. As minhas curtas notas editoriais e bibliograficas vao também entre colchetes, seguidas da abreviatura «Ed.». Segui aqui, em geral, ‘0 procedimento estabelecido por Troels Eggers Hansen, o responsdivel pela edi- ‘gio de Die beiden Grundprobleme der Erkenntnistheorie, de Popper (escrito em 1930-1932 e publicado em 1979). Popper péde inspeccionar o trabalho de numa série de encontros que realizimos em varios sitios, a0 longo destes ulti- ‘mos quatro anos: em Heidelberg, Guelph, Toronto, Washington D. C., Schloss Kronberg, ¢ em casa de Popper, Buckinghamshire. Popper acrescentou também 7 PREFACIO DO ORGANIZADOR 108 a todos 0s volumes, ¢ novos posficios ao segundo e ao tercelro lima alteracdo importante na apresentacdo, por minha sugestio, Publi Seton obra num 96 volume teria sido pos, mas isso signifier esado e pouco manusedvel, excede BaPlonofs: Actas perc do Pr Earie wen Daan tivo da Ciéncia — terio um vasto interesse, interessaro nao sé fils. # esludantes de Filosofia, mas também um publico mais vasto. Tals partes sto também, na globalidade, independents umas das out lot me levou a sugerir que a obra fosse publicada em trés volumes sepa 4m formato compativel, constituindo 0 todo 0 Pos-Escrito. Apés alguma Sir Karl concordou com esta Proposta ¢ com os titulos i tres volumes. a O Realismo e 0 Objectivo da Ciéncia (vol. 1); © Universo Aberto: Argumentos a 2 Argun favor do Indeterminismo (vol. 1); | A Teoria dos Quanta ¢ 0 Cisma em Fisica vol ye rea cl ree f volumes do Pds-Escrito ataca uma ou F : eee ay teers Assim, em O Realismo eo Objectivo da Ciéncia, “ivismo», que v8 como sendo a principal fonte de s em Quatro estddios: 0 Idgico, 0 metodoldgico, olve @ sua teoria da falsificabilidade Valsifiability, N. do T.] e mostra ee a0 demarcar uns dos outros os pontos de vista cientifico, i 0 © pseudocientifico, E apresenta a sua teoria da corroboragao como — de a preferéncia racional por uma teoria em sasaki ‘Quer ds «certezas» subjectivas, quer & «just ficagao» objectiva das _ een Nesse primeiro volume, Popper discute ainda a sua rela- ¢ Russell, -Jeotivist G04 € clentificos. Popper ataca também a interpretagdo subjectiva Probabilidades, interpretacdo que radica na crenga de que a probe ‘iH estado subjective de conhecimento insuficient ‘constréi uma ou Popper questiona o «Indu> ibjectivismo ¢ de idealismo, © epistemoldgico ¢ 0 metafisico,” figuras historicas da filosofia, tais como Berkeley, Hume, Kant, al he deem ua trust mpoane rn tao Fespostas pormenorizadas a criticos contemporaneos, filoséfi- do caleuto de abil do em termos de freq mbém a interpretaglo em termos Pr = - sf — Te UNIVERSO ABERTO PREEACIO DO ORGANIZADOR ‘apresenta em pormenor a sua prépria interpretacdo em termos de propensao e)a exprimir a sua gratiddio a0 American Coun. Sum inferretago que, durante os Utimos vines anor, encontrou muitos cam erican Philosophical Society, pelo generoso apoio eter seus. Estas ideias e argumentos sfo também aplicados e desenvolvidos neste {0 seu trabalho editorial nestes volumes. Deseja também ‘volume, bem como no 1 Rl Seretéria, Nancy Artis Sadoyama, pela sua a ait tar No presente volume, Popper desenvolve a sua propria perspectiva, indeter- — ‘vminista, e apresenta uma critica de formas tanto «cientificasy como metafisicas ‘Lede determinismo, com o argumento de que a fisica classiea, contrariamente & e 2 Spinito corrente, nfo pressupBe tiem implica determinismo, tal como a fisica oA, “quantica o no Taz. Acha ele, ainda assim, que o determinismo metalisico con © “nua a estar subjacente 20s trabalhos de muitos dos que nos nossos dias se ocu- pam da teoria dos quanta, incluindo os adversérios do determinismo. Popper liga 0 papel constantemente desempenhado em fisica pelas interpretagdes sub- jectivas da probabilidade a esses pressupostos deterministas metafisicos. Ha uma intima ligacdo entre os argumentos do primeiro volume ¢ os do segundo, na sua mitua predcupacao com a liberdade, a criatividade e a racio- nalidade do homem ( primeiro volume, na sua consideracdo da justificacdo ¢ da racionalidade, refuta uma pretensao subjectivista ¢ céptica acerca dos limites da critica — ¢, junto com esta, acerea dos limites da racionalidade. Se tal limite existisse, entdo ‘qualquer argumentacao séria seria fitil, e a sua aparéneia de seriedade seria ilu- soria. © segundo volume, no seu tratamento do determinismo, defende a preten- so segundo a qual a nossa racionalidade ¢ limitada a respeito da previsio d crescimento futuro do conhecimento humano. Se tal limite ndo existisse, entéo qualquer argumentacdo séria seria Titik; ea aparéncia, usoria, 3) Popper defende, assim, que a razo humana ilimitada no que respeita A cri- tica, mas limitada no que toca aos seus poderes de previsio; e mostra que tanto 4 falta de limitagdo como a limitaco sio, nos seus respectivos lugares, neces- sdrios para que a racionalidade humana exista No volume tit, A Teoria dos Quanta e 0 Cisma em Fisica, Popper examina €refuta um articulado de arguimentos e de «paradoxos» que se usam muito para defender uma perspectiva idealista. Conjecturando que os problemas da inter pretagio da mecinica quantica podem ser reportados a problemas da interpre tagio do célculo de probabilidades, Popper desenvolve a sua interpretacto da probabilidade em termos de propensao. Apresenta depois uma extensa critica de algumas das interpretagdes dominantes da teoria dos quanta, tentando resolver 108 conhecidos paradoxos desta, e tentando exorcizar «o Observador» da fisica quiaintica ~S (seu «Epilogo Metatisico», que conclui a obra, cose num todo os temas do Pés-Escrito, num estudo histrico € programatico do papel dos programas metafisicos de investigacdo [metaphysical research programmes, N. do T.] na histor AGRADECIMENTOS ‘uproveitar esta oportunidade para agradecer ao meu cole pelo grande encorajamento que foi apra mim o seu persistente inte- Watkins leu este volume em forma de manuscrito.¢ de provas e fez as jeitosas sugestdes de melhoramento. Foi por sugesto dele que decid ‘este Pds-Escrito como uma obra separada, em vez de ser uma série de A Logica da Descoberta Cientifica, como tinba sido primitivamente . Mas ainda mais importante para a conclusao da obra do que estas foi o seu interesse pelas ideias que ha nesta obra. ‘Quoria também agradecer aos co-tradutores de The Logic of Scientific Dis- ‘covery, Dr. Julius Freed ¢ Lan Freed, que leram a maior parte do volume em dde granel, e fizeram um grande numero de sugestoes para melhorar 0 ‘estilo, [Ambos morreram muitos anos antes da sua publicagao, Ed.) ‘Joseph Agassi foi, durante o periodo em que este livro foi escrito, primeiro Aaluno investigndor [research student, N. do T., €, mais tarde, meu assis- nie Investigador [research assistant, N. do T.]. Discuti com ele, em porme- J, quase todas as secedes, tendo dai resultado, muitas vezes, que, a seu con- ‘1 fenhi alargado uma ou duas frases para uma seeedo inteira — ou, num ‘caso, para uma parte nova inteira. [Tornou-se a 2.* parte de O € 0 Objectivo da Ciéncia.| A sua colaboragao teve para mim o maior também agradecer & London School of Economics and Political que fez. com que me Fosse possivel beneficiar da assisténcia do Dr. © 0 Center for Advanced Study in the Behavioral Sciencies (Ford Foun- em Stanford, California, por me ter dado a oportunidade de traba- ininterruptamente, de Outubro de 1956 a Julho de 1957, nas provas de _ itinel deste livro, e por ter possibilitado ao Dr. Agassi ajudar-me durante esse - peodo, PENN, BUCKINGHASMSHIRE, 1959 -_ UNIVERSO ABERTO 0 professor W. W. Bartley, III, foi meu aluno e, depois, meu colega na Lon- don School of Economics, entre 1958 e 1963, e trabalhou muito de perto comigo: neste livro entre 1960 ¢ 1962. Em 1978 acedeu amavelmente a ser o responsdvel pela edigio do Pés-Escrito, Estou-the grato pela sua assisténcia ¢ por ter empreendido esta ardua tarefa. Devo-lhe mais do que 0 que consigo exprimir. TTenho também muito prazer em agradecer a muitas outras pessoas que, nos anos entretanto decorridos, trabalharam comigo neste Pds-Escrito, particular- mente Alan E, Musgrave, David Miller, Are F. Petersen, Tom Sette e Jeremy Shearmur. Destes, David Miller e Arne Petersen deviam ser mencionados com destaque especial, pela imensidade de trabalho que ambos efectuaram, em varios periodos, antes de 1970. {A London School continuou, ao longo de todos estes anos, a ajudar-me, nomeando um assistente de investigagio. Durante os treze anos que se segui- ram a minha reforma, em 1969, tem-no feito com a ajuda de uma bolsa da Nuf- field Foundation, & qual desejo exprimir os meus agradecimentos. Responsével principal por esse acordo foram: 0 meu amigo e sucessor, 0 professor John Wat- kins; 0 falecido Sir Walter Adams, director da Escola; e o actual director, 0 professor Ralf Dahrendorf, de cuja calorosa amizade e grande interesse pela minha obra sou devedor profundo. Tivesse 0 Pds-Escrito sido publicado nos anos cinquenta, e té-lo-ia dedicado a Bertrand Russell: disse-me © professor Bartley que existe uma carta nesse sen- tido nos Arquivos Russell na McMaster University, Posso, para acabar, referir que este Pés-Escrito (junto com a traducio de The Logic of Scientific Discovery) me parecia quase pronto em 1954, Foi entao ue escolhi 0 seu titulo original, «Postcript: After Twenty Years», com uma alusdo 4 publicagdo de Logik der Forschung em 1934. PENN, BUCKINGHAMSHIRE, 1982 PREFACIO, 1982 ‘Tal como o professor Bartley explica no seu Prefiicio, este livro foi escrito, ‘Mnles de 1956 como parte do meu Pés-Escrito & Logica da Descoberta Cientt. Ainha por inteneao discutir a liberdade humana eo livre arbitrio humano, i¢ estes fossem realmente os problemas que estavam por irs di ~ Havia varias razdes para que eu nio quisesse discutir explicitamente tais assun- 10s na época em que escrevi olivro. A principal razio era que 0 Pos-Escrito, tal Somo u Ldgica da Descoberta Cientifica, de que é uma continuasao, tinha por _Tnlengio discutir as ciénciasfisicas, seus métodos e algumas das suas implica. ‘986s, 4 cosmologiafisica eo papel da teoria do conhecimento nas ciéncias fisicas, Uima segunda razio era eu sentir que muitos dos problemas reunidos & volta 110 problema da tiberdade humana estavam de algum modo baralhados pelo que ‘95 fildsofos tinham escrito acerca deles. Essa confusio comera, pelo menos, com lum dos maiores filbsofos de todos os tempos. Liga-se, penso eu, no facto O senso comum estar baralhado acerca desses problemas. F. que (1) 0 senso mi inclina-se, talquer aconiecimento & c idizer-se, ¢ © problema ¢ 0 de saber se essa con: ‘eal. ou.apenas aparente,. Hume ¢ muitos deterministas tentaram, com Hho e subtileza (em minha opiniso, com subtileza a mais), mostraé que (1) (2) nto se contradizem realmente, de modo que se pode ser determi ulianeamente, falar da liberdade de acco. Os jumentos em que es baseia so, porém, em grande parte verbais. Dependem da andlise verbal Aunificado de palavras. como «livre», «vontaden e «acco»; ¢ da andlise de tas como «poderia eu ter agido de outra maneira?», Essas anilises ver- UNIVERSO ABERTO bais slo perfeitamente fiteis e conduziram a filosofia moderna a um atoleiro. Mas ha outra abordagem. ‘© meu prdprio ponto de partida a minha prépria abordagem destas ques- {t0es niio vou buscé-los a Hume (que dominou a discussdo britanica destes assun- tos), mas sim a Laplace. No seu Essai philosophique sur les probabilités, de 1819, Publicado uns cinquenta anos depois do Treatise de Hume, Laplace escreveu: «Deviamos (...) considerar o estado actual do universo como efeito do seu estado anterior e causa do que se vai seguir. Suponha-se (...) uma intel séncia que pudesse conhecer todas as forcas pelas quais a natureza é ani- mada e 0 estado, num instante, de todos os objectos que a compdem; (...) para [essa inteligencia], nada poderia ser incerto; ¢ 0 futuro, tal como 0 pas- sado, estaria presente aos seus olhos.»! ‘A esta posigio, que & tal como eu explico ao longo deste livro) muito mais forte do que 0 senso comum, chamo determinismo «cientifico». E uma posigo com a qual a maior parte dos fisicos, ainda que ndo todos eles (estou a pensar, por exemplo, em Charles Sanders Peirce), teria concordado, pelo menos ante- riormente a 1927. Este determinismo laplaciano afirma que 0 estado do universo_ 2 em qualquer momento do tempo, uturo_ou passado, ¢ completamente deter (1A minado, .0 seu estado, a.suasituasdo, for dado nalgum momento, por exem- {pblouno psene momento, Consdero que ta determinsmolplacano — con ‘firmado que ele pareca estar pelas teorias prima facie deterministas da fisica, wv) “e pelo sucesso maravilhoso destas — é a dificuldade mais sdlida e mais grave 2 aa via de uma explicagdo de uma defesa da liberdade humana, da cratvidade ‘eda responsabilidade. © forte e claro enunciado de determinismo de Laplace, ue vai além do senso comum e que estd também profundamente entretecido com a histéria da ciéncia ocidental, & com certeza muito superior & formulago re dada atras como (1). determinismo laplaciano pode, porém, softer oposigio —e neste livro ‘oponho-me realmente a ele. Pela minha parte ndo sou determinista. E tomei ‘Por tarefa, neste livro, arranjar lugar na teoria fisica € na cosmologia para o indeterminismo. Assim, argumento que o determinismo laplaciano nao é sus- tentdvel, ndo sendo, além disso, exigido nem pela fisica «classica» nem pela fisica contemporinea: E uma tarefa séria, nfo tendo nada a ver com ninharias verbais?, A minha discussio farse-é, pois, num plano cosmoldgico: rei discutir © eardcter do nosso mundo e nio o significado de palavras. "Traduzido para inglés, A Philosophical Essay on Probabilities, 1951, pp. 4-5. 2 Posso recordar aos meus litres que o evita questdes verbais foi uma das minhas linhas orientadoras principais logo desde o inicio da minha carrera. Ver © Preficio & primeira ediedo, {be 1934, da Logica da Descoberta Cienifice, em particular as citagdes de Schlicke de Kant. Ver também The Open Society and Its Enemies, 1948, capitulo 11, € Unended Quest, 1976, seccdo 7. a PREPACIO, 1982 Para evitar mal-entendidos, quero aqui deixar claro que, sempre que livro filo de determinismo «cientfico» (com acientifico» entre aspas), estou Pemisat numa doutrina pretensamente «cientifica», num determinism preten- We scientifico». Trata-se de uma doutrina que deve a sua popularidade in intnca ad entre rans cemisas ao seu cariteraparentemente ce J Wo facto de em grande medida se crer que ela faz parte da ciéncia, es Alamene das teorias da gravitagdo de Newion ede Einstein da ‘cova de Ma “Well do campo electromagnético, No decurso da minha argumentacdo, vou ser capaz de desenvolver, em opo- Aigo 80 determinismo, uma posicdo que também tenta transcender (2). Bi todo o caso, quero aqui afirmar claramente algo que ¢ visivel tanto em. The Open Society and ls Enemies como em The Poverty of Historicism: que “MéInteressa profundamente a defesa filosdfica da liberdade humana, da criati- ‘Yidade humana e daquilo a que tradicionalmente se chama livre arbitrio —se Hiei que-eu creia que questdes como «o que é a liberdade?» ou «o que significa iivie!2n € 4o.que éa yontade?», bem como a tentativa de as elarficar, podem ‘TeVAF Ho atoleiro da filosofia da linguagem., Este livro é, pois, uma espécie de woleyémeno A questio da liberdade humana e da criatividade, garantindo-thes |! lua fsica ¢ cosmologicamente de um modo que nio depende de andlises ver-[iy bai, Relativamente ao comego do primeiro capitulo do livro, pode-se dizer algo ‘aeeren das minhas ideias sobre a intuigao. Considero a intuicdo e a imaginagao imensamente importantes: precisamos’ ‘elas para inventar uma teoria. Mas a intuicao, justamente por poder persuadit: CAPITULO 1 ESPECIES DE DETERMINISMO uppilvo Zo-Pretendo expor aqui as razdes que tenho para ser indeterminista', Nao Pincluirei entre essas razdes a idcia intuitiva de livre arbitrio: como argumento racio- nal a favor do indeterminismo, ela nao tem interesse. Um homem pode muito bem julgar que est a agir deliberadamente e por sua prépria escolha, quando de facto est a agir sob influéncia de sugestio, de coac¢do ou de drogas. Mas, Juma vez que consigamos rejeitar a ideia de determinismo através de argumentos ue no envolvam um recurso as nossas intuigdes respeitantes ao livre arbitrio, talvez possa ser possivel, até uma certa medida, restabelecer a validade dessas intuigdes; é que os contra-exemplos que acabamos de referir poderiio ser trat dos como casos especiais, talvez como casos de ilusdo através dos quais essas intui- ‘90es deixem temporariamente de ser dignas de confianga, Nenhuma dessas ques- Wes, porém, serd aqui discutida. O que vou fazer, no que se segue, é criticar os ‘argumentos do senso comum, os argumentos filoséficos e especialmente os argu- ‘mentos cientificos que tém sido empregues para apoiar o determinismo. problema é sobretudo relevante porque alguns representantes da teoria dos quanta muitas vezes apresentam a situago da seguinte maneira. A fisica clds- Tode-se consderar que esta parte do Pés-Bscrto ¢ uma versio melhorads do meu artigo Jneterminism in Quantum Physics and in Classical Physis», British Journal for the Philosophy ff Solence, 1, no. 2, pp. 17-133, eno. 3, pp. 173-195 [Sobre esta questo ver também, de Popper, (Of Clouds and Clocks: An Approach io the Problem of Rationality and the Freedom of Man (i, Louis, 1966), publicado em Objective Knowledge (London, 1972), pp. 206-288, Ed.) 23 UNIVERSO ABERTO sica, dizem eles, implica aquilo a que eu chamo determinismo «cientifico», € 86 a teoria dos quanta ¢ que nos obriga a rejeitar a fisica clissica e, com ela, © determinismo «cientifico». Em oposigéo a esta ideia, pretendo mostrar que nnemmesmo a validade da fisica clissica nos imporia qualquer doutrina deters ‘minista’acerca do mundo. ‘Ao criticar o determinismo, estarei a ocupar-me de uma perspectiva das cién- cis fisicas e biol6gicas que foi sustentada pelos fisicos, praticamente sem excep- lo, até 1927, ¢ por Einstein, ao que parece, quase até a sua morte em 1955?. Foi também sustentada por fil6sofos como Spinoza, Hobbes, Hume, Kant, Schope- rnhauer, J. S. Mille (pelo menos até 1927) por M. Schlick, Em 1930, Schlick ainda estava indeciso acerca do problema, como se mostra nesta interessante citago: Uma vez que esta suposigdo de que odos os acontecimentos esto sujei- tos a leis universais & habitualmente referida como sendo 0 principio da cau- salidade universal, posso apresentar {a minha tese] deste modo: qualquer: cia pressupde o principio da causalidade universal (...). Toda a experiéncia apoia a crenca de que esta pressuposigao ¢ satisfeita, pelo menos tanto quanto Sr ena car Seanad ae i ree ence 1 ‘la ¢ necesséria para todas as finalidades da vida pratica, em todos os con- ‘tuetos com os outros homens e com a natureza, ¢ até mesmo para a extrema ‘preciso que a tecnologia requer. Mas se o principio da causalidade é ou nilo- vilido d uto parte, sem a minima excepeao sequer ~aiuer dizer, s¢.0 determinismo esta ou nfo correcto—, isso nds nao sabe= ‘mos. O que sabemos, porém., ¢ isto: que & impossivel decidir a questdo entre determinismo e indeterminismo simplesmente através do pensamento ou da -.ponderando © niimero de argumentos a favor e contra (todos ‘98 quiais seriam, de-qualauer. modo, pseudo-argumentos). Tal empreendi- ‘mento est condenado a criar uma impressao ridicula, sobretudo se se pen= Sar no esmagador arsenal de artefactos experimentais e Idgicos com que a fisica contempordnea esta hoje cautelosamente a aproximar-se do ataque a0 problema de saber se 0 principio da causalidade é ou nao valido mesmo para ‘95 acontecimentos hiperfinos no interior dos étomos’. Gitei este trecho porque ele é, de muitas manciras, representativo da pe Pectiva que pretendo criticar: que o principio da causalidade ¢ 0 mesmo que Ini deen gsr oa ge psmos ae nh er muda 0 none ea tories) "A rede do tempo eda mudonc parciamme er endo realism, (Ain veo sn, via asin por alguns adversrion eases do reals, ts como Sehedigcr Gone ‘Quando vist insin,ovlume Et de Ship de The Livy of Liv Poser tinh acabado de ser pucado, Ese volun nc un Cobo Se, ho emo ee pear, con a ealdade do tempo e da moan, argumentos das dua era eave de de Kn, Nese volume, Ensen ne ronnie mito fener doe mo, dente, dicordou do eam de Code a su repos ao de Godel das equacdes cosmoldgicas poderiam ter de «ser excluidas por razdes fisicasy, ws re ttl petra Ena Parménids conan fog arto me pol minha anv deg se deve toma una car onto contra guaue visto deat tp ane tab mostra ue ainda qu a vse foe compat! ano com o eter so Som ondetrmiismo se dva tomar una psoas fever de un uivrn vatriy om Wnlvero no qual o futuro no extvse em tendo enum eomio no pana one re teem qe ets he inpusese severas arises. Arguments qu lo non dread Som Pat plano toi er eadon a aandona o eno corm com deus sade, toa fide ge Fnsn no quia abandonar vaio (a favor do gual os argumetos mas in Se sev no senso comm), anda que cu Ace que ee eava dost ai ta core a, Aue un is poderaos er orcas a abandon xc fosem tangas atguenon mo poe, M0ios (tbo do de Gd, amos) sone» Ver ks Popes, Unended Ques. 1976, pp 12913000 PA Schpp, ot: The Phisoph OF Kat Pepper WPA, vl. 108 Ver tana a sexe 26, eate Ba} a MSc, Fran der Erik 1930p. 106 (a trade € mina, ots so de Seley Ep, tambo esi e Schick apreid em Nanrasensca/en 81900, 9p 1 9 7h Eom oo aro vera que a flesoia determin, c, com el,» aso pri, wait aera os — por aa, por um recente deem de Schick somo tendo wm een do ‘Movin deo» (ind, 1984.31) 0 tengo aang, sem divas e sem danse v tos ee Yar eu tempo tos on nostos problemas, Nocnanor 9 au € bastante satan seo tang norte mos me de Taser u sfrgo pra lembraro facto de exe homes trem produto onsets cng ae fie apace er odio osu (chamandoie uma Inet) no ree vane UNIVERSO ABERTO da experi estat {recta pelo menos para todas as finalidades praticas: para «todos os aconteci- ventos», se bem que talvez nao para «absolutamente» todos os acontecimen- tos, «em toda a parte, sem a minima excepeao sequer» —uma diivida levantada opel teoria dos quanta. E também porque pretendo pegar no desafio inerente ‘a sugestilo de Schlick de que o problema é discutivel mas apenas com argumen- tos empiricos, enquanto © pensamento especulativo acerca destes assuntos $6 pode empregar «pseudo-argumentos», condenados a criar uma «impressio ridi cula», Nao acho, efectivamente, que esteja inteiramente para além das possibi- ) Jidades do pensamento especulative o poder aperfsicoar um pouca.o.que secon: Segue com os argumentos empiricos. cia que esta est jditese do determinism, ¢ que sabemos a pa hamert 1 — Determinismo: Religioso, «Cientifico» ¢ Metatisico Pode-se resumir.a ideia intuitiva de determinismo dizendo que 0 mundo ¢ como um fil imagem que esta a ser projectada ¢ o presente; as partes do filme que jd foram mostradas constituem 0 passado; as que ainda nao foram mostradas constituem o futuro. No filme, o futuro coexiste com 0 passado, € o futuro ¢ fixo, exactamente no mesmo sentido em que o passado 0 é. Ainda que o espectador possa no ‘comhecer o futuro, qualquer acontecimento futuro, sem excepcao, pode, em prin- sipio, ser conhecido com certeza, exactamente como o passado, ja que existe no mesmo sentido em que o passado existe. De facto, o futuro hi-de ser conhe- cdo do produtor do filme —do Criador do mundo. Ao Aiideia de determinismo é de origem rligosa se bem que existam grandes eligioes que créem no indeterminismo —a doutrina de que pelo menos alguns acontecimentos ndo estdo antecipadament estabelecdos. (Desde Santo Agostinho, pelo menos, a teotogiacristd tem professado sobretudo a doutrina do indeter- minismo, sendo as grandes excepgdes Lutero e Calvino.) O determinismo reli oso esta ligado as ideias de omnipoténcia divina —poder completo para dete. minar o futuro— e de omnisciéncia divina, ideia que implica que o futuro € conhecido de Deus agora, ¢, portanto, cognoscivel antecipadamente ¢ estabele- ido antecipadamente!. . ‘Além do deterministno religioso, hé uma forma da doutrina do determinismo aque chamarei «cientifica» A doutrina da divina omnipotén frnas ‘0 Idpleas,(Serd que a omnipoténca inci o poder de mudaro pass nas poder sobre. o futuro?) Contradiz até certo ponto.a doutrina da-divina-omniseiénea. (E que se tudo € Sonhesido de Des, endo o futuro sonhecide: st, poianio,anespadamentefaado ¢ nalle- vel. alé pata proprio Deus.) Nao vou aqui dscuir as dificuldades cas envlvidas na doutrina {4 diva omnipoténcia, como o problema ético de saber se ndo é mau ensinar a aula do poder. ° » dai pela ideia de natureza, e da ate de lei diving pela de lei natural, A natureza, ov talvez a a natureza» ¢ omnipotente, bem.como.omnisciente, Estabelece tudo ante- ‘ipadamente, Por contraste com Deus, que ¢ inescrutavel e que s6 por revela- ‘gho pode ser conhecido, as leis da natureza podem ser descobertas pela razio humana auxiliada pela experiéncia humana. E, se conhecemos as leis da natu- e244, postemos prever o futuro a partir dos dados presentes, por métodos pura- ‘mente racionais. FB caracteristico de todas as formas da doutrina determinista que todos 0s Acontecimentos no mundo sejam pré-determinados: se pelo menos um aconte- imento (Futuro) ndo for pré-determinado, o determinismo ¢ de rejeitar ¢ 0 inde- ferminisino & verdadeiro. Em termos daquilo a que chamo determinismo «cien- fico», isto.auct dizer auc, s¢ pelo menos um acontecimento, 10. mundo filo pudesse em_principio ser_previsto por meio de célculo a partir de leis natu: ‘Mis.¢.de dados respeitantes a0 estado presente ou pasado do mundo, entao.o. ‘determinismo.scientificon teria. de ser. reicitado, Assim, a ideia fundamental que subjaz ao determinismo «cientificon é a de ue & estrutura do mundo ¢ tal que qualquer acontecimento futuro pode em neipio ser racionalmente calculado antecipadamente, bastando para isso que mnhegamos as leis da natureza ¢ 0 estado presente ou passado do mundo. Mas, fodos os acontecimentos, eles hdo-de ser previsiveis com qual- quer-xrau de precisio que.se deseie, pois até mesmo da mais diminuta diferenca ‘se pode pretender que distinga diferentes acontecimentos.. Se bem que a ideia de determinismo «cientificon parega ser, historicamente falando, uma espécie de traducdo do determinismo religioso para termos natu- ‘alistas ¢ racionalistas, & claro que é possivel encarar a ideia de determinismo «cien- Aifico» a uma luz diferente desta. Pode-se apresenté-la, por exemplo, como resul- Mando de uma critica de certo modo sofisticada da visio do mundo propria do senso comum, segundo a qual todos os acontecimentos podem ser divididos em Mois tipos: os acontecimentos previsiveis, como a mudanga das estagdes, os movie mentos diurno ¢ anual do Sol e das estrelas fixas ou o funcionamento de um ‘aldo; © 08 acontecimentos imprevisiveis, como os caprichos do tempo ou 0 ‘omportamento das muvens?, Ora node-s¢ criticar esta ideia de senso comum da diferenga entre reldgios # fuvens levantando a questio de certo modo sofisticada de saber se esses dois lipos de acontecimentos so realmente diferentes ou se & s6 0 estado insatsf Lori0 do nosso conhecimento que os faz parecer serem diferentes; de saber se HVerK. R. Popper, «OF Clouds and Clocks», op. ct. Quando Popper leu esta nota ¢relew im, notou que se tina esquecido de que tina pela primeira vez referido a imagem das nei es Fldyios nesta secgto do Pos. Escrito, e assim ndo usou esta secg40 quando extevet im "Log pode heer aunas depen diss apresemtagte, - ///) iets ae LUNIVERSO ABERTO 0 comportamento das nuvens seria 10 previsivel como 0 dos reldgios se sou- ‘béssemos tanto acerca de nuvens como sabemos acerca de reldgios. Esta questdo, ou antes, esta conjectura, transformou.se numa convicso, logo ‘que um avango no conhecimento cientifico fez com que fosse possivel pre- wer os movimentos dos planetas ou «vagabundos» —em tempos simbolos evi- ‘Deedentes do capricho— de modo tao preciso como os das prOprias estrelas fixas. tess sucesso, 0 sucesso das leis de Kepler e da dindmica celeste de Newton, © que levou A aceitacdo quase universal do determinismo «cientifico» nos tempos LE modernos. JG © poder da crenga no determinismo «cientifico» pode ser avaliado através do facto de Kant, que, por razSes morais, rejeitava 0 determinismo, se ter, no obstante, sentido obrigado a aceit4-1o como facto inegavel, estabelecido pela cién- cia, Isto levou a uma antinomia no seu sistema filos6fico, antinomia que ele nunca conseguiu resolver de forma que o satisfizesse. A mecéinica newtoniana, J ceporém, etal como vou tentar mostrar, n&o implica o determinismo «cientficon. U7 Secu tiver razdo quanto a isto, ento Kant estava errado ao acreditar que, a0 w-** ceitar a mecdnica newtoniana, se tinha comprometido a accitar 0 determinismo WF ciemsiticon; e a sua antinomia nfo resolvida muito simplesmente nfo surge. Gees dust cia so determinismo «cientifico» seré a nossa tarefa princi PP sal. Mas, além do determinismo religioso e do determinismo «cientifico», hd uma terceira versdo da doutrina determinista que também teré de ser discutida, finda que apenas resumidamente, Pode ser designada por determinismo metafisico?. ‘A doutrina metafisica do determinismo afirma muito simplesmente que todos 5/68 acontecimentos deste mundo sio fixos, inalterdveis ou pré-determinados. Nao AQ" arma que eles sejam conhecidos por alguém nem que sejam prevsiveis por imeios cientificos. Mas afirma que 0 futuro € to pouco capaz de ser mudado 1, auto o pasado, Toda gente sabe 0 que queremos dizer quando dizsmos 976 que o passado nao se pode mudar. E precisamente no mesmo sentido que 0 + WY futuro nao se pode mudar, segundo o determinismo metafisico. {ADO 0 determinismo metafisico nao & testdvel, evidentemente. Pois mesmo que 6 mundo nos surpreendesse constantemente endo apresentasse sinal algum de qualquer pré-determinagao nem sequer de qualquer regularidade, o futuro pode- ria ainda ser pré-determinado e até antecipadamente conhecido pelos que fos- sem eapazes de ler 0 livro do destino. indeterminismo metafisico também & nio-testével. E que mesmo que 0 mundo tivesse uma aparéneia totalmente regu- lar e determinista, isso ndo estabeleceria que no existisse nenhum acontecimento indeterminado de qualquer espécie. Ora, falta de testabilidade, ou de contewido > [Acrescentado em 1981). Evite), utente evitar, neste lvro ¢ também nos meus outros livros « termo sontologan, sobretudo por causa da demasiada agitagdo que alguns filsofos provocaram {Volta de wontologan, Talve tivesse sido melhor explicar ese termo e depois usito, mais do ave cevti-lo, Seja como for, as questdes de terminologia nunca s8o importantes ESPECIES DE DETERMINISMO 0 im, 0 deter \etafisico é, por causa da sua fraqueza, implicado tanto pelo determi- -tsligioso como, pelo «cientifico», e pode-se descrevé-lo como contendo ilo que é comum as varias teorias deterministas. E irrefutavel justa- la sua fraqueza, Mas isso no quer dizer que sejam impossvels argu: Hos a seu favor ou contra ele. Os argumentos mais fortes a seu favor silo 1m 0 determinismo «cientifico». Se estes caem, pouco fica "Hig, 86 14 para o fim da discussao (na secc4o 26) é que avancarei alguns argu- "Mentos mais directos contra a accitagdo do determinismo metafsico Nas seogdes seguintes, serdo examinados em primeiro lugar os argumentos do senso comum ¢ os argumentos filosdficos a favor do determinismo «cient fico». 86 depois é que me voltarei para os argumentos baseados na fisica cissica, 2 — Perguntas «Porqué». Causalidade e Determinismo «Cientificon Na seegilo anterior sugeri uma distingdo de senso comum ou prima facie entre ‘ugontecimentos previsiveis © ndo-previsiveis, ou entre reldgios e nuvens, e sugeri ile se pode ver o determinismo «cientifico» como surgindo de uma critica sofis- ‘g, ticnda dessa distingdo, Outra manera de o senso comum se aproximar da ideia ) dedeterminismo ¢ através da ideia popular de causalidade. Um dos argumen- J, 10 mais simples e mais plausiveis a favor do determinism é este: podemos sem. 4 ilar, a respeito de u¢ imen jue nite: HY pee pernuntar, a respito de qualquer acontecimento, porque é que ele acon: /80 ¢ para todas essas perguntas «porqué» podemos sempre obter, em principio, ‘WifiA Fesposta que nos esclareca. Assim, todos os acontecimentos so «causa~ 04», ¢ isto parece querer dizer que cles tém de ser determinados, antecipada- lamos admitir a verdade destas consideragdes sem, porém, admitir que jessem levar A ideia de determinismo «cientificon. De facto, algo em uum considerdvel interesse & marcar 0 ponto em que os argumentos de AsO CoMuM acabam € a sofisticagdo comega. ‘Consideremos em primeiro lugar algumas perguntas «porque» tipi ‘Ws respostas tipicas que so perfeitamente satisfatorias a «Porque ¢ que as abethas armazenam mel?» Resposta: «Porque precisam lole para comer durante o Inverno.» (Isto muito dificilmente poderd ser um ‘iineindo tedrico.) «Porque é que hoje ha um eclipse lunar?» Resposta: «Por- ‘We hoje a Terra esta entre o Sol € a Lua, de modo que a sombra dela incide 1M Lia.» (Isto ainda ndo & um enunciado de teoria a partir do qual pudéssemos ase alge ee (NIVERSO ABERTO ever 0 eclipse.) «Porque é que ele morreu?» Resposta: «Porque quando foi a in funeral, a semana passada, esteve a chuva quase meia hora. Dafapanhou um. fsfriado que se desenvolveu ¢ gerou pneumonia. E, de resto, ele tinha setenta tts anos.» (Muitos sobreviveram a essa dura prova mesmo aos setenta e quatro.) Podemos supor que todas estas respostas sfo perfeitamente aceitaveis ¢ que ldo precisamente 0 género de informagao que se pede. Mesmo as criancas que fsaciavelmente reiteram as suas perguntas «porque nao estao, em geral, a pedir jue thes déem uma explicagao «melhor» —no sentido de uma explicag8o que hes permitisse prever acontecimentos do género em questdo..O que elas que- ‘em que se Ihes dé é, regra geral, simplesmente um enunciado de causas umas { seguir as outras —causas que antecedam temporalmente as outras dadas, ou ue as motivem; ndo reiteram as suas perguntas por quererem um conjunto de {ondigdes mais completo, mas sim por quererem que se Ihes dé uma ceadei ‘ausal» consecutiva de acontecimentos. ( facto de podermos sempre fazer perguntas «porqué, e de podermos sem- pre obter respostas relevantes a clas, néo tem, pois, em si muito que ver com } determinismo, seja ele «cientifico» ou de outra natureza. ee Mas agora podemos avanear um pouco © exgir que a8 respostas As nossas perguntas «porqué> —isto é, a explicagdes oferecidas— consistam realmente fm condigdes inciais (causas) a partir das quais os factos a explicar possam ser logicamente deduzidos, se forem dadas as leis universais relevantes'. Este é decerto, um passo que nos afasta da teoria popular da causalidade ¢ que vai em direcgao a uma teoria mais sofisticada. Accitemos esta exi igéncia, ¢ suponhi ‘mos, além disso, uma «lei da causalidade universal», no sentido de que todos fs acontecimentos possam em principio ser eausalmente explicados, na acep- ‘gllo da nossa exigéncia: isto é, supomos que ha sempre «causas» (condigdes ini- Eiais) c leis universais que nos permitem deduzir 0 «acontecimento» em ques- lo. E uma suposicéo forte, Mas ainda ndo equivale ao determinismo “ ¢ isto por varias razBes. Primeiro, a ideia que o senso comum tem de um «acontecimento» (que hi- “dle ser causalmente explicado) ¢ sobretudo qualitativa. E assim, a exigéncia do ‘determinismo «cientifico» de que deveriamos ser capazes de prever 0 aconteci- mento com. qualquer grau de preciso que se desejasse vai certamente além da ideia que 0 senso comum tem de causalidade universal. Pode ser senso comum. ‘© pedir uma explicagao causal da condicao febril de Joao; mas vai além do senso comum o pedir uma explicagio do facto de a sua temperatura estar entre 102,4 102.5 [graus Fahrenheit, N. do T.] em vez de 102 ou 103, bem como o pedir uma previsio feita com 0 correspondente grau de precisAo, "Em segundo lugar, a ideia que o senso comum tem de causa é, igualmente, sobretudo qualitativa. A consciéncia de que as causas isto ¢, as condigdes Hep. a secglo 12 de The Lotic of Scientific Discovery. ESPECIES DE DETERMINISMO = munca nos sio dadas com absoluta precisio, de que temos, por- de nos satisfazer com condigdes iniciais que so, numa certa medida, eisas, e de que este facto cria os seus problemas préprios —tudo isto BE atidelaitocio;sehs0.comum tem; ot.da idea intuitive, de-causas Hidade, Bim terceiro lugar, ha 0 seguinte problema, que surge a partir dos dois ante- Hlores: 0 determinismo «cientifico» requer a capacidade de prever qualquer acon- ecimento com qualquer grau de preciso que se deseje, desde que nos sejam ddadas condigdes iniiais swficientemente precisas. Mas o que & que signi ‘@iuficientemente»? E evidente que temos de explicar «suficientemente» de uma ‘maneira tal que nos privemos do direito de alegar —todas as vezes que falhe- ‘mos Nas nossas previsdes— que nos foram dadas condigées iniciais que ndo eram suflelentemente precisas. Por outras palavras, « nossa teoria terd_de responder (to account for, “fiw? do T,] pela imprecisdo da previstio: dado o grau de preciso que exigimos,, | x27 dda previsio, terd de nos permitir calcular o grau de preciso das condigSes ‘eiais que bastaria para nos dar uma previsio com o grau de preciso exigido., ‘Chamo a esta exigéncia «principio da determinabilidade» fr accountability», N. do T.). Ela tera de ser incorporada na definigdo de determi- hismo «ciemtifico» ‘Uma vez que os trés pontos aqui referidos —e em especial 0 terceiro— vao ‘obyiamente além da ideia popular ou de senso comum da causalidade, é conce- bivel que a ideia popular intuitiva de causalidade —mesmo na forma forte do principio da causalidade universal— seja valida, até ao seu limite, e, ao mesmo tempo, a doutrina do determinismo «sientificon ndo seja valida. ‘Assim, devemos ter cuidado com o erro cometido por tantos f6sofos dis ue julgaram que se podia argumentar v i. wendo ver_que todo o avontecimento tem uma causa, ‘ste vegrauplica-se A maior parte dos casos mas no é niversalmente vida: nto se aplica Bape samlo-smecenoioe unas cates de ead cower, a como wn ‘nquina de esrever: a nossa informagto acerca da posigdo precisa do dedo do ‘hun cera tela, por exemplo, pode sr perfetamenteirelevant para o efeto previst. palavras, especialmente se foresrita ou impress, ¢ essencialmente desta naturera, © slo oF computadores digas, i [ihe «principle ofrce LUNIVERSO ABERTO vis6es to precisas quanto 0 desejemos, esta exigéncia nfo serd, regra geral, pos- sivel de satisfazer a ndo ser que possamos aumentar a preciso das condig&es ini- ciais relevantes tanto quanto o desejemos: as condighes iniciais terdo de ser sufl- ‘ientemente precisas para uma solucao do problema colocado pela tarefa de previsio. Para a finalidade de definir 0 determinismo «cientifico», uma exigéncia no sentido de devermos ser capazes de obter previsdes com qualquer grau de preci- sio estipulado desde que nos fossem dadas condigdes iniciais «suficientemente recisas» seria, € evidente, demasiadamente vaga. Tal exigéncia tornaria a nossa definigéo trivial. Poderiamos sempre pretender que ela era satisfeita, mesmo que nunca conseguissemos derivar previsbes bem sucedidas: poderiamos sempre expli- car todos os nossos fracassos, pretendendo que as nossas condicdes iniciais nao ceram «suficientemente precisas». Para remediar esta situagdo, temos de estabe- lecer a exigéncia de devermos ser capazes de apurar, antes de testarmos o resul- tado das nossas previsdes, se as condigdes iniciais s4o ou nao suficientemente precisas. Por outras palavras: temos de ser capazes de determinar antecipada- mente, a partir da tarefa de previsio (que deve enunciar, entre outras coisas, ©-grau de preciso que se exige da previsio), em conjungio com a teoria, que preciso € que as condigdes iniciais ou «dados» tém de ter de modo a permitir~ -nos levar a cabo essa tarefa de previsio especifica. Para nos exprimirmos de forma mais completa, temos de ser capazes de responder antecipadamente por qualquer fracasso ao prever um acontecimento com 0 grau de precistio dese- jado, assinalando que as condigdes iniciais nao sto suficientemente precisas, € ‘enunciando que precisio é que elas teriam de ter para a tarefa de previsio par- ticular em causa. Assim, qualquer definicdo satisfatéria de determinismo «cien- tifico» tera de se basear no prinefpio (0 principio da determinabilidade) de que podemos calcular a partir da nossa tarefa de previsdo (em conjunsdo com as rnossas teorias, é claro) o grau de precisao exigido das condigdes iniciais* ‘Algumas tarefas de previsio so «determinaveis» —quer dizer, satisfazem 0 principio da determinabilidade— ao passo que outras tarefas de previsio néo podem ser determinaveis. Também podemos dizer de uma teoria que ela é «deter ‘mindvel» quando as tarefas de previsdo dentro dela sao, regra geral, determindveis. Para certos fins, pode ser tiil trabalhar com um principio de determinabili- dade um tanto mais forte, a que chegamos referindo-nos & precisao dos resul- tados de medigdes possiveis a partir das quais as condigdes iniciais podem ser calculadas, ¢ ndo A preciso das condigées iniciais. Assim, neste sentido mais forte, uma tarefa de previsio pode no ser determindvel por nao podermos deter- minar a partir dela (¢ da teoria) 0 grau de preciso requerido de medicdes pos- Um principio semelhante formulado por Pierre Duhem, mas mum context diferente (980 ‘numa discussdo do determinismo) com um objetivo diferente em mente. Ele apresenta-o da seguinte ‘manera: «E necssirio que sejamos capazes de determinar 0...) ero que se pode tolerar aos dados ‘se quisermos obter um resultado dentro de um grau de aproximacdo definitivo.» CF. The Aim and Structure of Physical Theory, 1984, p. 143, 0 terceiro parigrafo a partie do fim do capitulo II SPECIES DE DETERMINISMO em que possamos basear as nossas previsdes. E, porém, concebivel que w tarefa de previsio possa ser determindvel no sentido mais fraco de nos ircaleular 0 grau de preciso com que as condi¢des iniciais teriam de ser de modo a resolvé-la. Bipiaideia mais forte de ¢ ima teoria determindvel no sentido fraco mas ndo-determindvel no sen fe seria uma teoria cujo card a {estado por nds —nao poderia ser usada para apoiar o determinismo ‘wslentifico». Por outras palavras, o determinism ico» requer determi- Mabilidade no sentido mais forte. Nao obstante, no texto que se segue estarei ‘empre a pensar em determinabilidade no seu sentido mais fraco, a nao ser que ‘Tiga alusio especial a diferenga entre os dois sentidos. A razio é que se uma ‘Teoria ¢ ndo-determindvel no sentido mais fraco (de «determinavel»), ela tam 6, evidentemente, ndo-determindvel no sentido mais forte. Por outras pala “Mills 8 ndo-determinabilidade no sentido mais fraco da palavra «determindvely ‘WeATTetA (OU ¢ logicamente mais forte do que) a ndo-determinabilidade no sen- ‘Hide mais forte da palavra «determindvel». Umma vez. que o determinismo «cientifico» acarreta o principio da determi- ‘ibilidade, qualquer exemplo de um problema de previsdo definitivamente nilo- ‘aletermindvel aplicdvel ao nosso mundo destruirja imediatamente a doutrina do Welerminismo acientificon. Mas mesmo que néo possamos produzir um exe plo indubitivel deste género, deveria ser claro que ndo ‘emos razées para acre- dilar-no.determinismo acientifico» se ndo tivermos razées para principio. da determinabilidade & universalmente satisfeito. Nas seegdes seguintes vou tentar mostrar que, em pelo menos duas Areas, filguns convincentes argumentos do senso comum, bem como alguns argumen- 10 filoséficos famosos a favor do determinismo nao se sustém justamente por= ‘que nilo temos razbes de espécie alguma para acreditar que o principio da deter- ‘Minabilidacte seja satisfeito nessas areas. iso estabelecerd o seguinte. Pode acontecer que possamos con- } aeontecimentos € que possamos continuar a aumentar a preciso das provisdes. E, no entanto, esse cresci 01 das n a de previsiio ndio podera constituir razdo valida alguma para a crenga de ‘Mie @ determinismo «cientifico» seja valido nessa drea. As nossas previs6es ‘Hodem methorar constantemente e, a0 mesmo tempo, no entanto, ser aleanga. ‘das por métodos que nem sequer sugerem que o principio da determinabilidade ‘He)d. satisfeito, Manis adiante (na secgao 17), sera levantado o problema da determinabili- “dad fisica eldssica, ¢ mostrar-se-4 que dificilmente ha algumas razdes para ‘16 Juluar que ela seja determindvel no sentido mais fraco ¢ muito boas razdes ‘Wim te Julgar que ndo é determinavel no sentido mais forte.

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