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UCAM - CESEC – Segurança e Cidadania

Análise do texto : Na letra da lei: Um estudo exploratório sobre o modelo punitivo


desenhado nas constituições brasileiras. Castro e Silva, Anderson Moraes de.

O texto supracitado faz menção a palavras chave que saão: Sistem aPenitenciário
Brasileiro; História das Prisões; Cosntituições Brasileiras.

O autor introduz citando dados do InfoPen do Ministério da Justiça, que


em dezembro de 2007, o sistema penitenciário brasileiro contava com 419.551 presos
cumprindo penas restritivas de liberdade, sendo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro
e Rio Grande do Sul, os 3 primeiros colocados em população carcerária. Isso indica que
a pena de prisão ainda é a “rainha das penas.” Isso significa que ainda vigora no país o
entendimento que punir com prisão é a melhor forma de punição. O texto tem objetivo
de explorar a forma como a pena de prisão e o sistema prisional foram desenhados em
nossas Cartas Magnas, fazendo uma possível relação entre a suposta falência
institucional das prisões no presente e a path dependence de questões inerentes à própria
gênese das penitenciárias na sociedade brasileira.

A prática do aprisionamento é muito antiga, a colônia brasileira chegou a


ser presídio oficial de degradados portugueses. O encarceramento foi forma de
dominação de um grupo sobre outro e não como fim em si mesma, como forma de
punição, só na modernidade as prisões foram usadas como modelo punitivo no lugar dos
castigos corporais que eram usados no antigo regime. A prisão foi vista como meio mais
humano de se punir, na verdade um eufemismo, uma forma de punição que
diferentemente dos suplícios, era realizada às escondidas.
O período que vai de 1760 a 1840, marca a redução das penas de suplício
e a ascenção das penas de aprisionamento. Foucault situa esse momento em que as
punições deixaram de ter como alvo o corpo dos prisioneiro e passaram a serem
dirigidas às almas dos condenados.
Enquanto na Europa as penas corporais eram substituidas por aprisionamento, no Brasil
colonial, as penas ainda eram de açoites e outras formas de castigos ao corpo, praticados
pelos proprietários de escravos e pelo Estado.

Durante o contexto de criação da constituição de 1824, apesar de termos como


referência os países europeus, ainda vivíamos numa sociedade escravocrata que
suportava os castigos corporais como punição.
Com a República, veio em 1891 a Constituicão republicana que estabelecia que “todos
eram iguais perante a lei”. A pena capital ficou restrita aos crimes de guerra. Nas
próximas constituições, 1934, 1937,1946 e 1967, foram feitas algumas trasformações,
mas a distância entre a legislação formal e a realidade do sistema prisional brasileiro se
manteve a mesma. Ainda há um abismo enorme entre o que está escrito e o que ocorre
na prática, desde a criação da primeira Cosntituições até a atual, essa distância
permanece e se acentua, uma vez que a proporção de detentos só tende a crescer.

Cada contexto social ditou a forma de utilização das prisões. Durante o


Estado Novo, elas serviram como depósito de adversários políticos, segundo a ideia das
ditaduras fascistas. Em 1934, passa a ser competência privativa da União legislar sobre
normas fundamentais do regime penitenciário, foi relevante também a prestação de
assistência religiosa e o mandado de segurança. Em contrapartida, extendeu a imunidade
parlamentar aos suplentes dos deputados eleitos; houve também uma limitação ao
Habeas Corpus que não poderia ser usado em casos de trasngressões disciplinares.
A carta Magna de 1946, resgatou o texto da Carta de 1946 no que concerne à extinção
das penas de benimento, confisco ou de caráter perpétuo, sendo admitida a pena de
morte na legislação militar. Pela primeira vez no período republicano, a Constituição de
1967, fixou o respeito à integridade física e moral do detento e do presidiário e que estas
eram responsabilidade do Estado, abordou também a individualização da pena. Ela
também autorizou a detenção em edifícios não destinados aos réus de crimes comuns,
legitimando os “porões da ditadura”. A Emenda Constitucional de 1969, manteve a
competência da União na elaboração da diretrizesdo sistema prisional, mas ao contrário
daquela, extinguiu penas de morte, perpétua, e de banimento.

Os movimentos de direitos humanos, influenciaram a Constituição de 1988,


chamada de cidadã. No Rio de Janeiro, foi criada a política penitenciária “a cada facção
uma instituição” para evitar que presos de facções diferentes morram. A atual
Constituição, trouxe a proibição da tortura e dos tratamentos desumanos ou degradantes
aos apenados.
Por outro lado, foi aprovada a criação dos crimes hediondos, impedindo assim a
concessão de graça e anistia aos condenados. Assegurou também o direito às presidiárias
de viverem em companhia de seus filhos durante o período da amamentação. Os
prisioneiros passaram a ter o direito de serem informados no ato da prisão que podem
permanecer calados e que podem ser assistidos juridicamente. Ainda surgiu o direito de
indenização estatal às vítimas de erro judiciário. Um aspecto currioso da Constituição de
1988 é que as instituições prisionais não foram inseridas no rol dos órgãos constitutivos
“Da Segurança Pública”. Não existe na Constituição uma definição sobre a função social
que as prisões devem desempenhar na sociedade.

O texto nos revela uma triste realidade que já é velha conhecida nossa, mas
que insistimos em não ver. Nos mostra a abissal diferença entre o texto formal das
nossas Constituições e leis e a realidade do sistema penitenciário brasileiro. O autor
brilhantemente afirma que não há que se falar em falência, uma vez que isso só acontece
com algo que algum dia já deu certo, não é o caso das nossas prisões, que durante toda
história não se prestaram ao papel que deveria ser desempenhado por elas. Num
ambiente sujo, onde tudo é negado a esse sujeito, até mesmo sua condição humana, não
podemos esperar que ele por si só entenda e se arrependa do seu ato criminoso, e muito
menos que volte ressocializado ao seio da sociedade. Aliás, a lei prevê a ressocialização
do condenado, mas o governo juntamente com as penitenciárias nunca implementaram
políticas para tal, as prisões tem sido usadas apenas como depósito de pessoas, onde elas
são trancafiadas, esquecidas e isoladas da sociedade.

Patricia Monteiro Ribeiro Barbosa


Aluna do curso de pós graduação CESEC
30 de Agosto de 2010.

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