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tropicálía ©
al.eg orla e
a le g ri a
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação(CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia
ISBN: 8$85851-03-1
95-4447 CDl}781.630981
ATE liÊ
"1: EdiToniAI
EDITORES PlINtOMARFINS
FIlhO
AfONSO NUNES LOPES
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Tel.: (O11)570-4810
Fax:(O11)442-3896
SUMÁRIO
Prefácio.
15
Nota à Segunda Edição
17
Surgimento: Uma Explosão Colorida
A Mistura Tropicalista 27
Ingredientes da mistura tropicalista 27
V
47
Tropicalismo e antropofagia
A Cena Tropicalista 55
O Procedimento Cafona 99
99
'#
251
Discografia
153
Bibliografia
26 + TROplCÁLIA -- ALEGORIA, ALEGRIA
A MISTURA TROPICALISTA . 29
car a tradição, segundo a vivência do cosmopolitismo dos
processos artísticos, e a sensibilidade pelas coisas do Bra- sua vez, é refratária a uma análise de tipo lingübtico, pois
sil. O que chegava,sejapor exigênciade transformar as a melodia não apresentaunidades significativas, semânti-
linguagens das diversas áreas artísticas, seja pela indús- cas. Além disso, a canção comporta o arranjo, o ritmo e a
tria cu]tura], foi acolhidoe misturado à tradição musical interpretação vocal, que se inserem em gêneros,estilos e
brasileira. Assim, o tropicalismo definiu um projeto que modas,dificultando a definiçãode uma unidade.A mu-
elidia as dicotomias estéticas do momento, sem negar, no dançade um desseselementospor si só pode configurar a
entanto, a posição privilegiada que a música popular ocu- passagem de um estilo, ou mesmo gênero, a outros. Veja-
pava na discussãodas questõespolíticas e culturais. Com se, a propósito, como a simples introdução da guitarra
isto, o tropicalismo levou à área da música popular uma elétrica nos acompanhamentos de .41€g'ía, ÁZqgrfa e Do-
discussãoque se colocavano mesmo nível da que já vinha mingo ?zoParqzzedesencadeou a hostilidade contra Caeta-
ocorrendo em outras, principalmente o teatro, o cinema e no e Gi], como se realmente estivesse em questão a
a literatura. Entretanto, em função da mistura que reali- integridade da música brasileira. Destaforma, o desenvol-
zou, com os elementosda indústria cultural e os materiais vimento do uso dos instrumentos eletrânicosnos arranjos
da tradição brasileira, deslocou tal discussão dos limites posteriores assim como a exploração de possibilidades vo-
em que fora situada, nos termos da oposição entre arte cais lancinantes por Gil e Gal, embora não representassem
fparticipante e arte alienada. O tropicalismo elaborou uma novidade, tiveram importância decisiva na modificação da
l nova linguagemda canção,exigindo que se reformulas- forma da canção no Brasil.
sem os critérios de sua apreciação,até então detemtina- A cançãotropicalista também se singulariza porjDtg:
l dos pelo enfoque da crítica literáüa. Pode-sedizer que o la,.brm
l tropicalismo realizou no Brasil a autonomia da canção,es- basicamente a míseetzscêlzee efeitos eletrõnicos(microfo-
l tabelecendc-a como um objeto enfim reconhecível como ne, alta-fidelidade, diversidade de canais de gravação, so-
l verdadeiramente artístico.
noridades estranhas) que ampliavam as possibilidades dol
C) tropicalismo efetuou a síntese de m inpna. arranjo, vocalização e apresentação. Caetano, por exem-l
relação que vinha se fazendo desde o modernismo. embo.; plo, no lançamento do disco Tropícálía,travestiu-se,apar
ra raramente conseguida, pois a ênfase recaía ora sobre o cendo de boá cor-de-rosa; para defender É Proibido Proíbíl
texto ora sobre a melodia. Por ser inseparavelmente musi- usou roupas de plástico colorido, colares de macumba.
cal e verbal, é difícil tanto compor a canção como analisá- enquanto um/z#píe americano promovia um happelzí7zg,i
la. Ela remete a diferentes códigos e, ao mesmo tempo, emitindo urros e sons desconexos. Também no programam
apresenta uma unidade que os ultrapassa: como não é um Divino Maravilhoso, da TV Tupi, aconteciamcoisasestra-
poema.musicado,o texto não pode ser examinado em si, nhas, que assustavam o público: organizavam-se ceias na
independerltemente da melodia -- se isso for feito, pode-se
ter, quando muito, uma análise temática. A música, por
2. Edgar Morin, "Não se Conhecea Canção", Língzageifzda CllZflírade Massa;Tele-
visãoe G Po, Petr6polis, Vozes, 1973,pp. 145 e ss.
30 ' TROplCÁLIA .: ALEGORIA, ALEGRIA A MISTURA TROPICALISTA . 31
beira do palco enquanto Gil cantava Ora pro Nobis, Caeta- desseselementos não musicais provinha do trabalho con-
no apontava um revólver para a platéia enquanto cantava junto que os tropicalistas realizaram com Glauber Rocha,
música de Natal, e até mesmo um velório chegou a ser or- Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Lygia Clark, JoséCelso.
ganizado, com o descerramentode uma placa com o epi- A essetrabalho somavam-se as contribuições dos músicos
táfio Aqui jaz o fropícalismo-- o que, aliás, mais que um de vanguarda, dos poetas concretos e da música pop.
lance de humor e auto-ironia, indiciava lucidez quanto Como disse CaetanoVeloso, da mistura disso tudo nas-
aos limites do movimento como manifestaçãode' van- ceuo tropicalismo; contudo, importa assinalarque nasceu
guardas. "A roupa" -- disse Caetano -- "combinava com a não apenas como proposta cu]tura], efetuada em termos
música e era diferente; refletindo o brilho dos refletores, antropofágicos, mas materializado no corpo da canção,de
criava um clima para o som"; a combinação do plástico cada canção.
(material industrial) com adereços de macumba funciona- Voltando à questão essencial, é no encontro de músi-
va como "um lembrete do nossosubdesenvolvimento". E ca e poesia ou, melhor, OPI
o h@píeJohnny Grass assim considerava sua interpreta- parao
ção: "Sou um instrumento, não um cantor. Tenho a res-
que muito contribuíram: a formação literária de seusinte-
ponsabilidadede entrar na hora certa e lançar sons que grantes(Drummond, João Cabral, Guimarães Rosa, Clari-
nem os instrumentos de sopro tiram"4
ce Lispector e, depois, Oswald de Andrade e a poesia
Estesrecursospermitiam enfatizar o efeito caáoníz e(i
concreta); a yixêM.,Mcalxallê4p(desde os ritmos re-
or, contribuindo para o impacto das construçõesparó-
dicc-alegóricas, essenciaisà constituição das imagens tro-
picahstas. Com eles, o tropicalismo reentronizava o .corpo smtado pela arte de Glauber ou de JoséCelso,de Hélio Oiticica ou de Rubens
na canção,remetendo-a ao reencontro com a dimensão ri- Gerdiman, e quis que seu corpo,qual peçade escultura,no coüdiano e no pal-
co, assumisse a contradição, se metamorfoseassena contradição que era falada
tual da música,exaltandoo que de abetonela existe.Cor- ou encenada pelos outros artistas, mas nunca vivida por eles. Quis que seu cor-
po, voz, roupa, letra, dança e música tomaram-se códigos, po, pelo seu aspecto plástico, cativasse o público e que fosse ele a imagem viva
assimilados na canção tropicalista, cuja introdução foi tão da sua mensagem artísticas-.]. Caetano trouxe para a arena da rua e do palco o
próprio corpo e deu o primeiro passo para ser superastropor excelênciadas
eficaz no Brasil que ée tomou uma matriz de criação para artesbrasileiras. O corpo é tão importante quanto a voz; a roupa é tão impor-
os compositores que surgiram a partir dessa época. Caeta- tante quanto a letra; o movimento é tão importante quanto a música.O corpo
no e Gil, principalmente o primeiro, não mais abandona- estápua a voz assimcomo a roupa estápara a letra e a dança para a música.
Deixar que os seis elementos não traba]hem em harmonia [-.] mas que se con-
ram esta orientação,fazendo do corpo, no palco e no tradigam em toda sua exteruão,de tal modo que secrie um estranhoclima lú-
cotidiano, uma espécie de escultura vivas. A incorporação dico, permutacional, como se o cantor no palco fosse um quebra-cabeça que só
pudesseser organizadona cabeçados espectadores.Criando de número para
número, Caetano preenchia de maneira inesperada as seis categorias com que
3.
Cf. À4azzc;ufe, 18.10.1975, P. 80. trabahava: corpo, voz, roupa, letra, dança, música"(Silviano Santiago, "Caeta-
4. Cf., respectivamente, Vya, n. 10, nov. 1968, e n. 7. out. 1968. no Veloso, os 365 Dias de Carnaval", CadernosdeJormZismo
e a)miinímção,n.
5.
'Caetanopercebeu esse caráter contraditório e sintético que estava sendo apre- 40, jan.-fev. 1973, p. 53).
A MISTURA TROPICALISTA . 33
32 ' TROplCÁLIA - ALEGORIA, ALEGRIA
7.
6. Cf. Roland Barões, "Le grain de la voix", Àlusqre mjaí, rl 9, 1973, p. 59; e rosé Mi- Cí. entrevista de CaetanoVeloso a JoséMiguel Wisnü, "Oculto e Óbvio'
lmmqzte,n. 6, 1978,p. 8.
guelWisnik, "Ondenão Há Pecado nem Perdão", 41nmmqia, n. 6, 1978, pp. 12-13.
34 ' TROPICÁLIA - ALEGORIA, ALEGRIA A MISTURA TROPICALISTA . 35
A questão da música popular brasileira vem sendo posta ultima- O problema básico que o tropicalismo se colocou foi o
mente em termos de fidelidade e comunicaçãocom o povo brasileiro. da situaçãoda cançãono Brasil. Tanto a retomadada li-
/ Quer dizer: sempre sediscute se o importante é ter uma visão ideológi-
l ca dos problemas brasileiros, e se a música é boa, desde que exponha nha evolutiva aberta pela bossa nova como a inclusão das
l bem essa visão; ou se devemos retomar ou apenas aceitar a música pri- infomtações da modernidade punham em crise o "nível
l mitiva brasileira. A única coisa.que saiu neste sentido - o livro do Tinho- médio" em que se encastelaraa produção musical; além
l rão -- defende a preservação do azzagb&tísnzo como a única salvação da disso, este prqeto tomou a forma de uma estratégia cultu-
l música popular brasileira.Por outro lado se resistea esse"tradicionalis-
mo" -- ligado ao analfabetismodefendido por Tinhorão -- com uma mo-
ral mais ampla, definindo uma posturapolítica singular,
dernidade de idéia ou de forma como melhoramento qualitativo. Ora, irttrütseca à estrutura da canção.Reinterpretar Lupicínio
a' música brasileira se moderniza e continua brasileira, à medida que Rodrigues, Ary Barroco, Orlando .Silva, Lucho Gatica.
toda infomtação é aproveitada(e entendida) da vivência e da compreen' Beatles, Roberto Carlos, Paul Anka; utilizar-se de cola-
são da realidade brasileira. Realmente, o mais importante no momento gens, livres associações,procedimentos pop eletrânicos, ci-
[-.] é a criação de uma organicidade de cultura brasi]eira, uma estrutura- nematográficos e de encenação;mistura-los, fazendo-os
ção que possibilite o trabalho em conjunto, inter-relacionando as artes e
os ramos intelectuais.Paraisto, nós da música popular devemospartir, perder a identidade, tudo fazia parte de uma experiência
creio, da compreensãoemotiva e racional do que foi a música popular radical da geração dos 60, em grande parte do mundo oci-
brasileira até agora; devemos criar uma pogsibiUdade seletiva como base dental. O objetivo era fazer a crítica dos gêneros, estilos e, f
de criação. Se temos uma tradição e queremos fazer algo de novo dentro
dela, não só teremos de senti-la, mas conhecê-la. E é este conhecimento mais radicalmente, do próprio veículo, e da pequena bur-
guesiaque vivia o mito da arte. Em nenhum momento os l
que vai nos dar a possibilidade de criar algo novo e coerentecom elã.
SÓa retomada da Zín/mmolutíua podo nos dar uma organicidade para Uopicalistas perderam de vista o seu objetivo básico: des- \
selecionar e ter um julgamento de criação. Dizer que samba só se faz de o simples uso de instrumentos eletrõnicos, ruídos e vo- l
com frigideira, tamborim e um violão, sem sétimas e nonas,não resol- zes em .4Zegda,.4ie8Ha e Domízzgo }zo Parqzze,o emprego de
ve o problema. Paulinho da Viola me falou há alguns dias da sua ne- recursos aleatóüos e seriais, a incorporação do grito por
cessidade de incluir contrabaixo e bateria em seus discos. Tenho
Gal Costa e até a trituração da melodia por Gi]berto Gi],
certeza que, se puder levar essanecessidade ao fato, ele terá contrabai-
l xo, violino, trompa, sétimos e nonas e tem samba.Aliás, João Gilberto mantiveram-se réis à linha evolutiva, reinventando e te-
l para mim é exatamente o ln071zelzto em que isto aconteceu:a informa- matizando criticamente a canção. As últimas músicas do
l ção da modernidade musical utilizada na recriação, na renovação, lzo período heróico do movimento atestam esta coerência:
dar zlnz passo à .Pelzfe da música .popular brasileira, deverá ser feita na Questãode Ordem, Dioino Maravilhoso, Cultura e Civilização,
[ medida em que João Gilberto fez. [-.] Não me considero saudosista e não
CinemaO/íznpzae Ob/efotzãoJdenf@cado
são exemplos sig-
l proponho uma volta àquele momento e sim uma retomada das melho- nificativos. Nesta última, inclusive, tematizam-se as di-
l res conquistas(as mais profundas) dessemomento. Mana Bethânia
\ cantando(3zrcará sugere esta retomada. E é a esfHdêlzcãz,
o gdlo8 versas dimensões da canção e mesmo a sua destinação -- o
iniludível envolvimento comercial. Crítica da musicalida-
de e autocrítica jamais se desligaram no tropicalismo. En-
8. "Que Caminhos Seguir na Música Popular Brasileira?", RCB,n. 7, 1966,pp.
cerrado o movimento, com a prisão de Caetanoe Gi], as
SlldSlb. reinterpretações e as experimentações são intensificadas a
36. TROPICÁLIA - ALEGORIA, ALEGRIA A MISTURATROPICALISTAe 37
ter espectral do mundo dos objetos e gadgefsé desmontado Campos insistiu em esclarecer que os concretos não influí-
no caleidoscópio de imagens deformadas pela operação ram sobre os tropicalistas a ponto de detemünar os rumos
\ parodística e pelo humor. Desatualizadas, as imagens do grupo baiano. Houve colaboração,como no casodas
l passam a designar aquilo que ocultavam -- os arcaísmos cul- relaçõescom os músicos de vanguarda: um encontro de
l rurais - com o que a sua montagem resulta em alegoria. interesses e, portanto, reciprocidadetP. Caetano Veloso as-
' Nas sociedades dependentes o p(p encontra uma re- sim viu tal relação:
serva imensa de formas culturais, mimetizadas, mitifica-
O fato de eles terem despertado nosso interesse pra detemünadas
das e instrumentalizadas, próprias para sofrer a operação coisas deve ter, sem dúvida nenhuma, influenciado nosso trabalho, aju-
de desatualização.Os tropicalistastiraram partido dessa dado a gente a descobrir novas maneiras de colocar as fomtas que a gen-
possibiEdade:montaram uma cenacom essesmitos, cli- te tava querendo colocar. De uma forma ou de outra. com a experiência
chêse indefinições, constituindo-se em hipérbole do kitsch, que eles tinham, eles nos darearam o caminho e o trabalho deles nos li-
submetida à devoração crítica. Essa operação produziu o berou a imaginação pra detemünados jogos fomlais que talvez não ti-
véssemosousado. Mas a gente nunca perdeu a consciênciade que são
efeito cafona, num lance de humor, confomte a variante
campos diferentes [-.]. De certa fomta, muito do que a gente fez antes de
pooldo P(Pi8. conhecê-losjá era resultado de coisas que, gente como eles, eles pró-
Além disso,o tropicalismo tinha em comum com o prios, tinham feito. Indiretamente. Porque,diretamente, o que eu fiz foi
pop o interesse de ]21QbleHêtizâi..Q$..CQ muito maisprofundamente influenciado, toda aquelacoisade tropicália
!jDgyggÊ=Lê=!j!!êéjÊjg=êJjâlês..de
uma área determinada se fom\u[ou dentro de mim no dia em que eu vi Tma alz Transe.[-.] E
também o dnema de Godard me despertou um interesse muito grande,
da jt»aentude -- os tllljS[U$itáJáos..!;aíd©s, em grande parte,
me influenciou muito, mais do que Bob Dylan, mais do que os Beatles20
da.dêsse.naédia. O tropicalismo não fugiu à regra: não te-
matizou o popular; explorou os mitos urbanos. Assim, não é cornetoafinnar que os tropicalistas te-
Finalmente,não se pode deixar de examinar as relações. riam posto em prática o projeto dos concretos; antes, que
entre o tropicalismo e a poesia concreta, tanto no nível da estes reconheceram no trabalho dos tropicalistas coinci-
teorização e organização do movimento, como no nível dênciacom o trabalho que realizavamjá há uma década--
das letras das canções.Em diversas ocasiões,Augusto de o de revisão crítica da literatura e crítica literária brasilei- .
ra. Ambos os movimentos coincidiram no interesse de l
18. Mesmo as pesquisas de sonorização e vocalização empreendidas pelos tropica- operar na faixa do consumo e, ainda, na tentativa de criar l
listas não atingiram a intensidade expressiva dos sons trágicos e landnantes do estratégias culturais que se opusessem às das correntesl
Imrd rock.Convém lembrar, ainda, que a música tropicalista difere do teatro de
nacionalistas e populistas. '
rosé Censo,exatamente porque este fez el?ressíonümap@. O tropicalismo está
mais próximo da estéticadÕ lixo, herdeira do dadabmo. Entende-se,assim, a
exploraçãoda sensibilidadepela violência no teatro de JoséCelso,e a do hu-
mor na música tropicalista. Estadistinção é importante para discutir o valor 19. Cf. Augusto de Campos, q). dt, p. 286 e ss.; e também Hísfórãzdl .NlzbfcaPq)zl.
puramentecatártico do choqueobtido por violentaçãofbica e o valor descons- hr Brasileira,fase.30,p. 8.
trutor do estranhamente produzido pela prática tropicalista. 20. Cf. O Bondítüo,n. 38,p. 30.
44 . TROPICÁLIA - ALEGORIA, ALEGRIA A MISTURA TROPICALISTA . 45
são bastante diferentes. Inscrevendo-se na ideologia de- te, falaramda realidadea um nível p'etnlingíjíSti.'cu"sem:
senvolvimentista, o movimento concreto pode ser consi- fQTHa,revolucionária.nãp há ute.revolucionária". Os tro-
derado tributário de uma visão tecnocráticada cultura, picalistas,por não vincularem sua prática a nenhum es-
Bll
quanto à sua ambição de alcançar para o país a dimensão quemaprévio de figuração do momento político, trataram
contemporânea de linguagem, sintonizando-se com os o desenvolvimento, assim como a questão do engajamen-
centros internacionais produtores de arte. Os seus princí- to, como integrantes de suas produções. As contradições
HI
pios - ucionabzaçõoü ordeun e-<ilidade.social'-- caracte- da realidadeforam articuladasnuma atividade que des-
rísticos das ideQIQgjasÇQnstrutiva$.ao mesmo tempo que construía a ideologia dos discursos sobre o Brasil. Dessa
se conectavam às aspirações de reforma e modemização forma, o que nos concretos era um fim em si mesmo -- a
do desenvolvimentismo,investiam uma vontade de saber
linguagem absolutizada -, nos tropicalistas não passavade
que, pondo em xeque a teoria e a prática da poesia de 45 e
ingrediente.Não hipertrofiando o valor dos procedimen-
revendo a crítica e a história literária brasileiras, provou
as insuficiências da intelectualidade literária. Os concretos tos, problematizaram a produção mesma.