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AÇÕES E OPERAÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS: APLICAÇÃO DO CONCEITO DE


CONCEPÇÃO IMEDIATA DO PERIGO EM ENTRADAS TÁTICAS REALIZADAS
PELO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS.

Thesis · March 2017


DOI: 10.13140/RG.2.2.27268.76161

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1 author:

Paulo Augusto Aguilar


Polícia Militar do Estado de São Paulo
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SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO BRANCO
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM CIÊNCIAS POLICIAIS DE SEGURANÇA E ORDEM
PÚBLICA – CAO II/2017

Cap PM Paulo Augusto Aguilar

AÇÕES E OPERAÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS: APLICAÇÃO DO


CONCEITO DE CONCEPÇÃO IMEDIATA DO PERIGO EM ENTRADAS TÁTICAS
REALIZADAS PELO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS.

SÃO PAULO

2017
Cap PM Paulo Augusto Aguilar

AÇÕES E OPERAÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS: APLICAÇÃO DO


CONCEITO DE CONCEPÇÃO IMEDIATA DO PERIGO EM ENTRADAS TÁTICAS
REALIZADAS PELO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS.

Dissertação apresentada ao Centro de


Altos Estudos de Segurança “Cel PM
Nelson Freire Terra” como parte dos
requisitos para aprovação no Programa de
Mestrado em Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública.

Tenente Coronel PM Adriano Giovaninni - Orientador

SÃO PAULO

2017
Cap PM Paulo Augusto Aguilar

AÇÕES E OPERAÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS: APLICAÇÃO DO


CONCEITO DE CONCEPÇÃO IMEDIATA DO PERIGO EM ENTRADAS TÁTICAS
REALIZADAS PELO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS.

Dissertação apresentada ao Centro de


Altos Estudos de Segurança “Cel PM
Nelson Freire Terra” como parte dos
requisitos para aprovação no Programa de
Mestrado em Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública.

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( ) Não recomendamos a publicação

São Paulo, _____ de ________________ de 2017.

Ten Cel PM Adriano Giovaninni


Orientador

Maj PM Marcio Tavares Costacurta

Maj PM Valmor Saraiva Racorti


Este trabalho é dedicado:

Ao meu filho, Felipe Augusto Aguilar, minha fonte de inspiração e de incentivo.

A minha querida irmã, Maria Isabel Aguilar, pelos conselhos dados nas horas de
dificuldade e necessidade.

Aos meus pais, José Aguilar e Maria Emília Brisolla Aguilar, pelo legado e exemplo
de vida, e pelo amor e incentivo em todos os momentos.
Agradecimento

Ao Ten Cel PM Adriano Giovaninni que aceitou o desafio deste trabalho,


indicando os melhores rumos e, com maestria, sempre me orientou nos momentos
de incerteza do trabalho e de minha carreira, afinal muitos riscos passamos juntos
gerenciando incidentes de reféns.
Aos integrantes da banca examinadora Maj PM Marcio Tavares Costacurta e
Maj PM Valmor Saraiva Racorti que também auxiliaram no encaminhamento mais
adequado desse trabalho com precisas orientações.
Ao Coronel PM Wanderley Mascarenhas de Souza, eterno Comandante do
GATE, que compartilhou seus conhecimentos e suas experiências sobre entradas
táticas e que também me auxiliou em muito neste trabalho, mostrando-me a
necessidade de atualizar conceitos sobre a atividade.
Ao Coronel PM Décio, Tenente Coronel PM Marco António, Tenente Coronel
PM Santiago e ao Tenente Coronel PM Davi Ou pelas acaloradas discussões sobre
entradas táticas.
Aos meus eternos amigos policias do GATE a quem tive a honra de comanda-
los, que correram riscos ao meu lado durantes várias operações de recuperação de
reféns e que realizamos incansáveis treinamentos de entradas táticas, contribuindo
com suas experiências e opiniões, fundamentais para que hoje eu tivesse a
maturidade suficiente para enfrentar o tema, representados aqui pela equipe de
padronização de procedimentos da equipe tática do GATE, quando à época eu era
2ºTenente: 2º Sgt PM Guandalini, 2º Sgt PM Sizenando; 3º Sgt PM Ferreira, Sd PM
Marcello, Sgtº Hortêncio, 2º Sgt PM Sabino, 2º Sgt Pelissari, 3º Sgt PM Aparecido; 3º
Sgtº PM Campus; 3º Sgt PM Navarro, Cabo Eduardo, 2º Sgt Vanildo, 3° Sgt Paulo
Cesar, 1° Sgt Miranda entre outros.
Aos que meus irmãos de farda que me auxiliaram e compartilharam
experiências profissionais e técnicas, serei eternamente grato pela ajuda, em ordem
alfabética: Bruce Liebe, Deputy chief of staff in Illinois State Police of Division of
Operations and Master Sargent of Tactical Response Team (SWAT) of Illinois State
Police; Charles Sid Heal, Commander from the Los Angeles Sheriff’s Department e
Presidente da California Tactical Officer Association; Dennis J. Dvorjak, Agente
Especial do FBI, SWAT Senior Team Leader; Ed Allen, Major no Seminole County
(FL) Sheriff’s Office, com mais de 20 anos à frente da SWAT, atualmente Gerente de
Treinamento da NTOA; Kevan Dugan, Capitão no Pennsylvania State Police, Diretor
Regional Ocidental da NTOA; Jeff Selleg, Comandante da SWAT de Valley em
Seattle e atual Presidente da Associação dos Oficiais Táticas de Washington;
Rorbert Sorensen, Officer FBI Task Force (TFO); Phil Maria Singleton, veterano do
SAS, participante da Operação Nimrod e cofundador da Divisão Internacional de
Treinamento da Heckler & Kock e Ron McCarthy, SWAT LAPD.
“Quem ousa vence.”

SAS - Serviço Aéreo Especial

"Meu ego jamais pode ficar na frente dos meus


homens e você é um deles!"

Phil Maria Singleton, veterano do SAS, participante


da Operação Nimrod
RESUMO

Quando todas as alternativas forem insuficientes, as entradas táticas são a última


solução. Reúnem, ao mesmo tempo, tática, técnicas e procedimentos (TTP). As
entradas táticas podem se apresentar sob distintas nuances: ora relacionadas à
Quarta Alternativa Tática; ora como técnicas de adentramento dinâmico ou coberto;
ou mesmo enquanto procedimento de passagem de portas ou movimentação interna
flooding. Originadas no início da década de 70 pelo SAS, e também por grupos de
SWATs americanos, estão amplamente disseminadas no mundo militar e policial e
são empregadas quando vidas estão em perigo. No Brasil não foi diferente. Após
criação do GATE, em 10/12/1987, o conceito de entradas táticas foi influenciado e
aprendido por meio de várias fontes: os integrantes do SAS (Special Air Service); a
Polícia de Israel, do GIGN da França (Groupe de Intervention de La Gendarmerie
Nationale), os Comandos da Polícia Nacional da Colômbia; o GEO da Espanha
(Grupo Especial de Operaciones); Grupos de SWATs como Miami, Texas, Los
Angeles Sherif Department e o Escritório de Segurança Diplomática do
Departamento de Estado dos EUA. Num primeiro momento, essa diversidade de
técnicas e de conceitos pareceu salutar, entretanto, justamente devido a essa
multiplicidade não foi possível estabelecer uma padronização. Assim, lançou-se à
pesquisa descritiva e documental, elaborando-se um guia de consulta –
aprofundado e analítico – acerca do processo decisório e de execução de
estratégias, de táticas e de operações de entradas táticas, capaz de alcançar a
padronização e sistematização das diferentes nuances das TTP. Ou seja, visa-se,
neste trabalho, estruturar, de modo objetivo e eficaz, um sistema de ação referente
às entradas táticas realizadas pelo GATE, a depender dos objetivos smart
estabelecidos e das estratégias planejadas pelos Comandantes de Incidentes,
quando aquelas forem implementadas em operações de Recuperação de Reféns,
Execução de Mandados Buscas & Varreduras e Prisão de Marginais Embarricados.
Ao final, propõe-se a padronização de procedimentos para incidentes de
recuperação de reféns, marginais embarricados e matriz de risco para mandados de
busca de alto risco.

Palavras-chave: Sistema de Comando de Incidentes. Incident Commad System (ICS).


Sistema de Comando de Operações em Emergências (SiCOE). Crises. Recuperação
de Reféns. Execução de Mandados de Buscas de Alto Risco. Marginais
Embarricados. TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos). Concepção Imediata do
Perigo. Immediate Threat Concept (ITC). Wall Flood. Swarm, Break and Rake,
Breach and Hold, Surround and Call Out, Breach and Pull-Back.
9

ABSTRACT

When all the alternatives are not enough, tactical entries are the solution. This is
because they bring together, at the same time, tactics, techniques and procedures
(TTP). The tactical inputs can be presented under different nuances: sometimes
related to the Fourth Tactical Alternative; or as dynamic or covered in-going
techniques; or even as door passing procedure or flooding. Originated in the early
1970s by SAS, and also by American SWAT groups, they are widely disseminated in
the military and police world and are employed when lives are in danger. In Brazil it
was no different. After the creation of GATE, on January 26, 1988, the concept of
tactical inputs was influenced and learned through various sources: SAS (Special Air
Service); the Police of Israel, the GIGN of France (National Gendarmerie Intervention
Group), the Commands of the National Police of Colombia; the GEO of Spain
(Special Operations Group); SWAT groups such as Miami, Texas, Los Angeles Sherif
Department and the US Department of State's Office of Diplomatic Security. At first,
this diversity of techniques and concepts seemed salutary, however, due to this
multiplicity it was not possible to establish a standardization. Thus, a descriptive and
documentary research was launched, elaborating an in-depth and analytical
reference guide on the decision-making process and the execution of strategies,
tactics and operations of tactical inputs, capable of achieving the standardization and
systematization of different nuances of TTP. That is, it aims to objectively and
effectively structure a system of action regarding the tactical inputs made by GATE,
depending on the established smart objectives and the strategies planned by the
Incident Commanders, when implemented in Hostage Recovery Operations,
Execution of Search Warrants & Clearing Search, and Arrest of Barricaded Subject.
At the end, it is proposed the standardization of procedures for hostage recovery
incidents, barricaded subject and risk matrix for high risk search warrants.

Keywords: Incident Command System. Incident Commad System (ICS). Emergency


Operations Command System (SiCOE). Crises. Hostage Recovery. Execution
Warrent of searches for high risk. Barricaded Subejct. TTP (Tactics, Techniques and
Procedures). Immediate Conception of Threat. Immediate Threat Concept (ITC). Wall
Food. Swarm, Break and Rake, Breach and Hold, Surround and Call Out, Breach
and Pull-Back.
10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- ...................................................................................................24
Figura 2 - ....................................................................................................28
Figura 3 - ....................................................................................................29
Figura 4 - ....................................................................................................35
Figura 5 - ..................................................................................................68
Figura 6 - ..................................................................................................68
Figura 7 - ..................................................................................................68
Figura 8 - ..................................................................................................69
Figura 9 - ..................................................................................................69
Figura 10 - ................................................................................................69
Figura 11 -.................................................................................................69
Figura 12 - ..................................................................................................69
Figura 13 -...................................................................................................69
Figura 16 - ................................................................................................70
Figura 17 - ................................................................................................72
Figura 18 - ................................................................................................72
Figura 19 - ................................................................................................72
Figura 20 - ................................................................................................72
Figura 21 - ................................................................................................74
Figura 22 - ................................................................................................74
Figura 23 - ................................................................................................75
Figura 24 - ................................................................................................76
Figura 25 - ................................................................................................77
Figura 26 - ................................................................................................79
Figura 27 - ................................................................................................79
Figura 28 - ................................................................................................79
Figura 29 - ..............................................................................................102
Figura 30 - ..............................................................................................106
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 14
2 INCIDENTES E CRISES..................................................................................... 19
2.1 Consequências do alargamento do conceito de crises e adoção do termo
incidente. ................................................................................................................... 25
2.2 Classificação de Incidente quanto ao nível de risco: Incidentes stricto sensu, Pré-
crises, Crises. ............................................................................................................ 27
2.3 Incidentes policiais ou conflitos ........................................................................... 29
2.4 Por que estudar os Incidentes Policiais? ............................................................ 31
3 ENTRADAS TÁTICAS ........................................................................................ 36
3.1 Origens ............................................................................................................... 36
4 ASPECTOS LEGAIS DAS TTP DAS ENTRADAS TÁTICAS .............................. 43
4.1 Commitment to Kill, o compromisso de matar x a ordem de prioridade de vida. 43
4.2 Dever de eficiência e o dever de mitigar risco x risco calculado ......................... 48
4.3 Dever de eficiência e a falácia do policial 100% seguro ..................................... 52
4.4 Perda da chance em operações de recuperação de reféns e de suspeitos
embarricados............................................................................................................. 54
4.5 Conflito da Diretriz n° PM3-001/02/13 com a Resolução SSP 13/2010 .............. 59
4.6 Autoria intelectual dos objetivos smart, das estratégias e das táticas e a autoria
material das técnica e dos procedimentos ................................................................ 62
5 ENTRADAS DINÂMICAS X ENTRADAS COBERTAS. ...................................... 64
5.1 Noções preliminares ........................................................................................... 64
5.2 Entradas cobertas ............................................................................................... 65
5.3 Procedimentos de deslocamento em ambientes fechados / varredura coberta .. 66
5.4 Procedimentos de entrada coberta ..................................................................... 70
5.4.1 Entrada ........................................................................................................... 70
5.4.2 Perigo imediato ............................................................................................... 71
5.4.3 Deslocamento ................................................................................................. 77
5.4.4 Contato ........................................................................................................... 80
5.4.5 Domínio .......................................................................................................... 82
5.5 Entradas Dinâmicas. ........................................................................................... 82
5.5.1 Princípios da entradas dinâmicas. .................................................................. 83
12

5.6 Procedimentos de deslocamento em ambientes fechados / varredura


dinâmica.....................................................................................................................87
5.7 Procedimentos de entrada dinâmicas. ................................................................ 88
5.7.1 Entrada ........................................................................................................... 88
5.7.2 Perigo Imediato ............................................................................................... 88
5.7.3 Deslocamento ................................................................................................. 91
5.7.4 Contato ........................................................................................................... 91
5.7.5 Domínio .......................................................................................................... 91
6 PROCESSO DECISÓRIO DE EMPREGOS DAS ALTERNATIVAS TÁTICAS
SEGUNDO OS OBJETIVOS SMART E AS ESTRATEGIAS. .................................... 93
6.1 Incidente de recuperação de Reféns .................................................................. 93
6.1.1 Planejamento ................................................................................................ 100
6.1.1.1 Mudanças de estratégia: da negociação real para o uso da letalidade como
solução estratégica, prós e contra..........................................................................103
6.1.1.2 Sencibilidade ao tempo..............................................................................115
6.1.2 Ensaio. .......................................................................................................... 108
6.1.3 Movimento .................................................................................................... 110
6.1.4 Assalto .......................................................................................................... 110
6.1.5 Retirada e processamento de reféns ............................................................ 112
6.2 Incidente de suspeito ou pessoas embarricadas .............................................. 112
6.2.1 Planejamento ................................................................................................ 115
6.2.2 Ensaio ........................................................................................................... 124
6.2.3 Movimento .................................................................................................... 125
6.2.4 Assalto .......................................................................................................... 125
6.2.5 Suicide By Cop e Barricaded Cop-Killer: ...................................................... 125
6.2.6 Retirada e processamento. ........................................................................... 126
6.3 Incidentes com mandados de busca & varreduras ........................................... 126
6.3.1 Planejamento ................................................................................................ 130
6.3.2 Ensaio ........................................................................................................... 139
6.3.3 Movimento .................................................................................................... 139
6.3.4 Assalto .......................................................................................................... 139
7 SELEÇÃO DE EQUIPAMENTOS PARA TTP DAS ENTRADAS TÁTICAS. ...... 141
8 CONCLUSÃO ................................................................................................... 143
8.1 Considerações .................................................................................................. 143
13

8.2 Impacto operacional .......................................................................................... 145


9 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 149
APÊNDICE A – Procedimento operacional padrão de incidentes de reféns ........... 155
APÊNDICE B – Procedimento operacional padrão de pessoas embarricadas ....... 164
APÊNDICE C – Procedimento operacional padrão de cumprimento de mandado
judicial ..................................................................................................................... 174
14

1 INTRODUÇÃO

Em setembro de 1987, o então Cap PM Clóvis José Mentone foi designado


pelo Comandante Geral, Cel PM Wilson Corrêa Leite, para selecionar um grupo de
Oficiais para compor o GATE, a fim de estruturar a criação de uma tropa
especializada, nos moldes da “SWAT” (Special Weapons and Tactics, ou, Armas e
Táticas Especiais) americana. Em 1990 foi realizado o primeiro curso de SWAT
(Armas e Táticas Especiais) em São Paulo, ministrado por policiais americanos
pertencentes à SWAT do Departamento de Policia de Miami, EUA. Nessa instrução
participaram diversos policiais do GATE, que receberam instruções de entradas
táticas, muitas utilizadas até hoje, como a entrada cruzada (criss-cross), a entrada
em gancho (button-hook) e a entrada limitada (limited penetration).
No ano de 1995, o então 1° Ten PM Décio José Aguiar Leão empreendeu
viagem para os EUA, no Centro Internacional de Treinamento Heckler & Koch,
quando frequentou o curso de formação de Times Táticos. Nesse aprendeu novos
conceitos, principalmente os ligados a entradas dinâmicas e cobertas, realizadas por
meio da concepção imediata do perigo.
Insta ressaltar que as técnicas e os conceitos de entradas táticas utilizados no
GATE, desde a sua criação, também sofreram forte influência externa, desde a da
Polícia de Israel, do GIGN da França ( National Gendarmerie Intervention Group),
dos Comandos da Polícia Nacional da Colômbia e do GEO da Espanha
(Grupo Especial de Operaciones). Num primeiro momento, essa diversidade de
técnicas e de conceitos pareceu salutar, entretanto, justamente pela elevada
quantidade de excelentes técnicas e conceitos, não foi possível estabelecer uma
padronização. Isso porque os conceitos e as técnicas de entradas táticas, enquanto
gênero, não podem ser intercambiáveis com outras, enquanto espécie.
Assim sendo, não existe um efeito sinergético resultante da somatória dos
conceitos de entradas táticas, uma vez que estes se excluem devido à forma com
que se concebe a leitura do perigo, logo refletindo no processo decisório de
estratégias de táticas e de operações. A partir das reflexões acerca dessa
problemática idealizou-se este trabalho, cujo objetivo é desenvolver um estudo
aprofundado dessa dicotomia de técnicas e de conceitos, além de oferecer uma
proposta de sistematização e padronização no trato do processo decisório e de
execução de estratégicas, de táticas e de operações, obedecendo aos padrões
15

mundialmente consagrados na aplicação do conceito de concepção imediata do


perigo em entradas táticas.
Todo o desenvolvimento deste trabalho será realizado e tratado
funcionalmente dentro da consagrada estrutura do Gabinete de Gerenciamento de
Crises, com diretrizes e políticas específicas. Serão evitadas, ao máximo,
participações isoladas ou empíricas dos responsáveis pela suas resoluções, o que
resultará em ações mais eficientes e eficazes, capazes de mitigar os riscos advindos
da essência da atividade policial.
Por se tratar de um projeto voltado à Gestão Operacional e Gestão do
Conhecimento e Inovação, encontra-se inserto na área de concentração Polícia
Ostensiva e Preservação da Ordem Pública, área de interesse Polícia Ostensiva,
Qualidade Total e a linha de pesquisa Policiamento, Gestão pela Qualidade, Gestão
Operacional, Gestão do Conhecimento e Inovação.
O principal objetivo do presente trabalho é proporcionar, a partir do conceito
de concepção imediata de perigo, um guia de estudo e de consulta, aprofundado e
analítico, acerca do processo decisório e de execução de estratégias, táticas e
operações de entradas táticas. Com base nessas reflexões será possível alcançar a
sistematização e a padronizacão desejadas no trato do processo decisório e de
execução de estratégicas, obedecendo aos padrões mundialmente consagrados, o
que resultará em ações mais eficientes e eficazes, mitigando-se os riscos advindos
da essência da atividade policial.
Dessa forma, os objetivos específicos são:
– Aprimorar o processo decisório e a execução de estratégias, de táticas e de
operações de entradas táticas, utilizando o conceito de concepção imediata do
perigo.
– Organizar as técnicas possíveis de serem utilizadas em entradas táticas
nas missões do GATE.
– Desenvolver conhecimento no tocante a entradas táticas, enquanto ponto
em comum de alternativa para resolução de crises de Resgate de Reféns, Marginais
embarricados, Cumprimentos de mandados e Buscas & Varreduras.
– Estruturar o conceito de concepção imediata do perigo nas entradas táticas
segundo os seguintes tipos de crises: Resgate de Reféns, Marginais embarricados,
Cumprimentos de mandados e Busca & Varreduras.
16

– Propor e aperfeiçoar Procedimento Operacional Padrão para a atividade de


entradas táticas, que contemplem o processo decisório e a execução de missões do
GATE, a fim de garantir aumento da eficiência do serviço policial e mitigação de
riscos da atividade.
– Selecionar os equipamentos e os materiais necessários para a aplicação e
o aperfeiçoamento das ações das operações de entradas táticas.
A problemática que move este trabalho gira em torno da seguinte situação. A
maioria das instituições policiais, embora tenham ditado normas a respeito das
entradas táticas, ainda não possuem padrões de estratégias de operações
destinadas aos grupos de ações táticas especiais. Tal realidade acaba gerando uma
lacuna na prestação eficiente e segura da atividade policial, já que não há um
uniformização no atendimento de ocorrências que necessitem realizar entradas
táticas.
Vale lembrar que o GATE e outras tropas no Brasil sofreram forte influência de
treinamento de tropas americanas, israelenses, francesas, alemãs e espanholas.
Além disso, oficiais e praças realizaram treinamento em diversos países, o que
contribuiu para a expansão de conhecimentos. Entretanto, essa variedade de
informações prejudicou a padronização de procedimentos diante da existência de
várias opções para se resolver um mesmo problema. Excluíam-se, ao invés de
somarem.
Destarte, a partir das reflexões e conclusões deste trabalho, espera-se que a
resolução de crises que requeiram entradas táticas mereçam um tratamento
especializado e aprofundado, minimizando, dessa forma, erros estratégicos, táticos
e operacionais, os quais trazem consequências extremamente prejudiciais aos
envolvidos.
Espera-se, ainda, que as ações de entradas táticas sejam tratadas
funcionalmente dentro da estrutura do Gabinete de Gerenciamento de Crises, com
diretrizes e políticas específicas, evitando-se, ao máximo, participações isoladas ou
empíricas dos responsáveis pela suas resoluções.
A justificativa deste trabalho parte do art. 37, da Constituição Federal/88, que
estabelece que:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. (Brasil, 2018)
17

Como dito acima, a eficiência é um dos princípios fundamentais da


Administração Pública, e é de observância obrigatória pelos administradores.
Já o § 5º, do artigo 144 da Constituição Federal/88 (2018), define a
competência da Polícia Militar nos seguintes termos: “§ 5º - às polícias militares
cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de
bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil.”
Infere-se do dispositivo que a Polícia Militar do Estado de São Paulo deve
pautar pela eficiência na gestão de suas atividades de polícia ostensiva e
preservação da ordem pública. Inclui-se, nessa gestão, o racional emprego de meios
quando da realização de entradas táticas por tropas especiais.
Contudo, a ausência de literatura nacional a respeito do conceito de
concepção imediata do perigo, como também a falta de sistematização e
padronização desse conceito, prejudicam a eficiente conduta no tocante às
operações estratégicas, seja pela falta de divulgação da doutrina e da técnica, ou
pelo seu desconhecimento total ou parcial por parte dos policiais. Tal realidade
traduz-se hoje em fatores de risco para o serviço policial, o que contribui para o seu
fracasso, por meio das perdas de vidas e responsabilidades jurídicas para o Estado.
A hipótese levantada é a de que a ausência de sistematização e de
padronização de entradas táticas por tropas de ações táticas especiais aumenta o
risco de decisões e de execuções equivocadas. Com este estudo será possível
alcançar a uniformização desejada no trato do processo decisório e da execução de
estratégias, de táticas e de operações, o que resultará em ações mais eficientes e
eficazes, uma vez que serão reduzidos os riscos advindos da essência da atividade
policial.
Importante lembrar que o conceito de concepção imediata do perigo é uma
técnica extremamente precisa, entretanto, de dificílimo treinamento e de
pouquíssima disseminação doutrinária no mundo, com escasso material na literatura
nacional e mesmo na internacional. Além disso, tal conceito, quando adicionado a
outros aprendidos de diversos países, não gera um efeito sinergético, como seria o
esperado. Ao contrário, quando toda essa informação não é devidamente estudada
e separada, o resultado mais imediato pode ser a falha na tomada de decisão e de
execução de ações. Vale aqui o princípio de que menos é mais, a fim de evitar
confusão e conflitos de técnicas que se excluem.
18

A inexistência de equipamentos e de locais apropriados para o treinamento e


desenvolvimento do conceito de concepção imediata do perigo também contribuem
para a inexistência de uma padronização e uma sistematização dos procedimentos
de entradas táticas.
A metodologia empregada envolveu pesquisa descritiva, qualitativa com
pesquisa documental, consultas a sites da internet; visitas aos órgãos que atuam na
área, com a finalidade de constatar as ações e as políticas adotadas; pesquisa
bibliográfica de âmbito nacional e internacional. O método empregado para a
elaboração do presente trabalho foi hipotético-dedutivo, com técnicas de análise de
conteúdo.
19

2 INCIDENTES E CRISES

No contexto policial, a Doutrina de Gerenciamento de Crises e sua definição


foram introduzidas, em meados da década 90, por meio de duas publicações:
primeiramente pela apostila do Delegado da Polícia Federal Roberto das Chagas
Monteiro e, posteriormente, pela dissertação de mestrado do então Capitão da
Polícia Militar do Estado de São Paulo Wanderley Mascarenhas de Souza – hoje
Coronel –, trabalho este apresentado durante o Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais/1995.
De Souza (1995, p. 10), em seu estudo, cita a definição de crise adotada pela
Academia Nacional do FBI (Federal Bureau of Investigation) dos Estados Unidos da
América, a saber: "Um evento ou situação crucial que exige uma resposta especial
da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável". Essa preciosa dissertação,
editada em 1995, seguiu a dogmática utilizada pelo FBI, que encontra laços perenes
até hoje no Brasil, e sua utilização é unânime pelas polícias no Brasil.
Vale ressaltar que a doutrina de gerenciamento de crises adotada pelo FBI
sofreu significativo aperfeiçoamento, em decorrência do incidente conhecido como
"Cerco de Waco", ocorrido em 19/4/1993 durante o cumprimento de mandado de
busca pelo ATF (Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives), na cidade Waco, nos
Estados Unidos da América, que durou 51 dias e que resultou na morte de 80
pessoas.
Além do mais, em 21/05/1995, com a edição da Presidential Decision
Directive 39 - PDD-39 U.S. Policy on Counterterrorism (1995,tradução nosso) o FBI
aumentou suas atribuições a respeito do gerenciamento de incidentes terroristas,
conforme consta no item 3, letra B, da PDD-39:
B. Resposta Imediata ao Incidente.
[...] Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça, agindo no âmbito do
FBI, terá a responsabilidade principal pela gestão de incidentes terroristas.

Na mesma PDD-39, em seu item 4, letra D, salta aos olhos a atribuição


designada para a Federal Emergency Management Agency - FEMA, na medida em
que a agência será a responsável pela adequação de planos de resposta a
incidentes Terroristas:
Gerenciamento de Consequências: a FEMA, com agências de apoio
adequadas, deve analisar a adequação do Plano de Resposta Federal para
responder a um incidente terrorista relacionado à Armas de Destruição em
Massa. A capacidade de implementar esses planos deve ser revisada de
20

forma urgente, e todas as insuficiências de estoques, capacidades ou


treinamento devem ser identificadas e corrigidas. Esta revisão avaliará a
adequação de:
a) estoques de antídotos e outros medicamentos especiais;
b) sistema médico nacional de desastre; e
c) procedimentos para suporte direto do DoD, incluindo suporte para
instalações médicas e descontaminação. Um relatório sobre o status desses
esforços deve ser enviado em 180 dias (FEMA, 1995, tradução nossa).

Na sequência dessa metamorfose vieram a PDD-62, em 22/05/1998 e a


decretação do Ato Patriótico, em 26/10/2001, seis semanas após os atentados de 11
de Setembro de 2001:
O presidente William J. Clinton delineou a política dos EUA em matéria de
terrorismo na Diretiva da Decisão Presidencial (PDD) 39 em 1995 e, em
1998, criou disposições específicas para combater o terrorismo na PDD 62.
Desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o rosto do
antiterrorismo dos EUA mudou consideravelmente, com a assinatura do
Patriot Act, bem como uma série de outras medidas. Entre essas está a
reorientação da principal organização de aplicação da lei do país, o Federal
Bureau of Investigation (FBI), em direção a uma missão cada vez mais
preocupada com o antiterrorismo. (FEMA, 2001, tradução nossa)

Por fim, diante das dificuldades encontradas em gerenciar o atentado de


11/11/2001, o então Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, editou a
Homeland Security Presidential Directive 5 (HSPD–5), em 28/03/2003, cujo principal
propósito foi estabelecer um único sistema de gerenciamento de incidentes de
âmbito nacional. Em seu bojo a norma ampliou as atribuições da Secretary of
Homeland Security, incumbindo-a de desenvolver, aplicar, certificar e auditar o
National Incident Management System (NIMS), que passou a normatizar todo o ciclo
de Gerenciamento de qualquer Incidente nos Estados Unidos, pelos governos
federal, estadual, municipal, organizações não governamentais (ONG) e setor
privado. Essa modificação envolveu toda a sociedade em um esforço de trabalho
conjunto, tudo isso amparado por uma terminologia e doutrina comuns, com o
objetivo de prevenir, proteger, responder, recuperar e mitigar os efeitos dos
incidentes, independentemente da causa, tamanho, localização ou complexidade:
[...] Para fornecer interoperabilidade e compatibilidade entre os recursos
federais, estaduais e locais, o NIMS incluirá um conjunto básico de
conceitos, princípios, terminologia e tecnologias que cobrem o sistema de
comando de incidentes; sistemas de coordenação multi-agências; comando
unificado; treinamento; identificação e gerenciamento de recursos (incluindo
sistemas para classificação de tipos de recursos); qualificações e
certificação; e a coleta, rastreamento e relatório de incidentes informações e
recursos de incidentes.(HSPD, 2003, p.229, tradução nossa)

Por ser um órgão federal, o FBI se adequou a essa nova terminologia comum
do NIMS, não podendo ficar alheio às mudanças diante do novo e do complexo
21

sistema nacional de gestão de incidentes. Importante destacar que o termo


"complexo", aqui utilizado, surge como sinônimo de integrado, e não como algo
dificultoso.
Mais uma vez, extremamente atento às mudanças de paradigmas
doutrinários, o então Tenente Coronel PM Mascarenhas, fez constar em sua tese de
doutorado a nova terminologia, tanto que cita o termo "incidente" centro e trinta e
três vezes em seu trabalho: Ações do policial negociador nas ocorrências com
reféns. Tese essa defendida em 2002 no Curso Superior de Polícia.
Essa adequação também pôde ser percebida quando integrantes do FBI
ministraram curso no Brasil, em 02/05/20121 e utilizaram o termo “incidente” no lugar
de “crise”, definindo-o como: "uma ocorrência causada ou pelo ser humano ou por
um fenômeno natural, que exige resposta imediata".
Em 10/10/2017, a FEMA publicou sua Terceira Edição do NIMS 2017,
sedimentando sua doutrina ao definir o termo "incidente" em seu glossário:
Incidente: Uma ocorrência, natural ou provocada pelo homem, que requer
uma resposta para proteger a vida ou a propriedade. Neste documento, a
palavra "incidente" inclui eventos planejados, bem como emergências e / ou
desastres de todos os tipos e tamanhos (FEMA, 2017, p. 64, tradução
nossa).

Entretanto, ao pesquisar as normas de gerenciamento de incidentes, ainda é


possível encontrar o FBI utilizando o termo “crises”. Um exemplo disso consta no
Plano de Resposta Nacional de 2004 (NRP) e no seu Anexo sobre Terrorism Incident
Law Enforcement and Investigation. Infere-se destes textos, editados em 2004, mas
ainda vigentes, que o órgão federal utilizou o termo “crises” enquanto evento
extraordinário, crucial. Ao que tudo indica, o motivo disto se dá pela falta de
atualização e revisão do Anexo do NRP.
No Estado de São Paulo, o Sistema de Comando de Operações e
Emergências - SiCOE, regido pela DIRETRIZ Nº CCB-004/931/14, apesar de citar
em seu texto o termo “incidentes” em diversas passagens, não o define, mas em seu
glossário é possível identificar a opção pelo termo Emergência como sinônimo.
Nessa mesma norma, assevera a adequação do Incident Command System (ICS)

1
Curso de Pronto Atendimento e Investigações em Incidentes com Agentes
Químicos, Bacteriológicos, Radiológicos e Nucleares - FBI/SP durante a sétima aula
- Incident Management - Command and Control - ICS
22

para a gestão de emergências no Estado de São Paulo e no Brasil, conforme a letra


E, do item 2, da DIRETRIZ Nº CCB-004/931/14:
e. O Incident Command System (ICS) desenvolvido pelo gestor de serviço
de bombeiros do Estado da Califórnia, EUA, no anos 70, foi adotado como
padrão pelo Federal Emergency Management Agency (FEMA - USA) e pela
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP - Brasil) se mostra
adequado para a gestão de emergências no Estado de São Paulo e no
Brasil, uma vez que vem sendo metodicamente adaptado pelas forças de
segurança do país com os nomes de Sistema de Comando em Operações
(SCO) e Sistema de Comando em Incidentes (SCI). (CBPMESP, 2014)

Vale dizer que o ICS se subordina aos conceitos do NIMS e, assim, cumpre o
Princípio da Terminologia Comum. Este procedimento oferece um ambiente apto
para que diversas organizações de gerenciamento de incidentes e de suporte
possam trabalhar em conjunto, evitando, desse modo, confusões e perda de tempo
com termos e nomenclaturas durante um incidente:
NIMS orienta todos os níveis de governo, organizações não-governamentais
(ONG) e o setor privado a trabalharem juntos para prevenir, proteger contra,
mitigar, responder e recuperar de incidentes. O NIMS oferece aos
interessados em toda a comunidade o vocabulário, os sistemas e os
processos compartilhados para fornecer com sucesso os recursos descritos
no Sistema Nacional de Preparação. O NIMS define sistemas
operacionais, incluindo o Sistema de Comando de Incidente (ICS), as
estruturas do Centro de Operações de Emergência (EOC) e os Grupos de
Coordenação Multiagências (Grupos MAC) que orientam a forma como o
pessoal trabalha em conjunto durante os incidentes. O NIMS aplica-se a
todos os incidentes, de acidentes de trânsito a grandes desastres. (FEMA,
2017, p,1, tradução nossa, grifo nosso)

Seja como for, a opção pelo termo Incidente ou Emergência e a sua definição
são importantes pois repercutes no âmbito do Direito, uma vez que o termo
“Comandante do Incidente” está definindo seus deveres e suas obrigações na
função. Não obstante, se utilizada a definição de incidente, em muito se expande o
poder dever de atuação dos órgãos devido a sua carga preventiva.
No mesmo sentido de ausência de uso de terminologia comum, mas também
adotando o ICS, está a Defesa Civil do Estado de São Paulo. No Manual de
Gerenciamento de Desastres - Sistema de Comando em Operações, disponível em
seu site, é possível encontrar definições de desastres, emergências, crises e
situações críticas, conforme se verifica:
3 COMO RESPONDER AOS DESASTRES
3.1 Desastres, emergências e situações criticas.
Os desastres, sempre que ocorrem, exigem uma ação de resposta por parte
dos organismos públicos, para minimizar a perda de vidas, de bens e
também danos ambientas.
No entanto, didaticamente, vale a pena dividirmos essas situações de
desastre em dois tipos: a emergências e as situações críticas.
23

Emergências ou crises são situações que exigem uma intervenção


imediata de profissionais capacitados com equipamentos adequados, mas
que podem ser atendidas pelos recursos normais de resposta a
emergências, sem a necessidade de ações de gerenciamento ou
procedimentos especiais.
As emergências representam as ocorrências ordinárias atendidas
cotidianamente por bombeiros (de carreira ou voluntários), policiais (civis,
militares ou rodoviários), equipes de manutenção de redes elétricas,
técnicos de Defesa Civil, médicos e enfermeiros do SAMU, etc.
Situações críticas, por outro lado, são situações cujas características de
risco exigem, além de uma intervenção imediata de profissional capacitados
com equipamentos adequados, uma postura organizacional não rotineira
para o gerenciamento integrado das ações de resposta.
Alguns exemplos dessas situações são os acidentes automobilísticos que
envolvem múltiplas vítimas, os incêndios florestais, os acidentes com
produtos perigosos, as crises policiais com reféns, os desastres naturais
que exigem a evacuação de comunidades, etc. (OLIVEIRA, 2010, p.82,
grifo nosso)

Do texto acima se infere que “emergências”, “crises” e “situações críticas” são


desastres, o que não é verdade, porque iguala ocorrências ordinárias e cotidianas a
desastres. Nem toda crise é um desastre, uma crise pode, contudo, causar um
desastre. Além disso, os termos “emergências” e “crises” são utilizados como
sinônimos, o que causa estranheza, já que o documento supracitado busca
didaticamente diferenciar “crises” de “situações críticas”. Um exemplo disso se dá
quando se tenta exemplificar situações críticas por meio de crises policiais com
reféns, o que acaba trazendo incongruência ao texto.
O uso da terminologia comum e adequada definindo o objeto a ser gerenciado
pelos órgãos responsáveis é de fundamental importância, pois evita confusões, pelo
texto acima, crises policiais com reféns são tipos de desastres, logo de relevância
para a Defesa Civil, o que pode trazer conflitos de competências. Nesse sentido:
2.1 Conceito e atuação da Defesa Civil
A atuação da defesa civil tem como principal objetivo a redução de
desastres, o que compreende quatro ações distintas, a saber: ações de
prevenção, ações de preparação para emergências, ações de resposta aos
desastres e, finalmente, ações de reconstrução, as quais ocorrem de forma
multissetorial e nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal),
exigindo uma ampla participação comunitária. (IDEM, grifo nosso).

A tese de Doutorado defendida pelo então Maj PM Paulo Luiz Scachetti


Junior, durante o Curso Superior de Polícia em 2014, versou sobre o Sistema de
Comando e Controle: análise conceitual e perspectiva de utilização conjunta pela
Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil do Estado de São Paulo. Em seu
precioso trabalho, é possível localizar uma análise precisa, como a citada abaixo :
Diante do exposto, torna-se nítida a necessidade e importância da
utilização de um sistema de C2 unificado e padronizado no Estado de
24

São Paulo que proporcione a melhoria do atendimento e


gerenciamento das emergências, de forma isolada ou integrada, pela
Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil.
Por tudo o que foi apresentado e levando-se em conta fatores como
requisitos, foco de atuação, maturidade e tempo de desenvolvimento,
sugere-se pela adoção e padronização do SiCOE do CBPMESP como
sistema único também para a PMESP e a Defesa Civil de São Paulo. Essa
medida não tem o intuito de apontar ou classificar os sistemas de C2 um
como melhor que o outro, mas prioriza um padrão em razão de sua
aceitabilidade e aplicabilidade, de maneira que a disseminação do
conhecimento possa ser efetivo.
Essa padronização traria grandes vantagens, pois alinharia os principais
órgãos de primeiro atendimento a emergências do Estado de São Paulo
(PMESP, CBPMESP e Defesa Civil), relativamente à terminologia e
doutrina, facilitando a organização e o desenvolvimento dos trabalhos de
forma colaborativa e integrada, otimizando a tomada de decisões e o
gerenciamento dos recursos disponíveis, bem como potencializando em
muito os trabalhos em ambiente interagências. Além disso os seus agentes
estariam sendo preparados dentro de um sistema internacionalmente
reconhecido, independente da designação, com plena capacidade de
representar o Estado de São Paulo em quaisquer circunstâncias ou eventos
que venham participar em apoio. (SCACHETTI, 2014, grifo nosso).

A conclusão é perfeita, acrescenta-se que o ICS ou o SiCOE são ferramentas


de atendimento operacional de um incidente no local, enquanto o NIMS é muito mais
ambicioso do que isso, pois define atribuições para o problema em uma layer
(camada) acima do nível local do incidente, ou seja, gestão político estratégica de
apoio. Para que se possa compreender a grandiosidade deste último, o NIMS,
inclusive, define os sistemas operacionais, incluindo o Sistema de Comando de
Incidente (ICS) nos EUA. Nesse sentido:
Figura 1
NIMS é NIMS não é
● Uma abordagem abrangente, em todo o país, sistemática para o
● Somente o ICS
gerenciamento de incidentes, incluindo o comando e coordenação de
● Aplicável somente a certos respondedores de emergência
incidentes, gerenciamento de recursos e gerenciamento de
● Um sistema estático
informações
● Um conjunto de conceitos e princípios para todas as ameaças,
perigos e eventos em todas as áreas da missão (Prevenção, Proteção, ● Um plano de resposta
Mitigação, Resposta, Recuperação
● Escalável, flexível e adaptável; usado para todos os incidentes,
● Usado somente durante incidentes em grande escala
desde o dia-a-dia até a grande escala
● Procedimentos padrão de gerenciamento de recursos que
● Um sistema de pedidos de recursos
permitem a coordenação entre diferentes jurisdições ou organizações
● Princípios essenciais para comunicação e gerenciamento de
● Um plano de comunicação
informações
(FEMA, 2017, p.2, tradução nossa)

Repisa-se que o ICS é um documento de operações que se encontra


subordinado ao NIMS, entretanto a magnitude do Estado de São Paulo, hoje,
necessita mais do que um ICS/SiCOE, carecendo urgentemente de um viés político
estratégico no gerenciamento de incidentes para todos os tipo, em uma camada
acima do nível local. Seja como for, prefere-se o termo “incidente”, definido acima,
25

no lugar de “crise”, a fim de acompanhar a melhor doutrina de Gerenciamento de


Incidentes, na toada do NIMS 2017.

2.1 Consequências do alargamento do conceito de crises e adoção do termo


incidente.

Inicialmente, é importante resgatar a precisa análise comparativa de


AGUILAR e col. (2017, p. 4), que contrapõe o significado de “incidente”, utilizado no
NIMS 2017, à expressão “crises”, usado pela Academia do FBI e trazido ao Brasil
em meados da década de 90:
Destarte, a definição de incidente utilizada no NIMS 2017 difere da utilizada
pela Academia do FBI, na década de 90, em dois pontos principalmente: 1)
inclui não apenas crises, mas qualquer evento que denote possibilidade de
perigo de lesão à vida ou ao patrimônio, inclusive eventos planejados, como
manifestações públicas e eventos esportivos, que são incidentes que podem
evoluir para crises; 2) silencia quanto ao órgão responsável pelo incidente,
não sendo a polícia a única responsável durante a timeline de um incidente,
que pode variar em tamanho e complexidade exigindo a participação e
responsabilidades de outros órgãos vocacionados para o incidente e até
mesmo de outras esferas do governo, ONG e setor privado, uma vez que o
objetivo final é a Prevenção, Preparação, Mitigação, Resposta e
Recuperação.

A definição de “incidente”, utilizada no NIMS 2017, possui carga preventiva


superior ao termo crise, no tocante ao bem jurídico tutelado. Isso porque, ao incluir o
verbo "proteger," envereda-se pela manutenção da ordem pública, definição esta
que se amolda às funções constitucionais da PMESP, conforme a NORSOP:
6.3.Estrutura Fundamental:
6.3.1. de polícia
Trata-se de distinguir polícia ostensiva de polícia de preservação da ordem
pública, vez que o legislador não pretendeu ser apenas enfático ao atribuir
as missões constitucionais da Polícia Militar. Entendendo-se, pois, que ao
estender a atuação da Polícia Militar, definida na lei federal nº 667/69, do
policiamento ostensivo (que vem a ser a fiscalização de polícia) para polícia
ostensiva (o exercício do poder de polícia lato sensu na modalidade
ostensiva, isto é, preventiva), pretendeu o legislador referir-se à atuação
preventiva, em todo seu espectro. Por outro lado, baseado no fato de
que, em princípio, teleologicamente, o legislador não promoveu redundância
de terminologias, então, a preservação da ordem deve significar, como
normalmente se entende, a restauração da ordem, ou seja, o poder-dever
de intervir imediatamente no fato que causa quebra da ordem e restaurá-la
pela sua cessação. (PMSP, 2006, grifo nosso)

No mesmo sentido, mas acrescentando a ideia de elaboração de estratégias


preventivas:
26

Compreende-se que as ações de preservação permitem iniciativas


estratégicas de maior alcance, prevenindo-se circunstâncias e situações
antes mesmo de se manter um determinado nível ou estado de ordem
pública e, ainda, abrange o imediato restabelecimento da ordem, quando
turbada. (NASSARO, 2010)

A PMESP, que se esforça em realizar a preservação da ordem pública em seu


mais amplo aspecto de prevenção, acompanha prematuramente incidentes
potencialmente lesivos à vida e à propriedade, antes mesmo de haver quebra da
ordem pública, o estado da arte em prevenção. Um exemplo disso é o
acompanhamento das manifestações públicas pacíficas, previamente comunicadas
às autoridades, ou mesmo eventos esportivos ou culturais de porte considerável.
Além disso, a proteção prematura de incidentes favorece a duas ferramentas
fundamentais em processo decisório: A Consciência Situacional e a Imagem
Operacional Comum.
Heal, um dos maiores estrategistas de segurança pública nos Estado Unidos
(2002, p.43, tradução nossa) explica ambos precisamente:
A consciência situacional é um conceito que descreve o conhecimento e a
compreensão de uma pessoa sobre as circunstâncias, os ambientes e as
influências em relação aos desdobramentos de uma situação.
Imagem Operacional Comum é simplesmente o conhecimento e a
compreensão compartilhados entre indivíduos, equipes ou grupos.
Embora de natureza semelhante, a Consciência Situacional e a Imagem
Operacional Comum são diferentes em muitos aspectos. Por exemplo, a
consciência situacional pertence a um indivíduo, enquanto uma imagem
operacional comum, por definição, pertence a um grupo. Isso tem duas
implicações. Primeiro, cada uma serve a um propósito. A consciência
situacional destina-se a fornecer a um indivíduo uma visão e uma descrição,
enquanto uma imagem operacional comum cria compreensão compartilhada
para aprimorar a colaboração e criar sinergia.

Ou seja, a Consciência Situacional é a ferramenta mais destinada ao


Comandante do Incidente, enquanto a Imagem Operacional Comum se destina a
compartilhar a imagem do incidente entre interagências. Quando utilizadas em
conjunto, provocam um significativo efeito sinergético, impulsionado pela imagem
operacional comum, o que favorece o entendimento compartilhado de ameaças e de
oportunidades entre o decisores e os Órgãos responsáveis pelo incidente:
Uma imagem operacional comum, por outro lado, fornece um quadro de
referência que uma organização precisa para alcançar uma coordenação e
colaboração eficazes e eficientes.
As metas e os objetivos são mais facilmente percebidos e mais fáceis de
concordar, enquanto as prioridades são menos propensas a serem
controversas.
As oportunidades e as ameaças são mais facilmente discernidas porque o
entendimento comum cria uma vigilância compartilhada através de todos os
componentes organizacionais e níveis de comando.
27

Todo o processo de tomada de decisão, de fato, torna-se sinérgico porque


cada componente ou escalão é capaz de compreender e contribuir de
acordo com o entendimento comum.
Parece razoável que, quanto maior a consciência situacional, e quanto mais
comum o quadro operacional comum, mais provável que as decisões sejam
efetivas e a organização funcionará sem problemas e de forma mais
eficiente. (IDEM, tradução nossa)

Dessa forma, sugere-se a adoção da definição de “incidente” contido no NIMS


2017, uma vez que o termo define a responsabilidade dos órgãos respondedores e
se alinha às diretrizes institucionais da PMESP, que contemplam o aspecto
preventivo da preservação da ordem pública em todo o seu espectro, propiciando o
manejo adequado do incidente em seu estágio inicial.

2.2 Classificação de Incidente quanto ao nível de risco: Incidentes stricto sensu,


Pré-crises, Crises.

Após pesquisar o NIMS 2017, conclui-se que existe uma graduação dos
incidentes que vão dos mais brandos aos mais graves. Os incidentes sticto sensu
seriam aqueles que vão da mera possibilidade de perigo de lesão à vida ou ao
patrimônio até a efetiva lesão a esses bens jurídicos tutelados. Quando ocorre
escalonamento do nível de risco, esses incidente podem ser classificados como pré-
crise. Persistindo a elevação do nível de risco, chega-se às situações cruciais,
chamadas de “crise”, e aqui os danos e os prejuízos poderão ser incalculáveis.
Nesse sentido, andou bem o Procedimento Operacional Padrão - POP, do
COPOM - Centro de Operações da Polícia Militar do Estado de São Paulo, ao utilizar
terminologia adequada de “incidente”, qualificando-o quanto ao nível de risco, e
utilizando-se do termo Pré-Ocorrência, a saber:
A Geração da pré-ocorrência envolve circunstâncias onde um incidente
que é reportado para o atendente de emergência, está em andamento e no
qual há ou está prestes a haver risco de:
I. Perigo à vida;
II. Uso, ou ameaça iminente, de violência;
III. Ferimentos sérios a uma pessoa; e/ou
IV. Danos sérios à propriedade.(POP, 7.01.02, grifo nosso)

Pode-se utilizar a Matriz de Probabilidade e Impacto de Riscos como forma de


graduar o Nível de Risco para cada incidente. De acordo com Bertolucci (2012), uma
das qualidades da Matriz de Risco é o grande poder de comunicação visual
(utilizando cores verde/amarelo/vermelho) e a simplicidade de elaboração e de
28

gestão. AGUILAR e col. (2017, p. 4) fazem uma correspondência entre cores, graus
de risco e incidentes, classificando-os em: "Incidentes em Stricto Sensu para os
Poucos Significantes (em branco), Pré-Crises para os Significantes (em cinza claro)
e de Crises para Críticos (em cinza escuro)".

Matriz de Probabilidade x Impacto


Figura 2 - Matriz de Probabilidade x Impacto

Fonte: (INSTITUTE, 2017)

AGUILAR e col. (2017, p. 4) ainda explicam que, em 26/04/2004, agentes do


FBI utilizaram metodologia semelhante, ao ministrarem aula no Curso de
Gerenciamento de Crises e Negociação de Refém. Entretanto, a metodologia traz
espaço amostral mais abrangente de incidentes, e, assim, é possível traçar os
eventos altamente improváveis com impactos extremos, conhecidos como Cisnes
Negros, retratados por Nassim Nicholas Taleb no livro - A Lógica do Cisne Negro
(2015). Um exemplo a ser citado é a queda das torres gêmeas do World Trade
Center ocorrida em 11/09/2001:
1
Cisne Negro é um Outlier, pois está fora do âmbito das expectativas
comuns, já que nada no passado pode apontar convincentemente para a
sua possibilidade. Segundo, ele exerce um impacto extremo. Terceiro,
apesar de ser um outlier, a natureza humana faz com que desenvolvamos
explicações para sua ocorrência após o evento, tornando-o explicável e
previsível (TALEB, 2015, p. 14).

Abaixo, o gráfico do FBI com espaço amostral ampliado, incluindo incidentes


dos mais brando até os mais graves. Visualiza-se, então, a possibilidade de
29

representar incidentes improváveis, mas de impactos extremos, o que efetiva a


Lógica do Cisne Negro:
Figura 3 - Lógica do Cisne Negro

Ressalta-se a necessidade de utilização do termo “incidente” em lato senso,


como forma de uso de terminologia comum. No entanto, é fundamental que o
Comandante do Incidente ou o Comando Unificado percebam e compreendam os
níveis de risco - Incidente stricto sensu, Pré-Crise e Crise – a fim de que sejam
adotadas providências proporcionais à medida que a incidente evolui e aumenta em
complexidade e em tamanho. Tais providências perfazem o efeito leggo de
mobilização de ativos, que se destaca por designar atribuições e funções para outras
pessoas e órgãos vocacionados para o atendimento do incidente, escalonando-se a
resposta.

2.3 Incidentes policiais ou conflitos

Existem muitas classificações sobre a origem dos incidentes. Neste trabalho


será aplicada a definição do NIMS 2017 (2017, p 64, tradução nossa), que divide o
assunto em Incidentes de origem natural e Incidente de origem humana. A Defesa
Civil de São Paulo acrescenta uma terceira divisão para desastres que seriam, para
efeito deste trabalho, os Incidentes Mistos - uma combinação dos anteriores.
30

Os incidentes de origem Natural são aqueles provenientes dos fenômenos e


desequilíbrios da natureza. Já os incidentes de origem humana são aqueles
provocados pelo homem. No contexto da Segurança Pública, Charles Sid Heal,
eterno Comandante do Los Angeles Sheriff’s Department (LASD), explica que os
incidentes de origem humana podem ser subdivididos em incidentes mecânicos e
incidentes policiais.
Os incidentes mecânicos são de origem humana, mas ocasionados por falhas
de dispositivos artificiais fabricados pelo homem, por exemplo, acidentes com queda
de aeronaves, descarrilamentos ferroviários, ocorrências com produtos perigosos
(químicos,biológicos, radiológicos, nucleares e explosivos - CBRNe), etc.
Os incidentes policiais são também de origem humana, mas decorrentes de
uma disputa de interesses entre as partes - de um lado, os transgressores da lei e,
do outro, o Estado. O Policial, longa manus do Estado, poderá utilizar a força diante
da oposição do transgressor em cumprir uma ordem legal, de maneira a prevenir e
reprimir atos delituosos, e tal procedimento garante o convívio harmonioso das
pessoas em sociedade.
A esses incidentes policiais Heal (2002, p.57, tradução nossa) os chama de
“conflitos”, e os exemplifica em marginais embarricados, tomada de reféns,
criminosos em fuga, etc. Um conflito é caracterizado pelo choque de interesses, de
maneira que a vontade da polícia deve preponderar sobre a vontade do
transgressor. Ou seja, o marginal ativamente empenhado em frustrar a vontade da
Lei deve ser derrotado pelo policial, longa manus, e, justamente por isso, os conflitos
são muito mais perigosos e complexos.
É interessante notar que essa disputa, ocorre também pelo uso do tempo
disponível. Nesse sentido, frente a uma competição pela disputa do tempo entre o
tomador e o comandante, nada a fazer significa dar ao suspeito a possibilidade de
utilizar o tempo a seu favor. Ou seja, o tempo que a polícia não utiliza para sí é
utilizado pelo tomador, o qual terá a iniciativa das ações.
Logo, essa utilização do tempo disputado chamamos de "iniciativa" no ciclo
OODA, saindo-se de uma postura reativa em direção a uma proativa. Ter a iniciativa
garante uma posição de vantagem no ciclo do processo decisório consubstanciada
na vantagem de se aproveitar as oportunidades que surgirem.
Como esclarece Heal (2002, p.57, tradução nossa):
31

Enquanto uma crise pode resultar de caprichos da natureza, como


incêndios, inundações, terremotos, derramamentos de materiais perigosos
ou grandes resgates, os conflitos envolvem um adversário que se
compromete ativamente em frustrar a vontade do comandante tático.
Consequentemente, os conflitos são muito mais perigosos e complexos.
Consequentemente, é uma necessidade lógica que o suspeito (s) deva ser
derrotado para se ter sucesso. Um objetivo implícito inerente a essas
situações é impor a vontade do comandante sobre a do suspeito.

2.4 Por que estudar os Incidentes Policiais?

A atribuição da preservação da ordem pública atribuiu competência residual à


PMESP na resolução de incidentes, na lição de Lazzarini (1994, p.56):
Em outras palavras, no tocante à preservação da ordem pública, às Polícias
Militares não só cabe o exercício da polícia ostensiva, na forma retro
examinada, como também a competência residual de exercício de toda
atividade policial de segurança pública não atribuída aos demais órgãos. A
competência ampla da Polícia Militar na preservação da ordem pública
engloba, inclusive, a competência específica dos demais órgãos policiais,
no caso de falência operacional deles, a exemplo de greves ou outras
causas, que os tornem inoperantes ou ainda incapazes de dar conta de
suas atribuições, funcionando, então, a Polícia Militar como um verdadeiro
exército da sociedade. Bem por isso, as Polícias Militares constituem os
órgãos de preservação da ordem pública para todo o universo da atividade
policial em tema da "ordem pública" e, especificamente, da "segurança
pública.

Essa competência residual provoca um espaço amostral de infinitos


incidentes policiais, de forma a ser impossível se preparar para todos esses
incidentes – ou por serem improváveis, ou mesmo por serem imprevisíveis.
Entretanto, com base em uma Matriz de Probabilidade e Impacto de Riscos,
percebe-se que muitas Instituições Policiais elegeram seus incidentes policiais de
maior probabilidade e/ou impacto, a fim de que recebam um tratamento diferenciado,
por meio da elaboração de planos de resolução.
Na PMESP, esses incidentes policiais eleitos e seus respectivos planos de
resolução são consubstanciados por meio de política institucional chamada de
Sistema de Supervisão e Padronização (SISUPA):
As ações de polícia, que representam a atividade operacional efetivada, são
lastreadas por Procedimentos Operacionais Padrão (POP) treinados e
internalizados nos policiais militares pela gestão do conhecimento, balizados
pelo respeito à vida, à integridade física e dignidade da pessoa humana,
com irrestrita observância aos direitos e garantias individuais do cidadão,
operacionalizando o suporte doutrinário estabelecido na Instituição dos
Direitos Humanos e da Gestão pela Qualidade.
O Procedimento Operacional Padrão (POP) está inserto no Sistema de
Supervisão e Padronização (SISUPA), que é um sistema constituído para
32

que os protocolos policiais-militares constituídos pelas melhores práticas


policiais, sejam criados, aperfeiçoados, treinados e aplicados no cotidiano, a
fim de obter a máxima segurança e qualidade na prestação dos serviços
policiais-militares. (PMESP, 2010, p. 64)

Vale enfatizar que os POP são, na verdade, planos previamente padronizados


e visam concentrar e coordenar os esforços em um objetivo final desejado, conforme
esclarece Heal (2007, p.64, tradução nossa, grifo nosso):
Nos termos mais simples, os planos visam concentrar e coordenar os
esforços de cada indivíduo em direção a um objetivo comum e garantir
que cada decisão e ação apoiem a próxima. Na verdade, é difícil
imaginar qualquer empreendimento humano significativo que não envolva
algum tipo de plano.

O Gerenciamento por Objetivos compreende uma das características do


NIMS 2017 e princípio do ICS que, em seu processo decisório, estabelece como
primeira providência o estabelecimento dos objetivos com características SMART2. É
dessa forma que os Comandantes do Incidente devem raciocinar em cenários de
crises ou caóticos. Após isso e com base nesses objetivos, ocorrerão a elaboração
dos planejamentos estratégico, tático e operacional do incidente:
Gerenciamento por Objetivos: Uma abordagem de gerenciamento,
fundamental para NIMS, que envolve (1) estabelecer objetivos, por exemplo,
resultados específicos, mensuráveis e realistas a serem alcançados, (2)
identificar estratégias, táticas e tarefas para atingir os objetivos; (3) realizar
táticas e tarefas e medir e documentar os resultados na consecução dos
objetivos; e (4) tomar medidas corretivas para modificar estratégias, táticas
e / ou desempenho para atingir os objetivos. (FEMA, 2017, tradução nossa)

O FEMA (2017) conceitua estratégia como "a direção geral decidida para
atingir os objetivos do incidente estabelecidos pelo Comandante do Incidente."
Por sua vez, Heal (2000, tradução nossa, grifo nosso) explica que, para se
formular estratégias eficazes, deve-se ter em mente o Estado Final Desejado, ou
seja o objetivo smart:
O primeiro passo e mais importante na formulação de uma estratégia eficaz
é desenvolver uma compreensão clara do estado final desejado. O estado
final descreve o resultado desejado ou resultado final de uma operação
tática.

Contudo, as estratégias se reduzem a nada se não forem instrumentalizadas


pelas táticas:
[...] as táticas podem ser definidas como os métodos e conceitos
usados para realizar missões particulares. Assim, eles estão em um
papel de apoio à estratégia. Na verdade, foi dito que "as táticas são as
servidoras das estratégias". Mesmo que sejam bem sucedidas, as táticas

2
Específicos, mensuráveis, adequados, razoáveis e temporizáveis.
33

sem estratégia não promoverão progressivamente a realização dos


objetivos gerais.
Por outro lado, a estratégia sem táticas não tem capacidade para se adaptar
e se ajustar às circunstâncias, pelo que fica bloqueada por obstáculos
relativamente menores. (HEAL, 2011, p.58, tradução nossa, grifo nosso)

Tática, segundo a FEMA (2017, tradução nossa), é conceituada como " a


direção e a implementação de recursos em um incidente para realizar estratégias e
objetivos do incidentes". Por fim, com o objetivo de subsidiar a consecução da tática,
o planejamento operacional identifica as técnicas e os procedimentos que serão
utilizados para o cumprimento de tarefas ou de missões específicas, a fim de atingir
o Estado Final Desejado. Heal (2015, p.70, tradução nossa) assim os conceitua:
Técnicas: uma técnica é simplesmente um procedimento ou processo para
executar uma tarefa ou função específica. As técnicas são compostas de
ações e sequências. Duas técnicas comuns familiares para a maioria dos
agentes da lei são "visão do foco da visada, alinhamento da visada, aperto
de gatilho" ao disparar em um alvo e "tape, rack, bang" para limpar o mau
funcionamento de uma arma semiautomática ou automática.
[...]
Procedimentos: um procedimento é uma série de atos práticos ou
mecânicos projetados para obter o resultado desejado.
São etapas padrão e detalhadas para executar tarefas específicas. Como
técnicas, os procedimentos geralmente envolvem sequências e podem ser
uma sub-rotina para uma técnica. Ao contrário das técnicas, os
procedimentos são muito mais detalhados e frequentemente padronizados.
Por exemplo, há muitas maneiras de inserir um carregador, usar uma
bandoleira, arrombar uma porta ou fazer visada através de uma máscara de
gás.

Diferenciar as estratégias, táticas, técnicas e procedimentos pode ser um


tanto confuso, isso porque as diferenças dão-se mais no grau, no nível em que
focam e detalham as ações, do que no tipo. Nas lições de Heal (2011, p. 58,
tradução nossa): “Grande parte da confusão sobre estratégia, tática e técnicas
ocorre porque não existe uma linha nítida entre elas. Eles são mais parecidos uns
com os outros do que são diferentes, a única distinção clara é o seu foco particular ”.
A obtenção desses objetivos smart ou estado final desejado e a escolha
adequada das estratégias, táticas, técnicas e procedimentos são facilitadas por meio
de ferramentas de processo decisório, tais como o Ciclos P e a matriz SWOT, que
são alimentadas pelos conceitos de consciência situacional e imagem operacional
comum.
Sun Tzu, há aproximadamente 3.000 anos, já qualificava a estratégica como
abstração e as táticas como a implementação e direção dos ativos em campo: “todos
os homens podem ver as tácticas pelas quais eu conquisto, mas o que ninguém
consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas”.
34

As estratégias, para saírem da abstração e ganharem concretude no mundo


dos fatos, exigem pessoas dotadas com conhecimentos especializados, habilidades
específicas e proficiência no manuseio de armas e de equipamentos adequado.
Heal (2015, p.70, tradução nossa, grifo nosso) afirma que:
"quanto melhores os equipamentos e mais habilidosas as pessoas que
os manejam, maior será a probabilidade de sucesso. Esta interface
entre pessoas e equipamentos é tão crucial quanto as próprias
pessoas e os seus equipamentos. Juntos compõem um "sistema de
desempenho humano".
Quando ocorrem falhas, esta conexão entre pessoas e equipamentos é
frequentemente a causa. Compreensivelmente, tanto as empresas como as
instituições militares dedicam muito estudo para entender e aperfeiçoar essa
interface. O militar, em particular, gastou um esforço considerável em tentar
identificar e explicar as nuances e se refere a essa interface como táticas,
técnicas e procedimentos, ou, mais frequentemente, apenas o
acrônimo TTP. Nos termos mais simples, a TTP refere-se às políticas,
métodos e práticas para integrar equipamentos em um sistema de
desempenho humano.
[...] Estes são aspectos mais fáceis de ensinar do que serem estudados.
Alguns, de fato, desafiam procedimentos precisos e, em vez disso,
dependem do conhecimento e da experiência do Chef. O conjunto desses
3
truques do negócio é comumente conhecido como "tradecraft" .
[...] Embora cada um desses componentes se refira a um aspecto diferente,
eles são mais parecidos do que não. Distinguir um de outro na prática pode
ser quase impossível porque diferem em grau e não em tipo. No entanto, a
aplicação é única, todos se referem à interface entre pessoas e suas
ferramentas. Consequentemente, os militares os incorporam a um
único conceito e se refere a eles com uma única concatenação. Assim,
sempre que o termo TTP é usado, isso sempre implica o contexto de
todos os três em conjunto um com o outro. .

Infere-se, portanto, que os objetivos smart e as estratégias, para serem


efetivadas no mundo dos fatos, necessitam de ativos operacionais, esse conjunto é
denominado pelo militares americanos de "Sistema de Desempenho Humano" e
compreende o Trinômio : Homem - TTP – Equipamento.

3
Hernan (2003, apud CEPIK, p.37) profissionalização e o desenvolvimento de técnicas e
habilidades especificas para obter sistematicamente informações de pessoas desenvolveram-se
sistematicamente ao longo dos últimos 150 anos (nesse caso, o tradecraft ou os "segredos do oficio"
são algo literais). Cepik, Marco. Espionagem e democracia: agilidade e transparência com dilemas na
institucionalização de serviços de inteligência. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p.37.
35

Figura 4 - Interface TTP


OUT PUT

EQUIPAMENTO
TTP HOMEM
INTERFACE

IN PUT

Fonte: Autor

As entradas táticas são ao mesmo tempo TTP e possuem diferentes nuances


– ora se apresentam como táticas relacionadas à Quarta Alternativa Tática 4, ora
como técnicas de adentramento dinâmico ou coberto, ora como procedimentos de
passagem de porta ou movimentação interna, os quais serão estudados nos
capítulos seguintes.
Assim, o estudo analítico de um incidente, mesmo que breve, mostra-se
importante para definir o objeto deste trabalho, que são as diferentes nuances das
TTP referentes às entradas táticas realizadas pelo GATE, que dependem dos
objetivos estabelecidos e das estratégias planejadas pelo Comande do Incidentes,
quando aquelas forem implementadas em operações de Recuperação de Reféns,
Execução de Mandados Buscas & Varreduras e Prisão de Suspeitos Embarricados.

4
As alternativas táticas são: 1) Negociação, 2) Técnicas Não Letais, 3) Tiro de
Comprometimento e 4) Entrada Tática.
36

3 ENTRADAS TÁTICAS

3.1 Origens

Em se tratando de entradas táticas, não existe um marco histórico definido,


mas as principais técnicas de adentramento em ambientes confinados urbanos se
originaram na Segunda Guerra Mundial, junto com a própria origem das Tropas de
Comandos.
Da mesma forma, encontramos vários outros exemplos na história das
guerras em que a atuação de pequenos grupos em ações isoladas trouxe
sucesso ao combate. Porém, somente na Segunda Guerra Mundial este tipo
de ação desenvolveu-se a ponto de caracterizar realmente como um novo
estilo de combate.
Os verdadeiros comandos foram criados originalmente em 08 de junho de
1940, na Inglaterra. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Ingleses viram-
se ameaçados com a expansão e constantes vitórias dos Alemães, cujo
desenvolvimento poderia culminar com a própria invasão da Grã-Bretanha.
Visando incrementar as operações da Inglaterra na guerra, o Ten Cel
Dudley Clarke, inspirado nas técnicas de guerrilhas e nas tropas
paraquedistas alemãs (uma inovação na época), sugeriu ao Alto Comando e
ao Primeiro Ministro a criação de tropas especiais de assaltos, constituídas
por pequenos grupos que atuassem somente com seu equipamento e
armamento individual, desenvolvendo operações rápidas e simples dentro
do território inimigo, como sabotagens, incursões, destruições de pontos
estratégicos, guerrilhas, etc. (LEÃO, 1993)

Restivo (2006) elenca a principais batalhas da Segunda Guerra que tiveram


por palco o ambiente urbanizado: Leningrado e Stalingrado (1943); Cherbourg
(1944); Aachen (1944); Berlim (1945) e Manila (1945). Após o término da Segunda
Guerra o mundo vivia uma campanha de desmobilização de tropas. Os EUA, em
1945, detinham o monopólio nuclear e os americanos queriam que seus homens
voltassem para casa.
Em outubro de 1945, o Special Air Service foi desmobilizado, justamente num
momento em que o período pós-guerra era marcado pelo caos e também por
movimentos revolucionários de libertação das colônias inglesa. Tais fatos forçaram a
Grã-Bretanha a reativar o SAS, que passou a se apresentar para ações de
contraguerrilha rural e urbana:
Com o fim da guerra as forças especiais britânicas, entre elas os
Comandos, foram desmobilizadas rapidamente, o mesmo ocorreu com uma
boa parte do poderio militar convencional aliado. O papel das operações dos
Comandos foi inteiramente atribuído aos Royal Marines. Mesmo com essa
tarefa exclusiva, por volta de 1946 os Comandos 40, 41, 43, 46, 47 e 48 dos
RM, também foram desmobilizados. Hoje as unidades britânicas no estilo
37

Comandos estão reunidas apenas como os Royal Marines na terceira


Brigada Real de Comandos Brigada Royal Marines, na 29 Brigada de
Comandos Real de Artilharia e no 59 Real Comandos de Engenharia.
(TROPAS E ARMAS, 2107)

Além disso:
[...] Durante a II Guerra o SAS lutou na campanha da África do Norte, na
Itália e no noroeste da Europa, onde firmaram a sua reputação. Com o fim
da guerra o SAS foi desativado, mas no início da década de 50 foi reativado
como 22 SAS e desde então tem lutado pela Grã-Bretanha nos mais
diferentes lugares (Malásia, Omã, Bornéo, Vietnam - vestindo uniformes
norte-americanos, Aden, Irlanda do Norte, Falklands, Libéria, Golfo Pérsico,
Bósnia, Kosovo, Serra Leoa e Afeganistão). (TROPAS E ARMAS, 2017).

Todavia, foi a partir da década de 70, época marcada por sequestros e


assassinatos realizados por grupos terroristas, que o SAS, sem limites
orçamentários, alçou seu desenvolvimento em Combate em Recintos Confinados
(CQB), logo entradas táticas:
Guerra Contrarrevolucionária
A mudança de função do SAS em 1972, em resposta a uma nova ameaça
terrorista. Nos Jogos Olímpicos de Munique de 1972, oito palestinos da
organização terrorista Black September invadiram a vila olímpica, mataram
dois atletas israelenses e tomaram mais nove reféns. Eles exigiam a
libertação de cerca de 200 palestinos em prisões israelenses, juntamente
com dois conhecidos terroristas alemães.
[..]
Era claro que os alemães não tinham uma força especializada que pudesse
lidar com tal crise - nem ninguém. Era evidente que já era hora das forças
de segurança no mundo tivessem essa disponibilidade. Na Grã-Bretanha, o
encargo coube ao SAS. Dada a falta de experiência anterior em Guerras
urbanas, em Proteção de Dignitários e em Combate em Recintos
Confinados, eles tiveram que se preparar para tal eventualidade. Sem
limites no orçamento ou em recursos, anexados ao Regimento, foi criado o
Departamento de Guerra Contrarrevolucionária. Mantinha um perfil baixo
até o cerco da embaixada iraniana em maio de 1980. Mas eles não estavam
ociosos. Em Bradbury Lines, sede da SAS em Hereford, eles construíram
um casa de tiro, onde praticavam o uso de armas em espaços fechados. Os
homens do SAS se sentavam em uma sala na casa de CQB cercada de
manequins "terroristas" de palha, enquanto seus colegas explodiam e,
esperançosamente, apenas acertavam os manequins com tiros reais. Este
treinamento não é para os fracos.
A unidade já estava em funcionamento no momento do cerco de Spaghetti
House em Londres em 1975. Os funcionários de um restaurante Spaghetti
House em Knightsbridge foram reféns por cinco dias por um nigeriano e dois
índios ocidentais que alegaram ser membros do Exército de Libertação
Negra, um ramo da American Black Panthers, no entanto, eles eram apenas
ladrões comuns. O SAS foi preparado. Mas no caso não foram convocados
e o cerco terminou pacificamente quando os homens armados se renderam.
(CAWTRORNE, 2008, p,20, tradução nossa, grifo nosso)

Dessa forma, o SAS passou ser referência mundial em TTP de entradas


táticas especializadas para operações de recuperação de reféns, sendo precursor de
muitas tropas de elite a partir de meados da década de 70:
38

O Regimento Especial dos Serviços Aéreos da Grã-Bretanha - mais


conhecido como SAS - é o precursor de todas as outras unidades modernas
das Forças Especiais.
Os Boinas Verdes, Delta Force e os SEALs da Marinha dos Estados Unidos
inspiraram-se diretamente do SAS. O Regimento foi fundado em 1941, por
um jovem tenente chamado David Stirling. (IDEM, tradução nossa)

Enquanto isso, nos Estado Unidos, em meados dos anos 60, fatos marcados
por conflitos raciais e políticos, aumento de armas decorrentes da guerra do Vietnã,
aumento da criminalidade, formaram um ambiente ameaçador, propiciando o
surgimento de grupos policiais especiais, como o pioneiro Special Enforcement
Bureau - SEB, do Los Angeles County Sheriff's Department, em 1958.
A fim de contextualizar, merecem destaque alguns precedentes da
necessidade de criação de equipes de SWAT: 1) eventos de marginais embarricados
como o "Texas Tower"5 e o incidente no Hotel Howard Johnson6, em New Orleans; 2)
grupos terroristas raciais como os Black Phanters7 e Weather Underground; 3)
Aumentos de roubos a bancos na Filadélfia, em 1964 e 4) Watts Riots em Los
Angeles8.
Graves (1999, p.66, tradução nossa) explica que:
As equipes SWAT foram desenvolvidas em meados dos anos 60 em
resposta a mudanças na sociedade americana. Os criminosos tradicionais
estavam fazendo uso de armas de maior poder e maior capacidade e
aprendiam métodos de operação mais sofisticados. Os eventos sociais
(como a guerra do Vietnã, os conflitos raciais e políticos) polarizaram alguns
grupos para enfrentar atividades criminosas anti-governamentais e anti-

5
Em 1 de agosto de 1966, Charles Joseph Whitman, ex-fuzileiro navel se embarricou no alto
da 27º andar da Torre do Campus da Universidade do Texas, em Austin, matando dezesseis pessoas
e ferindo mais de trinta. http://edition.cnn.com/2013/09/16/us/rampage-killings-fast-facts/index.html
6
Em 7 de janeiro de 1973 - Em um motel da rede Howard Johnson em Nova Orleans, Mark
Essex, de 23 anos, matou sete pessoas incluindo cinco policiais e feiu outras treze pessoas.
http://edition.cnn.com/2013/09/16/us/rampage-killings-fast-facts/index.html
7
Em 9/12/1969, mandados de busca foram atendidos na sede do grupo Panteras Negra,
seus integrantes resistiram e se embarricaram, após quatro horas de intenso tiroteio eles se
entregaram, três integrantes do grupo e três policiais ficaram feridos.
http://www.lapdonline.org/inside_the_lapd/content_basic_view/848
8
Os distúrbios civis de Watts foram uma série de revoltas que surgiram em 11/08/1965, no
bairro predominantemente negro de Watts, em Los Angeles. O conflitos duraram seis dias, resultando
em trinta e quarto mortes, 1.032 feridos e 4.000 prisões, envolvendo 34 mil pessoas e terminando na
destruição de 1.000 edifícios, totalizando US $ 40 milhões em danos.
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:WilOjtfRelcJ:www.history.com/topics/watts-
riots+&cd=6&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
39

policiais violentas. Enquanto isso, as agências de polícia no nível local


estavam respondendo a uma crescente taxa de criminalidade violenta, além
de criminosos mais sofisticados. Muitas respostas da polícia foram
ineficazes ou acabaram em tragédia porque a polícia não desenvolveu
táticas efetivas ou adquiriu armamento, equipamento, conhecimento e
procedimentos para lidar com as ocorrências.

O eterno Comandante do GATE, Coronel PM Toledo (2002) ensina como se


deu a evolução das Alternativas Táticas utilizadas pelas SWATs. Em plena década
de 60, utilizando-se das seguintes alternativas táticas - “três t”: Time, Talk e Tear Gas
(Espera, Negociação e Gás Lacrimogêneo), a SWAT cercava o local, por meio de
demonstração de força e buscava a dissuasão do marginal, dando-lhe um tempo
para que se entregasse. Na sequência, o suspeito era intimado a se entregar e,
esgotado o prazo para isso, ocorria a aplicação de gás lacrimogêneo e entrada.
Já na década de 70 ocorre uma reformulação para quatro alternativas táticas:
Wait, Tear Gas, Sniper e Assault (Espera, Gás Lacrimogêneo, Atirador de Precisão e
Entrada Tática). Ou seja, cerco e espera, com intimação para o suspeito se entregar.
Caso o suspeito não se entregasse, a equipe tática, utilizando máscaras contra gás,
realizava a entrada tática, podendo-se utilizar força letal por meio do sniper ou da
equipe tática, caso ocorresse agressão letal contra a força policial.
Dessa forma, os grupos de SWAT desenvolveram expertise em TTP de
entradas táticas vocacionadas para incidentes com marginais embarricados e,
baseando-se na doutrina dos Marines (Corpo Fuzileiros do EUA), adaptavam suas
TTP para o uso policial.
Não existe uma data exata, mas, didaticamente, pode-se dizer que, até o
início da década de 80 existiam duas TTP de entradas, que eram utilizadas para
diferentes objetivos. As TTP realizadas pelas SWAT americanas, que hoje são
chamadas de entradas cobertas e se destinam a incidentes de suspeitos
embarricados e de mandados busca & varreduras; e as TTP de entradas realizadas
pelo SAS, chamadas de entradas dinâmicas, destinadas para resgate de reféns.
Nesse sentido é o entendimento de Dennis J. Dvorjak, Agente Especial do FBI
e SWAT Senior Team Leader por mais de 14 anos:
Quanto às suas perguntas, não tenho respostas claras. Mas em todas as
operações especiais, a maioria das táticas, técnicas e procedimentos
originaram-se com o British Air Service Special (SAS) na Segunda Guerra
Mundial. O SAS aperfeiçoou suas operações e o Destacamento Operacional
das Forças Especiais do Exército dos EUA - Delta (1º SFOD-D) foi treinado
e modelado segundo o SAS. O FBI Hostage Rescue Team foi treinado pelo
1º SFOD-D, que, por sua vez, treinou as Equipes Field SWAT das quais eu
fazia parte. (DVORJARK, 2017, tradução nossa).
40

O Major Ed Allen, do Seminole County (FL) Sheriff’s Office, com mais de 20


anos à frente da SWAT, atualmente Gerente de Treinamento da NTOA possui
entendimento semelhante:
Essa é uma pergunta difícil, Paulo. Os conceitos de ameaça imediata
podem ser registrados para as equipes de operações especiais dos EUA (ou
seja, Navy Seals) nos início dos anos 80. Mas, também, foi uma tática
emergente em outras equipes de operações especiais militares e policiais,
como os israelenses e o SAS britânico. Com base na minha própria
experiência, posso dizer que foi amplamente ensinado nos EUA, e
modificado pelas polícias, já em meados da década de 1980. Então não
tenho certeza de que podemos atribuí-lo a uma unidade específica ou a um
tempo exato. (ALLEN, 2017, tradução nossa)

Nesse sentido, Heal acrescenta:


O conceito de entrada dinâmica vem das forças especiais militares,
especialmente a American Delta Force e a UK SAS. Nos ensinaram nos
anos 80 em preparação para as Olimpíadas de 1984 em Los Angeles.
Depois, encontramos drogas e "rock house" (onde a cocaína é vendida e
usada) e adaptamos as táticas para usar contra traficantes de drogas. Em
1986, estávamos ensinando nossas inovações de volta aos militares.
(HEAL, 2017, tradução nossa)

Phil Maria Singleton, veterano do SAS, participante da Operação Nimrod e


cofundador da Divisão Internacional de Treinamento da Heckler & Kock, explica
com detalhes:
Em resposta às suas perguntas relativas ao "Immediate Threat Concept"
(Concepção Imediata do Perigo).
[...]
Eu sou um forte proponente e sempre conduzi o método de entrada da ITC,
que começou na década de 1970, quando era um jovem soldado do S.A.S.
Soldado.
I.T.C. é simples para uma unidade militar empregar como segue a doutrina
geral do ataque, não lhes dê tempo para pensar e reagir.
Quando e onde esse método foi adotado, provavelmente é impossível
determinar como os soldados sempre atacaram, e os soldados eram os
especialistas iniciais em limpeza de quartos.
A polícia aprendeu com soldados.
Eu acredito que as táticas não mudaram, apenas as palavras que usamos
para descrevê-las tornaram-se mais refinadas.
Ataque o rosto do inimigo, no jargão da polícia de hoje, é agora "Concepção
Imediata do Perigo". Golpear um homem é I.T.C. Um ataque de baioneta é
I.T.C. Para prender alguém é I.T.C. Para limpar os quartos / a casa de forma
rápida e segura o que podemos dizer é I.T.C.
Como mencionado, o conceito sempre esteve em torno disso é que hoje
nós gostamos de usar uma descrição mais simples e educada para uma
ação forte e dura.
Como policial, você sempre se aproximou de um suspeito para prendê-los,
no entanto, hoje é dado um termo menos agressivo como "Apreensão".
[...]
Esqueci de responder algumas de suas perguntas.
Major, as equipes internacionais contra o terrorismo, especialmente quando
são militares, não têm as mesmas legalidades que um agente de polícia.
Um policial tem uma política de "Uso da força letal" ... eles precisam ter uma
justificativa de 100% para atirar.
41

Quando uma equipe de Contraterror é enviada, é um grande problema e os


reféns provavelmente foram atingidos seu trabalho será tirar os homens
maus.
O ITC e movimento rápido são obrigação para o resgate de refém quando o
tempo é importante, então a parada lenta e as táticas não funcionam.
As equipes de Contraterrorismo treinaram em diferentes táticas e, como
ferramentas em uma caixa, escolhem a ferramenta certa para o trabalho.
A propósito, eu definitivamente não sou um mito, sou real e, como você está
descobrindo, posso ser contatado.
Basta olhar para mim como alguém que se preocupa com os Operadores,
olhar através de toda merda e coloco-os em primeiro lugar e não o meu ego
ou colocar meu nome em uma técnica, etc.
Todo mundo vai para casa! (SINGLETON, 2017, tradução nossa)

Ressalta, ainda, o Capitão Kevan Dugan, da Pennsylvania State Police,


Diretor Regional Ocidental da NTOA:
Desculpe-me pela confusão em termos. Muito engraçado que ambos
falamos inglês e os termos podem ser diferentes! Eu entendo agora. Eu
conhecia isso como varredura "Direto para a ameaça", e você está
exatamente correto em como você o descreve em seu e-mail. Tivemos essa
terminologia nos planos de aula para o meu time desde 1993. Vou fazer
alguns telefonemas para ver se consigo obter algumas respostas às suas
perguntas, mas se minha memória estiver correta, acho que começou com
as unidades britânicas de contraterrorismo SAS e os americanos
conseguiram isso com eles. Isso faz sentido uma vez que um dos ex-
membros da SAS (Phil Singleton) ensinou para H & K.[...] Fique seguro meu
amigo (DUGAN, 2017, tradução nossa)

Graves (1999, p.66, tradução nossa) confirma que as SWAT passaram a ter
contato com as TTP de entradas táticas para recuperação de reféns provenientes do
SAS a partir de 1983, quando da necessidade de treinar o efetivo da Departamento
de Polícia de Los Angeles contra tomada de reféns realizadas por grupos terroristas:
Ao mesmo tempo, Los Angeles foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos
de 1984, e a equipe SWAT começou a fazer intercâmbio de treinamento
com unidades militares de contraterrorismo dos EUA criadas recentemente,
uma das quais era o Destacamento Delta das Forças Especiais do Exército
dos EUA, cuja missão principal era o resgate de refém. A Força Delta
modificou táticas tradicionais de assalto militar em ambientes urbanos para
adaptar assaltos em locais fortificados para resgate de reféns tomados por
grupos terroristas.
Com as lembranças dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972 ainda
frescos nas mentes da polícia e dos planejadores militares, a equipe LAPD
SWAT iniciou um extenso programa de treinamento para se preparar para
os Jogos Olímpicos usando as lições aprendidas dos Jogos Olímpicos de
Munique como ponto de partida. Entretanto, a equipe SWAT já havia lidado
com vários incidentes de tomadas com reféns e / ou suicidas que haviam se
se embarricado em fortalezas.

A pesquisa, nesse ponto, foi fundamental, uma vez que as duas TTP de
entradas carregam contextos e objetivos distintos de emprego.
Pode-se concluir, até aqui, que de um lado tivemos inicialmente as SWATs,
que até 1983 utilizavam apenas TTP de entradas cobertas, ditas tradicionais. Um
42

exemplo a ser citado a respeito é a ação da Força Delta e do SAS, que treinaram
membros das SWAT LAPD em TTP de recuperação de reféns, chamadas de
entradas dinâmicas e criadas pelo SAS, tendo em vista os Jogos Olímpicos de Los
Angeles que ocorreriam em 1984.
A partir de então, como será verificado nos capítulos seguintes, muitos
grupos de SWAT abandonaram as TTP de entradas cobertas e passaram a utilizar
apenas TTP de entradas dinâmicas, quando então os riscos aumentaram e os
problemas começaram.
43

4 ASPECTOS LEGAIS DAS TTP DAS ENTRADAS TÁTICAS

4.1 Commitment to Kill, o compromisso de matar x a ordem de prioridade de vida.

O eterno Comandante do GATE, Coronel PM Mascarenhas (1995, grifo


nosso), resgata o controverso fundamento doutrinário Commitment to Kill –
literalmente, compromisso de matar – , que deve nortear as ações dos integrantes
de um grupo tático, nos moldes de uma SWAT:
O conceito “swat” baseia-se nos seguintes fundamentos doutrinários:
[...]
d) todos assumam o compromisso de matar (“commitment to kill”, no
dizer dos norte-americanos).
No Brasil, discute-se os fundamentos legais e doutrinários do chamado
compromisso de matar.
Os argumentos usados se baseiam no fato de que, embora se entenda que
a ação da “SWAT” esteja legalmente albergada pelo instituto jurídico-penal
da legítima defesa de terceiros, há uma contradição na doutrina de
gerenciamento de crises, pois se esta tinha como objetivos básicos
preservar vidas e aplicar a lei (veja-se a parte 1), como encontrar
justificativa, à luz daqueles dois objetivos, para o compromisso de matar,
que era assumido pelos integrantes do grupo tático.
É justamente porque a preservação da vida é o primeiro e mais
importante dos objetivos da doutrina de gerenciamento de crises que
ela admite o compromisso de matar. Ao decidir pelo uso de força letal,
o comandante da cena de ação tem que se basear em dois inarredáveis
pré-requisitos: o esgotamento de toda e qualquer possibilidade de
negociação e o iminente risco de vida para os reféns (geralmente
configurado quando houver uma deliberada ação dos bandidos para
ferir gravemente ou executar alguns dos reféns).
Ora, o grupo tático encarregado do resgate dos reféns ainda com vida não
se pode dar ao luxo de tentar simplesmente ferir (ainda que gravemente) os
bandidos, pois essa ação não seria suficiente para neutralizá-los e impedi-
los de, num gesto de ódio desesperado, matar os reféns, frustrando o
objetivo da missão.

Também discorre a respeito o Ten Cel PM Lucca (2002, p.97, grifo nosso),
outro eterno comandante do GATE:
O conceito de invasão tática se popularizou no meio policial por intermédio
dos modelos das SWATs americanas e, posteriormente, em outros grupos
similares em países da Europa. Como já foi dito, os modelos citados tiveram
forte influência das denominadas Ações de Comando, que tinham como
objetivo, geralmente, causar destruição e baixas nos inimigos. Deve-se
observar que esse modelo, para o uso policial, não se aplica e, por
isso, as expressões tais como compromisso de matar, agir com
violência e outras similares, não são pertinentes para nenhum grupo
tático que tenha o propósito de agir, buscando alcançar os objetivos da
doutrina de gerenciamento de crise, que, nunca é demais lembrar, é a
preservação da vida e a aplicação da lei.
44

Existe um abismo de diferenças entre promover uma invasão tática para


salvar os reféns e promover uma ação tática para eliminar os transgressores
da lei.
O uso da força letal não deve ultrapassar o limite do estrito
cumprimento do dever legal e da legítima defesa que, sendo
excludentes de ilicitude, tornam legítima a ação policial, ainda que o
resultado seja a morte do transgressor da lei. Cada policial de um
grupo de invasão tática deve ter esses parâmetros bem solidificados.

Em outro texto, a respeito da seleção do atirador policial de precisão, o


Agente de Polícia Federal Mariz (2015) de forma pragmática ensina que:
"A Seleção do Atirador Policial de Precisão"
Autor: Luiz Carlos Queiros Mariz
Agente de Polícia Federal
Chefe do Setor de Tiro de Precisão do COT/DPF
Características Desejáveis
O compromisso de matar
À primeira vista, e principalmente para leigos, este requisito pode parecer
pouco técnico ou até mesmo inconveniente. Ao se dizer que um candidato a
atirador policial de precisão precisa ter o compromisso de matar, não é lícita
a afirmação de que ele deverá matar, ou que será avaliado por quantos
alvos abateu. Nesta função é preciso deixar eufemismos de lado e dizer ao
candidato que é possível que ele, em algum momento de sua carreira como
atirador policial de precisão, tenha que matar alguém para garantir o direito
à vida de uma outra pessoa, e que se houver hesitação quanto a este
compromisso ele estará colocando seriamente em risco as vidas dos seus
companheiros de trabalho e das pessoas que ele tem a missão
constitucional de proteger.
Ao contrário do que se possa imaginar, não é vantagem para nenhum
candidato o fato de ele já ter tirado a vida de alguém durante o cumprimento
legal de suas missões anteriores, pois há outros fatores a serem levados
em consideração.

Com maiores detalhes no Direito, Borges (2009) explica que:


No entanto, este compromisso proposto pela doutrina norte americana e,
inicialmente, reproduzido no Brasil, já foi e continua sendo alvo de severas
críticas nas discussões que tratam a respeito do gerenciamento de crises.
Pois, à primeira vista, uma contradição é clara: como pode ser admitido
como fundamento de um grupo tático, o compromisso de matar, se
a preservação da vida e aplicação da lei são objetivos consagrados no
gerenciamento de crises?
Nesse diapasão, considerando o ordenamento jurídico pátrio, e com base
nos princípios da dignidade da pessoa humana, da legalidade, da
proporcionalidade, e do uso adequado e progressivo da força, inicialmente
defendidos nesta pesquisa como orientadores da atividade policial, é fácil a
conclusão de que fundamento dessa natureza não possui nenhum respaldo
legal, configurando-se numa verdadeira aberração da doutrina policial.
[...] Os órgãos policiais, taxativamente discriminados na Constituição pátria,
possuem como Estado o dever de prestar uma segurança pública eficaz
com vistas à preservação da ordem e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, não sendo da melhor técnica ou doutrina atribuir aos seus
agentes o compromisso de matar, mesmo em situações de alto risco.
Mais sensato seria lecionar que o policial (ou sniper) tem, na verdade,
o dever de proteger e defender a pessoa vítima de uma agressão humana
injusta, atual ou iminente, conduta qualificada como legítima defesa de
terceiros na legislação penal, não o compromisso de matar.
45

Verificou-se na pesquisa deste trabalho realizada em 2017, entretanto, que o


termo Commitment to Kill não é um termo majoritário na doutrina norte-americana,
antes uma exceção ou um regionalismo em algumas polícias. Foram pesquisados o
acervo da NTOA, de 1983 a 2017, e da CATO, de 2010 a 2017; o manual Sniper
Training FM 23-10; o Manual Canadá Army Sniping; o Manual US Border Patrol
Sniper, e em nenhum desses foi encontrado o termo Commitment to Kill formalmente
positivado.
Vale lembrar que Antony e Barbas (2001), oficiais da Polícia Militar do Estado
do Pará, em excelente trabalho monográfico, O Sniper Policial e o Tiro de
Comprometimento: Uma Proposta De Emprego A Nível Nacional, não contemplam
sobre o tema. Seja como for, o conceito do termo Commitiment to Kill é inovador,
incentivando as Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública a se
desenvolverem, uma vez que é desafiadora a sua aplicação como ciência.
Todavia, em se tratando da dificuldade de utilização literal desse termo,
parece que o maior problema é o atrelado à noção de lógica argumentativa. Apesar
de as explicações de todos os autores serem válidas, as quais este autor concorda -
no tocante à preservação da vida do refém – parecem não respeitar o sentido literal
do termo em questão. Em outras palavras, as motivações subjacentes ao termo
estão corretas, mas o seu uso literal não.
Diante desse fato, o que se encontrou e passou a ser adotado de forma
unânime pelas forças policiais nos Estado Unidos é o que chamam de Priority of Life
– prioridade de vida. No artigo The command decision to shoot a hostage taker: How
do we make it? (A decisão de comando para atirar no tomador de reféns: Como nós
fazemos isso?), o veterano da SWAT LAPD Ron McCarthy na edição de inverno da
Revista Tactical Edge, de 1989, explica sobre a prioridade de vida. Importante
ressaltar que esse artigo foi republicado como Best of the Best, em 2003, durante a
comemoração de 20 anos da NTOA:
Prioridades de gerenciamento e de comando
O processo de gestão que eu recomendaria é baseado primeiramente na
realidade de que a aplicação da lei deve estabelecer prioridades.
Sugiro que a primeira prioridade da administração seja a vida dos reféns
inocentes que estão sendo mantidos por um assassino perigoso. O
comando e o gerenciamento devem entender que suas vidas estão, sem
dúvida, em perigo. A segunda prioridade de comando ou de gerenciamento
é a segurança de pessoas inocentes e cidadãos na área. A nossa terceira
prioridade é a vida dos nossos policiais envolvidos em um incidente de
reféns. Isso não significa que não tentaremos resolver o incidente sem
disparar no tomador. Isso significa que, se uma oportunidade se
desenvolver para resolver o incidente atirando no tomador, a decisão
46

de atirar ou não será feita com base na lista de prioridades de


comando e de gerenciamento previamente estabelecida. O tomador
será neutralizado para salvar a vida dos reféns.
Aqueles que se opõem emocionalmente à regra de serem colocados em
terceiro lugar em uma lista prioritária devem perceber que a própria polícia
entende que eles estão lá para proteger a vida das vítimas e dos cidadãos
inocentes.
Todos os oficiais SWAT que são adequadamente selecionados e treinados
entendem essa prioridade.
[...] Avaliação do tomador de reféns - Os critérios
Critérios podem ser estabelecidos para serem aplicados no tomador de
reféns. Úteis e efetivos critérios seguem:
• O suspeito, de fato, tem um refém?
• O suspeito indica ou indica que ele / ela matará o refém?
• Pode ser verificado, de fato, se o suspeito está armado com uma arma
letal (arma de fogo, faca, bomba) ou com potencial para matar os reféns,
(por exemplo, derrubando uma criança pela janela?)
Se o suspeito tiver reféns, indicar de alguma forma que ele / ela vai matar
um ou mais deles, e tem os meios para fazê-lo, então os critérios são
estabelecidos.
Agora, temos nossas prioridades e nossos critérios delineados. Neste ponto
do incidente, uma vez que a situação é de apenas alguns minutos, uma
decisão deve ser tomada no interesse da primeira prioridade, considerando
a presença de inocentes, a vida dos agentes e a vida do suspeito.
[..] Se os critérios forem atendidos e as autoridades tiverem a
oportunidade clara e descomplicada de neutralizar o Tomador de
Reféns e, em vez de optar pela primeira prioridade, o gerente escolheu
a quarta prioridade e não atirou no suspeito e depois o suspeito matou
um ou todos dos reféns, então a polícia está em falta, na minha
opinião.
[...] Não fazer nada da perspectiva de tomar uma decisão de usar a força ou
não usar a força porque somos intimidados com a grandiosidade do
incidente é inaceitável. A polícia deve tomar decisões difíceis.
Não tomar nenhuma decisão é um curso de ação inaceitável. A decisão de
não fazer nada, porque taticamente não é correto ou efetivamente nada
pode ser feito, é aceitável. (MACCARTHY, 2003, p.12, tradução nossa, grifo
nosso)

No mesmo sentido Heal, (2012, p.84, tradução nossa) conceitua o que seja a
prioridade de vida:
E, portanto, uma "prioridade da vida", que claramente coloca mais valor na
vida de vítimas inocentes do que naqueles que a prejudicariam. Por
qualquer entendimento, a vida humana não é igualmente valiosa.
A prioridade da vida é um conceito usado para classificar o valor intrínseco
da vida humana em determinadas situações; Para nossos propósitos aqui,
operações táticas, respostas de desastres e outros.

Mesma valoração sobre a vida, no sentido de não ser valorada igualmente,


está quando da realização de triagem de vítimas em Incidentes de Múltiplas Vítimas
(IMV) onde a classificação das pessoas não é realizada segundo diagnóstico
médico, mas sim levando-se em consideração as necessidades de recursos e as
chances de sobrevivência.
47

Corroborando ao entendimento da NTOA, a IACP (2007, p.1, tradução nossa)


regulamentou políticas de sentido, válidas para incidentes com reféns ou marginais
embarricados:
Prioridades de segurança: a base das decisões operacionais e táticas da
agência e abrange o seguinte:
• Reféns;
• Inocentes civis;
• Policiais;
• Suspeitos.
[...] Perigo Mortal: uma situação em que uma pessoa está sendo
diretamente submetida ou exposta a circunstâncias que criam um risco
substancial de morte, ferimentos físicos graves ou a comissão dessa classe
de ofensa segundo o estatuto que justifica o uso de força mortal para
prevenir ou parar (como estupro, atentado violento ao pudor e sequestro).
Justificação da Força Mortal (pode variar de acordo com a jurisdição,
normalmente definida por estatuto): Circunstâncias em que o refém está
sendo submetido ou parece razoável ser submetido a ações do suspeito
que cria um risco substancial de causar ou resultar em morte, ferimentos
físicos graves ou a comissão dessa classe de infração segundo o estatuto
que justifique o uso de força mortal para prevenir ou parar (como violação,
atentado violente ao pudor e sequestro).

Diante disso, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (2008, p.12),


pertencente ao Ministério da Justiça, incluiu a ordem de prioridade em sua apostila
do Curso de Gerenciamento de Crises:
Doutrina de Gerenciamento de Crises
Portanto, o gerente de uma situação de crise deve ter sempre em mente
esses objetivos, observando os aspectos que deles se derivam, de acordo
com:
Preservação de vidas: 1. dos reféns;
2. do público em geral;
3. dos policiais;
4. dos criminosos.

Aqui concordamos que o termo em seu sentido literal "compromisso de matar"


está em desacordo com o ordenamento do Brasil e dos EUA, todavia os termos
"Prioridade de segurança", "Prioridade de vida", "Prioridades de gerenciamento e de
comando" ou mesmo "Prioridade de Preservação de Vidas" – além de
profundamente adequados ao principio constitucional da dignidade da pessoa
humana – encontram encaixe perfeito nos institutos da legítima defesa e da
inexigibilidade de conduta diversa como causa supra legal de excludente da
culpabilidade.
48

4.2 Dever de eficiência e o dever de mitigar risco x risco calculado

A Constituição Federal de 1988 confere o exercício de direitos individuais,


mas, ao mesmo tempo, prevê o atendimento a elementos de interesse público.
Portanto, o exercício desses direitos é intangível, salvo quando contrapostos ao
interesse público.
É função do Estado promover uma fiscalização constante do exercício dos
direitos individuais, para que não prejudique os interesses públicos. Tal fiscalização é
o poder de polícia do Estado, que busca garantir finalisticamente a supremacia do
interesse público. E aqui, cabe às polícias militares o exercício da vigilância
ostensiva e a preservação da ordem pública. No entanto, empreender essas
missões carrega consigo os riscos e os prejuízos advindo dessas atividades.
Nesse sentido Carvallho Filho (2014, p. 556):
Diante disso, passou-se a considerar que, por ser mais poderoso, o Estado
teria que arcar com um risco natural decorrente de suas numerosas
atividades: à maior quantidade de poderes haveria de corresponder um
risco maior. Surge, então, a teoria do risco administrativo, como fundamento
da responsabilidade objetiva do Estado.

Os riscos e os prejuízos, advindos dessas missões constitucionais, encontram


como destinatários os policiais militares – longa manus do Estado – que exercem a
prestação do serviço. Além desses, há também terceiros que recebem a prestação –
direta ou indiretamente – dessas atividades. No caput do art. 37, CF/88, verifica-se o
princípio da eficiência, o qual vincula todas as esferas dos Poderes do estado, a
saber:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. (BRASIL, 2018)

Segundo MEIRELLES (2016, p. 105), “do princípio da eficiência decorre o


dever de eficiência", e é precisa sua análise, no que concerne à abrangência dessa
eficiência:
A eficiência funcional é, pois, considerada em sentido amplo,
abrangendo não só a produtividade do exercente do cargo ou da função
como a perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados
pela Administração, para o quê se avaliam os resultados, confrontam-se os
desempenhos e se aperfeiçoa o pessoal através de seleção e treinamento.
Assim, a verificação da eficiência atinge os aspectos quantitativo e
qualitativo do serviço, para aquilatar do seu rendimento efetivo, do seu
custo operacional e da sua real utilidade para os administrados e para
49

a Administração. Tal controle desenvolve-se, portanto, na tríplice linha


administrativa, econômica e técnica.
Neste ponto, convém assinalar que a técnica é, hoje, inseparável da
Administração e se impõe como fator vinculante em todos os serviços
públicos especializadas, sem admitir discricionarismos ou opções
burocráticas nos setores em que a segurança, a funcionalidade e o
rendimento dependam de normas e métodos científicos de
comprovada eficiência. [...]
[...] Realmente, não cabe à Administração decidir por critério leigo quando
há critério técnico solucionando o assunto. O que pode haver é opção da
Administração por uma alternativa técnica quando várias lhe são
apresentadas pelos técnicos como aptas para solucionar o caso em exame.
[...] Por isso, insistimos que aquele que não cumprir esse dever de eficiência
deverá ser responsabilizado, na forma apontada no aludido item 2.3.6.
(MEIRELLES, 2016, p. 117-118, grifo nosso)

Ao analisar as explicações do jurista sobre o que seja a eficiência e sua a


abrangência, chama a atenção o perfeito encaixe desta com o conceito de Sistema
de Desempenho Humano, que é composto pelo trinômio: Homem - TTP -
Equipamento, explicado anteriormente.
Por sua vez , Chiavenato (2008, p.177, grifo nosso) diferencia eficiência de
eficácia:
A eficiência é o meio: baseia-se no método, no procedimento, na rotina
e no caminho para se chegar a alguma coisa. O bom método, a boa
rotina e o procedimento adequado levam ao aumento da eficiência. O
caminho adequado para se chegar a alguma coisa aumenta a
eficiência. Fazer bem as coisas, utilizar métodos, procedimentos e
rotinas adequados conduz à eficiência.
A eficácia é o resultado: baseia-se no alcance dos objetivos propostos e na
consequência final do trabalho.
Contudo, nem sempre a eficiência e a eficácia andam juntas. Não é comum
andarem de mãos dadas em muitas entidades. Pode-se encontrar uma
equipe altamente eficiente, mas pouco eficaz, ou uma equipe altamente
eficaz, porém desorganizada no seu desempenho. O pior é quando a
equipe não consegue eficiência nem eficácia. O desejável é otimizar
simultaneamente o desempenho eficiente e eficaz. Fazer as coisas com arte
e elegância e alcançar objetivos por meio de resultados excelentes. A
excelência nos meios e nos fins. Eficiência mais eficácia conduzem à
excelência.

Infere-se, portanto, que a eficiência está relacionada a qualquer realização


baseada em métodos e em procedimentos adequados. No caso da PMESP, assim
sendo, é seguir os POP criados por meio do SISUPA, conforme já citado acima.
O investimento no trinômio Homem, TTP, Equipamento, sem dúvida alguma,
é o principal fator de mitigação do risco da atividade policial. Neste ponto, abre-se
espaço para o conceito de risco calculado, uma vez que o Estado deve dimensionar
e calcular adequadamente o seu Sistema de Desempenho Humano, de modo a
torná-lo compatível com os diferentes níveis de risco de incidentes escolhidos como
relevantes.
50

A fim de ilustrar o que foi dito acima, vale citar como exemplo uma ocorrência
de roubo a banco, envolvendo vários suspeitos armados. Um recruta, ainda em
estágio, conduz sua motocicleta em direção ao atendimento da ocorrência, mas
comete vários erros: primeiramente, para a sua motocicleta em frente ao
estabelecimento; além disso, está sem colete de proteção balística e não esperou
por apoio de outras equipes. Por fim, não avisou que chegou ao local dos fatos e,
para completar, estava sem sua arma, portando apenas um bastão tonfa. Apesar
desses erros, anuncia que a polícia chegou, o que faz com que os marginais se
entreguem. Essa situação hipotética é um exemplo de uma ocorrência atendida de
forma ineficiente, com altíssimo risco e com procedimentos inadequados, apesar do
resultado favorável, por sorte, todavia não aceitável, tanto que tais ações desafiam
apuração administrativa disciplinar.
É importante oferecer outro exemplo, contraposto ao citado acima: um policial
– usando corretamente seu colete de proteção e portando sua arma – para sua
motocicleta em local próximo ao estabelecimento bancário e solicita apoio via rádio
às outras equipes. Com o envolvimento de outros policiais, recrutados por meio da
solicitação anterior, isola-se o tráfego das imediações, em busca de suspeitos. Além
disso, respeitando integralmente os procedimentos exigidos, a polícia ali envolvida
não esquece de adotar as técnicas de deslocamento e de transposição de
obstáculos. Entretanto, apesar de toda a prudência aí dispensada, os marginais –
fortemente armados – saem do banco, atiram contra os policiais, atingem
transeuntes distantes da cena dos fatos, e, por fim, conseguem fugir.
Pode-se verificar que o atendimento da ocorrência citada acima seguiu todos
os procedimentos: os policiais foram cautelosos e precisos em suas ações, os riscos
foram mitigados mas, apesar disso, não se tem controle sobre a vontade dos
suspeitos, que atiraram contra a polícia e acabaram por acertar transeuntes
inocentes.
Assim sendo, McCARTHY (2000, p.18, tradução nossa, grifo nosso) explica
com propriedade:
A polícia cria muitos dos seus próprios problemas nesta área.
Muitas vezes, os porta-vozes de uma instituição policial conversam com a
mídia sobre as situações de reféns e a capacidade específica da agência
para responder profissionalmente a um incidente de reféns. Ao fazê-lo, o
porta-voz está ansioso para convencer a mídia de que seu departamento é
uma agência profissional que planejou tal eventualidade. Ele ou ela vai dizer
que seu departamento procurou treinamento para seus membros em
negociações de reféns e em técnicas de SWAT para resolver com sucesso
51

um incidente de reféns e eles estão confiantes de que eles podem


conseguir isso.
Na maioria das vezes, uma declaração imprudente é feita. O incidente
de refém perfeito para a polícia é aquele que termina sem fatalidades.
Se ocorrerem mortes, a mídia geralmente contatará uma autoridade
policial sobre o assunto que explicará sua filosofia e explicará que
seus métodos teriam impedido o tiroteio.
Uma declaração dessa, assim formulada, é incorreta e dá ao público a
impressão de que a polícia controla um incidente de reféns. O ponto de
entendimento mais importante é que a polícia não pode controlar um
incidente de reféns. A prova disso é facilmente encontrada. Se um incidente
de reféns pudesse ser controlado pela polícia, as autoridades só teriam que
ordenar para o suspeito libertar os reféns. O suspeito, se sob controle da
polícia, faria isso. Com os reféns seguros sob custódia da polícia, a polícia
ordenaria que o suspeito se rendesse. Ele, ainda sob nosso controle,
cumpriria.
Obviamente, esse cenário é ridículo, mas os cursos de negociação de
reféns frequentemente ensinam isso como parte da instrução levando
o aluno a acreditar que a negociação é um método de controle da
situação. As negociações são uma ótima ferramenta, mas nem sempre
a solução para o incidente.

Repisa-se, o atendimento foi eficiente, mas o resultado não foi eficaz e,


justamente por isso, o dever de eficiência é um dever de empenho, não de resultado,
já que é compromisso do Estado empregar os melhores polícias com os melhores
equipamentos, como também treiná-los com as mais adequadas táticas, técnicas e
procedimentos (TTP).
Há que se observar que, no exemplo suscitado, pessoas foram feridas pelos
suspeitos, que conseguiram fugir. Ademais, vidas não foram preservadas nem a lei
foi cumprida mas, mesmo assim, a ocorrência foi eficiente e aceitável? Entende-se
que sim. Se a polícia seguiu as normas e a doutrina das ciências policiais não pode
ser culpada por circunstâncias alheias a sua vontade, é notória a quebra de nexo
causal.
A definição de crise do FBI, revelada ao Brasil em 1995, ensina algo muito
interessante: "crise é uma situação crucial que exige uma resposta da polícia, a fim
de uma solução aceitável". Oras, solução aceitável para o Estado é aquela eficiente,
que seguiu as melhores práticas de empenhamento e fomento adequado do Sistema
de Desempenho Humano, logo das ciências policiais, que neste trabalho são
abordadas apenas as TTP de entradas táticas.
Nem sempre vidas serão salvas, nem sempre a lei será aplicada, mas, nem
por isso, a solução deixará de ser aceitável. Na ocorrência citada anteriormente,
apesar da fuga e dos delitos, haverá a persecução criminal, que irá investigar,
processar, julgar, condenar e prender esses marginais. O ciclo do dever de eficiência
52

não para, ele se retroalimenta e as missões da PMESP, sim, param na repressão


imediata.
Mas, e se a falha recaísse justamente no sistema de desempenho humano
frente a sua inadequação ao risco? Muitas vezes erros são cometidos, tais como
seleção inadequada de policiais, precariedade de equipamentos ou mesmo compra
de equipamento inadequados, falta de treinamento e desenvolvimento de táticas,
técnicas e procedimentos. Outra falha interessante ocorre quando o Estado
subdimensiona o sistema de desempenho humano em relação a um determinado
risco previsível. Todas essas falhas beiram à improbidade administrativa.
GROVES (2000, p. 66) explica "que cada vez mais, os tribunais americanos
responsabilizavam as administrações policiais para que tenham um padrão de
responsabilidade mais elevado pela seleção, treinamento e conduta de seus
oficiais".
Heal (2015, p.70, tradução nossa, grifo nosso) conclui que, quando essas
falhas ocorrem, geralmente a causa do problema está na interface do elemento
humano com o equipamento, ou seja, nas TTP:
Compreensivelmente, tanto as empresas como as comunidades
militares dedicaram muito estudo para entender e aperfeiçoar essa
interface. O militar, em particular, gastou um considerável esforço em
tentar identificar e explicar as nuances e se refere a essa interface como
táticas, técnicas e procedimentos, ou, mais frequentemente, apenas o
acrônimo TTP.

Por isso mesmo, a atividade de polícia ostensiva e de preservação da ordem


é custosa, complexa e regida como ciência autônoma.

4.3 Dever de eficiência e a falácia do policial 100% seguro

É importante lembrar da falácia difundida na segurança pública, por meio de


pseudo-especialistas, a qual dizia que um policial é apto para proteger a população
quando está 100% seguro. Uma ocorrência de roubo a banco oferece risco ao
policial? Certamente, mas esse risco pode ser mitigado pelo fomento do Sistema de
Desempenho Humano, tornando um risco, antes insuportável, agora aceitável.
Nesse contexto de risco calculado, é possível delinear a situação do policial
que se encontra na posição de garantidor e, em consequência disso, deve assumir
53

certo grau de risco, auxiliado pelo sistema já explicado, composto pelo trinômio:
homem - TTP - equipamento ou sistema de desempenho humano.
A alínea “a”, § 2.º, do art. 13 do Código Penal, estabelece a hipótese de
garantidor, que interessa a este estudo, a saber: "A omissão é penalmente relevante
quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância [...]”.
Greco (2011, p. 230-231, grifo nosso) explica com propriedade o que vem a
ser esse dever de agir imposto ao policial na posição de garantidor:
Frisamos que a lei, quando elenca as situações nas quais surge o dever de
agir, fazendo nascer daí a posição de garantidor, não exige que o garante
evite, a qualquer custo, o resultado. O que a lei faz é despertar o
agente para a sua obrigação e se ele realiza tudo o que estava ao seu
alcance, a fim de evitar o resultado lesivo, mas, mesmo com seu
esforço, este vem a se produzir, não poderemos a ele imputá-lo. Assim,
por exemplo, se um salva-vidas, percebendo que alguém está se afogando,
prontamente presta-lhe socorro, valendo-se de todos os recursos que tinha
à sua disposição, mas, ainda assim, o resultado morte vem a ocorrer, não
poderemos atribuí-lo ao agente garantidor, visto que, no caso concreto, ele
tentou, dentro dos seus limites, evitar sua produção. Concluindo, a lei
exige que o garantidor atue a fim de tentar evitar o resultado. Se não
conseguir, mesmo depois de ter realizado tudo o que estava ao seu
alcance, não poderá ser responsabilizado.
Mas o dever de agir não é suficiente para que se possa imputar o resultado
lesivo ao garante. Era preciso ainda que, nas condições em que se
encontrava, pudesse atuar fisicamente, uma vez que o mencionado § 2a do
art. 13 obriga a conjugação do dever de agir com o poder agir.
[...]
A impossibilidade física afasta a responsabilidade penal do garantidor por
não ter atuado no caso concreto quando, em tese, tinha o dever de agir.
I Conforme assevera Juarez Tavares,
‘integra também o tipo dos delitos omissivos a real possibilidade de atuar,
que é, por sua vez, condição da posição de garantidor. Não se pode obrigar
ninguém a agir sem que tenha a possibilidade pessoal de fazê-lo. A norma
não pode simplesmente obrigar a todos, incondicionalmente, traçando,
por exemplo, a seguinte sentença: 'Jogue-se na água para salvar quem
está se afogando'. Bem, se a pessoa não sabe nadar, como irá se atirar
na água para salvar quem está se afogando? Essa exigência
incondicional é totalmente absurda e deve ser considerada como
inexistente ou incompatível com os fundamentos da ordem jurídica’.

Na parte final do texto, Greco cita Juarez Tavares, que é preciso, quando
indaga: como o garantidor poderia se atirar na água para salvar, se não sabe nada?
Nadar é uma técnica aprendida, afigura-se como uma TTP necessária para o policial
ou bombeiro que atue em área propicias a incidentes com afogamentos. Portanto, o
policial militar assume, ao realizar a atividade de polícia ostensiva e preservação da
ordem publica, um espaço amostral de riscos muito amplo e, justamente por isso,
sua profissão e sua previdência devem ser diferenciadas das demais profissões.
54

Heal (2012, p. 84, tradução nossa) explica que correr riscos calculados não
significa se sacrificar:
No entanto, de fato uma escolha de alternativas entre arriscar a vida e
entregá-la não é a mesma coisa. Qualquer esperança de sobrevivência
envolve uma perspectiva, não importa quão leve, de um resultado favorável.
Tal não é o caso da certeza absoluta da morte. Isso revela uma pedra de
toque para determinar qual a vida mais valorizada nas circunstâncias
trágicas.

Isso não significa, contudo, que o policial tenha o dever de sacrificar a sua
vida, o que muitas vezes acontece em prol da sociedade, mas que o risco deve ser
calculado e assumido com limites definidos no Sistema de Desempenho Humano
oferecido pelo Estado. Este coloca para a população um rol de proteção contra
riscos que outrora eram insuportáveis, mas que agora parecem aceitáveis. Em
outras palavras, o policial assume o risco calculado até o limite do abarcado pelo
desenvolvimento científico do método e das especificação técnicas dos
equipamentos oferecidos pelo Estado para o atendimento do incidentes.
Um exemplo disso é a roupa de proteção antibomba, em que o policial
encontra o seu limite de risco calculado, definido com base nos procedimentos
criados pela ciência para o render safety procedure (procedimento de rendimento
seguro) e com base nas especificações de desempenho da roupa. Mesmo assim,
desafia-se a morte. Com mesma razão estão os riscos calculados advindos de
incidentes de suspeitos embarricados e tomada de reféns.

4.4 Perda da chance em operações de recuperação de reféns e de suspeitos


embarricados

A perda de uma chance, como nova categoria de dano, tem ganhado


relevância na jurisprudência brasileira por meio do aumento de sua aplicação em
diversos julgados. Verifica-se a aplicação da perda de uma chance em casos de
decisões de comando que frustram a autorização de utilizar TTP – do tiro de
comprometimento e de entradas táticas – objetivando a recuperação de reféns e
prisão de suspeitos embarricados, evitando, assim morte de reféns ou pessoas
inocentes.
Tartuce (2017, p. 369) explica a caracterização de perda da chance e cita os
critérios objetivos propostos por Sérgio Savi para a aplicação da teoria:
55

A perda de uma chance está caracterizada quando a pessoa vê frustrada


uma expectativa, uma oportunidade futura que, dentro da lógica do
razoável, ocorreria se as coisas seguissem o seu curso normal. A partir
dessa ideia, como expõem os autores citados, essa chance deve ser séria e
real.
Buscando critérios objetivos para a aplicação da teoria, Sérgio Savi leciona
que a perda da chance estará caracterizada quando a probabilidade da
oportunidade for superior a 50% (cinquenta por cento).

O autor cita, ainda, interessante julgado do Superior Tribunal de Justiça, que


demonstra aplicação por erro em protocolos médicos que guardam intima em
relação às TTP de entradas táticas, a saber:
Recente julgado do Superior Tribunal de Justiça analisou a questão, em
acórdão com a seguinte publicação: “a teoria da perda de uma chance pode
ser utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil
ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro tenha reduzido
possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em
razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico. De início,
pode-se argumentar ser impossível a aplicação da teoria da perda de uma
chance na seara médica, tendo em vista a suposta ausência de nexo causal
entre a conduta (o erro do médico) e o dano (lesão gerada pela perda da
vida), uma vez que o prejuízo causado pelo óbito da paciente teve como
causa direta e imediata a própria doença, e não o erro médico. Assim,
alega-se que a referida teoria estaria em confronto claro com a regra
insculpida no art. 403 do CC, que veda a indenização de danos
indiretamente gerados pela conduta do réu. Deve-se notar, contudo, que a
responsabilidade civil pela perda da chance não atua, nem mesmo na seara
médica, no campo da mitigação do nexo causal. A perda da chance, em
verdade, consubstancia uma modalidade autônoma de indenização,
passível de ser invocada nas hipóteses em que não se puder apurar a
responsabilidade direta do agente pelo dano final. Nessas situações, o
agente não responde pelo resultado para o qual sua conduta pode ter
contribuído, mas apenas pela chance de que ele privou a paciente. A
chance em si desde que seja concreta, real, com alto grau de probabilidade
de obter um benefício ou de evitar um prejuízo – é considerada um bem
autônomo e perfeitamente reparável. De tal modo, é direto o nexo causal
entre a conduta (o erro médico) e o dano (lesão gerada pela perda de bem
jurídico autônomo: a chance). Inexistindo, portanto, afronta à regra inserida
no art. 403 do CC, mostra-se aplicável a teoria da perda de uma chance aos
casos em que o erro médico tenha reduzido chances concretas e reais que
poderiam ter sido postas à disposição da paciente” (STJ, 2012).

Todo o incidente que envolve suspeito embarricado ou tomada de reféns


pressupõe as janelas de oportunidades, devendo o Comandante do Incidente estar
atento para aproveitá-las, sob pena da perda da chance:
O tempo é tão importante, pois enquanto o controle do terreno pode ser
perdido e recuperado, uma perda de tempo é perdida para sempre. Embora
a identificação e exploração do terreno seja o principal objetivo de manobra
no espaço, o reconhecimento e a exploração das oportunidades é o
principal objetivo quando se manobra no tempo.
[...] Embora os mais ingênuos frequentemente atribuam essas
oportunidades ao acaso ou à boa sorte, na realidade nunca houve uma
situação tática em que uma ou mais dessas janelas não estavam presentes,
embora às vezes só fossem reconhecidas em retrospectiva.
56

[..] Nunca houve uma operação tática em que as oportunidades não


estavam disponíveis.
Uma vez que esse fato é aceito, a capacidade de explorá-los torna-se um
imperativo tático. Como na exploração do terreno, isso exige flexibilidade
em pensamentos e planos, juntamente com a mobilidade para possibilitar
ações e reações imediatas.(HEAL, 2007, p.46, tradução nossa)

Os requisitos da legítima defesa como agressão atual ou iminente e o uso


moderadamente dos meios necessários devem estar presentes, a fim de autorizar
uma intervenção letal, desde que existam chances de sucesso em salvar os reféns.
Nessa decisão, no entanto, pesará a frustração da resolução do incidente por meio
de negociação real, ou seja, não havendo progresso positivo do processo de
negociação real, mera passagem de tempo, caso não seja autorizada uma operação
de resgate de reféns, as oportunidades aparecerão e serão perdidas. Em
consequência disso os reféns serão expostos a um risco continuado quando o
Comandante do Incidente podia e devia agir no sentido de autorizar a intervenção:
[...] Avaliação do tomador de reféns - Os critérios
Critérios podem ser estabelecidos para serem aplicados no tomador de
reféns. Úteis e efetivos critérios seguem:
• O suspeito, de fato, tem um refém?
• O suspeito indica ou indica que ele / ela matará o refém?
• Pode ser verificado, de fato, se o suspeito está armado com uma arma
letal (arma de fogo, faca, bomba) ou com potencial para matar os reféns
(por exemplo, derrubando uma criança pela janela?)
Se o suspeito tiver reféns, indicar de alguma forma que ele / ela vai matar
um ou mais deles, e tem os meios para fazê-lo, então os critérios são
estabelecidos.
Agora, temos nossas prioridades e nossos critérios delineados. Neste ponto
do incidente, uma vez que a situação é de apenas alguns minutos, uma
decisão deve ser tomada no interesse da primeira prioridade, considerando
a presença de inocentes, a vida dos agentes e a vida do suspeito.
[..] Se os critérios forem atendidos e as autoridades tiverem a oportunidade
clara e descomplicada de neutralizar o Tomador de Reféns e, em vez de
optar pela primeira prioridade, o gerente escolheu a quarta prioridade e não
atirou no suspeito e depois o suspeito matou um ou todos dos reféns, então
a polícia está em falta, na minha opinião. (MACCARTHY, 2003, p.12,
tradução nossa)

Uma vez presentes os requisitos para uso de força letal, conforme explicado
acima, e existindo a "Janela da Oportunidade", pode-se aplicar a teoria da perda da
chance em incidentes de recuperação de reféns ou suspeitos embarricados, caso
exista protelação desnecessária para autorizar uma intervenção e os marginais
matem reféns ou pessoas inocentes? Parece que sim, é um caso de perda da
chance, desde que as alternativas táticas possuam probabilidades de sucesso
superior a 50%. Tal porcentagem, contudo, deve ser avaliada em duas dimensões:
uma referente ao Plano Tático e outra referente ao Plano Operacional.
57

A primeira dimensão contempla a avaliação do Comandante do Grupo Tático,


no tocante ao seu entendimento e emprego das táticas possíveis com chances
superiores a 50% de sucesso. No caso de intervenção, teríamos as alternativas
táticas: técnicas não letais, tiro de comprometimento seguido de entrada táticas ou,
mesmo, a entrada tática de forma isolada. A pergunta do Comandante do Grupo
Tático será: De 0 a 10, qual a dificuldade de resolver um problema com as
alternativas táticas existentes? (Vale lembrar que existem incidentes mais fáceis e os
mais difíceis - a depender do caso concreto.)
Por exemplo, frente à possibilidade de negociação face a face, a qual
proporciona informações sobre o interior do local e os hábitos de exposição do
marginal, se as entradas estão ou não embarricadas, porta aberta ou frágil para ser
arrombada ou explodida facilitando o acesso ao refém, tipo de arma utilizada pelo
marginal, se possui histórico de crimes violentos, instrução militar ou policial do
tomador, janelas e outros acessos que possibilitem meios alternativas de entradas,
etc.
Importante citar um exemplo de janela de oportunidade, de 17 de dezembro
de 1996. A residência do embaixador japonês no Peru foi invadida por membros do
Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), fazendo mais de 400 reféns que
celebravam o aniversário do imperador. O serviço de inteligência obteve a
informação de que parte dos 14 terroristas habitualmente levavam os reféns para o
andar superior, a fim de desocupar um saguão para que pudessem jogar futebol.
Essa janela de oportunidade foi utilizada, em 22/12/1997, quando os comandos
peruanos surpreenderam os terroristas durante uma dessas partidas de futebol e
explodiram o piso utilizado para o jogo, matando imediatamente três terroristas e
ferindo outros cinco. A carga explosiva foi colocada por meio de túneis escavados
que serviram também para acesso das tropas.
A segunda dimensão se envereda no Plano Operacional, logo diz respeito ao
emprego de técnicas e de procedimentos, tais como a capacidade do(s) policial(s)
do grupo tático em executar as técnica ou os procedimento propostos. Importante
frisar que essa avaliação deverá ser realizada pelo Comandante do Grupo, uma vez
que é o responsável pelo grupo e pela sua capacidade de resposta.
Essa avaliação também deve ser realizada no policial mediano especializado
e que pertence ao grupo tático. Por exemplo, caso se opte taticamente pelo tiro de
comprometimento, seguido de entrada tática, ou mesmo a entrada tática isolada, e o
58

Comandante avalie que – do efetivo de atiradores de precisão existentes e diante


da dificuldade do disparo – apenas o policial X é capaz de executar o disparo, as
chances de sucesso seriam, aqui, ainda inferiores a 50%. Da mesma forma, se
dependesse apenas do policial Y para realizar o arrombamento de uma porta ou,
durante a entrada tática, apenas o policial Z é capaz de fluir com eficiência pelos
cômodos e efetuar disparos precisos, descartado estaria o procedimento. Nesses
exemplos, dão-se com a totalidade do efetivo de forma a refletir o grau de
adestramento e maturidade do Sistema de Desempenho Humano do grupo.
Nesse sentido , precisas são as lições de Ron McCarthy (2003, p.12, tradução
nossa):
[...] se os critérios forem atendidos e as autoridades tiverem a oportunidade
clara e descomplicada de neutralizar um tomador de reféns e, em vez de
optarem pela primeira prioridade, e o gerente escolheu a quarta prioridade e
não atirou no suspeito e depois o suspeito matou um ou todos os reféns,
então a polícia está em falta, na minha opinião.
[...] As ordens "não atire", muitas vezes no passado, impediram policiais de
resolver um incidente e salvar vidas. Esta circunstância infeliz resultou em
vidas inocentes perdidas. Isso aconteceu muitas vezes. Muitas vezes
aconteceu porque o comando não confiava no efetivo da SWAT para tomar
a (s) decisão (s) correta (s). Se for esse o caso, a culpa deve novamente ser
colocada no colo do Comando, pois controlam os critérios de seleção e o de
treinamento para a SWAT. Se um Comando tiver pessoal que ele não confia,
a culpa é dele. Se os oficiais da SWAT não estiverem devidamente
treinados, isso recai sobre a responsabilidade da Comandante.
[...] Não fazer nada da perspectiva de tomar uma decisão de usar a força ou
não usar a força porque somos intimidados com a enormidade do incidente
é inaceitável. A polícia deve tomar decisões difíceis.
A decisão de não fazer nada porque nada taticamente é correto ou
efetivamente pode ser feito é aceitável.
[...] decisões de esperar vêm de uma cega esperança de que não fazer
nada resolverá a situação, levando à saída "segura". Se o suspeito matar
um refém, pelo menos a polícia não será a culpada - o suspeito irá, então,
brincar com a segurança. Todo esse tipo de inação custa vidas inocentes.

Nesse contexto, é viável a aplicação da perda da chance, em especial, nas


situações em que uma operação não foi autorizada pelo Comandante do Incidente
quando este podia e devia evitar o resultado morte dos reféns, diante da frustração
da negociação real e havendo grandes chances de sucesso de uma operação de
resgate.
Parafraseando a Ministra Nancy Andrighi em seu preciso relatório: nessas
situações, o Comandante do Incidente não responde pelo resultado ao qual sua
conduta pode ter contribuído – morte de reféns ou pessoas inocentes –, mas apenas
pela chance de que ele privou os reféns ou as pessoas inocentes. A chance em si,
desde que seja concreta, real e com alto grau de probabilidade de obter um
59

benefício ou de evitar um prejuízo, é considerada um bem autônomo e perfeitamente


reparável.

4.5 Conflito da Diretriz n° PM3-001/02/13 com a Resolução SSP 13/2010

Sem perder de vista que o objeto deste trabalho contempla os incidentes


envolvendo tomada de reféns, suspeitos embarricados e mandados de busca &
varreduras, ressalta-se que apenas o primeiro incidente é de competência exclusiva
do GATE, quando da atividade de preservação da ordem pública, conforme previsto
no Artigo Primeiro, da Resolução SSP/10:
Artigo 1º - Caberá ao Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar (GATE)
atender ocorrências com reféns, no exercício das atribuições da Polícia
Militar, na preservação da ordem pública, que implica na prevenção e
repressão imediata, ainda que acionado por qualquer outro órgão, mediante
prévia autorização do Comandante do CPChq ou do Comandante Geral ou
do Secretário da Segurança Pública.
Parágrafo único - Em caso de atendimento da ocorrência por policiais
militares da unidade territorial, se já estiver estabelecido vínculo de
negociação, este será mantido com o apoio do GATE, que avaliará a
necessidade e oportunidade de assumir integralmente a operação (SSP,
2010).

A Resolução, de forma subjacente, definiu a estrutura do sistema de comando


de incidentes com reféns do Estado de São Paulo, que se divide em dois, nas
ocorrências decorrentes das atribuições de polícia judiciária e nas decorrentes da
atividade de preservação da ordem pública, abarcando a prevenção e a repressão
imediata, este realizado pela PMESP, aquele pela Policia Civil.
Por sua vez, o sistema de Comando de Incidentes da PMESP se divide em
outras duas partes: uma emergencial, representada pelo Comandante do Incidente
Emergencial e pelos primeiros interventores; a outra, efetiva, representada pela
Comandante do Incidente Efetivo que carrega consigo especializadas Alternativas
Táticas (Negociação, Táticas Não Letais, Tiro de Comprometimento e Entrada
Tática).
A resolução não deixa dúvidas, a competência é exclusiva do GATE, quando
relacionada à preservação da ordem pública, iniciando-se com a eclosão do
incidente de tomada de reféns e terminando somente com a libertação dos mesmos.
Em seu parágrafo primeiro, do artigo 1°, é prevista uma exceção a essa
exclusividade, ao permitir a manutenção do policial militar do batalhão territorial,
60

desde que tenha estabelecido vínculos de negociação, porém deixou a possibilidade


do GATE avocar a integralidade da operação caso seja necessário e oportuno.
Por sua vez, foi editada a Diretriz N° PM3-001/02/13, que regulamentou a
Resolução SSP 13/10, reafirmando a excepcionalidade da competência do GATE,
em razão da prontidão e do acesso à ocorrência, ao criar a figura do Primeiro
Interventor e a do Gerente da Crise Emergencial até que ocorra a transmissão do
comando para o Gerente da Crise Efetivo.
É o previsto no item 6.1.7., da Diretriz N° PM3-001/02/13 (PMESP, 2013, p. 3,
grifo nosso):
6.1.7. gerente da crise
Profissional capacitado e imbuído no processo de identificar, obter e aplicar
os recursos necessários à resolução de uma crise. Em razão da prontidão e
acesso à ocorrência, poderá ser emergencial (oficial mais antigo da OPM
territorial que estiver presente no local critico, até" a chegada do gerente
efetivo da crise) ou efetivo (oficial designado pelo Comandante do CPChq,
o qual devera dirigir-se ao local dos fatos e organizar, com base (em
recursos técnicos e planejados, a linha de ação mais adequada para a
consecução do objetivo).

Corretamente o legislador da resolução previu tão ampla competência, indo


ao encontro do dever de eficiência decorrente da inteligência do caput, do art. 37, da
CF/88. O Estado elegeu o GATE como centro de competência para fomento de
recursos materiais, humanos e intangíveis, a fim de estabelecer um sistema de
desempenho humano (Homem - TTP – Equipamento), especializado no atendimento
de incidentes com reféns, cujo principal objetivo é mitigar riscos. Entretanto, a
expressão “se for o caso”, constante nos itens 5 e 6.2.1.3. da Diretriz, pode levar o
leitor desavisado ao equívoco, interpretando-a como facultativa, quanto ao
acionamento do GATE. Vejamos:
5. MISSÃO
As OPM deverão adotar as providências disciplinadas nesta Diretriz quando
do atendimento a ocorrências que, diante da gravidade instaurada, exijam
procedimentos técnicos que vão desde a atuação dos primeiros
profissionais policial-militares interventores até, se for o caso, o
acionamento e interposição do GATE, de forma que, estabelecida
unicidade de comando, de técnicas e de doutrina institucional, haja o
emprego racional e integrado dos recursos humanos e material necessários
para conter, isolar e resolver a crise de maneira satisfatória.
6.2.1. a patrulha policial-militar territorial que prestar o primeiro
atendimento às ocorrências críticas (vide subitem "6.1.16." e
divisões"), bem como o respectivo escalão superior que se dirigir ao
local da crise, deverão:
[...] 6.2.1.3. imediatamente, transmitir as informações coletadas ao
COPOM/CAD, para que seja procedido, se for o caso, o acionamento
do GATE; (PMESP, 2013, p. 3, grifo nosso)
61

A competência se inicia com a eclosão do incidente e termina com a


libertação do refém. Em consequência disso, o acionamento do GATE deve se iniciar
com a obrigatória comunicação do fato que lhe é exclusivo, transmitida pelos meios
mais céleres de comunicação, o que não deve ser confundido com o deslocamento
para o local, que ocorrerá também obrigatoriamente segundo a resolução. Tal caso
não se aplica se, entre o período que medeia a ciência da existência do incidente
com refém até a transmissão de autoridade do Comandante do Incidente
Emergencial para o Comandante do Incidente Efetivo, os reféns forem libertados.
Não há outra interpretação caso exista incidente com reféns, pois é um ato
vinculado ao acionamento e, por isso, não há espaço para discricionariedade. A
Diretriz contraria a Resolução, neste ponto, ao utilizar o termo "se for o caso", pois
permite que o escalão superior não acione o GATE porque entende não ser o caso
de acionamento.
O conflito das normas é somente aparente, uma vez que a Resolução é ato
normativo superior à Diretriz e nesse ponto os termos "se for o caso", devem ser
considerados inexistentes.
Portanto, o sistema deve ser mobilizado de início em sua completude e
obrigatoriamente ambos, o emergencial e o efetivo, devem propiciar o efeito
sinergético do conjunto de empenho dos meios – é justamente esse o desiderato da
Resolução máxime da eficiência estatal. Não é lógica a atuação da parte
emergencial sem o acionamento da parte efetiva, já que a mobilização do sistema
emergencial dá-se de forma precária, mesmo que exista policial militar especialista
em negociações atuando como primeiro interventor. Isso porque esse sistema
carece das demais alternativas táticas que, em conjunto, proporcionam relevante
efeito sinergético, de maneira que deve durar o tempo estritamente necessário para
que o sistema efetivo acesse o incidente. Justamente por isso, a fim de encurtar o
tempo resposta do GATE, o acionamento deve ser realizado assim que confirmado o
incidente.
62

4.6 Autoria intelectual dos objetivos smart, das estratégias e das táticas e a autoria
material das técnica e dos procedimentos

O gerenciamento por objetivos, conforme explicado anteriormente, prevê que


sejam estabelecidos os objetivos smart e que, a partir deles, sejam traçadas as
estratégias, as táticas, as técnicas e os procedimentos.
O Comandante do Incidente, seja o Emergência ou o Efetivo, ao traçar os
objetivos smart e as estratégias, responde como autor intelectual da ordem, pois tem
o domínio do fato no campo da abstração, sem executá-las operacionalmente. Por
exemplo, o Comandante do Incidente Emergencial responde como autor intelectual,
com pleno domínio do fato, caso decida não acionar o GATE, mesmo com a
presença de reféns, pois contraria a Resolução SSP13/10. Outro exemplo: o
Comandante decide como objetivo smart, que será realizada uma operação de
recuperação de reféns, com emprego de força letal, em determinada data e hora e
identifica como estratégia o emprego do GATE, seguindo a doutrina de
gerenciamento de incidentes.
Os subordinados que decidem as táticas, mas que não as executam, são
enquadrados na coautoria intelectual da ordem. Por exemplo, o Comandante do
GATE, após avaliar a estrutura do local – acessos de porta, de janelas – e
compreender os hábitos de exposição do suspeito, elenca suas táticas para alcançar
os objetivos e estratégias definidos, optando, primeiramente, pelo tiro de
comprometimento, juntamente com a entrada tática, utilizando como acesso
arrombamento com explosivos.
É bem verdade que as estratégias e as táticas se enquadram em autoria
intelectual, pois se inserem mais no campo da abstração do que da execução. Ainda
que estejam comprometidas com o dever de empenho para atingir os objetivos, não
podem garantir sua respectiva eficácia, uma vez que estas dependem dos
executores materiais.
A equipe composta pelos operacionais executam tarefas ou missões
específicas, a fim de atingir o objetivo smart. Neste caso, respondem como autores
materiais das ordens e possuem dever de eficácia em suas ações, aqui regidas
pelas técnicas e pelos procedimentos. Por exemplo, no tocante à assertividade nos
disparos realizados, será exigida eficácia, tanto no tiro de comprometimento como
63

na entrada tática, ou no ato de dimensionar a carga explosiva adequada e segura


para o arrombamento.
Dessa forma, é possível definir as respectivas responsabilidades em cada um
dos níveis de decisão e de atuação que revestem uma operação de recuperação de
reféns, suspeitos embarricados e mandados de busca & varredura.
64

5 ENTRADAS DINÂMICAS X ENTRADAS COBERTAS.

5.1 Noções preliminares

Conforme explicado no segundo capítulo, o presente trabalho estuda as TTP


de entradas táticas, que são a interface entre o aspecto humano e o equipamento –
objeto de muito estudo no meio militar e no privado, é considerada a causa frequente
quando falhas ocorrem. Além disso, foram apresentadas diferentes nuances de TTP
de entradas que, por sua vez, manifestam-se diferentemente nos níveis tático e
operacional, dependendo dos objetivos smart estabelecidos e das estratégias
planejadas pelo Comande do Incidente, quando implementadas para operações de
Recuperação de Reféns, Execução de Mandados Buscas & Varreduras e Prisão de
Suspeitos Embarricados.
No capítulo terceiro, foi explicada a origem das TTP e das entradas táticas,
identificando as entradas cobertas utilizadas pelas SWATs, que foram forjadas, em
meados da década de 60, segundo as demandas criminais, principalmente as
relacionadas a suspeitos embarricados. Outro tipo de TTP de entradas surgiu no
início do anos 70, na Inglaterra, criadas pelo SAS britânico, em resposta às
demandas de tomada de reféns protagonizadas por grupos terroristas.
Portanto, foram reconhecidas duas origens distintas de TTP de entradas
táticas: uma americana, em resposta às demandas criminais, chamadas de entradas
cobertas; e outra inglesa, relacionada às demandas de recuperação de reféns
chamadas de entradas dinâmica.
Essa informação já havia sido repassada no capítulo sobre as origens das
entradas táticas, mas acrescenta-se, agora, mesmo que preliminarmente, a fim de
facilitar o prosseguimento da leitura, que tanto a entrada coberta como a dinâmica
possuem um procedimento de leitura e movimentação dentro do cômodo, que se
constitui como o núcleo duro das entradas. Essa leitura é a forma como o policial
enxergar o cômodo e que lhe dita para onde irá se movimentar após passar o
batente da porta.
Nesse sentido, há basicamente duas técnicas de leitura e movimentação: a
Wall Flood (Inundação pela Parede) e a Concept Immediat Threat (Concepção
Imediata do Perigo). A diferença, em termos gerais, é que na Inundação pela Parede
o policial enxerga o cômodo por áreas de responsabilidade e desloca-se para elas,
65

varrendo do canto para o centro; já na Concepção Imediata do Perigo, o policial


enxerga o cômodo segundo o que identifica de perigo, deslocando-se para cima
desse perigo. Assim sendo, pode-se realizar uma entrada dinâmica ou coberta
utilizando-se de uma das duas técnicas de leitura e deslocamento interno: ou a
Concepção Imediata do perigo ou a Inundação pela Parede.
Quando os grupos de SWATs foram criados, no final da década 60, utilizavam
técnicas de leitura e deslocamento por áreas de responsabilidade, mais
precisamente as entradas em gancho (Buttonhook) e em cruz (Criss-cross),
precursoras da Inundação pela Parede.
Por sua vez, a Concepção Imediata do Perigo, ao que tudo indica, foi
originada no início da década 70 pelo SAS, e introduzida nos Estado Unidos em
1983 quando membros da SWAT tiveram treinamento com operacionais do SAS.
Desse modo, Jeff Selleg, Comandante veterano da SWAT de Valley em
Seattle e atual Presidente da Associação dos Oficiais Táticas de Washington, explica
que "o SAS é o criador da filosofia de Ameaça Imediata." (SELLEG, 2017)
Em 1986, Phil Singleton, veterano do SAS e cofundador da Divisão
Internacional de Treinamento Heckler & Koch, após desligar-se das forças armadas,
passou a difundir a técnica de Concepção Imediata do Perigo, quando então muitos
grupos de SWAT passaram a utilizá-la.
No GATE, a Concepção Imediata do Perigo foi introduzida em 1995, quando o
então 1° Tenente PM Décio José Aguiar Leão retornou de treinamentos realizados
na Divisão Internacional de Treinamento Heckler & Koch, aplicando a técnica ao
grupo.
Assim, após a breve digressão, passaremos a estudar as técnicas e
procedimentos das entradas táticas cobertas e dinâmicas.

5.2 Entradas cobertas

O Internacional Training Division Heckler & Koch (1997, p. 21, tradução


nossa) conceitua entradas cobertas ou movimento coberto como "a arte da
furtividade, combinada com o movimento lento e coordenado da equipe, utilizado na
busca e/ou neutralização de um suspeito com segurança." Ou seja, deve ser
66

utilizado quando não se quer demonstrar a presença da Equipe Tática ou, apesar de
sabida, não se pode precisar a exata localização.
Haynes (1999, p.103, tradução nossa) conceitua desse modo:
Limpeza lenta e deliberada. A técnica de limpeza do espaço que exige que o
time de entrada de assalto utilize uma violação muito silenciosa e de baixo
perfil, com movimentos silenciosos lentos e ações de fluxo de equipe no
local, para manter o elemento de surpresa contra os perpetradores. (1999,
p. 103)

Por sua vez, Leão (1999, p. 14) define entradas cobertas como:
Entradas cobertas: também chamadas de entradas furtivas, lentas e
programadas, são penetrações em ambientes sem visualização, quando as
técnicas de varreduras tornam-se insuficientes para o controle da área, ou
quando há necessidade de continuação do deslocamento.

Na prática, todos esses conceitos se aplicam a TTP de entradas táticas


cobertas, sendo observado por Leão (1999) a existência de outros nomes também
utilizados para a técnica. O termo mais encontrado na comunidade tática certamente
é entrada coberta e funcionalmente é utilizada para situações de suspeitos
embarricados, para a maioria dos mandados de buscas e em varreduras à procura
de suspeitos homiziados. Grosso modo, entradas cobertas são mais lentas e
metódicas e se opõem às entradas dinâmicas, que são mais velozes.
Autores como Carey (2002) costumam diferenciar entradas cobertas de
entradas furtivas e é sutil a diferença, pois, na maioria das vezes, a comunidade
tática acaba usando uma pela outra. A diferenciação está mais no âmbito tático de
emprego do que no âmbito técnico e procedimental e, por isso, sua diferença será
estudada nos capítulos seguintes.
Em resumo, entradas furtivas primam por serem ocultas e as entradas
cobertas por serem seguras, protegidas por abrigos oferecidos pela edificação ou
por escudo balístico.

5.3 Procedimentos de deslocamento em ambientes fechados / varredura coberta

É frequente a utilização do termo "entrada", incluindo o ato de entrar em um


cômodo e o ato de se deslocar por uma estrutura edificada. Porém, por questões
didáticas, tais procedimentos serão separados. Para melhor entendimento, aqui o
termo "entrada" significa passar o batente da porta e controlar o ambiente, uma vez
67

que as técnicas de varreduras realizadas externamente se tornaram insuficientes de


visualizar o cômodo, persistindo a necessidade de se entrar para continuar a
varredura. Já o termo "deslocamento" significa acessar e se movimentar pela
estrutura edificada:
Definições: talvez haja apenas uma falta de comunicação aqui. Isso pode
ser possível, uma vez que existe uma variação na terminologia utilizada
pelas polícias em todo o país. Em muitas regiões, há uma distinção entre os
métodos de "acesso" e os métodos de "limpeza". Os métodos de acesso
seriam limitados às técnicas utilizadas para o movimento de um ponto ao
outro da entrada como o movimento de fora para dentro de uma estrutura
ou de uma área para outra e dentro de uma estrutura, como de um corredor
para um quarto. Os métodos de limpeza seriam as técnicas utilizadas para
localizar um alvo. Uma operação tática pode incluir uma entrada dinâmica
para dentro do local do alvo e empregar uma técnica de varredura coberta
ou lenta e metódica. O termo genérico "entrada dinâmica" é usado por
alguns treinadores para incluir a acesso e as técnicas de limpeza
subsequentes. (HUBBS, 2010, p. 106, tradução nossa)

No mesmo sentido, Kester (2002, p.41, tradução nossa) explica que uma
coisa é a velocidade de deslocamento e outra a técnica de entrada (varredura):
“Obviamente, velocidade em que a equipe se move é uma coisa e a outra envolve
as táticas de varredura do quarto empregadas antes da entrada real em uma sala ou
através de um ponto de violação.“
Assim sendo, ao se realizar um deslocamento, temos as seguintes técnicas
de varredura que podem ser aplicadas: Olhada rápida, Tomada de ângulo e
Espelhos. Essas três técnicas são constantes no procedimento operacional padrão
de progressão em ambientes não havendo inovação:
2. Técnicas de varredura:
2.1. tomada de ângulo: consiste em abrir o campo visual do homem,
distanciando-se das paredes. Isso fará com que seja dominada a área não
visualizada, ao mesmo tempo em que mantém o ponto de proteção. Quanto
maior o ângulo de abertura, tanto maior será a percepção.
2.2. olhada rápida:
2.2.1. técnica utilizada quando, normalmente em função do reduzido espaço
do ambiente, não for possível realizar a tomada de ângulo;
2.2.2. consiste em uma rápida “jogada” de cabeça para o interior do local a
ser varrido, retornando imediatamente para o local de proteção;
2.2.3. havendo a necessidade de uma segunda olhada, o ponto de entrada
deverá ser alterado.
2.3. emprego de espelho:
2.3.1. com a fixação de um espelho em uma haste, o policial poderá
proceder à varredura no ambiente, sem se expor ao perigo;
3. Cone da Morte: denominação do local que, em havendo qualquer reação
armada por parte do agressor, ira convergir todos os disparos. (PMESP,
2014, p. 21)
68

Realmente, alguns detalhes em procedimentos são difíceis de descrever,


entretanto, não é objetivo deste trabalho chegar a tamanha minúcia no tocante a
este procedimento, no mesmo sentido salienta Heal (2017) a este autor:
As entradas são movimentos complicados e, por isso, são difíceis de
descrever. Gostaria que houvesse alguma forma de nos encontrar para um
café e tirá-lo no papel porque eu poderia explicar muitas coisas que são
muito detalhadas para um e-mail. (HEAL, 2017, tradução nossa)

Tal dificuldade é chamada de tradecraf ou segredos do ofício:


[...] Estes são aspectos mais fáceis de ensinar do que serem estudados.
Alguns, de fato, desafiam procedimentos precisos e, em vez disso,
dependem do conhecimento e da experiência do Chef. O conjunto desses
truques do negócio é comumente conhecido como tradecraft (HERNAN,
2003, p.37, grifo nosso).

Justamente por isso, ilustraremos algumas sequências de deslocamento em


coluna, a fim de melhor demonstrar que esta pode ser acrescida de vários policiais –
a depender do planejamento e da avaliação do tipo de incidente.
Figura 5

Fonte: KELLY (1999).

Figura 6

Fonte: KELLY (1999).

Figura 7

Fonte: KELLY (1999).


69

Figura 8

Fonte: KELLY (1999).

Figura 9

Fonte: KELLY (1999).

Figura 10

Fonte: KELLY (1999).

Figura 11

Fonte: KELLY (1999).

Figura 12 - Equipe utilizando espelho Figura 13 - Equipe utilizando espelho

Fonte: Steven Georges/Behind the Badge OC Fonte: Steven Georges/Behind the Badge OC
70

5.4 Procedimentos de entrada coberta

Pode-se dizer que, quando as técnicas de varredura externa ao cômodo


chegam ao seu limite, e existindo a necessidade de completar a varredura do
cômodo, deve-se realizar a entrada passando-se o batente da porta, de maneira a
continuar as técnicas de varredura, agora realizadas internamente ao ambiente.
Podemos dividir o procedimento de entrada em cinco fases: 1) Entrada, 2) Perigo
Imediato, 3) Movimentação, 4) Contato e 5) Domínio.

5.4.1 Entrada

O termo “entrada” aqui se refere a forma de passar o batente, de transpor a


porta para o cômodo. Seguindo as lições de Kester: (2002, p.41, tradução nossa)
Uma equipe de movimento lento tentará muitas vezes limpar a maior parte
do espaço possível da sala. Muitas vezes, até 80% de uma sala pode ser
limpa sem fazer a entrada. Tudo, exceto os cantos profundos e atrás do
mobiliário, pode ser limpo.

Ou seja, em determinado momento as técnicas de varredura não são


suficientes, o que gera a necessidade de realizar a entrada e continuar a varrer o
interior dos espaços faltantes. Aqui são válidas as simples palavras do veterano do
SAS, Singleton:
Quantas maneiras você pode fazer a entrada através de uma porta? (As
portas são do mesmo tamanho e forma em todo o mundo)
O que é uma sala de estar, um quarto, um banheiro, uma cozinha? Eles são
o mesmo no mundo, em todos os países. (SINGLETON, 2017, tradução
nossa)

Portanto, para transpor uma porta, existem quatro formas: entrada em gancho
(Buttonhook), entrada em cruzada (Criss-cross), entrada combinada (Combination) e
entrada limitada (Lean-in limited), que é uma entrada parcial.
Figura 14

Judd, Grady. Polk County Sheriffs Office. Special Weapons And Tactics
71

5.4.2 Perigo imediato

Didaticamente, para facilitar o entendimento, vamos considerar um cômodo


quadrado de 3x3m2 com porta aberta no centro.
O policial já realizou a varredura externa e está iniciando o movimento de
entrada, para qual lado ir? Justamente aqui que se dividem as formas de leitura e
movimentação dentro do cômodo, e pode-se dizer que este é o núcleo forte da
atividade dos grupos táticos.
Basicamente, a doutrina se divide em duas técnicas de leitura e movimento, a
Concepção Imediata do Perigo (Immediate Threat Concept) e Inundação pela
Parede (Wall Flood).
Na Inundação pela parede, o policial, ao entrar, deve ir para a sua área de
dominação, que será o canto e de lá realizará a varredura restante de sua área de
responsabilidade. Costuma-se dizer que esta técnica é uma coreografia, por ser pré-
determinado ir para o canto de dominação. Nas lições de Lif (2000. p. 23, tradução
nossa) :
INUNDAÇÃO PELA PAREDE
O Wall Flood é uma das técnicas mais seguras e eficazes. Sua principal
premissa é que os dois primeiros membros da equipe de entrada na sala
varram os cantos. Após a entrada, o # 1 cruzou para o canto oposto. O # 2
entrou em gancho e vai para o canto oposto.
O # 1 não deve abrir entrar em gancho, pois irá atrasar a entrada e porque
ele já pode ver a maior parte do lado oposto da sala; ele não quer
abandonar o terreno já coberto. À medida que os dois primeiros eliminam os
cantos, eles estabelecem uma posição de domínio enquanto varrem com
seus canos focando para o centro. O # 3 e # 4, cruzado e gancho
respectivamente, colocando-se em ambos os lados da entrada, certificando-
se de permanecer fora do funil fatal.
Eles estão prontos para o resto da sala e em uma plataforma de tiro estável.
Isso permite um poder de fogo preciso e devastador em um encontro de
força letal. Também é familiar para os oficiais, uma vez que muitos são
treinados no campo de tiro ficar em linha, enquadrar e disparar duas vezes.
Os oficiais não estão atirando em movimento, o que pode diminuir a
precisão. Ninguém está progredindo no quarto na frente dos canos dos
outros membros da equipe.
A sala está essencialmente dominada neste momento, com o potencial de
quatro operadores se envolverem nos disparos contra um suspeito se
ocorrer um tiroteio.
72

Figura 15

Fonte: Judd, Grady. Polk County Sheriffs Office. Special Weapons And Tactics

Figura 16

Fonte: Judd, Grady. Polk County Sheriffs Office. Special Weapons And Tactics

Figura 17

Fonte: Judd, Grady. Polk County Sheriffs Office. Special Weapons And Tactics

Figura 18

Judd, Grady. Polk County Sheriffs Office. Special Weapons And Tactics

Por sua vez, na Concepção Imediata do Perigo, o policial, ao se deparar com


o cone da morte, antes de passar o batente da porta, deverá identificar o perigo
imediato que vê. Tal técnica parece ser muito mais intuitiva, opondo-se a de
Inundação, que rege o deslocamento do policial para a sua área de responsabilidade
e não segundo o perigo percebido.
Lif (2000. p. 23, tradução nossa) explica a comparação entre Concepção
Imediata do Perigo e a Inundação pela Parede:
73

CONCEITO DE PERIGO IMEDIATO


Não importa quanta flexibilidade você tenha com as técnicas acima, eles
ainda dependem da coreografia onde os operadores devem entrar em uma
sala. Isso é feito por segurança e para garantir que todas as áreas da sala
sejam limpas, especialmente os cantos, que são considerados as áreas de
maior ameaça. Os cantos são considerados uma grande ameaça porque,
quando os suspeitos tem tempo para reagir, podem ficar abaixados e se
mudar para posições onde podem emboscar os oficiais que entram. No
entanto, os operadores ao coreografarem para limpar os cantos, você está
pedindo muitas vezes para o policial ir contra seus instintos naturais.
É aqui que uma técnica conhecida como concepção imediata do perigo tem
aplicação. Permite aos operadores agir/reagir naturalmente. Não há
posições predefinidas na sala. Nenhuma coreografia. Sem Button-Hooks ou
criss-crosses. À medida que um membro da equipe entra em uma sala,
cada entrada pega o que é percebido como sendo o perigo imediato e
avança nele. Existem dois tipos de ameaças:
Primário, um ser humano e secundário portas, escadas, móveis, etc. Cada
membro da entrada deve limpar o funil fatal e ser decisivo. O # 2 suporta o #
1 envolvendo qualquer outro perigo, primário ou secundário, varrendo o
restante da sala. O # 3 suporta o # 1 e # 2 e assume qualquer outro perigo,
primário ou secundário. O # 4 suporta o # 1, # 2, # 3 e assume qualquer
outro perigo primário ou secundário. O # 4 também cobre a parte traseira da
equipe, se necessário.

Além disso, Lif (2000) nos esclarece acerca do núcleo-base da técnica do que
vem a ser o perigo imediato, diferenciado-o em dois tipos: 1) Perigo primário, de
proveniência humana; e 2) Perigo secundário, porta, escada, cantos, móveis. Vale
observar que os cantos são os perigos secundários mais próximos de quem passa
pela porta.
A fim de sistematizar o que existe no doutrina de Close Quarter Battle
(Combate em Recintos Confinados), foram reunidas as seguintes regras sequenciais
de como conceber o perigo e entender para onde se deslocar, levando-se em
consideração que o perigo primário tem prevalência sobre o secundário e que o
cômodo foi varrido externamente – havendo a necessidade de entrar por meio de
entrada coberta.
Por questões didáticas, iniciaremos a explicação com as concepções dos
perigos secundários cantos, mobília, etc.
Regras para conceber o perigo secundário:
1) Regra dos 75% / 25%: Segundo Haynes (1999, p.99, tradução nossa) é
um cálculo em que se pressupõe que o primeiro homem a realizar a entrada
conseguirá varrer pelo menos 75% do espaço que deve ser varrido, controlado,
neutralizado e dominado. De forma que, o segundo operacional ficará, em tese, com
os 25% restante a controlar, neutralizar e dominar os perigos encontrados. Logo
75% / 25%.
74

Para se entender esta regra, é necessário dividir o quarto em 4 quadrantes de


25%, conforme a figura abaixo. Como é possível perceber, o primeiro homem segue
da direita para a esquerda e se posta em frente ao cone da morte e, em milésimos
de segundos, varre 50% do cone (25% centro direito + 25% centro esquerdo).
Podemos perceber que o policial está protegido dos cantos pelo batente da porta,
uma vez que ainda não o ultrapassou. Na sequência, ele vai para o canto da direita.
Logo temos 25% centro direito + 25% centro esquerdo + 25% canto direito = 75%.
Por quê para a direita e não para a esquerda? Porque é o Lado Pesado, sendo
explicado conforme a próxima regra.
Figura 19

Fonte: Autor

2) Lado Leve / Lado Pesado: Desloca-se sempre para o lado pesado, já


que este é o lado mais perigoso, por estar coberto pela arma do operador. Assim
posicionado, dará as costas ao lado de menor perigo que, na sequência, será varrido
pelo segundo homem.
Figura 20

Fonte: Autor
75

Continuando o exemplo da regra anterior, ressalta-se que o primeiro homem


foi para o lado direito, porque é o lado pesado. A entrada ocorreu da direita para a
esquerda e parte dos "25% canto esquerdo" foi varrido parcialmente, conforme se
verifica na linha pontilhada em vermelho. O operador não identificou nenhum perigo
primário nos 50% do centro, porém localizou dois perigos secundários os "25%
canto esquerdo" com menos do que 25% de área a ser varrida, portanto chamado
de Lado Leve, e os "25% canto direito" a ser limpo completamente, portanto
chamado de Lado Pesado. Por isso mesmo, o primeiro homem foi para o lado da
direito, que é o lado pesado.
Continuemos. O segundo operacional entra na sequência, colado ao primeiro,
e é obrigado a novamente conceber o perigo desde o início. Ou seja, posiciona-se
em frente ao cone da morte, nos 50% centro e visualiza em milésimos de segundo a
concepção do perigo. No exemplo, o segundo homem perceberá que o primeiro
operador foi para a direita, logo o lado pesado agora é o esquerdo que está
descoberto.
Todos os operacionais devem sempre conceber os 50% do cone da morte
antes de avançar o batente, de maneira a estarem protegidos dos cantos, mesmo
porque o primeiro operacional pode ter avistado um perigo primário nos "25% centro
esquerdo", mudando a situação de repente, quando então o segundo homem cobrirá
os "25% canto direito".
Figura 21

Fonte: Autor

3) Proximidade: primeiramente, desloca-se em direção ao perigo secundário


mais próximo. Originalmente, os cantos quase sempre serão os perigos secundários
mais próximos. Por exemplo, se o primeiro homem inicia a concepção dos 50%
centro e não encontra nenhum perigo primário e, então, inicia a procura por perigos
76

secundários (vale ressaltar que existem três perigos, o canto da direito, o da


esquerda e no fundo do cômodo uma porta aberta), para onde ele deve se deslocar?
Seguirá para o "25% canto direito" pois, apesar de engajar a porta ao fundo quando
realizou a concepção dos 50% do centro, não seguirá em sua direção, uma vez que
dos três perigos é o mais distante. Além disso, justifica-se a opção pelo lado direito,
já que este é o de maior risco (lado pesado), o que exige do operacional colocar-se
de frente, com sua arma apontada para ele, deixando suas costas para o lado de
menor risco (lado leve), que será coberto pelo segundo homem. Com os cantos
livres de perigos, os operacionais se deslocarão pelas extremidades do cômodo,
quando se emparelharão na próxima porta onde tudo recomeça.
Vejamos, então, as regras para conceber o perigo primário:
1) Proximidade: engaja-se primeiro o perigo mais próximo.
O policial posiciona-se em frente ao cone da morte, e em milésimos de
segundos, realiza a concepção imediata do perigo. De pronto, varre 50% do centro.
Repare que o operacional ainda não ultrapassou a linha do batente, de forma que
está protegido contra os cantos.
Figura 22

Fonte: Autor

Na sequência, o primeiro homem seguiria para a direita, porque é o lado


pesado. Se, no início da entrada, surgir um perigo primário no lado esquerdo, o
policial deverá avançar sob a ameaça e, caso sofra disparos do marginal, deverá
revidar disparos em movimento – imediatamente – tentando breve quebra da
angulação de direção flanqueando o agressor, a fim de sair da sua linha de tiro.
Entretanto, nem sempre será possível tal tática, diante do curto espaço e tempo.
Caso apareçam, de repente, dois agressores armados com pistolas – um
agressor a 1,5 metro da entrada, nos "25% centro esquerdo" e o outro a 4 metros,
77

nos "25% centro direito" – o operacional segue para cima do perigo que está mais
próximo e adentra ao setor centro esquerdo. Aqui ele pode utilizar engajamento
múltiplo, realizando primeiro um disparo no perigo mais próximo e, depois, dois
disparos no segundo que está mais distante, retornando para avaliar a necessidade
de atingir o primeiro perigo novamente. Assim sendo, adentra ao setor centro
esquerdo e fecha a distância sob o primeiro perigo disparando no segundo sem
abandonar seu setor onde está o primeiro perigo.
Figura 23

Fonte: Autor

2) Armamento: Caso existam dois perigos primários, um a 1 metro e o outro


a 3 metros, certamente será engajado o mais próximo, pois é o perigo mais urgente.
Entretanto, em distâncias médias isso pode depender do tipo de arma. Um revólver
a 4 metros tem precedência frente a uma faca a 3 metros, exceto se esta estiver
muito próxima, pois, neste caso, é tão letal quanto uma arma de fogo.
3) Ação e localização dos tomadores em relação aos reféns.
Segundo Lonsdale (2000, p. 71, tradução nossa), criminosos próximos aos
reféns têm prioridade de serem neutralizados, uma vez que representam maior risco
para os reféns. Por exemplo, se nos 25% centro esquerdo há um tomador solitário e
nos 25% centro direito um tomador agarrado a um refém, privilegia-se este perigo
àquele.

5.4.3 Deslocamento

Após realizar a entrada e a avaliação do perigo imediato, a equipe irá fluir


pelas paredes, ou extremidades do cômodo, juntando-se, em seguida, em linha, a
78

fim de iniciar uma nova entrada. No entanto, um operacional não precisa ir até o final
ocupando um canto da parede para se certificar que ele está limpo, se consegue vê-
lo.
Da mesma forma, se um operacional varreu um canto, não se faz necessário
que outro oficial realize novamente o mesmo procedimento ou que ocupe o canto no
mesmo lugar. Isto porque os policiais que realizaram as varreduras dos cantos
podem ser ultrapassados por outros oficiais que já se direcionam para a próxima
porta.
Depois de varrer o cômodo, é necessário realizar buscas embaixo de camas e
em armários, sempre com apoio de outro policial. É o que explica Hartman
(2005,p.34, tradução nossa), sobre a desnecessidade de ocupar um local varrido:
Princípio # 1: Você pode limpar um ótimo lugar sem ocupar.
Imagine que um operador é encarregado de limpar um campo de futebol em
plena luz do dia.
Sem lugar para ameaças ocultas, ele não precisa colocar o pé no campo.
Neste caso, um padrão de busca visual simples e ordenado faz o truque.
Um exemplo mais prático é um box de vidro em uma residência. Aqui, uma
barreira física evita a ocupação espacial (a menos que seja aberta), mas
não impede a limpeza visual. Conceito simples, certo? Ao operar em um
tempo metódico deliberado, a maior parte do esforço de compensação deve
ser realizada antes de entrar em uma determinada sala.
Princípio # 4: Você pode ultrapassar a ocupação míope.
[...]
Então eu faço outra pergunta: em um intervalo de 1 a 5 metros, quanto
tempo demora para limpar um canto vazio? Um segundo? Dois segundos?
Bem, certamente depende da iluminação, das obstruções e do tempo. Mas
os instrutores ainda acham estudantes se movendo deliberadamente ou
dinamicamente, agindo como se sua arma fosse a âncora e seu canto fosse
o fundo do oceano.
Este ato de cavar os cantos prova que você pode ter feito excessivamente
uma coisa correta.
A cabeça e os olhos estão alinhados com a arma? Sim. O operador está se
movendo suavemente com uma boa plataforma segura?
Certamente. Parecem legais? Sem dúvida. Mas, seja dinâmico ou
deliberado, o operador deve quebrar sua fixação míope de uma área já
limpa e atravessar a área com sua arma, dependente da estrutura,
esquerda ou direita.
A parte linda é que, se praticado, não precisa se deslocar do eixo de avanço
para realizar isso.
Operadoras experientes avaliam ameaças vivas em segundos e atuam.
Espaços vazios podem ser feitos em frações ainda menores. Não fale com
um baldo preso vazio na cabeça: "ainda está vazio ... ainda está vazio ...
ainda está vazio..."
(2005, p. 34)
79

Figura 24

Fonte: Autor

Figura 25

Fonte: Autor

Figura 26

Fonte: Autor

Vale esclarecer que a realização da entrada/movimento coberto é uma técnica


composta por procedimentos detalhados e sistemáticos – cômodo a cômodo sendo
limpo e, aqui, velocidade não é importante. Também é importante salientar que
regras de procedimentos podem ser quebradas em favor de se ajustar a melhor
80

segurança possível, pois é o principal objetivo tático da entrada coberta, como


veremos mais à frente.
Não se deve passar por cômodos ou portas que não foram limpos ou que não
estejam seguros e, quando se deparar com várias áreas inseguras, para cada área
perigosa, deve existir um policial com sua arma cobrindo o local. Esse procedimento,
de limpar cômodo a cômodo, não se aplica em varreduras quando em situações de
atiradores ativos, porque nesses casos se privilegia encontrar o atirador, a fim de
cessar sua capacidade homicida.
Muitas vezes não será possível varrer externamente um cômodo, porque
existem situações de entroncamento de portas em um corredor estreito, marcado por
entradas opostas, fazendo com que os policiais fiquem espremidos. Nesses casos,
em que não seja possível cobrir essas portas, realiza-se a entrada sem a varredura
externa, nesse mesmo sentido Kester (2002, P.41,tradução nossa):
Isso não significa que todas as salas devam ser limpas dessa maneira, no
entanto. Por exemplo, se vários operadores não cabem em um corredor e
existem portas opostas, os quartos podem ser penetrados sem limpeza
prévia.
Ao ensinar essa tática, a seguinte pergunta é solicitada frequentemente:
"Como eu sei se devo varrer externamente de forma lenta e quando deve
ignorar a essa tática e realizar a entrada?" Recentemente, um de nossos
operadores seniors criou o pensamento de que "Se os perigos são cobertos,
varra antes de entrar. Se você ou a equipe não conseguem cobrir os perigos
faça a entrada. Por perigos, estamos considerando ameaças fora da sala
em questão, como corredores e outras salas.

5.4.4 Contato

Contato significa encontrar um perigo primário, podendo ocorrer externamente


ou internamente ao cômodo. Caso ocorra externamente, a ação mais segura será
verbalizar para que o suspeito saia do cômodo, para, em seguida, proceder a busca
pessoal. Caso haja recusa em sair, deve-se solicitar apoio – conter, isolar e negociar,
pois trata-se de um incidente com suspeito embarricado ou pessoa embarricada.
Ocorrendo contato internamente ao cômodo, deverão ser realizadas contra
medidas para subjugar o suspeito, pois uma busca pessoal imediata, a curta
distância, é crítica, ou seja, uma situação perigosíssima. Caso o marginal realize
disparos, o policial deve revidar imediatamente, pois já está no cômodo e totalmente
desabrigado. Assim sendo, a solução mais rápida e efetiva será efetuar disparos, a
81

fim de criar uma cobertura por meio de fogo, efetuando disparos em movimento e,
possibilitando, assim, progressão ou retração em busca de abrigo.
Sublinha-se que estar no interior de um cômodo é diferente de estar na porta.
Antes de passar o batente é possível se proteger rapidamente dos disparos, o que
não acontece quando já se está no interior do cômodo, pois, aqui, o policial foi
surpreendido por disparos e está sem abrigo. Deve-se lembrar também que virar as
costas e sair correndo será a pior opção, já que buscar abrigo sem ocupar o suspeito
com disparos é deixar a iniciativa totalmente com o agressor, é inadmissível.
Situações, como as expostas acima, por ocorrerem em distâncias próximas e
num curto espaço de tempo, exigem que o policial esteja treinado para efetuar
disparos em movimento, de modo a provocar uma cobertura por meio de fogo. Este
procedimento irá ocupar o suspeito com os disparos, e na sequência, seja
avançando ou recuando, ao mesmo tempo em que se efetua disparos sob o perigo,
ocorrerá a busca para se alcançar algum abrigo.
No entanto, o POP – Progressão, transposição de obstáculos, entrada em
ambientes fechados e varreduras – nº 5.13.00. 2014, apresenta a seguinte situação
em seu item 5, sobre as ações corretivas: “5. Se durante a entrada no ambiente, for
surpreendido por disparos de arma de fogo, se possível, decidir pelo recuo e
posicionamento abrigado; e após, revidar ate que seja cessada a agressão.
(PMESP, 2014, p. 21, grifo nosso)”.
E se não for possível recuar? Recuar é difícil, mas possível. Inadmissível é
recuar passivamente sob fogo do marginal, sem treinamento de tiro em movimento,
como forma de provocar uma cobertura de fogo, com o objetivo de se proteger até
alcançar um abrigo. O treinamento que o policial recebe hoje na instituição contra
esse possível fato não é o Método Giraldi®, uma vez que esse não contempla um
dos princípios do tiro, o tiro em movimento – seja avançando ou recuando.
O POP prescreve como solução recuar mas, como será esse recuo? Sem
disparos?! Já que o policial não treina tiro em movimento, que é um princípio básico
de CQB. O próprio fundamento da entrada ocorre quando não se é mais possível
utilizar a varredura, a fim de inspecionar os cantos faltantes. Portanto, sempre
existirá risco de confronto repentino dentro do cômodo, por mais que tenha sido
realizada varredura externa.
Resta a seguinte solução: ou se acrescenta ao Método Giraldi ® o treinamento
de tiro em movimento, seja recuando ou seja avançando; ou se proíbe que policiais
82

realizem entradas em ambientes fechados sem treinamento necessário, maculando


o dever de eficiência e expondo a vida dos policiais.

5.4.5 Domínio

Domínio significa colocar a edificação em segurança da forma mais rápida


possível, além de dominar todas os perigos de modo célere, e é estabelecido por
meios dos links visuais entre os operacionais ou mesmo entre equipes. Por exemplo,
se uma equipe domina um prédio de dois andares, o link será a escada que liga
esses dois. Colocando-se o primeiro andar em segurança, um operacional do
primeiro andar aguarda, abrigado próximo à escada, a chegada da equipe do
segundo andar, a fim de realizar o contato de dominado.

5.5 Entradas Dinâmicas.

Haynes (1999, P.103,tradução nossa) conceitua entrada dinâmica como:


A ação agressiva imediatamente após uma violação realizada em uma
edificação ou área em que a equipe de assalto continua a varrer de forma
rápida, ao mesmo tempo que dispara, para efetivamente e rapidamente
neutralizar as ameaças realizadas pelos perpetradores que podem estar
localizados dentro.

As entradas dinâmicas seguem, em regra, os mesmos procedimento das


entradas cobertas, exceto quanto à velocidade, que se afigura como fator crítico. É
justamente aqui que reside sua principal diferença, o que exige um tópico próprio
para discussão do assunto.
Nesse sentido, diz Lif (2000. p. 23, tradução nossa):
Essa velocidade stop-watch deve ser usada para garantir que as drogas não
sejam apagadas, colocando as evidências sobre a segurança do oficial.
Outra falácia é que a resolução para mandados é diferente do resgate de
reféns. Não há diferença em táticas, apenas no método de entrada e talvez
o nível de preparação da sala (ou seja, distrativos, explosivos).

As diferenças estão mais relacionadas ao emprego tático do que ao emprego


das técnicas e dos procedimentos. No entanto, as TTP das entradas dinâmicas
devem respeitar os princípios aceitos mundialmente: Surpresa, Velocidade e Ação
de Choque.
83

5.5.1 Princípios da entradas dinâmicas.

Surpresa, Velocidade e Ação de Choque – talvez o conceito mais reconhecido


mundialmente pelos operadores de grupos táticas – afiguram como pedras de toque
em técnicas de entradas dinâmicas. Juntos provocam relevante sinergia, garantindo
um cenário caótico para o adversário e favorecendo a missão dos operadores de
recuperação de reféns quando vidas estão em perigo.
As entradas dinâmicas não são recomendadas para todos os tipos de
incidentes, como veremos, devido ao risco intrínseco da operação em que se
aplicam. Das quatro alternativas táticas é o último recurso – ultima ratio –, e entra
em cena quando todas as outras alternativas fracassaram. Nesse sentido,
compreender os princípios das entradas dinâmicas aumentam significativamente as
chances de sucesso de uma operação de recuperação de reféns, salvar vidas e
aplicar a lei. Esses princípios possuem aplicação tanto para Concepção Imediata do
Perigo como para a Inundação pela Parede. Vejamos:
1) Surpresa: segundo o dicionário Aurélio (2004), surpresa significa "apanhar
de improviso; aparecer inesperadamente diante de", de maneira a desmotivar
reações de ataque ou fuga dentro de um cenário de um incidente, especialmente
quando se tem reféns. Devido a esta importância, é considerado um super princípio,
pois garante que a equipe tenha vantagem antes de entrar no cômodo, já que reféns
e marginais são pegos inesperadamente.
O efeito da surpresa provoca desmotivação do tomador em reagir disparando
contra a polícia ou contra os reféns, mas não só isso, também visa desmotivar os
reféns a empreenderem fuga, uma vez que, ao perceberem a entrada da polícia,
possuem a tendência a ir ao encontro dos policias que estão ali justamente para
salvá-los. Além disso, inibem uma reação típica das vítimas, que é fugir pela entrada
a qual a policia está utilizando para acessar a edificação, situação que poderá
colocá-los no fogo cruzado entre policiais e tomadores. Certamente o pior pesadelo
de um operador tático é um refém aparecer em frente da sua alça e massa, entre a
linha de visada do operador com o tomador.
Com propriedade, um veterano de SWAT Nesbit (2007, p. 104, tradução
nossa, grifo nosso) exemplifica:
84

Imagine isso: você é um cara mau em pé dentro de um quarto esperando


para atirar em uma equipe que está prestes a entrar. Você está de frente
para a porta, com o dedo no gatilho, esperando para disparar. Nos próximos
segundos, quatro operadores SWAT se moverão rapidamente para dentro
da sala, tentando encontrá-lo para engajar, determinando se você é uma
ameaça, coloque sua arma em posição e depois deixe-a engatilhada. Você
simplesmente tem que puxar o gatilho assim que você vê-los.
Quem ganhará esse tiroteio? Eu certamente não gostaria de apostar minha
vida no resultado.
Nunca subestime seu inimigo! Assuma sempre que ele é pelo menos tão
habilidoso quanto você e aja de acordo. "Pegue seu inimigo em
desvantagem e nunca, em nenhuma conta, lute contra ele em termos
iguais".
Novo cenário: você está em pé dentro da sala esperando para emboscar a
equipe. De repente, um dispositivo de distração explode atrás de você e a
equipe entra pela porta oposta. Quem ganhará esse embate?
Qual a diferença entre os dois cenários apresentados aqui?
A distinção é a aplicação adequada dos princípios de varredura dinâmica de
cômodos.
No primeiro cenário, nós, os policiais, tivemos velocidade para entrar na
sala, mas, ao procurar nosso alvo, levamos muito tempo. O suspeito não
ficou surpreso porque sabia de onde e quando estávamos chegando.
Finalmente, não tivemos ação de choque.
Não foi feito nada para sobrecarregar a capacidade do suspeito de
processar informações.
Em nosso segundo cenário, nós, policiais, tivemos a mesma velocidade de
entrada, mas nós tiramos a velocidade do suspeito em nos encontrar
para engajar, vindo de uma direção inesperada.
Conseguimos surpresa vindo de uma direção inesperada e conseguimos a
ação violenta (ação de choque) empregando um dispositivo de distração
para afogar sua capacidade de processar informações - um meio simples,
mas eficaz, de alcançar surpresa, velocidade e ação de choque.

O elemento surpresa pode ser obtido por diversos meios, geralmente previsto
no planejamento da operação. Por exemplo, realizar a entrada em horários ou por
locais improváveis.
A operação Chavín de Huantar, já explicada anteriormente, ocorrida no Peru
em 1997, é um exemplo clássico do fator surpresa, quando comandos peruanos
surpreenderam os terroristas que estavam jogando futebol ao explodirem o piso
utilizado para o jogo, matando imediatamente três terroristas e ferindo outros cinco.
Justamente por isso, cita-se a "regra dos 12 segundos", segundo a qual
decorridos 12 segundos de plotada uma operação, perde-se o fator surpresa – o que
motiva mudança de entrada dinâmica para coberta. A regra de 12 segundos foi
estabelecida pelo Departamento de Polícia de Springfield, com base em
observações feitas durante mais de 1.000 mandados de busca realizados por
entradas dinâmicas. (ANDERSON, 2002)
Nessa mesmo ponto de vista, Heal (2001, p. 22, tradução nossa) explica a
regra específica para o domínio da fortaleza em recuperação de reféns, chamada de
85

"regra dos 60 segundos", que são contados desde o momento em que a operação é
descoberta pelo tomador e não a partir do seu início. A regra surgiu por meio de uma
pesquisa, em outubro de 1986, e inicialmente era considerada rígida. No entanto, a
mesma pesquisa se encerrou em 1989, não sendo conclusiva. Hoje a regra dos 60
segundos é aceita como um padrão de recomendação apenas.
2) Velocidade: envolve a velocidade de dominação de uma edificação.
Segundo Nesbit (2007, p. 104), a velocidade funciona como catalisador da
surpresa, de maneira a dominar a edificação antes que os suspeitos e os reféns
entendam o que está ocorrendo. Vale aqui citar uma das lições de Sun-Tzu (VI a.C.):
“Se a velocidade é a essência da guerra, então tire vantagem do despreparo do
inimigo; viaje por rotas inesperadas e derrote-o onde ele não tomou nenhuma
precaução."
Nesbit (2007, p.104, tradução nossa, grifo nosso) explica, ainda, a diferença
entre velocidade e rapidez, esta relaciona-se com movimento e varredura, aquela
com domínio eficiente da edificação:
[...] o termo velocidade geralmente é confundido com a rapidez com que um
operador ou uma equipe se movem. Você só pode mover-se o mais rápido
possível para disparar com precisão ou o mais rápido possível para
processar informações. Não seria bom correr de um lado a outro, se você
não puder engajar seus alvos com precisão. Seria a falha da missão se
mover tão rapidamente para uma sala que você não possa reconhecer ou
distinguir um alvo não "atirável" e matar o refém.
A velocidade é muitas vezes referida como uma pressa cuidadosa, mas
cada indivíduo ou equipe terá sua própria velocidade. Essa velocidade deve
ser aquela em que o indivíduo ou equipe processe adequadamente as
informações e evite erros que consomem tempo.
Quando pensamos em velocidade como princípio, considere isso em
termos de quanto tempo levaremos para dominar uma estrutura ou a
como se mover de forma rápida e eficiente para nossos pontos de
dominação.

No mesmo intuito de diferenciar a termo velocidade – enquanto princípio de


domínio da edificação – do termo rapidez – que se relaciona com a ação de
movimento e varredura utilizados pelos operadores para conquistarem a domínio – o
oficial da SWAT LASD Rector (2011, p. 104, tradução nossa, grifo nosso) explica:
O conceito por trás do movimento da velocidade dinâmica é permitir
que uma equipe domine tantas áreas de perigo quanto mais rápido
possível.
O problema comum com o movimento dinâmico é que as equipes se
movem muito rapidamente e não veem o que está ao seu redor, nem
mantêm uma boa consciência situacional, o que compromete sua
segurança e a segurança de outras pessoas.
Ao desconto de um atirador ativo, o movimento de velocidade dinâmico
deve ser usado no ambiente SWAT unicamente durante mandados de
buscas em que as circunstancias exijam ou em operação de resgate de
86

refém. A velocidade de movimento dinâmico raramente é aplicável durante


problemas de suspeitos embarricados e só deve ser usado para
circunstâncias inusitadas ou extraordinárias.

Justamente por isso, as equipes de recuperação de reféns realizam múltiplas


entradas simultâneas, a fim de dominar e colocar a edificação segura o mais rápido
possível, ao invés de simplesmente entrar por um único ponto de acesso, gastando
tempo com o deslocamento e com a varredura dos cômodos que encontram. Troca-
se profundidade de deslocamento na edificação por múltiplas entradas de acesso de
superfície.
3) Ação de Choque: significa provocar o congestionamento do sistema
nervoso por meio da intensidade de estímulos, gerando desorientação momentânea
do tomador e dos reféns. Por esse motivo as granadas de luz&som são chamadas
assim, porque visam provocar estímulos visuais decorrentes do excesso de
claridade, estímulos sonoros e sinestésicos decorrentes da explosão.
Nesbit (2007, p.105, tradução nossa), sobre isso, complementa que devemos
empregar ação de choque nos tomadores:
Se entramos no seu OODA Loop (Observar, Orientar, Decidir, Agir), com
sons, visões, cheiros e sentimentos de sobrecarga com Dispositivos
Distrativos, Entradas com Explosivos, postura dominante e comandos,
aumentará a probabilidade de ficarem congelados no processo.

As granadas luz&som são uma forma versátil de obter ação de choque.


Foram utilizadas primeiramente em 03/07/1976, quando Comandos Israelenses
utilizaram as granadas durante operação de recuperação de reféns em Entebbe,
Uganda, conforme explicado por Heal (1985, p.10).
Observação, granadas luz&som não são recomendadas para se iniciar uma
operação ou serem lançadas em uma entrada primária, uma vez que comprometem
o fator surpresa antes da carga principal explodir. Por isso, para se iniciar operações
em entradas primárias se recomenda utilizar cargas explosivas.
Assim explicados os princípios, nos próximos itens será utilizada a mesma
subdivisão de tópicos, a fim de se permitir comparar com as entrada cobertas.
87

5.6 Procedimentos de deslocamento em ambientes fechados / varredura dinâmica.

São válidas as mesmas observações feitas para entradas cobertas, no


sentido de ser frequente a utilização do termo "entrada", incluindo-se o ato de entrar
(passar o batente da porta) em um cômodo e o ato de se deslocar por uma estrutura
edificada.
A fim de melhor explicar o termo, será realizada a divisão destes conceitos.
“Entrada" significa passar o batente da porta e controlar o ambiente por meio de
varredura interna e "deslocamento" significa acessar e se movimentar pela estrutura
edificada. Assim sendo, as técnicas de busca e varredura / deslocamento em
corredores utilizadas na dinâmica consistem, quase que exclusivamente, na tomada
de ângulo, isso porque é possível de se graduar a velocidade com que é utilizada
segundo o tipo de incidente.
Vale observar que, ao se utilizar o método dinâmico, é exceção realizar a
varredura externa, aquela realizada previamente utilizando-se de espelhos ou
tomada de ângulo, devido a urgência de se dominar a fortaleza. Não existindo a
varredura prévia, na técnica dinâmica se inicia a varredura, já ingressando no cone
da morte.
Justamente por isso, considerando a existência da varredura prévia, Kester
(2002, p.41, tradução nossa) com propriedade, explica que as entradas deliberadas
oferecem mais segurança ao operador:
Muito poucos operadores ficaram feridos quando se moviam de forma lenta
usando coberta. A crença básica é que: é mais seguro limpar um edifício
lentamente ao invés de rapidamente.
Há um local e hora para usar deliberada durante um mandado de busca.
Pode ser usado na maioria das residências e na maioria dos mandados. Ela
permite que o operador limpe o quarto antes de fazer a entrada em
oposição a entrar diretamente na sala.

A técnica de espelho não se ajusta ao emprego tático das entradas dinâmicas,


porque é lenta e metódica. Por sua vez, a olhada rápida é quase que totalmente
desconsiderada na dinâmica, sendo tolerável seu uso em entradas cobertas. O
procedimento de olhada rápida não é visto com bons olhos, porque se perde o
contato com o que já foi visto e impossibilita responder fogo.
No mesmo sentido, criticando a olhada rápida, afirma Hartman (2005, p. 34,
tradução nossa):
88

Durante anos, operadores ensinaram que uma área pode ser avaliada
rapidamente com a olhada turca ou olhada rápida. Mas vamos nos
perguntar:
O que realmente ganhamos? O que perdemos? Bem, por um lado, nós
pegamos a informação após arriscarmos as nossas cabeças. Não se pode
assumir que nosso adversário permanecerá estático quando o virmos. É
ainda menos provável que ele fique parado se ele nos ver fazendo a olhada.
Muitas vezes, a espiada é realizada com a intenção predeterminada de
puxar a cabeça e a arma de volta. Quão inútil é uma técnica que nos priva
da capacidade de disparar se uma ameaça legítima se apresentar?

Desta maneira, podemos resumir da seguinte forma com o acrônimo V 2E2: no


movimento dinâmico entra-se e varre, no coberto varre-se e entra.
A seguir trataremos dos procedimentos de entrada E1V1.

5.7 Procedimentos de entrada dinâmicas.

Anteriormente, os procedimentos da entrada coberta foram divididos em


cinco: 1) Entrada, 2) Perigo Imediato, 3) Movimentação, 4) Contato e 5) Domínio. Em
geral, esses procedimentos não apresentam mudanças significativas com os vistos
em entradas cobertas. No entanto, pelo fato de ser a velocidade um fator crítico nas
entradas dinâmicas ,algumas peculiaridades se acentuam.

5.7.1 Entrada

Seguem os mesmos tipos de entradas, no sentido de cruzar o batente, ou


seja, em cruz, gancho ou limitada.

5.7.2 Perigo Imediato

Vale lembrar que leitura e movimentação interna ao cômodo se afiguram


como o núcleo duro das entradas táticas, seja na Inundação ou na Concepção
Imediata do Perigo. Portanto, valem as explicações para ambas as técnicas.
O procedimento de E1V1, nas entradas dinâmicas é crítico, pois expõe o
policial a maior risco, uma vez que primeiramente se entra para depois varrer o
cômodo, não existindo a varredura prévia propiciada pelas entradas cobertas.
89

Entretanto, quando dizemos que a entrada é o primeiro ato, seguido pela varredura,
parte desta já se inicia antes de se passar o batente, quando o policial ingressa no
cone da morte para realizar a concepção do perigo. Nesse momento são engajados
os 50% do centro, protegidos dos perigos dos cantos pelos batentes.
Cabe aqui uma observação. Anteriormente, falou-se da diferença entre
velocidade – enquanto principio que se relaciona ao domínio da fortaleza – e rapidez
– que se relaciona com movimento e varredura. A rapidez com que se executam os
movimentos e varreduras se afiguram como um fator crítico ao processar informação
recebida, interferindo significativamente no tempo de reação dos operacionais,
conforme explica Clark (2011, p.50, tradução nossa):
Tempo de reação e precisão
Esta área deve ser discutida como parte da visão geral da entrada dinâmica
versus controlada. O tempo de reação envolve três componentes: seus
olhos, seu cérebro e a reação física ao estímulo.
Quando você está se movendo rápido (dinamicamente), você entra em
problemas ao não ver o que realmente está ocorrendo.
Você pode ver alguma coisa, mas terá dificuldade em determinar o que
realmente é. Sem entrar em uma longa dissertação sobre o assunto,
rapidamente aumentam-se as probabilidades de erros.
...
A tomada de decisões táticas é baseada na lei, política, ética e treinamento.
As prioridades de vida sempre devem ser levadas em consideração. Além
disso, a pesquisa científica por entidades como o Force Science Research
Institute deve ser levada em consideração sobre o que os policiais são e
não são capazes de fazer na área do tempo de reação.

Esse fator tempo de reação é ainda mais relevante na técnica e no momento


da concepção imediata do perigo e, justamente por isso, exige elevadíssima
proficiência dos operadores. Além disso, muito se explica porque os cursos básicos
de SWAT dificilmente ensinam TTP de entradas dinâmicas utilizando-se da
concepção imediata do perigo, uma vez que essas técnicas exigem maturidade
profissional e discernimento acentuado.
Nas palavras de Graves (1999, p.44, tradução nossa, grifo nosso):
Entrar em um local de fortaleza para resgatar reféns que estão sendo
mantidos por tomadores armados é a tarefa de maior perigo inerente exigida
para qualquer time de SWAT. A proficiência exige que cada membro da
equipe reaja individualmente a uma multidão de percepções confusas
e conflitantes, enquanto seguem as táticas e os procedimentos
prescritos e aderidos à lei.
Cada membro deve desempenhar responsabilidades de resgate: pensar,
observar e avaliar de forma clara e precisa; agindo decisivamente com
pouca margem de erro; identificar e discriminar indivíduos ameaçados e não
ameaçados; usando apenas a força necessária para resolver a ameaça e
controlar todas as pessoas encontradas.
Para alcançar o nível de competência exigido, é necessário ter centenas de
horas de treinamento individual e em equipe, e um compromisso contínuo
90

da Administração com esse treinamento e estado de prontidão. Mesmo


assim, as capacidades de resgate de reféns nunca alcançarão o nível que
permitirá ao comandante tático garantir o resultado de uma tentativa de
resgate dinâmico e de alto risco!
[...] O movimento não deve ser tão rápido que os membros da equipe criem
um perigo ainda maior para si mesmos e reféns, ignorando ameaças
armadas; use força mortal contra reféns ou sujeitos desarmados; crie
situações de fogo cruzado com outros membros da equipe; perca a coesão
da equipe durante a operação ou geralmente que se mova a uma
velocidade e maneira que não permita tempo a cada membro da equipe
para executar todas as tarefas efetivamente necessárias.

Em operações de recuperação de reféns, portanto em entradas dinâmicas, a


comunicação entre os operacionais deve existir sempre, porém deve imperar como
fonte primária a comunicação visual por ser muito mais rápida e precisa,
secundariamente a comunicação verbal, mas como exceção. Isso porque, evita-se
ao máximo que a atenção do policial seja dividida com estímulos externos. O policial
deve estar ao máximo concentrado em conceber precisamente as ameaças que lhe
são apresentadas, em identificar alvos atiráveis e não atiráveis, é essa a prioridade,
e esse processo também ocorre visualmente. Justamente por isso privilegia-se o uso
de supressores de ruídos nas armas de grupos de resgate de reféns, a fim de evitar
divisão da atenção do policial com o ruído da arma.
Nesse sentido somente uma equipe experiente e muito bem entrosada
conseguirá diminuir sua comunicação verbal privilegiando a visual.
Em 2002, a NTOA editou um guia de orientações para as SWATs, o qual
sugere, a grupos que atuem em tempo integral, 25 % de sua escala em treinamento.
Já para grupos que trabalham em tempo parcial, recomenda o mínimo de 16 horas
mensais.
A Associação Nacional de Oficiais Táticos recomenda que, idealmente, vinte
e cinco por cento da escala de serviço seja destinada a treinamento para
grupos que atuam em tempo integral. Sugere um mínimo de 16 horas por
mês para equipes SWAT de tempo parcial. Isso pressupõe que cada
membro da equipe tenha completado pelo menos uma escola básica SWAT
de uma semana de duração, ou estágio completo, sendo obrigado a
participar de uma escola de treinamento SWAT de uma semana a cada ano.
(NTOA, 2002, p.1)

Ou seja, em uma escala de 24 horas, pelo menos 6 horas líquidas devem ser
destinadas a treinamento, em escala de 12 horas, pelo menos 3 horas.
91

5.7.3 Deslocamento

Quanto aos procedimentos de deslocamento, os dinâmicos se assemelham


aos das entradas cobertas já explicados, exceto pelo fator velocidade que se
desmembra no conceito de rapidez.
Nas lições de Rector (2011, p. 104, tradução nossa):
Quão rápido você se movimenta? As equipes táticas têm feito esta pergunta
há anos em relação à velocidade do movimento dinâmico.
A resposta básica sempre foi "tão rápido quanto se pode disparar com
precisão". Bem, isso é apenas parcialmente correto. Os membros da equipe
só devem se mover tão rápido quanto possível, disparar, processar
informações e apoiar seus companheiros de equipe.

Portanto, valem todas as observações a respeito de rapidez em se deslocar,


no sentido de quanto mais rápido você se mover, menos capacidade de processar o
ciclo OODA terá, logo menor a capacidade de acertar disparos, discernir
informações e apoiar a equipe.

5.7.4 Contato

Apesar de ser semelhante às entradas cobertas, o contato nas entradas


dinâmicas se torna mais subjugador devido ao encurtamento da relação
espaço/tempo percorrida no deslocamento, exigindo uma resposta mais efetiva, no
intuito de controlar e dominar as ações dos marginais e reféns.
Além disso, na técnica concepção imediata do perigo, quando é encontrada
uma ameaça, o operacional ruma em direção a mesma, fechando sua distância
sobre ela. Diferentemente da inundação pela parede, em que a ameaça é engajada,
estando o policial na região próxima à parede.

5.7.5 Domínio

Domínio significa colocar a edificação em segurança da forma mais rápida


possível, ou seja, dominar todas os perigos de modo célere, ação esta estabelecida
por meios dos links visuais entre os operacionais ou mesmo entre equipes. Por
exemplo, um grupo domina um prédio de dois andares, por isso mesmo, o link será
92

a escada que liga os andares. Colocando-se o primeiro andar em segurança, um


operacional do primeiro andar aguarda abrigado próximo à escada aguarda a
chegada da equipe do segundo andar, a fim de realizar o contato de dominado.
93

6 PROCESSO DECISÓRIO DE EMPREGOS DAS ALTERNATIVAS TÁTICAS


SEGUNDO OS OBJETIVOS SMART E AS ESTRATÉGIAS.

No capítulo anterior, estudou-se as técnicas e o procedimento de entradas


táticas. Neste analisaremos a escolha das alternativas táticas segundo os objetivos
smart estabelecidos e as estratégias definidas.

6.1 Incidente de recuperação de Reféns

A International Associations of Chiefs of Police edita orientações e diretivas


para os respondedores sobre diversos temas de incidentes, entre eles consta o
Modelo de Política para Situações com Reféns. Segundo o Modelo de Política para
Situações com Reféns a IACP (2007, p.1, tradução nossa) os define como :
Refém: uma pessoa detida contra sua vontade por um suspeito armado,
potencialmente armado ou de outra forma ameaçadora, que demonstrou por
ação, palavra ou vontade expressa de prejudicar uma pessoa para obrigá-la
a agir ou deixar de agir em uma maneira em particular, ou para gratificação
pessoal.

A definição acima contenta-se com o cárcere privado com ameaça, por


consequência abarca a grave ameaça, a violência, a progessão criminosa para o
homicídio ou mesmo o homicício em curso. Formalmente para se definir o órgão
especializado responsável para o manejo do incidente a definição minimalista é
acertada e recomenda-se sua adoção.
Entretanto para fins de se manejar o incidente e traçar o objetivo smart e
estratégias necessário se faz expandi-la. É fundamental que o Comandante do
incidente identifique o mais rápido possível se o incidente trata-se de uma ocorrência
de reféns ou de pseudo-reféns. Isso tem um motivo, o risco de lesão ou morte é
maior em incidentes de pseudo-reféns do que em incidentes de reféns, circunstância
essa que influencia a tolerância de risco percebido pelo Comandante do Incidente,
logo na mudança para estratégias de incapacitação do tomador.
O Agente especial Noesner, chefe da Unidade de Negociação de Crise do
Grupo de Resposta a Incidentes Críticos do FBI, explica com propriedade em seu
impecável artigo "Negotiation Concepts for Commanders" publicado no FBI Law
94

Enforcement Bulletin, em 1999, e republicado na revista Tactical Edge da NTOA em


2000, o qual considera-se leitura obrigatória:
O FBI caracteriza todos os eventos críticos - independentemente do motivo,
da saúde mental ou do histórico criminal do sujeito - como situações de
2
reféns ou não-reféns.
Compreender a diferença entre os dois permanece primordial para resolver
pacificamente tais incidentes e isso representa a maior parte do treinamento
do FBI para comandantes. (1999, p. 7, tradução nossa, grifo nosso)

Exatamente sobre essa diferenciação, entre refém e pseudo-refém, explicam


os renomados Doutores Psicólogos e experientes Negociadores Policiais Mullins e
McMains "não é tão simples como parece, porque o que você vê não é sempre o
que você compreende em situações de crise."
Essa dificuldade em diferenciar ocorre, porque nos momentos iniciais, seja
um incidente com refém ou pseudo-refém, ambas as situações se apresentam aos
olhos dos respondedores como cárcere privado, e não como um homicídio em
curso.
Um incidente com pseudo-refém pode escalonar em violência chegando-se à
consumação muito rapidamente. Portanto fundamental que os negociadores tenham
essa percepção o mais rápido possível e distribuíam essa imagem operacional
comum ao Comandante do incidente e ao Grupo Tático, pois a abordagem do
incidente é diferente, principalmente no processo decisório e nas negociações.
São bem raros os incidentes em que prima facie é possível afirmar ser um
homicídio em curso, até porque a timeline desse tipo de delito é muito curta,
geralmente ocorrendo a consumação antes da chegada do primeiro interventor.
Noesner (1999, p. 7, tradução nossa, grifo nosso) define incidente de refém e
pseudo-refém com tamanha clareza que merece transcrição:
Situações de refém.
Durante situações de reféns, os sujeitos possuem outra pessoa ou pessoas
com o propósito de forçar o cumprimento de demandas substantivas sobre
um terceiro, geralmente a polícia.
Normalmente, os sujeitos fazem ameaças diretas ou implícitas para
prejudicar os reféns se suas demandas não forem cumpridas.
As demandas substantivas incluem coisas que os sujeitos não podem obter
por si mesmos, como dinheiro, fuga e mudanças políticas ou sociais.
Os tomadores de reféns demonstram comportamento orientado para
objetivos e propósitos. Assim, eles usam os reféns como alavanca, para
forçar a polícia a cumprir suas demandas. Embora os reféns permaneçam
em risco, o principal objetivo dos tomadores de reféns não é prejudicar
os reféns. Na verdade, os tomadores de reféns percebem que apenas
através da manutenção dos reféns vivos podem esperar alcançar seus
objetivos. Eles entendem que se prejudicarem os reféns, eles mudarão o
incidente e aumentarão a probabilidade de que as autoridades usem a força
para resolver o incidente.
95

Portanto, permanece no melhor interesse dos tomadores de reféns a


manutenção dos reféns vivos e evitar ações que possam desencadear uma
resposta violenta da polícia.
Situações de pseudo-refém.
Em contraste com as situações de reféns, em incidentes de pseudo-reféns,
os indivíduos agem de forma emocional, sem sentido e muitas vezes de
forma autodestrutiva.
Incapaz de controlar suas emoções em resposta aos muitos estressores da
vida, eles são motivados por raiva, fúria, frustração, dor, confusão ou
depressão.
Eles não têm objetivos claros e muitas vezes exibem um comportamento
indeciso e autodestrutivo. Tais indivíduos não têm nenhuma demanda
substantiva ou desejo de fuga ou possuem demandas totalmente irrealistas
para as quais eles não tem nenhuma expectativa razoável de cumprimento.
Os funcionários descontentes, os amantes e cônjuges rejeitados, os
indivíduos prejudicados, os fanáticos idealistas, os indivíduos com doenças
mentais e outros com aspirações insatisfeitas que sentem que foram
prejudicados por outros ou por fatos que se enquadram nesta ampla
categoria. O seu desagrado em suas circunstâncias os coloca em estresse
agudo e perturba sua capacidade de funcionar normalmente. Com raiva,
confusão e frustração, eles podem expressar sua raiva e desabafar suas
frustrações através de ações que as levam a entrar em conflito com a
polícia.
Em situações de pseudo-reféns, os indivíduos se embarricam ou mantêm
pessoas outras contra sua vontade, não para ganhar vantagem sobre a
polícia, para alcançar um objetivo específico, mas para expressar sua raiva
sobre os fatos ou a pessoa que detêm. Nesses casos, a pessoa que está
sendo detida tecnicamente não é um refém, usada para assegurar o
cumprimento de uma demanda, mas uma vítima que o sujeito intenciona
prejudicar. Os sujeitos que possuem vítimas, com quem normalmente têm
uma relação anterior, geralmente não têm demandas substantivas porque
não precisam nem querem nada da polícia.
O que eles querem é o que eles já têm, a vítima. Nesses casos, o sujeito
normalmente dirá à polícia: "Vá embora", "Nós não precisamos de você ou
queremos você aqui", ou "Isso não é da sua conta". O potencial de
homicídio seguido de suicídio em muitos desses casos é muito alto.
Na verdade, quando a perda de vidas ocorre durante um incidente de crise,
ocorre com maior frequência durante um evento pseudo-refém.
Os sujeitos estão claramente em crise, e a polícia deve responder a eles de
forma cuidadosa e pensativa.
As equipes de negociação de crises descobriram que para intervir
efetivamente em incidentes de pseudo-reféns, em primeiro lugar devem
demonstrar paciência e compreensão. Os negociadores compram tempo
enquanto não são ameaçadores e sem julgamentos e evitam todas as
ações que podem aumentar o confronto. Os sujeitos frequentemente
desconfiam dos motivos da polícia e manifestam altos níveis de paranóia.
Eles geralmente exibem hipervigilância e hipersensibilidade aos
movimentos policiais e podem reagir exageradamente com violência com a
menor provocação.

A conduta do tomador no cárcere privado com uso da grave ameaça,


geralmente com emprego de arma de fogo, pode evoluir em gravidade caso pratique
atos de violência física contra o refém, mas o dolo do tomador ainda é direcionado a
privação da liberdade do refém como forma de barganha. Entretanto a grave
ameaça por meio de arma de fogo, consubstancia-se em agressão injusta atual e
idônea a causar letalidade, desafiando ser repelida por meio da legitima defesa, em
96

especial a realizada por terceiros, no caso o Grupo Tático, justamente por isso o
Comandante do Incidente, na posição de garantidor, podendo, deverá evitar dois
fatos: a exposição continuada ao risco da violência ou da grave ameaça e, no caso
de progressão criminosa para o homicídio, o resultado morte.
Lado outro, a conduta do tomador em incidentes de pseudo-refens é uma
situação mais grave, pois nos momentos iniciais ela oculta as reais intenções do
tomador, que possui dolo dirigido à pratica do homicídio, animus necandi, mas que
ainda não o praticou por algum motivo. São circunstâncias e atos preparatórios que
serão revelados durante a ocorrência, na fase de negociaões, sendo muitas vezes
percebidos sutilmente somente pelos mais perspicazes negociadores. Observa-se
porém, que mesmo enquanto não percebida pelo negociadores, a vontade
inequívoca do tomador em praticar o homicídio, a grave ameaça por meio de arma
de fogo, é atual e injusta, logo desafiando ser repelida por meio letal, inclusive.
Os negociadores devem estar atentos a respeito das circunstâncias objetivas
que configuram o animus necandi, dolo de matar, com extrema clareza de
raciocínico e de detalhes são válidas as explicações de César Danilo Ribeiro de
Novais (2011), Promotor de Justiça, citando Nelson Hungria e ainda o texto de
Oliveira, O Delito de Matar:
Questão tormentosa no processo criminal, cujo objeto é o crime de
homicídio, na sua forma tentada ou consumada, é a demonstração da
vontade assassina, já que, ao tempo do crime, era ela albergada pelo
claustro psíquico do agente.
Avulta, então, esta importante indagação: como constatar o dolo de matar?
Responde Nelson Hungria: "trata-se de um factum internum, e desde que
não é possível pesquisá-lo no ''foro íntimo'' do agente, tem-se de inferi-lo
dos elementos e circunstâncias do fato externo. O sentido da ação (ou
omissão) é, na grande maioria dos casos, inequívoco. Quando o evento
morte está em íntima conexão com os meios empregados, de modo que ao
espírito do agente não podia deixar de apresentar-se como resultado
necessário, ou ordinário, da ação criminosa, seria inútil, como diz
Impallomeni, alegar-se que não houve animus occidendi: o fato atestará
sempre, inflexivelmente, que o acusado, a não ser que se trate de um louco,
agiu sabendo que o evento letal seria a conseqüência da sua ação e,
portanto, quis matar. É sobre pressuposto de fato, em qualquer caso, que há
de assentar o processo lógico pelo qual se deduz o dolo distintivo do
homicídio" (HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Vol. V. Rio de
Janeiro: Forense, 1958).
Resposta semelhante é apresentada por Olavo Oliveira: "a vontade de
matar, fenômeno interno, deve ser evidenciado pelos atos externos que o
corporificam: a maneira da execução do fato, os motivos do crime, os
instrumentos empregados, o número e a direção dos golpes vibrados, a
distância entre o ofensor e a vítima, as relações existentes entre os dois, a
importância das lesões causadas, a vida pregressa do réu, o seu posterior
procedimento e a diagnose da sua personalidade" (OLIVEIRA. O Delito de
Matar. São Paulo: Saraiva, 1962).
97

Não é difícil compreender, assim, que a definição do elemento subjetivo do


crime depende dos fatores objetivos que gravitam ao redor do evento
delituoso, ou seja, torna-se imperiosa a análise do revolvimento fático-
probatório residente nos autos.
Isso significa dizer que os fatos antecedentes (ex.: animosidade entre réu e
vítima, ameaça etc.), concomitantes (ex.: arma utilizada, número de ações,
área corpórea visada etc.) e supervenientes (ex.: fuga do local, omissão de
socorro, ameaça etc.) ao crime devem ser bem examinados, tendo por
parâmetro as provas pericial, testemunhal, indiciária et al.

Além da configuração das circunstâncias, entender o surgimento do momento


dos atos preparatórios mais relevantes para a classificação do dolo são de crucial
importância para os negociadores, muito bem explicado por Bitencourt (2012, p.
1.162):
A doutrina andou insistentemente em busca de regras gerais que
distinguissem atos preparatórios e executórios com alguma precisão. Vários
foram os critérios propostos para a diferenciação. Alguns autores
consideraram os atos remotos ou distantes como meramente preparatórios,
uma vez que não seriam perigosos em si, enquanto os atos mais próximos
seriam executórios, pois colocariam em risco o bem jurídico. Os distantes
seriam equívocos e os próximos (executórios) seriam inequívocos. E, à
medida que os atos distantes se aproximam do momento executório, vão
perdendo o seu caráter equívoco e tornando-se, cada vez mais, expressão
inequívoca de uma vontade criminosa dirigida a um fim determinado,
merecedora da atenção da justiça penal.

Nesse sentido andou bem Rogério Sanches ( 2015, p. 335) em citar a Teoria
Objetivo-Individual de Zafaroni e na sequência a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, merecendo a transcrição:
Teoria objetivo-individual
Preconizada por Eugênio Raúl Zaffaroni, entende como atos executórios
aqueles que, de acordo com o plano do agente, realizam-se no período
imediatamente anterior ao começo da execução típica. Trata-se de um
ajuste buscando complementar o critério objetivo-formal.
"De acordo com este critério, para estabelecer a diferença leva-se em conta
o plano concreto do autor (daí a razão do 'individual'), não se podendo
distinguir entre ato executório e preparatório sem a consideração do plano
concreto do autor, o que nos parece mais acerrado".
O fato de JOÃO escalar o muro é ato anterior à subtração, porém
inequívoco na demonstração da sua intenção criminosa, autorizando, a
partir desse instante, a sua punição.
Esta é a teoria adotada pela doutrina moderna, reconhecida, inclusive, pelo
STJ :
"FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE A GENTES.
Uso de barra de ferro para ingresso em residência de terceiro com "animus
furandi". Não consumação do ingresso por interferência de terceiros. Atos
que se caracterizam como início de execução. Recurso conhecido e
236
provido. " .
Note-se que, no exemplo decidido pelo tribunal, a adoção da teoria objetivo-
formal conduziria à atipicidade da conduta, uma vez que, embora o ingresso
no domicílio alheio tivesse por intenção o furto, o núcleo do tipo penal ainda
não havia sido praticado (restaria a possibilidade de punir o agente somente
pelo crime de invasão de domicílio - art. 1 50, CP) .
98

Essa teoria objetivo-individual é importantíssima para a atividade de


recuperação de reféns, pois amplia a timeline para se autorizar uma intervenção de
incapacitação, uma vez que leva em consideração o plano concreto do autor,
abarcando circunstâncias e atos anteriores ao verbo núcleo do tipo. Esse tempo
anterior para se agir, antes que o autor se aproxime da consumação, é
importantíssimo, a fim de possibilitar o surgimento da windows of opportunity - janela
de oportunidade, momento de ouro para se iniciar a intervenção, visando a
segurança para o refém e o sucesso da operação.
É importante observar que essas teorias que buscam diferenciar atos
executórios dos preparatórios, buscam realizar essa diferenciação, porque somente
são punidos os atos executórios, não importando para efeitos de punição os atos
preparatórios. Contudo, para as Ciências Políciais, as circunstâncias e os atos
preparatórios ganham extrema relevância, pois delimitam graus diferentes de risco
para os reféns: alto, altíssimo e insuportável.
Ocorrências com reféns ou pseudo-reféns, quando simplesmente presente a
grave ameaça ou a violência, são consideradas de alto risco, portanto, pelo menos,
uma ação de incapacitação deve ser considerada no processo decisório do
Comadante do Incidente.
Nos casos de refém com progressão criminosa para homicídio ou pseudo-
refém, constatados os primeiros atos preparatórios inequívocos da vontade de matar,
ingressa-se no altíssimo risco. Neste caso, persistindo um processo de negociação
que não progride no sentido de libertar o refém, uma operação de recuperação de
reféns passa a ser necessária para salvá-lo.
Se a ameaça às vítimas é baixa, então as ações táticas de alto risco são
desaconselháveis e difíceis de defender. Se a ameaça para as vítimas for
maior, então a ação tática efetiva do risco é mais fácil de defender e deve,
pelo menos, ser considerada. Finalmente, se a ameaça para as vítimas for
muito alta, possivelmente será necessária uma ação tática de alto risco; Os
comandantes podem não ter escolha. (NOESNER, 2000, p. 32)

Por fim, o risco insuportável surge com o início da conduta núcleo do tipo, no
caso o verbo matar. Aguardar a realização da conduta de matar, para se então
autorizar uma intervenção, e após isso, esperar o surgimento de uma janela de
oportunidade é correr riscos insuportáveis para salvar o refém e para o sucesso da
operação. Nestas situações além do perigo atual, o dano é iminente.
Em situações como essas, de risco insuportavel, não há quase nada a se
fazer taticamente com segurança, pois não existe tempo para surgir a oportunidade
99

ou a janela de oportunidade, hava vista a iminência do dano. Por isso a ideia de que
somente seja possível autorizar uma intervenção de incapacitação, quando,
ingressa-se pelo menos na tentativa, por exemplo, quando o suspeito aciona o
gatilho da arma e apontada para a cabeça da vítima é teratológico.
Portanto a teoria adotado pelo Codigo Penal Objetivo Formal, que exige a
realização do verbo núcleo, pode ser utilizada com o vies garantista, a fim de evitar
uma punição, mas de longe pode ser utilizada para ditar o momento de agressão
iminente, a fim de se salvar à vida dos reféns. Portanto, afigura-se descabido o
pensamento doutrinário que exigue grau de tentativa para configuração da iminência
da agressão, porque dificulta o salvamento dos reféns.
Nesse sentido OLIVÉ, PAZ, OLIVEIRA e BRITO (2011, p.402)
"O caráter atual ou iminente da agressão exige que se determine o
momento no qual dita agressão começa e termina, para os fins de legítima
defesa. Quanto ao momento do começo, uma parte da doutrina exige a
realização do delito em grau de tentativa. Entretanto, esta posição exclui
determinadas condutas, como alguns atos preparatórios que evidenciam
uma tentativa iminente, ou as hipóteses de não serem consideradas como
parte de uma autêntica agressão, dificultar-se-ia enormemente as
possibilidades de defesa (conforme Roxin) . Por este motivo, deve-se
incorporar a fase final dos atos preparatórios, mas não os momentos
144
anteriores, nem a tentativa inidônea" . (apud SANCHES, 2015, p.259)

Ou seja, este autor, entende que a régua para se aferir a iminência do animus
necandi seja pelo menos a teoria objetivo-individual de Zafaroni. Diagnósticado
altissimo risco, com o primeiro ato idôneo e inequívoco dirigido à pratica homicida,
segundo esta teoria, a policia podendo deve agir, não somente porque tem a
capacidade de sucesso, mas porque a ação é objetivamente necessária para salvar
o refém, sob pena de enveredar-se no risco insuportavel.
Em resumo, a diferenciação é importantíssima, uma vez que num incidente de
refém (cárcere privado), o sujeito usa o refém como alavanca para alcançar suas
demandas, existindo barganha; lado outro, num incidente de pseudo-refém
(homicídio em curso), o sujeito dirige seu agressão contra a vítima ou contra si. A
consequência disso é a existencia de riscos diferentes.
Superada essa diferenciação, utilizaremos o apenas o termo refém de forma
genérica abarcando o conceito de pseudo-refem.
Seja como for, interessante notar que o objetivo smart se foca, no sentido da
mobilização de recursos, para salvar o refém, o que faz com que a incapacitação do
tomador seja apenas um meio para se atingir esse objetivo, e não um fim em si.
100

As operações de recuperação de reféns possuem o processo de definição


dos objetivos e das estratégias de forma peculiar, uma vez que são definidos do final
para o começo. De outra forma, uma operação de mandado de busca é planejada do
começo para o fim, uma vez que são considerados dados como histórico criminal,
tipo de crime que ocorre, quantidade de pessoas, etc, ações essas similares a uma
anamnésia.
Utilizando como doutrina principal o ciclo P do NIMS 2017, porém
especificando o gerenciamento de incidentes com reféns, Heal (2012, p.88) sugere
dividi-lo em cinco fases: 1) Planejamento, 2) Ensaio, 3) Movimento, 4) Assalto e 5)
Retirada.

6.1.1 Planejamento

Quando a polícia é concitada a gerenciar este tipo de fato, dá-se o nome de


Incidente de Recuperação de Reféns. Nesse sentido, o Comandante do Incidente
foca esforços em estabelecer objetivos smart que garantam a segurança dos reféns.
Segundo Heal (2012, p. 88), em regra, há cinco formas de atingir a
recuperação de reféns de forma segura:
1) Liberação: alcançada pela negociação ou ação voluntária do tomador.
2) Resgate: esforço para garantir a segurança do refém, removendo-o do
risco propiciado pelo tomador.
3) Neutralização: esforço para garantir a segurança do refém por meio da
incapacitação do tomador em causar mal injusto ou grave. Em regra, a neutralização
é atingida com a morte do tomador, porém, a tecnologia não letal está em constante
evolução e, talvez um dia, possa superar o índice de eficácia de debilitação, uma vez
que, por melhores que sejam, apresentam falhas significativas na ordem de 5% a
30%.
4) Proteção: resolução por meio da separação entre o refém e o tomador,
geralmente por meio de uma proteção / abrigo.
5) Distração: envolve criar um engodo ou uma distração do tomador,
permitindo que o refém consiga se salvar, escapando ou removendo-se do perigo.
Nesse sentido busca-se a vitória, não a luta, segundo as lições de Sun-Tzu
(2005, p. 33):
101

Capturar o exército inimigo ou pegar um batalhão, uma companhia ou


um esquadrão de cinco homens intactos é melhor que destruí-los. Vencer
cem vezes em cem batalhas não é o auge da habilidade, mas sim subjugar
o inimigo sem precisar lutar.

Percebe-se que a recuperação de reféns é gênero da qual o resgate é


espécie. Portanto, utilizá-lo é um termo que limita um entendimento mais
abrangente, já que existem outras táticas capazes de garantir a segurança dos
reféns. Nesse sentido, nos diz Heal (2015, p. 26, tradução nossa):
Assim, o termo resgate de reféns é limitado, pois isso implica um único
curso de ação.
As conotações mais amplas do termo recuperação de reféns são preferidas
para evitar pensamentos e ideias limitantes ou encerrando métodos e
procedimentos.
É simpático para aqueles que procuram o reconhecimento e a estima da
opinião pública, mas não o investimento de estudo e de esforço, para
expressar com confiança conceitos complexos como se fossem
vulgaridades. Da mesma forma, aqueles com agendas tendenciosas
enganam-se com a percepção de que a ciência tática é facilmente
dominada. Eles com entusiasmo citam o vulgar em apoio à compreensão
superficial das complexidades envolvidas. Os verdadeiros profissionais
reconhecem a importância crítica de uma terminologia precisa no diálogo
profissional.

A Política de Modelo para situações com reféns da IACP (2007, p.1, tradução
nossa, grifo nosso) estabelece como estratégia a possibilidade de uso de força letal,
seguindo a sua "Prioridade de Segurança" - reféns, inocente, policial e tomador:
ESTRATÉGIA DE RESOLUÇÃO
Esta agência deve agir diretamente e inclusive usar a força letal para
garantir a libertação segura de um refém enfrentando um perigo letal ou a
comissão dessa classe de infração segundo o estatuto que justifica o uso de
força letal para prevenir ou parar.
O progresso positivo deve ser definido como os desenvolvimentos que
aumentam a probabilidade de libertação segura dos reféns, em
oposição à mera passagem do tempo.
Embora seja verdade que a passagem do tempo possa aumentar a
oportunidade para tais desenvolvimentos, também é verdade que uma
oportunidade de resgate viável apresentada e ignorada pode ser perdida
para sempre.

Seguindo o gerenciamento por objetivos, constante no NIMS 2017 e no


modelo Ciclo P, ao se realizar o briefing inicial do incidente – para a transferência do
comando do Emergencial para o Efetivo – já ocorre o estabelecimento de certos
objetivos smart e de certas estratégias, até que um novo ciclo P se retroalimente ou
que seja aprovado um plano de ação do incidente. Em seguida, inicia-se o
planejamento das táticas que serão empregadas para realizar as estratégias
selecionadas e os objetivos declarados.
102

O Estado de São Paulo reconheceu, no GATE, o fomento do Sistema de


Desempenho Humano composto pelos aspectos Humanos - TTP - Equipamentos,
de forma a oferecer para a sociedade um conjunto de ferramentas eficientes para a
gestão de incidentes com reféns chamadas de Alternativas Táticas, a saber:
1) Negociação;
2) Táticas Não Letais;
3) Tiro de Comprometimento;
4) Entradas Tática.
Segundo Mascarenhas (2002, p. 47), a estrutura que temos de Alternativas
Táticas se consolidou em 1979:
O FBI (1979) sugeriu 04 opções disponíveis para a Polícia quando houver
uma situação negociável. Cada uma delas tem suas vantagens e
desvantagens:
contenção e negociação;
agentes químicos;
atiradores de elite selecionados; e
assalto do local.

Para Toledo (2002):


A cada nova alternativa usada, aumenta o grau de complexidade e de risco
da ação. O sucesso na resolução da crise está intimamente relacionado
com o uso integrado das alternativas táticas, possibilitando a diminuição do
risco de vida ao qual o refém, os policiais, os transeuntes e os criminosos
serão submetidos.

Figura 27

Toledo (2002) Apresentação curso Ações Táticas Especiais


103

6.1.1.1 Mudanças de estratégia: da negociação real para o uso da letalidade


como solução estratégica, prós e contra.

Mascarenhas (2002, p. 134) citando dados do FBI assevera estimar que 87%
dos incidentes com reféns são resolvidos por meio do processo de negociação.
Entretanto Heal (2001, p.20) traz observação relevante sobre esses números a qual
concordo, que, "embora não exista um estudo conhecido que valide esse quadro,
praticamente todos os especialistas em assuntos na comunidade de SWAT não
contestariam que a grande maioria das operações de recuperação de reféns são
resolvidas sem uma intervenção tática".
Na negociação real busca-se a resolução pelo convencimento do negociador,
mas também envolve papel tático de extrema relevância. Um exemplo disso é o
prolongamento do tempo, a fim de que a equipe se prepare para uma entrada tática,
como também coleta de dados de forma precisa, identificação de alvo e avaliações
de ameaças, hábitos de exposição do tomador, informações essas que na maioria
das vezes somente são conseguidas pelo elemento negociador.
Heal (2001, p. 20) explica com excelente poder de síntese que "recusar-se a
negociar torna-se não apenas irracional, mas indefensável. Irracional porque sem
informações e dilação de tempo diminuem as possibilidades de sucesso da
intervenção letal, indefensável porque essa diminuição de eficiência preparatória
para a intervenção letal será cobrada judicialmente.”
Heal (2001, p.20) também lembra que há muitos anos surgiu uma escola de
pensamento que sugeria que as negociações deviam persistir até que ocorresse o
fracasso incontestável, quando existisse risco insuportável para o refém. Isso faz
lembrar o que denomino de "síndrome do fio elástico", a qual acomete as
autoridades com poder de decisão. Certa vez, um antigo Comandante relatou que as
ocorrências com reféns são iguais a um fio elástico – as autoridades querem que
você estique, prorrogue as negociações, estique, estique mais o fio elástico. Aí, na
hora em que a situação está insuportável, na hora em que o fio está prestes a
arrebentar e o dano iminente, quando não há mais nada taticamente seguro a ser
feito, querem que você intervenha em meio ao caos, entre e salve o refém. Como
explica Heal criticando-os (2001, p. 20, tradução nossa): “para os defensores dessa
corrente as palavras nunca machucaram ou mataram ninguém".
104

Os defensores dessa escola de pensamento, de modo pragmático, escoram-


se nas porcentagens de sucesso da negociação, mas essas porcentagens não
possuem base científica que as valide, porque cada evento com reféns é um
conjunto de circunstâncias únicas e temporárias. Únicas, porque cada circunstância
depende de cada um dos fatores que estão presentes em um determinado tempo e
local. Temporárias, porque um resultado qualquer afeta o próximo conjunto de
circunstâncias em uma sucessão de eventos irreversível.
Por isso mesmo, as ocorrências pesquisadas que apontaram o sucesso das
negociações podem em nada se assemelhar com as circunstâncias que exigiram
uma intervenção letal.
Importante salientar que a adoção de posições estratégicas extremadas,
baseadas no sempre ou nunca, são inconcebíveis no gerenciamento de incidentes
com reféns. Por conseguinte, assumir esse pensamento de negociar até o fracasso
das negociações exige algumas premissas, sendo que elencaremos apenas cinco
que abordam consideravelmente a questão.
Primeiramente, é fundamental que o tomador tenha capacidade de
entendimento e de autodeterminação (imputabilidade) no momento do incidente, que
não esteja sob influência de álcool, drogas, que não possua uma doença mental, etc.
Essas informações não são percebidas de pronto, em regra chegam tempo depois
da evolução do incidente e, em algumas ocasiões, nem chegam até o término da
crise. Muitas vezes, somente após uma necropsia do tomador ou de um exame
médico detalhado são detectadas essas alterações. Interessante estudo seria
pesquisar quantas negociações foram estendidas com indivíduos julgados semi
imputáveis ou inimputáveis posteriormente. Nestes casos de semi imputabilidade e
inimputabilidade será possível ou racional uma negociação? Reféns com tomadores
que possuem sua capacidade de autodeterminação afetada estão em risco?
Segundo, os tomadores devem estar dispostos a negociar. Mesmo dotados de
entendimento e de autodeterminação essa disposição para negociar nem sempre
ocorre. Um exemplo disso são os terroristas fundamentalistas, condenados que se
recusam a voltar para a prisão devido a altas penas penas, suicidas, homicidas,
casos passionais, etc. Nestes casos se não querem negociar, teremos uma
negociação ou mera passagem (perda) de tempo, logo perda de opotunidades?
Um terceiro ponto, negociar até o fracasso das negociações pressupõe que
as oportunidades táticas que aparecerem para salvar o refém serão ignoradas. Os
105

negociadores devem possuir Indicadores de Desempenho, capazes de avaliar a


evolução de um processo de negociação. Quando, na ausência de um processo
positivo nas negociações no sentido de aumentar a possibilidade de libertação dos
reféns, opta-se por manter uma negociação real, mesmo que seja apenas perda de
tempo, ignora-se, na verdade, oportunidades que podem nunca mais voltar,
permitindo-se a exposição dos reféns ao risco continuado ou até à morte, quando se
podia e devia evitar o resultado.
A quarta questão, o Comandante do Incidente ao negociar in extremis aceita
certo risco para os reféns, porque ao ignorar oportunidades táticas de salvá-los os
renega à exposição continuada ao perigo. Essa premissa se afigura como
consequência da perda da janela de oportunidade. Se um comandante, em uma
negociação a qual não apresenta progresso positivo para a libertação, continua na
mesma estratégia do "vamos negociar mais um pouquinho" ou "negociamos,
negociamos e negociamos mais um pouco", ele assume o risco de inverter a ordem
de prioridade de vida, pois, agindo assim, foca na tentativa de minimizar os danos
para o tomador, às custas da exposição continuada dos reféns à violência ou à grave
ameaça do tomador, quando podia e devia evitar o resultado, inclusive o de morte.
Por fim, o quinto ponto, negociar até a exaustão é admitir a falha no processo,
qualquer processo levado ao extremo ou à falha é inerentemente deficiente. Nesse
contexto pertinente lembrar a "síndrome do fio elástico", que acomete as autoridades
com poder de decisão. Continuar uma negociação que não evolui positivamente
para a libertação dos reféns significa assumir o risco de levar a alternativa da
negociação ao extremo, ou seja, até sua falha. Quando o dano estiver iminente,
quando não mais houver o que negociar, aí autorizam a intervenção letal. Entretanto
essa ordem inoportuna deferida nesse momento de risco insuportável, as chances
de fracasso de uma intervenção são enormes, arriscando a vida dos reféns e dos
policiais. Não se deve esperar o risco se tornar insuportável, quando se tornar
insuportável quase nada há o que se fazer com segurança, porque não existirá
tempo para o surgimente de uma janela de oportunidade.
Agir apenas quando o tomador estiver muito próximo da consumação, já
executando atos executórios do homicidio é uma intervenção atrasada, inoportuna,
que beira ao fracasso. Justamente por isso a autorização de uma intervenção letal
deve ser deferida com razoável antecedência, a fim de possibilitar o surgimento da
windows of opportunity. O início de uma operação letal não se confunde com a
106

autorização de uma intervenção letal, está deverá ocorrer com antecedência


suficiente, a fim daquela ser iniciada com o surgimento da oportunidade.
Realizar a entrada tática com uso da letalidade também tem suas premissas,
a saber:
Primeiro, a entrada tática se afigura como última alternativa, ultima ratio. Ou
seja, quando todas as outras táticas não foram suficientes para salvar o refém,
porque carrega consigo um risco todo próprio, sendo a perfeição algo ilusório.
Segundo, quando a entrada tática for empregada, sempre haverá críticas de
pessoas dizendo que as negociações, caso tivessem continuado, teriam evitado a
intervenção letal. Essas opiniões são impulsionadas por especialistas em segurança,
contratados e pagos e que emitem opiniões favoráveis ou contrárias para qualquer
coisa.
Terceiro, uma falha nas negociações geralmente pode ser corrigida,
entretanto, uma falha na intervenção tática é irreversível.
Quarto, de forma pragmática, as negociações possuem menor risco e maior
probabilidade de sucesso, em que pese cada incidente ser um conjunto de
circunstâncias únicas e temporárias.
A opção por negociar ou intervir deve se basear no que é conhecido sobre a
situação e em suas circunstâncias objetivamente apresentadas. Mesmo assim, essa
decisão também exigirá pressupostos de aceitação de riscos, independentemente de
qual seja a escolha. São decisões difíceis e na maioria das vezes baseadas em
informações incompletas, ambíguas, não confiáveis e até conflitantes.
A premissa de que a negociação é uma alternativa superior as outras
alternativas é equivocada, todas são iguais e possuem hora e lugar para serem
empregadas, com prós e contra, elas não competem entre si. A superioridade
apenas deve ser dada ao entendimento da ordem de Prioridade de Segurança, em
benefício do refém.
Figura 28

Fonte: Heal (2001, p.20). A figura ilustra a parceria igualitária compartilhada pela negociação e pelos componentes
táticos. Porque a oportunidade e não o tempo é a influência controladora, qualquer opção viável pode ser explorado por
negociadores ou membros da equipe tática para alcançar o sucesso. Como um fio elétrico de “par trançado”, eles não
são apenas ambos orientados na mesma direção, mas entrelaçado e inseparáveis.
107

6.1.1.2 Sensibilidade ao tempo.

Heal (2001, p. 21) explica que as crises, assim como suas decisões
decorrentes, são sensíveis ao tempo. O ciclo OODA e o P se retroalimentam a todo
instante, o que obriga o Comandante do Incidente a estar atento para não tomar
decisões atrasadas, aquelas que empenham valiosos recursos, mas que não surtem
efeito porque inoportunas, já que o cenário é dinâmico.
Por isso mesmo, a falta de ação permitirá apenas que o incidente evolua.
Incidentes com reféns são qualificados pelo risco – portanto crises –, que se
caracterizam pelo conflito de interesse entre o tomador e o comandante, devendo
aquele ser subjugado e preso. Nesse sentido, frente a uma competição pela disputa
do tempo entre o tomador e o comandante, nada a fazer significa dar ao suspeito a
possibilidade de utilizar o tempo a seu favor. Ou seja, o tempo que a polícia não
utiliza ao seu favor é utilizado pelo tomador.
Logo, essa utilização do tempo disputado chamamos de "ter a iniciativa" no
ciclo OODA, saindo-se de uma postura reativa em direção a uma proativa. Ter a
iniciativa garante uma posição de vantagem no ciclo decisório consubstanciada na
vantagem de se aproveitar as oportunidades que surgirem. Pode-se afirmar que é
esse o cenário mais seguro para se levar a cabo uma intervenção letal e, por isso, é
necessário desafiar a iniciativa das ações em todas as alternativas táticas.
Oportunidades aparecerão aleatoriamente, de forma fugaz e é imperdoável deixar
que sejam perdidas no tempo, pois nunca mais voltam.
Nesse sentido "a síndrome do fio elástico" faz todo o sentido, uma vez que
quando o risco estiver insuportável, ou seja, quando o tomador já praticou vários
atos de execução, mas ainda sem atingir o resultado, chega-se a autorização para a
intervenção letal. Nesse caso, quando as autoridades deixaram o risco se tornar
insuportável e agora o dano é iminente, estaremos reativos a uma ação, pois o
tempo foi utilizado pelo marginal. Prova disso é quando o tomador já praticou atos
de execução e já tangência a produção do resultado de matar os reféns e, as
autoridades, antes descrentes, resolvem agora autorizar a intervenção a qualquer
custo. Qual é o espaço de tempo entre o período que medeia a autorização e a
produção do resultado homicida? Nenhuma! Portanto, nenhuma oportunidade será
utilizada pela polícia, porque não lhe foi autorizado o uso do tempo a seu favor e,
108

com isso, perdeu-se a iniciativa de salvar o refém, perdeu-se a oportunidade. É


notório, nessa hipótese, que a ordem de intervenção letal foi inoportuna, atrasada,
qualquer intervenção do grupo de entrada tenderá ao fracasso.
Nessa situação inoportuna, a única condição favorável que teremos é o
treinamento preventivo proporcionado pelo fomento do Estado, ao eleger o GATE
como nicho para desenvolver o sistema de desempenho humano, mas isso não
basta, imprescindível agir com iniciativa, a fim de se utilizar as oportunidades. De
nada adianta que os Comandantes do Incidente sejam muitas vezes escolhidos
porque simplesmente ascenderam a postos elevados na carreira, pois isso não lhes
garante capacidade técnica para decidir bem em situações crises policiais em geral.
Nesse sentido, corretamente a Diretriz N° PM3-001/02/13 definiu ser o
Comandante Efetivo do incidente o oficial designado pelo Comandante do
Policiamento de Choque, a fim de decidir, com base em recursos técnicos, a linha de
ação mais adequada para a consecução dos objetivos independente de ser a
autoridade de maior hierarquia no local.
Por fim, ressalta-se que em nenhum momento se incentiva ou não o uso da
negociação real ou da intervenção letal – as alternativas estão em igualdades de
valores, como já explicado. Entretanto, são as circunstâncias do incidente que
ditarão qual a melhor abordagem a ser utilizada na totalidade das circunstâncias, em
prol do benefício de salvar as vidas dos reféns, sem que se inverta a ordem de
prioridade de segurança, e isso é responsabilidade do Comandante do Incidente.

6.1.2 Ensaio.

O uso das entradas táticas é algo complexo e que deve ser ensaiado, a fim de
detectar falhas no processo do planejamento e do plano. Por isso, devem ser
utilizados, nesses ensaios, equipamentos, armas, rádios, colete, etc, que serão
utilizados na operação real.
Heal (2012, p. 89) recomenda que, pelo menos uma vez, ocorra um ensaio
em tempo real, com a imprescindível planta da edificação, a fim de verificar como a
equipe flui e quais são os pontos de gargalo e de confusão que possam atrasar o
domínio da fortaleza. A aferição do tempo de domínio é fundamental no processo de
ensaio e deve ser recomendada a regra dos 60 segundos, explicada anteriormente.
109

A planta de chão é muito importante, não somente para o treinamento de fluir,


mas também para quantificar o número de policiais necessários para se dominar
com velocidade a edificação, uma vez que não é o tamanho que dita a quantidade
de policiais, mas sim a complexidade da planta.
Diferente de outras operações, a velocidade de dominação de uma fortaleza,
de forma segura, torna-se fundamento, sendo o ensaio momento de aferir essa
velocidade. Por isso, é sempre recomendável trocar profundidade de deslocamento
por múltiplas equipes de entradas, que realizam entradas de superfície, ou seja, nos
cômodos de primeiro acesso. Assim sendo, toda entrada tática deve prever, pelo
menos, um acesso principal e outro alternativo, caso o primeiro falhe ou esteja
embarricado.
A substituição da profundidade de deslocamento por acessos de superfície e
a previsão de mais de uma entrada se inserem no conceito de entradas no formato
de swarm (enxame) ou no formato break and rake (brechas secundárias limitadas)
que fazem total diferença.
Haynes (1999, p. 112, tradução nossa) as conceitua como:
Swarm Assault: Esta técnica de assalto foi desenvolvida pelas unidades
táticas de Israel e é caracterizada pela penetração simultânea do local da
crise a partir de numerosos pontos de acesso. Isso é projetado para
dominar os perpetradores, confrontando-os com ameaças múltiplas e
simultâneas que os obrigam a dividir sua atenção e interromper sua
concentração.

Esse procedimento se assemelha ao enxame entrando numa colmeia: várias


aberturas, pelo primeiro andar, porta da frente, porta dos fundo, pelo segundo andar,
etc. Tal técnica, assim, visa realizar entradas mais superficiais, evitando perder
tempo com o deslocamento e varredura. Precisa ter efetivo disponível, é claro, mas
por isso os grupos de resgate de reféns se diferenciam dos demais.
Por sua vez, break and rake (brechas secundárias limitadas) é uma técnica de
brechas secundária, em regra de penetração limitada, que consiste em romper
janelas, vidros, basculantes permitindo acessos e varreduras de cômodos. É
realizada normalmente pela ferramenta chamada break and rake, utilizada para
romper o vidro e raspar o batente, retirando-os, além de fisgar persianas e cortinhas.
Essa técnica permite que o cômodo seja varrido, ou que o tomador seja neutralizado
por meio da brecha, minimizando riscos. O acesso break and rake (brecha
secundárias) pode ser realizado com cargas explosivas e outras ferramentas
também de arrombamento.
110

Um exemplo bastante eficiente do seu uso: em um apartamento, a entrada


principal ocorrerá pela sala, a entrada secundária pela porta de serviço, os quartos
dos fundos estão muito distantes, são três e localizados ao final de um corredor,
existindo também a janela de um banheiro. As janelas dos quartos e do banheiro são
propícias para brechas secundárias com entrada limitada e, caso o tomador corra
para um desses acessos, será incapacitado. Desse modo, a fortaleza será dominada
com menor risco.

6.1.3 Movimento

Tem-se dois tipos de movimento ou deslocamento.


O movimento para o objetivo: é o deslocamento apenas para posicionamento
e aguardo em uma área próxima, caso exista a necessidade de uma resposta
emergencial. Não é incomum a equipe aguardar por horas nesse local à espera de
ordens.
O movimento de contato: é o movimento de posicionamento em área crítica,
pouco antes de se iniciar um assalto. Muitas vezes é iniciado de forma furtiva, a fim
de se aproximar o máximo possível do objetivo. No entanto, algumas vezes o sigilo
termina, o que obriga a mudança para entrada dinâmica.

6.1.4 Assalto

Quando todas as outras alternativas falharam e vidas estão em perigo, entra


em cena a Quarta Alternativa, também chamada de Invasão Tática, Assalto, Time
Tática, Intervenção ou Entrada Tática. Prefere-se Entrada Tática, assim como Tiro
de Comprometimento ou Negociação Tática ou Real, nomeando-se a tática
cientificamente comprovada, e não as pessoas que a executam.
A fase é o assalto, mas num assalto podem ser utilizadas diversas táticas, por
exemplo, a negociação tática, o tiro de comprometimento, etc. Isso porque, ao se
realizar a reunião de planejamento tático e definir o plano, o Comandante do Grupo
Tático emite um juízo de valor, assumindo a responsabilidade pelo objetivo tático
smart declarado, de forma a restringir o espaço amostral de técnicas e procedimento
111

disponível para a reunião do planejamento operacional. Esse procedimento vincula o


plano operacional e seus executores.
Portanto, não se trata de um cheque em branco. Ao ser definido o uso da
Alternativa Tática – chamada de Entrada Tática Coberta ou Entrada Tática Dinâmica
– , por exemplo, segue-se data, hora e demais características smart e é essa a ideia
subjacente à escolha do termo. Isso posto, parece que a classificação tática se
assemelha à biologia: reino, filo, classe, ordem família, gênero e espécie.
Entretanto, o modo de execução dessa tática é assunto para o planejamento
de operações, que também possui seus objetivos smart. Em juízo ou em relatórios
técnicos, o Comandante do Grupo Tático que definiu a tática mais adequada ao
caso, responde pela sua escolha, não pelas pessoas que a executaram, justamente
por isso se prefere a denominação da tática utilizada. E aqui então, iniciam-se as
responsabilidades, conforme a hierarquia funcional dentro do contexto do incidente,
autoria intelectual, autoria material, coautoria, etc.
Para se autorizar o plano tático de uma entrada tática dinâmica de
recuperação de reféns, é imprescindível existir elementos de surpresa, velocidade e
ação de choque. Caso alguns desses elementos esteja ausente, o risco de levar a
cabo uma operação se torna muito alto. Essa identificação é responsabilidade do
Comandante de Grupo Tático. Nessas situações, quando do planejamento
identificou-se a impossibilidade de alguns desses elementos, a entrada não é a
solução mais adequada, nada deve ser feito porque taticamente não é correto.
Talvez a melhor opção não seja a entrada e sim a retirada do suspeito da fortaleza.
Destarte, a autorização da entrada tática fica condicionada aos elementos
surpresa, velocidade e ação de choque, mas o início da fase de assalto ocorrerá
com o surgimento da janela de oportunidade, que funciona como poderosa
circunstância catalisadora para o desfexo favorável da operação. Justamente por
isso, o Comandante do Incidente deve autorizar uma intervenção letal com razoável
antecedência, a fim de que esses três elementos possam se beneficiar do efeito
catalítico da oportunidade, propiciando significativo efeito sinergético para o sucesso
da operação.
Por fim, um assalto de emergência pode ser necessário, sendo planejado por
meio de um plano de resposta emergencial. Para Heal (2001, p 21) a equipe deve
ser capaz de iniciá-lo em 10 segundos caso necessário.
112

6.1.5 Retirada e processamento de reféns

Em meio ao caos, todos são suspeitos, logo necessário passar todos pela
área de processamento de reféns, todos devem passar por busca pessoal e
atendimento médico. A busca pessoal visa localizar materiais perigosos em poder
dos reféns que podem ter se apoderado em decorrência da síndrome de Estocolmo.
Deve ser previsto o acesso à área de processamento por médicos e enfermeiros, a
fim de tratar pessoas com necessidades especiais ou que estejam com dificuldade
de locomoção.

6.2 Incidente de suspeito ou pessoas embarricadas

Existem basicamente dois tipos de incidentes com embarricamento: o


suspeito embarricado e a pessoa embarricada. Ambos se afiguram como situações
perigosas e sua principal diferença com os incidentes de reféns e os incidentes de
mandados de busca & varreduras está na ordem de prioridade de segurança,
teremos apenas a terceira prioridade e a quarta, respectivamente o policial e o
suspeito / pessoa.
Tal procedimento causará impacto no planejamento tático, caso tenha que ser
utilizada a equipe tática como executora das Táticas Não Letais. Nesse contexto a
equipe tática não irá proceder como a Quarta Alternativa Tática buscando
neutralização por incapacitação, mas como a segunda - Táticas Não Letais,
buscando-se a prisão do suspeito por meio de sua debilitação. De forma a recorrer à
técnica de entrada coberta, lenta e metódica, usando escudos e tendo como
premissa principal a "segurança acima de tudo". Vale lembrar, assim, que o objetivo
smart de incidentes com suspeitos embarricados será realizar a sua prisão e aplicar
a lei.
Faz-se necessário diferenciar o termo incapacitação e debilitação.
Incapacitação se refere à cessação da capacidade do agressor, a uma inaptidão de
ação, taticamente necessária quando presente iminente agressão letal contra
inocentes, portanto utilizada quando existirem os requisitos para emprego de força
letal. Debilitação é utilizada quando se busca um enfraquecimento das funções do
agressor, sem contudo se esperar que sua capacidade de reação cesse de imediato.
113

Nesse contexto que surge a possibilidade tática de emprego das técnicas não letais
como forma de diminuir a letalidade das ações, advirta-se porém, que mesmo as
mais eficazes apresentam falhas de 5% à 30%, não sendo aptas para fazerem
cessar de imediato a capacidade de reação de um agressor quando uma operação
exigir essa qualidade, conforme explica Heal (2015, p.32) indicando um dos mais
abrangentes estudos que demonstram que as opções não letais não são
incapacitantes: "Less Lethal Weapon Effectiveness, Use of Force, and Suspect &
Officer Injuries: A Five-Year Analysis", de Mesloh, Henych e Wolf, DoJ, Universidade
da Costa do Golfo da Flórida.
Segundo o Modelo de Política para Situações com Pessoas Embarricadas a
IACP (2007, p.1, tradução nossa, grifo nosso), os define como:
Suspeito Embarricado: um suspeito de crime que tomou posição em um
local físico, na maioria das vezes uma estrutura ou veículo, que não permite
o acesso imediato da polícia, seja fortificado ou não, e que se recusa as
ordens policiais para sair. Um suspeito embarricado pode estar armado, de
forma confirmada, ter a intenção de se armar, ter acesso a armas no local
ou não ser possível definir sua posse ou não de arma.
Pessoa Embarricada: Uma pessoa que não é suspeita de cometer um
crime, mas é o foco de um esforço legítimo de intervenção da polícia -
envolvendo muitas vezes ameaças de suicídio ou doença mental - que
tomou posição em um local físico, na maioria das vezes uma estrutura ou
veículo, não permitindo o acesso imediato à polícia, seja fortificado ou não,
e que se recusa às ordens da polícia para sair. Uma pessoa embarricada
pode estar armada de forma confirmada, ter a intenção de se armar, ter
acesso a armas no local ou não ser possível definir sua posse ou não de
arma.

Como visto acima, enquanto no suspeito embarricado a resistência é


realizada por um suspeito de crime, na pessoa embarricada não. Disso decorre
alguns desdobramentos de ordem prática, por implicarem competências de órgãos
respondedores para o atendimento do incidente.
No contexto mundano a ocorrência de marginal embarricado decorre de uma
ordem policial não obedecida, por exemplo, os policiais recebem a denúncia de que
um individuo que praticou roubo se encontra em uma casa, os policiais chegam no
local, as características do suspeito coincidem com as passadas, ao descerem da
viatura o suspeito percebe os policiais, corre para sua residência, tranca-se e resiste
à ordem dos policiais para que saia; outro exemplo, um mandado de busca
domiciliar em que o proprietário não franqueou a entrada dos policiais,
embarricando-se na sequência. O embarricamento pode também decorrer de crime
anterior que se transmutou para marginal embarricado, por exemplo, uma ocorrência
de refém que na sequência o refém foge ou é libertado, ficando somente o marginal
114

enclausurado ou um roubo seguido de fuga e embarricamento. São todos exemplos


de suspeitos embarricados.
Geralmente, um incidente de pessoa embarricada decorre da chamada de
parente, vizinho, ou pessoa do convívio próximo, que liga para o serviço de
emergência 190 e relata que viu o indivíduo e este lhe disse que não estava
tomando a medicação e que não tinha mais razão para viver, dizendo até que
deveria acabar com a própria vida. O solicitante informa, ainda, que o sujeito tem
armas em casa e que sofre de esquizofrenia ou depressão e tem medo de ser morto
pela polícia.
Ocorrência com pessoas suicidas embarricados não fazem parte do estudo
deste trabalho, mas são previstas como atendimento exclusivo do GATE segundo o
item 6.1.16, da Diretriz N° PM3-001/02/13 (PMESP, p.3, grifo nosso):
6.1.16. ocorrências críticas
Para fins desta Diretriz, consideram-se ocorrências críticas as seguintes:
6.1.16.1. ocorrências que envolvam reféns;
6.1.16.2. ocorrências com artefatos explosivos;
6.1.16.3. ocorrências que envolvam pessoas com propósitos suicidas
de posse de armas de fogo ou brancas;
6.1.16.4. ações terroristas;
6.1.16.5. outras julgadas igualmente graves e complexas pelo Cmdo G,
especialmente quando possuidoras das características descritas no subitem
"3.2." desta Dtz.

A ocorrência de pessoa embarricada é gênero que possui como espécie


aquelas pessoas com propósitos suicidas. É considerada uma ocorrência crítica
segundo o caput do item citado e, portanto, deve seguir os mesmos procedimentos
de acionamento realizados para uma ocorrência com reféns.
Ou seja, ocorrências que envolvam pessoas com propósitos suicidas - com
posse de armas de fogo ou brancas - receberam o passivo negativo da controvérsia
do termo "se for o caso, o acionamento" constante nos itens 5 e 6.2.1.3.(PMESP, p.
3, grifo nosso), da diretriz, já tratados anteriormente no capítulo sobre incidentes
com reféns:
5. MISSÃO
As OPM deverão adotar as providências disciplinadas nesta Diretriz quando
do atendimento a ocorrências que, diante da gravidade instaurada, exijam
procedimentos técnicos que vão desde a atuação dos primeiros
profissionais policial-militares interventores até, se for o caso, o
acionamento e interposição do GATE, de forma que, estabelecida
unicidade de comando, de técnicas e de doutrina institucional, haja o
emprego racional e integrado dos recursos humanos e material necessários
para conter, isolar e resolver a crise de maneira satisfatória.
6.2.1. a patrulha policial-militar territorial que prestar o primeiro
atendimento às ocorrências críticas (vide subitem "6.1.16." e
115

divisões"), bem como o respectivo escalão superior que se dirigir ao


local da crise, deverão:
[...] 6.2.1.3. imediatamente, transmitir as informações coletadas ao
COPOM/CAD, para que seja procedido, se for o caso, o acionamento
do GATE.

Todavia, a conclusão aqui não é a mesma da anterior, no sentido de se


atribuir ao GATE exclusividade no atendimento com suicidas armados. No caso de
atendimento de incidente com reféns, a competência do GATE possui como
supedâneo o art. 1, da Portaria SSP/13, pois esta é uma norma cuja hierarquia é
superior à diretriz, de maneira que o conflito é apenas aparente, devendo ser
desprezados os termos "se for o caso" constantes na Diretriz.
No caso de pessoas com propósitos suicidas, a competência do GATE tem
como base a Diretriz somente, mas esta não lhe deu exclusividade, tanto que utilizou
os termos "se for o ocaso"; na mesma toada, ou seja, discricionariamente, são
também os acionamentos de ocorrência com artefatos explosivos ou com terroristas.
Isso devido ao termo "se for o caso".
No caso deste trabalho, que trata de suspeitos embarricados, sequer há
qualquer menção na Diretriz e, portanto, em regra, a competência é do policiamento
territorial. Contudo, conforme previsto no 6.1.16.5. da Diretriz, o Comandante Geral
pode determinar que o GATE realize o atendimento, uma vez que se afiguram com
incidentes graves.
Sugere-se, aqui, a exclusão do termo "se for o caso" da Diretriz, assim como
a inclusão dos incidentes com suspeitos embarricado no item 6.1.16., a fim de
classificá-los como ocorrências críticas, logo a serem tratadas exclusivamente pelo
GATE.
Utilizando como doutrina principal o ciclo P do NIMS 2017, porém
especificando o gerenciamento de incidentes, Heal (2012, p.88) sugere dividi-lo em
cinco fases: 1) Planejamento, 2) Ensaio, 3) Movimento, 4) Assalto e 5) Retirada.

6.2.1 Planejamento

As medidas iniciais dão-se com a contenção, isolamento e negociação


realizados pelo policiamento de área. No caso, o GATE será acionado para
atendimento de incidente de suspeito embarricado, a critério do Comandante Geral,
116

agindo de ofício ou porque os Comandantes Territórios solicitaram o apoio do GATE,


pois avaliaram ser o caso para o acionamento.
Seguindo o gerenciamento por objetivos, constante no NIMS 2017 e no
modelo Ciclo P, ao se realizar o briefing inicial do incidente, para a transferência do
comando do Emergencial para o Efetivo, já ocorre o estabelecimento de certos
objetivos smart e de certas estratégias. O objetivo smart de um incidente de suspeito
embarricado será prendê-lo, a fim de preservar a vida das pessoas inocentes e de
aplicar a lei.
O risco de um suspeito embarricado se consubstancia em poder atirar para
fora da edificação e atingir pessoas inocentes e a flagrância do crime de resistência,
de maneira a sustentar a manutenção de um cerco policial, a fim de que as pessoas
não sejam atingidas, entretanto os recursos são finitos. Aqui vale algumas
perguntas: caso esteja com um revólver, qual o perímetro de isolamento? 100, 200,
300 metros?! E se estiver armado com um fuzil 1.000 metros de alcance?! Os
cidadãos residentes ao entorno da edificação serão privados de acessarem suas
casas ou irem ao trabalho devido ao risco propiciado pelo marginal? Certamente que
sim. Por quanto tempo o cidadão terá seu direito de ir e vir tolhido pelo marginal? O
Comandante do Incidente será considerado imperito caso permita o livre acesso das
pessoas, direito de ir e vir, no campo de alcance de fogo do armamento do marginal,
sendo complacente, permitindo que o cidadão seja submetido a risco continuado em
benefício do marginal que aguarda dentro de uma residência e que optou por
delinquir? Prolongar o cerco certamente significa inverter a ordem de prioridade de
segurança, quando se podia e devia evitar o resultado.
Segundo o Modelo de Política da IACP para Situações com Pessoas
Embarricas (2007, p.1, tradução nossa), resolução tática é assim definida:
Táticas de resolução: ação policial secundária voltada para a resolução de
um marginal ou pessoa embarricada envolvendo o uso de táticas intrusivas,
como limpeza de janelas (break and rake), arrombamento mecânico,
agentes químicos e munições relacionadas, violação e retenção (breach
and hold), entrada e busca por robôs, busca por cão sem guia, busca por
cão com guia e buscas por equipe de entrada.

O Estado de São Paulo reconheceu no GATE o fomento do Sistema de


Desempenho Humano composto pelos aspectos Humanos - TTP - Equipamentos,
de forma a oferecer para a sociedade um conjunto de ferramentas eficientes para a
gestão de incidentes com suspeitos embarricado chamadas de Alternativas Táticas,
a saber:
117

1) Negociação;
2) Táticas Não Letais;
3) Tiro de Comprometimento;
4) Entradas Tática.
Dessa forma, será utilizada a alternativa Táticas Não Letais, a serem
executadas pela equipe tática. Verifica-se não ser o caso de usar a quarta alternativa
tática, que é vocacionada para outros objetivos smart. Esta atingida por meio da
incapacitação do suspeito, aquela pela debilitação.
A finalidade do objetivo smart, no caso, é prender o marginal utilizando TTP
não letais, que é diferente de dizer: utilizamos o elemento Assalto, o Time Tático, etc.
Prefere-se afirmar que utilizou-se das Táticas Não Letais executadas pela equipe
tática, mas utilizando-se a técnica da entrada coberta por concepção imediata do
perigo.
Nesse sentido, a equipe tática será serva das TTP Não Letais, todavia, caso
exista uma ameaça letal contra os policiais, estes poderão se defender de forma
proporcional – com uso de força letal –, incapacitando a injusta agressão.
A melhor opção em incidentes com suspeitos embarricados é fazer com que
esses saiam do local pela persuasão, ou seja, por meio da alternativa tática
Negociação. É imprescindível tentar a negociação como forma de obter informações
que dificilmente seriam obtidas por outros meios, e são válidas as mesmas
observações dessas vantagens, que foram apontadas em incidentes com reféns.
Entretanto, isso nem sempre ocorre, o que obrigaria o agente a passar para a
segunda alternativa tática, que também prevê como melhor possibilidade a retirada
do suspeito do local, ainda que se utilizando de alternativas não letais.
Isso tem um motivo, o suspeito geralmente conhece o local, possuindo
vantagem em conhecer os pontos da edificação, e pode colocar armadilhas,
bloquear portas, abrigar-se para disparar contra a polícia, etc. Ou seja, parece que a
vantagem é da "caça, não do caçador" e, por essa razão, o Comandante do
Incidente deve ser cauteloso para não empurrar a equipe para o confronto de forma
desnecessária, conforme alerta Howe (2010, p. 18, tradução nossa):
O problema que vejo é que muitas agências estão usando técnicas de
entrada quando elas não são necessárias e vidas inocentes não estão
sendo levadas em consideração. Jovens oficiais, que estão prontos para a
luta, devem aprender a canalizar sua agressão e empurrar a luta durante as
situações de atiradores ativos/reféns e não serem automaticamente
118

dinâmicos em todos os mandados de busca e suspeitos embarricados


quando outras opções mais seguras estão disponíveis.

Neste ponto, é importante reforçar que utilizar as táticas não letais com
técnicas de entradas cobertas, a fim de prender um suspeito, buscando-se em seu
castelo, deve ser a última das opções, em conformidade com Sherman (2012, p. 82,
tradução nossa) que diz: "para situações de barricadas, a entrada só deve ser feita
quando prudente, depois de todas as outras opções táticas terem sido esgotadas".
Como discutido anteriormente, a polícia não controla um incidente com
reféns, pois, do contrário, seria apenas mandar o suspeito libertá-los e se entregar. A
falta de controle também permeia incidentes envolvendo suspeitos embarricados.
Contudo, é importante esclarecer que, apesar de a polícia não controlar as ações do
suspeito, pode muito bem controlar o seu terreno, seu ambiente e, portanto, suas
opções. A essas ações chamamos de técnicas e procedimentos de negação de
espaço.
Essa é a ideia do uso do gás CS ou OC, a fim de impedir que fiquem
enclausurados e, em consequência, saiam e sejam apreendidos. Mesmo assim, no
entanto, pode ocorrer de permanecer no local abrigado, momento em que terá que
ocorrer sua prisão por meio de um entrada coberta.
As TTP Não Letais para resolução de suspeitos embarricados se baseiam nas
seguintes técnicas e procedimentos de negação de espaço:
1) Gás CS ou OC:
O uso do gás é recomendado pela IACP em seu Modelo de Política. O
famoso estudo9 de 1967, realizado pelo Departamento do Exército – Edgewood
Arsenal – estabelecia cálculos e índices sobre o ICt50 e LCt50, (concentração de
incapacitação e concentração letal respectivamente). Todavia, tais medições
deixaram de ser utilizadas pela duas maiores associações de polícia americana,
acompanhadas pelas maiores empresas fabricantes. É o que explica Whitson (2005,
p 48, tradução nossa, grifo nosso) em seu trabalho de revisão que recomenda a não
utilização desse índices ou cálculos:
O Curso de Instrutor Less-Lethal da NTOA oferece formação e experiência
aos policiais em opções menos letais, incluindo agentes químicos. Em 2002,
o NTOA removeu do curso de instrutores de agente químico a seção
sobre os cálculos de concentração referidos como ICt50 e LCt50.

9
Department of the Army Edgewood Arsenal. Edgewood, Maryland. Edgewood Arsenal
Special Publication EASP 600- 1. Characteristics of Riot Control Agent CS, October 1967 (AD661319).
119

...
O conceito foi adaptado de um estudo realizado pelo Arsenal de Edgewood
do Exército. O estudo foi conduzido para determinar os efeitos de CS e CN
em seres humanos. Este relatório foi citado como o ponto de referência para
determinar os níveis de CS e CN para concentrações de segurança. Em
1993, a IACP publicou uma recomendação sobre os cálculos e
declarou sua preocupação de que "a fórmula matemática para
determinar quanto agente químico deve ser introduzido em uma
posição de barricada está desatualizada. Além disso, nos anos desde
que esse documento foi preparado, muitas novas tecnologias foram
desenvolvidas, incluindo projéteis, granadas e sistemas de entrega de gás
lacrimogêneo.(Police Chemical Agents Manual).
A IACP concluiu, assessorando a polícia, para interromper o uso de
informações do manual como padrões.
Ao mesmo tempo a NTOA declarou o uso das fórmulas de concentração,
citando as discrepâncias da metodologia e os valores comparativos, como
inconsistentes neste modelo.
[...]
Os principais fabricantes de CS concordam.
Durante anos, eles incluíram as fórmulas em seu material de treinamento,
mas nenhum dos fabricantes com quem falei concluiu que as fórmulas ICt50
são válidas. Eles reconhecem que confiar nessas fórmulas ICt50 pode e,
eventualmente, criará um efeito negativo durante um litígio. Baseando-se
nestas fórmulas, ao mesmo tempo que se reconhece sua irrelevância,
demonstrará a incapacidade da nossa atividade em adotar padrões
razoáveis para implantação de agentes químicos. Portanto, em uma
parceria com a NTOA, os seguintes fabricantes concordaram em
interromper o padrão de implantação pelo qual as fórmulas ICt50 são
usadas no ensino e nas considerações de emprego:
Combined Tactical Systems .... Don Brinton
ALS ...................................... Mike Aultman
M / K Balística ............................ Mike Keith
Defense Tech / Fed Labs ........ Michael Finley
Conclusão
O modelo de decisão padrão para implantação de CS em um local
estruturado deve ser medido pela necessidade e quantidade de força
razoável para incapacitar a pessoa. Como padrão geral ou orientação, pode-
se defender os níveis de concentração com base em uma combinação
limitada de estudos clínicos, experiência prévia e senso comum.
Não deve haver confusão sobre o conceito de razoabilidade. A polícia
equilibra suas ações de uso de força contra esta premissa todos os dias. Os
níveis razoáveis para concentrações de CS dependem das circunstâncias e
nenhuma fórmula irá satisfazer os requisitos para cada incidente.

Percebe-se a efetividade do pleno uso do agente CS ou OC para desalojar


suspeitos embarricados. Acrescenta-se que a NTOA, em seu departamento jurídico,
realizou uma extensa pesquisa, a fim de reunir ações judiciais decorrentes do uso de
agentes químicos, não localizando nenhuma relacionada ao uso da força com
emprego de CS nos Estados Unidos, desde 1983. Essa pesquisa foi confirmada
posteriormente por meio de pesquisa realizada pela associação com seus membros.
Corrobora a isso, que a empresa Condor Tecnologias Não-Letais S/A possui
em sua linha de produtos as granadas GB 708 - Indoor Pimenta e a GB 705 - Indoor
Lacrimogênea, asseverando serem ideais para utilização em ambientes internos.
120

Após pesquisa nos Estado Unidos, o uso do gás CS para Incidentes de


Suspeitos Embarricados é considerado muito seguro e tem salvo muitas vidas.
Adequando o uso da força, é considerado uma técnica não letal.
Nessa toada os entendimentos de Charles Sid Heal, commander from the Los
Angeles Sheriff’s Department e Presidente da California Tactical Officer Association;
Dennis J. Dvorjak, Agente Especial do FBI, SWAT Senior Team Leader; Ed Allen,
Major no Seminole County (FL) Sheriff’s Office, com mais de 20 anos à frente da
SWAT, atualmente Gerente de Treinamento da NTOA; Kevan Dugan, Capitão no
Pennsylvania State Police, Diretor Regional Ocidental da NTOA; Jeff Selleg,
Comandante veterano da SWAT de Valley em Seattle e atual Presidente da
Associação dos Oficiais Táticas de Washington; Rorbert Sorensen, Oficial do FBI
Task Force.
Até este ponto do trabalho verifica-se a ausência de POP sobre o
gerenciamento de incidentes de suspeitos embarricados na PMESP. A ausência de
utilização de gás em ambientes internos, gera relevante lacuna de ferramentas e de
opções não letais para uso da força, fato esse que se torna uma das propostas desta
pesquisa, a fim de salvar vidas e aplicar a lei.
2) Gás hexacloretano:
Utilizado em granadas fumígenas de sinalização, é utilizado como técnica em
situações extremas em que o uso da força letal se faz necessário, tendo em vista
exacerbado comportamento violento do perpetrador. Dessa maneira, o objetivo
smart deverá declarar a incapacitação do suspeito, ou seja, critérios de uso de força
letal devem estar presentes.
3) Formas de emprego do gás:
Segundo Whitson (2005, p.48), existem basicamente duas técnicas de
emprego: a Hard and Heavy (Forte e Denso) e o Volley method (Método de
Descarga):
Forte e Denso: Não significa que se deva inserir quantidades absurdas de
agentes químicos. O conceito exige que se deva aplicar o gás numa quantidade
suficiente e rapidamente com uma concentração capaz de contaminar toda a
edificação.
As vantagens deste método são, pelo menos, duas:
– Minimiza o potencial de o marginal se defender por meio de posições
defensivas ou mesmo de criar chances de reagir contra a polícia.
121

– Reduz o tempo de exposição ao agente químico, o que é desejado, uma


vez que a entrega ocorre de uma só vez e na medida suficiente, capaz de causar
significativa debilitação. A concentração do gás tem menor importância do que o
tempo de exposição em relação a problemas de saúde
A desvantagem, contudo, é a descontaminação do local, mas, a depender das
circunstâncias, nada substitui a segurança dos envolvidos. É justamente isso que
deve influenciar a decisão de usar este método e não a dificuldade de
descontaminação. Assim sendo, antes de usá-lo, deve ser avaliada a
proporcionalidade e razoabilidade do seu emprego.
Método de Descarga: ocorre o emprego paulatino de quantidades de agente
químico, de forma a permitir exame clínico da reação do marginal à medida em que
se entrega o gás no ambiente.
Também é considerado seguro, em que pese provocar prolongamento do
tempo de exposição com o agente químico, é necessário lembrar que concentração
do agente é menos importante do que o tempo de exposição em relação a
problemas de saúde.
Whitson (2005, p.48, tradução nossa) explica que:
Se um método de descarga é usado, aumentando gradualmente a
concentração do agente em incrementos, o tempo total de exposição torna-
se um problema. Por exemplo, se o nível de concentração exceder ou
3
manter 10 mg/m durante um período sustentado, o potencial de dano
pulmonar aumenta.

Entretanto, este método possui as seguintes vantagens:


– O marginal pode se render logo no início, o que evitará índices de
concentração mais altos do agente químico.
– Haverá aumento da eficiência de dispersão do agente decorrente do
movimento e fluxo do ar, o que é desejável.
Dessa forma, a respeito do uso e forma de emprego do gás, recomenda-se
atenção para evitar exposição prolongada, momento em que desafiará a entrada da
equipe para prisão e para o socorro do suspeito. A forma de emprego deve ser
proporcional aos níveis de força e às circunstancias do fato, ambos são possíveis.
Por fim, deve ser observado que as forma de emprego e as quantidades de
agente químico devem ser efetivas, a fim de minimizar os riscos decorrentes de se
adentrar numa estrutura em que o suspeito tem a vantagem tática de conhecê-la.
122

3) Cães:
Técnica recomendada pelo Modelo de Política da IACP, podendo ser utilizada
com guia curta ou longa. Observa-se que deve ser utilizado após a debilitação do
suspeito por meio de gás, uma vez que, ao utilizar o cão, existe o risco do animal
sofrer agressão pelo suspeito.
4) Escudos: Unânime a utilização por equipes que executam TTP Não Letais
em incidentes de suspeitos embarricados, é a premissa: segurança acima de tudo.
5) Princípios: velocidade, surpresa ação de choque:
Conforme comentou-se nos capítulos anteriores, esse três princípios são
muito desejáveis em qualquer operação. Falou-se também que a principal diferença
da técnica de entrada dinâmica é a necessidade de velocidade e de rapidez, o que
provocam, primeiramente, a entrada e depois a varredura, aumentando-se o risco.
Porém, este método é aceito porque a vida dos reféns está em perigo.
No caso de suspeitos embarricados, a ordem de prioridade é composta pelo
policial e marginal. A vida de qualquer policial, neste tipo de evento, é mais
importante do que a de um criminoso embarricado esperando emboscar um agente.
Ressalta-se, segurança está acima de tudo, e os riscos serão aceitáveis por meio de
técnicas que os minimizem. Nessa perspectiva, deve-se buscar varrer o cômodo
antes de entrar, e aqui encaixa-se perfeitamente a técnica de entrada coberta, com
uso de espelho e de escudos, de forma lenta e metódica.
Percebe-se, desse modo, que não teremos o elemento velocidade ao nosso
lado, e essa perda deve ser compensada pelos outros princípios – fator surpresa e
ação de choque. A alternativa consistirá em torno de táticas não letais, com uso da
técnica entrada coberta, utilizando espelhos e escudos obrigatoriamente. Além disso,
o fator surpresa será capitalizado por uma ação de choque mais robusta ao se
utilizar gás, carga explosiva ou luz&som, de forma a torná-lo enfraquecido
favorecendo o sucesso do emprego do cão e, na sequência, a entrada da equipe.
Ocorrerá também o emprego simultâneo de técnicas break and rake (brechas
secundária) e entradas múltiplas do tipo enxame, de forma que a atenção do
suspeito será dividida, ocupada e congestionada por meio de diversos estímulos e
frentes de ataques, fazendo-o ficar confuso. Em consequência disso, a perda da
velocidade e a vantagem do suspeito em conhecer o local será superada por meio
de um plano que contenha elementos e características que robusteçam o fator
surpresa e a ação de choque.
123

6) Breach and Hold (Rompe e Segura):


A NTOA (2015, p. 34, tradução nossa) conceitua em seu manual de
padronização de táticas e operações como: “Uma técnica em que os operadores
aguardam em segurança próximos ao um ponto de entrada do local do alvo, após
realizar o seu arrombamento. Também conhecido como "arrombamento e atraso”.
Ou seja, provoca-se um arrombamento e não há entrada de imediato.
Aguarda-se posicionado, a fim de observar o interior do arrombamento à procura de
possíveis armadilhas e de uma possível reação do suspeito.
7) Breach and Pull-Back (Rompe e Volta):
A tradução e o nome da técnica dizem menos do que ela é. O pensamento
subjacente ao seu termo significa arrombar, recuar um passo e avançar dois, de
modo que aos poucos a fortaleza vai sendo controlada de forma gradual, a fim de
negar movimento ao suspeito, até que fique restrito a um cômodo.
A maior vantagem dessa técnica é que ela permite a negociação a cada
arrombamento e recuo. Com isso, minimiza os danos, pois espera-se que o suspeito
saia de sua inércia de resistir e perceba que, após o arrombamento de uma simples
janela, as coisas irão piorar para ele, forçando-o à rendição.
Vejamos um exemplo. Um marginal está embarricado e a polícia realizou a
contenção, isolamento e tentou negociar, mas nada ocorreu. O suspeito está dentro
de uma casa de dois andares, ele consegue se movimentar e, pelas janelas, observa
a mobilização da polícia. Em seguida, imagina um plano para se proteger e fortificar
o local mais provável da entrada dos policiais. O sujeito, por fim, percebe que não
consegue cobrir todos os pontos de sua casa, não existindo muito o que fazer: do
lado de fora atiradores de precisão são posicionados e observam a casa, as janelas
estão encobertas e as portas fechadas. Equipes táticas estão posicionadas para um
plano de resposta emergencial, até porque o suspeito pode sair e furar o cerco, de
repente. Os negociadores tentam contato ligando para a residência do suspeito. O
suspeito sabe que a polícia está posicionada e isso fragiliza o fator surpresa, pois,
caso os policiais entrem por um lugar que o sujeito não esperava, o barulho os
denunciarão.
E o cerco continua. Rompe-se uma janela, a fim de mostrar que a polícia não
está de brincadeira, temos uma progressividade de força. O suspeito se mantém na
casa, sem contato, apesar de nova tentativa de negociação. Rompe-se mais uma
janela de forma a dividir a atenção do suspeito e, com isso, os atiradores começam
124

a ter visão do interior da casa. Aos poucos a porta dos fundo da cozinha é
arrombada – observa-se e depois avança-se. Mais uma vez o marginal é chamado
para negociar e nada acontece. Por outra entrada, uma outra equipe avança pela
sala e, assim, a fortaleza aos poucos vai sendo tomada, o gás sendo lançado,
entradas tipos brecha secundárias, enxame acontecendo, o cão lançado, cada vez
mais sendo negado movimento ao suspeito e dividindo a atenção devido às
múltiplas entradas.
Eldridge e Williams (2006, p. 26, tradução nossa) exemplificam:
Há momentos em que tal força e danos podem não ser necessários. Pode
haver outros casos em que pode ser muito perigoso ou a própria localização
pode não ser adequada.
No entanto, se você considerar usar essa tática, lembre-se sempre que o
tempo está do seu lado e mantenha seu planejamento simples.

Quando se utiliza break and rake nas janelas, a desvantagem é a diminuição


do efeito do gás. Todavia, como é sabido, todas as táticas têm vantagens e
desvantagens.
Por fim, vale lembrar que uma forma interessante de se obter o break and
rake, principalmente em janelas, é utilizar mangueiras de alta pressão d'agua, além
de limpar o batente retirando vidros, dependendo do tempo causará hipotermia no
suspeito, dissuadindo-o de resitir.

6.2.2 Ensaio

Da mesma forma como foi explicado no tópico referente a incidentes com


reféns, a fase de ensaio ocorre, a fim de detectar falhas no processo do
planejamento e do plano. Por isso, a necessidade de equipamentos como armas,
rádios, colete, etc, que devem ser utilizados durante esses ensaios. Caso seja
utilizado gás CS ou OC, alerta-se que a equipe sofrerá os mesmos efeitos que o
suspeito, logo, deverá utilizar máscara de proteção contra o agente químico.
125

6.2.3 Movimento

Tem-se os mesmos dois tipos de movimento explicados nos capítulos


referente aos incidentes com reféns, a saber: movimento para o objetivo e o
movimento de contato.

6.2.4 Assalto

Essa fase se inicia após frustrada a negociação, optando-se pelas táticas não
letais, uma vez que estas serão as responsáveis por causar o menor prejuízo ao
suspeito, que deve ser capturado. Observa-se que neste tipo de operação a opção
pelas Táticas Não Letais dão-se porque, em regra, operações de suspeitos
embarricados são compatíveis de serem resolvidas pela simples debilitação do
suspeito, exceto se este atacar terceiros de forma letal, o que abrirá espaço para sua
incapacitação.
Vale lembrar que ao se realizar os arrombamentos progressivos, as
negociações podem ser retomadas, mas, após a aplicação de gás CS, o assalto
deve se iniciar, a fim de evitar a exposição prolongada do suspeito ao agente
químico.

6.2.5 Suicide By Cop e Barricaded Cop-Killer:

Por fim, deve ser dada especial atenção à equipe de assalto de emergência,
que pode ser necessária, sendo planejada por meio de um plano de resposta
emergencial e dimensionada para duas ameaças peculiares.
A primeira ameaça em questão é o Suicide By Cop (suicídio provocado por
policial), em que o suspeito provoca uma agressão contra a polícia esperando uma
reação letal, já que não possui coragem para levar em frente seu suicídio.
A segunda é a Barricaded Cop-Killer (homicidas de policiais embarricados)
conforme explica Bumbak (2017, p. 82), que envolve homicidas de policiais que se
embarricam. Neste caso, os suspeitos não objetivam o suicídio, mas estão dispostos
a enfrentar a força policial e matar o maior número de policiais. Mesmo que solitários
126

e frente a uma morte iminente, vão literalmente para o tudo ou nada, o que obriga as
equipes de assalto a estarem preparadas para uma ação como esta.

6.2.6 Retirada e processamento.

Aplicam-se as mesmas observações aos incidentes com reféns, lembrando-


se da necessidade de cuidados médicos ao suspeito decorrente do uso do gás, da
intervenção da equipe tática, do cão, etc.

6.3 Incidentes com mandados de busca & varreduras

No terceiro capítulo foram explicadas as origens das TTP das entradas táticas
que, nos Estado Unidos, iniciaram-se no início do anos 60, com a criação das
SWATs. Devido às forças policiais norte-americanas, as SWATs direcionavam suas
táticas, técnicas e procedimentos contra o crime organizado, principalmente
incidentes com marginais embarricados.
Basicamente, utilizavam como técnicas de leitura e deslocamento as entradas
cobertas por áreas de responsabilidade – mais precisamente as entradas em gancho
(Buttonhook) e em cruz (Criss-cross), precursoras da Inundação pela Parede.
Em 1983, a SWAT de Los Angeles treinou com grupos contraterroristas, como
o SAS e a Força Delta, que utilizavam TTP voltados para resgate de reféns
chamadas de entrada dinâmica. A polícia carecia adquirir proficiência para o
atendimento de incidentes com reféns, uma vez que a cidade sediaria os Jogos
Olímpicos de 1984.
A SWAT de Los Angeles preencheu a lacuna que lhe faltava, no atendimento
de incidentes com reféns e esta técnica foi disseminada para muitos outros grupos
de SWAT. A TTP deixava uma premissa: se a entrada dinâmica é utilizada para
resgatar reféns, que são considerados os incidentes policiais mais complexos e
perigosos, logo serviria para todas os outros tipos de incidentes.
O terceiro capítulo foi encerrado em tom de preocupação, uma vez que muitos
grupos de SWAT abandonaram as TTP de entradas cobertas, distintas das do
127

modelo atual, e passaram a utilizar apenas TTP de entradas dinâmicas, quando


então, os riscos aumentaram e os problemas começaram.
Os anos 80 foram marcados pelo aumento do narcotráfico em solo americano
e, claro, o seriado SWAT foi promovido pelo efeito Hollywood.
Graves (1999, p. 66, tradução nossa) contextualiza a época:
E então, durante o final da década de 1970, houve uma explosão de tráfico
de narcóticos na maioria das grandes cidades dos EUA. A cocaína ficou
disponível como "crack" nas cidades do interior e tornou-se o veneno de
escolha para muitos usuários. Os traficantes de narcóticos tornaram-se mais
propensos à violência e à resistência violenta à prisão. Tornou-se frequente
para os policiais encontrarem resistência violenta e locais fortificados ao
cumprir mandados de busca e captura de criminosos profissionais armados
e perigosos. Tornou-se comum para os traficantes fortalecerem seus pontos
de distribuição e residências, a fim de frustrar a abordagem e a entrada de
policiais. As unidades de narcóticos em Los Angeles e outras grandes
cidades não só enfrentaram um comércio de drogas na rua, mas também
com usuários de drogas e comerciantes que não hesitavam em usar a
violência contra a polícia se eles pensassem que não poderiam impedir a
prisão ou fugir deles.
[...] Houve uma tendência para as unidades SWAT nos EUA, incluindo
unidades mais recentemente formadas, para confiar apenas em táticas
dinâmicas de "resgate de reféns" para resolver todos os tipos de operações
de alto risco. Algumas dessas unidades, aparentemente, não tinham
capacidade para planejar e conduzir um tipo de operação mais deliberado
usando táticas de segurança comprovadas e, aparentemente, não têm
capacidade para descalonar de uma operação dinâmica para uma operação
mais deliberada, caso as circunstâncias o justifiquem. Algumas outras
unidades que usaram táticas encobertas e deliberadas no passado as
abandonaram em favor de táticas dinâmicas.

Por sua vez, Clark (2011, p. 50, tradução nossa) explica as consequências do
abandono das tradicionais entradas cobertas e uso excessivo das entradas
dinâmicas:
Uma crença comum nas décadas de 1960, 1970 e até a década de 1980,
em muitos lugares, era que missões como execuções de garantias de alto
risco deveriam ser feitas com rapidez.
Pensava-se que, literalmente, correr para dentro e através de uma casa era
a melhor maneira de pegar o suspeito desprevenido, garantindo assim a
apreensão das provas procuradas, bem como levar com segurança os
perpetradores. Evidências empíricas e anedóticas mostraram o contrário.
Uma análise de quatro décadas de equipes de SWAT como relacionadas a
execuções de mandados de alto risco provou que as táticas de "crise" e
"dinâmicas" de alta velocidade resultam em maior incidência de lesões ou
morte para os oficiais que executam o mandado de busca, bem como para
os ocupantes do local da busca.

Nesse contexto no final dos anos 80 o GATE foi criado em meio a essa
mudança de pensamento de técnicas, se dinâmica, ou se coberta, se áreas de
responsabilidade, ou se concepção imediata do perigo.
128

Ao que se percebe durante a pesquisa, no período de 1983 até 1993, esses


conceitos estavam em processo de acomodação nos Estados Unidos, o que
influenciou o Brasil. Por que 1993? Porque em 19/04/1993, ocorreu o Cerco de
Waco", na cidade Waco, nos Estados Unidos da América, quando agentes do
Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives - ATF tentaram cumprir um
mandado de busca e, de início, quatro de seus agentes morreram. O FBI avocou o
incidente que durou 51 dias e resultou na morte de 80 pessoas.
A partir de Waco a doutrina de gerenciamento de incidentes nos EUA sofreu
significativa mudança, conforme explica Clark (2011, 50, tradução nossa):
Por ordem do Congresso, após muitas árduas horas de audiência, a equipe
de resposta especial da BATF foi completamente reorganizada. O
treinamento e as táticas baseadas em militares que dominavam o
treinamento da BATF antes de Waco foram substituídos pelo treinamento de
especialistas em assuntos das agências civis de aplicação da lei em todo o
país. A própria palavra "dinâmica" foi removida de todos os materiais de
treinamento e planos operacionais da SRB BATF.
Como a BATF, muitas equipes certamente passaram por uma metamorfose
desde a sua criação. Muitas equipes costumavam "button hook" ou "Cross
and hook" quando entravam em uma sala. Agora, um número significativo
de equipes corta a porta e limpa a maior parte da sala antes mesmo de
cruzar o limiar. A entrada agora é feita de forma lenta, segura e metódica. As
coisas mudam.

Utilizar ou não a SWAT passou a ser motivo de jurisprudência do Décimo


Circuito da Corte de Apelação dos Estados Unidos ao proferir em seu acórdão, com
base no que conhecemos no Brasil de principio da razoabilidade (anglo-saxão) no
aso conhecido como Holland v. Harrington:
[...] O tribunal distrital aprovou juízo sumário a favor do Departamento do
xerife do condado de La Plata e em motivos de imunidade qualificada em
favor de Schirard, Harrington e Davis sobre as reivindicações de "força
excessiva" dos demandantes decorrentes da incursão de 16 de abril,
exceto quanto à razoabilidade de (1) a decisão de empregar a equipe
SWAT; (2) o uso da equipe SWAT de armas contra crianças menores de
idade, e (3) a alegada falha dos oficiais em "bater e anunciar" sua
entrada na residência Heflin.
[...] Instalar os deputados do xerife em uniformes de combate encapuzados,
armá-los com armas com laser e pedir que conduzam a "entrada dinâmica"
em uma casa privada não isenta sua conduta dos padrões de razoável da
Quarta Emenda. A designação "SWAT" não concede licença aos
agentes da lei para abusar de suspeitos ou espectadores, ou para
desprezar de forma não profissional sua própria agressão reprimida,
frustração pessoal ou animosidade em relação a outros.
Se alguma coisa, as circunstâncias especiais e os maiores riscos que
justificam a entrada dinâmica por uma equipe SWAT exigem mais disciplina,
controle, atenção e restrição por parte da aplicação da lei. Os oficiais de
SWAT são especialmente treinados e equipados para lidar com uma
variedade de situações difíceis, incluindo aqueles que exigem um rápido e
esmagador show de força. Em todos os momentos, os oficiais SWAT não
menos do que outros ... devem ter em mente que não estamos em guerra
129

com o nosso próprio povo. 268 F3d 1179. (10th Cir. 2001, tradução nossa,
grifo nosso)

O Diretor do Departamento Legal da NTOA Scoot Wood (2009, p. 96,


tradução nossa, grifo nosso) explica que o caso Holland v. Harrington foi citado mais
de 100 vezes somente no ano de 2009, data da pesquisa que subsidiou o artigo, a
grande maioria nos tribunais distritais dentro do 10º Circuito, mas o caso também foi
citado pelo Tribunal Supremo dos Estados Unidos (Hudson v. Michigan), além do 9º
e do 7º Circuitos e dos tribunais distritais no Texas, na Pensilvânia, em Wisconsin e
em Connecticut; ao final conclui Wood conclui que:
Os tribunais estarão examinando de perto a tática de entrada dinâmica. O
meu conselho jurídico para comandantes da equipe é utilizar a tática de
acordo com padrões reconhecidos e estabelecidos que podem atender
ao padrão de "razoabilidade" do teste de "totalidade das
circunstâncias". Se a entrada dinâmica é usada e ocorre um resultado
involuntário, como a morte ou as mortes de pessoas que não representaram
uma ameaça imediata (ou talvez a morte dos membros da equipe de
entrada), o comandante deve poder articular por que a entrada
dinâmica foi razoável nas circunstâncias. Se ele ou ela não pode fazê-lo,
o demandante terá um argumento válido para colocar um tribunal para
estabelecer a responsabilidade contra o oficial que usou a força e todo o
caminho até sua cadeia de comando.

Dessa forma, em um extremo, temos os incidentes com suspeitos


embarricados, marcados pela velocidade lenta e metódica. Em outro, na mais rápida
velocidade, as entradas dinâmicas, cujo risco é justificado devido à razoabilidade
das circunstâncias e dos bens envolvidos. Ou seja, policiais estão dispostos assumir
certos riscos, desde que de forma planejada, com bons equipamentos, treinamento
adequado, riscos esses calculados em nome da defesa de pessoas inocentes que
não conseguem se defender.
Entre esses dois conceitos estão os mandados de busca, na ordem de
prioridade de segurança os suspeitos estão em quarto lugar, enquanto o policial
está em terceiro – de forma que não se justificam assumir os risco elevados
decorrentes das entradas dinâmicas.
Para o serviço de cumprimento de mandados de buscas vale a premissa :
nenhum marginal preso ou porção de droga justifica um policial ferido ou morto. Por
outro lado, ninguém quer deixar os traficantes e criminosos à solta na sociedade.
Utilizando-se como doutrina principal o ciclo P do NIMS 2017 - porém
especificando o gerenciamento de incidentes, Heal (2012, p.88) sugere dividi-lo em
cinco fases: 1) Planejamento, 2) Ensaio, 3) Movimento, 4) Assalto e 5) Retirada.
130

6.3.1 Planejamento

A partir de 2002, o então 1° Ten Paulo Aguilar e o 1° Sgt PM Aparecido


tiveram contado com integrantes da SWAT do Texas, incorporando o uso de
entradas cobertas realizadas por meio de espelhos. De tal forma, o GATE possui
amplo espectro de atuação indo das entradas mais lentas e metódicas às mais
rapidez e dinâmicas, podendo desta forma, ser utilizado seu Sistema de
Desempenho Humano, para o cumprimentos de mandados de busca de alto risco.
Noble (2014, p. 104, tradução nossa, grifo nosso) explica a dinâmica do
empregos de grupos especiais na atividade de mandados de buscas:
As equipes táticas foram desenvolvidas na sequência do incidente do
atirador do Texas Towers e dos tumultos de Watts para abordar o
comportamento violento aberrante que estava fora das táticas e das
habilidades da aplicação da lei tradicional. Embora as equipas táticas
tenham incontestavelmente um papel na aplicação da lei moderna,
essas equipes não devem ser implantadas para mandados de busca
rotineiros devido a alguma possibilidade remota de que os oficiais
possam encontrar uma situação perigosa.
Nem as equipes táticas devem ser implantadas como um método para
melhorar o treinamento dos oficiais ou como um exercício de
construção de equipe devido à falta de ativações de alto risco. Em vez
disso, as equipes táticas só devem ser implantadas para serviços mandados
de busca quando existe um risco substancial de comportamento violento,
conforme identificado por uma avaliação de ameaça razoável.

O POP Planejamento do cumprimento do mandado judicial nº 4.04.01, de


06/06/2013, prescreve que:
2. Verificar junto ao P/2 da OPM, a disponibilidade de informações que
possam contribuir para o cumprimento do mandado judicial, o que poderá
ser feito por meio dos Sistemas Inteligentes (COPOM On-Line, Infocrim,
Infoseg, Fotocrim, etc).
[..] 7. Confirmar se haverá necessidade de apoio especializado: GATE,
Bombeiro, Sistema “Olho de Águia” para captação de imagens em tempo
real, Canil, ou ainda o apoio de outros órgãos públicos, como é o caso da
equipe de zoonoses, para a captura de animais domésticos, dentre outros.
(PMESP, 2014, p. 21)

Eis a pergunta: Qual o critério para se verificar a necessidade do apoio ou não


do GATE? O POP é omisso nesse sentido. A falta de objetividade faz com que
agentes do patrulhamento territorial, que raramente trabalham juntos e que não
possuem treinamento e equipamentos adequados, procedam a operação esporádica
de entradas táticas, a fim de cumprir mandados de busca com alto risco. Nesse
mesmo sentido Graves (2006, p. 32, tradução nossa, grifo nosso) nos diz:
131

No entanto, as agências que não possuem um programa sistemático de


mitigação de riscos enfrentam muitos obstáculos. Uma agência policial da
Califórnia teve um desses problemas. Não houve padronização quanto ao
momento de envolver a equipe de SWAT no tratamento de incidentes.
Muitas vezes, foi uma decisão subjetiva tomada por várias pessoas
diferentes na cadeia de comando, qualquer uma das quais poderia ter
tomado a decisão errada ao longo do caminho. Isso levou a patrulheiros
que raramente trabalhavam lado a lado sendo jogados juntos para cumprir
um mandado envolvendo sujeitos armados e perigosos procurados por
crimes violentos. Às vezes, levou a equipe do SWAT a ser chamada quando
sua presença talvez não era justificada - um caso de exagero.

O POP de Cumprimento de Mandado Judicial é subjetivo no processo


decisório, a respeito de se entender necessário ou não o acionamento do GATE.
Isso pode levar o Comandante a decidir mal e expor sua tropa a riscos
desnecessários. Além do mais, o pop não prevê o uso de equipamento de
segurança: capacetes e escudos balísticos.
O treinamento também não é adequado e precisa ser complementado, pois,
em situações de mandados de busca, é previsível que o policial tenha que realizar
deslocamentos e varreduras em áreas fechadas, buscando um suspeito acusado de
crimes violentos. Tal busca pode exigir a utilização de arma para se defender,
entretanto, o Método Giraldi® não prevê tiro em deslocamento, o que torna a
atividade policial carente de treinamento e, logo, da possibilidade de se defender
adequadamente.
Essa ausência de previsão de treinamento de tiro em movimento já foi
detectada e detalhada anteriormente, quando comentou-se a respeito do POP de
Progressão, transposição de obstáculos, entrada em ambientes fechados e
varreduras, portanto, a carência de tiro em movimento repercute em outras
atividades do treinamento policial, logo na execução eficiente do serviço.
Outra observação, o POP de mandado de busca não remete o leitor ao POP
de entradas em ambientes fechados e varreduras, mas, mesmo que assim o fizesse,
o POP de entradas e varreduras é cego, ele não define em qual contexto se está
fazendo uma entrada ou um varredura em ambiente fechado. Quanto muito, o POP
define uma simples procura, uma busca de um marginal escondido ou homiziado, o
que é muito diferente de cumprir um mandado de busca que pretende prender
traficantes, criminosos violentos, bem armados – cenários esses que merecem ser
classificado como um mandado de alto risco.
A fim de que não haja dúvidas, todos esses procedimentos – o POP de
progressão, entradas em ambientes fechados e varreduras e o pop de cumprimento
132

de mandado judicial – não previram as nuances de táticas, de técnicas e de


procedimentos, de maneira que igualam problemas de diferentes tamanhos a uma
única solução.
Os comandantes devem ser os principais agentes promotores da mitigação do
risco policial, realizando procedimentos seguros e decidindo adequadamente e com
segurança, pois são os responsáveis por alguns dos possíveis resultados negativos.
Justamente por isso, nos Estado Unidos, são adotadas as matrizes de avaliação de
risco de cumprimento de mandados de busca.
Simplificando, a matriz objetiva responder quem é mais qualificado para lidar
com um determinado cumprimento de mandado. Exclui a subjetividade do processo
de tomada de decisão, enquanto deixa em aberto a possibilidade de tomar decisões
sensatas, sem engessar as operações. Fácil e rápida de ser completada, afigura-se
mais como um check list facilitador do que uma política restritiva. Faz com que os
policiais responsáveis pelo planejamento, inclusive pela fase de inteligência,
relembrem etapas básicas que devem ser adotadas em todas as operações pré-
planejadas.
A matriz, proposta por Graves (2006, p. 32) e adotada por agências na
Califórnia, funciona listando fatores de risco comuns – como quantos suspeitos estão
no local, se existe histórico de drogas, armadilhas, se é um laboratório de tráfico de
drogas, se o suspeito possui treinamento militar e predisposição à violência segundo
os crimes cometeu, etc.
Em seguida, a cada fator de risco encontrado é atribuída uma pontuação. Por
exemplo, eventos de menor risco, como abuso de álcool, recebem menor
pontuação, enquanto que uso de explosivos, presença de laboratórios de tráfico,
treinamento militar, uso de fuzil, recebem as maiores pontuações.
Passa-se à avaliação de risco segundo a somatória, apresentando-se em
categorias:
1) Nível de risco 1 (baixo) 0-20 pontos: Os riscos encontrados podem ser
abordados por meio de estratégias e de táticas básicas de gerenciamento de risco
(patrulha ou investigações).
2) Nível de risco 2 (moderado) 21-34 pontos: Embora a maioria dos riscos
possam ser superados recorrendo a estratégias e táticas básicas de gerenciamento
de riscos (Patrulha ou Força Tática), alguns riscos relevantes podem ser difíceis de
serem superados. Neste caso, obriga-se que o oficial responsável se reúna com o
133

Comandante de Força Tática e com o Coordenador Operacional do Batalhão, no


objetivo de decidirem sobre o evento. Em seguida, o Coordenador Operacional do
Batalhão determinará se é caso de acionamento ou não do GATE.
3) Nível de risco 3 (Alto) 35 pontos ou +: A operação envolve riscos
substanciais que certamente não serão superados. Neste caso, o GATE deverá ser
acionado para a execução do mandado de alto risco.
Portanto, verifica-se que a matriz de risco estabelece basicamente duas
vantagens. Primeiramente, o responsável será direcionado ao planejamento guiado
da operação, de modo a condicionar os envolvidos a obterem certos levantamentos
e certas informações que, em alguns casos, podem ser esquecidas. Tal conduta
auxilia na criação de uma consciência situacional mais clara no tocante à
necessidade de outros órgãos, tais como equipe de desativação de bombas,
bombeiros, CET.
Em segundo lugar, para os Comandantes, a matriz se mostra facilitadora no
processo de definição de qual órgão será mais adequado para o atendimento,
dimensionando os recursos com parcimônia, sem empenho desnecessário de
recursos.
Graves (2006, p. 32, tradução nossa, grifo nosso) explica sobre a utilização
de matriz de risco :
No caso da agência da Califórnia mencionada neste artigo, não houve
aumento nas chamadas de SWAT, mas a implementação da nova matriz de
avaliação de risco reduziu o risco para os funcionários e a comunidade que
eles protegem e atendem.
Conclusão
Durante anos, os oficiais executaram operações pré-planejadas que
não estavam equipadas ou treinadas para lidar. Por isso, muitos oficiais
e suspeitos foram desnecessariamente colocados em perigo. No entanto,
com uma política que aborda a avaliação de risco, essas mesmas
operações podem ser conduzidas pelo órgão mais qualificado segundo uma
visão objetiva.

Algumas observações gerais são válidas aqui. Após a identificação da


presença de cães, um espargirdor de pimenta de grande capacidade deverá ser
utilizado, ou mesmo extintor de incêndio. Deve-se prever planos de resposta com
táticas não letais ou com o uso de distrativos tipo luz e som para realizar as
entradas.
É fundamental, além disso, realizar briefings, por meio de um relatório geral
para que todos tenham uma consciência situacional e uma imagem operacional
comum, utilizando-se de imagens, quadro branco e outros meios didáticos.
134

Apresentar e declarar o objetivo geral smart também é essencial, definindo a


escala do operadores, bem como seus equipamentos especiais, armas, veículos,
lugar de formação no comboio e pontos de entrega e atribuições de deveres.
Por fim, deve-se atentar à escolha de rotas de aproximação, estacionamento
de viaturas e posto de comando, levando em conta a visão do suspeito da rua e o
caminho de movimento para o objetivo ou para o contato.
Davis e Weiss (2012, p. 28) explicam que o Los Angeles County Sheriff's
Department utiliza o mínimo de três policiais para realizarem entradas e varreduras
em locais fechados. Nessa situação, caso ocorra um perigo primário, o primeiro
operacional ficará com a ameaça humana, o próximo a entrar ficará com o canto
pesado e o terceiro limpará o canto leve, uma vez que o primeiro ficou impedido por
estar com a ameaça.
Percebe-se que o POP de entradas em locais fechados e varreduras não
atende a critérios de mandados de busca devendo ser revisto neste aspecto.
A etapa de planejamento deve incluir ampla coleta de informações, a fim de
que possam contemplar todos os aspectos da missão, incluindo indicadores de
desempenho, inteligência e restrições legais. Em posse desse arcabouço de
informações será elaborada a reunião tática, seguindo o ciclo P e Nims 2017. Todas
as opções táticas, nesse momento, devem estar à disposição, para que na
sequência seja escolhida a alternativa mais segura para concluir com êxito sua
missão. Importante lembrar que muitos grupos táticos, na ânsia de realizarem uma
entrada, desconsideram outras opções mais seguras, pois nem sempre invadir é a
opção mais segura.
Embora não seja possível mitigar todos os riscos, podem ser
substancialmente reduzidos, removendo ameaças conhecidas da estrutura fazendo
uma prisão ou detenção antes da entrada.

6.3.1.1 Velocidade, Surpresa e Ação de Choque em mandados de busca

Anteriormente, explicamos que o fator surpresa é a base de todos os outros,


considerando-se, inclusive, como o mais importante, quando capitalizados pela
velocidade e pela ação de choque.
135

O art. 245, do Código de Processo Penal exige que antes de se penetrar na


casa seja mostrado e lido o mandado:
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o
morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa,
os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o
represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
[...]
§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a
entrada. (BRASIL, 2018)

Dispositivo semelhante existe nos Estados Unidos, chamado de knock and


announce (bater e anunciar). No entanto, existem algumas situações em que o
magistrado autoriza o no-knock (sem bater). Neste caso, é dispensada ação de
anunciar ou bater, mas a regra é ser knock and annouce.
Vale resgatar a interessante recomendação do Modelo de Política da IACP
(2005), para cumprimento de manados de busca:
a. Um oficial de polícia facilmente identificável deve bater e notificar as
pessoas dentro do local da busca, com uma voz suficientemente alta para
ser ouvida dentro das instalações, que ele / ela é policial e possui uma
mandado para realizar buscas nas instalações e que ele / ela exige a
entrada às instalações.
b. Após bater e anunciar, os oficiais devem segurar a entrada por um
período de tempo apropriado com base no tamanho e natureza do alvo local
e hora do dia para proporcionar uma oportunidade razoável para que o
ocupante responda (normalmente entre 15 e 20 segundos). Se houver
suspeita razoável de acreditar que o atraso criaria riscos razoáveis para os
oficiais ou outros, inibir a eficácia da investigação ou permitiria a destruição
de evidências, a entrada pode ser feita logo que possível. (IACP, 2005, p.1,
tradução nossa)

Em consequência do anúncio, perde-se parte do fator surpresa, logo


necessário acautelar-se em varrer antes de entrar, originando-se uma velocidade
inferior a uma dinâmica, mas, nem por isso menos rápidas.
Kester (2002, p.41, tradução nossa) explica essa evolução:
Durante anos, a principal maneira de fazer uma entrada e limpar um edifício
foi fazer isso rapidamente e sem hesitação. Na verdade, muitas equipes
pregam que devem ser limpas logo que possível, sem demora,
independentemente das circunstâncias. Muitas vezes vemos esse tipo de
tática em ataques de narcóticos que são conduzidos por equipes SWAT ou
oficiais de narcóticos.
Nos últimos anos, no entanto, vimos muitas equipes modificar suas táticas e
transição para um modo lento e deliberado de entrada na construção.
Lento é muitas vezes referido como deliberado e rápido é muitas vezes
referido como dinâmico. No entanto, uma equipe que limpa um prédio de
forma deliberada ainda é, muitas vezes, dinâmica ao mesmo tempo.

A perda da surpresa não é exclusiva dos mandados de busca, pois também


ocorre nas entradas dinâmicas em recuperação de reféns – geralmente após a
equipe ter varrido alguns cômodos. Da mesma forma ocorre nos mandados Knock
136

and annouce e no-knock: a equipe vai entrando, sendo percebida no local. Por isso
mesmo é citada a regra dos 12 segundos - segundo a qual, decorridos 12 segundos
de plotada uma operação, perde-se o fator surpresa.
Seja como for, tanto na dinâmica como na coberta escalonada – ou seja, uma
entrada coberta mais rápida – a solução se divide em duas ações: se descalona a
velocidade (o que é dinâmica vira movimento coberto compensado e o que é
coberta fica mais lenta e compensada); e empregam-se granadas luz&som, a fim de
sobrecarregar todos os ocupantes do cômodo.
Descalonar (ou compensação coberta) não significa ser apenas menos veloz,
vai além disso, pressupõe utilizar princípios de entradas cobertas, tais como fatiar o
batente da porta e tomar ângulos. Porém, quando se vai realizar essa transição de
velocidade, a equipe deve estar muito sincronizada, tanto na entrada dinâmica
quanto na coberta, saber quando descalonar e os pontos de transição de velocidade
é muito importante, pois a missão pode ser comprometida por meio de operadores
desconexos, agindo em tempos diferentes de operação.
Rick Rector, Oficial do LASD, explica com muita propriedade:
Opção dinâmica - saber quando parar, uma vez que uma equipe decide
sobre a opção dinâmica, a coisa mais importante a saber sobre o
movimento de velocidade dinâmico é quando parar de usá-lo! Uma
equipe deve reconhecer os pontos de transição do movimento de
velocidade dinâmico para a velocidade secreta. Quando a equipe perdeu o
elemento de surpresa, quando eles esgotaram seus recursos e quando
perderam seu impulso, eles devem se mudar para um movimento de
velocidade coberta. Por exemplo, uma equipe pode encontrar vários
ocupantes em um local imediatamente após a entrada em um mandado de
busca. Encontrar essas pessoas com tanta rapidez fará com que a equipe
perca seu elemento surpresa e qualquer impulso, e fará com que seus
recursos se esgotem ao lidar com os numerosos ocupantes. Continuar
dinamicamente através da localização seria muito perigoso. (2011, p. 104,
tradução nossa, grifo nosso)

Um exemplo interessante de atividade de policiamento de choque (voltada


para o objetivo) pode ser visualizado num mandado de apreensão de drogas. Após a
entrada no local, a droga é vista sobre uma mesa. Qual próximo passo? A primeira
missão foi cumprida (apreender a droga), prender o suspeito é uma questão de
tempo, a casa está cercada, não precisamos ser rápidos, deve ocorrer o
descalonamento, porque é mais seguro.
A velocidade dinâmica não anda de mãos dadas com mandados de
segurança, já que se perdeu o elemento surpresa quando foi realizado o anúncio.
Contudo, sempre é válido ressaltar que nenhuma porção de droga ou suspeito preso
137

compensa um policial ferido. Além disso quando existe muita preocupação em


apreender provas rapidamente significa baixas quantidades, logo não é racional o
uso de Grupos Táticos.
Nesse sentido assevera Noble (2014, p. 105, tradução nossa):
A preocupação com a destruição de evidências geralmente é dirigida a
pequenas quantidades de drogas ou narcóticos, não com grandes
quantidades que justificariam o uso de uma equipe tática e certamente não
evidenciam crimes violentos essas baixas quantidades. Enquanto alguém
pode dispensar alguns gramas de drogas ou narcóticos, eles não serão
capazes de dispensar quilos ou armas.
Embora as entradas dinâmicas tenham valor em certas situações, as táticas
de entrada deliberada permitem uma abordagem metodológica mais lenta
que aumenta a segurança da equipe e dos ocupantes.

Antes de avançar é necessário recordar que parte da doutrina se divide


quanto à aplicação de entradas dinâmicas em mandado de busca. Porém, mesmo
essa parte, que é minoritária, admite este procedimentos sob condições muito
particulares. A posição defendida neste trabalho é a majoritária, acompanhada pela
NTOA, CATO e IACP, que defende que as entradas dinâmicas são reservadas
apenas quando vidas de reféns estão em perigo. No tocante a mandados de busca,
o que aceitamos são velocidades de entradas cobertas descalonadas ou
compensadas, pois não é só a velocidade que as diferenciam, os objetivos smart
também, principalmente.
O assunto realmente é muito controverso. Em 2010, o Presidente do
Conselho da NTOA (HANSEM, 2010, p. 10, tradução nossa) teve quer expedir uma
mensagem a esse respeito, no sentido de reafirmar a posição da Associação:
A NTOA sempre apresentou táticas dinâmicas de entrada como uma opção
tática, mas acima de tudo, o planejamento inteligente da missão e a
flexibilidade operacional são os principais componentes ministrados pelos
instrutores NTOA.
As táticas de entrada dinâmica são uma opção viável e comprovada quando
a velocidade de execução é essencial, mas eles são apenas seguros,
eficazes e, em última instância, defensáveis sob certas condições. A
velocidade de execução por parte de uma equipe pode limitar a capacidade
de um suspeito de reagir, mas também limita a habilidade de um oficial para
avaliar ameaças e reagir também. Dispositivos de distração luz&som podem
criar um desvio, mas não substituem um verdadeiro elemento de surpresa.

Uma outra forma de compensar a perda do fator surpresa é realizá-la no início


do dia, assim que surgir a claridade.
Os policiais podem ganhar em segurança, já que a capacidade de raciocínio
do suspeito fica prejudicada, mesmo porque é provável apanhá-lo ainda dormindo.
138

Por outro lado, essa mesma desorientação, ao cumprir um mandado no início do dia,
pode provocar uma resposta irracional de uma pessoa desorientada.

6.3.1.2 Métodos alternativos

Muitas vezes não é o suspeito que é perigoso e, sim, a estrutura onde ele
está que é considerada de alto risco, tendo em vista possíveis obstáculos. Seja a
fortaleza perigosa ou o suspeito perigoso, existem outras formas que devem ser
levadas em consideração para realizar a sua captura.
Por vezes, as equipes ficam ansiosas em realizar uma entrada, mas nem
sempre entrar é a solução mais segura e algumas outras soluções podem ser úteis.
1) Surveillance and takedown (Vigilância e Captura): realizada em um local
alternativo para capturar o alvo, por exemplo, durante o trânsito, ao se deslocar.
Geralmente essa opção é ignorada pelas equipes, por não ser conveniente à
vigilância, e leva tempo até o que suspeito saia da fortaleza.
A vantagem é que evita que o suspeito se apodere de armas armazenadas
em sua fortaleza, que se embarrique ou mesmo que tome as pessoas do interior
como reféns. A abordagem realizada em local alternativo diminui o risco do suspeito
confundir a polícia com um rival, por exemplo. Como desvantagem há a
possibilidade de fuga com o veículo, ou mesmo que um tiroteio aconteça em via
pública.
2) Ruse (Engodo): visa utilizar algum ardil, história de cobertura, cavalo de
tróia, etc. A desvantagem dessa técnica é a exposição dos policiais que podem ser
plotados.
3) Surround and Call Out (Cercar e Anunciar): existindo um cerco bem
montado, o próximo passo é chamar para que saia. Caso não aconteça, poderá se
transformar numa ocorrência de suspeito embarricado. A depender do tipo de prova
coletada, esta poderá ser perdida, o que não acontecerá caso seja apenas um
mandado de prisão.
4) Breach and hold (Contrair e Segurar): como já explicado no tocante aos
suspeitos embarricados, a ação, aqui, gira em torno do cercar, anunciar quebrar e
fazer uma brecha de entrada, sem contudo, entrar. Após a abertura de entrada o
ideal é observar o cenário, aguardar, varrer de modo lento e metódico.
139

5) Breach and Pull-Back (rompe e volta): envolve as ações de cercar,


anunciar, arrombar, segurar, anunciar de novo, entrar e, assim, vai-se ganhando
espaço, conforme já explicado na análise dedicada a incidentes com suspeitos
embarricados.
6) break and (brechas secudárias) e Swarm (enxame): o emprego
simultâneo de técnicas break and rake (brechas secundária) e entradas múltiplas do
tipo enxame são possíveis, combinando-se com todas as anteriores, de forma que a
atenção do suspeito será dividida, ocupada e congestionada por meio de diversos
estímulos e frentes de ataques, fazendo-o ficar confuso.

6.3.2 Ensaio

Ensaios sempre são bons para se detectar erros e falhas de planos. Por isso,
é fundamental o treinamento com o equipamento completo.

6.3.3 Movimento

Tem-se os mesmos dois tipos de movimento explicados nos capítulos


referente aos incidentes com reféns, a saber: movimento para o objetivo e o
movimento de contato.

6.3.4 Assalto

Algumas observações sobre break and rake e swarm e as formas de acesso


são importantes.
Entradas com explosivos são possíveis em mandados de busca? As cargas
explosivas, em regra, são utilizadas como forma de primeiro acesso em uma
edificação, instaladas de forma furtiva. Como nos mandados de busca ocorre o
anúncio e, assim, o fator surpresa se esvai, não há motivos para o uso de cargas
explosivas em regra, já que há outras opções mais práticas como, por exemplo,
140

arrombamento balístico (cal. 12), moto abrasivos, principalmente em portões ou


grades de ferro de vergalhões.
Para entrada explosivas serem utilizadas em mandados de busca, critérios
específicos devem pautar as circunstâncias do caso, sendo a destruição das
evidências um grande indicador da sua possibilidade de uso. Um exemplo estaria na
velocidade de acesso na busca de crimes digitais em que marginais chegam a expor
os discos rígidos em bancadas, a fim de facilitar suas destruições, caso a polícia
chegue.
Por fim, observa-se, caso ocorra disparos de dentro de um cômodo enquanto
a equipe realiza a entrada e varredura, o fogo supressivo (de cobertura) é bem vindo
e deve ser realizados no batente da porta, sendo o caso de 1 disparos a cada 3 a 4
segundos, o suficiente para manter o suspeito ocupado.
141

7 SELEÇÃO DE EQUIPAMENTOS PARA TTP DAS ENTRADAS TÁTICAS.

O gerenciamento por objetivos prevê a declaração de objetivos e


estabelecimento de estratégias. Como formas de alcançá-los o Estado lança mão do
fomento do sistema de desempenho humano, nas dimensões Homem - TTP -
Equipamentos.
O GATE é um grupo com quase 30 anos, de modo que já possui muitos
equipamentos. Assim sendo, neste ponto serão selecionados apenas os principais
equipamentos para o desenvolvimento das TTP de entradas táticas.
Preliminarmente, faz-se necessário apresentar três tipos de simulação: a
construtiva, a virtual e a viva. Rocha (2013) as conceituou no Workshop de
simulação e tecnologia militar em 2013, em Brasília. Vejamos:
– Simulação construtiva: envolve pessoas, equipamentos e ambientes virtuais
simulados, entretanto, é comandado e controlado por pessoas reais.
– Simulação virtual: consiste em empregar pessoas reais operando
equipamentos simulados em cenários gerados por computador.
– Simulação viva: envolve interação simulada entre pessoas, equipamentos e
ambientes reais.
Quanto aos equipamentos é necessário destacar:
1) Software de Comando e Controle: são software de processo decisório
para todos os níveis de decisão (político, estratégico, tático e operacional). Visam
digitalizar o cenário de um incidentes, por meio de sensores, a fim de proporcionar
consciência situacional e imagem operacional comum do incidente. Isso decorre da
complexidade dos incidentes, por serem conectados a fatos, o que acaba gerando a
necessidade do gerenciamento centrado em rede, possibilitando atuação
multitarefas e interoperabilidade interagências.
2) Software de Simulação Construtiva: visam treinar oficiais no processo
decisório de gerenciamento de incidentes e aqui, podem ser simuladas ocorrências
com reféns e incidentes de ataques terroristas múltiplos e coordenados, etc.
3) Console de simulação virtual: visando ao treinamento de tiro virtual,
desde o uso singular do armamento até simulações de entradas táticas, etc. A
Polícia Civil de São Paulo dispõe de um desse gênero na Academia de Polícia.
4) Console de simulação viva: aqui as tropas, os equipamentos e os
ambientes são reais porém as simulações ocorrem por disparo que emitem um laser
142

incapacitando os grupos de ameaças, se compara a um jogo de paintball muito


sofisticado. Neste tipo de simulação viva pode ocorrer também interação com
munições de tintas usadas em armamentos reais, como as da empresa canadense
Simunitions®, em que o policial utiliza a sua própria arma, porém modificada para
simulação. As Forças Especiais do Brasil e os grupos mais evoluídos do mundo
utilizam esse sistema.
5) Shoot house: São estandes de tiro edificados, inclusive com andares, que
possibilitam efetuar disparos reais em 360 graus. Consubstanciam-se no principal
equipamento de treinamento de uso coletivo para equipes táticas que necessitam
exercitar sua TTP de entradas com tiros reais. Além do mais, interagem com os
consoles de simulação viva. As Forças Especiais do Brasil e os grupos mais
evoluídos do mundo também utilizam esses sistema.
6) Equipamentos de breaching (rompimento):
De nada adianta falar de entradas táticas ou mesmo de eficiência estatal se
não conseguimos acessar um local por meio do rompimento de portas, grades de
janelas, portões, paredes, etc. Existem vários equipamentos, mas cabe observar
apenas os mais eficientes ou específicos para a atividade, que por vezes são
esquecidos:
7) Moto abrasivos: da marca Still, por exemplo. É de fácil manuseio,
possibilita cortes em metais como grades de janelas, janelas metálicas, portões
metálicos. Não é recomendável em ocorrências com reféns ou quando se exige
furtividade.
8) Rhino Puller: destinada a realizar abertura de portões e portas que abrem
para fora, pois, puxando-os, seria um aríete com dinâmica inversa.
9) Entrada Térmica: equipamento de oxicorte, portátil, específico para
operações militares ou policiais, inclusive em corte submerso. É utilizado pelo Corpo
de fuzileiros dos EUA, Forças Especiais americanas, FBI, etc. Possui capacidade de
corte linear: 30 cm em aço de 1 polegada em 10 minutos. Exemplo o Kit de
Breaching da empresa Broco®.
10) Cargas Explosivas de Corte: são cargas explosivas fabricadas
especificamente para corte em metal e em alvenaria, algumas causam menos
pressão e onda de choque do que uma granada luz&som.
143

8 CONCLUSÃO

8.1 Considerações

Neste momento, após percorrer todo o conteúdo, cabe a análise e a reflexão


sobre o produzido. Inicialmente, verifica-se que o tema referente a entradas táticas
pode ser abordado de tantas formas diferentes, além dos diversos graus de
processo decisório. O tema em questão está diretamente relacionado ao
gerenciamento de incidentes, que possuis diferentes níveis de decisão (político,
estratégico, tático, operacional), além de ser um tema em constante evolução.
Como a principal fonte da doutrinaria brasileira de processo decisório em
crises policiais é o gerenciamento de crises, introduzido na PMESP em 1995, –
absorvendo as dogmáticas do FBI – foi necessário retornar às origens americanas,
a fim de buscar respostas e maiores informações. Nessa averiguação se tomou
conhecimento da versão mais atual do Nims 2017, que é uma importante fonte de
principiologia de gestão para qualquer incidente.
Percebeu-se, de pronto, que não foi somente o mundo que se tornou mais
complexo, mas o sistema de gerenciamento de incidentes americano também
acompanhou essa complexidade. Se, em 1995, conceituava-se crise como um uma
resposta da polícia, hoje conceituam-se incidentes, que é uma resposta do Estado
em gerenciar um fato antes que ele se torne efetivamente uma crise.
Esse alargamento do conceito de crise, proposto no trabalho, termina por
estabelecer uma terminologia comum por meio de uma gestão centrada em rede, no
intuito de proporcionar uma consciência situacional e uma imagem operacional
comum aos respondedores e aos decisores, fundamental para gestão de qualquer
incidente na PMESP e no Estado de São Paulo.
Verificou-se que, em São Paulo, o Corpo de Bombeiros da PMESP já utiliza o
SICOE, que segue a doutrina do NIMS. Desta forma, a doutrina desenvolvida no
trabalho, a fim de se padronizar e sistematizar o gerenciamento de incidentes do
GATE, seguiu a principiologia do SICOE, logo a do NIMS 2017.
Durante a pesquisa, fato crucial – para a organização das táticas, técnicas
procedimentos do GATE – foi descobrir que o objeto deste trabalho se encaixa
perfeitamente em um conceito fortemente arraigado na doutrina militar americana,
144

chamado de TTP. Este acrônimo é considerado a interface do homem com o


equipamento que, unidos, provocam um relevante feito sinergético e formam um
Sistema de Desempenho Humano fundamental para o sucesso de qualquer
operação. Daí a importância do estudo das TTP de entradas táticas realizadas pelo
GATE, logo deste trabalho.
O desenvolvimento da doutrina de TTP iniciou-se pela pesquisa histórica
acerca das entradas táticas e chegou-se a três conclusões. Primeiramente, os
americanos criaram as entradas cobertas, a fim de reprimir o crime, especialmente
os ligados a suspeitos embarricados. Por outro lado, os britânicos, por meio SAS,
direcionaram suas TTP de entradas para responderem a sequestros realizados por
grupos terroristas. Isso faz deles os criadores das entradas dinâmicas,
especificamente da concepção imediata do perigo.
Em 1983, a SWAT de Los Angeles teve contato com as TTP de entrada
dinâmica do SAS e da Força Delta e, a partir de 1986, o então veterano do SAS Phil
Singleton passou a difundir esta técnica na Divisão Internacional de Treinamento da
Heckler & Kock, nos Estado Unidos. Momento então que 1° Tenente PM Décio teve
contato com essa divisão, incorporando o conhecimento das TTP de entradas
dinâmicas na concepção imediata do perigo no GATE.
O aprimoramento das TTP de entradas táticas passou por uma criteriosa
análise legal. Deve-se lembrar que qualquer TTP sistematizada ou padronizada
deve decorrer da legalidade. Dessa análise, foi proposta a incorporação do conceito
de Ordem de Prioridade de Segurança: 1) Reféns, 2) Pessoas Inocente, 3) Policial e
4) Suspeito. Esse conceito, durante o aprimoramento do estudo, apresentou-se
alinhado com os princípios constitucionais, em específico, com o da eficiência e da
dignidade da pessoa humana.
O desenvolvimento de doutrina também se deu, ao verificar conflito aparente
da Diretriz N° PM3-001/02/13 com a Resolução SSP 13/2010, uma vez que os
termos constantes "se for o caso" na diretriz não devem ser considerados. A
Resolução não deixou margem de escolha pelo acionamento ou não, sendo
compulsório o acionamento do GATE em qualquer hipótese com reféns. Por outro
lado, em outras ocorrências – como incidentes com terroristas ou com bombas – a
Diretriz deixa facultativo o acionamento do GATE, com o que não se pode
concordar.
145

Quando se perquiriu sobre necessária estrutura e organização das TTP de


entrada táticas do GATE, foi imprescindível tratar da definição de responsabilidade
na tomada de decisão. Para isso utilizou-se das definições da teoria do domínio do
fato, da autoria intelectual e da autoria material do delito, visando identificar o
vinculo de responsabilidade.
A fim de melhor estruturar e aprofundar a doutrina das TTP de entradas
táticas, foram estudadas separadamente as técnicas e o procedimento, a fim de
melhor delimitar o papel da hierarquia na tomada decisória. Aqui foi possível fazer
um resgate das técnicas de Inundação e de Concepção Imediata do perigo, e
contribuímos com um profundo conhecimento a esse respeito.
Na sequência, passou-se a estudar as táticas de entradas e sua relação com
os objetivos smart e estratégias, cujo foco girou em torno dos incidentes de
recuperação de reféns, suspeitos embarricado e mandados de busca&varredura. Foi
possível estruturar e organizar como proceder em cada um desses incidentes.
Nesse sentido, foram analisados os princípios de entradas dinâmicas e
concluiu-se que esse tipo de entrada é restrito somente quando envolver
recuperação de reféns, ou seja, quando vidas estiverem em perigo. Em outros
incidentes, como os ligados a suspeitos embarricados e mandados de busca &
varreduras, devem ser utilizadas as graduações das velocidades de entradas
cobertas, pois nenhuma porção de droga apreendida ou marginal preso compensa
um policial ferido ou morto.

8.2 Impacto operacional

Foi possível definir graus de responsabilidade no processo decisório de


incidentes que necessitem utilizar as TTP de Entradas Táticas.
A doutrina de gerenciamento de incidentes com reféns deve respeitar a ordem
de prioridade de segurança: 1) reféns, 2) pessoas inocentes, 3) policial e 4)
suspeito.
A Alternativa Tática da Negociação sem dúvida é importantíssima como forma
de obter informações e dilação de tempo como forma de trazer o tomador para a
racionalidade e como preparatória para outras alternativas táticas, mas deve rumar
um progresso que aumente as possibilidade de libertação dos reféns, em oposição à
146

mera passagem de tempo. O tempo que se passa e que não é aproveitado pela
polícia é aproveitado pelo tomador, quem aproveita o tempo tem a iniciativa, logo
assumindo posição de vantagem no processo decisório capaz de aproveitar uma
janela de oportunidade que surja.
Embora seja verdade que a passagem do tempo possa aumentar a
oportunidade para a libertação dos reféns, também é verdade que uma oportunidade
de resgate viável apresentada e ignorada pode ser perdida para sempre.
Oportunidades não devem ser perdidas, pois são indicativas de exposição
continuado dos reféns ao risco, quando se podia e devia evitar.
Não se deve esperar o risco se tornar insuportável para se iniciar uma
operação de resgate de reféns, caso isso ocorra, há quase nada a se fazer com
segurança e segundo a dogmática das ciências policiais.
Os negociadores devem ser capazes de emitirem relatórios frequentes a
respeito do evolução positiva ou negativa da alternativa tática negociação, uma vez
imprescindíveis para a tomada de decisão do Comandante do Incidente, no sentido
de mudar seu objetivo smart e sua estratégia.
O Comandante do Grupo Tático é o responsável pela escolha da Alternativa
Tática a ser aplicada segundo o objetivo smart declarado e as estratégias definidas
pelo Comandante do Incidente.
A falta de padronização e de sistematização foi comprovada em alguns pontos
das normas regentes relacionadas ao gerenciamento de incidentes e, por isso,
seguirá proposta para alteração da Diretriz N° PM3-001/02/13, uma vez que conflita
com a Resolução SSP 13/2010 e, noutro ponto, desobriga o acionamento do GATE
para incidentes com terroristas ou artefatos explosivos.
Outros procedimentos merecem padronização e uniformização como o POP
de Progressão, transposição de obstáculos, entrada em ambientes fechados e
varreduras, nº 5.13.00. 2014 e o POP de Planejamento do cumprimento do
mandado judicial nº 4.04.01, de 06/06/2013. Eles oferecem apenas uma padrão de
resolução e, não levam em consideração diferentes graus de risco, reduzem
problemas de diferentes tamanhos a uma única solução. Isso não está correto,
conforme demonstrado, pois problemas diferentes devem possuir tratativas
especificas.
Além disso, não preveem o uso de capacete nem escudo balístico e admitem
técnicas de entradas cobertas com dois policiais, mesmo que em alguns eventos de
147

maior risco necessita-se de, pelo menos, três policiais. Por ocorrerem em ambientes
confinados, ambos devem seguir os princípios de entradas táticas. Dentre eles está
o tiro em movimento e, nesse caso, os POPs pecam ao se omitirem quanto à
possibilidade dos policiais se defenderem efetuando o disparo em movimento. O
Método Giraldi® não prevê esse tipo de treinamento e, com isso, os policiais estão
com uma falha no treinamento que impacta suas atribuições diárias.
Sobre o planejamento de mandados de busca, a esse respeito, não existe
uma avaliação de risco objetiva, o que gera dúvida e insegurança na atividade,
podendo custar vidas. Por isso mesmo foi sugerida uma matriz de avaliação de risco
e, caso um mandado seja considerado de alto risco, o GATE deverá ser acionado,
pois possui melhores equipamentos e treinamentos.
Foi sugerido como forma de padronização e sistematização POP, em
incidentes de recuperação de reféns, de marginais embarricados e POP de matriz
de risco a ser realizada em qualquer cumprimento de mandado de busca. Foram
recomendados alguns equipamentos imprescindíveis para o aperfeiçoamento das
TTP de entradas táticas, isso porque realmente se comprovou ausência destes, o
que impacta a eficiência do sistema de gestão. Dentre eles, estão softwares de
consciência situacional e imagem operacional comum, software de simulação
construtiva, consoles de simulação virtual e viva para prática de tiro, casa de tiro,
entre outros. A ausência de toda essa ferramenta demonstra que há que ser feito
para se conseguir padrões internacionais de eficiência na atividade de TTP de
entradas Táticas.
Foi sugerido como padronização e uniformização na PMESP a retirada de
cálculo dos incides de incapacitação e letalidade dos agentes químicos de manuais
ou instruções. Isso porque desde 2002 tais procedimentos não estão mais sendo
utilizados por outros países e polícias, devido à inadequação da pesquisa. É certa a
necessidade do uso de agentes químicos em ambientes fechados como em
incidentes com marginais embarricados, cabendo lembrar que a Indústria Condor
SA já possui linha indoor para esse objetivo.
Por fim, o trabalho impactou no processo decisório, uma vez que os
incidentes de recuperação de reféns, mandados de busca&varreduras e suspeitos
embarricados devem obedecer a seguinte premissas:
1) Recuperação de reféns: corre-se riscos calculados, pois vidas estão em
perigo, justificando-se entradas dinâmicas.
148

2) Mandado de busca&varreduras: nenhuma porção de droga ou suspeito


preso compensa um policial ferido ou morto, por isso justifica-se o emprego de
entradas cobertas escalonadas conforme as circunstâncias, porém os marginais e
os traficantes devem ser presos e as evidências coletadas.
3) Prisão de marginais embarricados: entradas cobertas, lentas e metódicas,
segurança acima de tudo.

8.3 Trabalhos futuros

Enquanto motivação para um trabalho futuro, percebe-se que os POP de


entradas e de mandados de busca não contemplam princípios básicos de combate
em ambientes confinados. O Método Girladi® não os prevê, de forma que são
urgentes trabalhos direcionados a técnicas e procedimentos de tiro vocacionados
para ambientes fechados.
Surge também a possibilidade pesquisa em torno da padronização do POP de
progressão, em entradas em ambientes fechados e varreduras, além do POP de
cumprimento de mandado judicial, uma vez que não foram previstas as nuanças de
táticas, de técnicas e de procedimentos.
149

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APÊNDICE A – Procedimento operacional padrão (POP) de incidentes de reféns

MAPA DESCRITIVO DO Nº Processo: X.XX.XX


PROCESSO NOME DO PROCESSO: INCIDENTE COM REFÉM
MATERIAL NECESSÁRIO
1. Uniforme operacional.
2. Viatura policial.
3. Colete de proteção balística.
4. Cinturão com complementos.
5. Pistola calibre .40 com 3 carregadores.
6. Algemas com a chave.
7. Fiel retrátil.
8. Lanterna.
9. Canivete.
10. BOPM.
11. Relatório de Serviço Operacional.
12. Caneta.
13. Folhas para anotações (bloco ou agenda de bolso).
14. Rádio portátil e Terminal Portátil de Dados (TPD), (quando aplicável).
15. Luvas descartáveis.
16. Escudo balístico.
17. Capacete balístico.

ETAPAS PROCEDIMENTOS
Conhecimento 1. Conhecimento da ocorrência (Vide POP N° 1.01.01).
Deslocamento 2. Deslocamento para o local da ocorrência (Vide POP N°
1.01.02).
Chegada ao local 3. Chegada ao local da ocorrência (Vide POP N° 1.01.03).

Adoção de medidas específicas 4. Atuação no local.

Condução 5. Condução da(s) partes (Vide POP N° 1.01.05).

Apresentaçao da ocorr6encia 6. Apresentação da ocorrência na repartição pública


competente (Vide POP N° 1.01.06).
Encerramento 7. Encerramento da ocorrência (Vide POP N° 1.01.07).
156

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO POP: X.XX.XX

ESTABELECIDO EM:

ATUAÇÃO NO LOCAL
REVISADO EM:

AUTORIDADE RESPONSÁVEL: Chefe do Estado-Maior PM.


NÍVEL DE PADRONIZAÇÃO: Geral.
ATIVIDADES
1. Confirmação da tomada de refém. CRÍTICAS
2. Acionar o GATE, SAMU, Bombeiros.
3. Confirmação do Comadante do Incidente Emergencial sobre o acionamento do GATE e Bombeiro.
4. Estabelecer a contenção ou perímetro interno?
5. Estabelecer o isolamento ou perímetro externo?
6. Trasnferência de Comando do Incidente.

SEQUÊNCIA DE AÇÕES
1. RESPOSTA INICIAL
1.1. Ao receber uma chamada, de uma pessoa pela rua, para o atendimento de ocorrência de refém,
cientificar o Centro de Operações.
1.2. Caracterizada a ocorrência com reféns, cientificar o Centro de Operações que por sua vez
cientificará o CGP e o CFP da confirmação da ocorrência e acionará o GATE.
1.3. O primeiro policial deverá assumir o papel de Comandante do Incidente Emergencial (CIE) e será o
responsável por realizar a análise inicial da situação e sua resposta inicial, determinando quais recursos
provavelmente serão necessários com base nas informações disponíveis e fornecendo essas informaçõe à
rede de rádio e ao Centro de Operações. O policial deve estar ciente de que a presença policial pode ser
um catalisador para uma resposta do suspeito e que ele ou ela deve estar preparado para tomar as medidas
apropriadas se a situação o exigir, independentemente da chegada de adicional de apoio. O policial deve
então direcionar os recursos que chegarem para posições específicas ou para a Área Avançada (Área de
espera) por ele ou ela designa. O policial deverá continuar exercendo a função de Comandante do
Incidente Emergencial até ser libertado por um oficial superior ou um oficial com treinamento
especializado ou experiência no cumprimento desta função. O COPOM e a rede de rádio deverão ser
continuamente cientificadas sobre atualizações de assunção de funções por parte de policiais, assim como
quando ocorrer a transferência das responsabilidades do Comando do Incidente Emergencia para outro
policial.
1.4. O Comadante do Incidente deve confirmar que a Área Avançada (Área de espera) é segura para as
unidades respondedoras e assegurar-se para que um policial seja designado, o tempo todo, para informar o
pessoal que chega.
1.5. O CIE deve considerar as prioridades de segurança da polícia e, em seguida, estaelecer um
perímetro interno para conter o problema se tal contenção for em conformidade com o objetivo principal
da missão. Durante este processo, todo o pessoal estranho à operação devrão ser retirados do perímetro
interno para um local apropriado, sabendo-se que essas pessoas podem ter presenciado fatos iniciais
importantes.
1.6. O CI deve avaliar as opções do tomador e os pontos desencadeantes de possíveis reações, em
seguida, estabelecer um plano de contingência para barrar essas opções, com base na totalidade das
circunstâncias apresentadas.
1.7. O CI deve garantir que os recursos especializados apropriados tenham sido solicitados (GATE,
SAMU, RESGATE, Corpo de Bombeiros, etc.) e pedir que o COPOM o mantenha informado sobre o
status de resposta dessas unidades.
157

1.8. O CI deve avaliar continuamente a situação e determinar se existe oportunidade ou necessidade


para uma intervenção imediata. A decisão deve basear-se em uma variedade de fatores, incluindo o
seguinte:
a) Se da sua incapacidade de agir, caso resolva agir, possa razoavelmente se esperar que resulte na perda
de vidas ou na perda de vidas adicionais
b) Se um número suficiente de pessoal policial devidamente treinado e equipado está disponível para
efetivamente neutralizar a ameaça.
c) Se o local do alvo pode ser invadido ou se o suspeito ser engajado sem aumentar de forma inadequada
os riscos para os reféns ou as pessoas inocentes.
d) Se a intervenção imediata pode limitar ou impedir o acesso do suspeito a vítimas adicionais.
1.9. Quando as circunstâncias sugerem que uma intervenção imediata é necessária e apropriada, uma
equipe de contato devidamente treinada e equipada deve ser formada sob a supervisão do oficial mais
qualificado em cena. A missão da equipe de contato pode variar de acordo com as circunstâncias
apresentadas, mas geralmente o foco é localizar, neutralizar e apreender o suspeito ou bloquear o acesso
do suspeito aos reféns ou conter o suspeito em uma área que irá limitar o movimento do suspeito e
oportunidade de fuga.
2. RESPOSTA SECUNDÁRIA
O Comadante do Incidente Emergencial é responsável por assegurar que uma variedade de tarefas sejam
designadas durante a fase de resposta secundária, incluindo, entre outras, o seguinte:
2.1. Estabeleça um perímetro exterior e providenciar a retirada das pessoas estranhas à operação. Deve
ser dada especial atenção ao tratamento dos que se recusam a serem evacuados.
2.2. Estabeleça um local para o Posto de Comando fora da linha de visão do suspeito e assegure-se de
que as autoridades respondedoras sejam encaminhadas para esse local para serem designadas antes de se
moverem para Área Avançada (Área de espera).
2.3. Iniciar uma investigação para determinar exatamente o que ocorreu e localizar, isolar e entrevistar
vítimas e testemunhas. A entrevista deve incluir a obtenção de informações sobre o suspeito e os reféns,
quando relevante e disponível, especificamente o seguinte:
a) Nome
b) Descrição física
c) Descrição do vestuário
d) Conhecimento militar
e) Historia criminal
f) Armas
g) Estado e condição mental, e os nomes dos clínicos de tratamento
h) Circunstâncias envolvidas na situação imediata
2.4. Obtenha o número de telefone e a localização física do telefone (se fixo) em relação ao local onde o
suspeito irá atender.
2.5. Considere se é lógico, necessário e apropriado com base nos fatos apresentados utilizar o telefone
antes da chegada do GATE para estabelecer comunicações e tentar efetuar a libertação dos reféns.
2.6. Selecione um local para resposta de mídia e designe uma pessoa para interagir com eles antes da
chegada do oficial de Relações Públicas.
2.7. Selecione um local para aqueles que respondem em nome dos reféns e designe um policial para
interagir com eles. Faça com que o pessoal do perímetro externo fiquem atentos à presença desses pessoas
e considere que eles podem tentar entrar na fortaleza.
158

2.8. Faça contato com a pessoa que conhecem sobre o plano do local de destino, incluindo detalhes
relacionados a chaves, portas, fechaduras, fortificação, janelas, alarmes e qualquer outra informação física
que possa ajudar os esforços de resolução.
2.9. Estabeleça e mantenha um registro que documente as atividades que ocorreram e a localização e
identificação do pessoal designado, time line.
2.10. Faça uma breve apresentação para do realizado até o momento para as equipes do GATE após a
chegada.
2.11. Ajude a equipe do GATE à aliviar o pessoal de contenção do perímetro interno.
2.12. Assegure-se de que todos os policiais que foram liberados do perímetro interno se reportem para o
comando, a fim de receberem reatribuições.
3. RECUPERAÇÃO DE REFÉNS.
3.1. O Comadante do incidente Emergencial transmite o comando do Incidente para o Comadante do
Incidente Efetivo.
3.2. Após a liberação da cena para o GATE e as negociações, os esforços de resolução em situações que
não exigem intervenção imediata devem centrar-se principalmente no seguinte:
3.2.1. Reavalie as opções potenciais que o tomador possui e os pontos relacionados que podem
desencadea-las e garanta que a equipe tática esteja totalmente informada e preparada para bloquear
essas opções.
3.2.2. Certifique-se de que todo o pessoal operacional tenha uma descrição e fotografia do suspeito (se
disponível) e tenha sido informado sobre as regras específicas de engajamento.
3.2.3. Implante equipes de atiradores de precisão policial e observadores para reunir informações em
tempo real e oferecer uma opção de resolução se as oportunidade se apresentar e for razoável e
justificada com base nas circunstâncias e regras de engajamento.
3.2.4. Implante sondas de som para obter inteligência e precisa dentro do local da crise.
3.2.5. Certifique-se de que as equipes de reação de emergência, resgate e K-9 do perímetro interno sejam
devidamente implantadas e equipadas para enfrentar todas as contingências prováveis.
3.2.6. Implante equipamentos de controle e intervenção eletrônicos para assumir o controle de
comunicações do telefone e desativar links de comunicações celulares dentro do local de destino.
3.2.7. Prepare equipes para interveção de emergência e ou deliberadas.
3.2.8. Prepare equipamentos de comunicações eletrônicas, como o rescue fone, para facilitar negociações
produtivas, ao mesmo tempo em que reune informações em tempo real no interior do local da crise.
3.2.9. Iniciar negociações.
3.2.10. Continue as negociações, desde que sejam feitos progressos positivos para a libertação dos reféns.
3.2.11. Avalie a viabilidade, a necessidade e a adequação de uma resolução tática, incluindo a opção do
tiro de comprometimento, em situações em que as negociações se revelem improdutivas e uma
resolução tática seria razoável e justificada com base na totalidade das circunstâncias.
3.3. Use uma combinação de táticas e técnicas, de forma consistente com o treinamento aprovado pela
GATE, até que a situação seja bem-sucedida.

RESULTADOS ESPERADOS
1. Que toda a ação seja organizada sob criterios objetivos e técnicos e não somente
pautada pelo ternor das outras pessoas envolvidas.
2. Obtenção das informações necessárias para o êxito da missão.
3. Que o GATE seja acionado assim que confirmada a ocorrência.
4. Que o tomador não faça outro reféns.
5. Que o tomador libere a refém com a chegada da Polícia Militar no local.
159

ESCLARECIMENTOS
1. OBJETIVO
Este procediemto fornece orientação e direção para aqueles que respondem e resolvem situações de
tomada de reféns.
2. DEFINIÇÕES
Refém: uma pessoa detida contra a vontade por um suspeito armado, potencialmente armado ou de outra
forma perigoso, que demonstrou por ação, palavra ou escrita vontade de causar mal injusto e grave.
Situação de refém convencional: um cenário em que uma pessoa está sendo mantida contra sua vontade
por um suspeito armado, potencialmente armado ou de outra forma perigoso e a PMESP tem capacidade
completa de resolução de equipe tática e de negociação treinada e equipada. As situações convencionais
de reféns ocorrem em uma ampla variedade de ambientes operacionais, incluindo ao ar livre, estruturas
pública, fortalezas endurecidas e veículos.
Situação de refém não convencional: um cenário em que uma pessoa está sendo mantida contra sua
vontade por um suspeito armado, potencialmente armado ou perigoso, e a PMESP apesar de ser o órgão
com maior pertinência ou competência legal no incidente, não a detem por completo, não possuindo
treinamento ou equipamentos adequados. As situações não convencionais de reféns ocorrem em uma
ampla variedade de ambientes operacionais. Por exemplo ataques terroristas com bombas de dispersão
radioativa.
Prioridades de segurança: a base das decisões operacionais e táticas da agência inclui o seguinte:
1) Reféns;
2) Pessoas inocentes;
3) Policiais
4) Suspeitos
Ponto de desencadeamento: circunstâncias predeterminadas específicas que justificarão o início de ações
diretas para prevenir ou interromper um determinado comportamento suspeito.
Perímetro interno ou contenção: um limite de proximidade mantido inicialmente pelos primeiros
respondedores, posteriormente transferido para o GATE e projetado para conter a situação na menor área
possível e impedir o acesso ao local alvo por pessoas estranhas.
Perímetro exterior isolamento: um limite fora do perímetro interno mantido pelos policiais do batalhão
territorial destinado a impedir que pessoas não autorizadas entrem na área crítica do incidente.
3. POLÍTICA
A PMESP deve responder e tomar as medidas necessárias para libertar pessoas inocentes que estão em
perigo e que estão sendo detidas ilegalmente contra sua vontade. Durante situações que envolvem a
tomada convencional de reféns, a PMESP deve implementar policiais para responderem inicialmente
contendo o incidente e os suspeitos envolvidos quando apropriado, enquanto se aguarda a chegada do
GATE que possui treinamento e equipamentos especialmente para incidentes com reféns. Esta política
não proíbe os policiais respondedores iniciais desde que devidamente treinados e equipados de tomarem
medidas diretas e imediatas incluindo-se a força letal - nos casos em que o refém enfrenta um perigo letal
e as ações razoáveis dos policiais têm uma alta probabilidade de neutralizar a ameaça letal ou impedir a
escalada da situação.
4. ESTRATÉGIA DE RESOLUÇÃO
A PMESP deve tomar medidas diretas, inclusive o uso de uma força letal - para garantir a libertação
segura de um refém enfrentando um perigo letal. O progresso no aspecto positivo deve ser definido como
o desenvolvimentos que aumentem a probabilidade de libertação segura dos reféns, em oposição à mera
passagem do tempo. Embora seja verdade que a passagem do tempo possa aumentar a oportunidade para
tais desenvolvimentos, é também verdade que uma oportunidade viável de recuperação do refém
apresentada e ignorada possa ser perdida para sempre.
160

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO DIAGNÓSTICO DO TRABALHO


OPERACIONAL

SUPERVISOR: SUPERVISIONADO:
NOME DA TAREFA:
Nº PROCESSO: 4.04.00 Nº POP: Atuação no local em
DATA: / _/ incidente com refém.
4.04.01
ATIVIDADES CRÍTICAS S N OBSERVAÇÕES
1. Ao chegar no local dos fatos foi confirmada a tomada
IM ÃO
de refém?

2. Foi acionar o GATE, SAMU, Bombeiros?

3. Confirmação do Comandante do Incidente


Emergencial sobre o acionamento do GATE e
Bombeiro?
4. Foi estabelecer a contenção ou perímetro interno?

5. O comandante do incindente emergencial tinha


previsibilidade de que sua incapacidade para agir,
poderia razoavelmente se esperar que resultasse em
perda de vidas ou na perda de vidas adicionais?

6. Estabelecer a isolamento ou externa secundária?

7. Ocorreu trasnferência de Comando do Incidente?


161

DOUTRINA
OPERACIONAL
PROCESSO: INCIDENTE COM REFÉM
DESCRIÇÃO LEGISLAÇÃO
Art. 144, § 5º, 1ª parte, da Constituição Federal; letra “a”, “b” e
“c” do art. 3º do Decreto Lei 667/69 (redação pelo Decreto-lei nº
2010); LAZZARINI, Álvaro. A Segurança Pública e o
Atribuições das Policias Militares Aperfeiçoamento da Polícia no Brasil. Revista A Força Policial. São
Paulo: Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nº 5,. jan/mar, 1995

Art. 5º e os incisos II, III, XIII, XV, XVI, XXII,XXXIX, XLII,


XLIII, XLIX, LIV, LVI, LVII, LVIII, LXI, LXII, LXIII, LXIV e LXV
Preceitos constitucionais da Constituição Federal, dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26ª
Edição, São Paulo: Malheiros, 2001; Art 78 do Código Tributário
Poder de Polícia Nacional; LAZZARINI, Álvaro e outros. Direito Administrativo da
ordem pública. 3.ed. Rio de Janeiro:Forense, 1998

LAZZARINI, Álvaro. Poder de Polícia e Direitos Humanos.


Revista A Força Policial. São Paulo: Polícia Militar do Estado de São
Arbitrariedade e Paulo. Nº 30; LAZZARINI, Álvaro e outros. Direito
discricionariedade da ação Administrativo da ordem pública. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998; MAURÍCIO GARIBE e CEL PMESP ALAOR
policial SILVA BRANDÃO. Os Limites da Discricionariedade do Poder
de Polícia. Revista A Força Policial. São Paulo: Polícia Militar do
Estado de São Paulo. Nº 23.

Condução das Partes Inciso LXIII do art.5º da Constituição Federal; §§ 1º e 2º do art. 1º


do Decreto Estadual nº 19.903/50 e Súmula Vinculante do Supremo
Tribunal Federal de nº 011; Decreto Estadual nº 57.783/12.

Condução de partes envolvidas Art. 69 da Lei 9.099/95; parágrafo único do art. 69 da Lei
9.099/95. (vide também Lei Federal nº 10.455, de 13MAI02)
em
infração penal de menor Art.66, inciso I, das Contravenções Penais; art. 319 do
Código Penal; Lei Federal Nº 9.099/95 cc Lei Federal Nº
potencial ofensivo.
Apresentação de ocorrência na 10.259/01 (dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais
repartição pública competente Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal); Resolução
233, de 09SET09; Provimento 806/03 de 24JUL03 (consolida as
normas relativas aos Juizados Informais de Conciliação,
Juizados Especiais Cíveis e Criminais e Juizados Criminais);
Resoluções de nº 2.076, de 22JUL77 e 2.010/16, de 22JUL10, ambas
do Conselho Econômico e Social da ONU (Organização das
NaçõesUnidas); Decreto Estadual nº 57.783, de 10FEV12.

Diretriz PM5-001/55/06, alterada pela Ordem Complementar


nº PM5-001/05/90 e pela Portaria nº PM5-003/511/11, publicada no
Comunicação Social Boletim Geral nº 105, de 06JUN11.
Busca Domiciliar Artigo 5º, incisos X e XI da Constituição Federal, Disciplinados
no
Código de Processo Civil (art. 839 a 843), Código de Processo
162

Penal Militar (art. 170 a 189) e no Código de Processo


Penal (artigos 240 a 250).
No caso de prisão em flagrante (art. 294 do CPP), se o executor
verificar, com segurança, que o réu (infrator) entrou ou se encontra
em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da
ordem de prisão (voz de prisão). Se não for obedecido
imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia,
entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo
noite, o executor, depois de intimar o morador, se não for atendido,
fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo
que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão (art. 293 do
CPP).
No caso de pratica de crime no interior da casa, à noite, perde
a proteção legal, podendo o policial militar adentrar a casa e prender
em flagrante delito o infrator (art. 5º, XI, da CF)

Obtenção de prova Inciso LVI do art. 5º da Constituição Federal; art.10 da Lei


nº 9.296/96; Lei 11.343/06; art. 171 e 172 e parágrafo do Código
de Processo Penal.
Testemunha Art. 202 e art.206 do Código de Processo Penal.
Condução de criança e Art. 106, artigo 172 e § único, artigos 178 e 262, Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA); Lei Federal nº 10.455,
adolescente
de 13MAI02 (altera o parágrafo único do art. 69 da Lei federal
de 9.099/95).
Emprego e Controle de Terminal
Ordem de Serviço nº DTel-008/110/11-Circular, de 04Nov11.
Móvel de Dados (TMD)
163

RELAÇÃO DOS POLICIAIS MILITARES QUE PARTICIPANTES


164

APÊNDICE B – Procedimento operacional padrão (POP) de pessoas embarricadas

MAPA DESCRITIVO DO PROCESSO Nº Processo: X.XX.XX


NOME DO PROCESSO: INCIDENTE COM PESSOAS EMBARRICADAS
MATERIAL
1. Uniforme operacional. NECESSÁRIO
2. Viatura policial.
3. Colete de proteção balística.
4. Cinturão com complementos.
5. Pistola calibre .40 com 3 carregadores.
6. Algemas com a chave.
7. Fiel retrátil.
8. Lanterna.
9. Canivete.
10. BOPM.
11. Relatório de Serviço Operacional.
12. Caneta.
13. Folhas para anotações (bloco ou agenda de bolso).
14. Rádio portátil e Terminal Portátil de Dados (TPD), (quando aplicável).
15. Luvas descartáveis.
16. Escudo balístico.
17. Capacete balístico.
18. Máscara contra gás.
19. agente químico.
20. equipe canina.
ETAPAS PROCEDIMENTOS
Conhecimento 1. Conhecimento da ocorrência (Vide POP N° 1.01.01).
Deslocamento 2. Deslocamento para o local da ocorrência (Vide POP N°
1.01.02).
Chegada ao local 3. Chegada ao local da ocorrência (Vide POP N° 1.01.03).

Adoção de medidas específicas 4. Atuação no local.

Condução 5. Condução da(s) partes (Vide POP N° 1.01.05).

Apresentação da ocorr6encia 6. Apresentação da ocorrência na repartição pública competente


(Vide POP N° 1.01.06).
Encerramento 7. Encerramento da ocorrência (Vide POP N° 1.01.07).
165

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO POP:


X.XX.XX
ESTABELECIDO
EM:
ATUAÇÃO NO LOCAL
REVISADO EM:

AUTORIDADE RESPONSÁVEL: Chefe do Estado-Maior PM.


NÍVEL DE PADRONIZAÇÃO: Geral.
ATIVIDADES
CRÍTICAS
1. Confirmação do incidente se suspeito embarricado ou sujeito embarricada.
2. Acionar o GATE, SAMU, Bombeiros.
3. Confirmação do Comandante do Incidente Emergencial sobre o acionamento do GATE e
Bombeiro.
4. Estabelecer a contenção ou perímetro interno.
5. Estabelecer o isolamento ou perímetro externo.
6. Trasnferência de Comando do Incidente.
SEQUÊNCIA DE AÇÕES
1. RESPOSTA INICIAL
1.1. Ao receber uma chamada, de uma pessoa pela rua, para o atendimento de ocorrência com
pessoa embarricada, cientificar o Centro de Operações.
1.2. Caracterizada a ocorrência com pessoa embarricada, cientificar o Centro de Operações que por
sua vez cientificará o CGP e o CFP da confirmação da ocorrência e acionará o GATE.
1.3. O primeiro policial que chegar ao local deve assumir o papel de Comandante do Incidente
Emergencial (CIE) e ser responsável por:
a) Realizar análise e resposta inicial do incidente.
b) Determinar quais recursos provavelmente serão necessários com base nas informações disponíveis.
c) Retransmitir essas informações para o COPOM e rede de rádio, a fim de todos saibam, criando
consciência situacional e imagem operacional comum.
1.4. O policial de estar ciente de que a presença policial pode ser um catalisador para uma resposta
do suspeito ou sujeito, devendo estar preparado para tomar as medidas adequadas, caso a situação
requeria, independentemente de chegar o apoio solicitado.
1.5. O policial deve direcionar os recursos que chegam para posições específicas ou a Área
Avançada (Área de Espera) que por ele seja designado.
1.6. O policial deverá continuar exercendo a função de Comandante do Incidente Emergencial até
ser libertado por um policial de hierarquia superior ou por um oficial com treinamento especializado
ou experiência no cumprimento desta função.
1.7. O COPOM e a rede de rádio deverão ser continuamente cientificadas sobre atualizações de
assunção de funções por parte de policiais, assim como quando ocorrer a transferência das
responsabilidades do Comando do Incidente Emergencial para outro policial ou Comandante Efetivo.
1.8. O Comandante do Incidente deve se assegurar que a Área Avançada (Área de espera) é segura
para as unidades respondedoras e certificar-se que um policial seja designado, o tempo todo, para
informar o pessoal que chega.
166

1.9. O CIE deve considerar as prioridades de segurança da polícia e, em seguida, estabelecer um


perímetro interno (contenção) para conter o problema se tal contenção for em conformidade com o
objetivo principal da missão. Durante este processo, todo o pessoal estranho à operação deverão ser
retirados do perímetro interno para um local apropriado, sabendo-se que essas pessoas podem ter
presenciado fatos iniciais importantes.
1.10. O CIE deve avaliar as opções do tomador e os pontos desencadeantes de possíveis reações, em
seguida, estabelecer um plano de contingência para barrar essas opções, com base na totalidade das
circunstâncias apresentadas.
2. Estabilização
2.1. Após a estabilização, o CIE deve realizar uma avaliação secundária e considerar o que ocorreu e a
legitimidade da polícia para interceder. É especialmente importante determinar:
a) Se um crime foi cometido.
b) Se a pessoa dentro é um suspeito de ter cometido um crime.
c) Se há provável causa para sua prisão.
d) Se a necessidade de capturar o suspeito nesse momento supera a recusa do suspeito ou sujeito de
se submeter à autoridade policial.
2.2. Na ausência de um crime ou em circunstâncias em que o CI não possa justificar o risco legítimo
de morte ou lesão grave, o melhor curso de ação da polícia será a suspensão da entrada.
3. Resolver a situação
3.1. Ao determinar que a polícia deve tentar resolver a situação de barricada, o CIE deve garantir que
os recursos especializados adequados tenham sido solicitados ( GATE, SAMU, Bombeiros, CET, etc)
e pedir que o COPOM mantenha-o informado sobre o status da resposta dessas unidades.
3.2. O CIE deverá garantir que uma variedade de tarefas sejam realizadas enquanto aguardam a
chegada do GATE, SAMU, Bombeiros, CET, etc, entre outras, a seguinte:
a) Estabeleçer um perímetro exterior (isolamento) e providenciar a retirada das pessoas estranhas à
operação. Deverá ser dada especial atenção ao tratamento dos que se recusam a serem evacuados.
OBS: o isolamente deve prever o campo de tiro do sujeito/suspeito.
b) Estabelecer um local para o Posto de Comando fora da linha de visão do suspeito/sujeito e
assegurar-se de que as autoridades respondedoras sejam encaminhadas para esse local, a fim de serem
designadas antes de se moverem para Área Avançada (Área de espera).
3.3. Iniciar uma investigação para determinar exatamente o que ocorreu e localizar, isolar e entrevistar
vítimas e testemunhas. A entrevista visa obter informações sobre o suspeito / sujeito, quando
relevante e disponível, especificamente o seguinte:
a) Nome.
b) Descrição física.
c) Descrição do vestuário.
d) Conhecimento militar.
e) Historia criminal.
f) Armas.
g) Estado, condição mental e os nomes das clínicas de tratamento.
h) Circunstâncias envolvidas na situação imediata.
3.4. Obteer o número de telefone e a localização física do telefone (se fixo) em relação ao local onde o
suspeito irá atender.
3.5. Considerar se é lógico, necessário e apropriado com base nos fatos apresentados utilizar o telefone
antes da chegada do GATE para estabelecer comunicações e tentar convencer o suspeito ou sujeito a
se render.
167

3.6. Selecionar um local para resposta de mídia e designar um policial para interagir com eles antes
da chegada do oficial de Relações Públicas.
3.7. Selecionar um local para aqueles que respondem em nome do suspeito/sujeito e designar um
policial para interagir com eles. Informar o pessoal do perímetro externo (isolamento) para ficarem
atentos à presença desses pessoas e considerarem que eles podem tentar entrar no fortaleza.
3.8. Fazer contato com a pessoa que conheça sobre o plano do local de destino, incluindo detalhes
relacionados a chaves, portas, fechaduras, fortificação, janelas, alarmes e qualquer outra
informação física que possa ajudar os esforços de resolução.
3.9. Estabelecer e manter um registro que documente as atividades que ocorreram e a localização e
identificação do pessoal designado, time line.
3.10. Fazer uma breve apresentação do realizado até o momento para as equipes do GATE após a
chegada.
3.11. Ajudar a equipe do GATE a assumir o perímetro interno da contenção.
3.12. Assegurar-se de que todos os policiais que foram liberados do perímetro interno se reportem
para o comando, a fim de receberem reatribuições.
4. CAPTURA DE SUSPEITO OU SUJEITO EMBARRICADO.
4.1. O Comandante do incidente Emergencial transmite o comando do Incidente para o
Comandante do Incidente Efetivo.
4.2. Após a liberação da cena para o GATE, os esforços de resolução na maioria das situações
envolvem o seguinte:
4.3. Reavaliar as opções potenciais do suspeito/sujeito e os pontos desencadeantes de possíveis
reações, em seguida garantir que a equipe tática esteja totalmente informada e preparada para
bloquear essas opções.
4.4. Implantar equipes de atiradores de precisão policial e observadores para reunir informações
em tempo real e oferecer uma opção de resolução se a oportunidade se apresentar e for razoável e
justificada com base nas circunstâncias e regras de engajamento.
4.5. Implantar sondas de som para obter inteligência objetiva e precisa dentro do local da crise.
Isso é crítico, especialmente em casos como em cenários de tiroteio suicídia (suicide by cop),
quando a determinação da condição e do animus do suspeito ou sujeito conduzirá as táticas a serem
utilizadas para resolver o problema.
4.6. Certifiquar-se de que as equipes de reação de emergência, resgate e K-9 do perímetro interno
sejam devidamente implementadas e equipadas para enfrentar todas as contingências prováveis.
4.7. Implantar equipamentos de controle e de intervenção eletrônicos para assumir o controle das
comunicações do telefone e desativar links de comunicações de celulares dentro do local de
destino.
4.8. Preparar uma intervenção tática deliberada, que inclua um plano de emprego de agente
químico, ensaiar a com a equipe de entrada, manipulação do robô e rompimento de acesso.
4.9. Preparar equipes para interveção de emergência caso tente furar a contenção.
4.10. Preparar equipamentos de comunicações eletrônicas, como o rescue fone, para facilitar
negociações produtivas, ao mesmo tempo em que reune informações em tempo real no interior do
local embarricada.
4.11. Iniciar o esforço de técnicas de resolução, que se concentra na criação do ambiente para uma
resolução negociada bem-sucedida.
4.12. Continuar as negociações e os esforços relacionados a ela, desde que se mostrem em progresso
positivo para a libertação dos reféns.
4.13. Avalie a situação e determinar se é razoável, lógico e apropriado partir para táticas de
resolução.
168

4.14. Certifiquar-se de que existe autorização judicial adequada e quais são (um mandado de busca
ou mandado de prisão) antes que a policia inicie o uso de táticas para entrar. Exceto no caso de
desastre, prestar socorro e flagrante delito.
4.15. Use uma combinação de táticas e técnicas, de forma consistente com o treinamento aprovado
pela GATE, até que a situação seja bem-sucedida.

RESULTADOS
1. Que toda a ação seja organizada sob criterios objetivos e técnicos e nao somente pautada pelo
temor das outras pessoas envolvidas.
2. Obtenção das informações necessárias para diferenciar se suspeito ou se sujeito embarricado.
3. Que o GATE seja acionado assim que confirmada a ocorrência.
4. Que o suspeito/sujeito não tenha campo de tiro para atingir pessoas inocentes.
5. Que o suspeito/sujeito se entregue com a chegada da Polícia Militar no local.
6. Adequação da quantidade de policiais militares empregados para realização da contenção
ou perímetro interno.
7. Adequação da quantidade de policiais militares empregados para realização do isolamento
ou perímetro externo.
8. Que comando do incidente seja transmitido, de modo técnico e ordenado, ao GATE.
9. Que o suspeito/sujeito se entregue com a negociação.
10. Que o emprego de gás possibilite o suspeito/sujeito de se entregar.

AÇÕES CORRETIVAS
1. Readequar a contenção, caso inadequada.
2. Readequar o isolamento, caso inadequada segundo campo de tiro do sujeito/suspeito.
3. Acionar o GATE, SAMU, Bombeiro, caso não tenham sido acionados.

POSSIBILIDADES DE ERRO
1. Efetivo insuficiente para possibilitar a contenção.
2. Efetivo insuficiente para possibiltar o isolamento.
3. Não realizar o cadastramento no posto de comando.
4. GATE e serviço médico não serem acionados de início após confirmação.
5. Realizar concessões que aumentem o risco ou dificultem as operações.
169

ESCLARECIMENTOS

5. OBJETIVO
Este procediemto fornece orientação e direção para aqueles que respondem a situações envolvendo
suspeitos ou sujeitos embarricados.
6. DEFINIÇÕES
Suspeito Embarricado: uma pessoa suspeita de cometer crime que tomou posição em um
local físico, na maioria das vezes uma estrutura ou veículo, seja fortificado ou não, que não permite
o acesso imediato da polícia ou que se recusa as ordens policiais para sair. Um suspeito embarricado
pode estar armado, de forma confirmada, ter a intenção de se armar, ter acesso a armas no local ou
não ser possível definir sua posse ou não de arma.
Pessoa Embarricada: uma pessoa que não é suspeita de cometer um crime, mas é o foco de
um esforço legítimo de intervenção da polícia - envolvendo muitas vezes ameaça de suicídio ou
doença mental - que tomou posição em um local físico, na maioria das vezes uma estrutura ou
veículo, seja fortificado ou não, não permitindo o acesso imediato à polícia ou que se recusa às
ordens da polícia para sair. Uma pessoa embarricada pode estar armada de forma confirmada, ter a
intenção de se armar, ter acesso a armas no local ou não ser possível definir sua posse ou não de
arma.
Técnicas de resolução: ação policial primária voltada para a resolução de um incidente com
suspeito/sujeito embarricado envolvendo o uso de técnicas minimamente intrusivas, como
negociações, passagem de tempo, vigilância eletrônica, iluminação de alta potência.
Táticas de resolução: ação policial secundária voltada para a resolução de um incidente com
suspeito/sujeito embarricadas envolvendo o uso de táticas intrusivas, como rompimento de janelas,
brechas secundárias, rompimento mecânico ou explosivo, agentes químicos e munições
relacionadas, violação e retenção, entrada e busca com robôs, busca com cães com guia longa e
curta, ou entrada e busca realizada pela equipe tática.
Prioridades de segurança: A base das decisões operacionais e táticas da agência inclui o seguinte:
1) Reféns;
2) Pessoas inocentes;
3) Policiais;
4) Suspeitos.
Ponto de desencadeamento: circunstâncias predeterminadas específicas que justificam o início de
ações diretas para prevenir ou interromper um determinado comportamento suspeito.
Perímetro interno ou contenção: um limite de proximidade mantido inicialmente pelos primeiros
respondedores, posteriormente transferido para o GATE e projetado para conter a situação na
menor área possível e impedir o acesso ao local alvo por pessoas estranhas.
Perímetro exterior isolamento: um limite fora do perímetro interno mantido pelos policiais do
batalhão territorial destinado a impedir que pessoas não autorizadas entrem na área crítica do
incidente.
Munições químicas: um termo usado para descrever uma classe de munições usadas em situações
de embarricamento para obrigar o suspeito ou sujeito a sair do local alvo e, mais comumente,
constituído por CS (ortoclorobenzalmalononitrilo) e OC (oleorresina capsicum).
170

7. POLÍTICA
A PMESP deve usar oficiais de campo devidamente treinados, equipados e supervisionados para
responder e conter um potencial suspeito de barricada ou incidente de assunto.
Se a situação envolver comportamentos abertamente perigosos ou assaultivos dirigidos a policiais
ou cidadãos envolvidos, ou que implique ser suspeito procurado por crimes graves, o elemento
tático deve responder e resolver imediatamente o problema através de opções de resolução por ação
primária e secundária.
Em todos os outros casos, após a estabilização da situação, esta agência deve examinar atentamente
a situação e pesar os benefícios de forçar o suspeito ou sujeito de sair do enclousuramente contra os
custos potenciais. Esta agência deve dar atenção especial ao empenho do efetivo policial
empregado, o impacto que isso pode ter sobre a capacidade de resposta para outros incidentes
críticos na comunidade, o impacto nos policiais da operação policial, a gravidade do crime ou
situação envolvida, as prioridades de segurança da PMESP e o reconhecimento dos riscos
envolvidos quando as táticas são usadas para resolver uma situação de embarricamento.
Se a decisão for tomada para continuar com o esforço de resolução, as técnicas minimamente
intrusivas devem ser empregadas até que o suspeito ou sujeito saia, caso a polícia decida suspender
o esforço e sair da cena, ou a polícia decida que as técnicas de resolução minimamente intrusivas
falharam e exista necessidade de levar o suspeito ou o sujeito à prisão justifica ocorrerá a transição
para a tática.
A PMESP em regra não usará táticas para resolver uma situação de embarricamento, a menos que
tenha uma justificativa legal para prender o suspeito ou sujeito ou levá-lo à custódia física.
O progresso positivo em um esforço de resolução de embarricamento deve ser definido como o
desenvolvimento que aumente a probabilidade de que o suspeito ou sujeito se entregue com
segurança, em oposição à mera passagem do tempo.

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DIAGNÓSTICO DO TRABALHO


DE SÃO PAULO OPERACIONAL

SUPERVISOR: SUPERVISIONADO:
NOME DA
DATA: / _/ Nº POP: TAREFA: Atuação no local
Nº PROCESSO: 4.04.00 em incidente com refém.
4.04.0
ATIVIDADES CRÍTICAS 1 S NOBSERVAÇÕES
1. Ao chegar no local dos fatos foi confirmada a
IM ÃO
ocorrência, se suspeito/sujeito embarricado?

2. Foram acionados de início o GATE, SAMU,


Bombeiros?
3. Houve confirmação do Comandante do Incidente
Emergencial sobre o acionamento do GATE e
Bombeiro?

4. Foi estabelecer a contenção ou perímetro


interno?
5. Estabelecer o isolamento ou externa secundária?
6. Ocorreu transferência do Comando do Incidente?
171

DOUTRINA
OPERACIONAL
PROCESSO: INCIDENTE COM REFÉM
DESCRIÇÃO LEGISLAÇÃO
Art. 144, § 5º, 1ª parte, da Constituição Federal; letra “a”, “b” e
“c” do art. 3º do Decreto Lei 667/69 (redação pelo Decreto-lei nº
2010); LAZZARINI, Álvaro. A Segurança Pública e o
Atribuições das Policias Militares Aperfeiçoamento da Polícia no Brasil. Revista A Força Policial. São
Paulo: Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nº 5,. jan/mar, 1995

Art. 5º e os incisos II, III, XIII, XV, XVI, XXII,XXXIX, XLII,


XLIII, XLIX, LIV, LVI, LVII, LVIII, LXI, LXII, LXIII, LXIV e LXV
Preceitos constitucionais
da Constituição Federal, dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26ª
Edição, São Paulo: Malheiros, 2001; Art 78 do Código Tributário
Poder de Polícia Nacional; LAZZARINI, Álvaro e outros. Direito Administrativo da
ordem pública. 3.ed. Rio de Janeiro:Forense, 1998

LAZZARINI, Álvaro. Poder de Polícia e Direitos Humanos.


Revista A Força Policial. São Paulo: Polícia Militar do Estado de São
Arbitrariedade e Paulo. Nº 30; LAZZARINI, Álvaro e outros. Direito
discricionariedade da ação Administrativo da ordem pública. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998; MAURÍCIO GARIBE e CEL PMESP ALAOR
policial SILVA BRANDÃO. Os Limites da Discricionariedade do Poder
de Polícia. Revista A Força Policial. São Paulo: Polícia Militar do
Estado de São Paulo. Nº 23.

Condução das Partes Inciso LXIII do art.5º da Constituição Federal; §§ 1º e 2º do art. 1º


do Decreto Estadual nº 19.903/50 e Súmula Vinculante do Supremo
Tribunal Federal de nº 011; Decreto Estadual nº 57.783/12.

Condução de partes envolvidas Art. 69 da Lei 9.099/95; parágrafo único do art. 69 da Lei
9.099/95. (vide também Lei Federal nº 10.455, de 13MAI02)
em
infração penal de menor Art.66, inciso I, das Contravenções Penais; art. 319 do
Código Penal; Lei Federal Nº 9.099/95 cc Lei Federal Nº
potencial ofensivo.
Apresentação de ocorrência na 10.259/01 (dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais
repartição pública competente Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal); Resolução
233, de 09SET09; Provimento 806/03 de 24JUL03 (consolida as
normas relativas aos Juizados Informais de Conciliação,
Juizados Especiais Cíveis e Criminais e Juizados Criminais);
Resoluções de nº 2.076, de 22JUL77 e 2.010/16, de 22JUL10, ambas
do Conselho Econômico e Social da ONU (Organização das
NaçõesUnidas); Decreto Estadual nº 57.783, de 10FEV12.

Diretriz PM5-001/55/06, alterada pela Ordem Complementar


nº PM5-001/05/90 e pela Portaria nº PM5-003/511/11, publicada no
Comunicação Social Boletim Geral nº 105, de 06JUN11.
Busca Domiciliar Artigo 5º, incisos X e XI da Constituição Federal, Disciplinados
no
Código de Processo Civil (art. 839 a 843), Código de Processo
172

Penal Militar (art. 170 a 189) e no Código de Processo


Penal (artigos 240 a 250).
No caso de prisão em flagrante (art. 294 do CPP), se o executor
verificar, com segurança, que o réu (infrator) entrou ou se encontra
em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da
ordem de prisão (voz de prisão). Se não for obedecido
imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia,
entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo
noite, o executor, depois de intimar o morador, se não for atendido,
fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo
que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão (art. 293 do
CPP).
No caso de pratica de crime no interior da casa, à noite, perde
a proteção legal, podendo o policial militar adentrar a casa e prender
em flagrante delito o infrator (art. 5º, XI, da CF)

Obtenção de prova Inciso LVI do art. 5º da Constituição Federal; art.10 da Lei


nº 9.296/96; Lei 11.343/06; art. 171 e 172 e parágrafo do Código
de Processo Penal.
Testemunha Art. 202 e art.206 do Código de Processo Penal.
Condução de criança e Art. 106, artigo 172 e § único, artigos 178 e 262, Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA); Lei Federal nº 10.455,
adolescente
de 13MAI02 (altera o parágrafo único do art. 69 da Lei federal
de 9.099/95).
Emprego e Controle de Terminal
Ordem de Serviço nº DTel-008/110/11-Circular, de 04Nov11.
Móvel de Dados (TMD)
173

RELAÇÃO DOS POLICIAIS MILITARES QUE PARTICIPARAM DESTA REVISÃO:


174

APÊNDICE C – Procedimento operacional padrão (POP) cumprimento de mandado judicial

MAPA DESCRITIVO DO Nº Processo: X.XX.XX


NOME DO PROCESSO: CUMPRIMENTO DE MANDADO JUDICIAL
PROCESSO
MATERIAL
1. Uniforme operacional. NECESSÁRIO
2. Viatura policial.
3. Colete de proteção balística.
4. Cinturão com complementos.
5. Pistola calibre .40 com 3 carregadores.
6. Algemas com a chave.
7. Fiel retrátil.
8. Lanterna.
9. Canivete.
10. BOPM.
11. Relatório de Serviço Operacional.
12. Caneta.
13. Folhas para anotações (bloco ou agenda de bolso).
14. Rádio portátil e Terminal Portátil de Dados (TPD), (quando aplicável).
15. Luvas descartáveis.
16. Escudo balístico.
17. Capacete balístico.
18. Máscara contra gás.
19. agente químico.
20. equipe canina.

ETAPAS PROCEDIMENTOS
Planejamento da ação 1. Planejamento do cumprimento do mandado
judicial (Vide POP N° 1.01.01).
Avaliação de risco do mandado 2. Avaliação do cumprimento
Chegada do mandado
ao local da ocorrência judicial
(Vide POP N° 1.01.03).
Atendimento da ocorrência 3. Cumprimento do mandado judicial (prisão, busca ou
apreensão) (Vide POP N° 1.01.03).

Atuação no local.
175

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO POP:


X.XX.XX
ESTABELECID
O EM:
ATUAÇÃO NO LOCAL
REVISADO EM:

AUTORIDADE RESPONSÁVEL: Chefe do Estado-Maior PM.


NÍVEL DE PADRONIZAÇÃO: Geral.
ATIVIDADES CRÍTICAS
1. Levantamento de informações e análise de risco adequados.

SEQUÊNCIA DE AÇÕES

1. OBJETIVO DA MATRIZ DE AVALIAÇÃO


A matriz visa de forma objetiva estabelecer o risco no cumprimento de um determinado
mandado judicial.
2. PREENCHIMENTO DA MATRIZ DE RISCO
A matriz é dividida em cinco seções dividida por temas relacionados ao local, armas, suspeitos
e riscos gerais. O policial deve marcar as quadrículas de cada seção.
2.1. Local
Pessoas adicionais no lugar = 5pts
Vigilância armada = 25pts
Vigilância = 5pts
Produtos químicos / laboratório = 35pts
Crianças no local = 15 pts
Cães = 5pts
Estilo fortaleza = 5pts
Barreiras geográficas = 5pts
Perímetro de acesso bloqueado = 5pts
Possibilidade de amadilhas = 5 pts
Portão de segurança = 5pts
Utilização de pessoal descaracterizado = 5 pts
Video monitoramento = 5pts

2.2. Armas
Fuzil de assalto = 35pts
Explosivos = 35pts
Arma automática = 35pts
Pistola = 10pts
Revólver = 10pts
Carabinas / aferrolhados = 10pts
Espingarda = 10pts
Armas brancas = 5pts
Desconhecido = 5 pts
176

2.3. Suspeito / Sujeito (Histórico criminal)


Roubo com arma de fogo = 5pts
Agressão / Resitência contra policial = 25pts
Traficante de Drogas = 5pts
Posse ilegal de armas = 10pts
Homicida = 35pts
Liberdade condiciona = 5pts
Roubo = 10pts
Crimes contra os costumes = 10pts
Desconhecido = 5 pts

2.4. Riscos gerais.


Uso de drogas / álcool = 5 pts
Associação criminosa = 5pts
Grupos de ódio = 10pts
Mentalmente Pertubado = 35pts
Experiência militar = 5pts
Paramilitar = 35pts
Experiência de paz = 10pts
Extremista religioso = 10 pts
Suicida = 20pts
Terrorista = 35pts
Desconhecido = 5pts.

2.5. Cálculo
Risco Nível 1 (baixo) 0 - 20 pts
Risco Nível 2 (Moderado) 21-34pts
Risco Nível 3 (Alto) 35pts ou mais

RESULTADOS ESPERADOS
1. Que sejam levantadas as informações e após analisadas.
2. Que os policiais não sejam expostos a riscos desnecessarios.
3. Que seja possível prever a magnitudo do evento.
4. Que a análise de risco seja objetiva, logo o emprego do GATE.
5. Adequação da quantidade de policiais militares empregados para realização da contenção
ou perímetro interno.
6. Adequação da quantidade de policiais militares empregados para realização do isolamento
ou perímetro externo.

AÇÕES CORRETIVAS
1. Novo levantamento de informações.
2. Acionamento do GATE.
3. Preenchimento da matriz.
POSSIBILIDADES DE ERRO
1. Ausência ou levantamento irregular das informações.
177
ESCLARECIMENTOS

1. Observações.
1.1. A seção Suspeito e a Riscos Gerais devem se repetidas para cada suspeito / sujeito que é
conhecido ou que é possível de estar presente no local, após devem ser somadas ao total.
1.2. No caso de cães utilizar gás pimenta, extintor de incêncio ou luz&som.
1.3. No caso de agressão contra policial ou é provável que invista contra os policiais novamnete.
1.4. O papel do GATE na mandado de busca consiste apenas em providênciar acesso à estrutura e
apreensão de pessoas e armas, colocando a fortaleza em segurança. Não compreende coleta de
provas e evidências.

2. Da análise da somatória.
2.1. Nível de risco 1 (baixo) 0-20 pontos: Os riscos que podem ser encontrados podem ser
abordados através de estratégias e de táticas básicas de gerenciamento de risco (patrulha ou
inteligência).
2.2. Nível de risco 2 (moderado) 21-34 pontos: Embora a maioria dos riscos possam ser superados
por meio de estratégias e de táticas básicas de gerenciamento de riscos (Patrulha ou Força
Tática), um ou mais riscos relevantes podem ser difíceis de serem superados. Neste caso
obriga-se que o oficial responsável se reúna com o Comandante de Força Tática e com o
Coordenador Operacional do Batalhão, a fim de que decidirem sobre o evento. Após o
Coordenador Operacional do Batalhão determinará se é caso de acionamento ou não do GATE.
2.3. Nível de risco 3 (Alto) 35 pontos ou +: A operação envolve riscos substanciais que certamente
não serão superados. Neste caso o GATE deverá ser acionado para a execução do mandado de
alto risco.

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DIAGNÓSTICO DO TRABALHO


DE SÃO PAULO OPERACIONAL

SUPERVISOR: SUPERVISIONADO:
NOME DA
Nº POP: TAREFA: Atuação no local
DATA: / _/ Nº PROCESSO: 4.04.00 em incidente com refém.
4.04.0
ATIVIDADES CRÍTICAS 1 S NOBSERVAÇÕES
1. Foram coletadas todas as informações do
IM ÃO
campos?

2. Foram analisadas as informações?


3. Sendo superior a 35 pontos o GATE foi
acionado?
178

DOUTRINA OPERACIONAL

PROCESSO: CUMPRIMENTO DE MANDADO JUDICIAL


DESCRIÇÃO LEGISLAÇÃO
Art. 144, § 5º, 1ª parte, da Constituição Federal; letra “a”, “b” e
“c” do art. 3º do Decreto Lei 667/69 (redação pelo Decreto-lei nº
2010); LAZZARINI, Álvaro. A Segurança Pública e o
Atribuições das Policias Militares Aperfeiçoamento da Polícia no Brasil. Revista A Força Policial. São
Paulo: Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nº 5,. jan/mar, 1995

Art. 5º e os incisos II, III, XIII, XV, XVI, XXII,XXXIX, XLII,


XLIII, XLIX, LIV, LVI, LVII, LVIII, LXI, LXII, LXIII, LXIV e LXV
Preceitos constitucionais da Constituição Federal, dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26ª
Edição, São Paulo: Malheiros, 2001; Art 78 do Código Tributário
Poder de Polícia Nacional; LAZZARINI, Álvaro e outros. Direito Administrativo da
ordem pública. 3.ed. Rio de Janeiro:Forense, 1998

LAZZARINI, Álvaro. Poder de Polícia e Direitos Humanos.


Revista A Força Policial. São Paulo: Polícia Militar do Estado de São
Arbitrariedade e Paulo. Nº 30; LAZZARINI, Álvaro e outros. Direito
discricionariedade da ação Administrativo da ordem pública. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998; MAURÍCIO GARIBE e CEL PMESP ALAOR
policial SILVA BRANDÃO. Os Limites da Discricionariedade do Poder
de Polícia. Revista A Força Policial. São Paulo: Polícia Militar do
Estado de São Paulo. Nº 23.

Condução das Partes Inciso LXIII do art.5º da Constituição Federal; §§ 1º e 2º do art. 1º


do Decreto Estadual nº 19.903/50 e Súmula Vinculante do Supremo
Tribunal Federal de nº 011; Decreto Estadual nº 57.783/12.

Condução de partes envolvidas Art. 69 da Lei 9.099/95; parágrafo único do art. 69 da Lei
9.099/95. (vide também Lei Federal nº 10.455, de 13MAI02)
em
infração penal de menor Art.66, inciso I, das Contravenções Penais; art. 319 do
Código Penal; Lei Federal Nº 9.099/95 cc Lei Federal Nº
potencial ofensivo.
Apresentação de ocorrência na 10.259/01 (dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais
repartição pública competente Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal); Resolução
233, de 09SET09; Provimento 806/03 de 24JUL03 (consolida as
normas relativas aos Juizados Informais de Conciliação,
Juizados Especiais Cíveis e Criminais e Juizados Criminais);
Resoluções de nº 2.076, de 22JUL77 e 2.010/16, de 22JUL10, ambas
do Conselho Econômico e Social da ONU (Organização das
NaçõesUnidas); Decreto Estadual nº 57.783, de 10FEV12.

Diretriz PM5-001/55/06, alterada pela Ordem Complementar


nº PM5-001/05/90 e pela Portaria nº PM5-003/511/11, publicada no
Comunicação Social Boletim Geral nº 105, de 06JUN11.
Busca Domiciliar Artigo 5º, incisos X e XI da Constituição Federal, Disciplinados
no
Código de Processo Civil (art. 839 a 843), Código de Processo
179

Penal Militar (art. 170 a 189) e no Código de Processo


Penal (artigos 240 a 250).
No caso de prisão em flagrante (art. 294 do CPP), se o executor
verificar, com segurança, que o réu (infrator) entrou ou se encontra
em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da
ordem de prisão (voz de prisão). Se não for obedecido
imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia,
entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo
noite, o executor, depois de intimar o morador, se não for atendido,
fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo
que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão (art. 293 do
CPP).
No caso de pratica de crime no interior da casa, à noite, perde
a proteção legal, podendo o policial militar adentrar a casa e prender
em flagrante delito o infrator (art. 5º, XI, da CF)

Obtenção de prova Inciso LVI do art. 5º da Constituição Federal; art.10 da Lei


nº 9.296/96; Lei 11.343/06; art. 171 e 172 e parágrafo do Código
de Processo Penal.
Testemunha Art. 202 e art.206 do Código de Processo Penal.
Condução de criança e Art. 106, artigo 172 e § único, artigos 178 e 262, Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA); Lei Federal nº 10.455,
adolescente
de 13MAI02 (altera o parágrafo único do art. 69 da Lei federal
de 9.099/95).
Emprego e Controle de Terminal
Ordem de Serviço nº DTel-008/110/11-Circular, de 04Nov11.
Móvel de Dados (TMD)
180

RELAÇÃO DOS POLICIAIS MILITARES QUE PARTICIPARAM DESTA REVISÃO:

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