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I.2. Eixos TEoricos pa Cuinica bo Capsi Pequeno Hans Luciano Elia Neste artigo, abordamos cinco grupos de categorias Conceituais que consideramos como fundamentais na estrutura¢ao do trabalho clinico do CAPSi Pequeno Hans, tazao pela qual as intitulamos eixos teéricos desta clinica. Sao elas: “entre muitos”; sujeito; estrutura; estrutura clinica; autismo e psicose infantil, Acreditamos assim contribuir para o esclarecimento conceitual de nossa praxis, e para a sua abertura ao debate coletivo com os colegas que, como nés, ddo-se a tarefa de enfrentar esta clinica, a um sé tempo dificilima e fascinante: a clinica Psicanalitico do sujeito autista. 1. “Entre Muitos” Alguns psicanalistas europeus comegaram, nos anos 90, a trabalhar em instituigdes para criangas autistas e psic6ticas, na Franca, na Bélgica e na Italia. Nesta pratica, inteiramente norteada pela psicandlise, o trabalho clinico é desenvolvido coletivamente, e nao hecessariamente entre duas pessoas, embora se facam PEQUENO HANS - 10 ANOS 29 freqientemente atendimentos assim configur: forca destas experiéncias, ¢ baseado na di psicandlise pura//psicandlise apticada’, segundo toda clinica psicanalitica que nao visa de modo exp! veri formag&o de analistas ~ como € 0 clinica .cional com criangas autistas ¢ psicéticas~ ¢ do campo da psicandlise aplicada, denominou esta pratica (da psicandlise aplica denominagao de “pratica entre muitos” (pratique & plusieurs") - entre muitos autistas, entre muitos que tratam, entre muitos espacos € tempos, enfim. Esta expresso nos chega, portanto, inequivocamente, dos franceses. A pertinéncia desta expressdo deriva evidentemente do fato de que a psicandlise, desde a sua fundagioe tradicionalmente, ‘Gama experiéncin que se desenvolve entre duas pessoas, o que, € francés, se diria, @ dewx no lugar de @ plusieurs. Uma pratica que ‘ec organiza com mais do que isso, em termos do ndmero de seus participes, ni seria cabivel no escopo da experiencia psicanalitica, ‘A maior virtude da expressio, contudo, € que sua formulagao entre muitos (ou mesmo uérios, como se costui expressio francesa em questo, aspecto que posteriormente) demonstra bem que ela esti suficientemente ‘acvertida para ndo cair no engodo de uma pratioa de grupos~ pratica ‘que constitui a Gnica excegio & afirmagio de que, desde sua fundagio, a psicandlise é entre dois. Houve - ¢ ha ~ uma pritica cchamada de psicandlise “em grupo’, ou “de grupo", em oposicao & qual a psicandlise tradicional, a dois, foi impropriamente dita “individual”. Tm tre cvs, cs, Aux tons du Sel, 2002, ‘concos chegaram ae preocupar com adeciva, em sue ise em grupo da palcanalise de grupo, na » PEQUENO HANS-10 ANOS Dizemos que esta denominacio de “psicandlise individual” é imprépria por varias razdes: em primeiro lugar, nao se trata, jamais, do individuo na experiéncia psicanalitica, mas do sujcito do inconsciente, que € transindividual em sua estrutura e no modo mesmo de mua constituigdo; em segundo lugar, se ela ¢ individual, a rigor, nao se opde a grupal, jé que a mesma logica que rege 0 individuo rege 08 grupos, que sdo conjuntos de individuos, ¢ jamais um coletivo de sujeitos. A propria psicandlise, como campo da experiéncia, contrapée-se & logica dos grupos, baseada, desde a brilhante analise de Freud sobre 0 a psicologia das massas’, na identificagao imaginaria, que faz barreira ao aparecimento do sujeito. ‘Trabalhar em grupos é, portanto, criar obstaculos a diregao do trabalho com o sujeito. Assim, uma psicanalise que fosse individual nao poderia ser uma psicandlise, ¢, tal como a psicandlise de grupo, estaria fora do campo da experiéncia do sujeito, obstaculizando, metodologicamente, todo acesso possivel as manifestagdes do inconsciente. ‘Tratar-se-ia de um curiosissimo método que se define por impedir-se a si mesmo de atingir os seus proprios objetives. &, pois, de fundamental importancia diferenciar 0 que esté em jogo no entre muitos de qualquer nogo de grupo. Nao se trata, de forma alguma, de grupo, no Aispositivo ampliado, o que ndoé apenas uma conseqiiéncia do fato, no entanto verdadeiro, de que os autistas © 0s psicoticos nao fazem laco de grupo, ¢ nao funcionam de modo a desenvolverem atividades de grupo. O grande achado que porventura haja em nosso dispositivo, e que ‘Toss0s: colegas europeus nomearam de forma to elogiiente, € justamente o de criar condigdes de um trabalho entre ‘muitos que nao apenas nao obsta o sujeito do inconsciente PS Naa am-Main, 1974, Vol, a [PEQUENO HANS -10 ANOS MAMAS somo, pelo contrario, favorece sua manifestagdo ¢ portanto sua possivel entrada em trabalho peicani ‘ainda mais do que o dispositive classic Heo, €0 favorece Entre muitos, portanto, n&o € em grupo. Mas também néo é entre ou a dois. Entio é algo novo: uma pratica (psicanalitica) que se desenvolve entre muitos. E entre muitos o que? Entre muitos pacientes? Entre muitos profissionais (integrantes da equipe técnica)? Entre muitos espagos ¢ tempos? Pensamos que todos esse muitos séo pertinentes, mas a expressde refere-se fundamentalmente a entre muitos participante (humanos). i ito proximo € Por um caminho talvez muito proxi convergente do de nossos colegasfranceses, mas tilhado, stradas diversas, na sua historia concreta, por estra rersas, formulamos, no inicio da década de 90, em nossa Tese de Doutoradot, uma proposta de dispositive psicanalitico que denomingvamos, na época, em extensdo, querendo com fsso assinalar que se tratava de uma dilatacko espacial, temporal e estrutural do dispositive psicanalitico eres mp erase ee me tinha a ver com a categoria lacaniana de psicanlise em: ensdo, que se distingue justamente da psicanalise como experiéneia clin a, chamada por ee de pion em intensdo. Em 1999, no pI pas formulames ¢ encaminkamos ao Programa Prociéncia, roptinhamos submeter & pesquisa as possibilidades && eekcacao deste dispositive a uma unidade public ae Se ide mental infanto-juvenil, como ja dissemos no ini = Genta inrocugdo. Para eitar esta confusto com cs diferenciagSes categoriais, passamos a falar de dispo: “aa PEE Ta BATE RTETE ETS Teer tadn ao Depertammento de Psicologia dk FUC-Rlo em 3 de abet Boutoredo apresentada so ‘de 1992. Inedito ‘PEQUENOHANS- 10 ANOS 2 Psicanalitico ampliado na segunda formulagéo de nosso Projeto, em 2002. ‘Tratava-se de verificar as condicies de possibilidade de fazer operar 0 dispositive psicanalitico freudiano em. uma clinica institucional e publica de satide mental infanto-juver | com criangas © adolescentes com grave sofrimento psiquico. Para isso, colocamo-nos a exigencia metodolégica de nao proceder a variacies neste dispositive que altcrassem suas condig6es estruturais, ou seja n&o Proceder &s famosas adaptacSes que alteram tais condigées, admitinds, portanto, como pressuposto, que o dispositivo freudiano mantém suas linhas fundamentais, estruturais, através de diferentes configuragoes, modalidades e disposigdes que ele possa assuimir em nome (exclusivamente em nome} do funcionamento subjetivo determinado pelas diferentes estruturas clinicas. O rigoroso respeito as estritas linhas do dispositive psicanalitico freudiano nao mais o fara coincidir, pois, com uma tnica forma que este dispositive pode assumir, Por exemplo, a forma a dois (corpos) e entre quatro paredes, Assim, se as criangas autistas nfo suportam bem estar a dois com um analista dentro de uma sala, o melhor dispositivo de trabalho com elas nao serdo do consultério {ainda que instalado no interior de um servigo puiblico de satide mental}. Nesta configuracéo, a crianca autista tendera a ver-se demasiado avassalada pelo Outro, por exemplo, 0 que faz objegéo a que a funcdo analista se instale para ela, e que, portanto, ela se possa situar como um sujeito. Na configuragao do dispositive ampliado, as criangas encontram.o Outro como que fragmentada, o que favorece que a fungio analista se coloque para ela, desde que haja desejo de analista em quem aatende. [PEQUINO HANS -10 ANOS Dado que, por outro lado, ela ndo se organiza em grupos socialmente constituidos - como os grupos terapéuticos, operativos e algumas oficinas terapéuticas, por exemplo, o que faria mais barreira ainda a que a dita fungao analista se estabelecesse — concebemos um dispositive em que muitas criangas se encontram presentes, em muitos espagos, e durante um tempo muito em relagao ao tempo habitual de uma sessao ou consulta, © com muitos técnicos, todos referidos a uma mesma orientacdo de escuta ¢ intervencéo, ‘Trata-se, assim, de um dispositivo entre muitos, para utilizar a denominagao de Miller, em muitos pontos hhomélogo ao que ¢ utilizado por nossos colegas franceses. ‘Mas sabemos que, em nossa lingua, a expressao de Miller la pratique plusieurs tem sido traduzida no Brasil por pratica com varios e n&o pratica com muitos, como preferimos traduzir.A palavra francesa plusieurs significa, primeiramente, muitos, intimeros, numerosos e, secundariamente, também vdrios, diferentes, diversos. Logo, este segundo sentido também é correto. Os psicanalistas brasileiros que traduzem desta forma—com varios — devem ter suas raztes, ¢ telvez essas razées estejam bem fundamentadas na propria proposta da expressao, ja que seu trabalho no campo da psicanalise & associado institucional e politicamente ao autor da expressao. exatamente por considerar isso que damos as razées pelas quais, em nosso entendimento, 0 dispositive que propomos, ampliado, é entre muitos € néo entre varios. Pensamos na questao do ntimero, da matematica, do um, do um a um do significante, que introduz uma diferenca absoluta entre cada um e si mesmo. O que varia nao é de um para outro, mas 0 diverso deve se estabelecer entre cada um e si mesmo. S4o muitos ( PEQUENO HANS. 10 ANOS Py -— — nao varios) envolvidos nesse dispositivo, e cada um desses muitos, contaveis ¢, quando isso é possivel, * contados, é néoidéntico a si mesmo. Logo, é na dimens&o do cada um dos muitos contados que se encontrao vario. Estender 0 vario para 0 campo do coletivo faria supor que é no conjunto de todos que a variedade perpassa, € nao em cada um. No seu seminério intitulado “O Saber do Paicanalista’’, Lacan aborda a questio do Um a partir de uma leitura Psicanalitica das articulagdes mateméticas que sustentam @ nogéo de um e 0 ato de contar. No Pensamento de Lacan, a distingdo entre unicidade e unidade sempre foi fundamental, desde bem antes do Seminario citado (1971). B dele também a introducao de 7 ‘uma dimensao partitiva~ propria & lingua francesa, que, como se sabe, néo permite certas relacSes fora dessa dimenséo (por exemplo, o comer e 0 beber, em relacdo, Tespectivamente, ao pao e ao vinho, ou A came e & agua: come-se do pao e da carne e nfo o pao e a carne; analogamente, bebe-se dovinho e da agua, endo ovinho © @ Agua). Quanto ao Um, Lacan escreve que ha do Um, de modo partitivo, Parcializa, assim, o Um da Unidade, fazendo-o reduzir-se ao um da unicidade. Por essas razdes, fundamentalmente, preferimos traduzir o termo plusieurs - da expresso francesa, por muitos e nao vérios, como o traduzem no Brasil colegas psicanalistas que, estes sim, situando-se na condigao de sequidores dos pesquisadores europeus em questiic e nfo como colegas brasileiros (como nés nos situamos), reivindicam que a sua traducdo em portugués “é que 6 a mais correta”, “oficial”, e que corresponde ao que eles, ao escreverem plusieurs, pretendem dizer oa ‘TER, = Ga aot a pac hanalyate: gps “lly ade Yun’, que ele abrevia como yan. "PQUENO HANS 10 ANOS. SUSUSAMUUUUVSS SUED NDE ADDR aga dddda Mas nao estamos de mado algum pretendendo que nossa traducdo corresponda @ intengao significativa da palavra francesa para os franceses, Pouco importa, alias: ‘se eles quiseram dizer o que a palavra portuguesa uirios diz, entdo discordamos, pura e simplesmente, deles, ¢ Propomos muitos. Se © que cles querem dizer com plusieurs corresponde ao que queremos dizer com muitos, entao estamos de acordo, e é uma pena que scus seguidores nao tenham compreendido bem os seus mestres, Nao nos ¢ de nenhum interesse saber qual dessas duas possibilidades corresponde a realidade dos fatos, pois isso ultrapassa os limites de nossos interesses de pesquisa, constituindo-se, antes, como questo de politica institucional da psicandlise, que nao tem nenhum lugar aqui, diferentemente da questo da tradugio e da significag&o teérico-clinica dos termos muitos € varios, que, isto sim, é de alto grau de interesse paraa pesquisa, No desenvolvimento da pesquisa, pretendemos aprofundar essas questdes de modo a articulé-las em um eixo de sustentagéo de que, no dispositive psicanalitico com que operamos trata-se de muitos (e nao de vdrios), categoria que em portugués guarda o essencial da elaboracdo lacaniana a partir do um, o que situa a nossa discusséo bem para além do plano meramente Lngtiistico da tradugao §j assinalamos que a traducdo da palavra plusieurs por varios é to correta, em termos de lingua, quanto por muttos), confinando-a em um plano ético, conceitual e metodolégico bem mais complexo interessante. Nao estamos particularmente interessados, em traduzir “bem” o termo dos colegas franceses, mas de traduzir, da melhor maneira possivel, nossas proprias idéias acerca do que se coloca a nés em nossa pesquise. E, pois, em fungéo dos aspectos da estrutura, ¢ em nome do rigor da psicandlise (que, caso se mantivesse us PEQUENO HANS: 10 ANOS Tigida na unicidade configuracional de seu dispositive, deixaria de ser rigorosa pois permaneceria dura e surda s especificidades do funcionamento autista, por exemplo} ‘que formulamos e sustentamos 0 que denominamos de dispositive psicanalitico ampliado, entre muitos. Pensarnos que, se uma psicandlise nem sempre acontece nas muitas experiéncias que vimos tendo nesses seis anos, pois é sempre muito dificil que uma psicanalise aconteca ode acontecer ali, ou seja, tem as condigses estruturais (l6gicas, discursivas, éticas) para isso, e que, quando ela acontece, 0 que acontece é uma ‘verdadeira psicandlise, stricto sensu, propriamente dita. A exemplificagio clinica pode ser dada, ¢ o € com freqiéncia. Nossos colegas europeus nos dio noticias de experiéncias clinicas extremamente bem sucedidas, e todas absolutamente psicanaliticas. Se ha diferengas: entre nossas propostas, estas nao séo, certamente de Girecdo de trabalho. Talvez o vies pelo qual cles © née chegamos a formular as coisas é que seja diferente: eles Pela depreensao de uma forma da psicanélise aplicada 80 campo das psicoses infantis e do autismo; nés, pela depreensic dos modos de funcionamento subjetive das criangas psicéticas © autistas e suas conseqiiéncias ma rrmalacto de um ee clinico psicanalitico, que ve que se ampliar re 3 teve que se ampliar sem perder suas condicoes A questo que se coloca ent&o é: uma. Pratica feita. ‘com muitos ¢ uma psicanélise? Que ela seja psicanslitice Parece néo haver divida, e 08 textos, as jornadas’ (RI), as discussbes 0 atestam fartamente, Mas cque essa praticn seja uma psicanalise, neste ponto ja nao se t. ; em acordo. Por que, ; Saale Por exemplo, nossos colegas nao denominam psicanglise entre muitos? PEQUENO HANS- 10 ANOS. ADDSDDIUINORO DIN UDNUTEOP POOLE LL Aqui intervém uma outra discussao: ada duslidade psicandlise pura/psicandilise aplicada, que Lacan introduz em seu Ato de Fundagao® (da Escola Freudiana de Paris, See constituem a Escola. A Psicanalise oe é ete Itada para a doutrina e para a formagéo de scus ‘gperadone, os psicanalistas. E tedrica e clinica, fiel, nesse aspecto, 4 vocagao da psicandlise inteira em. Tecuser cate tipo de oposicao, Nao apenas a doutrina, masa ee psicanalitica, a analise como uma experiéncia da qui resulta um psicanalista, faz parte da peicanélise pura. Jaa psicanalise aplicada consiste pategaloniies i se a campos clinicos conexos, eee eee ee eee formar psicanalistas, mas & utilizago da psicandlive ‘como instrumento ou recurso a ser acionado em praticas. jualidade néo recobre nem corresponde a uma Ee aroduzida trés ance depela, na Propasigno ‘9 de Outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”, ; que se formula nos termos psicandlse em intensdo/ psicandlise em extensdo, A psicandlise em intenso tneologismo lacaniano, que resultada adjunct do prefixo in para dentro ~ ao radical tenso, em oposicao a0 que se passa no termo usual de extensto, em que dtensaose antecede um ex ~ para fora) designa a experiencia sicanalitica como tal, aquela que ae desenrola entre um Seicanelista e seu psicanalisante. E uma das aeaates da psicandlise pura, mas nao coincide com esta, jé qu Tedonnet aeration! infec, qe egal Rede Inacio, tnternacionl¢ Acted Fondation 0p. 9 Octabre 1967 mur te payphanatyste de Ucote, in one dy Seat, 1968. PEQUENO HANS 10 ANOS A psicanélise em extensao designa a Presentificagio da psicanalise no mundo, sua fransmissio, tarefa da Escola de psicandlise, por exemplo. ‘Tampouce coincide com a psicandllise aplicada da outra dualidade, embora esta faca inequivocamente parte da Psicanélise em extenséio, mas nao a recubra inteiramente, Porquanto a psicandlise em extenséo inclua a Escola ¢ Sua transmissio, por exemplo, o que nao é do campo da Psicandlise aplicada, mas da Psicanélise pura. Assim, do deverios superpor as duas dualidades consideradas, mas estabelecer relagdes entre os elementos constitutivos de catia uma. Um outro equivoco corrente é confundir a Psicanalise em extensio com a extenséio do campo de aplicagao da psicanélise, como se a aplicagao da Psicandlise ao campo insti itucional, de que se trata na experiéncia-objeto do presente artigo, constituisse um exemplo da psicandlise em extens&o. Na verdade, trata- Se da psicandlise aplicada, que é uma dimensio da Psicandlise em extensdo, mas, como dissem Tecobre inteiramente, na medida em que esta: @ formacéo do psicanalista na Escola de psicandllise. A aplicagao da psicandllise a um servigo ptiblico de Satide mental infanto-juvenil, um CAPSI (psicandlise da) pode ~ sim ou néo ~ guardar o rigor da experi psicanalitica Psicanélise pura, que se situa no campo da formadora do psicanalista? Esta é a uestfio que se coloca no cerne do didlogo entre a ‘ualificagéo de uma pratica como uma psicandlise entre muitos ou como uma prdtica psicanalitica entre muitos. © proposito do nosso novo titulo, ao diferenciar-se €m seus termos mas ao mesmo tempo ao retomar a formula de nossos colegas europeus, deve ser aqui tigorosamente distinguide de qualquer idéia de Teproducdo da formulacdo desses colegas, cujo trabalho, PEQUENO HANS. 10 ANOS » No entanto, respeitamos muito. A idéia é marcar os pontos em que nossa pesquisa nos levou, desde 0 inicio, a colocar as coisas de modo um pouco diferente, sendo que neste pouco de diferenca encontram-se elementos essenciais. O que queremos dizer com isso? Que caimos, s¢m nos apercebermos disso, no que Freud denominou o narcisismo das pequenas diferencas, pelo qual afirmamos com alardes de heterogeneidade radical o detalhe que nos diferencia de nossos préximos para justificar a possibilidade de odié-los-e até mesmo extermina-los? Nao, muito pelo contrario, queremos com isso dizer que somes, como nossos colegas da pratique a plusieurs, psicanalistas, que, como eles, submetemo-nos a orientagéo derivada do ensino de Jacques Lacan em nossa pratica, que, como eles, dispusemo-nos a adentrar uma espinhosissima clinica, voltada para criangas e adolescentes forte e gravemente doentes mentais, que, como eles, elevamos essa clinica ao estatuto de pesquisa (unica forma de sustenta-la com rigor), mas que: 1) fazemos tudo isso como eles, como pesquisadores brasileiros, patamarizades, nivelados com outros pesquisadores de outros paises no mesmo campo clinico de questées, de igual para igual, e néo a partir deles, seguindo-os ou por causa deles; 2) essa posigdo nos permite inclusive que nao fagamos as coisas idénticas a eles, como c6pias de seguidores, mas que tenhamos, em nossa pratica e.em nossas pesquisas, pontos de diferenga, marcas préprias que decorrem de nosso préprio trabalho e de nossas concepgies. Assim, optamos por afirmar que € a propria psicandlise que pode ser exercida entre muitos - e n&o meramente uma prdtica que, mesmo tendo franca e claramente assumida sua orienta¢&o psicanalitica (como sabemos que a pratica de nossos colegas europeus tem), ainda assim nao equivale a psicandlise propriamente dita ou, como temos formulado, stricto sensu. © PEQUENO HANS- 10 ANOS

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