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Febre Aftosa

Medo em carne e osso


Surto de febre aftosa avança e faz a Europa reviver
paranóia da doença da vaca louca.

Nos aeroportos europeus, agentes sanitários com luvas de borracha e


ajuda de cães farejadores vasculham as bagagens. Tudo é revirado, os
sapatos são colocados de lado e lavados, e os passageiros passam por
um interrogatório constrangedor. Nos postos fronteiriços ou em estradas
vicinais, os pneus dos carros são desinfetados. Eventos esportivos no
campo estão suspensos. Nem a rainha-mãe inglesa escapou do cerco:
ao participar de um convescote no interior do país, ela pisou com os
sapatos reais numa esteira para desinfetá-los. Um surto de febre aftosa,
descoberto há um mês na Inglaterra, chegou à França na semana
passada e contaminou a Europa inteira com outro tipo de vírus, o do
pânico, o mesmo que varreu a região nos anos 80 com o surgimento da
doença da vaca louca.

A sensação é de que o pesadelo está de volta, numa reedição bem mais


grave. Não bastasse a doença da vaca louca ter se espalhado pelo
continente, causando queda de 40% no consumo de carne e alterando
os hábitos alimentares da população, agora se tem a crise da aftosa. Até
o fim da semana passada, 170.000 cabeças de bovinos, caprinos e
suínos foram sacrificadas na Inglaterra e outras 60.000 no continente.
Se o surto não for controlado, 1 milhão de cabeças deverá repetir o
ritual mostrado diariamente pela TV, de rebanhos incinerados em
fogueiras gigantescas. A febre aftosa é causada por um vírus que pode
ser transmitido até pelo vento, daí as medidas dramáticas para conter
sua expansão. Além da febre, causa feridas nas patas e na boca dos
rebanhos atingidos. E só. Não é mortal para os animais nem apresenta
riscos aos humanos. O maior estrago do vírus é econômico: os rebanhos
contaminados perdem peso e leite.

A vacinação em massa foi descartada porque os produtores perderiam o


status de "livre da aftosa sem vacinação", o que garante o preço maior
da carne exportada. Daí a opção de isolar e sacrificar rebanhos com
suspeita de contaminação. O avanço do vírus fez soar o alerta em vários
países já desconfiados da carne da Europa. Na quinta-feira passada, o
Brasil proibiu as importações de produtos à base de carne da União
Européia para evitar a disseminação da doença da vaca louca. Austrália
e Estados Unidos fizeram o mesmo e ainda reforçaram as inspeções
sanitárias em aeroportos.

Com o novo fechamento de mercados no exterior, rixas históricas


ressurgiram. Na semana passada, um ministro irlandês chegou a referir-
se aos ingleses como "os leprosos da Europa". É verdade que a
Inglaterra parece a origem de todas as mazelas. Mas as condições que
geraram às doenças no país são comuns a toda a União Européia. Todos
eles usavam a ração à base de carcaça de animais - que se suspeita ser
o agente transmissor da doença da vaca louca. A mecanização e a
pecuária intensiva ajudaram a baratear o preço dos alimentos, mas
também facilitaram a propagação da epidemia. O continente já discute a
volta de uma agricultura mais ecológica e a adoção do "boi verde". Vem
a ser, mais ou menos, o gado criado à moda brasileira, solto no campo e
alimentado com pasto.

Revista Veja, 14 fevereiro de 2001.

Ministério descarta denúncia de vacinação do gado


em Ijuí
O chefe do serviço de Sanidade Animal do Ministério da Agricultura no
Rio Grande do Sul, Helio Pinto, não acredita que produtores rurais de
Ijuí estejam vacinando seus rebanhos contra a febre aftosa.

Conforme Pinto, um dos criadores teria até colocado seu gado á


disposição para exames. A coleta de sangue, por enquanto, está
descartada, por causa da ausência de evidências comprovando que os
animais da região teriam sido imunizados. No entanto, as investigações
devem continuar.

Também no final de semana, o presidente da Federação da Agricultura


do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, esteve em Ijuí. Em
reunião com o representante do ministério, foi reafirmada a decisão dos
produtores de não imunizar o rebanho, posição homologada no sábado
por 13 sindicatos rurais da região Noroeste. Sperotto também não
acredita nas denúncias de vacinação em Ijuí.

Coordenadora do DPA acredita que houve confusão

Para a coordenadora administrativa do Departamento de Produção


Animal (DPA) da Secretaria da Agricultura do Estado, Fátima Brandalise,
houve apenas a vontade de vacinar. O DPA procurou a prefeitura de Ijuí
para buscar explicações sobre as suspeitas.
Desde o final de fevereiro, quando as primeiras barreiras volantes foram
instaladas na fronteira com a Argentina, 46 abatedouros clandestinos
foram interditados pela inspetoria veterinária do Estado na região que
compreende Barra do Quaraí a Iraí, conforme o coordenador de
Agricultura da região das Missões, Darci Colbek.

No total, são 11 barreiras fixas e 19 móveis. As unidades são reforçadas


por 93 policiais militares e terão ainda o apoio do Exército, anunciado
pelo ministério. Até agora, três bovinos foram sacrificados no município
de Esperança do Sul por suspeitas que estivessem sendo
contrabandeados.

Denúncias da população ribeirinha relatam que os focos de febre aftosa


detectados na Argentina já estariam a 10 quilômetros da fronteira,
segundo Colbek.
- A Argentina é uma caixa preta. Sabemos que há focos da doença em
algumas províncias e já observamos uma movimentação mais intensa da
defesa sanitária deles conta o coordenador.

Ações na Europa e no Uruguai

O governo uruguaio fechou por 48 horas a ponte General Artigas, na


fronteira com a Argentina. A decisão, tomada na sexta-feira, integra um
conjunto de ações preventivas para tentar impedir a entrada de febre
aftosa e causou preocupação entre dirigentes e produtores argentinos,
que consideraram a medida uma barreira comercial. O Uruguai 'também
reforçou a presença de militares na fronteira.

Na Europa, a crise se alastra. Com 607 focos identificados, o governo


britânico anunciou que 525 mil animais serão mortos no país (foto). A
antiga base aérea de Great Orton, no noroeste da Inglaterra, está sendo
utilizado como o principal local de sacrifício dos exemplares. Na Holanda,
foi confirmado o quinto foco da doença. Argélia, Catar e Israel proibiram
no final de semana as importações de gado e carne procedentes dos
países afetados pela crise.

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