Você está na página 1de 10
oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser: Winnicat @@ kdaterapia no contexlo da violénca familiar Psyché verso impressa ISSN 1415-1138 Psyche (Sao Paulo) v.12 n.22 Sio Paulo jun. 2008 ARTIGOS Abrindo espaco para o ser: Winnicott e a ludoterapia no contexto da violéncia familiar? Opening space to being: Winnicott and play therapy in the context of family violence Maira Bonafé Sei Instituto de Psicologia da Universidade de Séo Paulo Endereco para correspondénci RESUMO © presente trabalho busca descrever um processo ludoterdpico com um menino que havia passado por situacdes de violéncia familiar, compreendido & luz da teoria winnicottiana do desenvolvimento emocional © pequeno paciente pade desenvolver-se emocionalmente, construindo aspectos mais saudaveis em sua personalidade, tendo a intervengo psicoterapéutica, apoiada na compreensdo de ser humano descrita por Winnicott, um papel de extrema Importancia ao oferecer nova esperanga e sentido para o viver. Palavras-chave: Desenvolvimento; Psicanilise; Violéncia familiar; Crianga; Caso clinico ABSTRACT The present work describes the play therapy with a boy that had suffered family violence, analyzing within the emotional development proposed by Winnicott. The little patient was able to develop himself emotionally, building healthier aspects in his personality. The psychotherapeutic intervention, based on the great importance of Winnicottian comprehension of the human, thus offering the boy a new hope and a new sense of being. Keywords: Development; Psychoanalysis; Family violence; Child; Clinical case. As criancas so seres humanos que se encontram em desenvolvimento nao apenas fisico como também emocional, e desta maneira, precisam de cuidados e atencdes especiais, com 0 objetivo de atender as necessidades dessa especial fase da vide. pepsi bysalud org 1415-11382008000 1000 15#-~text=Winncottk2C a necessidade de atencdo,amse%2C... 1/10 elo php 7script=sc!_arttext&ph oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @ a loterapia no contexlo da violénca familiar Para o pediatra e psicanalista inglés Donald W. Winnicott, a necessidade de atenc&o do meio externo é extrema no caso dos bebés, jd que estes se encontram em um momento de “dependéncia absoluta’. Dessa maneira, ainda nao esto em condigdes de comunicar aquilo que precisam, sendo importante a sintonia do ambiente e de seu representante, geralmente a mae, com o bebé. Esta sintonia é chamada de “preocupagéo materna priméria” (Winnicott, 1956), e se manifesta por meio de um estado temporario de fuso entre mae e bebé, fazendo-se importante ressaltar que para possibilitar a entrada da mae nesse estado, ela mesma deve estar sendo apoiada, sustentada, pelo companheiro e/ ou ambiente que a cerca A forca do ego da crianga nesse momento depende, ento, da relacdo ¢ identificaco existente entre a mae € 0 bebé - 0 ego do pequeno individuo é fraco e forte, dependendo apenas da capacidade da mae em Ihe apoiar (Winnicott, 2001). Com 0 passar do tempo e o amadurecimento de seu filho, a mae volta-se novamente para suas atividades externas, contando com a capacidade emacional e cognitiva adquirida de sua crianca de esperar, caracterizando um segundo momento, denominado de “dependéncia relativa’. Ha certa internalizagdo dos cuidados e 0 desenvolvimento de uma confianca no meio, possibilitando a tolerancia quanto & auséncia de cuidados, com a mae podendo “falar” mais com seu filho, ao fazé-lo aguardar pelo atendimento de necessidades e desejos (Winnicott, 19608). Nesse processo de desenvolvimento, ha ento uma acumulaggo de memérias pelo individuo acerca dos cuidados recebidos, fato que possibilita a reproducao deles para consigo préprio, fazendo com que ndo haja uma dependancia grande do meio. Conceitua-se esse momento final de “rumo & independéncia”, denominagao indicativa de uma tendéncia & independéncia, nao sendo esta completa, visto que “o individuo normal ndo se torna isolado, mas se torna relacionado ao ambiente de um modo que se pode dizer serem o individuo ¢ 0 ambiente interdependentes" (Winnicott, 1963, p. 80). Assim, se durante o desenvolvimento essas fases seguem normalmente, atinge-se um estado de satide, caracterizado pela possibilidade do individuo se colocar de forma verdadeira e criativa no mundo (Winnicott, 1975). Isso ocorre devido a ilusdo de onipoténcia experienciada quando o bebé tem suas necessidades atendidas por uma mae devotada, atenta a seu filho, no exato momento em que as necessidades se apresentam. A partir da experiéncia de onipoténcia, faz-se possivel o processo de desilusdo, quando gradualmente vai se reconhecendo a realidade externa, diferenciando-se aquilo que é interno daquilo que é externo. Hé, ento, a necessidade de uma mae e um ambiente suficientemente bons, que sustentem adequadamente esse processo de desenvolvimento emocional, no necessariamente de forma perfeita, jé que a perfeicdo nao faz parte de nossa condigéo humana, mas de forma a no falhar além da capacidade que a crianga tem de suportar essas falhas. Quando nao é possivel contar com as condigées descritas, 0 individuo pode desenvolver algumas estratégias de defesa, dependendo de suas caracteristicas pessoais, dos tipos de falhas vivenciadas e do momento em que as mesmas ocorreram Dentre as possiveis conseqiiéncias, pode-se citar o desenvolvimento de uma psicose, quando as falhas se dao nos momentos iniciais da vida da crianca. Diante de importantes falhas, que so sentidas como uma invasao nesse proceso de integracao do individuo, uma outra estratégia de defesa pode se configurar, sendo esta denominada de falso self. Este teria a funcao de proteger o verdadeiro self das intrusdes sentidas como aniquiladoras, levando a crianca a adequar-se, de maneira forcada, 8s exigéncias do melo externo. Ele pode se manifestar em diferentes graus, desde o mais extremo, quando se implanta como real, fazendo com que aqueles que o observam pensem que se trata da pessoa real, até o grau mais leve, caracterizado pelas atitudes sociais educadas ¢ amaveis (Winnicott, 1960b). No caso do falso self, a submisséio ao meio externo desrespeita o movimento natural do individuo, dominando a sensacao de irrealidade e trazendo um sentimento de inutilidade. Assim, em casos extremos, “quando tudo 0 que importa e é real, pessoal, original e criativo, permanece oculto e nao manifesta qualquer sinal de existéncia, (...) 0 individuo no se importaria, de fato, de viver ou morrer” (Winnicott, 1975, p. 99). Quando a falha ocorre em um momento posterior, quando o individuo jé nao se encontra mais na fase de “dependéncia absoluta”, pode-se desenvolver uma “tendéncia anti-social”, Esta se caracterizaria por atos anti-sociais, que indicariam a esperanca que o individuo tem de reencontrar uma experiéncia boa que foi perdida, estando assim a privacao como raiz dessa tendéncia (Winnicott, 1999). Entretanto, caso no haja um reconhecimento de suas necessidades, por meio dessa comunicaco, a tendéncia anti-social pode se concretizar na forma de delingiiéncia, havendo, entao, uma impossibilidade de tratamento. Um panorama sobre a violéncia familiar: conceituacdo e conseqiién pepsi bysalud org elo php 7script=sc!_arttext&ph 1415-11382008000 1000 15#-~text=Winncottk2C a necessidade de atencao,amse%%2C... 2/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @@ ldterapia no contexlo da violénca familiar Como foi observado na apresentacio & teoria de Winnicott, 0 meio, representado pela mae e familia de forma geral, desempenha um papel primordial para um amadurecimento emocional saudavel. Assim, a violéncia que ocorre dentro do seio familiar, local que deveria funcionar como um local de apoio e sustentacao do individuo, pode trazer importantes consequéncias no que concerne ao desenvolvimento emocional, principaimente das criancas. Conceitua-se o termo “violéncia familiar” como “aces e/ou omissées que podem cessar, impedir, deter ou retardar o desenvolvimento pleno dos individuos” (Koller e Antoni, 2004, p. 297), que ocorram dentro do contexto familiar, este englobando todas as possiveis configuragées familiares. Opta-se por adotar o termo *violéncia familiar”, em detrimento do termo “violéncia doméstica", visto caréter internacional da primeira, e 0 fato da ultima carregar um significado atrelado ao cardter intimo e privado em que este fenémeno por anos foi visto, A violéncia familiar pode ser dirigida a diversos membros da familia, como a mulher, 0 idoso, os portadores de deficiéncia, as criancas e os adolescentes (Brasil, 2001), sendo que no presente trabalho sera abordada a questo dos maus-tratos infantis. Quanto as possiveis divisées dos maus-tratos infantis, Bringiotti (2000) propée que possam ser divididos em pré-natals, que incluiriam as circunstancias prejudiciais 8 crianga, relativas ao perfodo de gravidez da mae; pés-natais, incluindo circunstancias ocorridas durante a vida da crianca; e por fim, os institucionais, quando instituicdes e sociedade expdem a crianca a situagdes que trazem prejulzo ao seu desenvolvimento. Quanto as modalidades de maus-tratos praticadas, tem-se, a partir da definiclo do National Information Clearinghouse (2004), os seguintes tipos: negligéncia, que se diferencia dos outros tipos por nao se tratar de uma ago, mas de uma omiss&o de cuidados necessarios a crianca (Gongalves, 2003); abuso fisico, constituido por danos fisicos advindos de acdes como socar, morder, chutar, queimar etc; abuso sexual, que incluiria atividades como manipulacao dos genitais da crianga, penetracdo, exploracao por meio da prostituigao etc; abuso emocional, que se configuraria como um padrao de comportamento prejudicial a0 desenvolvimento emocional, incluindo desaprovagées, ameacas, rejeicdo, negacao de amor, suporte direc. Cabe ressaltar que apesar de serem definidos de forma separada, os maus-tratos so usualmente encontrados de maneira combinada Considerando as possiveis seqUelas para o desenvolvimento de uma crianca, pode-se pontuar que elas dependem de varidveis diversas, como o tipo de maustratos sofridos, severidade, frequéncia, cronicidade dos episédios, autor dos maus-tratos, idade e sexo da crianga (Jourdan-Ionescu ¢ Palacio-Quintin, 1997) Para Reichenheim e cols. (1999), as consequéncias podem abranger as esferas fisica, social, comportamental, emocional e cognitiva, podendo se fazer presentes a curto, médio e/ou longo prazo. \Varias so as seqilelas de cunho emocional, como ansiedade, medo, hiperatividade, depressio, psicose, envolvimento com substncias psicoativas, maior dificuldade nos relacionamentos interpessoais, menor simbolizacao nas 1997; Amazarray e Koller, 1998; Mello, 1999) Assim, a partir das consideragdes acima, Cicchetti e Toth (1995) advogam uma terapia preventiva junto a essa populacdo, visando a diminuic&o dos possiveis agravos advindos das situacdes vivenciadas. Psicoterapia e psicandlise: possiveis formas de intervencao Diversas so as formas de intervir de maneira a prevenir a ocorréncia dos maus-tratos ou diminuir suas consequéncias. Assim, no que concerne a prevencdo, Cavalcanti (1999) discorre sobre as acdes do Programa de Satide da Familia, que por meio das visitas domiciliares permitem o estabelecimento de lacos entre populacao atendida e profissionais, auxiliando na prevencao, identificacao e intervencao diante de situagbes de maus-tratos. De maneira geral, quanto ao tratamento, Aratijo (2002) aponta para a necessidade de uma abordagem, multidisciplinar, integrando intervencées punitivas, protetoras e terapéuticas, No caso das intervenges psicolégicas, apesar de fundamentais para a interrup¢ao de um possivel ciclo de violéncia, apresentam menor aderéncia, j4 que em outros atendimentos, como 0 médico € o social, tem- se uma resposta mais rapida as necessidades concretas da familia, diferentemente do atendimento Psicolégico, que “exige engajamento mais direto, comparecimento semanal e participaco ativa dos responsaveis na resolugao das dificuldades familiares”, no oferecendo respostas imediatas (Ferreira e cols., 1999, p. 128). pepsi bysalud org Jelo php ?scrpt=sc|_attextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot%h2C a necessidade de atenSo,amée%2C... 3/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @ a ldaterapia no contexlo da violénca familiar Blau e cols. (1993) pontuam que, no caso de criangas, a forma de intervengao mais comum é a terapia individual, observando que essa populagio freqiientemente necesita comunicar o trauma como uma forma de elaborar a experiéncia, apontando o brincar como a forma mais natural da crianga se comunicar. Rotondaro (2002) percebeu a importdncia do respeito ao ritmo da crianga, devendo o terapeuta ser uma figura acolhedora e sensivel, criando um espaco para reconstrucao da confianca da crianca em si mesma, Notou também que uma intervenco psicoterapéutica grupal, realizada em abrigo, péde facilitar 0 desenvolvimento emocional e oferecer espaco para manifestagdo do gesto espontaneo de seus participantes, e de um viver mais criative (Rotondaro, 2005). Lamanno-Adamo (1999) aponta, a partir de uma perspectiva psicanalitica, que é necessério o terapeuta auxiliar no processo de simbolizacdo das criancas, o qual fica afetado diante da experiéncia de violéncia familiar; assim, deve fazer com que as experiéncias possam ser evolufdas e pensadas, ao invés de encenadas e atuadas. Segundo Junqueira (2002), a oferta do terapeuta de “viver com" seu paciente possibilita uma redescrico da prépria histéria, colaborando para se significar e simbolizar o trauma, vivenciando situagdes outras, mais estruturantes, que nao aquelas de abuso, usualmente devastadoras e destruidoras. Assim, a continancia de estados mentais experienciados por pacientes que passaram por situagdes de abuso colaboram para a elaboracdo de sentimentos ambivalentes (Sussuman, 2000) Para Alvarez, 0 processo de elaboracio “é complexo, longo, nem sempre visivel, e com certeza nao necessariamente verbalizado” (1994, p.161), sendo que o terapeuta facilitaria a construcéo de um equipamento mental capaz de refletir sobre a experiéncia Por fim, Magalhdes (2003) observa a relevancia de o paciente viver experiéncias inéditas e significativas Por intermédio da psicoterapia, com o terapeuta existindo como uma pessoa real, que estabeleca limites e ofereca um espaco de sustentacdo capaz de promover a continuidade do desenvolvimento emocional da crianga. Oferece-se uma oportunidade de reconstrugo de objetos internos, prevenindo possiveis conseqliéncias futuras de ordem psicolégica (Favero ¢ cols., 2005). O conhecimento de um processo ‘Tem-se uma quantidade significativa de pesquisas que discorrem sobre a etiologia ¢ seqilelas da violéncia familiar, mas poucas no que concerne & prevenco e ao tratamento daqueles implicados no fendmeno (Cicchetti e Toth, 1995), sendo ainda menor o niimero de trabalhos que abordam o tratamento de criangas que passaram por situacdes que ndo a de abuso sexual. Assim, busca-se uma exploragdo atenta e detalhada do material clinico advindo do atendimento de um Menino abusado fisicamente, realizado na prépria instituicao onde a crianca estava abrigada, articulando- © a teoria do desenvolvimento emocional proposta por Winnicott. Espera-se, com este trabalho, ilustrar uma possivel estratégia de atendimento clinico realizado na instituicgo, ¢ como tal, passivel de ser empregada com essa populagao, demonstrando os alcances observados, Consideragées acerca da pesquisa qualitativa Apresenta-se aqui uma pesquisa qualitativa, e como tal, inserida em um paradigma de ciéncia que aceita 2 existéncia de miltiplas realidades, predominando a légica da descoberta e nao da verificago, de forma 2 buscar o aprofundamento de aspectos “que necessitam de um mergulho intensivo, mais do que um olhar extensivo” (Eizirik, 2003, p. 29) Busca-se uma compreensdo particular do fenémeno estudado, despreocupando-se com generalizacées, principios ¢ lels, sendo de natureza teérica e prética (Martins ¢ Bicudo, 1989). Assim, no ha uma diviséo rigida das etapas de pesquisa, havendo, ent&o, uma maior liberdade teéricometodoldgica (Trivifios, 1987). Considera-se que se tem uma relagio sujeito-sujeito, j4 que o pesquisador esté inexoravelmente implicado no proceso de pesquisa, com sua subjetividade permeando cada etapa da pesquisa (Silva, 1993), sendo que no caso da utilizagao de material clinico, e diante da impossibilidade de registro de todos os fenémenos ocorridos, tem-se sempre um recorte a partir do ponto de vista do pesquisador (Safra, 1993) Considerando-se a relacdo entre seres humanos existente na coleta de dados, tem-se uma impossibilidade de reprodugo precisa da matéria-prima a partir da qual sdo obtidos (Mezan, 2001). Assim, “o trabalho pepsi bysalud org Jelo php scrpt=sc|_attextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot%2C a necessidade de atenclo,amée%2C... 4/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @ a ldterapia no contexlo da violénca familiar nao pode ser copiado porque o terapeuta é envolvido em cada caso como pessoa, razéo por que nao ha sequer duas entrevistas que sejam semelhantes quando podem ser realizadas por dois psiquiatras” (Winnicott, 1984, p. 17) Assim, propée-se 0 estudo de caso - cuja finalidade “é realizar um retrato de uma unidade em ago” (Calil € Arruda, 2004, p. 197) ~ de um atendimento em ludoterapia de orientacéo psicanalitica, com um menino que no inicio do atendimento estava com idade de trés anos e nove meses. Encontrava-se abrigado em uma instituig&o para criangas e adolescentes que haviam passado por situacdes de violéncia familiar, € havia sofrido, juntamente com seu irmao, abuso fisico perpetrado por sua mae bioldgica. © atendimento se iniciou com uma frequéncia de uma vez por semana, antes das férias de fim de ano. A crianga foi desabrigada2, e apés novo episédio de agressio fisica, foi novamente abrigada, quando o atendimento foi retomado com uma frequéncia de trés vezes na semana. Foram realizadas 106 sessées, de aproximadamente 50 minutos cada, na prépria instituicdo, em diferentes salas disponibilizadas pelo abrigo, contando com o apoio de uma caixa lidica individual, que continha material grafico e brinquedos: bonecos, jogo de cozinha, carrinhos, toalha, bacia e bexigas. Uma ludoterapia suficientemente boa? Algumas reflexdes Como descrito, ocorreram 106 sessdes de atendimento, durante um periodo aproximado de um ano e trés meses, sendo que houve uma longa interrupc&o quando a crianca foi desabrigada. A freqiiéncia de trés vezes na semana foi possivel devido ao fato dos atendimentos serem realizados no préprio local onde a crianca habitava, evitando as faltas tao comuns nos atendimentos a essa populacao (Ferreira e cols., 1999). Através da leitura atenta das transcricées feitas apés cada atendimento, foi possivel dividir o atendimento em diversas etapas ou movimentos, descritos a seguir, que de maneira geral refletem as etapas pelas quais passa 0 individuo durante 0 processo de desenvolvimento emocional, tal como proposto por Winnicott. Expressando suas necessidades Nos primérdios do processo de desenvolvimento humano, o bebé necesita de uma mae atenta, sintonizada com suas necessidades, j4 que ele nao dispde de recursos para verbalizar aquilo que se faz necessério naquele momento, estabelecendo-se, ent&o, uma relacdo de “dependéncia absoluta” (Winnicott, 1963). © pequeno paciente, no inicio da psicoterapia, parecia estabelecer uma relacao préxima a filial, demandando da terapeuta uma posicao atenta para com suas necessidades. Sua verbalizacSo era precéria, e grande parte da comunicagdo se dava de outra maneira, com uma gradual sintonia entre terapeuta e paciente. Havia momentos em que o menino urinava sem pedir para sair da sala e se dirigir ao banheiro. A terapeuta passou a perceber, através de sua expresso corporal, os momentos em que a crianga estava prestes a urinar na sala de atendimento, e passou a perguntar se ele ndo queria ir ao banheiro. Aos poucos ele péde passar a pedir o que precisava, e 0 espaco proporcionado pela psicoterapia tornou-se um local de maior contato consigo mesmo, no qual 0 paciente péde se ver, diferenciar-se e passar a comunicar suas necessidades ¢ desejos ao outro, Maternagem Os cuidados maternos so de extrema importéncia para um amadurecimento emocional saudavel, sendo que muitas vezes a psicoterapia € 0 espaco em que os cuidados anteriormente nao fornecidos podem ser Percebidos, e com isso, oferecer pela primeira vez a experiéncia de um ambiente suficientemente bom, de uma sustentago para esse desenvolvimento (Abram, 2000). Na psicoterapia descrita, muitas vezes esse processo, nomeado aqui como de maternagem, acontecia por meio de uma proximidade e culdado até fisico de suas necessidades; por exemplo, quando limpava-se 0 nariz escorrendo, as maos ou parte do corpo, ou ao se dar as maos durante os pequenos trajetos percorridos dentro da instituicao. Havia uma preocupagio em proteger e no invadir o paciente, respeitando seu distanciamento em momentos como aquele em que voltou ao abrigo, quando se encontrava extremamente machucado, fisica e psicologicamente, mas com uma presenca atenta e acolhedora, posicionando-se sempre ao seu lado. Através da sustentacao oferecida, do fornecimento de cuidados basicos ao paciente, houve um processo de internalizacao desses cuidados e dessa sustentacao, de forma que Ihe foi possivel reproduzi-los consigo mesmo e com os bonecos e brinquedos diversos presentes em sua caixa ludica. pepsic.bvsalud.orgisclelo php ?scrpt=sc|_arttextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot%42C a necessidade de atencSo,amée%2C.... 5/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @ a loterapia no contexlo da violénca familiar Percebendo-se e percebendo 0 outro De um momento em que o menino parecia se colocar em um estado de fusdo com a terapeuta, no qual esperava que ela compreendesse suas necessidades, mesmo sem uma clara verbalizacdo, passou-se para uma nova fase, quando Ihe foi possivel perceber-se como um ser diferente, vendo-se atentamente no espelho, brincando com sua imagem, identificando seu nome na caixa Iuidica, tentando reproduzi-lo no Papel, ou observando sua imagem em foto presente em um dos corredores da instituicao. Péde também perceber 0 outro como alguém separado de si, interessando-se por aquilo que Ihe era externo, reconhecendo que esse outro tem um nome e caracteristicas préprias. Passou ento a querer saber o nome de sua terapeuta, mostrando té-lo aprendido; observou os machucados de si préprio, apontando-os, Terapeuta e paciente eram, entao, dois seres diferentes, com identidades e marcas préprias - fato concretizado com o desenho da mao de ambos, uma ao lado da outra, mas separadas € nomeadas. Mostrando-se 0 dia-a-dia do paciente foi entéo apresentado & terapeuta, mostrando-Ihe a sua “casa’, isto é, 0 abrigo, 0 quarto onde dormia, sua cama e suas roupas; ou também por meio de alguns relatos de atividades que havia realizado, Estabeleceuse entre os dois uma relacéo de confianca, uma crenca no retorno da terapeuta, proporcionando condicées suficientes para que o paciente pudesse falar de seus machucados, dos maus-tratos sofridos. Contava situacées em que sua mae havia Ihe batido ou apontava machucados atuais, ilustrando um novo momento no qual podia ser cuidado. Limpar Com 0 passar do tempo, o paciente interessou-se fortemente por atividades de limpeza, seja de si mesmo, quando queria limpar seus pés, suas maos, seja de sua caixa, quando decidia lava-la ou lavar os objetos que estavam nela contidos, ou por fim, a propria sala, Esta atividade péde se relacionar com um desejo de limpeza também de suas vivéncias de sofrimento, advindas das agresses sofridas em seu lar, em uma atitude de reparar essas experiéncias passadas, Uma outra atividade com um sentido similar era a atividade de encher, esvaziar e novamente encher bexigas, algo que agradava muito ao paciente. Tem-se um sentido de esvaziar-se de coisas internas, talvez ruins e dolorosas, abrindo espaco para a entrada de coisas novas, diferentes, com um positivo aspecto construtivo (Magalhaes, 2003), Construindo uma casa © ambiente promovido pela relacdo terapeuta-paciente pela psicoterapia configurou-se como suficientemente bom, jé que péde acolher e sustentar as necessidades apresentadas pelo paciente, situagao fundamental para o desenvolvimento emocional do individuo. Péde-se reviver experiéncias passadas, agora em uma nova situacSo, com condigdes mais préximas das ideais, integrando aspectos de sua personalidade. No caso do pequeno menino atendido, os resultados dessa relaco se mostraram por meio de uma clara internalizacao de cuidados, cabendo ressaltar que esses cuidados eram promovidos nao apenas pela terapeuta, mas também pelo abrigo, que forneceu um espaco diferente, alternativo ao familiar, que se apresentava tao inadequado para seu crescimento e desenvolvimento saudavel Passando para novas fases do desenvolvimento propostas por Winnicott (1963), de “dependéncia relativa” e“rumo a independéncia’, ele péde mostrar sua evolucao, reproduzindo os cuidados por si mesmo. Passou a construir casas nas sessées e reproduzir uma dindmica familiar, por meio de atitudes de limpeza, alimentago, sono - tal como os pais cuidam de seus filhos. Construiu-se um aspecto saudavel em sua personalidade, havendo a possibilidade de afetos positivos, de carinho e de sentimentos bons serem demonstrados, fato extremamente importante para populacao de individuos que passam por situacées de abuso (Alvarez, 1994). Independéncia x dependéncia A Ultima fase do desenvolvimento emocional descrita por Winnicott (1963) seria a de “rumo a independéncia”. A independéncia em relacao ao meio nao deve ser total e absoluta; 0 desejavel é que o individuo mantenha aberto 0 contato com outras pessoas, Depois do atendimento, a crianga caminhou nessa direco, mostrando sua capacidade de cuidar de si, pelo acimulo das memérias da relag3o terapéutica estabelecida e também dos cuidados recebidos no abrigo. pepsic.bvsalud.orgisclelo php ?scrpt=sc|_arttextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot%42C a necessidade de atencSo,amée%2C.... 6/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @ a ldaterapia no contexlo da violénca familiar © pequeno menino mostrava sua forca ao pedir para carregar sozinho sua prépria caixa, ou quando queria ir e voltar do banheiro ou do bebedouro sozinho, mostrando que havia guardado o caminho de volta para a sesso, confiando na presenga da terapeuta a sua espera. A capacidade dele de cuidar de si foi bastante estimulada, embora nao ter sido cuidado pela mae fosse um ponto doloroso para essa crianca, e sua capacidade adquirida foi também bastante reconhecida na terapia, incentivando-o a fazé-lo de seu jeito e com suas préprias escolhas. Havia, entretanto, oscilagées: a crianga demonstrava momentos de regresséo, demandando novamente um movimento préximo ao da maternagem, quando apontava a caixa como sendo um berco, entrando ela e mostrando desejo de ser um bebé. Esse se configura como um movimento natural dessa idade, uma vez que, como observa Palhares, “nada esté garantido. Qualquer estdgio durante esse perfodo & alcancado e perdido. A crianca esta o tempo todo em todos os estagios, apesar de um determinado estagio ser considerado dominante” (2002, p. 152). A presenca atenta e cuidadora da terapeuta mostrou- se mais uma vez essencial, visto que “diante desta vulnerabilidade, ¢ o ambiente que vai fornecer estabilidade” (p. 152). Consideragées finais © fendmeno da violéncia familiar & complexo, e para ser superado necessita de um trabalho integrado com profissionais de reas diversas (Aratijo, 2002). No caso atendido, muito dos ganhos obtidos foram Possiveis dada a nova situaciio em que se encontrava a crianca, j4 que o retorno a familia no havia se mostrado positive, com uma reiteracdo da din&mica violenta anterior. ‘A experigncia de violéncia familiar causa profundas marcas no psiquismo: & uma invasio no processo de desenvolvimento daquele ser humano (Winnicott, 1956), e por Isso, a psicoterapia tem um papel de extrema relevancia. Esta deve respeitar o ritmo da crianga (Rotondaro, 2002; Magalhaes, 2003) para néo ocasionar novas invasdes na continuidade de ser do pequeno individuo. Atentando-se para o processo psicoterapéutico vivenciado pelo paciente apresentado neste trabalho, é possivel perceber os ganhos obtidos com a psicoterapia. A terapeuta "vivia com” seu paciente as angustias, sofrimentos e também alegrias, proporcionando o desenvolvimento de uma capacidade de simbolizacdo e elaboracao (Lamanno-Adamo, 1999; Sussuman, 2000; Junqueira, 2002). Assim, uma intervencdo psicoterepéutica como a descrita, que busque compreender e acolher o desenvolvimento emocional desses pequenos seres, j8 to Invadidos pelo ambiente que deveria primar por sua protecio, torna-se de extrema importéncia, oferecendo uma nova esperanca e sentido para 0 viver dessas criancas. Referéncias Bibliograficas ABRAM, J. A linguagem de Winnicott: dicionério de palavras e expressées utilizadas por Donald D. Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. [Links ] ALVAREZ, A. Companhia viva: psicoterapia psicanalitica com criancas autistas, borderline, carentes e maltratadas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, —[ Links ] AMAZARRAY, M.R.; KOLLER, S-H. Alguns aspectos observados no desenvolvimento de criangas vitimas de abuso sexual. Psicologia: Reflexéo e Critica. 11(3): 559-578, 1998 [ Links } ARAUJO, M.F. Violéncia e abuso sexual na familia, Psicologia em Estudo. 7(2): 3-11, 2002. [Links ] BLAU, G.M.; DALL, M.B.; ANDERSON, L.M. The assessment and treatment of violent families. In: HAMPTON, R.L.; GULLOTA, T-P.; ADAMS, G.R.; POTTER III,E.H.; WEISSBERG, R.P. Family violence: Prevention and treatment. Newbury Park: Sage Publications, 1993. [ Links ] BRASIL Violéncia intrafamiliar: orientacées para prética em servico. Secretaria de Politicas de Saude, Brasilia: Ministério da Saude, 2001. [ Links ] BRINGIOTTI, M. I, La escuela ante los nifios maltratados. Buenos Aires: Paidés, 2000 [ Links ] CALIL, R.C.C.; ARRUDA, S.L.S. Discusséo da pesquisa qualitativa com énfase no método clinico. In: GRUBITS, S.; NORIEGA, J. A.V. (orgs). Método qualitativo: epistemologia, complementaridades e campos de aplicacao. S40 Paulo: Vetor, 2004. Links ] pepsi bysalud org Jelo php ?scrpt=sc|_attextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot42C a necessidade de atencSo,amée%2C.... 7/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser: Winnicat @ a loterapia no contexlo da violénca familiar CAVALCANTI, M.L.T. Prevenco da violéncia doméstica na perspectiva dos profissionais de satide da familia. Ciéncia & Satide Coletiva. 4(1): 193-200, 1999. [ Links ] CICCHETTI, D.; TOTH, S.L. A developmental psychopathology perspective on child abuse and neglect. Journal of American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. 34(5): 541- 564, 1995. [Links ] EIZIRIK, M.F. Por que fazer pesquisa qualitativa? Revista Brasileira de Psicoterapia. 5(1): 19-32, 2003. [ Links ] FAVERO, M.A.B.; SOUZA, A.B.T,; CALDANA, R.H.L. Construindo a identidade do psicoterapeuta: uma experiéncia de atendimento psicanalitico em abrigo. In: SANTOS, M.A.; SIMON, C.P.; MELOSILVA, L.L. (orgs). Formagao em psicologia: aspectos diinicos. Séo Paulo: Vetor, 2005. [Links ] FERREIRA, A.L.; GONCALVES, H.S.; MARQUES, M.J.V.; MORARES, S.R.S. A prevengao da violéncia contra a crianga na experiéncia do Ambulatério de Atendimento a Familia: entraves e possibilidades de atuacao, Ciéncia & Satide Coletiva, 4(1): 123-130, 1999 [ Links ] GONGALVES, H. S. Infancia e violéncia no Brasil. Rio de Janeiro: Nau/FAPERJ, 2003. [Links ] JOURDAN-IONESCU, C.; PALACIO-QUINTIN, E. Effets de la maltraitance sur les jeunes enfants et nouvelles perspectives d'intervention. Psychologie Francaise. (42-3): 217-228, 1997 JUNQUEIRA, M.F.P.S. Violéncia e abuso sexual infantil: uma proposta clinica. Caderno de psicandlise, SPCRJ. 18(21): 209-226, 2002. [ Links ] KOLLER, S.H.; ANTONI, C. Violéncia intrafamiliar: uma visdo ecolégica. Em: KOLLER, S. H. (org). Ecologia do desenvolvimento humano: pesquisa e intervencao no Brasil. Sao Paulo: Casa do Psicélogo, 2004, [ Links ] LAMANNO-ADAMO, V.L.C. Violéncia doméstica: uma contribuicio da psicandlise. Ciéncia & Satide Coletiva 4(1): 155-159, 1999 [Links MAGALHAES, J.S. Abuso sexual intrafamiliar: reflexes sobre um caso clinico sob a perspectiva da psicanalise do self. Dissertago (Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de Sao Paulo. So Paulo, 2003, [ Links ] MALINOSKY-RUMMEL, R.; HANSEN, D. J. Long-term consequences of childhood physical abuse. Psychological Bulletin. 114(1): 68-79, 1993. [ Links ] MARTINS, J.; BICUDO, M.A.V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos bésicos. So Paulo: Moraes, 1989 { Links } MELLO, A.C.M.P.C, O brincar de criancas vitimas de violéncia fisica doméstica. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade de Sao Paulo. Séo Paulo, 1999. [Links ] MEZAN, R. Psicanélise e pés-graduagio: notas, exemplos e reflexes. Psicandlise e Universidade. (14) 121-162, 2001, [ Links ] NIC/National Information Clearinghouse (2004). What is child abuse and neglect? Disponivel em http://nccanch.acf.hhs.gov/pubs/factsheets/whatiscan.cfm. Data de acesso: 28/10/2005. C hinks 1 PALHARES, M.C.A. A trilogia de Aline: entre o ser eo viver ou um sopro de vida. Psyché. VI(9): 151-166, 2002. [ Links ] REICHENHEIM, M.E.; HASSELMANN, M.H.; MORAES, C.L. Conseqiiéncias da violéncia familiar na satide da crianga e do adolescente: contribuigées para elaborag&o de propostas de aco. Ciéncia & Satide Coletiva. 4(1): 109-121, 1999 [Links J ROTONDARO, D.P. Os desafios constantes de uma psicéloga no abrigo. Psicologia: Ciéncia e Profissao 22(3): 8-13, 2002, [ Links } ROTONDARO, D.P. O abrigo pode ser um ambiente facilitador do desenvolvimento emocional de criangas e adolescentes? Grupo psicoterapéutico como instrumento de trabalho. Dissertacéo (Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de Sao Paulo. Sdo Paulo, 2005. —_[ Links ] ROUYER, M. As criancas vitimas, conseqiiéncias a curto e médio prazo. In: GABEL, M. (org). Criangas vitimas de abuso sexual. Séo Paulo: Summus, 1997. [Links ] pepsic.bvsalud.orgisclelo php ?scrpt=sc|_arttextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot%42C a necessidade de atencSo,amée%2C.... 8/10 oaioaiz021 ‘Abrindo espaca para o ser Winnicat @ a loterapia no contexlo da violénca familiar SAFRA, G. O uso de material clinico na pesquisa psicanalitica. In: SILVA, M.E.L. (org). Investigacdo e psicandlise. Campinas: Papirus, 1993. _[ Links ] SEI, M.B. Desenvolvimento emocional e os maus-tratos infantis: uma perspectiva winnicottiana. Dissertac&o (Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de Sao Paulo. Sao Paulo, 2004. [Links } SILVA, M.E.L, Pensar em psicanélise. I Papirus, 1993. [ Links ] : SILVA, M.E.L. (org). Investigagao e psicandlise. Campinas: SUSSUMAN, D. Encontrando um lugar seguro: a recuperac&o de uma crianca de quatro anos, vitima de abuso sexual. In: RUSTIN, M,; RHODE, M.; BUBINSKY, A.; DUBINSKY, H. (orgs). Estados psicéticos em criangas, Rio de Janeiro: Imago, 2000. [ Links } TRIVINOS, A.N.S. Introdugao 4 pesquisa em ciéncias sociais: a pesquisa qualitativa em educacao. S30 Paulo: Atlas, 1987. [ Links } WINNICOTT, D.W. (1956). A preocupagéo materna priméria. In: WINNICOTT, D.W, Da pediatria & psicandlise: obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago, 2000. —_[ Links ] WINNICOTT, D.W. (1960a). Teoria do relacionamento paterno-infantil. In: WINNICOTT, D.W. O ambiente e 0s processos de maturacao: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983, [ Links } WINNICOTT, D.W. (1960b). Distorc&o em termos de falso e verdadeiro self. In: WINNICOTT, D.W. ambiente e os processos de maturag3o: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. [Links ] WINNICOTT, D.W. (1963). Da dependéncia a independéncia no desenvolvimento do individuo. In: WINNICOTT, D.W. 0 ambiente e os processos de maturacao: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. [ Links ] WINNICOTT, D.W. 0 brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. [ Links ] WINNICOTT, D.W. Consultas terapéuticas em psiquiatria infantil. Rio de Janeiro: Imago, 1984, [ Links ] WINNICOTT, D.W. Privacao e delinguiéncia. Séo Paulo: Martins Fontes, 1999 [ Links ] WINNICOTT, D.W. A familia e 0 desenvolvimento individual. Séo Paulo: Martins Fontes, 2001. [Links } Fikndereco para correspondéncia Maira Bonafé Sei Rua Barbosa da Cunha, 835 - Guanabara 13073-320 - Campinas/SP - Brasil Jals55 19 3241-3433 E-mail: mairabonafe@hotmal Recebido em: 24.11.2005 Verso revisada recebida em: 03.09.2006 Aprovado em: 03.09.2006 *Psicéloga; Especialista em Arteterapia; Mestre e Doutoranda em Psicologia Clinica (Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo) 1 Trabalho resultante da dissertacio de mestrado da autora, apresentada junto ao Instituto de Psicologia, da Universidade de So Paulo (Sei, 2004) 2 Nos casos de violéncia familiar, tem-se como uma das medidas protetivas para a crianca abusada sua retirada do ambiente familiar, que se mostra inadequado para um desenvolvimento saudavel. A crianca fica, ent&o, em instituicdes denominadas “abrigos”, enquanto busca-se realizar uma intervenc&o com a pepsi bysalud org Jelo php ?scrpt=sc|_attextBpid=S1415-11382008000100015#~ text=Winnicot%h2C a necessidade de atencSo,amée%2C.... 9/10 o9ioa/2021 Abrindo espaco pa familia para o retorno da crianga a ela. A crianca aqui atendida passou por esse processo de abrigamento, desabrigamento e, diante de novos episédios de violéncia, por um reabrigamento, permanecendo entao na instituigao. ‘ser Winnicat ludoterapia no contexto da voléneia familar dade Sko Marcos Av. Nazaré, 900 - Ipiranga (04262-000 Sao Paulo - SP ~ Brasi Tel.: +55-11 3471-5700 Fax.: 455-11 6163-7345 ait unimarco@smarcos.br pepsic.bvsalud.orgisclelo php scrpt=scl_arttextpid=S1415-1138200800010001S#~text=Winnicot%42C a necessidade de atencSo,amae%2.... 10/10

Você também pode gostar