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UNINTER - TRABALHO INTERDISCILINAR

JOELSON GOMES DE ARAUJO

RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL NA PANDEMIA DE COVID-19

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ao se tratar sobre responsabilidade individual em uma pandemia, faz-se


necessário verificar direitos trazidos pela Constituição Federal (1988),
primordialmente o conceito de igualdade de todos perante a lei, assim como que
somente alguém é obrigado a fazer alguma coisa que esteja previsto em lei.
De acordo com Domingues (2020) a pandemia do novo coronavírus que tem o
nome de COVID-19, trouxe a necessidade de isolamento social como forma de evitar
o contágio e propagação. O debate no Brasil sobre a efetividade tanto do isolamento
horizontal ou vertical é destacado por Gomes (2020), que traz pontos favoráveis do
isolamento horizontal, assim como a necessidade de se planejar de forma adequada
a evolução para o isolamento vertical para estimular a economia e salvar vidas.
Por fim, a instituição do estado de calamidade pública assim como outros
documentos para combater a pandemia COVID-19, ocorre a partir de atos das três
esferas de governo no Brasil: Federal, Estadual e Municipal.

2. A PANDEMIA DE COVID-19 E SEU ENFRENTAMENTO

Schueler (2020) descreve que a Organização Mundial de Saúde conceitua


pandemia como a disseminação mundial de uma nova doença com transmissão
sustentada de pessoa para pessoa. O termo pandemia passa a ser usado quando
uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes. O
próprio Schueler (2020) afirma que a pandemia mais recente havia sido a chamada
gripe suína, causada pelo vírus H1N1, que ocorreu em 2009.
Conforme divulgado pelo Ministério da Saúde (2020) os coronavírus são uma
grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais. E,
complementa que recentemente houve a transmissão de um novo coronavírus
(SARS-CoV-2) o qual foi identificado em Wuhan na China e causou a COVID-19.
Domingues (2020) destaca que inicialmente denominada de 2019-n-CoV, a
infecção provocada pelo novo coronavírus passa a ter o nome oficial de COVID-19
em 11 de fevereiro de 2020. Complementa que COVID-19 é um acrônimo do termo
“doença por coronavírus” ou, de outra forma, “Corona Virus Deceased 2019”.

2.1. ISOLAMENTO HORIZONTAL E VERTICAL

Gomes (2020) destaca o debate no Brasil sobre o que é mais adequado em


termos de isolamento social e quais são as vantagens e as desvantagens de cada tipo
de estratégia: horizontal e vertical. Há aqueles que defendem o isolamento horizontal,
que implica em deixar em suas residências o maior número de pessoas possíveis. Por
outro lado, existem os que defendem o isolamento vertical, que busca proteger as
pessoas que estão nos grupos de riscos, tais como idosos, diabéticos e hipertensos.
Ao discorrer sobre as vantagens do isolamento horizontal, Gomes (2020) não
tem dúvida que esta estratégia pode trazer resultados mais efetivos para conter a
epidemia, pois reduz as chances de transmissão do vírus pelo fato de mais de pessoas
estarem isoladas. Complementa que ao dificultar a transmissão do vírus pode-se
evitar a superlotação do sistema de saúde, o que pode salvar vidas. Mas, a palavra
de ordem deve ser prudência, pois se é necessário todo o cuidado com este inimigo
pouco conhecido, tornar inviável serviços como transporte de alimentos e
medicamentos pode ter implicações sérias tanto para a economia como o
funcionamento de estabelecimentos essenciais como mercados e hospitais.
Como desvantagens do isolamento horizontal, Porto Júnior (2020) inicia
afirmando que esta política tem custos expressivos sobre a economia. Enfatiza que
manter as empresas fechadas por um longo período é insustentável tanto para os
empresários como para os trabalhadores. E complementa que são necessárias
medidas concretas para proteger empresas e trabalhadores, para que se perceba
sinais claros do cuidado com as pessoas ao mesmo tempo que se está combatendo
a pandemia.
A migração para o isolamento vertical é vista como alternativa viável por Gomes
(2020) que defende que o objetivo disso deve ser salvar vidas, pois recessões
econômicas também causam mortes”.
2.2. MEDIDAS LEGAIS

Entre as medidas das esferas Federal, Estadual e Municipal pode-se destacar


que o Senado Federal (2020), atendendo solicitação do Presidente da República,
reconheceu a ocorrência do estado de calamidade pública causado pela pandemia
Covid-19 através do Decreto Legislativo Nº 6 publicado no Diário Oficial da União em
20/03/2020. O Decreto trouxe a previsão de que este reconhecimento é
exclusivamente relacionado ao art. 65 da Lei Complementar nº 101/2000. Trouxe
também a constituição da Comissão Mista no âmbito do Congresso Nacional para
acompanhar a situação fiscal, orçamentária e financeira das medidas relacionadas a
Covid-19.
Destaca-se também que Governo do Estado do Paraná (2020) levando em
consideração a Lei Federal nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020, adotou medidas
para enfrentar a emergência em saúde pública internacional, instituindo o estado de
calamidade pública através do Decreto 4319 de 23/03/2020.
O Município de Curitiba (2020) fez a edição de um documento intitulado de
Protocolos de Prevenção Obrigatórios que, levando em consideração o Decreto
Municipal nº 470/20 e a Resolução nº 1/2020 da Secretaria Municipal de Saúde de
Curitiba, apresenta ações essenciais de prevenção e redução do risco de infecção e
propagação da Covid-19. Estas ações são voltadas primordialmente para a
organização de estabelecimentos comerciais, indicando cuidados no atendimento ao
público, limitando o número tanto de clientes quanto de colaboradores por ambiente,
regras de distanciamento, obrigatório o uso de máscaras entre outros EPI/EPC
(Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva), assim como tornou obrigatório o
fornecimento de álcool em gel 70% para uso de funcionários e clientes.
Além destes atos, o Ministério da Saúde (2020) traz diversas recomendações
de como agir para se prevenir da COVID-19. Entre estas medidas pode-se elencar
alguns comportamentos, tais como:
• Melhorar a atenção da higiene das mãos, lavando com frequência com água
sabão e higienizando com álcool em gel 70%.
• Evitar tocar olhos, nariz, boca ou máscara de proteção, principalmente se
não fez a higienização das mãos.
• Manter os ambientes de casa ou trabalho sempre limpos e ventilados.
• Fazer uso de máscaras de proteção em todos os ambientes.
• Manter distância mínimo de 1 (um) metro entre pessoas em lugares públicos
e de convívio social.
• Mas, deve-se evitar ao máximo a circulação em lugares públicos, ou seja,
somente ir a ruas, shoppings ou outros ambientes similares quando for
necessário.

3. RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL E EMPATIA

Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa Silveira Bueno (2007) define-


se a palavra “responsabilidade” como a obrigação de responder por seus atos ou de
outras pessoas. Traz também que para a palavra “individual” é um adjetivo que
significa “pessoal”.
E a Constituição Federal (1988) trouxe no Capítulo sobre os Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos em seu artigo 5º a igualdade de todos perante a lei e a garantia,
principalmente do direito à vida e a liberdade. No inciso I prevê a igualdade entre
homens e mulheres quanto aos seus direitos e deveres, assim como no inciso II que
alguém somente se é obrigado a fazer alguma coisa em virtude de lei.
A palavra “empatia” é conceituada pelo Minidicionário da Língua Portuguesa
Silveira Bueno (2007) como o “sentimento de identificação entre duas pessoas”.
Como exemplo de empatia traz-se a defesa aos profissionais de saúde por Rosenvald
(2020) que podem incorrer em simples negligência no atendimento aos pacientes de
COVID-19. Na visão de Rosenvald (2020) quando se está em tempos de recursos
escassos, o padrão de atendimento não pode ser medido da mesma forma que em
tempos normais e ambiente sem racionamento.
Ratificando este sentimento, Gopi (2020) traz diversas formas ou iniciativas
para ajudar as populações mais vulneráveis. Entre a lista destas iniciativas, Gopi
(2020) elencou a importância de apoiar a campanha de financiamento de renda
mínima para os catadores de recicláveis de São Paulo, de colaborar com o fundo de
emergência para os sem-teto afetados pelo coronavírus, de fazer doações de
produtos de higiene para moradores de rua na região do ABC na Grande São Paulo,
de apoiar a arrecadação pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) para
compra de alimentos, remédios e material de higiene para as aldeias, de ajudar na
campanha #VemPraGuerra do hospital das clínicas da USP, entre outras.
3. CONCLUSÃO

Pode-se inferir que a “minha” responsabilidade individual perante a pandemia


de COVID-19 pode ser caracterizada por dois aspectos principais trazidos pela
Constituição Federal (1988): igualdade e obrigação legal.
Gopi (2020) enfatiza que o isolamento é uma experiência difícil para quem tem
recursos para ficar em casa, mas que pode ser uma experiência muito mais
devastadora para as populações em condições de vulnerabilidade. Fazer valer o
direito constitucional de igualdade ao agir com empatia é defendido por Gopi (2020)
que estimula a participação em alguma iniciativa de assistência, como fazer doações
de produtos de higiene para moradores de rua ou apoiar a arrecadação para compra
de alimentos, remédios e material de higiene para os povos indígenas.
Sob o aspecto da obrigação legal, a “minha” responsabilidade individual como
cidadão consiste em obedecer ao que prevê os Decretos do Senado Federal (2020),
do Governo do Estado do Paraná (2020) e do Município de Curitiba (2020). Além
destas normas legais instituírem o estado de calamidade pública em cada esfera de
governo, destaca-se que o Município de Curitiba (2020) tornou obrigatório o uso de
máscaras e medidas de distanciamento social, assim como tornou obrigatório o
fornecimento de álcool em gel 70% pelos estabelecimentos comerciais para uso por
funcionários e clientes.
Destaca-se que o Governo Federal através do Ministério da Saúde (2020),
assim como o Município de Curitiba através da Secretaria Municipal de Saúde de
Curitiba (2020), fez recomendações de medidas para combater e prevenir o contágio
e propagação da COVID-19. Portanto, pode-se finalizar enfatizando a necessidade
mandatória de seguir as restrições legais, bem como adotar comportamentos
conforme as recomendações das autoridades governamentais e de saúde.
REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Vade Mecum Saraiva: OAB 2019. 19. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019. 2330 p.

BRASIL. Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Reconhece, para os fins


do art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a ocorrência do estado
de calamidade pública, nos termos da solicitação do Presidente da República
encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020. Diário Oficial
da União, Brasília, 20 mar. 2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/portaria/DLG6-2020.htm. Acesso em: 15 nov.
2020.

CURITIBA. Decreto nº 470, de 26 de março de 2020. Estabelece medidas


complementares para o enfrentamento da Emergência em Saúde Pública, decorrente
do novo Coronavírus (Covid-19) e define os serviços públicos e as atividades
essenciais que devem ser resguardados pelo Poder Público e pela iniciativa privada.
Diário Oficial do Município, Curitiba, 26 mar. 2020. Disponível em: <
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=391805>. Acesso em: 15 nov. 2020.

CURITIBA. Resolução nº 1 da Secretaria Municipal de Saúde, de 16 de abril de 2020.


Estabelece medidas complementares e obrigatórias para o enfrentamento da
Emergência em Saúde Pública, decorrente do novo Coronavírus e regulamenta o
Decreto Municipal nº 470 de 26 de março de 2020. Curitiba, 16 abr. 2020. Disponível
em: < https://mid.curitiba.pr.gov.br/2020/00296910.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2020.

DOMINGUES, BRUNO. Covid-19: que vírus é esse? Notícias, FIOCRUZ. Disponível


em < https://portal.fiocruz.br/noticia/covid-19-que-virus-e-esse> .Acesso em
20/09/2020.

GOMES, FÁBIO AUGUSTO REIS. Isolamento horizontal versus isolamento vertical


no combate a covid-19. Artigos, JORNAL DA USP. Disponível em <
https://jornal.usp.br/artigos/isolamento-horizontal-versus-isolamento-vertical-no-
combate-a-covid-19/ > .Acesso em 14/11/2020.
GOPI, PAMELA. 14 formas de ajudar quem precisa durante a pandemia do
coronavírus. Blog Transforme a Sociedade, GREENPEACE. Disponível em <
https://www.greenpeace.org/brasil/blog/14-formas-de-ajudar-quem-precisa-durante-
a-pandemia-do-coronavirus/ > .Acesso em 14/11/2020.

Minidicionário da Língua Portuguesa Silveira Bueno. 2. ed. São Paulo: FTD, 2007.

Ministério da Saúde. Sobre a doença, 2020. Disponível em <


https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#como-se-proteger> .Acesso em
15/11/2020.

PARANÁ. Decreto 4319, de 23 de março de 2020. Declara o estado de calamidade


pública como medida para enfrentamento da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do Coronavírus - COVID-19. Legislação Estadual
do Paraná, Curitiba, 20 mar. 2020. Disponível em: <
https://leisestaduais.com.br/pr/decreto-n-4319-2020-parana-declara-o-estado-de-
calamidade-publica-como-medida-para-enfrentamento-da-emergencia-de-saude-
publica-de-importancia-internacional-decorrente-do-coronavirus-covid-19> .Acesso
em 15/11/2020.

PORTO JÚNIOR, SABINO DA SILVA. A economia e o isolamento horizontal. FCE,


UFRS. Disponível em < https://www.ufrgs.br/fce/a-economia-e-o-isolamento-
horizontal/ > .Acesso em 15/11/2020.

ROSENVALD, NELSON. Por uma isenção de responsabilidade dos profissionais de


saúde por simples negligência em tempos de pandemia. Artigos, MEU SITE
JURÍDICO. Disponível em <
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/05/14/por-uma-isencao-de-
responsabilidade-dos-profissionais-de-saude-por-simples-negligencia-em-tempos-
de-pandemia/ > .Acesso em 15/11/2020.

SCHUELER, PAULO. O que é uma pandemia. Notícias e Artigos, FIOCRUZ.


Disponível em < https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1763-o-que-e-uma-
pandemia> .Acesso em 20/09/2020.

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