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Revista do Departamento de Geografia n* 11, 1997 TEORIA DA URBANIZACAO PARA OS PAISES POBRES: ELEMENTOS DA OBRA DE MILTON SANTOS’ Que os paises pobres estejam inseridos, de alguma forma, e cada vez mais, no mundo, ou me- thor, na mundializacao, é inconteste. Que, no entanto, sua interpretacdo € carrega- da de pré-concepgdes advindas dos paises desenvol- vidos, os que sugerem modelos cléssicos de com- preensio dos fenémenos politicos, econémicos sociais, também, é uma evidéncia e uma aporia na concepgio da histdria desses paises. Essa reduco da hist6ria desses paises e de sua especificidade pode chegar, nos extremos da vulgarizacao, a uma manei ra evolutiva, linear de examinar sua historia: sere- mos, 0 que so, hoje, os paises desenvolvides, se eliminarmos nossa patologia econdmico-social in- trinseca, a partir de politicas internacionais, nasci- das do conserto do Sistema de Estados. Estratégias, nessa diregdo, evoluiram, principalmente, depois da Segunda Guerra Mundial. Evidentemente, uma lite- ratura alternativa, boa parte da qual, nascida nos paises pobres, vem se contrapor a esses termos ré- dutores, por mais de meio século. Mas, existem as entre as interpretacdes “cléssicas” e aquelas sin- gulares aos paises pobres, ¢ a revisio constante des- sa literatura alternativa marca a hist6ria do conheci- mento desses paises. Como, por exemplo, identificar modos de producao feudais ou pré-capitalistas nes- ses paises e, depois, por & prove essa interpretacao. A persisténcia do entendimento “cléssico", como modelo de interpretacao dos pafses pobres, paira como fantasma ¢ armaditha na justificativa da pobreza desses paises, como legado do seu atra so. E, mais ainda, como figura de um mundo po- bre, porque distante da riqueza, diferente da rique- za, no limite, no sentido de nao relacionado com Amélia Luisa Damiani* ela, conveniente interpretacgo das formas de explo- ragao do trabalho a nivel internacional. E possivel imaginar que tais interpretacdes simplistas persistam? Claro! Elas alimentam, inclusive, 0 turismo, essa indiistria recente, através da mistura entre 0 exético eo atrasado, out a pobreza espetacular, qua- se mitica. A faléncia da relacio entre desenvolvi- mento técnico e seguranca ¢ felicidade, acabam por enaltecer 0 outro desse desenvolvimento. E, ainda, de outra forma, vejamos uma das raizes dessa compreensio: a de um crescimento po- pulacional superior ao crescimento econdmico. Os paises pobres se definiriam por esse desequilib numa versio malthusiana de sua pobreza. Dentro ¢ fora da geografia, essa versao malthusiana de sua pobreza se consolidou, e, hoje, renova-se. Admite- se, cada vez mais, que a modernizagio tecnolégica nos atingiu, mas ela apenas reproduz 0 antigo paradigma, agora, através da leitura de um desem- prego estrutural, combinado a um aumento inequi- voco da populagéo, dat a nova literatura sobre a ex- clusao. Na esséncia, a antiga explicagao se reforca: tum crescimento populacional exorbitante para os limites do emprego moderno ¢ de capital intensi- vo. As cidades, inchadas e pobres, apareceram e apa- recem como continentes privilegiados dessa exp! cacao. () Trabalho apresentado no Encontro Internacional "O ‘Mundo do Cidad0 Um Cidadldo do Mundo’, realizado em Sao Pauilo, no Departamento de Geografia, da Universidade de Sao Paulo, em outubro de 1996. 236 Entao, cedo se reconhece uma especificidade dos paises pobres, que nao é exatamente uma teo- ria a seu respeito, pois estd inserida na “explicacao classica do capitalismo”, inclusive, de uma forma dedutiva: um crescimento modesto, embora real, frente aos atrasados modos de reproducio da po- pulagao. Jamais foi alternativa concreta, e se confi- gurou como uma teoria critica sobre os paises po- bres, nestes termos, subdesenvolvidos, pois, justi ficaram a insercao do grande capital multinacional, a partir de subsidios de toda ordem, bem como a interferéncia nos modos de vida de sua populacdo, como verdadeiro processo educativo, Estes s20 0s, termos da reproduc2o ampliada do capital no mun- do: modernizando a estrutura produtiva e a de con- sumo e destruindo habitos e costumes “atrasados” Valeu-se de estratégias politicas cada vez mais 0s- tensivas, dependentes do conserto do Sistema dos Estados, que aparece sob a égide de organizagdes mundiais e politicas sociais. Como @ obra do Prof. Milton Santos aparece diante deste preambulo? Nao & como obra acabada, inclusive, porque ele esta vivo e continua refletindo intensamente essa ‘questdo. Mas como um desafio intelectual na confi- guragao de uma teoria critica sobre os paises po- bres, debrucada, especialmente, na explicacio de sila urbanizagio, que se combina com ums militan- cia ativa, junto a intelectualidade dos paises desen- volvidos e subdesenvolvidos, acordando-a para uma ‘outra compreensdo dos paises pobres. Set reconhe- cimento internacional prova a amplitude dessa cru- zada Sua compreensio nao definitiva, vem mar- cada pelos avangos e equivocos da época que vive, da producio cientifica 4 sua disposicao, mas tam- bém por uma criatividade, uma construgio impar, diante das opgdes cientificas ¢ filoséficas que ado- tou. Privilegia a leitura estrutural, ou sistémica, que Ihe valeu a compreensao de dois circuitos da eco- nomia urbana dlesses paises, cuja relacSo complexe tenta desvendar, elucidando, no percurso, as possi veis armadilhas da interpretacao, diante do vigor € DAMIANI, Amélia Luisa, Teoria da urbanizagao para os paises. da preponderancia dos modelos de compreensao vigentes sobre os pafses pobres, alimentados por estatisticas oficiais mundializadas, que mascaram sua especificidade. Na andlise, o desvendamento do processo produtive e 0 da estrutura de consumo sio primordiais. Essa relacio deve ser buscada com acuidade, pois ela revelaria 0 que a explicagio ofi- cial dissirmula Enfrenta a relagio “cléssica", na explicagao do subdesenvolvimento, entre crescimento econd- mico e crescimento populacional, e nao dilui sua explicacdo numa verso malthusiana, admitindo, inclusive, que 0 crescimento econdmico supere 0 crescimento populacional nas grandes cidades de paises pobres, a base de uma economia urbana segmentada, que se trata de desvendar. 0 exemplo da metrépole de Sao Paulo sugere-the essa possibi- lidade. Estamos, entao, a caminho de uma teoria cri- tica sobre a urbanizagao nos paises pobres, alter nativa aos modelos consolidados e demasiadamente insetidos nas estratégias politicas e econdmicas de exploragdo dos paises pobres. Subvertendo as datas da producao cientifica do prof. Milton Santos ¢ guardando uma interpre- taco possivel de alguns elementos de stia constr #0, coloco, num primeiro momento, em questo 0 papel desempenhado pelo planejamento, dentre as causas do subdesenvolvimento e da pobreza no Terceiro Mundo. Terceiro Mundo, praticamente, in- ventado no interior da aventura da dominagio, que sugere, como forma de desenvolvimento necessé- tia, a imposi¢go do capital internacionalizado por toda parte. Sob a égide da eficiéncia e da racionali- dade, esses paises sao alvo ndo sé de modelos de producaa, como de modelos cle consumo, embala- dos pela idéia positivista de progresso. A ciéncia regional eo planejamento se fundem, numa visio pragmatica, visando racionalizar a estrutura inter- na de dominacao e dependéncia: modernizar 0 se- tor tradicional, methorar as infra-estruturas locais e constituir novos padroes de organizagao de ativi dades econémicas, promovendo a entrada de capi- Revista do Departamento de Geogratia=* 10, 1257. tal sua difusdo no espaco. © planejamenta espa cial ganha importéncia cads vez maior com 2 inter nacionalizacao do capital. Quanto 2 erbanizaso. © que essa difusio sugeriria, como ressitada. € 20 mesmo tempo, como condig30? A desintegracio de economies ressomais © com isso a concentragao urbana: 0 fenémenc 42 macro- cefalia. Cidades populosas ¢ dreas rarais modemi- zadas s80 parte do projeto de penetracso do cap tal, assim configurado. O que em certs lteratra aparece como um dado, na realidade. tratow-se de estratégias, corroboradas, exatamente. por essa fe teratura, Falamos da segunda metade deste século e da pobreza planejada no interior desse proceso. Como? Entre outros procedimentos € politicas, ad- mitindo que a conducao da economia dessa manci- ra era possivel mediante investimentos pilblicos que privilegiassem gastos de infra-estrutura as expensas dos investimentos sociais. Diante dessas estratési as, € du revonhecimento de iumpurtzncia do eapayo no seu interior, @ alternativa é 2 de uma geografia heréica, urgente, a ser constituida, como contrapos- to, que desvendasse faces desse conhecimento-ide- ologia.' A observar que a economia regional, o pla- nejamento espacial formaram, também, uma tecnoburocracia em desenvolvimento, juntando economistas, arquitetos, gedgrafos, entre outros, com a tarefa de dar sustentacio as politicas emer- gentes, que cedo conformou os discursos e as justi- ficativas objetivas e, pretensamente, racionais € progressistas do estado ditatorial, um exemplo bra- sileiro, que se repete em outros paises, uma alter nativa imposta ao assalto as universidades.? Exis- tiu, € claro, toda ordem de resistencia. © poder piiblico, principalmente a partir dos ‘anos 60, exerce um papel ativo na produgio da ci- dade, a cidade do capital monopolista ou oligopo- lista. Quanto &s cidades maiores, ¢ o sentido é 0 da concentracao espacial, chegamos as metrépoles corporativas. 0 Banco Nacional da Habitacio, no caso brasileiro, foi eficaz. na formacto territorial da cidade corporativa, pondo-se ao servigo da unifica- 237 ‘cao de capitais necessérios aos grandes investimen- ‘os em infra-estrutura, Um equipamento seletivo do territ6rio faz derivar uma urbanizagao corporativa, juntando a modernizagao do meio ambiente, favo- recendo as grandes empresas, e se hd éxito das rei- vindicacdes dos grupos sociais, ele depende de pres- sdes corporativas, envolvendo, especialmente, as camadas sociais hegeménicas.* Fazendo uma digressao, a partir de meu tra- batho particular com a questo das politicas esta- tistas sobre o urbano, admito, completando o rack ocinio do prof. Milton Santos, que os investimen- ‘tos em obras urbanas, racionalizando e centralizan- do 0 controle de sua producao, 20 mesmo tempo, retirando-lhe o cardter de servigos ptiblicos subsi- diados ¢ localizads, na década de 70, so compo- nentes da eficiéncia relativa e dos termos da produ- do de grandes conjuntos habitacionais. Quando 0 restimento habitacional atinge camadas popula- res, de forma mais abrangente, o faz, num primeiro momento, no final dos anos 70 e no inicio des anos 80, e € possivel examinar a atualidade dessa politi a, conscientemente, criando uma alternativa poli- tica dentro da ordem, nos termos co desenvolvi- (0) A~andlise remete & interpretacio de Milton Santos presente em Economia Espacal Crticas e Alternativas, Sao Paulo, Hucitec, 1979, 2}. “As teorias de planejamento urbano e regional rare mente decorrem de situagies reais que se deseja modifica Eas se apresentam muito mais como portadoras de um modelo aitn- por Esse modelo &, mais freajientemente, trazido dos paises do centro onde sao elaborades para servira interesses que raramente so 0s nossos. Nesse particular foi duplamente eficaz, pois tanto contribuisimportagio de doutrinas que nada témaver comnossas realidades, como, pelo seu uso prestigioso, impede queum pensa- mento autBnomo e sério se desenvolva."(Santos, Milton, Bxpacoe Sociedade, Petrépolis, Vozes, 1979, p.37) 8). Veja arespeito, de Milton Santos, Por uma Economia Politica da Cidade, Sho Paulo, Hueitec, 1994; e Merrdpale Conporativa Fragmentada ~ 0 Caso ce Sto Palo, So Paulo, Nobel Secretaria de Estado da Cultura, 1990. 238 mento de uma democracia restrita, diluindo pro- postas politicas oposicionistas, nascidas de uma sociedade civil que emergia, produto, inclusive da diferenciagao sdcio-econdmica, que o desenvolvi- mento industrial consolidava, e da identidade pro- letaria que dela derivava. A distensao politica exi- gia 0 urbano ordenado, imposto, organizado, que 0s investimentos em infra-estrutura urbana, acen- tuados no perfodo anterior, tornava possivel.* Nos termos de Milton Santos, nao superamos 0 desen- volvimento da cidade corporativa; as alternativas politicas noutra diregao estao por se consolidar e sofrem a forca da tradi¢ao da presenca clo modemo e do progresso, enquanto producgo do Estado vol- tada para a infia-estrutura urbana, que desiste de grande massa da populacao urbana. E a forga de uma face da pobreza planejada. 0 Estado nacional é a mediacio crucial entre as condic6es historicas da atividade mundial e as condigées da vida local, no que respeita as grandes cidades, ¢ a partir delas, sob seu modelo, quanto as demais cidades e regiGes. Uma politica econémi- ca modifica ndo s6 as condigdes da produgio agri- cola ¢ industrial, as estruturas de circulagao e mes- mo as de consumo, como, dessa forma, afeta a im- portancia das cidades e os dados dla organizacao do espaco? Estamos diante do impacto da moder- nizago tecnolégica nos paises pobres e da série de obrigacdes dela decorrentes, envolvendo 0 apare- tho do Estado, Retomemos 0 argumento sobre a macrocefe- lia ou sobre as transformages recentes nas antigas relagdes entre cidades e espacos circundantes, que podiam supor economias regionais. A concentragao econdmica e espacial dos capitais, com a intemalizacao da divisao internacional do trabalho, na fase técnico-cientifice atual, debilita a nogao clas- sica de regio. “Do ponto de vista dos fluxos de mercadorias, 0 pais inteiro se torna ‘a regio’ do seu ‘centro”* A rede urbana e seu estudo nao se caracteriza por mais um enfoque, tradicional em geografia, mais que isso faz parte do processo de desvendamento dos termos da organizacdo do es- DAMIANI, Amélia Luisa. Teoria da urbanizagao para os p aco, nessa segunda metade do século XX, nos pa- ises pobres. No cabe a compreensio da cidade iso- ladamente. "Na realidade, a unidade do estudo ge- ografico, éa rede urbana... talvez nos eve a discernir ‘uma tipologia de formas de transicao ou passagem ¢ mesmo a estabelecer uma prospectiva.”” Uma definigéo da rede urbana, diante de seu significado metodolégico, seria apresenté-la como "... 0 rest tado de um equilibrio instavel de massas e de flu- xos cujas tendéncias concentragio e a dispersio variam no tempo e estao em relacao com os dados estruturais ¢ técnicos de ordem econdmica, sécio- cultural e politica.”* Trata-se de uma combinacdo que esta sempre a evoluir, cujas formas tém algo de provisdrio. Haveria uma dialética entre os fatores de concentragdo e de dispersao. “As estruturas monopolisticas constituem um fator de concentra- (40, a difusio da informagio e do consumo desem- penham um papel de dispersao...”” Distingue cidades locais, cidades regionais, metrépoles incompletas ¢ completas, numa classi ficagao basica da organizagao do espaco recente, As metrépoles seriam responsaveis pela mactoor- ganizac3o do espaco, embora, a primeira delas, para exercer a totalidade de suas fungdes, dependesse de contribuigdes externas, nao respondendo com meios préprios 8s necessidades econdmicas ¢ s0- ciais, fruto do atraso de sua industrializagao, bem como das formas que essa industrializagio assume. (@) Damiani, Amélia sa, Cidade DesjOrdenada, se {de doutoramento, FFLCH, USP, Departamento de Geografa, 1993. ©) Santos, Milton, Ensaios sobre a Urbanizagio Latino: Americana, Sto Paulo, Hucite, 1982, p.71 (6) Santos, Milton, Espaco e Método, So Paulo, Nobel, 1985, p.66, (Santos, Milton, O Trabalto do Cedgrafo no Tescelro Muxsdo, Sio Paulo, Hucitec, 986, p.81 © Op.Cit p. 101 (9) Santos, Milton, 0 E5paco Dido —Os Dois Greuitos da Economia Urbana dos Pases Subdesenvotvides, Ri de janciro, Francisco Alves, 1979, p.222. Revista do Departamento de Geografian® 11, 1997, Toda ordem de dependéncia ¢ tipica dos termos de reprodugao dos paises pobres na economia mun- dial. De qualquer maneira, um pressuposto da existéncia de um sistema de cidades € a integracéo nacional pelos transportes. E, a0 mesmo tempo, desencadeia o sentido primordial dos fluxos: “..em conseqiiéncia do perfodo tecnolégico e em fungi da falta de elasticidade do emprego, as pessoas deixam 0 campo sem parar necessariamente na ce dade local. As facilidades de transportes impelem os migrantes potenciais para as onde 0 setor tercidrio € mais eldstico e, principal mente, direto para as grandes cidades."” As cida- des regionais tornamse cidades intermediarias, “seu poder de comando e sua influéncia sobre a regidio diminuem e ela (a cidade intermedia) se torna, cada vez mais, um relé da metrOpole.""" H4 0 desmantelamento da rede urbana, em sua concep- do tradicional, pois as relagdes se fazem, primor- dialmente, direto com as grandes cidades. Pode-se. falar em simultaneidade entre os lugares, “...0 tem- po que esta em todos os lugares é 0 tempo da me- trépole, que transmite a todo 0 territério o tempo do Estado e o tempo das multinacionais e das gran- des empresas.” Todos 0s outros pontos da rede ur bana sao marcados por tempos subalternos e dife- renciados.”? A macrocefalia € um produto das mo- demas relagdes econdmicas, nos termos como es- sas se desenvolvem, no conserto de trocas desiguais, envolvendo os paises pobres, nao representa uma anomalia atrasada, ou uma patologia avessa & modernidade. O impacto das modernizagées, nos pafses subdesenvolvidos apresenta-se, freqiiente- ‘mente, pontual; hé uma inércia considerdvel em sua difusdo.’” Existe, em principio, uma concentragio mais acentuada que aquela registrada nos paises desenvolvidos, como reflexo da ndo fluidex dos ele- mentos do progtesso — como economias de escala, mercado consumidor amplo, etc. -'* Nestes pon- tos, existe 0 actimulo das Forgas vivas da nacio. Em 0 Espago Dividido, Milton Santos reco- nhece cinco periodos de modernizacio, que defini- idades regionais - 239 riam generalizagies de inovagdes, a partir das regi- Ges polarizadoras, em direcdo aos sistemas do nados, também chamados subsistemas subordina- dos. Trata-se de uma sucessao de modernizagoes, referentes aos periodos da histéria econdmica do sistema mundial. 0 impacto das modernizacdes é diverso, pois além das forgas externas, depende das forcas existentes nos espacos atingidos. “Ha formas diferentes de combinacao entre um novo modelo de producao, distribuicao e consumo e a situacao preexistente... trata-se de uma aceitacao dos ele- mentos de mocemizagio ‘em diferentes graus”.!? Assim, configura-se a formacao dos espacos perifé- ricos, 08 espagos do Terceiro Mundo. As moderni- zagdes como projecdes do sistema mundial, tam- bém, tomaram formas diferentes, nos espacos de- pendentes, nos diferentes periodos de sua difusio no mundo. Definem-se como modernizacao co- mercial, modernizacao industrial, modernizagao tecnolégica, a diltima sucedendo a Segunda Guerra (0) Op. Cit. p. 238, (19) Op. Cit. p. 243, (12) Santos, Milton, Técnica Esparo Tempo, Soo Paulo, Hucitec, 1994, p. 155, Anda quanto 20 Brasil, elucidas “Houre, 20 longo dahistria brasileira, quatro momentos do ponto de vista do papel signiticacuo das metrépoles. Quando o Brasilurbano era umn arquipélago, pela auséncia de comunicagies ficeis entre as metr6- poles, estas apenas comandavamnuma fai do territério, sua chs mada zona de infhiéncia, Num segundo momento, uta pela for magia dem mercado Gnca comma integragaotetitorial apenas no Sudeste eno Sul Um teresiro momento é quando um mercado tinico nacional se constitu. & 0 quarto momento, atua,conhece lum ajustamento a crise desse mercado, que & urn mercado tnico, mas segmentao.tinicoeiferenciado, ummercadiohicrarquizadoe artculado pelas firmas hegeménicas, naconais e estrangeiras, que ‘comandamo terttsrio com apoio do Estado."(p. 154) 13} Op. Cit. nota8, p. 106. (14) Santos, Milton, A Urbanizacao Desigual—A Especi- cidade do Fendmeno Urbano em Patges Subdesenvolvides, PetrSpolis, Vozes, 1980, p. 105/116. (15) Op. Git. nota 10, p. 42. 240 Mundial, mais exatamente, posterior aos anos 50; a primeira comecando em fins do século XV. Nem todos os paises subdesenvolvidos foram atingidos pelos efeitos de todas esas modernizacbes. O atu- al perfodo tem enorme capacidade de revoluciona- rizacdo, difundindo, pelos pafses periféricos, duas varidveis elaboradas no centro do sistema: a infor magio e 0 consumo. Hé uma verdadeira mundial: zago dos lugares, formando lugares especializados € complexos (as metrépoles e as grandes cidades), contudo ostentando, no caso dos paises do Tercei- ro Mundo, muitas vezes, uma modernizagio incom pleta, seletiva e perversa, remetendo ao carter corporativo de sua urbanizagao, ja mencionado, devido as exigéncias da modernidade contempori- nea, assumidas pelos Estaclos pobres. “As metrépoles do Terceiro Mundo sao uma cristalizacdo de nova légica em pontos do territério, ao mesmo tempo econémica, politica, social € geo- gréfica, correspondente ao novo momento histéri- co. E af que confluem resultados contraditérios de tum processo de modemizacdo que impde novas for mas de atraso.""® Hé uma expansao da pobreza, concomitante 2 modemizagao das atividades, con- duzindo a uma “involucdo metropolitana”. Existe crescimento, mas este € paralelo 3 baixa do rendi- mento médio e & expanséo de empregos mal remu- nerados, refletindo nas condigbes de vida de amplas massas de populacao. "A modernized ce procugso industria, representadapelas _mutkinacionais econglomerads, ea modemizagio da agricutur, de mode geral induzem queda do emprego nesses setares ¢20 éxod rurale, conseqiientemente, ao aumento da populago urba ‘na, como desenvolvimento das grandes cidades"* Concomitantemente, hd uma diversificagio da produco, com a proliferacéo de um corpo de em- presas e estabelecimentos de diferentes tamanhos, com base em técnicas e niveis organizacionais, os mais diversos. Tanto a populagdo mais pobre, como a classe média, com 0 aumento € a diversificacao do consumo, acabam por exigir esse presenca, con- DAMIANI, Amélia Luisa. Teoria da urbanizagao para os paises... figurando uma segmentagéo da economia urbana “A involuco metropolitana e a segmentacdo da economia si, portant, fendmenos correlatos..."* A existéncia de dois circuitos da economia urbana ja havia, ha muito, sido definida por Milton Santos, francamente, formulada no livro O Espago Dividido. Como dois subsistemas, 0 circuito supe- rior © 0 circuito inferior, ambos, embora diversos, por sua utilizacao da tecnologia, sua forma de ot- ganizagio e toda sua estrutura de producao e dis tribuigzo, atingindo camadas sociais consumido- ras diferentes, ndo sdo estritamente opostos, mas aparecem como frutos dos termos da moderniza- ‘¢do € mantém intimeras relacdes, por exemplo, ven- dedores ambulantes do circuito inferior trabalha- rem, petiodicamente, em fabricas para suplemen- tar suia rend; alguns dos fornecimentos do circui- to inferior provir direta ou indiretamente dos cha- maxios setores modernos da economia, etc. “O ter- mo circuito ‘demonstra melhor o fluxo interno entre os dois subsistemas™.'” Definir 0 circuito inferior como tradicional, assim, é equivocado. O sistema urbano, dependente, por sua vez, de ou- tros sistemas, apresenta mais de um subsistema econdmico. A contemporaneidade desses diversos tempos econdmicos € sociais, nascida no seio da modernizaco tecnolégica, aparece como alterna- tiva a uma visio de que os paises subdesenvolvi- dos viveriam uma situagio dual, com a presenca do moderno e do tradicional, e a superaco dessa dualidade levaria os mesmos & situagao dos pai- ses desenvolvidos, Um equivoco conveniente na interpretacéo da urbanizagao dos paises do Ter- ceiro Mundo. Trata'se, também, de esclarecer o significado do circuito superior marginal, cuja presenga neces- (16) Poruma Economia Politica da Cidade, p.79. (07) Op. cit. p.94. (18) Op. itp. 95 (1) Santos, Milton, Pobreza Uinkana, So Paulo, Hucitee, 1979, p.37, Revista do Departamento de Geografia n* 11, 1997. sita ser desvendada, O “... circuito superior margi- nal trabalha segundo parametros modernos, 0 que © aproxima do cireuito superior, mas é, em grande parte, resposta as necessidades de consumo local mente induzidas, o que aproxima do circuito in- ferion. 0 circuito superior marginal aparece, nas ci- dades do Terceiro Mundo, ao mesmo tempo como um obstaculo & oligopolizacao completa da econo- mia ¢ como uma de suas condigdes."® 0 circuito superior se serve dele para abastecimento de bens e servigos intermedidrios, ou deixa para ele faixas de mercado ¢ dreas geogrificas onde no quer atuat. A pobreza urbana, entio, € obra dessa mo- demizagio, e, ao mesmo tempo, também, justifica sua singularidade nos pafses do Terceiro Mundo, Mais do que nas demais cidades modernizacias, € 0 sentido é 0 da desconcentragio das atividades eco- némicas modernas, as grandes cidades conhecem a composicao perversa entre a modernizacdo € @ po- breza ¢ as atividades econdmicas pobres, sugerin- do a designacao de “involuggo metropolitana”. Uma economia politica ca cidade passa a ser fundamen- tal, ndo somente uma economia politica da urbani- zacao, que remeta a divisio social e territorial do trabalho. A segunda associaria 0 conhecimento dos efeitos da divisio do trabalho sobre as condigdes locais do mercado, permitindo desvendar a singu- laridadle das novas formas de atraso. Mesmo metrépoles como Sao Paulo, que se define como metrépole transacional, assentada na sua condiggo de metrépole industrial, pasando a ter um papel de comando que € devido a formas superiores de produgdo nao material, envolvendo a informagio ~ essa condiggo de metrépole global, de Sao Paulo, na sua terceira etapa de mundializa- ‘Glo remete aos anos posteriores a 1960 —, reforca 0 carater geograficamente concentrado da produicéo mais moderna. Se a produgio material tende a se dispersar, os novos terciarios tém tendéncia concentradora, a interdependéncia com relaczo as reas centrais nao se dilui, e a urbanizacio & sem- pre seletiva e perversa, nos termos de uma econo- 241 mia urbana segmentada, cujo foco principal é a grande cidade, ¢ a partir dela se generaliza Ao invés de distinguir as cidades por dados demograficos brutos, é preciso considerar que as enormes diferencas de renda, que definem a socie- dade global dos paises subdesenvolvidos, “tém con- seqiiéncias notaveis sobre a organizacao do espa- 0", na qualificagao das atividades desenvolvidas, na selegao das mesmas, com tendéncias a uma hie- rarquizagio.” Disparidades de renda entre os indi- viduos, disparidades regionais definem, de alguma forma, o sentido das ativicades terciarias, que pas- sam a ser definitivamente concentradas, a moder- nizac2o dos transportes acelera essa tendéncia tor- nando as relagoes mais numerosas ¢ menos custo- ‘sas, por intermédio das grandes cidades, onde tam- bém florescem atividades terciérias superiores.” De um lado, ha uma rigida vocagao interna- ional, marcada por espagos detalhadamente pre- parados para exercer funcoes mais precisas, numa Feproducao crua de segregacao espacial, numa nova rigidez metropolitana, com objetos geograficos, cujo funcionamento €, cada vez mais, interdepen- dente e sistémico, no quadro de um meio técnico- cientifico-informacional, que deixa de ser plésti por outro lado, as grandes cidades sio dotadas de fiexibilidade, permitindo a atuacao de todos os ti- pos de capital e de trabalho, so formas nao atuali- zadas da economia nao hegemdnica, de cardter endégeno, como verdadeiros tracos da flexibilida- de tropical. ® Trata-se da contemporaneidade de “reas ‘luminosas’, constituidas ao sabor da mo- demidade e que se justapdem, superpdem e con- trapdem ao resto da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas ‘opacas”. Os tiltimos so espa- 0s aproximativos, abertos, ndo racionalizados ou (20) Op. Cit. nota 17, pp. 9697 1) Op. cit. ota 8, pp. 106107. (22) Santos, Milton, Espago e Sociedade, Petrépolis, Vo 25,1979, p.60. 2) Op. Ct. nota 13, pp. 7778/7980. 242 racionalizadores, espagos da lentido; os outros so frutos da exatidéo e da vertigem. A forga € dos len- tos, dos pobres e migrantes, num espaco “inorganico”, aliado da acdo, que torna possivel a solidariedade na cidade, contraposto ao dos ricos, invadidos por uma racionalidade que chega aos arcanos da vida, empobrecidos e privados de orien- tao para o futuro, que vivem a velocidade e a mobilidade e véem pouco, comungando imagens prefabricadas, numa grande perdigio.” Essa é uma face do contetido geografico do cotidiano, que con- tribui 4 necessaria teorizacao cla relacio entre es- pago € movimentos sociais.** Duas referéncias fora da obra de Milton San- tos, uma delas, inclusive, por ele mencionada, 0 Capitulo Inédito de karl Marx, merece set consi- deradas, pois esclarecem a questio das miiltiplas temporalidades, fora de uma visao dicotmica, que tanto preocupa 0 autor e o remete a uuma constr fo alternativa, que tentamos resgatar em alguns de seus aspectos, 0 Capitulo Inédito discute a subsungao formal ¢ real do trabalho ao capital, a primeira preservando processos de trabalho preexistentes, sob a directo do capital, quando “s6 se pode produzir mais valia através do prolongamento do tempo de trabalho, isto €, sob a forma da mais-valia absoluta’, contras- tando com 0 modo de produgao especificamente ca- pitalista, referente a segunda, que equivale a uma revolugao total, que “revoluciona nado 36 as relagoes entre os diversos agentes da producao, mas simulta- neamente, a indole desse trabalho e a modalidade real do processo de trabalho total”, e que sugere a extragao da mais-alia relativa. % Somente quando consideradas isoladamente, como formas separadas no interior da produgio capitalista, como © as separadas, uma apenas precede a outra, a primei- ra sendo precursora da segunda; de outra forma, € possivel ¢ necessdrio considerar que "a segunda, possa constituit, por sua vez, a base para introducto da primeira em novos ramos da producio."” ‘A nogio de formagao econémico-sociel, tan- to em Marx, como em Lénin, esclarece que a base DAMIANI, Amélia Luisa. Teoria da urbanizagio para os paises, de desenvolvimento do capitalismo nao & 0 desen- volvimento igual, mas a lei do desenvolvimento desigual, que, por sua vez, no pode ser interpreta- da na perspectiva economicista, que redunda na dicotomia entre 0 desenvolvimento ¢ 0 subdesen- volvimento, reduzindo “a qualidade das contra Ges que integram e opdem diferentes sociedades a mera gradagio da riqueza... Na verdade, a ‘lei do desenvolvimento desigual tem uma multiplicidade de sentidos e aplicagdes’. Na interpretacio de Lefebvre, ‘ela significa que as forgas produtivas, as relacdes sociais, as superestruturas (politicas, cul- turais) no avangam igualmente, simultaneamen- te, no mesmo ritmo histérico”. Trata-se da coexis- téncia dos tempos histéricos.” Embora Milton Santos insista numa leitura sistémica, diferente da abordagem dos dois autores acima mencionados, € evidente que o sentido da in- terpretagio se preserva, isto &, transpoe ums andlise dicotémica, que sempre feriu a compreensio dos paises do Terceiro Mundo e confundiu o entendimento critico do capitalismo no mundo, sujeitando-se as suas formas de reproducio, como foi avaliado no inicio deste texto. Os termos da modernizacao in- completa e perversa, que atinge os paises pobres, € 05 residuos transformadores, no interior da pobreza e dos espacos pobres demonstram o exercicio da lei do desenvolvimento desigual, para além de uma lei- tura economicista. Aqui, admite-se 0 desencontro entre 0 econdmico € 0 social, um nao sendo, estrita- mente, 0 reflexo do outro. B, ainda, que o social, “marginalizado” do econdmico mais moderno, nao (24) Op. Cit note 13, Capttuto 8. (25) Op. Cit nota 13, .109. (26) Marx, Karl, © Capital Lnra I, Capitulo VI ( Inédito), Sto Paulo, Ciéncias Humanas, 1978, pp. 5253. 1 Op. Cit. (28) Martins, José de Souza (org), Henri Lefebure e 0 Re- tomo 4 Dialetca, Sto Palo, Huctec, 1996, Capitulo 1, As Tempo- ralidades da Historia na Dialtica de Lefebvre, de José de Souza Martins, pp. 1617/1820, Revista do Departamento de Geografia n° 11, 1997. representa, exatamente, atraso, “aces arcaicas, irra- cionais ¢ ineficientes", 0 que manteria um caréter etnocéntrico @ ideolégico™, mas revela possibilida- des, Nos termos de uma pesquisa que ora desenvol- vo, nao hé uma condusao linear entre a sobrevivén- cia ea vida, e € preciso, no caso dos paises pobres, diante de sua especificidade, para produzir um co- mhecimento critico, enfrentar a complexidade entre sobrevivéncia e vida e o significado da vida urbana nessa configuracdo complexa. A analise sistémica, pela qual opta 0 Prof. Mil- ton Santos, durante todo 0 percurso de sua constr S20, pode apresentar um grave problema que éaquele de submeter a histéria, transformé-Ja num residuo, ¢ de hipostasiar a estrutura, intelegivel, exigida “pe- las técnicas, pelos dispositivos e redes de circulacio, de comunicagio, de informagao, do governo e do Estado". Nao ha como negar que nossa época evo- @ essa possibilidade e ela representa 0 risco do fan tasma da tecnocracia: 0 império da coeréncia, do equilibrio, cla coesio, da articulacao, da racionalida- de e da ciéncia que se impde metafisicamente, sob a égide dos tecnocratas. Ideologia e ciéncia, mais que nunca, misturamse, Saber e poder compoem um par indissocisvel. Muitas vezes, o rigor da articulagao de uma multiplicidade de sistemas e subsistemas, para explicar a histéria mundial recente, em sua obra, sugere, potencialmente, esse caminho. Mas, é possivel acordar para um outro teor de sua anélise sistémica, mais dialético, o de que convi- ve-se, 0 tempo todo, com a estrutura enquanto “um equilibrio precario entre hierarquias miiltiplas ¢ méveis", Aqui, a0 invés de se comprometer a histé- ria, vislumbra-se a ela “como processo de perpétuas estruturagdes e desestruturacdes™". Neste caso, a anilise dialética prevalece sobre a estrutural, endo Pode ser concebida sem as contradicoes, que geram a destruigdo das estruturas, definidas como provisd- rias. Para conservar essa possibilidade de leitura, na obra do Prof. Milton Santos, é preciso considerar, primeiro, que ele € um estudioso da ténica e de seu poder no mundo de hoje, e para nao subestimé la, acaba por avaliar a pertinéncia da anélise dos 243 sistemas, exatamente, para desvendar esse poder, 8 que a l6gica da técnica é, essencialmente, com. Pativel com a do sistema. Uma anilise sistémica entra nas entranhas da técnica e de suas conseqii- éncias. Se esta € a tinica forma possivel, francamen- te, minha formacao faz duvidar, mas nao chega e nem pode alimentar, por isso, preconceitos. Segun- do, porque reconhece uma caracteristica primordi- al de nossa época, a de que ela nao se esgota num nico sistema, mas em miiltiplos subsistemas, re- lacionados complexamente, permitindo, inclusive, a coexisténcia ¢'2 temporalidades diversas, perver. samente vividas. Nao sugere quaisquer formas de dualismos, ao contrério, insurge contra eles, apare- cendo como alternativa critica a anélise etnocéntri- ca dos pafses pobres. Em terceiro lugar, porque ndo submete @ ago ao sistema dos objetos, embora re- conhega o perigoso avanco da conjugacao entre ob- Jetos e acdes. Diz: “para a maior parte da humani dade, elas (as ages) no s20 informadas de modo endégeno, mas informadas de fora... Uma ago co- dificada, presidida por uma razao formalizada, aga0 que no isolada, e que arrasta, agao que se dé em sistema, cujo lubrificante maior passou a ser, tal- vez, no a produgao, mas sim a comunicagio, tem © papel fundamental na organizacio da vida coleti- va ena conducao da vida individual, Entender todo esse proceso torarse crucial, tanto na interpreta. sao do que a realidade €, como no esforco para musda-ta.”® Estudamos, aqui, os limites crassos das coagoes. E, a0 mesmo tempo, e inversamente, essa Facionalidade dominante nao exclui a pratica de outras € novas racionalidades, “mais consentaneas com a ordem desejada”, préprias do lugar e do cotidiano, “que contém a variedade das coisas e das (23) Op. Ct. nota 20, p. 83, (olLefebvre, Henri, Licéologie Struccuraliste, Paris, Anthiopos, 1971, pp. 3435 G1) Op. Cit pp. 3667. (62) Op. Cit.nota 13, pp. 102/103. (63) Op. Cit nota 13,p. 8. 244 agbes, inciuindo, também, a multiplicidade infinita de perspectivas. A vida nao € um produto da Técnica, mas da Politica, @ acto que da sentido & materialidade.”"™ DAMIANI, Ameélia Luisa. Teoria da urbanizagdo para os paises... Os homens pobres, comuns e lentos, como ja men- cionado, que guardam totalizagaes do pasado, sto resistentes.>> RESUME Cet article discute la possibilité d'une teorie sur urbanization des pays pauvres, écrit a propos d'un séminaire inspiré dans Feeuvre de Milton Santos. oewre de Milton Santos, inachevée, dansla mesure qu'il continue sa reflexion avec intensité, et, au méme temps, com. plexe, elle contient,suréiment, une teori eitique de urbanization clans les pays pauvres. Quelques éléments de cette teorie sont is, ici exposés, malgré les difculés 'atcendre a précision etla cer- titude des concepts. Laproblématique oncest immense; les con cepts stenchainent dans une teorie et, lorsqu’on écrit une inter prétation, elle peut conduire le risque de Banalisation. Malgré cela, Fimportance et Festension de Turbain, dans un monde ott urbanization se déploie, les reproductions et les actualisations des intesprétations malthusiennes sur cet phénoméne, surtout ‘quand on parledes pays pauvre,etles Grits de Milton Santosles dépassant, nous ont fait en reveni. 24) Op. Cit. nots 13, p.39. £35) fim seu timo livro, A Nacureza do Espago~ Técnica e ‘Tempo. Rezo e Emogao| Sio Paulo, Hucitec. 1996), Milton Santos aprofunda rancamenteessasconcepgSes. Este artigo ndo pode con- tar com essa ttima reflex. Eis aqui, apenas, 2 recomendagio de sua eitura necesséria par a elucidacao do tema proposto.

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