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A Função de Controle nos

Sistemas Integrados de Manufatura

RESUMO: Faz-se uma proposição de vários conceitos atinentes ao gerenciamento da


produção, muitos dos quais são válidos também para os Sistemas de Manufatura Convencional,
mas que estão aqui colocados dentro do contexto dos Sistemas Integrados de Manufatura
(SIMs), que são os sistemas desenvolvidos sob a filosofia de fabricação CIM ('Computer Integrated
Manufacturing = Manufatura Integrada por Computador). Mostra-se que a integração depende
basicamente da função controle.

ABSTRACT: Manufacturing integration is reviewed andvarious concepts and definitions founded


in literature are presented for conventional and automated manufacturing systems.
The survey emphasizes information system management and control importance in order to
improve manufacturing functions integration.

palavras-chave: sistemas de produção, manufatura integradas, gerência da produção

Key words: production systems,integrated manufacturing, production management

Flavio Cesar F. Fernandes

Professor Assistente DEP-UFSCar. Mestre em Engenharia de Produção pela EPUSP.


Doutorando em Engenharia de Fabricação na EESC-USP.
Departamento de Engenharia de Produção
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Via Washington Luiz, km. 235 13560 - São Carlos - SP
8 PRODUÇÃO

Introdução Para Ferdows e Lindberg [8], mais do que um


investimento em tecnologia, a implantação de
FMSs revela uma maneira mais profícua de
Com o desenvolvimento da tecnologia de pensar e gerenciar a manufatura, colocando
infonnação, o computador tem se tomado um a manufatura num papel estratégico dentro
elemento catalisador da integração das da empresa. Não tem sentido, ou seja, não
funções desempenhadas no sistema fabril: in- deve haver implantação de FMSs num am-
tegração do projeto do produ to com o plane- biente em que a filosofia CIM (Manufatura
jamento do processo, este com o gerencia- Integrada por Computador) de fabricação não
mento da produção, este com a fabricação, tenha sido adotada. Pela pesquisa que reali-
etc., e como agentes dessa catalisação apare- zaram, Ferdows e Lindberg [8] concluíram:
cem os Sistemas de Informação (SI), que são "aqueles que estão enfatizando FMS também
subsistema do Sistema de Controle. (Há os estão dando ênfase a muitas outras idéias
que colocam a seguinte relação, Sistema de avançadas no gerenciamento da produção".
Controle = SI + processo decisório.)
Merchant [17] previu que sistemas com-
Isso pode ser consta tado na li tera tura re- putadorizados para a completa automação e
cente. Por exemplo, em Hitomi [13], a Tecnolo- otimização da fabricação de peças estariam
gia de Fabricação é incorporada à Tecnologia totalmente desenvolvidos entre 1980 e 1985.
de Gerenciamento. Hitomi entende que a Mesmo que a sua previsão ainda não esteja
tecnologia de fabricação trata do fluxo de totalmente confinnada, não há dúvida de que
materiais, induindo-se aí a transfonnação dos os esforços e desenvolvimentos apontam nes-
materiais, enquanto que a tecnologia de ge- sa direção.
renciamento lida principalmente com o fl u<o
de informações de forma a gerenciar efetiva- Tudo isso está ocorrendo nos Sistemas Inte-
mente o fluxo de materiais através do plane- grados de Manufatura (SIMs), que são os
jamento e de controle. Os capítulos do livro de sistemas desenvolvidos sob a filosofia de fa-
Hitomi se sucedem em ordem compatível com bricação CIM ('Computer IntegratedManu-
as próprias etapas naturais do desenvolvimen- facturing') - Manufatura Integrada por Com-
to dos Sistemas de Fabricação (SF). Tem-se os putador.
princípios dos SF e o processo; o gerenciamen-
to da prod ução e a otimização dasatividades A faixa de aplicação do CIM é interme-
de gerenciamento; a automação com as tecno- diária, aproximadamente de médio volume
logias do tipo 'computer-aided' e o Sistema e de média variedade (veja Figura 1).
de Informação (SI) que é um requisito para
Nos SIMs, a caríssima tecnologia da au-
a obtenção de um SF integrado (sem SI não
tomação está presente e, para se obter resul-
há controle, sem controle não há integração).
tados compensadores, há necessidade de se
Como no ambiente integrado todos os as- obter integração entre os cincos componen-
pectos devem ser levados em conta, o volume tes do sistema, a saber: 'hardware', 'software',
de dados é aI to e deve ser aI ta a qualidade da gerenciamento da base de dados, tecnologia
transfonnação desses dados em informações da comunicação e recursos humanos. Para
úteis. Portanto o computador é uma ferra- Singhal et alii [19], atualmente é virtualmente
menta essencial e o Sistema de Informação o impossível projetar e instalar um sistema
agente do processo de integração. desses onde cada um dos cinco subsi temas
possa completamente explorar os outros qua-
Os FMSs (Sistemas Flexíveis de Manu- tro. Isso naturalmente configura um campo
fatura) no geral estão presentes nos SIMs. motivador de pesquisas.
PRODUÇÃO 9

LINHAS
DE
TRANSFERÊNCIA
15000 I----~-- -----------,
I ÂMBITO
SISTEMAS
ESPECIAIS DE DOSIM
MANUFATURA

FMS

CÉLULA
I DE
FIf3RICAÇÃO ~
,----Hr-------------------
I I
15 t----T---t------t-- t-----,I MÁQUINASN C
ISOLADAS
I I I I
2 4 100 800 Nº PEÇAS
DIFERENTES
Figura 1. O âmbito do SIM adaptado de Groover [11].

Uma evidência de que a Manufatura Atual fabricação de média variedade de produtos


está se tornando complexa e por outro lado feitos em quantidades moderadas.
'chic', é a explosão de siglas com as quais o lei-
ter deve se familiarizar. Outra observação é O SIM teve, como causa de seu apareci-
qu~ não fazemos questão de traduzir termos mento, mudanças no mercado produto (au-
em inglês que já se impregnaram na lin- mento da competição, introdução de novas
guagem da manufatura: 'job-shop', 'flow- tecnologias), no mercado consumidor (pro-
shop', 'scheduling', 'computer-aided', etc. cura de produ tos di versificados, diferencia-
dos e renovados num curto intervalo de tem-
po) e na sociedade em geral (insatisfação com
o trabalho nas fábricas, maior interesse por
Visão Geral Sobre o SIM empregos no setor de serviços, etc.), e, como
catalisador de seu desenvolvimento, tem-se
O SIM, Sistema Integrado de Manufatura, as inovações tecnológicas (tecnologias do tipo
é a fábrica do futuro, e por sinal um futuro 'computer-aided', redes locais de interligação
que já está se tornando presente nos países (LAN), etc.) e as inovações metodológicas
mais desenvol vidos. É a fábrica onde graças (o CIM, que é uma filosofia de fabricação
à automação flexível, com poucas pessoas se baseada no enfoque sistêmico e na existência
consegue um alto volume de produção pela da tecnologia da informação.) .


10 PRODUÇÃO

Como tecnologias do tipo 'computer- Armazenagem automatizada ('automated


aided' compreende-se: warehouse');

CAD ('computer-aided design') que "pode Movimentação de materiais automati-


ser definido como o uso dos sistemas com- zada, através de AGVs ('auto guided ve-
putacionais para auxiliar na criação, hicles') que são veículos controlados por
modificação, análise ou otimização de computador;
um projeto" [12];
Robôs industriais que são manipuladores
CAM ('computer-aided manufacturing') que reprogramáveis e controlados por computa-
"pode ser definido como o uso dos sis- dor;
temas compu tacionais para planejar, ge-
renciar e controlar as operações de uma CAQC, controle de qualidade auxiliado por
instalação de manufatura através de inter- computador,
face direta ou indireta do computador
com os recursos produtivos da insta- etc.
lação" [12];
A eficácia do emprego dessas tecnologias
DNC ('direct numerical controI') envolve o pode ser aumentada utilizando-se algumases-
uso de um computador de certo porte tratégias de controle da produção, tais como:
para controlar um certo número de máqui- JIT ('just-in-time'), GT (tecnologia de grupo)
nas NC ('numerical controI') separadas; e OPT (tecnologia da produção otimizada).

CNC ('computer numerical controI'), um Essas estra tégias 'são baseadas em alguns
computadoré usado para controlar uma princípios.
máquina-ferramenta;
Entre os princípios doJITsedestacam a
CAPP ('computer-aided process planning') produção com zero defeito, zero atraso, zero
é o planejamento do processo auxiliado estoque, zero quebra e zero papel (os 5 zeros).
por computador;
Os princípios da GT são:
CPC ('computer process controI') é o con-
trole do processo por computador; a) formação de famílias de peças seme-
lhantes em termos de projeto e! ou
MRP 11 ('materiaIs resource planning') processo;
"possui duas características que o dis-
tancia do MRP ('material requirement b) formação de grupos de equipamentos
planning'): cada um dos quais, na medida do
possível, fabricando uma família de
1. é um sistema financeiro e operacional peças.

2. é um simulador Alguns dos princípios da OPT são: o ótimo


local (um subsistema qualquer) pode não
Por ser simulador está apto a responder contribuir para o ótimo global (sistema como
a questões do tipo: o que aconteceria se..." um todo); balancear o fluxo e não a ca-
[12]; pacidade, etc. [1].
PRODUÇÃO 11

Já o enfoque sistêmico é a abordagem onde

* o modo de pensar DEIXOU DE SER PASSOU A SER

primeiro analítico depois primeiro sintético depois


* o centro de atenção analítico o todo
sintético a parte
* o método de resolver dividirem problemas resolver o problema,
problemas menores, resolver cada um, decompor a solução
juntar as soluções

Essa abordagem estabelece que: o desem- isoladamente.


penho do todo depende do entrosamento
entre as partes, e não apenas do desempenho As principais diferenças entre a Filosofia
de cada uma, ou seja, o melhor funcionamento de Fabricação Convencional e a Filosofia de
do todo não corresponde, via de regra, som- Fabricação CIM estão colocadas na Figura 2,
ente ao melhor funcionamento de cada parte tendo como fonte a referência [5].

FILOSOFIA DE MANUFATURA
CONVENCIONAL I CIM
DIVISÃO DO TRABALHO
O Maior possível, o que acarreta: O Menor possível, o que acarreta:

- trabalho simples com a menor categoria - trabalho qualificado com pessoal o mais
de salário possível; qualificado possível;

- baixo envolvimento do trabalho; - alto envolvimento do trabalho;

- muitos pontos de interfaceamento. - poucos pontos de interfaceamento.


EXECUÇÃO DO TRABALHO
O Em lotes. O De acordo com a demanda.
O Uma operação após a outra. O Sobreposição de operações.
O Abordagem "empurra" a produção/ O Abordagem "puxa" a produçã%rien-
orientada para a utilização .. tada para o processo.
TEMPO REQUERIDO PARA EXECUÇÃO
O Mínimo por operação. O Mínimo por ordem.
O Máxima produção por minuto. O Máxima utilização por período.
FLUXO DE MATERIAL E INFORMAÇÃO
O Consideração de forma isolada. O Integração.

Figura 2. Filosofia de fabricação (CIM e Convencional). Fonte: BULLINGER et alii [5].


12 PRODUÇÃO

Uma possível arquitetura para um Sistema c) possibilidade de mudar o roteiro de fabri-


Integrado de Manufatura encontra-se na cação para contornar o problema de máqui-
Figura 3. nas paradas para reparo;

Como se pode ver, o sistema é controlado d) disponibilidade de operações alternati-


por uma estrutura hierárquica onde um con- vas de forma a balancear a carga das má-
junto de computadores interagem enviando quinas.
instruções de um nível mais alto (um contro-
le gerencial, como definiremos na próxima Esse último fator recai num problema de
seção), até o nível mais baixo (controle físico controle da produção. Com as operações
dos equipamentos) para que as operações alternativas para fins de programação da
sejam realizadas. produção ('scheduling', que mostraremos na
próxima seção, é uma atividade de controle
A integração necessita de uma estrutura da produção), pode-se aliviar as máquinas-
de controle hierarquizada cujos elementos gargalos levando a um aumento global da
sejam compatíveis e comunicáveis entre si. produtividade do FMS. Rãnky [18] denomina
Assim a interligação dos computadores de isso de 'scheduling' dinâmico.
controle deve ser feita através de redes locais
de interligação (LANs) apropriadas. Um bom sistema de controle da produção
trará como principais benefícios:
Emnível dechãodefábrica aparecem os
FMSs eF1exible Manufacturing Systems' =Sis- a) redução dos estoques de material com-
temas F1exíveis de Manufatura), que são sub- prado e de material em processo, de modo
sistemas vitais do SIM. UmFMSconsistede um que se empregue menor capital de giro e
conjunto de máquinas-ferramenta, equipamen- não se ultrapasse o espaço disponível para
tos de movimentação de materiais é'facili:ia- estoques nas estações de trabalho, que é
des" para a armazenagem em processo que es- muito red uzido nos SIMs;
tão sob o controle de um sistema de amputador
[6]. Foram introduzidos por volta de 1970, exi- b) aumento da taxa de produção devido a
gem alto investimento e trazem umaumento vários fatores entre os quais a redução do
substancial da produtividade na fabricaçãrem tempo de preparação ('set up') e a melhor
lotes [12]. utilização da mão-de-obra;

Os fatores que contribuem para a flexibili- c) maior cumprimento dos prazos de entrega,
dade dos FMSs são: fornecendo, assim, trunfos de vendas para
a empresa;
a) tempos de preparação muito reduzidoS;
d) maior eficiência no processo de mon-
b) versatilidade dos centros de usinagem dos tagem, uma vez que os itens certos esta-
FMSs para realizar uma grande variedade rão no momento certo na seção de mon-
de operações em uma peça; tagem.
PRODUÇÃO 13

TERMINAL DE
COMUNICAÇÃO
COM O MERCADO

TERMINAL DE CRIAÇÃO, PRO- TERMINAL DE DEFINiÇÃO DO


JETO, DESENVOLVIMENTO E PLANO DE PRODUÇÃO COM BASE
DETALHAMENTO DO PRODUTO EM INFORMAÇÕES DE MERS;ADO,
BASES SUPRIMENTO E FABRICAÇAO DE
MÉDIO PRAZO

DE

DADOS TERMINAL DE SUPRIMENTOS

"CONVE RSÁ VEIS"


TERMINAL DE DEFINiÇÃO E CON-
TERMINAL DE PROJETO, TROLE DO PROGRAMA DE PRO-
DESENVOLVIMENTO E ENTRE SI DUÇÃO COM BASE EM INFOR-
DETALHAMENTO DO PROCESSO MAÇÃO DE PLANO DE PRODUÇÃO,
DE SUPRIMENTOS E FABRICAÇÃO,
DE CURTÍSSIMO PRAZO

TERMINAL DE CONTROLE GERAL DO 'HARDWARE" DO 'SHOP-FLOOR". INCLUI O "HARDWARE' DE CONTROLE DE CADA FMS, O
SIST. DE MOV. QUE INTERCONECTA OS FMSs E O "HARDWARE' DE CONTROLE DA 'AUTOMATED WARE HOUSE".
I
I I
TERMINAL DE TERMINAL DE ... TERMINAL DE
CONTROLE DO FMS1 CONTROLE DO FMS2 CONTROLE DO FMSn
I I I I I I I I I
I I I 1 I I I I
T. C. T. C. T. C. T. C. T. C. T. C. T. C. T. C. T. C.
EO. RO- MAO. EO. RO- MAO. EO. RO- MAO.
MOV. BÔS CNC MOV. BÔS CNC MOV. BÔS CNC
DO DO DO DO' DO DO DO DO DO
FMS1 FMS1 FMS1 FMS2 FMS2 FMS2 FMSn FMSn FMSn
r- --~--I--~---~----~---~--~--I-- f - ,
Ic I
I~ FMS1 FMS2 FMSn I
1° I
Ig SISTEMA DE MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS INTER FMSs I
IF I
I~ I
I RI "A U TOM A T E O - W A R E H O USE" I
IL CA_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ~

Figura 3. Arquitetura de 'hardware' em nível de integração total (+ nó de rede local


de interligação; tc =terminal de controle)
14 PRODUçAO

Do gerenciamento e em particular do tar sistemas de controle mais eficientes.


controle, muito depende o sucesso de um SIM.
Jaikumar [14], comparando sistemas avança- Sobre esse último aspecto, o Japão é um
dos de manufatura americanos e japoneses, bom exemplo. É um país que consegue im-
afirma que o desempenho dos sistemas japo- plantar com sucesso Sistemas Modernos de
neses era muito melhor. "Com poucas ex- Gerenciamento, enquanto que, na grande
ceções, os FMSs instalados nos EUA mostram maioria dos países, a implantação é uma fase
uma alarmante falta de flexibilidade. Em mui- dificílima. Esse sucesso de implantação, se-
tos casos, eles têm um desempenho pior.que gundoMatsuda [16], advém do que ele chama
a tecnologia convencional que eles substi- de inteligência organizacional existente nas
tuíram. A tecnologia em si não é culpada; é fábricas japonesas, e coloca que isso ainda
o gerenciamento que faz a diferença ... As pode ser mais fortalecido pela integração S3:
companhias americanas usavam FMSs da for- síntese (incentiva coisas diferentes a ficarem
ma errada - para alto volume de produção juntas), simbiose (incentiva coisas diferentes
de poucas peças ao invés de grande variedade a viverem juntas para benefício próprio de
de peças e baixo custo por unidade" [14]. O todas elas) e sinergia (incentiva coisas dife-
mesmo artigo evidencia que Sistemas Flexí- rentes a ficarem juntas e obter mais que a
veis lembram fábricas em miniatura em ope- simples soma das partes}.
ração, e são os laboratórios naturais para es-
tudar a Manufatura Integrada por Compu- A seguir, na Figura 4, esboçamos um
tador (CIM) que estão se tornando rapida- modelo conceitual de integração de um Sis-
mente o campo de batalha para obter a supre- tema de Manufatura, no qual a função ge-
macia na manufatura em nível mundial. rencial desempenha um papel preponderante.
O controle gerencial capta as necessidades
o sucesso de um SIM depende, em última (detonadas a partir do mercado), avalia, co-
análise, principalmente da qualificação dos ordena as capacidades (da engenharia, do
funcionários da engenharia e do gerencia- suporte e do chão de fábrica) e exerce um con-
mento da empresa. Numa empresa com fun- trole sobre o controle físico (das operações
cionários de alto nível, a engenharia cria e da movimentação dos materiais). Exercer
levando em conta o mercado e o processo, controle sobre o controle pode ser chamado
enquanto que a gerência consegue implan- de meta-controle.
PRODUÇÃO 15

CONTROLE GERENCIAL
= INFORMAÇÃO +
DECISÃO

INTERFACE DE SUPORTE
INTERFACE DE ENGENHARIA (MANUTENÇÃO. CONTROLE
(PROJETO E PROCESSO) DE QUALIDADE '" )

i
CONTROLE F(SICO DAS
CONTROLE FlslCO DA OPERAÇOES = SINAL
MOVIMENTAÇÃO DOS FlslCO + AÇÃO
MATERIAIS = SINAL
FlslCO + AÇÃO
INTERFACE DE
PLANEJAMENTO DAS NE-
CESSIDADES COLOCADAS
PELO MERCADO

Figura 4. Modelo conceitual de integração de um sistema de manufatura.


16 PRODUÇÃO

Controle, a Função Vital Para de materiais;


se Obter Integração c) máquinas para montagem automática;
d) processos contínuos;
É de ronhecimento romum que a atividade
de controle é fundamental para a execução de e) sistemas de controle com realimentação
qualquer trabalho. Nos Sistemas Integrados ('feedback');
de Manufatura (SIMs) a automação ocupa f) sistemas de controle do processo por
uma posição da mais alta importância, e por computador;
sua vez o controle num ambiente automati-
zado tem um papel crítico. Para ficar mais g) sistemas computadorizados para coleção
claro tomemos a definição encontrada em de dados, planejamento e tomada de de-
Goover [11]: cisão para suportar as atividades de
manufatura". Nessa definição o termo
"Automação é a tecnologia relacionada controle aparece explicitamente três
rom a aplicação de romplexos sistemas mecâ- vezes, e no último parágrafo ele aparece
nicos e eletrônicos, baseados no computador novamente, porém de forma implícita.
para a operação e o controle da produção.
Essa tecnologia inclui: Há algumas décadas Bright[4]demons-
trou que a natureza do controle tem íntima
a) máquinas ferramenta automáticas para relação com os níveis de automação. Um re-
processar peças; sumo dos 17 níveis de mecanização de Bright
b)sistemas automáticos de movimentação encontra-se na Figura 5.
PRODUÇÃO 17

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AnlCCipa a ação nccc:ssária para produzir o desem·
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17
penho requerido e de acordo com ISSO se auto-reguJa
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AllCra velocidade. posição. dlreção de acordo com o
sinal de mensuração
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c...'"''''
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ex: :J 11 Registra o desempenho
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<: LU

'"'Z~...J ~ 10
Além de medir o sistema compara e pode asSl1Tl
~ detectar os erros
28~
tfj (j)
O
o< Sistema atua e mede alguma (5) caractcrisuca (5) do
ex: ~ 9 trabalho realizado
8
'LIl '8 .~U 8
Sistema atua ao ser intrOduzida a peça a ser manu
faturada
<:;:,<
~ 00... <:
LU
~
~LIl~Z Sistema de fcrnmcnw providas com energia e com
..J;:,- O <: 7
~~ex:~ ex: ~ conllOle remoto
;:'1-2 L1l
~ O
;:,
LIl Z Gi 0-<
Ferramenta provida com energia e conllOle pro-
08<,8 ~
6 gramado (seqüência de funções fixas I
O
!!:~~g:
I- _ O
o<
x <:
~ O
Ferramenta proVida com energia e com Cicio Í1xo
~0ex:0li' 5
0...~0~
u;
<:
LIl
(função única)
<:Z~oo
Fcrrunenta provida com energia e/com conllOle
4
manual

~~
..J
u.J 3 Ferramenta manual provida com energia
:>
~~ -<
;:
<O <: ~
2 Ferramenta manual
o...:r: :> <
<:
~ 1 Manual

Figura 5. Os 17 níveis de mecanização e suas relações com as fontes de energia ede


controle. Fonte: BRIGHT [4].
18 PRODUÇÃO

A visão de controle mais estreita é a que De uma maneira geral, todo controle
o considera apenas como monitoramento. E engloba:
talvez a maisabrangenteéade Leeuw(apud
[3]) que entende que qualquer fenômeno de a) a definição de um padrão de resposta
interesse pode ser modelado como uma con- do sistema que está sendo controlado.
figuração de controle, que consiste de um Isso implica um processo de tomada de
controlador, um sistema controlado e um decisão;
ambiente. Para ele, controle é qualquer foI1ll<i
b) a monitoração da resposta para efeito de
de influência dirigida do controlador sobre
comparação com o padrão selecionado.
o sistema controlado. Leeuw estabelece que
No rronitorarnento, dada; sobre o proas-
um controlador efetivo deve ter: (a)umob-
so são transmitidos para o computador;
jetivo; (b) um modelo de sistema controlado;
(c) informação sobre o ambiente e o estado do c) ação para alterar, se for necessário,
sistema controlado; (d) ações adequadas de aestímulos/ entradas/ padrõesdEforma
controle e (e) suficiente capacidade de proces- a se atingir os resultados desejados (veja
samento de informação. oFigura 6).

EST~ULOS/ENTRADAS SISTEMA DE RESPOSTAS/SAÍDAS


TRANSFORMAÇÃO
MONITORAÇÃO

~------------------------------~x C9MPARAÇÃO
AÇÃO·

Figura 6. O esquema do processo de controle.

Qualquer sistema "é um conjunto de ele- mado de Sistema de Programação da Pro-


mentosqueatuamjuntosnaexecuçãodoob- dução que irá controlar o fluxo de materiais
jetivo global do todo" [7]. e a seqüência de operações no chão da fábrica.

Quanto à natureza dos elementos existem Dessa forma podemos depreender dois
os sistemas "físicos" e os sistemas "geren- tipos de controle:
ciais". Nos primeiros os elementos são enti-
dades físicas (por exemplo, um automóvel), 1. controle físico
enquanto que nos segundos os elementos são
procedimentos (por exemplo, os sistemas 2. controle gerencial
MRP).
O controle físico é o controle existente,
Da mesma forma que num automóvel exis- por exemplo, no governador das máquinas
tem subsistemas, por exemplo o Sistema de a vapor (James Watt, fins do século XVIII),
Comando de Válvulas para controlar a injeção cuja finalidade é manter sob controle o número
de combustível nos cilindros, num Sistema de de rotações por minuto do eixo da máquina.
Manufatura também existem subsistemas, Se a velocidade aumenta, aumenta a força
por exemplo o Sistema de Informações cha- centrífuga sobre duas esferas acopladas ao
PRODUçAO 19

eixo de saída, com isso elas se afastam do eixo, da produção e da manutenção passam a ter
e quanto maior o afastamento mais se fecham urna importância muito maior do que têm nos
as válvulas que clilntrolam a entrada de va- sistemas de fabricação convencionais. As ra-
por nos êmbolos, fazendo então a velocidade zõesdisso são que num SIM os equipamen-
diminuir em direção ao padrão. tos são caríssimos e assim devem ser corta-
dos ao máximo os tempos improdutivos evitá-
Já o controle da produção, o qual engloba veis: a diminuição dos tempos de preparação
a programação da produção, é um controle através de uma programação da produção
tipicamente gerencial. A infonnação é o "san- eficiente (que deve levar em conta outros
gue" que flui tanto se o sistema é manual (via fatores, tais como prazos de entrega e in-
documentos, tais como ordens de serviço, ventários em processo) e a diminuição da
etc.) ou se é automatizado (via tenninais, redes ociosidade das máquinas através de uma
locais de interligação (LAN - 'local area net- programação da manutenção que preveja
work'), etc.). reparos preventivos exatamente quando o
equipamento não estiver sendo usado pela
Há portanto uma perfeita analogia entre programação da produção.
os tipos de sistemas e os tipos de controle.
A parte visível de qualquer sistema de manu- o acompanhamento da produção deve ser
fatura são subsistemas físicos cuja operação capaz de coletar os dados certos na hora certa
depende de sistemas de controle físicos. Já sobre o que está ocorrendo no chão da fábrica
a integração dos vários subsistemas físicos de forma que as reprogramações da pro-
é feita por sistemas gerenciais que realizam dução e da manutenção sejam feitas com
o controle do tipo gerencial. Quanto mais dados atualizados.
integração for requerida, mais apurado deve
ser o controle gerencial. o controle da produção compreende:
E mais ainda, existem vários tipos de con- a) definir (estabelecer padrão) o que deve
troles gerenciais de acordo com o problema ser feito em cada estação de trabalho
que ele aborda: controle da produção, con- numa base de tempo de curto prazo
trole da produtividade, controle da qualidade, (programação da produção = 'schedul-
controle de manutenção, controle dos esto- ing');
ques, controle da movimentação dos materiais,
etc. b) monitorar o que está acontecendo no chão
da fábrica ('shop-floor control');
Um parâmetro que é comum a todos esses
controles é o tempo. No controle físico o tempo c) comparar o que está acontecendo com o
de desencadeamento de uma ação no 'loop' programado e, em casos de desvios, rea-
de realimentação (Figura 6) é instantâneo, limentar o processo através de uma re-
enquanto que no controle gerencial isso ocorre programação.
no geral em intervalos nítidos de tempo; nesse
sentido dizemos que o controle gerencial é A fase (a) ou seja a programação da pro-
geralmente 'off line' enquanto que o controle dução, é basicamente um processo de tomada
físico é sempre 'on-line'. de decisão. É aí que metodologias como Pes-
quisa Operacional (PO) e mais recentemente
o controle gerencial da produção é o que Inteligência Artificial (IA) têm importância no
mais afeta a integração, e a maior atenção rontrole da produção, principalmente na Manu-
damos a ele. Além disso, num SIM o controle fatura Integrada. A relevância da Pesquisa
20 PRODUçAO

Operacional no controle dos SIMs será ob- ('Decision Support Systems' =Sistemas de
jeto de exploração num outro artigo. Apoioà Decisão) vão sendo desenvolvidos
e implantados. Além disso os computadores
estão assumindo muitas funções de con-
Considerações Finais trole que cabiam aos gerentes médios. Os
gerentes de linha, que estão bem como a alta
gerência, estão passando a ter uma respon-
Os fatores estratégicos para uma empresa
sabilidade maior.
de manufatura se manter no mercado futuro
são: adaptabilidade (capacidade da engenha-
ria de projeto criar e desenvolver produtos Acreditamos que essa maior centralização
na velocidade que o mercado consumidor docontroleéfruto dodesenvolvimento da tec-
demande), flexibilidade (capacidade do pro- nologia da infonnação, enquanto que a desrefr
cesso de fabricação se adaptar a tempo para tralização da tomada de decisões está se tor-
produzir os novos produtos introduzidos), nando fruto do desenvolvimento do DSS que
qualidade e produtividade [9]. é um tipo de SI (Sistema de Informaçãoque
faz uso das técnicas de MIS (Sistemas de
Não se pode ter uma dosagem apropria- Infonnaçães Gerenciais), das de PO <Pesquisa
da de adaptabilidade, flexibilidade, produ- Operacional) e das de IA (Inteligência Arti-
tividade e qualidade sem haver integração. ficial), e não descarta, na solução de proble-
Empresas não integradas tendem a ser fortes mas não-estruturados ou até mesmo semi-
em aspectos não tão essenciais e fracas em estruturados, a participação da gerência.
aspectos cruciais para as suas características
de relacionamento com o mercado consumi- Applegate et alii [1] acreditam que o efeito
dor. Por exemplo, ser apenas altamente pro- dessas tecnologias será o aparecimento deuma
dutiva quando sua situação exige alta adapta- nova forma organizacional, a organização
bilidade. 'cluster' (organização de grupos),onde os
grupos de pessoas, mesmo fisicamente dis-
Como vimos essa integração depende ba- tanciadas, trabalham juntas para resolver os
sicamente dos controles gerenciais. problemas da companhia ou para definir um
processo. Assim os sistemas de informação
Uma tendência marcante nos SIMs que es- e comunicação permitirão às pessoas com ha-
tão sendo desenvolvidos nos países mais adi- bilidades que se complementam, trabalharem
antados é que está havendo uma centralização juntas.
do controle, algo que foi previsto há três
décadas. Em 1958, Leavitt e Whisler [15] Para finalizar, enfatizando a importância
previram que na década de 80, com a combi- do controle para a empresa industrial, cita-
nação da MS ('Management Science' =PO mos Beer [2] que mostra a correspondência
no âmbito do gerenciamento) e da Tecnologia existente entre o sistema de controle de uma
da Informação, haveria uma descentralização empresa e o sistema nervoso central do corpo
em nível de tomada de decisão, uma centraliza- humano: "... existem óbvias semelhanças
ção em nível de controle, uma redução grande entre os controles usados numa empresa e
do número de gerentes médios e maior con- aqueles usados no corpo humano. Por exem-
trole da alta gerência sobre a empresa. Essa plo: ambos são hierárquicos, ambos são re-
descentralização em nível de tomada de deci- dundantes e ambos incorporam subsistemas
são deve se tornar maior à medida que os DSSs de maior ou menor autonomia".
PRODUÇÃO 21

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