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SISTEMA escrita por ser auto-imposta pelos Grgios judi cidrios — de decidir “questdes politics”, ou seja, pertencentes & organizagio do sistema pol tico; existem todos os “6nus” da imparcialidade propria da “fungao judicidria”, antes de tudo, © de que uma questéo nao pode ser levantada autonomamente por um drgio judiciério, mas deve serthe submetida como disputa em que uma parte privada tem um interesse pessoal, direto € nao ficticio (0 que, juntamente com a proibigao de “questées politicas”, compromete as possibi- lidades de intervencao em vasto setor de normas que nao tocam diretamente aos interesses priva- dos); depois, também, 0 fato de que os juizes so geralmente obrigados a no discutir publi camente as questées de que sic incumbidos; muitas vezes se espera que evitem contatos nao profissionais que possam colocar em diivida sua imparcialidade. Na Europa continental, na Asia e na América do Sul, isto trouxe sempre consigo uma visivel reserva dos juizes em empenhar-se na politica mesmo como cidadaos. Com muito maior lentidao se vai evidenciando a necessidade, que deveria ser simétrica, de eli- minar todos os instrumentos de pressdo do sis- tema politico. Até os mecanismos mais patentes so mantidos em ago para controlar este ou aquele Sistema judiciério: © recrutamento por nomeagao de autoridades politicas (lalvez legi- timada pela elei¢ao), em vez de por concurso classificatério; a periodicidade (mesmo breve) do cargo, em vez da seguranca do emprego. Nao basta que os salérios sejam, de um modo geral, suficientes para levar uma existéncia digna, se permanece aberta a possibilidade de serem favo- recidos na progressio nos cargos mais altos os elementos mais maledveis. O problema da ‘‘car- reira’” é delicadissimo e de solugao nada facil ‘A progressio por idade torna va toda a possibi- lidade de sancao contra o juiz que — simples- mente — nao faz seu trabalho cotidiano; mas a solugao dos concursos de merecimento’coor- denados pelos magistrados superiores nao esté isenta de criticas, se por mérito se entende apenas a escrupulosa aquiescéncia fs orientacdes inter- pretativas dominantes que, encarnadas pelos ma- gistrados mais avancados na carreira e geralmente mais velhos, raramente mantém um contato sufi- ciente com as mudangas sécio-culturais que se operam no ambiente. BIBLIOGRAFIA. —T. L. BeckeR, Comparative judicial po- litics, Rand Mc Nally, Chicago 1970; M. Cappenietn, Processo e ideologie, 1 Mulino, Bologna 1969; B. J. CARDOZO, The nature of the judicial process, ¥ ale Univer- sity Press, New Haven 1921; G. Freppt, Tensioni e con- POLITICO 1163 flitto nella magistratura, Laterza, Bari 1978; M. 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Na ciéncia politica con- temporanea, todavia, quando se fala de Sistema politico e de “andlise sistémica” da vida poli- tica, se faz referéncia a uma nogio e a um procedimento de observacio caracterizados por especificos requisitos metodolégicos e por Ambitos precisos de uso. O tema bésico é, em si, muito simples. O homem, como animal social, esté sempre envol jo numa multiplicidade de relagdes, em virtude das quais ele condiciona os seus prOprios seme- Ihantes e ¢ por estes condicionado. Em qualquer agrupamento social ha, por isso, ao menos dois componentes fundamentais: de um lado, os indi- viduos singulares ¢, do outro, as relagdes que caracterizam a convivéncia reciproca dos indivi- duos. Daf que, para ser observado adequadamen- te, qualquer agrupamento social deva ser consi derado sob um duplo aspecto: como uma tonste- lagdo de membros e como uma rede de relagdes interindividuais mais ou menos complexa, ambas observaveis unitariamente em termos de sistema Assim, mesmo no que diz respeito & vida poli- tica, podemos observar, de um lado, cada um dos protagonistas ¢ cada uma das instituiges de um dado regime (anélise “parcialmente abran- gente”); mas, se desejarmos saber, por outro lado, como © por que tais protagonistas e insti- tuigdes se influenciam reciprocamente, conseguin- do dar origem a varios tipos de regimes politicos, devemos olhar para o conjunto das relagdes que ligam entre si as varias “partes” do agrupamento em questao (anélise sistémica) 1164 SISTEMA Il, AmntTo & FINALIDADE DA Nogio, — Este recurso & nogio de sistema, para ser proficuo e correto, impoe a observancia de condigées meto- dolégicas precisas e implica iguais limites de validade. Falaremos depois sobre os primeiros; agora vejamos os segundos. Para comesar, € necessdrio esclarecer que, no contexto desta andlise, 0 substantivo “sistema nao se refere nunca a totalidade dos ‘aspectos ¢ das caracteristicas de um dado fendmeno (por exemplo, a totalidade dos homens, das institui- ges, dos valores de um dado regime politico), mas somente a um certo niimero deles, mais pre~ cisamente Aqueles que definem 0 modo como as varias partes interagem yeciprocamente. Dito em termos técnicos, 0 objeto da andlise sistémica nao é a totalidade mas a generilidade de um fenémeno: nao é tanto o universo dog seus com- ponentes, quanto as relages que intermedeiam entre um componente e outro e das quais derivam as caracteristicas gerais de um toda (por exem- plo, a estabilidade de um regime on a sua capa- cidade decis6ria). Em segundo lugar, quando fala- mos de “sistema”, podemos referir-nos contem- poraneamente a duas ordens de coisas muito dis- lanies entre si. Podemos entender, por um lado, um conjunto de relagdes intersvbjetivas reais, historicamente presentes numa dada comunidade e, por conseguinte, constitutivas de um especifico Sistema politico (sistema observado). Por outro lado, pode-se entender qualquer coisa muito dife- rente, isto é, um conjunto de hipdteses interpre- tativas (sistema observante) capazes de investigar as relagOes que caracterizam a convivéncia inte- rindividual propria de qualquer coletividade. E Sbvio que esta distingdo ndo é de pouco valor. Com efeito, enquanto a segunda acepeao diz res- peito a um mero instrumento, a. um modelo inter- pretativo e simplificativo da realidade politica, a primeira acepcio concerne & propria realidade politica, considrada em alguns dos seus aspecios especificos. Daqui por diante, quando se disser Sistema politico devemos lembrar que 0 que est em exame ¢ somente a segunda destas duas acepgies. Estas duas premissas — generalidade em lugar da totalidade, finalidades analiticas mais que finalidades imediatamente empiricas — sfo de fundamental importincia para se com- preender © Ambito do uso correto da nogao de sistema, tal como ela € compreendida pela epis- temologia contemporanea, em manifesto contraste com as mais conhecidas acepgées do termo em voga no século XIX (tanto idealistas como posi tivistas), todas elas viciadas pelo substrato ideo- légico-metafisico de onde nasceram Quanto aos objetivos e uso efetivo, a anélise sistémica oferece contribuigdes relevantes sobre POLITICO como: a) explicar, b) prever, c) comparar, d) avaliar, alguns de entre os principais aspectos da multiforme realidade politica. O objetivo pric- ritirio &, sem divida, @ da explicagao. Sob este aspecto, muito pode valer uma abordagem sisté- mica. Acima de tudo, ela pode ajudar a obter significativas generalizagdes do tipo “se — em tal caso”, relativas aos fendmenos préprios da sua esfera de observagio. Consideremos, por exemplo, que uma hipétese interpretativa tenda a estabelecer uma certa relagdo causal entre um dado tipo de sistema eleitoral e um dado tipo de sistema partidario, e que nem em todos os paises onde estas duas condigdes foram satisfeitas, s¢ dessem os mesmos resultados. Nestas ¢ em outras circunsténcias semelhantes, uma abordagem sis- témica ajuda a observar melhor a presenga even- tual de “fatores perturbadores" nao considerados precedentemente. Além disto, mostra a impor- tancia (e relativa fungio) que a relagdo existente entre normas elei:orais e subsistema -partidério tem nos contextos considerados, O exemplo pode ser considerado igualmente indicativo, mutatis mutandis, no s6 em matéria de explicagdes, como também no concesnente a objetivos quando s¢ trate de previsdes, avaliagdes e comparagées (V POLITICA COMPARADA) IL]. ALGUNS REQUISITOS ANAL{TICOS FUNDA- MENTAIS. — Todos estes objetivos exigem, para nao ficarem em meras veleidades, uma apare- Thagem analitica adequada, que somente uma atenta metodologia pode tornar valida. Entre 0s muitos requisitos que podemos considerar carac- teristicos das anélises sistémicas, ha sete que P® recem ainda hoje os mais particularmente impor- tantes, Primeiro requisito: convém partir de uma de- finigao da politica capaz de colher ¢ exaurir ple- namente as potencialidades analiticas implicitas na acepeao de sistema acima citada. Isto é, prec samos definir a politica de tal maneira que mos tremos claramente toda a complexidade do fend- meno, sem, porém, ressaltar qualquer dos sev aspecios particulares, e especifiquemos as com digdes em que um dado fenémeno social acaba por se tornar politicamente relevante. Para exer plificar, uma definigao de politica como a de "vm processo complexo mediante o qual, numa comu- nidade humana qualquer, formam-se decisses im- » perativas que a dirigem” Segundo requisito: determinar os limites do sistema. Ou seja, 0 habitat que caracteriza uma dada realidade politica observavel como sistem, ha de ser claramente definido em pardmetros que sirvam para distinguir 0 ambiente do sistema. Nio existindo esta delimitagao, a nogao analitica | ‘ 7 4 4 ik ia a Se eee £ | | | SISTEMA POLITICO de sistema perde grande parte de sua legitim dade. Com tal objetivo, recorre-se_muitas vezes 20 critério de “relevancia politica”, entendendo- se por “politica” 0 conjunto de aspectos jé as- sinalados e, como “relevancia”, a existéncia de um vinculo de causalidade entre um fenémeno ¢ outro. Nesta perspectiva, 0 ambiente do Sistema politico pode ser definido pelo conjunto de fend- menos sociais, potencialmente relevantes para a vida do sistema, e seu limite, pelos limiares, ul- trapassados os quais, um fendmeno social torna- se um fato relevante para a politica. Fica, porém, assente, evidentemente, que o problema de saber concretamente quando, como, em relagdo a que fim fendmenos e grupos influem ou nao na vida do sistema, s6 pode encontrar uma soludo de forma empirica, Terceiro requisito: as relagdes que interme- deiam entre o sistema e seu ambiente tém que ser detectadas e individualizadas “‘agregando” as miltiplas relagdes possiveis em pequeno nimero de conceitos flexiveis, como, por exemplo, as no- goes de input, output © feedback. Do ponto de vista do Sistema politico, isto pressupde que, com © primeiro termo, input, se possam sintetizar os “desafios” (manifestados de qualquer modo e provenientes de qualquer lugar) que poem em funcionamento o sistema; com 0 segundo termo, output, as “‘respostas” que o sistema da (¢ sem as quais este cessaria de existir); com o terceiro termo, feedback, finalmente, se possam indicar os instrumentos com os quais os governantes operam (mas ndo apenas eles), em vista do su- cesso das proprias decises. Qualquer tipo de Sistema politico, seja cle uma ditadura monét- quica ou uma democracia liberal, deve ser consi- derado sob esta perspectiva, dado que, para so- breviver, nenhum sistema pode deixar de respon- der aos desafios a que esta sujeito. Quarto requisito: de maneira muito semelhante a precedente, o sistema deverd depois ser decom- posto em outras tantas partes capazes de “agre- gar” significativamente os mais varios ¢ hetero- géneos fendmenos politicos num nimero relati- vamente baixo de componentes reciprocamente interligados, E mister, portanto, reduzir fenéme- nos heterogéneos — ‘como partidos, legislacao, administracao, sindicatos, valores — a varidveis sistémicas (“partes”), componiveis num tnico quadro orginico e unitério. Os exemplos das “fungoes” almondianas (Almond € Powell, 1966) ¢ dos “observaveis” eastonianos (Easton, 1965) so claramente demonstrativos de tal procedimen- to. A escolha de um critério onde basear a cons- trugdo desses macrocomponentes sistémicos de- pende, em larga medida, do tipo de aspectos definidores adotados para caracterizar 0 ambito 1165 € os fins da vida politica. Pensemos, a titulo de exemplo, nas noges de proceso ¢ de institu- cionalizacao e na definigao de politica como “Go- verno da polis” (Urbani, 1971). A preferéncia concedida a nogdo de processo explica-se tm gran- de parte por si, na medida em que a agao de “governar”” pressupde descreve uma seqiiéncia de varias fases diferenciadas pela incidéncia de miiltiplos fatores (a escotha dos fins, a escolha dos meios, a escolha de quem toma as decisées inais, a contratagdo ou a imposigao como instru- mentos utilizados para tornar imperativas as de- cisdes). Um Sistema politico é, pois, por definigio — desde que se aceite a premissa referida — um conjunto de processos ¢ subprocessos, todos ana. liticamente decomponiveis e interagindo entre si A par do exemplo do processo decisério, pode-se facilmente pensar em toda uma série de subpro- cessos como: 0 recrutamento de quem decide, o célculo dos custos ¢ dos lucros conexos as deci- s6es, ete. Nao pode ser subestimada neste quadro a propriedade que tém os processos sistémicos de se realizar historicamente de forma mais ou menos institucionalizada, ou seja, através de for- mas que se mantenham mais ou menos estaveis no tempo ¢ estejam mais ou menos estruturadas mediante relagdes formais ou informais. Pense- ‘mos, como exemplo, no caso de um proceso como © legislativo ¢ nas suas varias formas de possivel institucionalizagao através de normas, regulamen- tos, costumes e relagdes mais ou menos informais entre seus protagonistas. Quinto requisito: apés se haverem individua- lizado as partes do sistema, ficam ainda por definir as relagdes que possibilitam e favorecem sua reciproca coexisténcia. O recurso & nogao de sistema perderia seu significado se nao se pudes- sem precisar as relagdes mais ou menos cons- tantes que ligam as varias partes de um todo, de modo a apresentar este “‘conjunto” como uma entidade distinta dos aspectos de algum modo especificos (€ diferentes) em relago aos que re~ sultam da soma dos componentes individualmente considerados. No caso do Sistema politico, gran- de parte destas relagdes podem ser distinguidas através dos conccitos de fungao e sintaxe sisté- mica. Com “‘fungao” nos referimos s regras pe- culiares de interagao e de interdependéncia exis- tentes entre os varios processos politicos. Assim, quando se diz que determinadas variagdes ineren- tes ao processo de agregacao dos interesses estdo estreitamente ligadas as variagdes inerentes a0 processo de articulagio e ao processo de socia- lizagao, quer-se afirmar que o processo politico é de alguma maneira ‘“funco” dos outros. Com sintaxe sistémica” referimo-nos a0 conjunto des- sas regras, ou scja, a0 modelo resultante das vé- 1166 rias “fungdes” que regulam a interacdo das par- tes que compdem o sistema. F através desse conceito que nasce — embrionariamente — 0 verdadeiro “sistema observante”, a urdidura — hipdtese que fornece os instrumentos adequados aptos & busca das relagdes politicas (empiricas) que constituem os Sistemas politicos “reais”. Sexto requisito: para estudar isoladamente as partes ou grupos de partes de um Sistema poli- tico, € preciso recorrer 4 nogao de subsistema. E 0 caso em que se quer considerar — em relacao a totalidade de um dado regime — os partidos ou os grupos de interesse, uma burocracia, uma entidade local, uma empresa. A observacio de um subsistema aplicam-se as mesmas propriedades analiticas dos sistemas, exceto uma: 0 subsistema nfo pode ser considerado absolutamente auté- nomo em relacdo ao ambiente externo, porque seu ambiente deriva e depende do proprio sistema. Esta particularidade define as condicoes nas quais € correto efetuar a extrapolacdo subsistemas-sis- tema, Devemos considerar os subsistemas como especificos instrumentos analiticos, distintos das propriedades que caracterizam os sistemas ope- rantes num “ambiente”, que se identifica com © sistema mais amplo, do qual cada um deles & parte constitutiva Sétimo requisito: finalmente, para observa, a dinamica de um sistema, é necessdrio considerar a maneira, a direcdo ea intensidade com que 0 seus aspectos especificos mudam no tempo. Entre as muitas mudancas politicas possiveis é claro que nem todas interessam ao sistema, visto no seu todo. Somente algumas so objeto espe- cifico deste tipo de anélise e precisamente aquelas que envolvem as relagdes entre o sistema e 0 ambiente, as regras de interacao dos varios com- ponentes sistémicos, os limiares de confim e as formas nas quais tais regras se manifestam histo- ricamente, ou seja, as modalidades de institu- cionalizagao do € no sistema. As crises relativas as relagdes entre 0 Sistema politico e 0 ambiente representam, ao mesmo tempo, uma causa e um efeito dos outros tipos de crise. Uma causa, porque induzem a mudanca do sistema (imaginemos uma crise econémica ou cultural ¢ as suas conseqiiéncias na vida de um regime). Um efeito, porque cada mudanca na capacidade de eficiéncia de um sistema acaba sempre repercutindo inevitavelmente nas reacdes do ambiente circunstante (pensemos nas conse- qiiéncias de uma paralisacio do Governo de determinadas reformas sociais). As crises de mu- danga nos limites do sistema envolvem, em vez disso, a 4rea de influéncia do proprio sistema: pense-se em Estados de tipo laissez-faire ou de tipo weljarestate e nos “limites” dos respectivos SISTEMA POLITICO Ambitos de influéncia e de intervencdo econémica. Quanto as crises relativas as regras de interaga0 dos componentes de um sistema, 0 problema re- side, essencialmente, na observacio dos. niveis de coeréncia e de interdependéncia destas ulti- mas. E claro, com efeito, que quanto maior ¢ ¢ grau de sintonia entre 0 processo legislativo e 0 processo executive, de um lado, ¢ os desafios ambientais e as respostas governativas do outro, tanto maior seré a capacidade do sistema, isto €, tanto mais cle terd tendéncia a se desenvolver. Finalmente, as crises relativas as modalidades de institucionalizagao do e no sistema manifestam todas aquelas “‘metamorfoses” por efcito das quais 0 sistema muda — no todo ou em parte, reforgando ou abandonando — os parametros mais correntes da sua atividade concreti.. Cresci- mento e reducao de um determinado sistema, desenvolvimento e estabilidade, desaparecimento ou acomodacéo sio, portanto, outras tantas for- mas e tendéncias de mudanca que é preciso ob- servar referindo-as a critérios interpretativos espe- cificos. IV. OnseRvacio Dos sISTEMAS POLiTICos. — A melhor maneira de estimar a qualidade de um instrumento analitico é, cbviamente, a de consi- derd-lo & luz de seus resultados no terreno expli- cativo. Desde este ponto de vista, remontando a0 que jé fica dito, importa considerar, de um lado, as potencialidades contidas nos modelos observantes até hoje elaborados e, do outro lado, as efetivas explicagdes empiricas fornecidas pelos pesquisadores, baseando-se nesses modelos. Em relacdo ao primeiro aspecto, entre a cres cente quantidade de contribuigdes tedricas hoje disponiveis, podem ser consideradas simbélicas as, contribuigdes fornecidas respectivamente pelos autores da escola estrutural-funcionalista (Almond e Powell, 1966) e pelos que se acham diversa~ mente ligados & abordagem cibernética (Deutsch, 1970). Os politélogos funcionalistas procedem, geralmenie, através de uma pesquisa comparada sobre miltiplos regimes politicos (desde os das comunidades primitivas até aos mais modernos € complexos). Nessas pesquisas, procuraram ¢s- sencialmente isolar as fungdes politicas histori camente evocadas, mostrando sua natureza, 0 papel que representam nos respectivos contextos ambientais, as diversas estruturas que permitem seu desenvolvimento (ou o impulsionaram) e as inter-relagdes que as ligam reciprocamente. O resultado dessa pesquisa veio comprometer_ um pouco todo © nosso modo de entender os fend- menos politicos ¢, em particular, a possibilidade de comparar paises considerados radicalmente diferentes. Neste sentido, o¢ maiores resultados SISTEMA foram obtidos especialmente em virtude da mu- danga de perspectiva que foi sugerida: obser- vagio das instituigSes politicas, conforme a fun- 80 que elas desenvolvem, em lugar de observé- las com base na estrutura normativa que as ca- racteriza. Como resultado surgiu a possibilidade de andlises mais realistas e, ao mesmo tempo, mais significativas da vida politica, andlises que acabam por evidenciar amitde 0 complexo jogo de interdependéncias que condicionam estreita- mente tanto a vida dos regimes politicos, quanto, em decorréncia disso, as escolhas e as orientacdes de cada cidadéo. Entre os politélogos que, de -uma maneira ou de outra, esto ligados @ abor- dagem cibernética, a contribuicao mais avancada veio particularmente dos que procuraram observar ¢ analisar um Sistema politico como algo capaz de “responder a estimulos” (nao importa por agora saber se se trata de analogias com orga- nismos animais ou com maquinas). Nesta pers- pectiva busca-se especialmente descobrir as regras das interagdes existentes, nos varios regimes poli- licos, entre as varias exigéncias populares, as decisdes dos governantes ¢ as variacdes no nivel do suporte necessério ao funcionamento de qual- quer tipo de sociedade politica. A contribuigio mais fecunda desta escola refere-se especialmente 4 um ponto: 2 possibilidade de observar a evo- lugao dinamica da vida de um sistema e de prever: assim as modalidades mais provveis do seu funcionamento, com base nas mudancas pouco a pouco percebidas no jogo estimulos-respostas a0 qual ele est sujeito (Easton, 1965). Aplicados ao estudo dos regimes politicos con- temporaneos, ambos os tipos de abordagem (fun- cionalista e cibernética) tém efetuado numerosas € elucidativas diagnoses. No caso dos funciona- listas, pensemos na comparagdo de paises carac- terizados por estruturas constitucionais assaz dife- rentes (Estados Unidos e Unido Soviética), ou por niveis de desenvolvimento econdmico-social bem distantes (Unido Soviética e Gana, Japao ¢ Turquia). Pense-se, no caso dos segundos, nos estudos referentes a0 mecanismo em que assenta a formulagao de toda a politica exterior de varios paises e nos estudos sobre o apoio popular sempre varidvel que possibilita a sobrevivéncia dos di- versos regimes. De uma forma geral, a abordagem sistémica na observagao dos fendmenos politicos permitiu ver muitas questoes a uma luz bem diferente. Pensemos, por exemplo, na ponte que langou As chamadas “teorias parciais” da vida politica’ (respeitante a partidos, grupos de pres- so, parlamentos, ideologias), conseguindo for- necer-Thes um quadro tedrico onde elas poderio obter uma colocagio mais correta e uma melhor compreensio, Pensemos, sob um outro aspecto, POLITICO 1167 no papel jé citado que as teorias sistémicas podem exercer em comparagbes politicas particularmente complexas. Pensemos, enfim, em todos aqueles fendmenos coletivos, cujas causas parecem quase inextricaveis e em relagao as quais as teorias sistémicas possibilitam esclarecedoras investiga- Ges sobre a maneira como acabam por entre- lagar-se € confundir-se aspectos culturais e as- pectos politicos, aspectos econdmicos e aspectos psicolégicos. V. PERSPECTIVAS DA ANALISE sisTEMICA. — O progresso da observacao sistémica dos Sistemas politicos depende de miltiplos fatores. Explic GOes, comparacdes, avaliacoes, previsdes reque- rem um amadurecimento paralelo dos respectivos instrumentos metodoldgicos. Ainda hoje esses ins- trumentos deixam entrever potencialidades varias, mais do que respostas conclusivas; na realidade, prometem muito mais do que aquilo que podem dar imediatamente. O juizo sobre a maior ou menor adequacdo da abordagem sistémica (e so- bre a sua utilidade) converte-se, em grande parte, num juizo sobre suas perspectivas, ow melhor, sobre as condigdes de progressos mais substan ciais. Para tanto, as elaboragdes tentadas até aqui sugerem ao menos dois caminhos complementa- res entre si: o primeiro passa pela aquisigao de um dominio cada vez mais seguro dos requisitos epistemolégicos ¢ metodolégicos precedentemente indicados; 0 segundo conduz a um esforgo de revisio de conceitos, onde se redefina grande parte dos instrumentos de observagao usados até aqui, muitas vezes abusivamente. Dentro desta iiltima perspectiva, os objetivos mais importantes sio provavelmente trés: formar conceitos cada vez mais passiveis de controle empiric; indivi- dualizar referéncias que possam agregar todos os aspectos individuais e parciais da vida politica; elaborar categorias que sejam “partes” de um conjunto mais amplo ¢ abrangente, dentro do qual cada componente se ligue aos outros, de mancira a resuliarem dai outras tantas pecas de um mo- saico, que adquira significado exatamente em virtude de uma sébia aproximagao dos compo- nentes. De qualquer modo, nao deveriam faltar culto- res entusiastas e cada vez mais preparados das teorias sobre o Sistema politico. Os motivos deste interesse vao muito além dos que alimentam tan- tas efémeras modas culturais. Aprofundar 0 con- ceito de Sistema politico é hoje uma empresa intelectual tao delicada quanto irrenuncidvel, quer por exigéncias cientificas, quer por exigén- cias hist6rico-politicas. J4 falamos em parte das exigéncias cientificas, mas vale a pena acrescen- tar ainda mais uma consideragao. A andlise sis- 1168 SISTEMAS D témica dos fendmenos politicos apresenta-se como um instrumento particularmente dictil, utilizdvel na observacao dos aspectos politicos (aspectos da politeia) de qualquer comunidade social, desde © Estado-nacdo 4 empresa, ou, entéo, desde o Estado ao sistema das relagdes entre os Estados (Morton Kaplan, 1968). No que respeita as exi- géncias de carter hist6rico-politico, 0 problema central € essencialmente 0 que deriva da extraor- dindria complexidade dos modernos aglomerados sociais, verdadeiros “monstros”, cuja légica de funcionamento facilmente foge ao nosso controle. Buscar compreender os mecanismos de tais aglo- merados torna-se entéo uma necessidade impres- cindivel & qual as ciéncias do homem nao podem deixar de responder de alguma maneira, pondo grande parte dos prdprios recursos intelec- tuais (Lasswell, 1971). O desafio é demasiado importante ¢ exige um esforco de igual valor. BinuioGrarta. G. A. ALMOND € B.G. PowELL, Comipa rative politics, Little Brown, Boston 1966; I! sistema delle relaziont internazionali, a0 cuidado de L. BONANATE. Einaudi, Torino 1976; S. Coteman, Measurement ard analysis of political systems, Wiley. New York 1975; R. L Curry, JR. L. L. Wave, 4 theory of political exchange, Prentice-Hall, Englewood Clitls 1968: K. Deutse#. The nerves of government, Free Press, New York 1963: Id. Politics and government, Houghton Miltlin, Boston 1970; D. Easton, systems analysis of political life. Wiley, New York 1965; T. R. Gurr, Polivimetries, Prentice-Hall, Englewood Cliffs 1972: W. F. ILCHMAN € N. T. UPHOFF. The political economy of change, University of California Press, Berkeley 1969: H. D. Lasswett. 4 pre-view of policy sciences, Elsevier, New York 1971; MITCHELL & MitcHeLt, Political analysis & public policy: an introduc tion to political science, Rand McNally, Chicago 1969; G. 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