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Leis da Termodinâmica (“Breve” Resumo) Prof. Dr.

Emanuel Benedito de Melo

Existem várias definições e divisões para as Leis da Termodinâmica, Lei zero, Primeira Lei,
Segunda Lei e Terceira Lei, porém num maior consenso didático divide-se em apenas duas: A
Primeira Lei e a Segunda Lei. Embora a termodinâmica seja utilizada como um nome genérico
da disciplina o termo termodinâmica pode ser mais associado com o estudo dos gases. De forma
bem simplista dizemos:

1a Lei equivale à conservação de energia nos sistemas gasosos que operam de forma não cíclica.

2a Lei equivale à entropia (dissipação de energia) que existe para que as máquinas de cíclicas
possam operar tais como geladeiras, usinas termelétricas, motores de carros etc.

Variação de Energia Interna 𝜟𝑼

A variação de energia interna é aquela que se acumula na matéria, porém nos sólidos todo o
calor que é inserido nele é usualmente capaz de modificar a sua temperatura ou mudar o seu
estado físico, no entanto, quando é inserido calor no gás pode ocorrer dois fenômenos: ou a
expansão gasosa e/ou a mudança de sua temperatura e isso dependerá das condições para que
haja expansão total, parcial ou não. A energia interna depende da temperatura e a variação da
energia interna depende da variação de temperatura. Todos os gases possuem uma
determinada energia interna, porém, ao receber calor, se houver expansão podem casualmente
não ter uma variação de temperatura assim como um recipiente que contém gás e recebe calor
pode não sofrer expansão e com isso aumentar a sua pressão interna e como consequência a
sua temperatura.

É importante dizer que os gases possuem diversos movimentos aleatórios de rotação


translação e precessão o que pode dizer muito sobre a suas energias internas.

Para os gases monoatômicos usa-se a relação:


𝟑
𝑼= ∗ 𝒏𝑹𝒖 𝑻
𝟐
Para os gases diatômicos usa-se a relação:
𝟓
𝑼= ∗ 𝒏𝑹𝒖 𝑻
𝟐
Para os gases tri-atômicos usa-se a relação:
𝟕
𝑼= ∗ 𝒏𝑹𝒖 𝑻
𝟐
Logo a variação da Energia Interna pode-se usar “ uma diferencial na Energia Interna U” e
outra diferencial na Temperatura T”
𝟑
𝜟𝑼 = ∗ 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻
𝟐
Primeira Lei da Termodinâmica

Como foi dito anteriormente, um sistema fechado, como se fosse um êmbolo, com gás
aprisionado pode receber calor e realizar trabalho ou não.

Permanecer com o mesmo volume

ΔU=100J
Q=100J

Aumentar um pouco o volume, realizando trabalho, porém ainda variou um pouco a energia
interna

ΔU=20J
Q=100J
W=80J

Aumentar o volume, realizando trabalho utilizando integralmente o calor sem variar a energia
interna

Q=100J
ΔU=zero

W=100J

Toda vez que tem expansão de um êmbolo há a realização de trabalho motor!

Como podemos notar, é fácil observar a relação:

𝑸 = 𝑾 + 𝜟𝑼
Transformações gasosas

Podemos observar algumas transformações gasosas importantes:

Transformação Isocórica, isométrica ou isovolumétrica

Nessa transformação, não há a realização de trabalho e a pressão é proporcional à


temperatura absoluta. Observamos esse fenômeno nas panelas de pressão (antes de ejetar
vapor).

𝑸 = 𝑾 + 𝜟𝑼
𝑸 = 𝟎 + 𝜟𝑼
𝑸 = 𝜟𝑼

𝒑𝟏 𝒑𝟐
=
𝑻𝟏 𝑻𝟐

𝑸𝒗 = 𝒎𝒄𝒗 𝜟𝑻 ou 𝑸𝒗 = 𝒏𝑪𝒗 𝜟𝑻

Dessa forma, temos que todo o calor é transformado integralmente em variação de energia
interna:

Se for monoatômico:
𝟑
𝒏𝑪𝒗 𝜟𝑻 = 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻
𝟐
𝟑
𝑪𝒗 = 𝑹
𝟐 𝒖
Se for diatômico:
𝟓
𝒏𝑪𝒗 𝜟𝑻 = 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻
𝟐
𝟓
𝑪𝒗 = 𝑹
𝟐 𝒖

Transformação Isobárica

Na transformação isobárica, temos uma transformação onde há a mudança de temperatura e


de volume a fim de que a pressão não se altere:
𝑽 𝟏 𝑽𝟐
=
𝑻𝟏 𝑻𝟐

É importante destacar que:

𝑸 = 𝑾 + 𝜟𝑼

Onde W é o trabalho, porém como a pressão é constante temos que

𝑾 = ∫ 𝑭 𝒅𝒙

porém sabemos que a força pode ser dada por:

𝐹 = 𝑝. 𝐴
Onde p é a pressão e A é a área assim temos:

𝑊 = ∫ 𝑝 𝐴 𝑑𝑥

𝑾 = ∫ 𝒑 𝒅𝑽

Logo como a pressão é constante:

𝑾 = 𝒑(𝑽𝟐 − 𝑽𝟏 ) ou 𝑾 = 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻

O calor Q pode ser dado por:

𝑸𝒑 = 𝒎𝒄𝒑 𝜟𝑻 ou 𝑸𝒑 = 𝒏𝑪𝒑 𝜟𝑻
É claro que existe variação de 𝜟𝑼, pois há variação de temperatura, sendo assim:

𝑸 = 𝑾 + 𝜟𝑼
𝒏𝑪𝒑 𝜟𝑻 = 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻 + 𝜟𝑼

Se o gás for monoatômico:


𝟑
𝒏𝑪𝒑 𝜟𝑻 = 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻 + 𝒏𝑹𝒖 𝑻
𝟐

𝟓
Logo: 𝑪𝒑 = 𝟐 𝑹𝒖

Se o gás for diatômico:


𝟓
𝒏𝑪𝒑 𝜟𝑻 = 𝒏𝑹𝒖 𝜟𝑻 + 𝟐 𝒏𝑹𝒖 𝑻
𝟕
Logo: 𝑪𝒑 = 𝑹𝒖
𝟐

Transformação Isotérmica

Nessa transformação não há a variação da energia interna porque não há variação de


temperatura, portanto todo calor é integralmente transformado em trabalho.

𝑸 = 𝑾 + 𝜟𝑼
𝑸=𝑾
Porém, devemos compreender melhor com as seguintes ilustrações:

Há uma relação inversamente proporcional quando pensamos no que ocorre entre pressão e
volume:

𝒑 𝟏 ∗ 𝑽 𝟏 = 𝒑 𝟐 ∗ 𝑽𝟐

O trabalho realizado nesse processo é dado pela integral abaixo da curva:

𝑾 = ∫ 𝒑 𝒅𝑽
𝒏𝑹𝒖 𝑻
𝑾=∫ 𝒅𝑽
𝑽
𝟏
𝑾 = 𝒏𝑹𝒖 𝑻 ∫ 𝒅𝑽
𝑽
𝑾 = 𝒏𝑹𝒖 𝑻 𝒍𝒏𝑽𝒗𝟐
𝒗𝟏

𝑾 = 𝒏𝑹𝒖 𝑻 (𝒍𝒏𝑽𝟐 − 𝒍𝒏𝑽𝟏 )


𝑽𝟐
𝑾 = 𝒏𝑹𝒖 𝑻𝒍𝒏 ( )
𝑽𝟏
Transformação adiabática

É a transformação onde não há envolvimento de calor no processo geral. Embora seja mais
complexa, ela é bem semelhante ao que ocorre nas transformações isotérmicas quando
observa-se o diagrama pressão versus volume:

𝜸 𝜸
𝒑 𝟏 ∗ 𝑽 𝟏 = 𝒑 𝟐 ∗ 𝑽𝟐
𝑐𝑝
𝛾=
𝑐𝑣
Embora a modelagem matemática pareça ser mais complexa, devido ao coeficiente de Poisson
𝛾, não é difícil estimar o trabalho realizado nesse processo uma vez em que:

𝑸 = 𝑾 + 𝜟𝑼
𝟎 = 𝑾 + 𝜟𝑼
𝑾 = −𝜟𝑼

Dessa forma, se houver uma expansão, a energia interna será diminuída e houver um trabalho
forçado (negativo) sobre o sistema a energia interna apresentará valores positivos.
Equação de Clapeyron ou Equação de Estado

𝒑𝑽 = 𝒏𝑹𝒖 𝑻

Onde p é a pressão dada em Pa, V é o volume dado em m³, n é o número de mols, R u é a


constante dos gases perfeitos T é a temperatura absoluta em K.

É importante lembrar que:


𝒎
𝒏=
𝑴
m é a quantidade da substância em gramas e M é a massa molar, ou seja 6, 023*1023 unidades
de partículas dessa substância dada em g/mol.

Equação de Clapeyron de forma mais prática:

𝒑 = 𝝆𝑹𝑻

É importante dizer que nessa forma, o R é dado em J/molK apresentado é um valor tabelado
para cada gás ou composição de gases e por isso em situações práticas são muito utilizadas essa
relação.

Outra situação importante:

𝑸 = 𝒎. 𝒄. 𝜟𝑻

𝑚. 𝑐 = 𝑛. 𝐶

Onde c é o calor específico dado em J/kgK e m é a massa dada em kg e do outro lado temos n
que é o número de mols e C que é o calor molar dado em J/molK.

𝑸 = 𝒏. 𝑪. 𝜟𝑻
Relação de Mayer

Quando um sistema percorre pontos mesma isoterma, devido à conservação de energia, não há
variação da energia interna. Dessa forma, para o gás ideal temos:

Na sequência isobárica:
𝑄𝑝 = 𝑊 + 𝛥𝑈

𝑛𝐶𝑝 𝛥𝑇 = 𝑛𝑅𝑢 𝛥𝑇 + 𝛥𝑈

𝛥𝑈 = 𝑛𝐶𝑝 𝛥𝑇 - 𝑛𝑅𝑢 𝛥𝑇

Na sequência isocórica:

𝑄 = 𝑊 + 𝛥𝑈
𝑄_𝑣 = 0 + 𝛥𝑈

𝑛𝐶𝑣 𝛥𝑇 = 𝛥𝑈
Igualando:

𝑛𝐶𝑝 𝛥𝑇 - 𝑛𝑅𝑢 𝛥𝑇 = 𝑛𝐶𝑣 𝛥𝑇

𝑹𝒖 = 𝑪𝒑 − 𝑪𝒗

Ou

𝑹 = 𝒄𝒑 − 𝒄𝒗

Observe que esse R é específico, dado em J/kgK de cada composto gasoso diferente do R u
(8,31 J/molK) que é a constante geral dos gases perfeitos, ou seja o valor da constante de
Boltzmann, utilizado para qualquer gás ideal.
Máquinas Cíclicas e a Segunda Lei da Termodinâmica

De uma forma geral, como vimos, a termodinâmica se aplica muito aos sistemas gasosos
fechados. Porém, mesmo para sistemas de gás não fechados, os conhecimentos das Leis da
Termodinâmica podem ser aplicados, mas isso será algo que veremos mais adiante.

O fato é que um pistão com gás recebe calor que é responsável pela sua expansão, ou seja,
realiza trabalho, no entanto, se for uma expansão por ignição, o gás não poderá se expandir
mais de uma vez porque o gás já sofreu a combustão e o composto gasoso ainda aquecido tem
dificuldade de continuar a se expandir. Além disso, não existe êmbolos infinitos e por isso esse
embolo deve trabalhar em ciclos. Portanto, nesse ciclo, deve genericamente ocorrer:

Admissão de gás ou de combustível

Ignição ou aquecimento

Expansão

Rejeição/Exaustão do gás utilizado (que já está muito aquecido)

Existem vários ciclos termodinâmicos, tais como motores de dois tempos, quatro tempos,
porém o nosso enfoque é apenas conhecer as máquinas que operam em ciclos.

Enfim, já é de observar que a chave para qualquer movimento termodinâmico se dá pela


diferença de temperatura, em outras palavras, o sistema será mais eficiente quando o gás de
trabalho possa adentrar ao sistema o quanto mais refrigerado e esse mesmo gás consiga
absorver o máximo de calor antes de sair do sistema o que poderá dar condições para um novo
início de ciclo. O fato é que esse calor rejeitado pelo sistema não poderá ser usado novamente
por ele mesmo, assim perde-se calor a cada ciclo.

As máquinas cíclicas são divididas em:

Máquina térmica

Máquina frigorífica

Bomba de calor

Máquina térmica

O objetivo dessa máquina é realizar trabalho mecânico, ou seja, potência mecânica. Ela é
composta por motores de combustão, termelétricas, usinas nucleares, máquina à vapor etc.

Vale lembrar que a Primeira Lei da termodinâmica é válida sempre e assim valos representar
uma máquina térmica pela figura a seguir:
Temos o calor ou a potência térmica de calor que deve dar propulsão ao sistema para que esse
possa realizar trabalho ou potência mecânica, no entanto, sabemos que parte do calor
investido deve ser rejeitado para que o ciclo comece novamente.

Obs. Calor de fonte quente = calor investido, Calor de fonte fria= calor rejeitado

𝑸𝑸 = 𝑾 + 𝑸𝑭 (operação em um ciclo valores dados em J)

𝑸𝑸̇ = 𝑾̇ + 𝑸̇𝑭 (operação em frequência valores dados em watts)

Embora não haja um trabalho resultante integral, usa-se o termo rendimento 𝜂 para mostrar
o desempenho dessa máquina:
𝑾
𝜼=
𝑸𝑸

0>𝜂>1
Máquina Frigorífica

O objetivo dessa máquina é refrigerar, porém sabemos que isso não é um processo espontâneo.
Observamos esse fenômeno nas geladeiras, ares-condicionados, freezers etc. Esses dispositivos
necessitam de um trabalho externo realizado por um motor, geralmente elétrico, para que o
calor seja rejeitado para fora destes ambientes de interesse, o fato é que é que o trabalho
somado com esse calor rejeitado forma um calor de fonte quente que deverá findar-se nos
irradiadores.

Para esses casos não faz sentido falar em rendimento, pois o objetivo é a refrigeração e ela pode
ter o auxílio de qualquer valor de força motora. Dessa forma usa-se o termo eficiência (e) ou o
termo coeficiente de performance térmica (COP).
𝑸𝑭
𝒆=
𝑾
É importante observar que esse coeficiente pode admitir qualquer valor, inclusive acima de 1.
Bombas de Calor

As bombas de calor são dispositivos muito semelhantes às geladeiras, o que muda é


exatamente a área de interesse já que a função delas é aquecer. Vamos adaptar a ilustração
acima para facilitar a compreensão.

Nos países frios, as bombas de calor retiram calor do ar gelado e até mesmo do gelo para que,
com a ajuda do motor, esse calor seja injetado nos interiores dos ambientes para aquecê-los!
𝑸𝑸
𝒆=
𝑾
Máquinas e Ciclos de Carnot

O Ciclo de Carnot é o ciclo com a menor possiblidade de perdas.

Todas as máquinas cíclicas podem “operar em Carnot” que é a idealização esperada pelos
motores. De uma forma geral, as máquinas que operam em Carnot possuem uma
proporcionalidade com a temperatura absoluta para com os calores injetados ou rejeitados.
𝑻𝑸 𝑸𝑸
=
𝑻𝑭 𝑸𝑭

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