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~1~

J.M. Darhower
#1 By Another Name
Série Forbidden

Tradução Mecânica: Bia Z.

Revisão Inicial: Denise, Mª Aparecida, Michele,


Kaliane, Jaciara, Brunela, Suzana, Nath, Gisele, Aline

Revisão Final: Dani, Goreth

Leitura: Bia B.

Data: 11/2017

By Another Name Copyright © 2015 J.M. Darhower

~2~
Sinopse
Uma rivalidade mortal.

Duas famílias em guerra.

Ninguém está seguro, nem mesmo o inocente.

Especialmente o inocente.

Sangue será derramado.

Genevieve "Genna" Galante sabe uma coisa ou duas sobre causar


problemas. Afinal, isso está gravado em seu DNA. Como a única filha de
Primo Galante, chefe notório da família do crime Galante, sua vida é
ditada por um certo conjunto de regras... regras que Genna nunca foi
muito boa em seguir.

Matteo "Matty" Barsanti nunca quis nada com o negócio da


família, mas, como filho mais velho dos Barsanti, esperam-se certas
coisas. É seu dever, de acordo com seu pai, ajudar a derrubar o
inimigo... mesmo que esse inimigo signifique algo para ele.

Um encontro casual em um elevador muda o curso de vidas,


causando o maior problema da vida da jovem Genna. Barsanti bom é
Barsanti morto. Ela já ouviu falar isso uma e outra vez. Então, o que
acontece quando se apaixona por um deles?

A história de amantes com caminhos cruzados no meio da maior


rivalidade que Nova York já viu, determinados a fazer isso... se eles
apenas pudessem sobreviver à disputa de seus pais.

~3~
A Serie
Série Forbidden
J.M. Darhower

~4~
Prologo
O restaurante ficava na área mais ao sul da Little Italy, uma
pizzaria de tijolos de luxo na esquina de um quarteirão. As janelas se
estendiam por toda a frente do prédio, dando uma imagem clara das
cabines vermelhas e douradas extravagantes e dos candelabros
pendurados no interior, mas o vidro havia sido matizado para ofuscar a
vista. As pessoas que frequentavam o lugar não gostavam de ser
observadas.

Primo Galante saiu pela porta da frente numa noite de sexta-feira


no verão de 1993, seguido por sua esposa, Cara. Uma vez genuína
rainha da beleza, Cara há muito tempo trocou sua coroa e faixa por
fraldas e chupetas, e os desfiles por maternidade e casamento.

Para Primo ela sempre seria a mulher mais linda da Terra. Seu
amor por ela só se tornara mais forte ao longo dos anos, e ali de pé,
observando-a enquanto ela segurava firmemente a sua filha mais nova,
Genevieve, sentiu seu coração inchar em seu peito. Sua menina parecia
à mãe, o mesmo cabelo preto e olhos azuis brilhantes. Ela seria uma
destruidora de corações um dia, arrancando corações diretamente do
peito dos homens com apenas um simples olhar, como Cara tinha feito
a ele na primeira vez que colocou os olhos sobre ela anos atrás.

Os meninos corriam ao redor deles, tecendo entre suas pernas


enquanto eles riam e brincavam, mãos seguradas em forma de armas
como se eles fingissem atirar uns nos outros. Cara rolou os olhos para a
brincadeira, mas Primo sorriu com satisfação. Seus filhos. Eles eram
seu orgulho e alegria, especialmente seu Joey, com tanto espírito e
inteligência para ter apenas sete anos de idade. Dante, com apenas
cinco anos, era o mais sensível dos dois. Joey era o líder, mergulhando
de cabeça em tudo, tão destemido e extrovertido, enquanto Dante
simplesmente seguia cada movimento de seu irmão como um reflexo
tranquilo. Aquele garoto era profundo. Talvez, até profundo demais.

Coração mole.

— Feliz aniversário, Primo. — Cara disse, enquanto fixava


Genivieve no chão de pedregulhos aos seus pés. A menina balançou
sonolenta, se acostumando aos novos sapatos brancos, com o fofo
vestido rosa coberto de molho de pizza. Ela se orientou rapidamente e
cambaleou, indo atrás de seus irmãos maiores.

~5~
Primo puxou sua esposa para ele e gentilmente beijou seus lábios
vermelhos. Seu trigésimo aniversário. Este foi o ano... o ano em que
tudo mudou, o ano em que ele fez seus movimentos muito esperados.
Ele já tinha posto tudo em andamento. Não importava quem ele tinha
que derrubar para ter sucesso. Era apenas uma questão de tempo até
que ele estivesse por cima.

— Eu mal posso esperar para te levar para casa. — ele sussurrou


contra sua boca, suas mãos agarrando seus quadris, dedos escovando
contra a pele nua debaixo da bainha de sua camiseta. — Quero
desembrulhar meu presente.

— Hmm. — ela disse, um brilho brincalhão em seus olhos. — E


que presente seria esse?

— Você. — ele disse, beliscando seu lábio inferior. — Eu quero


desembrulhar, e brincar com ele durante toda a noite.

Ela riu, se empurrando dele para longe, seus olhos


esquadrinhando o grupo de crianças. Ele não era prioridade, e ele
aceitou isso. Nos dias de hoje, ele era mais como o quarto na fila por
sua atenção. Ela se aproximou de onde Genevieve estava inclinada,
cavando pedras do chão, suas mãos pegajosas cobertas de sujeira.

Primo virou-se para a porta da pizzaria quando abriu e alguns de


seus colegas de trabalho saíram. Ele iniciou uma conversa com eles,
finalizando o acordo que eles haviam feito durante o jantar para invadir
um novo território, no sul de Chinatown, enquanto eles finalmente se
aproximavam da Little Italy.

Mas ele não pararia por aí, não. Antes que tudo estivesse
terminado, cada bloco em Manhattan pertenceria a ele.

Um dos homens olhou por cima do ombro de Primo enquanto


conversavam os olhos se estreitando suspeitosamente enquanto olhava
para a rua. — Ei Primo, você conhece aquele carro?

Primo virou-se imediatamente, avistando o carro preto subindo,


parando bem do outro lado da rua. — Não.

— Essa é a segunda vez que acontece desde que estamos aqui. —


disse o homem. — Passou duas vezes.

A frieza varreu Primo enquanto o olhava fixamente. O carro preto


comum poderia pertencer a alguém, mas não era ninguém que ele
reconheceu, pessoalmente. Dois quarteirões a leste era o Lower East
Side, território de longa data de Galante, mas a oeste, em Soho, reinava
a família Barsanti. Eles estavam no meio de tudo, sem dúvida o lugar
mais arriscado que poderiam estar durante um período de mudança.

— Crianças! — gritou Primo. Eles estavam ficando perigosamente


perto da estrada, onde o carro espreitava. — Venham aqui.

~6~
Joey correu descoordenado com Dante em seus calcanhares. —
Sim, papai?

— Por que vocês não esperam no carro? — Primo sugeriu. — Está


ficando escuro.

— Ok. — Joey disse obediente, nunca discutindo. A palavra de


seu pai era infalível para o menino. — Podemos ouvir o rádio?

— Sim, uh, claro. — ele disse, puxando as chaves do bolso e


jogando-as para Joey, seus olhos nunca deixando o carro preto
persistente. — Só não fuja sem nós, garoto.

Joey correu, direto para o Impala preto estacionado ao longo do


lado do lote adjacente. Dante caminhou logo atrás dele, mas parou
depois de um segundo, voltando-se para sua irmã. –— Vamos, Genna.

A menina olhou para cima quando ouviu o nome dela, sorrindo e


começando ir atrás dele, pedras apertadas em seus pequenos punhos.

— O que está acontecendo?— perguntou Cara enquanto se


aproximava, deslizando sob o braço do marido, com um olhar de
preocupação em seu rosto. — Algo está errado?

— Carro à beira da estrada. — disse Primo. — Eu acho que eles


estão nos observando.

Ela ficou um pouco tensa, mas manteve-se fria, apenas lançando


vagamente um olhar para a rua antes de se virar para ver seus filhos.
Primo podia ver a preocupação em seus olhos, o olhar de apreensão,
um milhão de perguntas, nenhuma das quais ele queria responder.

Joey subiu para o lado do motorista para ligar o rádio enquanto


Dante passava pelo estacionamento, arrastando os pés, dividido entre
correr atrás de seu irmão mais velho, como ele queria fazer, ou esperar
sua irmãzinha cambaleante, como ele sabia que deveria. Os olhos de
Primo permaneceram colados ao carro, lentamente alcançando seu
casaco e segurando sua arma enfiada no coldre.

Lentamente, a janela lateral do motorista rolou para baixo alguns


centímetros. A adrenalina bombeava as veias de Primo. Ele esperava ver
uma arma, esperava uma chuva de tiros, e estava se preparando para
proteger sua família de um jato de balas, mas nunca chegou.

No segundo em que Joey bateu a porta do lado do motorista, os


pneus no carro espreitando, gritaram quando ele disparou longe,
deixando uma nuvem de fumaça enquanto apressadamente acelerou
pelo bairro.

O coração de Primo caiu em seu estômago enquanto ele se virou


para encarar seu Impala. Através da janela, ele pôde ver Joey enfiando
a chave na ignição.

~7~
Oh Deus. Não, não.

— Não, Joey! — Primo gritou, mas já era tarde demais. Joey virou
a chave enquanto olhava para o pai, franzindo a testa por uma fração
de segundo antes que acontecesse.

BOOM

Primo sentiu isso antes de ouvi-lo, sentiu a força da detonação, as


ondas de choque rodando do veículo, vibrando o chão como um
terremoto sob seus pés. O carro explodiu em uma bola de fogo furiosa.
O metal voou através do lote quando as janelas da pizzaria se
estilhaçaram. A força da explosão os tirou de seus pés, pegando Dante e
explodindo-o pelo ar enquanto o fogo chamuscava seu peito, sua camisa
engolida em chamas.

Cara gritou, um grito de terror apavorado, enquanto Dante


soltava um horrível grito de agonia. Ela correu para ele, frenética para
apagar o fogo queimando-o, enquanto Genevieve irrompeu em lágrimas,
deitada de costas sobre o cascalho.

Primo estava congelado, o mundo ao seu redor em câmera lenta,


enquanto olhava através da neblina onde o carro costumava estar,
vendo nada além de uma armação de metal, completamente eviscerada,
agora uma bola de fogo de 3 metros de altura, no céu noturno. Joey,
seu filho, seu orgulho e alegria, estava longe de ser encontrado. Se foi.

As orelhas de Primo ecoaram, bloqueando o choro, diluindo os


gritos enquanto o mundo ao seu redor caía em total caos. Ele
desapareceu em um estado de choque, uma palavra escapando de seus
lábios, mais um murmúrio que uma reação.

Barsanti.

~8~
Capitulo Um
Dizem que a noite é mais escura pouco antes do amanhecer.

Eu digo que se você quebrar a lei, esse é o momento perfeito para


fazer isso.

— Apresse-se, Jackson! — Os olhos vigilantes de Genna


escanearam ao redor do degradado bairro de Harlem, as ruas parecendo
ainda mais sombrias através das janelas negras. — Jesus, por que
diabos você está demorando tanto?

— Relaxe. — Sua voz era lenta, graças aos cinco tiros de tequila
consecutivos que ele tinha tomado antes de sair da festa. — É difícil ver
no escuro.

Alcançando sua bolsa, Genna cavou e puxou seu celular,


pressionando um botão para acendê-lo. Um suave brilho branco os
cercou no carro e iluminou parte do painel, mas Jackson ainda lutava.

Algo lhe disse que era a tequila e não a escuridão que o fez
tropeçar.

Frustrada, ela estendeu a mão e arrancou a chave de fenda de


sua mão, praticamente subindo em seu colo para empurrá-la na
ignição. Resistiu no começo quando ela encaixou na pequena abertura,
mas depois de mexer, ela conseguiu fazê-la girar.

O motor em voz alta rugiu para a vida.

— Ha! — Ela triunfante jogou seu telefone de volta em sua bolsa


quando se acomodou no assento do passageiro. — Amador.

Jackson atirou-lhe um sorriso brincalhão quando ele acendeu os


faróis e jogou o carro em marcha. Ele se afastou do meio-fio enquanto
sua mão se aproximava dela, segurando a nuca para lhe dar um beijo.
Era confuso, e imprudente, enquanto ele apressou abaixo na rua, os
olhos fechando de luxúria e não olhando para fora do para-brisa.

Ele arranhou um carro estacionado, mas mal notou na névoa.

— Você é tão quente. — ele disse, terminando o beijo, mas ele não
a soltou. Em vez disso, ele puxou-a ainda mais para ele, empurrando
sua cabeça para baixo em direção a sua virilha.

Uh, O quê?

~9~
Ela saiu de seu aperto, empurrando-o tão forte que o carro foi
para a outra pista. — Que tipo de garota você acha que sou?

— Vamos, baby. — ele gemeu. — Estou tão excitado, preciso de


você.

Ele franziu a testa, os olhos escuros piscando para ela no carro.


Seus cabelos loiros estavam desgrenhados, fios se curvavam em volta
de suas orelhas. Ele era irresistivelmente bonito.

Ou talvez eu esteja apenas insanamente bêbada.

De qualquer maneira, ela cedeu facilmente. Que tipo de garota era


ela? Uma menina com um conjunto fodido de moral. Afinal, eles apenas
roubaram um carro.

Um silvo escapou de sua garganta quando ela caiu sobre ele,


levando seu pênis em sua boca. Seus olhos se fecharam, a escuridão a
cercava, e alguns golpes curtos depois sentiu-o tenso e ofegante, cada
músculo em seu corpo se apoderando.

Já vai gozar?

Ela preparou-se para a imediata explosão, mas em vez disso ele


apertou os freios do carro uma vez que sua mão segurou a parte de trás
de sua cabeça, forçando-a longe. — Porra!

No momento em que seus olhos se abriram, a maldição ecoou em


sua mente. Porra.

Luzes piscando vermelhas e azuis iluminaram o rosto aterrorizado


de Jackson com o barulho de uma sirene cortando a noite quieta. Ele se
atrapalhou com seus shorts, entrou em pânico, e se afastou enquanto
encostava o carro no local livre mais próximo. Jogando-o no parque, ele
pegou o cinto de segurança e freneticamente o colocou no lugar.

Genna não pôde evitar. Ela deu uma gargalhada. Uma violação
por não usar o cinto de segurança era a menor das suas preocupações.
Quem se importava se eles estavam usando um? Jackson lançou-lhe
um olhar que dizia para ela não ser mais apelativa, mas ela pensou que
ele estava ainda mais fofo agora.

Tão ingênuo.

Era por isso que ela gostava dele. Para alguns, ele parecia
ignorante, tolo, até inconsciente, mas Genna apreciava a simplicidade.
Ele a tratava de forma normal, não se importava com o nome dela ou
com sua família, enquanto o resto de Manhattan parecia se espantar
com a simples menção.

Genna relaxou no assento do passageiro enquanto o carro do


NYPD puxava torto para o para-choque, bloqueando-o.

~ 10 ~
Aja com calma, disse a si mesma. Aja como se não tivesse ideia do
que está acontecendo.

Dois policiais se aproximaram um do lado de Jackson e outro do


dela. Jackson baixou as duas janelas, olhando para frente. Ele parecia
que queria vomitar.

Realmente, ela se preocupou que ele fizesse.

Um oficial cuidadosamente acendeu uma lanterna. Genna


protegeu seus olhos, estremecendo, quando ele apontou diretamente
para seu rosto.

— A quem pertence o carro? — perguntou o homem


imediatamente.

Jackson gaguejou, sem dizer nada coerente, enquanto Genna


limpava a garganta. — Pedi emprestado a um amigo, não é verdade,
Jackson? — Gaguejando ainda mais, realmente sem ajudar.

— Um amigo. — repetiu o oficial, afastando a lanterna. Genna se


sentiu aliviada por ter o holofote longe dela até que ele apontou
diretamente para o painel de controle, referindo-se a chave de fenda
saindo da ignição. — Você não poderia simplesmente pegar a chave,
também, quando você pediu emprestado?

Jackson abriu a boca para responder, e foi quando aconteceu. Ele


vomitou.

Bem ali, naquele momento, por todo o volante e seu colo.


Lamentando, Genna desviou o olhar da confusão. Fracassado.

Genna esteve usando as mesmas roupas por quase 48 horas. O


mau cheiro de licor e suor velho se agarravam ao tecido, fazendo-a
enjoar com cada respiração trêmula que tomava. O vestido preto
abraçava suas curvas de ampulheta, revelando mais pele do que cobria.
Ela estava extremamente indecente - extremamente suja - de pé sob as
luzes brilhantes no saguão do Tribunal Penal, em Chinatown,
segurando seus sapatos de salto alto em vez de usá-los.

Ela tinha acabado de ser acusada e prontamente resgatada antes


mesmo de terem a chance de transferi-la para a prisão - embora,
naquele momento, ela estivesse trancada em uma cela suja em algum
lugar.

Provavelmente era o mais seguro.

~ 11 ~
Seus olhos borrados se concentraram em seus dedos vermelhos
polidos e estudaram o piso de linóleo branco brilhante em torno de seus
pés descalços, qualquer coisa para evitar olhar para o homem na sua
frente. Podia sentir seu olhar apunhalando-a como facas afiadas,
penetrando-a no interior, enquanto a vergonha escorria das minúsculas
feridas.

Não ajudou que ela estivesse ressacada. Cada ruído parecia


ampliado em seus ouvidos nebulosos e sua cabeça batia em harmonia
ao som de passos enquanto as pessoas andavam pelo prédio
movimentado. O sinal da máquina de raios-x, o barulho das chaves, o
tagarelar das pessoas... ugh, era demais para suportar.

Faça parar.

— Genevieve.

A forma como ele disse seu nome com tanta calma fez com que
ela involuntariamente vacilasse. Preferia que ele gritasse ou fizesse uma
cena, qualquer coisa. A raiva, pelo menos, significava paixão, mas isso
era indiferença. Este era um homem surpreendido por estar aqui.

Sua voz era mansa quando ela respondeu: — Sim?

— Olhe para mim.

Seus olhos obedientemente se moveram para cima no comando,


encontrando seu olhar severo. Primo Galante, de meados dos anos
quarenta, uma construção robusta e um sotaque do Brooklyn com um
leve toque italiano, passavam por muitos nomes nas ruas de Nova York,
mas ele era apenas uma coisa para ela: Papai.

Ele olhou para ela, erguendo uma sobrancelha só em avaliação.


Ela não disse nada, e nem ele. Depois de um momento lhe fez um gesto
com a cabeça, silenciosamente dizendo para segui-lo enquanto se
afastava.

O carro preto vagava à direita ao longo do meio-fio na frente. Seu


pai deslizou para o banco de trás, e Genna puxou seu vestido, tentando
cobrir mais pele antes de se juntar a ele. Colocando as mãos em seu
colo e olhando para fora da janela enquanto eles passavam por
Manhattan, ao norte da cidade até sua propriedade perto de Harrison,
Nova York.

Ela não o tinha chamado. Ele era a última pessoa que ela teria
chamado. Mas ela não estava nem um pouco surpresa por ele ter sido o
único a aparecer. Seu pai sabia tudo o que acontecia nas ruas, mais do
que a polícia.

Provavelmente porque orquestrava a maior parte delas.

~ 12 ~
Genna saiu correndo do carro, empurrando a porta da frente
aberta e correndo pelas escadas. Ela só fez metade do caminho quando
seu pai entrou e gritou seu nome.

— Genevieve Elisa Galante!

Seus passos pararam. Havia a emoção. Havia a raiva, a paixão.


Ela estava completamente convencida de que estava ele puto. — Sim?

— Junte-se a mim no meu escritório.

Ele não esperou que ela o seguisse, mas ela sabia que deveria. Ele
realmente não lhe deu muita escolha. Suspirando, ela deixou cair seus
sapatos e sua bolsa, jogando tudo na escada, e de má vontade fez a
caminhada de volta para ele.

Seu escritório não era tanto um escritório, e mais uma caverna


humana. Onde uma mesa seria um enorme sofá de couro preto,
flanqueado por cadeiras correspondentes, uma placa na parede atrás
deles com Êxodo 21:24 escrito nela, nada mais. Escrituras da Bíblia.
Genna não tinha certeza de qual era, mas tinha certeza de que não era
deixará sua filha correr selvagemente. Um bar alinhado na parede do
fundo com dezenas de garrafas de bebidas em uma prateleira em torno
dele. Seu estômago agitou ao vê-los.

Ugh, eu nunca mais vou beber.

Primo sentou-se no centro do sofá, esticando os braços ao longo


da parte de trás enquanto relaxava em seu terno cinza. Para um homem
de meia-idade, ele tinha uma certa arrogância sobre ele que ela
geralmente admirava. Geralmente. Ela parou na porta, não querendo
chegar mais perto, esperando que a conversa fosse rápida e indolor,
mas sua expressão não mostrou nenhum sinal de urgência.

Ela sabia que estava em apuros. Ele ia arrastá-la


intencionalmente.

— Grande roubo de carro. — ele disse finalmente, chegando direto


ao ponto.

— Isso é um exagero total.

Seus olhos se estreitaram. — Você roubou um Accord.

— Bem, tecnicamente eu...

— Um Accord, Genevieve. — disse ele, cortando-a. — Não é uma


Ferrari, nem uma Lamborghini, nem mesmo um Mercedes, mas um
Honda Accord.

— Era um bom carro. — Sua voz se tornou defensiva como se


uma explicação realmente fosse melhorar a decisão em seus olhos. —

~ 13 ~
Era feito sob encomenda e tinha uma pintura customizada nova. — O
cara tinha até mesmo um tanque de NO2 instalado.

— É um Honda. — ele disse de novo, sua raiva penetrando em


suas palavras. — Eu não me importo se é personalizado. Você não está
em um teste para Velozes & Furiosos 3.

— Eu acho que eles estão na parte sete agora.

Sua postura mudou quando ele se inclinou para frente, olhando


para ela. — Parece que eu me importo com um filme, Genevieve, você
acha que isso é o que importa para mim?

Ela conhecia essa voz. Ele raramente usava essa voz com ela, mas
o ouviu recorrer a ela muitas vezes para intimidar e aterrorizar outros
ali naquele cômodo. Homens que trabalharam para ele. Homens como
ele. Havia algo sobre o tom gelado que poderia fazer até o homem mais
duro ficar fraco e implorar por misericórdia. — Não senhor.

— Então mantenha-a para si mesma. — disse ele. — Tudo o que


me importa em ouvir é uma maldita boa explicação do por que você teve
que roubar um Honda do caralho!

— Eu não. — ela murmurou. — Na verdade, eu era apenas a


passageira.

— Ser cúmplice não melhora as coisas. — disse ele. — Poderia até


ser pior, todo o castigo e nada da glória. Pelo menos, Jason tinha as
bolas para dirigir a coisa miserável.

— Jackson.

— Como?

Ela limpou a garganta, tentando fazer com que sua voz se


estabilizasse. — Você o chamou de Jason, seu nome é Jackson.

— Eu não dou a mínima para o nome dele. — ele respondeu,


zombando enquanto afastava o pensamento com desdém. — Você não
vai ver aquele garoto Johnson mais.

— O quê? Por quê?

Seus olhos penetraram nela, como se ela automaticamente


soubesse a resposta. — Você tem um gosto terrível, o pior, precisa
encontrar um bom italiano.

Ela estava revirando os olhos antes mesmo que ele terminasse.


Não este argumento novamente. — Mas eu gosto de Jackson.

— Ele é um ladrão de carros!

— Você não pode culpá-lo... não completamente, estávamos


bêbados.

~ 14 ~
— Você tem apenas dezoito anos!

OK. Ele tinha um ponto. — Isso foi um erro.

— Um erro?

— Sim, não é grande coisa.

— Não é grande coisa? Você não percebeu a parte em que eu


disse que você tem dezoito anos, não é como aqueles golpes que você fez
antes, eu livrei você daqueles porque você era apenas uma criança
estúpida, fazendo coisas estúpidas, mas isso não é mais a corte juvenil.
Você é maior de idade agora.

Seu estômago afundou enquanto ela o encarava. Ela não tinha


pensado muito em seu estado bêbada. Ela tinha estado no banco de
trás de carros da polícia algumas vezes desde o seu décimo quarto
aniversário, por tudo, desde beber enquanto menor de idade a
infiltrar-se no vandalismo, mas cada vez que eles a entregaram
diretamente em sua casa para seu pai com um severo aviso dirigido a
ele. Mantenha sua filha sob controle. Desta vez, porém, a tinha levado
diretamente para dentro. Desta vez, eles a haviam prendido.

E isso foi um crime.

— Eu não estava pensando.

Sua expressão se suavizou diante de sua admissão. — Você é


uma adulta agora, você precisa começar a agir como uma, você não
pode sair correndo pelas ruas, ficando bêbada e roubando carros com
esses pequenos capangas. Você nem sequer usou seu cinto de
segurança. O que há de errado com você? Você poderia ter morrido
Genevieve. Você sabe o que aconteceria comigo se você morresse. Você
sabe o que eu faria se eu perdesse você?

A frieza a varreu. Eram perguntas que ela não queria abordar,


mas ela sabia as respostas. As conhecia e as vivia. Todos tiveram.

Primo entrou no caminho de guerra quando perdeu sua família.

— Eu sinto muito.

— Sim, eu sei que você sente. — ele murmurou. — Apenas


mantenha-se fora de problemas, você vai?

— Eu vou. — ela jurou. Tentarei, de qualquer maneira.

— Bom. Agora vá. — Ele a acenou para longe. — Limpe-se e


coloque algo decente. Estou com o estômago doendo por olhar para você
com esse vestido.

— Sim senhor.

~ 15 ~
Aproximando-se, ela se inclinou e beijou sua bochecha áspera
antes de sair correndo do local. Isso não foi tão ruim quanto ela
esperava. Ela subiu as escadas de duas em duas, agarrando suas
coisas descartadas enquanto ia, e seguiu direto para seu quarto, no
final do corredor na parte de trás da casa. Ele era maior que a maioria
dos apartamentos da cidade. Dentro, ela suspirou, examinando a
bagunça que a cumprimentou. Roupas estavam espalhadas por toda a
parte, a maioria delas limpas, de sua birra frenética— eu não tenho
nada para usar— da última vez que ela esteve em casa. Ela pisou sobre
as pilhas descartadas, não tendo nenhuma energia para limpar
qualquer coisa, e caminhou até seu closet. Depois de acender a luz, ela
descartou seus saltos em qualquer lugar na prateleira.

Ela tomou um longo banho quente em seu banheiro adjacente,


mergulhando sob o jato, antes de dar uma volta pelo quarto, com uma
toalha branca macia enrolada em torno dela. Pegando algumas roupas
frescas - calças de ioga e um top de alças - ela quase deixou cair a
toalha para se vestir quando alguém bateu na porta. Encolhendo-se,
com a cabeça ainda palpitante, ela se virou, apertando a toalha
firmemente em si mesma. — O quê?

A porta se abriu, batendo na parede. — Oi Mana.

Ela se encolheu, olhando para o irmão na porta. — Dante.

Dante parecia ser o oposto completo dela à primeira vista. Tudo


sobre ele brilhava, bronzeado e quente, com seu cabelo cor de chocolate
e olhos correspondentes, enquanto Genna sempre parecia fria como
porcelana. Não ajudou nada a sua imagem quando seu pai a tratou
como se ela tivesse sido delicadamente cinzelada em bloco de gelo e
montada em um pedestal, pairando no caso de ela alguma vez começar
a descongelar. Onde Dante era macio, abraçável, ela era afiada, com
seus olhos azuis acinzentados e cabelos escuros, a pele mais pálida do
que qualquer outra pessoa em sua família. Ao crescer, Dante brincava
com ela, dizendo que ela era adotada, que ela não era realmente uma
Galante.

Alguns dias, ela quase desejou que não fosse.

Mas mais profundo, abaixo da superfície, ela e seu irmão eram


muito parecidos.

— Então, passou a noite na prisão, não é? — Dante brincou,


lutando contra um sorriso que puxou o canto de seus lábios. — Como
foi na penitenciária?

Ela revirou os olhos. — Foram apenas algumas horas de prisão, o


que você deveria saber desde que eu o chamei para vir me buscar, por
falar nisso.

~ 16 ~
Dante ergueu as mãos na defensiva enquanto se inclinava
casualmente contra o batente da porta. — Não foi minha culpa, ele viu
o número e queria saber quem estava ligando.

— E você tinha que dizer a ele?

A pergunta era estúpida, porque sim, ele tinha que dizer a ele.
Dante estava sujeito a regras que ela conhecia vagamente, regras das
quais seu pai tentou protegê-la, mas não era estúpida. Qualquer pessoa
com metade de um cérebro e acesso à Internet poderia descobrir tudo o
que queriam saber sobre a vida de seu pai. Na verdade, apenas na
semana anterior, o Discovery Channel emitiu um especial sobre ele.

Por dentro da Máfia.

Era uma maneira fodida de viver, ela pensou, aprendendo tudo


sobre os segredos mais sombrios de sua família em um show de crime
no horário nobre da TV.

— Eu lhe devo uma. — disse Dante, em vez de responder. — Você


precisa de um favor, apenas o nome, e eu estarei lá para você, não
importa o quão ruim você esteja fodida.

Sua resposta a fez sorrir, embora aquelas palavras fossem


desnecessárias. Família significava tudo para Dante, e Genna sabia,
sempre que ela precisasse dele, ele estaria lá sem perguntas. Talvez não
gostasse de suas decisões, mas ao contrário de seu pai, Dante nunca a
julgou.

— Então você veio até aqui para pegar no meu pé? — ela
perguntou. — Porque se você já acabou, eu gostaria de me vestir.

— Não, papai me enviou aqui para pegar o que você estava


vestindo quando ele te tirou da prisão. — Genna franziu a sobrancelha
enquanto olhava ao redor, observando o vestido preto jogado no chão.
Percebendo onde estava sua atenção, Dante o agarrou, segurando-o
longe dele enquanto o pendurava em seus dedos. — É este?

— Sim.

— Obrigado.

Ele se virou para sair quando ela pegou seu braço, parando-o. —
Espere, o que você está fazendo com meu vestido?

— Queimando.

Ela ficou boquiaberta, com os olhos arregalados. — Queimando,


por quê?

— Então você nunca poderá usá-lo novamente.

— Porque é algum símbolo de má sorte agora ou algo assim? —


Ela adorava aquele vestido. Claro, precisava de uma boa imersão para
~ 17 ~
tirar o cheiro fedorento dele, mas era praticamente novo. — É porque eu
fui presa? Porque isso não é culpa do vestido.

— Não, é porque você parece uma prostituta barata.

— Eu não pareço.

Dante encolheu os ombros. — O velho pensa assim, e é o que ele


disse.

Ela olhou furiosa para seu irmão enquanto ele andava pelo
corredor, arrastando o vestido no chão atrás dele. Depois que ele se foi,
ela bateu a porta e caminhou até sua cama, se jogando nela e fechando
os olhos.

Para o inferno com o vestido.

Jantar sempre foi a única vez em que os Galantes se juntavam


como uma família. Durante uma hora por dia, sete dias por semana,
todo o resto era posto de lado quando se encontravam na sala de jantar,
desfrutando de uma elaborada refeição preparada pela equipe. Primo
não poupava nenhuma despesa em casa, mantendo empregadas de
confiança e cozinheiros em sua folha de pagamento.

Nada era bom demais para sua família, ele dizia.

Raramente alguns deles saíram do jantar, sempre fazendo seu


caminho para se certificar de que estivessem em casa às oito horas para
comer. Embora nunca tenha sido obrigatório, por si só, era mais como
um entendimento, uma questão de respeito.

Mas, dormindo com a ressaca persistente, Genna quase se


atrasou.

Algo assustou a sua soneca, a escuridão passando por seu quarto


enquanto o sol se afastava. Grogue, ela piscou algumas vezes, seus
olhos se dirigindo para o despertador do outro lado do quarto.

8:12 PM

— Merda! — Ela pôs-se de pé, balançando um pouco enquanto a


sua visão ficou nebulosa do movimento súbito. Descartando a toalha,
ela rapidamente pegou suas roupas - enrugadas por ela ter dormido
sobre elas - e passou os dedos pelos cabelos longos e ondulados,
tirando-os de seu rosto enquanto se apressava. Ela estava respirando
pesadamente quando ela desceu as escadas, entrando na sala de jantar
exatamente 15 minutos depois. Sua cabeça ainda latejava, batia ao
ritmo de seu coração, enquanto seu olhar procurava o de seu pai. Primo
~ 18 ~
sentou-se em sua cadeira habitual, na cabeceira da mesa, os olhos fixos
na porta, sua comida completamente intocada enquanto esperava que
ela aparecesse.

— Desculpe. — ela murmurou, deslizando em seu assento duas


cadeiras ao lado de seu pai, diretamente em frente a Dante. Alívio
brilhava nos olhos de seu irmão enquanto a olhava. — Eu adormeci, e
bem, você sabe... aqui estou eu.

— Aqui está você. — concordou seu pai enquanto ele estendeu


as mãos para Dante e ela. Eles os levaram, curvando suas cabeças
enquanto ele silenciosamente fazia as preces. Depois, os rapazes
atacavam sua comida, enquanto Genna simplesmente deslocava a dela
em seu prato.

Ela ainda se sentia muito enjoada para comer.

Eles conversaram sobre esportes, seu irmão falando dos


Yankees, enquanto a mente de Genna vagava. Ela pensou em Jackson,
perguntando como ele estava após sua prisão. Ele também foi liberado?
Ele tinha alguém para ligar para libertá-lo? Seu pai lhe disse para não
vê-lo mais, mas bem, ela nunca foi muito boa em ouvir.

E mesmo sóbria, ela ainda achava que o cara era muito fofo.

— Genevieve?

Os olhos dela dispararam para seu pai quando ele chamou seu
nome. — Sim?

— Onde está sua cabeça? — ele perguntou. — Estou tentando


falar com você nos últimos minutos.

— Eu, uh... nada. Desculpe, eu estou ouvindo.

— Eu estava perguntando sobre Umberto Ricci.

Ela franziu suas sobrancelhas. Por que ele está me perguntando


sobre o amigo de Dante? — O que tem ele?

—Você e ele devem ficar juntos. Você sabe, sair em algum


momento.

Ela fez uma careta. — Sério papai?

— Sim, o que há de errado com ele? Ele é um bom rapaz italiano.


Vocês dois fariam uma boa família juntos.

— Ele é Umberto, tem 1,20 de altura. — Sem mencionar o fato de


que ele nunca poderia levar uma conversa. Falar com ele era doloroso.
— Além disso, ele não saiu da prisão pela segunda vez?

— Sim, então?

~ 19 ~
— Jackson rouba um carro e ele é o soldado de Satanás. Umberto
ganha a vida quebrando a lei e você praticamente tenta me casar com
ele!

Primo zombou e desviou o olhar, olhando de volta para o jantar.


Ele não respondeu, mas realmente não precisava. Genna sabia o por
quê.

Umberto Ricci trabalhava para ele.

— Tanto faz. — ela murmurou, tirando mais comida de seu prato.


— Eu não estou interessada em formar uma família com Umberto, mas
obrigada, de qualquer maneira.

Antes que seu pai pudesse repreendê-la por seu tom brusco, o
toque de um celular quebrou o silêncio. Jantares eram sem
interrupções, todos os telefones desligados e guardados, exceto um. Um
que seu pai carregava consigo em todos os lugares - um que todos
sabiam que era reservado apenas para emergências. Genna nunca
tinha discado esse número antes e esperava nunca ter que fazê-lo.

Todos ficaram tensos, observando enquanto Primo agarrava o


telefone e respondia rapidamente com um simples comando: — Fale. —
A chamada durou menos de trinta segundos. Seu pai desligou sem dizer
outra palavra. Suspirando, Primo empurrou a cadeira para trás,
jogando o guardanapo para baixo, enquanto olhava entre Genna e seu
irmão. — Barsanti.

Nenhuma elaboração. Nenhuma explicação. Era desnecessário, de


qualquer maneira. O jantar acabou vinte minutos mais cedo. Primo
marchou da sala, como um homem em uma missão, enquanto a
palavra permanecia em torno deles em seu rastro, como uma nuvem
pesada e sinistra de vapores nocivos, o inferno curvado em envenenar
seja quem for.

Barsanti.

Porra. Merda. Maldição. Puta. Desgraçado. Nenhuma dessas


palavras tinha uma fração da ofensa de proferir a maldição Barsanti em
torno da casa Galante. Se a mãe de Genna estivesse lá, o mero som
teria a levado a orações enquanto ela loucamente fazia o sinal da cruz,
indignada por ter a blasfema palavra pronunciada em sua mesa de
jantar.

Nesse pensamento, Genna cuidadosamente colocou o garfo para


baixo, desistindo da fachada de estar interessada em comer mais uma
vez, enquanto seu olhar se dirigia para a cadeira vazia ao lado dela.
Tinha estado vazia por pouco mais de quatro anos, mas cada noite, sem
falhas, um prato e talheres foram colocados nela como se alguém
pudesse realmente se sentar lá novamente algum dia.

~ 20 ~
A cadeira em frente a ela, também, permaneceu desabitada,
também preparada para o jantar, nunca mais para ser usada. Aquela
estava desocupada por tanto tempo que Genna nem se lembrava. Tinha
apenas dois anos na época, muito jovem para recordar o que
acontecera.

Mas Dante tinha cinco anos. Foi sua primeira lembrança... uma
que ela sabia que nunca esqueceria. Ele carregava as cicatrizes com ele,
mental e fisicamente, a pele em seu peito grossa e distorcida de
queimaduras extensas de terceiro grau, sua percepção para sempre
contaminada.

— Eu deveria ir. — disse Dante calmamente, levantando-se. —


Papai pode precisar de mim.

Genna assentiu com a cabeça, mas de outra forma ignorou-o


quando saiu. Ela sempre se perguntou o que ele pensava nesses
momentos, se ele estava revivendo aquele dia - o seu fatal encontro com
os Barsantis.

Nenhuma surpresa, Nova York era um ponto quente para o crime


organizado. Cinco famílias compartilhavam a participação no mundo
subterrâneo ilícito, embora duas mantivessem a maioria do poder em
torno de Manhattan: Galantes e Barsantis. Eles trabalharam
amigavelmente por muitos anos, compartilhando o controle igualmente,
até que um dia a paz se quebrou, explodindo em uma chama ardente.

Literalmente.

Desde então, a rivalidade viciosa se inflamou, uma guerra entre


as famílias, a hostilidade era tão grande que a mera menção de sua
existência fazia Genna doente de ansiedade, e ela estava tão distante do
estilo de vida como Galante poderia possivelmente obter. Mas, para ela,
aquelas pessoas eram monstros. Seu pai lhe ensinara desde que era
apenas uma menininha, avisando-a, protegendo-a, para que ela
soubesse ficar longe.

— Um bom Barsanti é um Barsanti morto. — disse ele. — Você vê


um, você corre para o outro lado.

Quando seu pai e seu irmão saíram, Genna subiu as escadas


para arrumar o cabelo e se maquiar antes de sair para a noite. Não
havia nenhuma maneira que ela iria ficar pela casa sozinha, com nada
a fazer, apenas se preocupar com o que sua família estava fazendo. Ela
dirigiu direto para o Harlem, estacionando em frente à casa onde
Jackson vivia. Depois de trancar a BMW preta, ela bateu na porta da
frente, esperando que sua irmã respondesse, ou talvez um de seus pais,
mas ficou surpresa quando ninguém menos que o próprio Jackson
abriu a porta para ela.

~ 21 ~
— Ei! — Ela correu diretamente para ele, envolvendo seus braços
ao redor dele em um abraço apertado que parecia assustá-lo mais do
que qualquer coisa.

Ele enrijeceu, acariciando-lhe ligeiramente as costas. — Oh, hey,


Genna.

— Você está fora! Eu pensei que você iria me chamar quando


alguém libertasse você.

— Sim, bem... — Ele esfregou nervosamente o pescoço, franzindo


a testa. — Não achei que fosse uma boa ideia.

— Por quê? — Não tinha sido inteiramente culpa dela eles serem
presos. Claro, ela ligou o carro, tecnicamente, mas tinha sido sua ideia
levá-la para uma volta. — O que está errado?

— Seu pai não acha que devemos nos ver mais.

Sua expressão caiu quando ele disse isso. Não, não.

— Olha, eu acho que ele está certo.

— Ele o ameaçou? — ela perguntou. Isso seria tão parecido com o


pai dela. Não seria o primeiro cara que ele tinha assustado para não
namorar com ela. Na verdade, ele parecia assustar todo mundo. Ela não
conseguia sequer manter amigos por causa dele monitorando sua vida e
constantemente intervindo, enviando seus servos para onde quer que
estivesse para ficar de olho.

— Não, ele não me ameaçou, não é nada disso.

— Ele me disse — ele disse timidamente. — quando ele me


libertou esta tarde.

— Então é isso. — Lágrimas de raiva queimaram os olhos de


Genna, mas ela não sentiu tristeza. Não, isso parecia uma traição. —
Ele te pagou.

— Eu sinto muito, Genna. — disse ele. — Realmente, eu sinto, eu


não queria te machucar.

— Você não o fez. — ela disse, afastando-se dele enquanto tentava


ignorar a dor que lhe incomodava o peito sugerindo o contrário. Cara,
doeu. Doeu como um filho da puta. — Estou apenas decepcionada,
Jackson.

Ele tentou se desculpar um pouco mais, chamando seu nome,


mas ela já estava fora dos degraus e se dirigindo para seu carro. Ela
pensou que ele não se importava com quem era seu pai, que ele não
ficaria intimidado pelo nome... pela reputação.

Mas no fim, ela estava errada sobre ele.

~ 22 ~
Capitulo Dois
O que tinha começado como um dia em que tudo estava dando
errado, graças a um despertador com mau funcionamento e ao tempo
tardio de primavera, rapidamente saiu do controle e transformou-se em
uma das piores manhãs da vida de Genna. Quando ela chegou ao
prédio da corte criminal em Chinatown para sua audiência, ela estava
encharcada de uma tempestade súbita e com dez minutos de atraso.

Ela correu pelo corredor, seu novo Jimmy Choos preto causando
bolhas em seus pés, e espremeu-se no primeiro elevador que ela
encontrou, derrapando completamente a tempo, antes de fechar as
portas.

Ela estava de costas para um homem mais velho com macacões,


sentindo o cheiro de fumaça de cigarro e suor que o rodeava. Ela
prendeu a respiração para não inalar o fedor, mas podia sentir cada
respiração dele contra a parte de trás de seu pescoço enquanto ele
ofegava. Ela tentou se afastar, tentou conseguir algum espaço entre
eles, mas cada vez que ela se movia, ele parecia se mover com ela,
pressionando-se nela, roçando a curva de seu traseiro e movendo sua
saia curta mais para cima.

Pior viagem de elevador da vida.

O homem saiu no décimo andar, olhando para trás e dando-lhe


uma piscadela divertida. Ela estremeceu quando as portas se fecharam
novamente. Ugh, eca.

O elevador pareceu parar em todos os andares no caminho para


cima, de modo que pelo tempo que ela subiu para o vigésimo terceiro
andar, ela estava, na verdade, quinze minutos atrasada para sua
audiência. Ela correu para a sala de audiências, empurrando a porta
aberta com tanta força que interrompeu o juiz no meio dos
procedimentos. Todos os olhos se voltaram para ela quando o silêncio
constrangedor penetrou a sala. Oops.

— Desculpe-me. — ela murmurou para ninguém em particular


enquanto o juiz voltou seu foco de volta para o caso em mãos. Seus
olhos percorreram a sala do tribunal, procurando o advogado que seu
pai havia contratado, e encontrou-o de pé à frente... com Jackson.
Maravilha.

Jackson parecia desconfortável, vestido em um terno preto muito


grande que não fazia jus ao seu físico; seu cabelo foi cortado
ordenadamente, não o chumaço desgrenhado que costumava ser. Ela

~ 23 ~
estava tão fixada em como ele parecia que quase perdeu as palavras do
juiz.

— Este caso está encerrado na contemplação de demissão. Estou


definindo uma data da corte por seis meses a partir de agora. Se você
puder ficar longe de problemas até então, todos os encargos serão
descartados.

O juiz bateu com o martelo, uma pequena onda de murmúrios


fluindo pelo tribunal enquanto Jackson sorria, seus ombros cedendo de
alívio. Ele se virou para sair, passando do lado de Genna, tão perto que
seus braços se encostaram, mas ele nem sequer olhou para ela.

A coisa toda cheirava a Primo.

— Próxima pauta é O povo contra Genevieve Galante.

Suspirando, Genna desviou o olhar da porta, onde Jackson tinha


desaparecido de sua vista e se aproximou do advogado ainda presente
na frente do tribunal. Ele sorriu polidamente para ela enquanto se
movia através de suas pilhas de papéis, colocando as de Jackson no
fundo e movendo as suas para o topo. — Isso deve ser rápido. O juiz só
precisa assinar o acordo de confissão que fizemos.

— Por que Jackson consegue liberdade e eu tenho que me


declarar culpada?

— Isso é apenas a maneira como foi resolvido. — Ele respondeu, a


voz casual, mas Genna pegou o significado oculto nas palavras. Essa é
a maneira Primo Galante de resolver as coisas. Independentemente de
seu pai querer admitir a ela ou não, ela sabia que metade das pessoas
na sala do tribunal estavam no seu bolso de uma forma ou de outra, se
eles lhe deviam favores ou ele os pagou generosamente. De que outra
forma o homem, criminoso de carreira, conseguiu ficar fora da cadeia
todos esses anos?

— Senhorita Galante. — Começou o juiz, olhando-a através de um


par de grossos óculos de armação de arame. — O acordo feito entre o
Conselho e o promotor para a menor taxa de utilização não autorizada
de um veículo a motor de terceiro grau, uma contravenção, foi
aprovada. Esse tribunal sentencia-a a 120 horas de serviço comunitário
e uma multa de U$ 1000. Sua licença de motorista também está
suspensa até o cumprimento da sentença.

O estrondo do martelo ecoou pela sala antes que rapidamente


chamassem o próximo caso. O advogado de Genna fez um gesto para
que ela saísse, mas ela ficou parada ali, boquiaberta para o juiz.

— Há algum problema, senhorita Galante? — perguntou o juiz,


olhando-a curiosamente quando ela se recusou a se mover.

~ 24 ~
Ela abriu a boca para discutir, apontar quão dura a sentença foi,
mas o advogado a interrompeu e falou em seu lugar. — Não há
problema meritíssimo. Minha cliente agradece a clemência do tribunal
hoje.

Pisando na frente dela, ele fisicamente a levou para longe da mesa


do réu e através do tribunal antes que ela pudesse realmente protestar.
Ela afastou-se dele uma vez que chegaram ao corredor, levantando suas
mãos em descrença. — Você chama isso de clemência?

— Poderia ter sido pior. — disse o advogado. — Você poderia ter


ido para a prisão pelo crime.

Ela olhou enquanto ele casualmente se afastava. — Poderia ter


sido melhor. Eu poderia ter me livrado dele como Jackson fez!

Frustrada, ela saiu pelo corredor, sem pressa, agora que tudo
estava acabado. Estava dentro e fora em questão de minutos.
Aproximou-se dos elevadores, gemendo quando viu uma pequena
multidão enchendo um deles. Ela fez uma pausa lá, decidindo esperar,
e pressionando o botão para baixo assim que aquele tinha ido embora.

Em questão de segundos, um segundo elevador soou atrás dela.


Genna virou-se para ele, no momento em que as portas se abriram,
aliviada ao ver o amplo espaço aberto, as luzes fortes iluminando o chão
brilhante. Ela começou a caminhar na direção do elevador, seus passos
brevemente vacilantes quando ela avistou um cara solitário esperando
no canto.

Puta merda.

Eles estavam olho à olho em saltos de seis polegadas, mas ele não
estava olhando para ela em tudo. Sua atenção estava fixada unicamente
em um Blackblerry com ele digitando no teclado minúsculo. Ele estava
relaxado, encostado casualmente contra a grade, pernas cruzadas nos
tornozelos, seus tênis tão novos, mesmo o solado de um branco
imaculado. Sua expressão séria parecia ser gravada a partir da pedra
mais suave, seu queixo acentuado coberto de uma camada de pelo, mas
sua pele parecia tão, tão suave, como o cetim liso. Um brilho quente de
bronzeado envolveu-o sob as luzes. Ele usava um par de jeans de grife e
uma camisa de botões com mangas compridas, um suéter de malha de
cor creme. Seus cabelos escuros estavam perfeitamente arrumados ou
então sem esforço intocados, e longos o suficiente apenas para causar
um efeito bagunçado. As pontas de seus dedos formigavam com o
desejo de o acariciar.

Esse cara... não, este Deus... tinha sido tirado diretamente das
páginas da GQ e transplantado aqui mesmo nesse elevador.

Obrigado, Jesus, José, e Maria.

~ 25 ~
O elevador começando a fechar na sua frente finalmente
estimulou-a à ação. Genna disparou para frente tão rapidamente que
capturou sua atenção. Sem mudar sua postura, seus olhos se
deslocaram do telefone para ela, capturando seu olhar quando ela
parou na frente dele. Um transe caiu sobre ela enquanto olhava em
seus olhos, manchas douradas ao redor da íris que se desvaneceram
como chamas no azul mais brilhante, como uma pintura abstrata de
Picasso ganhando vida. Um anel sombrio os cercava, enquadrando a cor
vibrante na escuridão.

Nunca em sua vida tinha visto olhos como os dele.

O elevador se fechou atrás dela enquanto olhava para ele, sem


palavras. É rude olhar fixamente. Mesmo uma criança sabia disso. Mas
não podia desviar o olhar.

Ele olhou para trás com ousadia, arqueando uma única


sobrancelha para ela, uma leve sugestão de diversão quebrando sua
expressão pétrea. A visão dele, a onda sutil de seus lábios em um
sorriso, fez seu estômago vibrar furiosamente.

Este dia ficou muito melhor.

Eles começaram a se mover quando Genna engoliu em seco,


tentando entender o que ela diria, tentando pensar em algo a dizer para
quebrar o gelo. Seus lábios se separaram, uma respiração instável
deixando sob a forma de meia palavra, quando o elevador violentamente
estremeceu, alarmando-a de volta ao silêncio. As luzes piscaram, antes
de abruptamente começarem a descer. Seu coração estava em sua
garganta, martelando duramente, o movimento quase batendo ela fora
de seus pés. Ela vacilou em seus calcanhares, mas uma mão forte
agarrou-a, estabilizando-a o suficiente para que ela pudesse agarrar o
corrimão.

Os pavimentos voaram em um piscar de olhos antes de um


estrondo lancinante ecoar em torno deles. Eles pararam subitamente,
sacudindo-a novamente, o movimento fazendo sua visão borrar e ela
engasgar. — Que diabos foi isso?

— Freios de emergência. — Sua voz suave não continha um tom


de ansiedade. Seu sotaque era moderado, mal dava para ela perceber.
Nova York, sim, como ela própria, mas manteve um ligeiro toque de
outro lugar. Nova Jersey?

— Nós apenas...? — Ela balançou a cabeça, cansada. — Nós


estamos...?

— Presos? — Ele passou por ela, o cheiro de sua colônia —


sutilmente doce e totalmente sensual — infiltrando seus sentidos. —
Sim, eu diria que sim.

~ 26 ~
Ele apertou o botão de chamada no painel. Quando nada
aconteceu, ele repetidamente empurrou o botão de alarme vermelho.
Genna podia ouvir o alarme disparar, a sirene ecoando através do
elevador. Depois de um momento, ele parou, passando as mãos pelas
portas e agarrando-as no centro, fazendo-as abrir apenas uma
rachadura para olhar para fora, mas não havia nada para ser visto.

Eles estavam presos entre os andares.

— Perfeito. — Ela murmurou, estendendo a mão em sua bolsa


para o telefone. Ela puxou-o para fora, segurando-o, o sinal entre uma
barra miserável e sem serviço.

Olá de novo, dia ruim. Devia ter sabido que você não tinha acabado
de me foder ainda.

Ela continuou lutando para conseguir o sinal de serviço,


segurando o telefone tão alto quanto pudesse alcançar, quando o cara
retomou seu lugar no canto e tirou seu Blackberry. Ela o observou,
incrédula, enquanto ele começava a digitá-lo, tão casual quanto antes.
Ele virou os olhos para ela quando terminou, colocando o telefone de
volta no bolso da calça. — Você está desperdiçando seu tempo. Você
nunca vai conseguir um sinal forte o suficiente para fazer uma
chamada daqui.

— Então, o que, eu não deveria sequer tentar?

Ele deu de ombros. — Eu não faria isso.

— Estamos presos em um elevador. — disse ela, ressaltando o


fato de que eles estavam presos. — Talvez você esteja bem com isso, eu
não sei. Mas isso tem uma música ruim do R. Kelly, se você me
perguntar.

Antes que o sujeito pudesse responder, seu telefone ecoou. Ele


puxou o suficiente para olhar para a tela. — Como eu disse — sem sinal
o suficiente para fazer uma chamada, mas apenas o suficiente para
enviar uma mensagem.

— Você conseguiu alguém para ajudar?

— Sim.

Ela olhou para ele, chocada, quando ele se sentou no chão sujo,
as costas presas no canto. Como ele poderia permanecer tão calmo?

— Você pode querer ficar confortável. — disse ele. — Conhecendo


esta cidade, provavelmente vai levar um bom tempo antes de chegarem
à nós.

Genna teimosamente ficou ali por alguns minutos, seus pés


começando a doer nos saltos altos, agravando suas bolhas cada vez que
ela mudava de posição. Suspirando, resignada, ela finalmente chutou

~ 27 ~
os fora, deixando-os no meio do elevador. Ela sentou-se contra a parede
oposta à dele, puxando a saia e cruzando as pernas para manter-se
coberta, mas ela tinha certeza que ela mostrou-lhe seus bens no
acidente. Droga de saia curta.

— Ótimo. — ela murmurou. — Eu não posso nem ter uma pausa.

— Dia ruim?

— O pior.

— Ah, duvido disso. — disse ele. — Pode sempre ficar pior do que
está.

Rolando os olhos, ela olhou para suas mãos e encarou seu


esmalte para se distrair. Era apenas dois deles, mas havia muito pouca
ventilação no elevador. Ela já podia sentir o ar aquecendo. — Você está
parecendo meu advogado.

— Seu advogado, hein? Você estava aqui para um caso?

— Sim.

— O que você fez?

Ela hesitou, considerando mentir, mas pensou melhor. Por que


ela se importaria com o que ele pensava? Ela não conhecia o cara. —
Roubei um carro.

— Você? — perguntou incrédulo. — Uma ladra de carros?

Ela olhou para ele. — Tecnicamente, meu namorado fez isso... ou


melhor, meu ex-namorado, de qualquer maneira. Ele saiu com apenas
um tapa no pulso, enquanto eu tenho serviço comunitário suficiente
para uma vida.

— Isso não parece muito justo.

— Não é. — disse ela. — Mas de qualquer maneira, isso é apenas


a minha sorte de hoje. Atrasada para o tribunal, fodida pelo
Departamento de Justiça, e, em seguida, o elevador tenta me matar.
Estou esperando que esse dia termine com alguém me empurrando na
frente de um trem, que eu provavelmente terei que pegar agora, desde
que o juiz revogou minha licença por boa medida.

— Uau. — ele pareceu surpreso. — Você não estava exagerando.

— Eu te disse, o pior dia de sempre.

— Eu iria oferecer-lhe apoio moral, mas bem... — ele riu para si


mesmo. — Minha moral é questionável na melhor das hipóteses, então
que tal se eu comprar uma bebida quando sairmos daqui?

~ 28 ~
Suas palavras a fizeram sorrir. — Isso é bom, mas não tenho
idade suficiente para beber.

Ele hesitou. — Quantos anos você tem?

— Dezoito.

— Ah, isso não é ruim, você é uma adulta, além disso, eu disse
que eu tinha moral duvidosa, não é?

— Verdade. — Ela sentiu o rubor em suas bochechas enquanto


olhava para ele, vendo a sinceridade em sua expressão. — Quantos
anos você tem?

— O suficiente para comprar aquela bebida, se você quiser.

— Ok, uh... — Ela fez uma pausa. — Eu nem sei seu nome.

— É Matt.

— Matt, como abreviação para Matthew?

— Abreviação de alguma coisa, sim.

— Bem, prazer em conhecê-lo. Você pode me chamar de Genna...


Genna com G e não J. É abreviação para algo, também, você poderia
dizer.

— Genna.

O som de seu nome em seus lábios enviou um frio abaixo de sua


espinha. Ela deveria estar perturbada, presa em um lugar tão confinado
com um estranho virtual, um cujos olhos pareciam penetrar através
dela com uma intensidade assustadora, mas ela estranhamente se
sentia à vontade. Ela gostava da maneira como ele a olhava, do jeito que
ele a olhava, como se ele realmente a visse.

As pessoas não olhavam para ela desse jeito.

As pessoas sempre olhavam para ela e viam seu sobrenome.

— Então, Matt...

— Me chame de Matty. — disse ele. — É assim que meus amigos


me chamam.

— Matty. — ela repetiu. — O que o traz ao tribunal criminal?

Querido Deus, não deixe que esta criatura impressionante tenha


algo haver com algum tipo de coisa pervertida. Eu não posso sair com um
pervertido. Ok, talvez eu possa. Depende de como assustador seja. Ugh,
por favor, que não seja assustador.

— Sequestro. — disse ele. — Encontraram uma moça amarrada


no meu caminhão.

~ 29 ~
Seus olhos se arregalaram. Ok, isso não foi assustador. Isso era
uma loucura.

Sua expressão mudou antes que ela pudesse responder. Ele


soltou uma gargalhada. — Estou brincando, meu irmão está sendo
julgado.

— Seu irmão sequestrou uma menina?

— Não. — Fez uma pausa. — Bem...

Ela ofegou, provocando outra risada dele.

— Eu estou brincando com você. Ele apenas entrou em uma


pequena briga. Nada grande, apenas uma briga no bairro do estrondo.

Se ela tivesse algo a seu alcance para atirar, ela já teria lançado
diretamente em sua cabeça. — Isso não é engraçado!

— Sim, você está certa, não é. — ele concordou. — Para que fique
registrado, no entanto, eu só amarro meninas quando elas me pedem.

Sua voz se aventurou em brincalhão, mas havia uma nota séria


para suas palavras que fez sua pele mais brilhante. Não assustador,
mas talvez um pouco estranho.

Agora com um louco eu posso ter um encontro.

Olhando para longe dele, ela mordeu o lábio inferior, tentando se


recompor. Ela podia sentir o suor começar a se formar ao longo de sua
testa. Estava ficando quente.

Suspirando, Matty tirou seu suéter, jogando-o no chão do


elevador perto de seus sapatos descartados. Genna olhou para ele de
novo enquanto empurrava as mangas de sua camisa até os cotovelos. A
cor vibrante brilhava de sua pele como uma janela de vitral tecida em
gravuras negras em seus grossos antebraços. Tatuagens. Seus braços
estavam cobertos de tatuagens. Genna soltou um suspiro involuntário
trêmulo, olhando para elas, cativada pelos desenhos intrincados.

Huh, então o Deus tem um pouco de Diabo nele...

— Então me fale sobre você, Genna.

Ela a contragosto tirou o olhar de seus braços, encontrando seus


olhos novamente.

— Uh, não há muito a dizer, eu já derramei minhas entranhas


para você.

— Você me contou sobre o seu dia ruim. Conte-me sobre seus


dias bons.

— Meus dias bons?

~ 30 ~
— Sim.

— Bem... Eu acho que eu roubei carros em meus dias bons.

Ele riu, sentando-se enquanto ela esticava as pernas. — Você já


roubou muitos carros?

— Apenas um. Acho que eu realmente não tenho muitos dias


bons. Eles não são de todo ruim, eles são apenas... dias. Isso
provavelmente soa estúpido.

— Não, eu compreendo. Às vezes você apenas faz o que você tem


que fazer para passar por eles.

— Exatamente. — Lindo e compreensivo? Impossível. — E a


minha família, bem... vamos apenas dizer que meu pai não torna isso
fácil às vezes. Ele tem todas essas regras e espera que a vida deve ser
vivida em seus padrões, e eu não estou muito bem em seguir ordens.

Ela estava divagando. Ugh, por que estou divagando? Ela mal
conhecia esse cara, mas ela estava derramando sua alma como uma
prostituta agonizante no confessionário.

— Minha família é da mesma forma. — disse ele. — Eu gosto de


pensar que há sempre um lado positivo para tudo, no entanto.

— Nem sempre.

— Sim, sempre. — ele respondeu.

— Mesmo nos piores dias, você consegue algo fora disso, como
hoje. Você conseguiu algo fora de hoje.

— O quê?

— Eu não sei, um registro criminal?

Ela estreitou os olhos para ele. — Engraçado.

— Isso acontece com os melhores. — disse ele brincando. —


Estou apenas dizendo, às vezes as coisas boas vêm de coisas ruins.
Estou preso em um elevador, mas eu tenho uma linda garota aqui
comigo, então eu estou focado na garota e não no fato de que eu estou
preso em um pequeno elevador. Porque tenha certeza, se você não
estivesse aqui, eu teria escalado pelo alçapão no teto agora.

Genna arregalou os olhos até o teto. Alçapão? — Podemos fazer


isso?

— Com o dia que você está tendo? Não.

Ela olhou para ele através do elevador, vendo a diversão em sua


expressão. Ele estava gostando de provocá-la. — Ok, sua vez, então,
fale-me sobre você Matty.

~ 31 ~
— Não há muito sobre mim. — ele encolheu os ombros. —
Recentemente me formei com um diploma em comunicação.

— E o que se faz com um diploma em comunicação?

— Eu não sei. — ele riu para si mesmo, um tom amargo ao som.


— Isso realmente não importa. Eu estudei analises de negócios, no
entanto. Eu me mudei de volta para casa no mês passado para ajudar a
minha família, de modo que essa parte foi um pouco mais conveniente
em relação ao trabalho.

— Sim?

— Sim. É apenas temporário, apesar de tudo. Minha mãe está


doente no momento. Eu não queria perder... bem, você sabe. Eu queria
estar perto dela.

— Eu entendo. — Ela disse calmamente. Isso era algo que Genna


entendia bem. Ela sentiu a picada da memória da sua própria mãe
causando constrição no seu peito. — Então você é próximo de sua
família?

— Sou italiano. — disse ele. — Esse é o nome do jogo.

Ela olhou para ele, um pequeno sorriso rastejando em seus


lábios. Um menino italiano bonito que entende lealdade familiar? Esse
cara era o prêmio genético. Seu pai iria amá-lo.

Uma hora se passou com eles presos no elevador sufocante antes


de finalmente ouvirem quaisquer tentativas de resgate. Até então, os
dois estavam, no chão, na diagonal atravessando o elevador, ela deitada
de costas, enquanto ele estava deitado ao seu lado, o cotovelo apoiado
enquanto olhava para ela. Era desconfortável, mas reconfortante.
Desconcertante, mas não alarmante. Ela podia sentir seus olhos nela,
examinando-a atentamente, vendo-a diretamente como tinha feito pela
primeira vez que se encararam. Ela tagarelava sem parar, distraindo-se,
falando de tudo, mas de nada.

Levou mais alguns minutos para a ajuda encontrar uma maneira


de entrar. Nesse ponto, Genna estava encharcada de suor, suas roupas
enroladas até os níveis indecentes, perigosamente perto de dizer para o
inferno com isso e apenas fazer um strip ali mesmo, em seguida, ficar
andando apenas de lingerie.

Matty ficou de pé uma vez que o corpo de bombeiros destrancou o


alçapão no teto, mas ela apenas ficou lá, olhando para as luzes acima
dela. O ar era nebuloso, cada respiração queimava seus pulmões. Ela
teria matado por um pouco de água... talvez literalmente.

— Vamos lá. — disse Matty, estendendo a mão para ela quando


um bombeiro começou a mandar uma escada de cima. Ela pegou sua
mão, sentindo sua pele quente contra a dela enquanto ele a ajudava a

~ 32 ~
se levantar. Ela tentou se recompor rapidamente, puxando as roupas e
arrumando o cabelo antes de pegar os sapatos. Matty agarrou seu
suéter, usando-o para limpar o suor escorrendo de sua testa. Seu rosto
brilhava sob as luzes.

Como diabos ele fez suar ser tão sexy?

Eles tiveram que subir o eixo do elevador e atravessar uma escada


para outro elevador. Eles caíram em um que seguia em linha reta até o
primeiro andar. Genna soltou um suspiro de alívio quando aquelas
portas se abriram, uma onda de ar fresco chegando até ela. Ela saiu,
evitando a multidão reunida curiosa de espectadores quando ela
acertou a fonte de água mais próxima, antes de ir direto para a porta da
frente. Assim que ela saiu para a triste tarde, Matty se juntou a ela.

— Então, que tal a bebida, o que você diz?

Ela olhou para si mesma, fazendo uma careta. Se ela pensou que
estava tendo um dia ruim naquela manhã, ela não podia sequer
imaginar como se parecia agora. Ela queria ir para casa, tirar as roupas
sujas e cair direto em sua confortável cama, para nunca mais retornar.
Mas havia outra parte dela, cativada e curiosa sobre esse cara, que não
podia suportar a ideia de já seguir para longe dele. Se o fizesse, as
chances eram de que ela nunca mais o veria.

Ele olhou para ela, esperando sua resposta.

Foda-se. — Vamos.

Sorrindo, ele puxou um conjunto de chaves de seu bolso e


começou a andar. Depois de calçar seus sapatos, Genna seguiu-o,
ignorando a dor queimando quando eles esfregaram contra suas bolhas.
Ele virou a esquina, indo para um estacionamento próximo, enquanto
apertava um botão em suas chaves. Do outro lado do estacionamento,
luzes piscaram em um vermelho sangue elegante Lotus Evora segundos
depois ele apertou outro botão e ele rugiu diretamente para a vida. Seus
passos hesitaram, os olhos se lançando para ele com choque. — Esse é
o seu? O Lotus?

— Por que, você vai roubá-lo?

Genna aproximou-se do carro esportivo importado, passando a


mão ao longo da tinta brilhante, ouvindo o motor, uma vez que
praticamente ronronou. Ela nunca tinha visto um. Eles eram raros,
apenas para corridas. Ele abriu a porta do passageiro para ela e ela
parou ali, tentando conter seu sorriso. — Eu acho que você vai ter que
ver, não vai?

O couro ficou preso na parte de trás das coxas suadas quando ela
deslizou para o banco. Rindo, Matty fechou a porta e subiu no lado do
motorista. — Sim, acho que sim.

~ 33 ~
Ar condicionado explodiu no seu rosto, esfriando-a
instantaneamente e acalmando o vermelho de suas bochechas. A batida
baixa de hip-hop tocando a partir dos alto-falantes, vibrando seu
assento e enviando arrepios por toda sua pele quando Matty jogou o
carro em marcha. Eles foram para longe do edifício do tribunal criminal,
sem esforço costurando através do tráfego da tarde de Manhattan, cada
curva suave e ágil, quando eles pareciam apenas deslizar ao longo da
rua. Genna queria falar com ele, queria lhe fazer perguntas, queria
saber mais, mas não conseguia dizer nenhuma palavra. Pela primeira
vez em sua vida, ela se sentiu totalmente pequena. Não da maneira
depreciativa... não, ela se sentiu depreciada. Ela era valiosa, e
vulnerável, mas tão frágil, como se tivesse deixado sua armadura para
trás, completamente impotente em comparação com a criatura
comandante ao lado dela.

Se ela fosse uma escultura de gelo delicada, este homem


impressionante seria uma forte estátua de mármore.

Ele dirigiu para noroeste através de Soho, um dos poucos bairros


que era totalmente estranho para Genna. Sua família vivia do outro
lado da cidade, por isso ela tendia a ficar nessas áreas sempre que ela
vinha para Manhattan, raramente ultrapassando as fronteiras
invisíveis, nunca se aventurando muito longe a oeste. Antes que ela
pudesse se debruçar sobre isso, ele diminuiu a velocidade do carro
perto de um prédio de tijolos na esquina de um bloco, fazendo uma
curva acentuada em uma garagem subterrânea, o motor silencioso de
Matty puxando para o primeiro ponto marcado como — reservados.

Cuidadosamente, Genna saiu, olhando-o particularmente quando


ele trancou o carro. Ela passou a mão pela lisa tinta vermelha de novo.
— Eu não posso acreditar que você dirige um Evora.

— Estou surpreso que você tenha ouvido falar dele.

— Estou surpresa que você possui um. — disse ela. — Há apenas


algumas centenas na América, e mesmo assim. Eles são raros.

— Eu nunca pessoalmente vi outro.

Genna olhou para ele. — Eu nunca pensei que veria um. Isso
foi... wow. — Ela passou a mão pela tinta brilhante novamente. Carros
eram seu primeiro amor, indiscutivelmente seu único verdadeiro amor.
Rapazes estavam em sua esquerda e direita, mas ela nunca teve um
carro decepcionando-a antes. — Isso foi totalmente melhor que sexo.

Matty riu, caminhando para ela, seu olhar intenso enquanto se


inclinava para perto. — Algo me diz que você esteve tendo sexo com as
pessoas erradas então.

Antes que ela pudesse responder, Matty fez um gesto para que ela
o seguisse quando ele se virou e saiu da garagem. Ficou no mesmo
passo que ele, olhando ao redor enquanto se aproximaram do prédio. O

~ 34 ~
tijolo estava a mostra, o sinal na parte da frente quase ilegíveis. The
Place.

Ela bufou. — The Place?

— Genial, hein? — perguntou ele, parando na frente da espessa


porta vermelha.

— Ou isso, ou é o nome mais idiota de sempre. Nem sequer lhe


diz o que é. Como, quando alguém me diz — me encontre no The Place
— você não sabe se você está indo para um jantar ou algum tipo de
círculo de luta de galo subterrânea.

Ele agarrou a maçaneta da porta, rindo, e puxou-a aberta para


ela entrar. Um bar esporte apareceu, surpreendentemente iluminado e
arejado. Mesas e cabines foram espalhadas por todo o espaço, enquanto
um longo bar estava do outro lado, com bancos de madeira. A
iluminação parecia natural, um suave brilho branco, enquanto todo o
resto era tons mais escuros. Alguns caras sentaram-se no bar, bebendo
cerveja de canecas e estudiosamente assistindo ESPN, apenas um par
de mesas estavam ocupadas a esta hora.

Matty entrou atrás dela, chamando a atenção do barman. O


homem, de meia-idade, com um cavanhaque esculpido, sorriu. —
Matty-B, o que se passa?

— Não muito. — disse Matty, vagamente colocando seu braço


sobre o ombro de Genna para puxá-la para o bar com ele. — Só vim
para uma bebida.

— O que eu posso te trazer? — perguntou o barman.

Matty olhou para ela com curiosidade, mas ela apenas deu de
ombros.

— O de sempre, então. — ordenou ele. — Dois deles.

O olhar do bartender passou de Matty para Genna. — Ela parece


um pouco jovem para beber.

— E você é um pouco velho para verificá-la. — Matty respondeu


casualmente. — Então pegue nossas bebidas, antes que eu tenha que
fazer algo louco para defender sua honra.

Em vez de ficar ofendido, o barman riu. — Tudo o que você disser,


duas Coca-Colas romanas estão chegando.

— Estaremos na minha mesa. — disse Matty, afastando-a do bar.


— Traga um pouco de água também.

Ele a levou para uma cabine no canto de trás de uma sala


separada, onde ela se sentou em frente a ele. Não demorou muito para

~ 35 ~
uma garçonete trazer as suas bebidas. Genna engoliu a água,
ressequida, quando Matty pegou sua bebida alcoólica e girou ao redor.

— Uma Roman Coke. — Refletiu Genna. — O que é isso?

— É rum e Coca-Cola. Nós apenas chamamos de Roman Coke por


aqui.

— Porque você é italiano?

— E porque quando você fica bêbado o suficiente, tudo isso soa


de qualquer maneira.

— Ah! — Genna pegou o dela, fazendo gesto para brindar com ele.
— Então, o que estamos comemorando?

— Hoje.

— Hoje?

Ele assentiu.

— Agora, neste momento. Vamos brindar a isso.

Sorrindo, ela bateu o copo com o dele. — A hoje, então.

Eles beberam ao mesmo tempo. O álcool bateu no paladar de


Genna e ela fez uma careta, a queimadura viciosa escoando abaixo de
sua garganta e indo profundamente em seu peito. — Ugh, há alguma
Coca-Cola nessa maldita coisa?

Ele riu, colocando seu copo vazio para baixo. — Apenas um


respingo.

— Eu não poderia dizer.

— Isso é porque eu prefiro assim. — ele respondeu. — Forte e


áspero, o suficiente para deixar uma ligeira dor. Eu gosto de machucar
um pouco.

Oh bom Deus. Essas palavras enviaram um calafrio na espinha de


Genna, um que ela não podia esconder, enquanto Matty acenava para a
garçonete. Os olhos nunca deixando Genna, ele ordenou outra rodada
de bebidas.

— Outra? — ela perguntou, pegando a água para tomar outro


gole, um presente para aliviar a dor em seu peito. — Você disse uma
bebida.

Um sorriso malicioso curvou seus lábios. — Eu gosto de mantê-


las próximos.

— Isso está certo?

~ 36 ~
— Absolutamente. — Ele se levantou, inclinando-se sobre a mesa,
seus lábios perto de sua orelha. — Talvez você vai me deixar mostrar-
lhe mais tarde.

Ela engasgou com sua água, seu rosto ficando vermelho brilhante
quando o duplo significado de suas palavras a atingiu. Girando em seu
assento, ela viu quando ele caminhou através do bar, em linha reta em
direção a um grupo de rapazes que tinha acabado de entrar. Todos o
cumprimentaram calorosamente enquanto ele falava baixinho, a boca
se movendo furiosamente enquanto sacudia a cabeça. Chegando em
seu bolso, ele puxou seu Blackberry, digitando algo nele.

Genna desviou o olhar deles, mantendo nervosamente a cabeça


abaixada, quando a garçonete retornou com suas bebidas, tão fortes
como as primeiras tinham sido, quase sem cor de caramelo no copo.
Matty voltou depois de um momento, deslizando de volta na cabine em
frente a ela e sem uma palavra pegando seu copo.

— Seus amigos? — Ela perguntou curiosamente, observando


enquanto os rapazes saíram de volta para fora, nem mesmo ficando
tempo suficiente para tomar uma bebida.

— Algo assim. — ele respondeu, relaxando em seu assento. —


Amigos da família, de qualquer maneira.

A queimadura no peito de Genna provocou um formigamento


depois que ela terminou sua segunda bebida, um formigamento que se
espalhou por todo o corpo, estendendo-se em seus membros enquanto o
álcool continuava fluindo para sua mesa. Ela quase não manteve o
controle depois de um tempo quando Matty brincou, entretendo-a com
histórias aleatórias de pessoas que rodeavam o bar.

O dono do açougue que Matty e seu irmão mais novo tinham


roubado bifes quando eram apenas crianças, apenas para serem
forçados a pagar por eles por sua mãe... depois de ver seu pai sozinho
comer tudo na frente deles como castigo.

O merceeiro que costumava dar as crianças moedas quando eles


entravam, para que pudessem pegar alguma coisa das pequenas
máquinas de prêmios à porta.

O cara que dirigia o caminhão de sorvete por décadas e que


costumava dá-los picolés de graça quando passava pela vizinhança.

Ele falou com carinho de todos como se fossem tão próximos


como família, mas não escapou aos olhos de Genna que quase ninguém
o reconhecia. Eles olhavam em volta dele, mas nunca para ele. Ele
parecia estar ao fundo, como se não pudessem vê-lo, o que confundiu
ela, porque ela não conseguia manter os olhos longe dele. Quanto mais
ela bebia, mais ela era incendiada de dentro para fora, o formigamento
crescendo em chamas.

~ 37 ~
— Você joga? — ele perguntou eventualmente, apontando para
algumas mesas de bilhar em outra sala próxima separada.

Bilhar.

— Uh, não.

Ele jogou para trás sua bebida, terminando o resto em apenas um


gole. — Vamos, eu vou te mostrar.

Ela terminou sua bebida hesitante antes de se juntar a ele, os


dois indo direto para a única mesa desocupada. Ela ficou ali,
observando silenciosamente enquanto ele organizava as bolas para o
jogo. Depois de estar pronto, ele pegou um taco e estendeu-o para ela.
Assim que ela pegou, suas mãos agarraram seus quadris, puxando-a
para mais perto dele, sentindo o cheiro de sua colônia. Ele a girou, de
costas para seu peito enquanto seus braços a circundavam, segurando
o taco.

Ela não podia evitar.

Ela estremeceu.

Santa merda. Ele estava embriagando-a.

— Assim. — ele sussurrou, a respiração soprando contra sua


bochecha enquanto posicionava seu corpo, suas mãos sobre as dela.
Ele apontou a bola branca, golpeando-a, enviando-a para a mesa em
direção as outras. O resto das bolas se espalharam, saltando para todos
os lados, uma única bola vermelha deslizando para a direita em um
buraco ao canto.

Ele era muito bom.

— Então agora você aponta apenas para as bolas sólidas. — ele


disse, não a deixando ir. Ele a puxou com ele, posicionando-a mais uma
vez, apontando para a bola branca novamente. Ele bateu nela, indo
para uma bola azul sólida, mas por pouco não no lugar marcado,
ricocheteando de volta ao lugar.

Matty fez isso de novo e de novo, puxando-a ao redor com ele,


corpo alinhado contra o dela, até que com sucesso engolfando mais da
metade de suas bolas dessa forma.

— Você acha que entendeu? — ele perguntou. Não, sua mente


gritou, sabendo que se ela dissesse que sim ele iria abrandar seu
aperto. E aqueles braços tatuados? Cristo, ela não queria que a
soltassem. Sua indecisão silenciosa o fez rir. — Sim, você entendeu.

Ela fez.

Infelizmente.

~ 38 ~
No momento em que ele deu um passo para trás, seu corpo
lamentou a perda de seu calor. Ele pegou um taco para si mesmo como
havia feito na primeira vez, engolfando duas bolas de imediato e por
pouco não uma terceira.

Depois foi a vez de Genna, ela apontou para a bola, mas apenas
roçou em tudo. Seu coração não estava em praticar o jogo, realmente
não achando interessante, mas observá-lo?

Ela estava interessada nisso.

Ele não pegou leve com ela. Ele não a deixou ganhar. Apesar de
sua vantagem enorme, ele demoliu-a rapidamente, a bola preta oito
suavemente desaparecendo em um buraco lateral.

Antes que ele pudesse dizer uma palavra, Genna tirou os saltos e
apontou o taco para ele. — Coloque-as novamente.

Mais jogos passaram voando, assim como mais bebidas, o flerte e


risos crescendo com o passar do tempo. Matty piorou, os jogos
demorando mais tempo, mas Genna nem sequer prestou atenção para
onde suas bolas foram posicionadas.

— Eu vou te dizer algo. — ele disse enquanto preparava o seu


quinto jogo, um copo cheio de rum colocado na ponta da mesa na frente
dele. De alguma forma, em algum momento, ele tinha deixado cair a
pretensão de colocar Coca-Cola na bebida.

— Se você conseguir me vencer em um jogo, e eu vou dar-lhe o


que quiser.

— Qualquer coisa?

— Qualquer coisa.

— Cem dólares?

— Certo.

— Seu relógio?

Ele olhou para o pulso, um Rolex de cor prateada, provavelmente,


ouro branco. Genna tinha notado isso antes. Considerando que ele
pensou sobre o que ela disse, ela teve uma suspeita de que poderia
realmente ser verdadeiro. — Claro.

— Seu carro?

— Genna, se você conseguir me vencer, eu vou dar-lhe uma


centena de dólares, meu relógio, e o Lotus.
Matty cometeu um erro... um grande erro. Ele tinha a perguntado
se ela jogava, e ela não o fazia. Não com muita frequência, de qualquer
maneira. Não era a coisa dela. Mas isso não significa que ela não sabia

~ 39 ~
como jogar. Ela tinha um irmão, afinal de contas — um irmão que
regularmente rodava em torno da cidade para conseguir dinheiro extra.

Um irmão que lhe ensinou tudo o que sabia.

— E se você ganhar? — ela perguntou. — Então o que será?

Ele sorriu maliciosamente.

— Então eu recebo o que eu quiser.

— E o que seria...?

— Você vai ter que esperar e ver.

— Ok. — ela disse. — Combinado.

Ele inclinou o taco contra a parede e pegou sua bebida. — Você


pode começar.

Sorrindo, ela alinhou a bola, batendo com força. A bola laranja


listrada voou direto para o bolso lateral.

— Golpe de sorte.

Ela serrou os olhos para ele. — Isso foi habilidade, não sorte.

— Isso está certo?

— Sim.

— Então continue. — disse ele, sua voz tingida com humor. —


Mostre-me mais da sua habilidade.

Ele não teve que dizer a ela duas vezes.

Genna encaçapou mais três bolas bate e volta, pegando seu olhar
quando atingiu uma quarta. Ela bateu no buraco do canto em um
pequeno ângulo, saltando fora em vez disso.

Matty ficou surpreso com ela. Mais da metade de suas bolas


foram embora. Se não estivesse embriagada, o jogo já poderia ter
acabado.

— Sua vez. — disse ela, dando um passo para trás.

Ele colocou sua bebida na mesa e pegou seu taco, eliminando


quatro de suas bolas antes de perder por pouco a próxima. Genna
colocou fora outras duas, que ele também fez em sua vez, deixando os
dois com apenas uma bola restante.

Genna encaçapou a dela logo depois, lançando a Matty um olhar


quando ela apontou para a bola oito. Ele parecia estar suando.
Apavorado. — Você me enganou.

~ 40 ~
Ela encolheu um ombro, hesitante, antes de mudar de posição
um pouco e bater na bola. Ela moveu-se para a direita após a bola oito,
atingindo sua última bola sólida em vez disso. Ela bateu contra a
lateral, voando de volta para ela, para a direita no buraco de canto.

E finalizou sua vez.

Genna caminhou até o outro lado da sala, em direção a Matty, e


colocou o taco de lado. Matty silenciosamente apontou para um bolso
lateral antes de bater a bola oito para ele.

Game over.

Ele se virou para ela, descartando seus tacos contra a parede, a


expressão sombria. — A pequena ladra quase roubou o meu carro,
depois de tudo.

— Eu fiz.

— Então por que você não continuou com isso?

— Porque há algo que eu queria mais do que isso.

Ele se aproximou, as pontas de seus sapatos cortando contra


seus dedos dos pés pintados quando ele olhou para ela. — E o que é?

— Saber o que você quer de mim.

Sem palavras, suas mãos agarraram sua cabeça, suas grandes


palmas cobrindo suas faces quentes, sua cabeça solta a partir do álcool.
Seu toque era firme, mas gentil quando ele inclinou seu rosto para
cima, embalando-a como se ela fosse algo precioso, algo que ele nunca
se atreveria a deixar cair. Ele olhou para ela de novo, olhando através
dela, como se pudesse contar todos os seus segredos, apenas por olhar.

Ele poderia?

Lambendo os lábios, inclinou-se e, lentamente, cuidadosamente a


beijou. Era suave e doce, mas possuía tanto poder, ao contrário de
qualquer outro beijo, Genna nunca tinha experimentado isso antes. Ele
a manteve presa no lugar, no controle total, e ela facilmente,
voluntariamente, sucumbiu ao seu toque, entregando-se as suas mãos.

Ele se afastou muito, muito rápido, demais. Genna abriu os olhos


assim como ele fez, encontrando seu olhar intenso. Depois de um
momento, ele pegou sua mão, mal dando-lhe tempo suficiente para
pegar suas coisas antes de levá-la para longe. Ele a puxou para fora da
porta da frente do bar esportivo enquanto o sol começava a definir a
distância.

Onde diabos tinha ido o dia?

~ 41 ~
Antes de Genna poder pensar sobre isso, ele abriu uma porta à
direita ao lado do lugar e puxou-a para dentro, em direção a uma
escada escura.

— Onde estamos indo? — ela perguntou, a testa franzida quando


eles começaram a subir os degraus gastos. Ugh, alguma vez tinham
sido varridos?

— Meu lugar.

— Seu lugar?

— Sim.

— Seu lugar é em cima do bar?

Ele riu. — Sim.

Ela piscou algumas vezes. — Você dirige um Lotus e ainda assim


você vive acima de um bar?

Isso não fazia sentido.

Nenhum mesmo.

No momento em que abriu a porta e puxou-a para dentro do


apartamento, seus olhos se arregalaram de surpresa. Definitivamente
parecia melhor do que ela esperava. O local era limpo, com carpete,
mesas, móveis de veludo e mesas de vidro. Uma mesa de bilhar preta
colocada ao longo da parede no fundo, o azul brilhante combinando
com o tapete que cobria parte do chão da sala.

Genna se virou para ele, quando ele fechou a porta, mas ela não
teve tempo para dizer qualquer coisa. Sem hesitação, ele estava em
cima dela, lábios febrilmente encontrando os dela quando ele a puxou
mais para dentro do apartamento. Esse beijo foi duro, frenético e
apaixonado; não era nada como a doçura que ele tinha mostrado a ela
lá em baixo. Ela tentou manter-se, mas Matty era uma força a ser
reconhecida.

Uma névoa de álcool e luxúria os cercava, estimulando-os. Genna


colocou os braços ao redor dele, puxando-o mais apertado para ela,
desesperada para sentir mais dele. Suas mãos percorreram seu corpo,
acariciando a pele, empurrando a saia em torno de sua cintura. Sua
respiração engatou quando uma mão deslizou por baixo da calcinha,
dedos passando em seu clitóris sensível. Seus joelhos vacilaram e sua
visão ficou turva só a partir de um simples toque de sua mão, mas ela
não teve a oportunidade de saborear.

Zero a oitenta em um piscar de olhos.


Suas roupas foram rapidamente descartadas, um rastro de
material indesejado pelo apartamento quando ele arrastou-a para a

~ 42 ~
mesa de bilhar. Agarrando suas coxas nuas, ele a pegou, colocando-a
na borda da mesma. Ela se agarrou a ele, puxando-o para mais perto
enquanto ele se atrapalhou com o cinto. Ele teve suas calças soltas
quando ela trabalhava em seus botões para baixo, tocando os botões
quando ela abriu. Ele puxou-a, jogando-a no chão, deixando-o com
apenas uma camiseta branca.

Genna não se preocupou com ela, não querendo quebrar o beijo,


as mãos acariciando seus fortes bíceps e correndo pelos seus
antebraços, sentindo sua pele tatuada. Ele rasgou um preservativo que
tirou de sua carteira, descartando a embalagem dourada no chão para
que pudesse rapidamente colocá-lo. Genna envolveu suas pernas finas
ao redor de sua cintura, desesperada por fricção, quando ele agarrou a
si mesmo e empurrou para dentro dela.

O primeiro impulso, duro e profundo, provocou um suspiro em


sua garganta.

Ah Merda.

Ela nunca teve a chance de recuperar o fôlego.

Segurando seus quadris, segurando-a firmemente lá, ele bateu


nela uma e outra vez, enquanto ela gritava com a sensação, sua voz
estrangulada. Ela deitou-se sobre a mesa, seu corpo formigando,
pulsando no início entre as coxas quando ele levantou as pernas sobre
os ombros para penetrar ainda mais profundamente. Nunca houve
desilusão, nenhuma oscilação em suas estocadas brutais.

Matty era a porra de uma máquina.

Ela não podia fazer nada, mas tomar o que ele deu a ela,
aceitando tudo dele avidamente, suas unhas arranhando sua pele
enquanto ela segurava sua preciosa vida. Ele a levou até a borda,
violentamente empurrando-a fora dele, enquanto seu nome ressoava de
seus lábios, um grito mal contido que fraturou quando escapou de sua
garganta. Matty.

O som só parecia levá-lo adiante, encorajando-o a dar-lhe ainda


mais. Uma e outra vez ele a levou para a beira.

Eu gosto de mantê-los próximo.

Cristo, ele não estava brincando.

Sua mão rodeou sua garganta, apertando suavemente para fixá-la


no lugar, uma leve pressão na base do pescoço enviando uma emoção
através do corpo de Genna. Ela nunca tinha tido alguém assumindo o
controle total sobre ela, nunca tinha respondido de tão bom grado a um
toque. Era perigoso - tão, tão perigoso - mas ela nunca tinha sentido
tanta descarga de adrenalina.

Fodam-se os carros.

~ 43 ~
Isso... isso era tudo.

Eventualmente, tinha que ser demais — muita pressão e


construção, muito prazer, muito de tudo. Lágrimas esmagadoras
ardiam em seus olhos quando sentiu outro orgasmo borbulhando
dentro dela. Ele pareceu sentir isso. Foi algo em sua voz, ou a maneira
como ela choramingou, gritando seu nome em uma respiração
sufocada? Ou ele podia sentir, em sintonia com seu corpo como se fosse
uma extensão do seu? Ela não tinha certeza. De qualquer maneira, ele
recuou, deixando cair as pernas trêmulas enquanto cuidadosamente
retardou seus movimentos e largou sua garganta.

Inclinando-se, seus lábios encontraram os dela novamente,


beijando-a suavemente enquanto ele continuava a empurrar dentro
dela. Sua boca se moveu lentamente, explorando sua pele aninhando
em seu pescoço, dentes levemente beliscando sua carne. Suas mãos
deslizaram sob sua camisa, unhas raspando a pele de suas costas
enquanto empurrava mais algumas vezes grunhindo enquanto ele
gozou.

Permanecendo profundamente dentro dela, ele afastou seu rosto


para olhar em seus olhos. Ela arfava pesadamente, tentando encontrar
fôlego. O ponto entre as coxas, o lugar que eles estavam ligados,
terrivelmente dolorido.

Ele não estava brincando sobre isso, também.

Seu polegar roçou os lábios, ligeiramente inchados de seus beijos


duros, quando um sorriso suavizou sua expressão. — Eu não achava
que você poderia ser mais bonita. — disse ele. — Mas depois você foi e
gritou meu nome.

Calor irradia pelo corpo dela, originários de suas bochechas e


revestindo cada centímetro de pele exposta, quando ele finalmente se
retirou. Genna sentiu a perda instantaneamente quando ele recuou,
apertando suas coxas juntas para sufocar o vazio. Ele agarrou suas
mãos, puxando-a fora da mesa de bilhar e definindo-a de volta em seus
próprios pés, mas em vez de deixa-la ir, ele a trouxe para ele,
envolvendo seus braços fortes ao seu redor.

Ele estava abraçando-a.

A sensação a assustou, enquanto acariciava seu cabelo,


acariciando amorosamente quando ela se aconchegou contra seu peito,
sentindo seu perfume e seu calor.

Ela nunca tinha tido alguém abraçando-a antes.

Ela permaneceu em silêncio quando ele finalmente a deixou,


agarrando suas roupas e rapidamente deslizando-as sobre ele. Ele
desapareceu em outro cômodo — seu quarto, ela assumiu — e voltou

~ 44 ~
depois de um momento parecendo tão arrumado como quando o viu
pela primeira vez.

Ela? Bem... ela estava com medo de encontrar seu reflexo.

— Você quer algo para beber? — ele ofereceu, casual e educado,


como se não tivesse acabado de foder seus miolos fora, deixando-a uma
grande bagunça. Ela observou enquanto ele caminhou até a pequena
cozinha aberta, seu olhar passando sobre um relógio na parede.

Nove e quinze.

Ela piscou rapidamente. Merda.

Ela tinha perdido o jantar.

— Eu realmente deveria ir... — disse ela, tentando arrumar seu


cabelo. — Está ficando tarde.

Matty pegou duas garrafas de água de sua geladeira antes de se


aproximar dela lhe entregando uma. — Você não está apenas tentando
fugir de mim, não é?

— Não, claro que não. — ela disse rapidamente, pegando a água.


— É só que, bem, eu deveria ter chegado em casa horas atrás, meu
pai...

— Eu entendo. — disse ele, cortando-a. — Ele é do tipo 'envie


uma equipe de busca’.

Ela sorriu, grata por ele parecer entender, quando ela abriu a
água e tomou um gole, a frieza acalmando sua garganta. Ela fechou a
tampa de volta, agarrou sua bolsa e sapatos enquanto se dirigia para a
porta. Ele caminhou com ela para fora, à direita sobre os calcanhares
enquanto descia a escada escura, tentando se recompor. Respirações
profundas, pensou. Não vá ficar espástica1 agora. Mas ela não podia
controlar-se. Suas pernas eram como geleia, seu coração ainda
acelerado, seus dedos tremendo enquanto ela segurava firmemente as
suas coisas.

O cara tinha batido seu mundo fora do eixo, e ela tinha a fodida
certeza de que não estava consertando isso.

Descalça, ela parou na calçada e olhou ao redor cautelosamente.


Pela primeira vez durante toda a noite, o fato de que ela estava em Soho
parecia realmente aborrecer ela. Território inimigo. Depois de escurecer,
até isso. O bairro era estrangeiro, e tudo o que ela encontrou foram
rostos amigáveis, mas sabia que o perigo muitas vezes se escondia por
trás dos mais amáveis sorrisos. Psicopatas andavam por estas ruas, e
talvez ela não conheça nenhum deles, mas eles certamente reconheciam
ela.

1 Ter reflexos exagerados, cãibras e espasmos, dificultando a marcha.

~ 45 ~
Seu pai a tinha advertido ao longo dos anos, uma das muitas
coisas que ele colocou em seu cérebro, algo que parecia apenas agora
afundar quando ela desceu do alto de seu dia tão ultrajante. Música e
gritos beligerantes eram ouvidos do lado de fora do The Place, o bar
muito desordenado que tinha estado há apenas pouco tempo atrás.
Qualquer uma dessas vozes poderia levar a sua morte.

— Eu não deveria tentar dirigir. — disse Matty. — Mas eu posso


pedir ao meu irmão para levá-la para casa. Ele deve estar aparecendo
por aqui a qualquer momento.

— Está tudo bem. — disse ela, virando-se para ele. — Eu posso


pegar um táxi.

— Você tem certeza?

— Eu tenho. Além disso, eu quero dizer, é meio cedo para


conhecer a família, não é? Não é que, bem, nós estamos indo cada vez
para chegar a esse ponto, ou que se você quiser isso, ou qualquer
coisa... —Ela estava divagando novamente. Ugh. — Eu só estou dizendo,
você sabe...

Será que ele sabia? Ela mal sabia o que diabos ela estava dizendo.
Ela teve muito namorados, nenhum dos quais ela já havia trazido para
casa para conhecer seu pai, mas ele sempre parecia saber mais sobre
eles e assustá-los, de qualquer maneira.

Mas este?

Genna não tinha certeza de que algo poderia intimidá-lo.

Matty deu um passo em direção a ela, com as mãos mais uma vez
segurando sua cabeça, uma expressão séria no rosto que silenciou seu
balbuciar, acalmou seus medos. Lentamente, ele se inclinou para ela,
pressionando um beijo suave, casto contra seus lábios.

— Isso é o que eu quero. — disse ele calmamente. — O que eu


quero ganhar.

— O quê?

— Você.

— Você me teve. — ela sussurrou, bochechas ruborizando com a


lembrança.

— Eu fiz. — ele concordou. — Mas o passado não é o que importa.


Eu vivo no presente, Genna. Eu vivo no agora. Eu tive você, sim, mas o
que eu quero é ter você.

A maneira como ele falou intensamente, assim, certamente a


deixou esgotada. — Nós mal nos conhecemos.

~ 46 ~
— Então? Passamos uma hora juntos esta manhã, presos em um
elevador sem saída. E você sabe o que eu percebi naquela hora?

— O quê?

— Eu meio que gostei de um mundo onde era só você e eu. — ele


a beijou novamente antes de se afastar e pisar no meio-fio para chamar
um táxi. O carro amarelo rapidamente deteve-se, guinchando a uma
parada bem na frente deles. Matty abriu aporta para ela enquanto
segurava sua mão. — Deixe-me ver o seu telefone.

Ela tirou fora de sua bolsa e entregou a ele. Ele digitou


rapidamente alguma coisa antes de entregá-lo de volta quando ela
entrou na parte de trás do táxi.

— Eu coloquei meu número nele. — disse ele, inclinado na porta.


— Se você decidir que me quer também, me avise.

Ele fechou a porta antes que ela pudesse encontrar as palavras


para responder. O táxi se afastou do meio-fio, entrando à direita para o
tráfego noturno de Soho.

— Para onde, senhorita?

— Westchester County. — ela respondeu, despejando seu


endereço ao norte da cidade enquanto se acomodou no assento.

Suspirando, ela abriu os contatos em seu telefone e encontrou


seu contato imediatamente.

Matty B.

Pressionando o telefone contra o peito, ela mordeu o lábio para


conter o sorriso, incapaz de comprimir as emoções girando dentro dela
que apenas a visão do seu nome suscitou. Seria possível se apaixonar
por alguém em apenas um dia? Possível ter o seu coração roubado
depois de apenas poucas horas conhecendo um ao outro? Ela
certamente nunca pensou assim. Mas ainda assim ela sentiu, em
seguida, a agitação em seu interior e o aperto no peito que jamais foi
sentido por qualquer outra coisa, algo muito maior do que ela. Era
inegável, irresistível. Ela estava de cabeça para baixo, descaradamente
varrida fora de seus pés por Matty B.

Ela gemeu. Amor Instantâneo. Que fodido clichê.

Genna chegou em casa logo após dez horas, abrindo a porta da


frente e cautelosamente olhando ao redor. A casa estava quieta e
escura, exceto por uma luz fraca que saia da sala de jantar. Ela foi em
sua direção, parando na porta enquanto ela franziu a testa.

A mesa do jantar há muito tempo tinha sido tirada, a equipe toda


indo para a noite, comida toda posta fora, mas seu pai ainda estava
sentado em sua cadeira, um único copo com vinho na frente dele.

~ 47 ~
— Genevieve. — Ele disse, a voz calma — ele sabia que ela estava
lá, sem sequer olhar. Seu olhar lentamente deslocado da mesa vazia
para ela. — Você perdeu o jantar.

Suspirando, ela entrou na sala de jantar e se aproximou dele.

— Desculpe, eu tive um dia de merda.

Seus olhos pesquisando ela. — Você parece como se tivesse tido.

Ela olhou para baixo — pés descalços e sujos, roupas amassadas,


pele revestida de suor — e riu. — Sim, eu estou uma espécie de
confusão.

— No entanto, você está rindo. — ressaltou.

— Foi um daqueles dias em que realmente tudo o que você pode


fazer é... rir.

Sua expressão mudou, estreitando os olhos, desconfiado


enquanto ele continuava a examinar ela. — Quem é ele?

— Quem?

— O rapaz com quem você estava. — disse ele. — Quem é ele?

Genna ficou boquiaberta. — Como você...?

— Eu conheço esse olhar, Genna. Há apenas uma coisa que faz


uma garota parecer dessa maneira.

— Ele é, uh... — Ela enervou quando seu pai fez isso, lendo-a com
apenas um olhar. — Ele é apenas um rapaz que eu conheci esta
manhã.

— Será que ele tem um nome?

— Matty.

— Matty. — ele repetiu. — Parece muito... americano.

Ela riu novamente. — Na verdade, para sua informação, ele é


descendente de italianos.

Primo olhou agradavelmente surpreendido. — Como vocês se


conheceram?

— Nós compartilhamos um elevador. — respondeu ela, dando um


passo em direção a ele para beijar levemente sua bochecha. — Agora, se
você estiver terminado de me interrogar, eu gostaria de tomar um
banho e dormir um pouco. Estou exausta.

Ele acenou com a mão, sem dizer nada, dispensando-a.

~ 48 ~
— Oh, a propósito. — ela disse, enquanto se afastava. — Você vai
ter que arrumar alguém para pegar meu carro amanhã.

— Onde está?

— No tribunal. O juiz suspendeu minha licença.

— E você não o trouxe para casa?

— Não.

Ela olhou para ele incrédulo. Será que ele não ouviu?

— Eu não podia.

Ele olhou-a peculiar. — Curioso.

— O quê?

— Bem, você nunca realmente deixou que isso te parasse antes.


Você estava dirigindo carros anos antes mesmo de ter uma licença. Este
seu novo garoto deve ser especial.

— Sim. — ela admitiu, antes de acrescentar um sussurro.

— Ele só poderia ser.

Ela bateu a porta quando ele falou de novo, sua voz tão tranquila
que ela mal podia ouvir.

— Você parece com ela. Quando você sorri, você é muito parecida
com ela.

Genna olhou para seu pai, vendo como ele pegou seu copo, seus
olhos voltados para o vinho vermelho sangue. Ele não estava olhando
para ela, suas palavras significavam mais para si mesmo, mas ela deu a
seu pai um pequeno sorriso de qualquer maneira.

— Boa noite, papai.

Matty estava ao longo da calçada e observou as luzes traseiras do


carro desaparecer na escuridão antes virar a cabeça para o The Place.
Assim que abriu a porta e entrou no bar cheio, dezenas de pares de
olhos o perfuraram como o alcance de um rifle de assalto, esperando
ansiosamente por seu reconhecimento. Eles não ousaram se aproximar
dele antes, quando ele tinha companhia.

Eles sabiam melhor.

~ 49 ~
Suspirando, ele caminhou até o bar, apertando lado e batendo a
mão contra a madeira dura e brilhante. O barman olhou para ele com
um aceno sutil, estabelecendo para o trabalho que é fazer-lhe uma
bebida. — Sua amiga foi embora?

— Sim, ela precisava ir para casa.

— Ah. — disse ele. — Ela é uma amiga próxima?

Matty levantou uma sobrancelha para ele. — Isso é da sua conta?

— Não, claro que não. — disse ele, deslizando a bebida no bar


para ele antes de mudar de assunto. — Então, você está trabalhando
hoje à noite?

— Sim, eu vou estar na minha mesa. — ele respondeu, dando um


passo para trás. — Um de cada vez, ou eu vou colocá-los todos para
baixo.

O barman saudou. — Você é o chefe.

Não, pensou Matty. Meu pai é.

Matty foi até a parte de trás do bar, encontrando seu irmão mais
novo, Enzo, já sentado em sua cabine de costume, com o braço em
torno de uma jovem loura com um vestido vermelho apertado e saltos
altos mortais, os cabelos arrumado e estático, como se ela tivesse usado
uma lata inteira de spray para mantê-los no lugar. Matty parou na
frente deles, olhando para o assento em que Genna tinha sentado
apenas algumas horas antes, atualmente ocupado por outra garota.
Uma das amigas de Enzo, ele supôs. Ele lançou lhe um olhar, surpreso
com a quantidade de maquiagem aglomerada no rosto da jovem —
lábios vermelhos brilhantes, sombra azul, blush rosa.

Seu irmão parecia apreciar as mulheres de todas as formas, mas


ele tinha um tipo particular, para o qual ele sempre voltava, Matty
estava se referindo ao tipo de meninas dos videoclipes dos anos oitenta.
Se elas pareciam que tinham sido espalhadas em cima de um Petrel2
para uma canção do White Snake, Enzo era viciado.

— Matty! — disse ele, segurando o punho para que ele batesse


nele. — Estas são...

— Elas têm que ir. — disse Matty, apontando para as meninas.


Ele não se importava em ouvir os seus nomes. Havia apenas uma
menina em sua mente essa noite, e se AquaNet e Crayola3 demorassem,
ele tinha uma leve suspeita de que isso poderia arruinar o seu humor.
— Nós temos alguns negócios para cuidar.

2 Ave procelariforme migradora dos mares, antárticos.


3 Itens para colorir.

~ 50 ~
Enzo suspirou antes de acenar com a mão, descartando as
meninas com a promessa de voltar a ligar mais tarde. Uma vez que elas
se foram, Matty deslizou para dentro da cabine e puxou o Blackberry de
seu bolso, colocando-o em cima da mesa.

— Então de qual lugar você as pegou? — ele perguntou com


indiferença.

— Eu me ressinto disso, mano.

Olhando para ele, Matty levantou uma sobrancelha.

— Eu as encontrei andando na 10th Avenida. — Enzo respondeu,


sorrindo quando Matty revirou os olhos. — O quê? Não parece bom o
suficiente para você?

— Parecia que ela teve sexo em grupo com lápis de cor.

Rindo, Enzo pegou um pedaço de gelo do seu copo e atirou-o nele.


Matty desviou em tempo apenas o suficiente para que ele voasse por
cima do ombro, derrapando sobre a mesa atrás dele. — Só pensei que
meu irmão poderia querer uma pequena boceta para animá-lo.

— Eu estou muito bem sozinho. — disse Matty, ligando o


Blackberry enquanto tirou um pequeno caderno, abrindo-o na última
página marcada. Ele mal podia ler seu próprio rabisco confuso. — Eu
não preciso de você para contratar prostitutas.

Enzo riu alto, mas sua diversão acabou quando ele se sentou
ereto, olhando por cima da mesa com os olhos arregalados. Atingindo
mais, ele agarrou o colarinho da camisa de Matty, puxando-o de lado.
— Puta merda, você não está brincando!

Matty fez uma careta, sabendo exatamente o que seu irmão viu. A
parte de trás do seu pescoço picava, a sensação de queimação que
funciona abaixo de sua espinha de onde Genna tinha brutalmente
cravado as unhas em sua carne. Ele bateu no braço de seu irmão,
afastando-se, enquanto tentava se concentrar no trabalho.

— Não me deixe de fora. — disse Enzo. — Eu quero detalhes.

— Eu não estou falando com você sobre minha vida sexual.

— Vamos lá. — ele pressionou. — Pelo menos me diga quem era.

— Não é alguém que você conheça, eu acabei de conhecê-la.

— Você acabou de conhecê-la, e ela já está se colocando para fora


desse jeito? — Enzo riu, empurrando-o. — Você tem certeza de que ela
não é uma prostituta, também?

Matty deu um olhar cortante para seu irmão, o olhar no seu rosto
silenciando Enzo antes mesmo que pudesse dizer:

~ 51 ~
— Cale a boca.

Enzo levantou as mãos defensivamente.

— Você deve realmente gostar dela.

— Mais do que eu gosto de você. Na verdade, agora, eu realmente


estou começando a não gostar de você.

Sua risada ressurgiu. — Você me ama, mano.

— Não significa que eu tenho que gostar de você.

Revirando os olhos, Enzo engoliu o resto de sua bebida antes de


apontar para o caderno. — Então, como os Yankees estão parecendo
essa semana?

Matty começou a digitar números na calculadora do Blackberry,


tentando fazer o senso dos cálculos da semana. Ele foi confiado à tarefa
de manter-se com os jogos de apostas, observar as chances saindo de
Vegas e coordenar com o restante dos corretores locais, mas ele
também coordenava diretamente os livros no The Place.

Ser um apostador estava longe de ser glamouroso, e certamente


não era o que ele tinha em mente quando se matriculou em Princeton
anos atrás, mas um trabalho era um trabalho. — Eles são os favoritos
para vencer a cada dia.

— Com quem eles estão jogando?

— Casa contra o Indians no começo. — disse ele. — E depois fora


de casa contra os Mariners no fim de semana.

— Inclua-me para uma grande aposta no jogo de sexta-feira. —


Enzo disse enquanto se levantava.

— É uma linha de vinte centavos esta semana. — disse Matty,


descartando o olhar ofendido do seu irmão. Geralmente era apenas um
centavo. — É pagar ou colocar o seu dinheiro com os Mariners.

— Isso é ruim.

— Eu não defini assim. — disse Matty. — Gavin fez.

Para cada dólar que queriam apostar, eles tiveram que gastar
mais outros vinte centavos em cima dele. Para mil dólares apostados,
Enzo teria que desembolsar duzentos extras. Tinha que ser equilibrado
de alguma forma para eles não serem os únicos a perder dinheiro, e os
nova-iorquinos não gostavam de apostar contra o time da casa sem
algum incentivo.
E para viciados em jogos de azar, arranjarem alguns dólares para
jogar, às vezes um centavo extra era o suficiente para empurrá-los para
o outro lado da cerca.

~ 52 ~
Apostas esportivas — era um negócio tedioso, mas depois de
todas essas aulas de estatísticas tinha certamente valido a pena. Levara
um tempo para se acostumar com o sistema, aprendendo em primeira
mão com o melhor agente de apostas na cidade: Gavin Amaro.

Um fluxo constante de apostadores parado na sua mesa; alguma


confiança para apostar grandes somas com sua palavra sozinho,
enquanto outros foram forçados a pagar antecipadamente. Matty ficava
nos números, certificando-se que as apostas não ficassem muito
irregulares, então ele saia por cima, não importa quem ganhasse os
jogos, enquanto anotava nomes no bloco de notas. O Blackberry
começou a tocar depois de algum tempo, o pessoal de confiança tinha
uma linha direta com ele, para que eles não tivessem que vir
pessoalmente até o The Place.

Duas horas por noite, alguns dias por semana, dependendo de


como ele se sentia. Algumas semanas ele só aparecia duas vezes, outras
semanas ele mergulhava lá todas as noites. Eles estavam à sua mercê,
para sua decepção. Ele não fazia isso por dinheiro.

Ele fazia apenas para manter a paz com sua família.

Exatamente à meia-noite, Matty virou o telefone e colocou-o


afastado, rasgando as anotações fora do bloco de notas e deslizando-as
para seu irmão, para Enzo saber quem caçar, se não pagassem de bom
grado. Ele não se importava com quem ainda estivesse lá, que não teve
chance de conseguir sua aposta.

Ele estava fora do tempo.

— Então, esta sua menina... — disse Enzo, bebendo uma cerveja


em frente a Matty. Ele estava olhando para ele o tempo todo, mal
conseguindo se conter para interrogá-lo.

Bastardo curioso.

— Então, o que tem ela? — Matty perguntou, apontando para a


garçonete para trazer outra bebida.

— Como você a conheceu?

— Ela estava presa no elevador comigo esta manhã.

— Nada mais? — Enzo parecia impressionado. — Então, vocês


dois aproveitaram a privacidade?

— Dificilmente. — Matty disse, dando uma gorjeta a garçonete


quando ela entregou sua bebida. — Eu a trouxe aqui para uma bebida
depois.

— E então você se aproveitou da situação?

~ 53 ~
— Está mais para ela se aproveitando de mim. — Ele murmurou,
bebendo do seu copo. — Ela chutou minha bunda em um jogo de
bilhar. Eu quase perdi meu carro para ela.

Os olhos de Enzo se arregalaram. — Você? Mas apostas é a sua


coisa, cara. Eu não acho que eu já vi você perder uma aposta.

— Não aconteceu hoje, mas só porque ela me deixou ganhar. E


graças a Deus por isso. Eu não sei o que diabos eu teria feito de outra
forma. Eu coloquei meu carro, meu relógio, e dinheiro no jogo.

— Por que diabos você faria isso?

— É o que ela queria.

— O que ela colocou?

— Tudo o que eu quisesse.

Enzo olhou para ele, piscando rapidamente. — E isso era, o


que...sua boceta, porque você sabe, mano, que espécie de pessoa faz
isso?

— Cale a boca. — Matty avisou novamente. Por mais que ele


amasse seu irmão, ele não estava acima de bater no imbecil se ele a
chamasse assim mais uma vez. — É mais do que isso. Depois da
maneira como ela jogou? Eu a queria mais do que qualquer coisa.

— Ela deve ser uma garota e tanto.

Ele suspirou, tomando um gole de sua bebida. — Ela é.

~ 54 ~
Capitulo Tres
Little Italy, um bairro na parte baixa de Manhattan, era um
caldeirão de raças e culturas. Ao contrário do resto da cidade, Little
Italy não estava claramente definida por linhas de fronteira, segregando
as diferentes famílias. Aqui elas circulavam nas mesmas ruas,
frequentavam os mesmos negócios e se acotovelavam um com o outro
em uma espécie de moderada cortesia.

Ponto de partida, seu irmão chamava. O ponto em que todas as


explosões se originaram. Tanta hostilidade, tanta desconfiança, só
aumentava as constantes discussões sobre o terreno que cada um
considerava parte de seu território, tensões correndo dia após dia. Isto
só estendia por cerca de quatro quadras, mas estes são os últimos
blocos não reclamados em uma cidade atrasada, o último pedaço do
bolo para ganhar.

Primo odiava Genna indo a Manhattan como estava, proibindo-a


de se aventurar na Little Italy, mas ela não poderia resistir a seu apelo
— ela amava a cultura profundamente enraizada, as lojas e
restaurantes de propriedade local, o sentimento de união do pequeno
bairro. Assim, sempre que ela ia — sempre que eles sabiam sobre isso,
de qualquer maneira — Dante era forçado a ir junto com ela.

— Então deixe-me ver se entendi. — disse Dante, recostando-se


na cadeira de madeira rangente, empurrando-se sobre as pernas
traseiras enquanto olhava Genna peculiarmente. Eles estavam em
Casato, um pequeno café de propriedade dos Amaros, outra das cinco
famílias de Nova York. O lugar estava iluminado pelas suas amplas
janelas, com uma brisa da porta levemente aberta. — Você estava presa
em um elevador ontem e você criou o inferno sobre isso?
— Não. — ela disse, soprando levemente em sua xícara de café
expresso. — Não valia a pena.

— Então, quem é o cara?

— Desculpe?

— Vamos, para você não enlouquecer sobre algo assim? Tem que
ter um cara envolvido de alguma forma.

Revirando os olhos, Genna tomou um gole de sua bebida quente.


Eu sou tão previsível? — Você sabe, você soa como papai.

~ 55 ~
— Então eu estou certo.

— Não. — ela disse defensivamente, os olhos estreitos em sua


expressão presunçosa. Ele olhou para ela, descrente. Depois de um
momento, ela suspirou. — Bem... tudo bem. Havia um cara.

— Ah! — Sua cadeira caiu de volta em todas as quatro pernas, o


barulho ensurdecedor chamando a atenção das pessoas ao seu redor.
— Eu sabia.

— É diferente desta vez. — Ela disse defensivamente, colocando


sua bebida na mesa. — Ele é diferente.

— Como assim?

— Eu, uh... Eu não sei. — Como ela poderia explicar algo que ela
também mal entendia? Dante estava sempre brincando com ela sobre
os caras que ela saia, mas isso não era nada como antes. — Desde o
momento em que o vi, eu não conseguia desviar o olhar.

— Então, o que, ele é atraente? É claro que ele é.

— Não. Bem, quero dizer, ele é, mas não é só isso. Há algo sobre
ele. É inexplicável. Ele olhou para mim, e parecia que ele estava me
consumindo... como se meu interior fosse grande demais para o meu
corpo e eu ia queimar, como se meu coração fosse explodir.

Dante olhou para ela, as sobrancelhas erguidas. — Isso é, uh...


Isso é a merda mais estúpida que eu já ouvi.

Sua risada impetuosa e divertida soou. Irritada, Genna jogou um


guardanapo de cima da mesa nele. — Estou falando sério, Dante.

— Isso é o que torna ainda pior. — ele respondeu. — Tem certeza


de que não era refluxo gástrico o que você sentiu? Azia pode ser uma
cadela.

Ela o desprezou, pegando sua bebida de volta. — Você


simplesmente não entende.

— Eu não. — ele concordou. — Eu me apaixono cada vez que eu


caio em uma nova boceta, mas eu nunca senti isso... e se eu fizesse, eu
ia procurar um médico, imediatamente. Isso não é normal.

Ela o ignorou, em vez disso deslocou sua atenção para o prato na


frente dela, e terminou o resto do almoço em silêncio. Um dia depois
ainda se sentia tão surreal, e absolutamente incrível, e seu irmão não
estava ajudando. Em absoluto. Sentia-se ridícula, varrida em algo tão
ultrajante, tão desgastante. Ela mal conhecia Matty, mas sentia como
se o conhecesse intimamente, como se ela tivesse de alguma forma
sempre o conheceu. Talvez isso não fosse normal, mas não havia como
negar.

~ 56 ~
Ele tinha estado em sua mente durante toda a noite, enquanto o
sono lhe escapava. Ela tinha encarado o telefone, digitando mensagens
para ele, mas prontamente apagando-as antes de enviar. O que ela
poderia dizer? Nada parecia certo.

Ele roubou todas as palavras dela, deixando-a sem palavras. Uma


coisa era certa, contudo: ela estava morrendo de vontade de vê-lo
novamente.

Ela terminou seu café expresso antes de levantar e recolher suas


coisas. Dante estava de pé imediatamente, lançando um dinheiro em
cima da mesa para a gorjeta, mesmo que ele não tivesse pedido nada
para si. Eles saíram do café, na tarde fria. Bandeiras italianas
balançavam pela brisa, afixada nos estabelecimentos, como decorações
vermelhas, brancas e verdes enfeitando o enorme prédio de seis
andares, a cobertura lançando sombras ao longo do pavimento rachado
das antigas calçadas. As pessoas saíam às escadas de incêndio,
chamando um ao outro.

Alguns saudaram calorosamente Dante, gritando seu nome de


cima. Seu olhar piscava dessa forma, como milhas em seu rosto quando
ele acenou educadamente.

Era estranho para Genna, como seu irmão parecia ser amado por
quase todos que o encontraram. Não que ela não o amasse, porque ela o
amava. Ela teria dificuldade em nomear alguém mais próximo dela. Ele
não era só seu irmão — ele era seu melhor amigo, também. Ele era seu
confidente. Ele era a única pessoa com quem podia contar, sua
constância neste mundo. Mas este era Dante, passivo e brincalhão...
ainda assim o povo de New York o reverenciava, tratando-o como se ele
fosse muito mais. Não importa o que ela sabia sobre o seu envolvimento
com os negócios de seu pai, independentemente do fato de que ela sabia
que ele carregava uma arma em todos os momentos, ele ainda era
apenas seu inofensivo, superprotetor irmão mais velho ao seus olhos.

— Para onde agora? — ele perguntou, a encarando enquanto


caminhavam para o sul, casualmente balançando as chaves em torno
de seus dedos.

— Eu quero parar na loja de música em Mulberry. — ela


respondeu. — Então você pode me levar para casa, tenho certeza que
você tem outras coisas para fazer.

Tinha que o irritar ás vezes, ela pensou, sendo ordenado como


uma sombra em torno dela como um guarda-costas. Ele nunca se
queixou sobre isso... ele nunca reclamou de nada, realmente. Mas ela
ainda se sentia culpada, ele sendo tratado como um empregado dentro
da família por conta dela.

Ela nunca quis magoar Dante por qualquer coisa.

~ 57 ~
Eles seguiram pelo quarteirão e viraram na esquina para
Mulberry. Seu olhar vagou pela rua enquanto caminhavam, tendo no
cenário, seus passos vacilantes quando um lampejo de vermelho
brilhante chamou sua atenção, vislumbrando no sol da tarde. Um carro
familiar parou ao longo do meio-fio no quarteirão, o barulho alto da
música vindo dele ecoando pelo bairro.

De maneira nenhuma.

Um Lotus Evora.

Não havia nenhuma maneira que ele estava aqui — nenhuma


maneira dela esbarrar com ele no meio de Manhattan, uma cidade de
mais de um milhão de pessoas. Mas quais eram as chances de outra
pessoa estar dirigindo esse carro? Uma em um fodido bilhão.

Ela olhou fixamente para ele, olhando com admiração quando a


porta do lado do motorista se abriu e Matty saiu. Sua respiração parou,
o coração batendo de modo irregular, alojando em sua garganta. A
própria visão dele trouxe de volta todos aqueles sentimentos que seu
irmão havia ridicularizado há pouco tempo. Matty estava ainda mais
bonito do que ela se lembrava, impecavelmente vestido em uma camisa
de botão azul clara, mangas dobradas até os cotovelos, exibindo suas
tatuagens.

Pegando o braço do irmão em um aperto, Genna puxou-o para


parar, incapaz de deixar seus olhos longe de Matty enquanto ele ria
radiante, gritando para um grupo de rapazes saindo da loja de música
em sua frente... a mesma loja de música que eles estavam indo.

— Este é, uh... — Puta merda. — Este é...

— Barsanti.

Esse nome, dito em uma voz áspera, dirigiu sua atenção


diretamente para seu irmão. Uau, Barsanti? Voltando sua atenção para
Dante, de repente, no limite, sabendo que ele sentia graves problemas
em falar o nome em voz alta. A frieza correu por ela, amarga e
indesejada, enviando um tremor pela espinha. Os olhos apertados de
Dante dispararam punhais para baixo do bloco, bem onde o Lotus
estava estacionado.

Seu olhar freneticamente o seguiu enquanto Matty abordava os


outros três, cumprimentando-os. Imediatamente, ela reconheceu Enzo
Barsanti, juntamente com outros dois, vagamente homens familiares...
aqueles que tinham vindo ao The Place na noite anterior.

— Amigos da família. — como Matty os chamou.

Não. Não. Deus, por favor, não.

Ele não poderia ser, poderia?

~ 58 ~
Ela saberia, não é?

— Dante. — disse ela, puxando o braço de seu irmão, tentando


chamar sua atenção. Ele desviou o olhar do grupo, sua expressão séria
e fria enquanto a olhava. — Você conhece todos esses caras?

— Enzo Barsanti. — respondeu ele, concentrando-se na rua. Enzo


era uma besta de um cara com apenas vinte anos, com a massa de um
fisiculturista e bastante cabelo cobrindo-o para fazê-lo um maldito
quase lobisomem. — Você o conhece.

— E os outros? — ela perguntou, desesperada para isso ser


algum tipo de erro.

— Dois de seus lacaios. — Dante apontou para os caras em


camisas vermelhas semelhantes, acompanhando Enzo. — Carl e Roy,
Tweedledum e Tweedledee, soldados de rua dos Barsanti.

— E o outro? — ela pressionou, prendendo a respiração enquanto


esperava pela sua resposta. Meu Deus, que ele seja um vizinho. Ele pode
se mudar. Que ele seja um velho amigo. Amizades acabam. Qualquer
coisa, exceto o que ela temia que seu irmão estava prestes a dizer.

— Matteo. — disse ele, a voz tão fria como gelo. — Matteo


Barsanti.

Seu peito queimou na confirmação. Ela sentiu como se estivesse


vomitando. Matteo Barsanti. Matty B. Emoções adversas inundou seu
sistema, sua mente trabalhando freneticamente, tentando fazer tudo
isso ter sentido, como tudo o que ele tinha dito a ela na noite anterior.

Como poderia ele ser um deles?

Se ele soubesse, ela se perguntou. Observando-o, vendo como ele


parecia à vontade, como alegre ele estava, ela não conseguia parar a
sensação de traição que penetrou em sua corrente sanguínea como
veneno. Devastação fez seus joelhos tremerem. A maneira como ele
tinha olhado para ela, vendo através dela, como se ele estivesse lendo
sua... teria esse cara, esta criatura aparentemente perfeita com quem
ela tropeçou, vindo a jogar com ela o tempo todo?

— Oh Deus. — ela ofegou. O que ela havia dito? O que ela lhe
contou sobre sua família? Ela tinha derramado sua alma para ele tão
facilmente, e o tempo todo ele era um deles.

Se ele tivesse realmente enganado ela?

— Acho que o filho perdido retornou. — disse Dante. — Eu estava


começando a me perguntar se ele ainda estava mesmo vivo. Faz algum
tempo desde que ele mostrou sua cara por aqui.

~ 59 ~
— Como você sabe que é ele? — A voz de Genna era apenas um
sussurro tenso. Ainda poderia ser um erro, certo? Um grande mal-
entendido?

Por favor, deixe ser um mal-entendido.

— Oh, eu sei. — Dante disse, sem um pingo de vacilação. —


Confie em mim... Eu conheço o inimigo quando eu o vejo.

Então Enzo se virou, sua expressão exultante se deteriorando


quando viu Dante e ela. Os caras ao seu lado, em sintonia ao seu redor,
rapidamente tomaram conhecimento da presença deles. A expressão de
Matty se contorceu com a confusão na mudança repentina enquanto
seguia seu olhar direto a eles no meio do quarteirão.

Genna inalou nitidamente no instante em que seus olhos estavam


conectados com os dela, seu peito se contraindo, sensações traiçoeiras
torcendo suas entranhas. Ele era um Barsanti. Ele era um deles. Ela
devia estar enojada. Ela deveria estar sendo consumida pelo ódio. Mas
olhando para ele, tudo o que ela podia sentir eram aquelas borboletas.

Borboletas esvoaçantes na porra de sua barriga que elevaram o


inferno no momento em que o rosto dele se iluminou em um sorriso
genuíno com a visão dela. A respiração saiu de seus pulmões em um
som sibilante, estrangulando-a. Ela assistiu, tudo em um movimento
lento e doloroso, enquanto Enzo se inclinava para ele e sussurrava algo.
Ela podia ver os lábios se movendo, poderia praticamente ver a palavra
amarga que fez despencar a expressão de Matty.

Galante.

Tanto quanto a família de Genna odiava a deles, ela sabia que


eles odiavam a dela também. Odiavam muito os Galantes. E vendo sua
expressão, o jeito que ele piscou rapidamente, ombros tensos, olhos
arregalados com descrença, ela sabia... este era o rosto de um homem
que tinha acabado de ser batido em sua bunda duramente quanto ela
tinha sido um momento atrás.

— Vamos. — disse Dante, agarrando-lhe o braço e puxando-a,


forçando-a a dar alguns passos para trás. — Nós estamos saindo daqui.
Eu não vou arriscar.

— Não vai arriscar? — perguntou, a contragosto, afastando o


olhar de Matty para se virar, enquanto seu irmão continuava a afastá-
la.

— Você nunca recua.

— Se você não estivesse aqui, não havia problema, mas eu não


estou colocando você no caminho do mal.
Ela zombou. — Eu não estou com medo.

~ 60 ~
— Você deveria estar. — ele disse, sua voz baixa quando ele
cortou seus olhos para ela. — Você sabe o que eles fariam com você,
Genna? Aquelas pessoas... aqueles Barsantis? Eles são malditos
selvagens. Quantas vezes o pai lhe disse isso?

Praticamente todos os dias de sua jovem vida. — O que eles vão


fazer, me matar? Bem aqui, no meio de um bairro cheio de pessoas, em
plena luz do dia?

Os passos de Dante pararam abruptamente, seu aperto sobre ela


mais forte. — Não, Genna, eles não vão te matar. Eles não vão apenas
te matar, de qualquer maneira. Eles vão perseguir você, e eles vão levá-
la, porque você é um alvo fácil, e então eles vão fazer coisas com você...
coisas que vão fazer você querer que eles simplesmente a matem.

Suas duras palavras a deixaram momentaneamente sem fala.

— E isso é quando eles vão matá-la. — continuou ele. — Só


depois de você pedir-lhes, apenas depois de pedir-lhes para terminar
com a sua miséria. E eles vão gostar. Acredite em mim. Eles vão ter
certeza de quando a encontrarem... se a encontrarem... que não irão
nem mesmo reconhecê-la.

— Como você sabe?

— Como eu sei? — ele ergueu as sobrancelhas. — Eu sei porque


mamãe e papai não conseguiram reconhecer Joey.

Ela se encolheu ante suas palavras, como se tivesse sido


perfurada no estômago. — Isso é diferente.

— É? — ele perguntou. — Eles o mataram, Genna, e não havia o


suficiente para uma identificação.

— Eu sei disso. — disse ela, com lágrimas nos olhos. — Eu sei o


que aconteceu.

— Sim, bem, eu me lembro, e eu não estarei passando por isso


novamente.

Dante virou a esquina, caminhando em direção ao seu carro,


enquanto ela permaneceu por um momento, lançando um olhar por
cima do ombro, mais uma vez, encontrando os olhos de Matty. Ele
olhou para ela como se nada existisse.

Desejava, mais do que qualquer coisa, que pudesse confiar


naquele olhar.

***

— Fodona, hein?

Matty arrancou os olhos do outro lado do quarteirão quando


Genna passou pela esquina, obedientemente seguindo seu irmão... seu
~ 61 ~
irmão, o único e solene Dante Galante. Quem teria imaginado? Eu não.
Nem em um milhão de anos. Seu olhar mortal em Enzo enquanto ele
estava lá, olhando para ele, sorrindo como um tolo. — O quê?

— A Princesa do Gelo. — ele respondeu, apontando para o canto


onde Genna estivera momentos antes. — Genevieve Galante, é uma
garota atraente, não é?

Imagens passaram pela cabeça de Matty: Genna debaixo dele,


gritando seu nome, violentamente em convulsão com prazer tão intenso
que ele viu lágrimas nos olhos. Quando ela gozou, mais e mais... Jesus,
ele nunca tinha visto nada tão bonito antes. — Ela é, certamente.

Enzo bateu em suas costas de brincadeira. — É uma pena que


seja um deles.

— Sim. — Matty murmurou. — Que pena.

Seu dia foi do mais alto no céu para a merda, e bastou uma
palavra: Galante. Irônico, pensou. O nome significava galante, bravo,
amoroso, quando, tanto quanto ele estava aflito, essas pessoas não
eram nada. A família Galante criou fracos, insensíveis covardes,
liderados pelo mais cruel e brutal de todos eles. Primo.

Como poderia essa garota, aquele brilhante anjo caído do Paraíso


em linha reta em seu elevador quebrado, ser desova desse bárbaro?

Matty tinha se desligado do estilo de vida há anos — a maioria de


sua vida, pelo menos — mas ele sabia as histórias, assim como
ninguém. Seu pai nunca deixado de enchê-lo sempre que ele vinha
visitar.

— Esses insetos estão aqui novamente. — ele tinha dito. — Talvez


tenha que botá-los para dormir em breve.

A cada visita, a mesma coisa durante anos... outra guerra estava


se formando, muito parecida com a que tinha acendido a rivalidade
mortal dezesseis anos atrás.

Ele refletia sobre isso enquanto dirigia à casa de seu pai, um


vasto sobrado perto do Central Park West. Enzo sentou-se no banco do
passageiro, afastando-se como um filhote. Normalmente, ele não se
importava com a necessidade de conversa constante com seu irmão,
mas hoje estava dificultando que Matty pensasse.

— Eles vão saber que você está aqui agora. — Enzo disse
enquanto Matty estacionou o Lotus na frente da casa e desligou o
motor.

Ele olhou para seu irmão. — Quem?

— O clã Galante, eles viram que você voltou.

~ 62 ~
Dizer que ele estava de volta era confuso, como se ele nunca
esteve realmente envolvido em primeiro lugar. Seu irmãozinho era o
único com o joelho na vida. Enzo viveu. Respirou. Amou. Quanto Matty
fez? Ele apenas tentou sobreviver. Ele estava tentando sobreviver desde
que era uma criança, jovem demais para ter que lidar com uma
recompensa por sua cabeça.

O filho paga pelos pecados do pai.

Enzo explodiu pela porta da frente da casa, saltando e batendo o


topo dos batentes da porta enquanto ele ia criando um tumulto como de
costume. Suspirando, Matty entrou atrás dele, ouvindo uma suave voz
feminina os chamando da sala próxima. — Meninos, são vocês?

— Claro que sim, Mãe. — gritou Enzo, andando a passos largos


através da escada enquanto se dirigia direto para a cozinha. — Quem
mais seria?

Entrando na sala, Matty fez uma pausa momentaneamente e


olhou para ela sentada no canto de um luxuoso sofá de borgonha,
amontoada em um grosso cobertor de lã, como se estivesse no meio do
inverno e não trinta e um graus de merda. Mesmo doente e frágil, ela
ainda tinha uma suavidade no rosto, bochechas redondas ligeiramente
coradas, o cabelo naturalmente encaracolado, os olhos vivos enquanto
eles pararam sobre ele.

— Ei, docinho. —ela disse, acariciando o sofá ao lado dela em um


silencioso convite.

Ele se aproximou e sentou na beira da almofada. — Mamãe.

— Você está bem? — ela perguntou, alisando o cabelo na parte de


trás da cabeça dele. — Você parece um pouco triste.

— Estou bem — disse ele. — Só tive um daqueles dias.

Ele podia sentir seus olhos nele, avaliando e julgando. Ela não
acreditou nele nem por um segundo. Sua mãe era uma mulher
intuitiva. Tinha que ser, para ser casada com seu pai. E por mais que
odiasse mentir para ela, não podia dizer a ela. Não, ele não poderia
dizer a ela que uma garota Galante lhe tinha machucado forte, o
enrolado em torno de seu dedo mais forte do que suas pernas tinham
enrolado em sua cintura quando ele se chocou com ela sobre a mesa de
bilhar que tinha ganhado de seus pais em seu aniversário.

Cristo, ele precisava parar de pensar nisso.

— Tem certeza disso? — ela perguntou hesitante.

— Sim. — ele mentiu, virando-se para olhar para ela. — Mais


importante, como você está?

~ 63 ~
— Estou presa aqui. — ela sorriu com um brilho nos olhos. — É
bom ter você por perto, você sabe. Eu senti sua falta.

— Eu também senti, mãe. — Essas palavras quase presas em sua


garganta. Ele tinha perdido muito, mas especialmente ela. Apesar das
circunstâncias, sendo privado de sua família por anos, ele e sua mãe
tinham permanecido próximos.

— Então o que você está fazendo? — ela perguntou. — Algum


plano emocionante esta noite?

— Você poderia dizer isso.

— Sério? O quê?

— Eu pretendo gastá-lo fazendo o jantar para a mulher mais


deslumbrante da terra.

Sua expressão se iluminou. — Isso está certo?

— Absolutamente. — disse ele. — Então provavelmente


assistiremos a filmes.

— Sério?

Seus lábios tremeram quando ele lutou contra um sorriso apenas


contendo a ânsia na voz dela — Sim.

— Alguém que eu conheça?

— Oh, definitivamente.

Seus olhos se arregalaram. — Quem?

— Você.

De repente, sua excitação se transformou em exasperação. Ela


acertou-o levemente e negou com a cabeça. — Você não pode fazer isso
comigo!

— O quê? — ele riu enquanto se esquivou de seus golpes fracos.


— É verdade.

— Pensei que você quisesse dizer uma garota. — disse ela. —


Achei que você finalmente tivesse encontrado uma garota.

— Uma garota mais bonita do que você? Impossível.

— Tão encantador quanto você é, Matty, você precisa pensar em


encontrar alguém para estabelecer-se agora. Você já tem vinte e cinco
pelo amor de Deus!

— Eu tenho tempo. — disse ele, imediatamente lamentando


aquelas palavras quando viu a realidade em seus olhos. Ele podia, mas

~ 64 ~
não o fez. Todos sabiam, mesmo que nenhum deles queira admitir a
verdade em voz alta.

— Eu só quero que você seja feliz. — ela disse suavemente. — Eu


quero que todos vocês sejam felizes.

— Eu sei.

Antes que pudessem aprofundar mais no assunto, Enzo entrou,


segurando um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia. Ele deu
uma grande mordida, mastigando desagradavelmente enquanto se
sentou em uma cadeira e jogou seus pés para cima no canto da mesa
de centro. A mãe deles olhou raivosa em silêncio até que ele deixou cair
os pés apoiados no chão, lançando lhe um sorriso tímido.

— Desculpe, mãe.

Lá em cima, uma porta se abriu, passos pesados pelo corredor


como aço contra a madeira dura se aproximaram das escadas,
descendo lentamente, cada pisada sugando um pouco mais do calor da
sala.

Roberto Barsanti, baixo e corpulento, com o queixo franzino e os


cabelos escuros desbotados de cinza dos lados, exalava uma frieza
amarga. Ele era severo — todo negócios, o tempo todo. Matty poderia
nunca se relacionar bem com seu pai, não como Enzo fazia, mas ele
adorava sua mãe o que era suficiente no momento, para ele manter o
respeito de Matty.

Os redondos olhos azuis de Roberto examinaram a sala quando


ele entrou pela porta, observando Enzo com a aprovação e a mãe com
amor, antes de atirar punhais severos diretos a Matty. — Matteo.

Ele se encolheu. Seu pai era o único que insistia em sempre


chamá-lo assim. — Pai.

— É bom vê-lo.

Ao contrário de quando sua mãe disse estas palavras, Matty não


sentiu nada genuíno. — Bom vê-lo também.

— Falando em ver pessoas. — disse Enzo, palavras abafadas de


uma boca cheia de comida. — Adivinha com quem nos deparamos hoje,
papai.

— Quem?

— Os filhos do Galante.

O peito de Matty se apertou com a lembrança, enquanto seu pai


zombou, seu lábio enrolando com raiva.

— Onde?

~ 65 ~
— Little Italy, é claro. — disse Enzo. — Matty estava me buscando
quando eles estavam descendo pela rua.

— Eles disseram alguma coisa a você?

— Não, claro que não. — disse Enzo, mastigando outro pedaço de


seu sanduíche. — Dante dobrou seu rabo e correu como uma vadia.

— Ei... — repreendeu a mãe. — Linguajar.

— Desculpe, mãe. — disse Enzo, sem perder uma batida antes de


continuar. — Sua irmã o seguia, mas não antes que ambos vissem
Matty de pé ali.

Os olhos de Roberto arregalaram enquanto se deu conta. — Eles


reconheceram Matteo?

— Dante, definitivamente, a garota, não. Duvido que ela tenha


ouvido falar dele.

As poucas vezes que Matty aventurou na cidade ao longo dos


anos, ele tinha estado em desentendimentos com alguns membros da
equipe Galante. Dante e ele tinham se encontrado cara a cara pela
última vez quando ele tinha dezoito anos, mas Genna?

Nunca a viu antes de ontem.

— Sim. — Seu pai concordou. — Você está certo, Medusa não o


conhecia.

Matty fez uma careta para esse apelido enquanto a mãe dele
sussurrou. — Bobby, não a chame assim, ela é apenas uma garota!

— Minhas desculpas, Savina. — disse seu pai. — Eu esqueci.

Mais como ele se esqueceu de ouvir sobre ela nas conversas deles.
Eles tinham a chamado assim durante anos, tanto que era o único
nome maldito que Matty lembrava.

Medusa. A princesa do gelo.


Contudo, ele riu amargamente sob sua respiração quando ficou
claro para ele — como muitas vezes seu pai o havia alertado para ficar
longe do caminho dela, alertando-o sobre a perigosa garota Galante,
que ele tinha, sem saber, caído duro em sua armadilha.

— Algo engraçado? —perguntou Roberto, olhando para ele.

— Não. — Matty disse, balançando a cabeça. Não era nada


engraçado, mas a coisa toda estava começando a parecer uma grande
piada.

~ 66 ~
Roberto o estudou por um momento antes de se aproximar,
inclinando-se e beijando Savina suavemente no canto de sua boca. —
Me ligue se precisar de alguma coisa, querida.

— Eu vou ficar bem. — disse ela, sorrindo enquanto se aproximou


e envolveu-se em torno do braço do Matty. — Eu tenho meu belo rapaz
para me fazer companhia esta noite.

Os olhos de Roberto se moveram para Matty, e ele viu a hesitação


na expressão de seu pai. Não era exatamente a desconfiança, mas era
alguma apreensão, como se ele ainda não decidiu o que fazer com a
presença contínua de Matty.

Enzo saltou, colocando o último pedaço de sanduíche em sua


boca, mastigando ruidosamente enquanto segurava o punho. Matty
levou um tapinha antes de seu irmão sair correndo, seguindo o pai para
fora da sala.

Sábado à noite. Eles estariam sumidos até as primeiras horas da


manhã, roubando pessoas cegas, e bebendo sem sentido, jogando e
fumando, perseguindo saias e fazendo o que diabos eles faziam nas
ruas.

— Então, o que você quer comer? — Matty perguntou uma vez


que estavam sozinhos, voltando-se para sua mãe quando se levantou.

Ela sorriu suavemente. — Nós podemos apenas ter alguns


sanduíches.

— Bobagem. — disse ele. — Diga-me o que você quer comer.

Ela refletiu sobre isso por um momento. — Surpreenda-me.

Surpreenda-me. Não seria nenhuma surpresa. Ela sabia


exatamente o que ele faria — era a primeira coisa que ela tinha lhe
ensinado a cozinhar, a única coisa que eles sempre faziam juntos. Era
sua refeição favorita: espaguete com almôndegas caseiras.

Inclinando-se, beijou sua bochecha macia antes de caminhar


para a cozinha. Os empregados tinham os finais de semana livres,
portanto, estava tranquila e escura, o ar fresco. Ligando a luz, ele
começou a trabalhar imediatamente, tirando tudo o que precisava para
o jantar. Ele jogou a carne no micro-ondas para descongelar e tirou a
massa pré-embalada, sabendo que quebrou todas as regras de uma
cozinha italiana, mas ele estava em uma hora decisiva. Além disso, ele
sabia que ela não iria reclamar... muito.

Ele retirou os potes de molho pré-fabricados e colocou-os em uma


panela para ferver enquanto picava algumas cebolas e pimentas,
apenas o suficiente para mexer um pouco. Ele arregaçou as mangas e
tirou o relógio antes de misturar todos os ingredientes com a mão,
moldando a mistura em bolas redondas pegajosas e colocando-as em

~ 67 ~
uma assadeira. Ele tinha terminado e estava lavando a sujeira de suas
mãos quando ouviu passos atrás de si.

— Precisa de ajuda? — perguntou a mãe.

— Não. — disse ele. — Deixa comigo.

Ela o ignorou, é claro, e agarrou a assadeira de almôndegas,


colocando-a no forno que já estava pré-aquecido. Ela definiu o
temporizador para vinte minutos antes de virar para a geladeira e pegar
uma garrafa de vinho tinto.

— Deixe-me pegar isso para você. — Ele disse rapidamente,


pegando a garrafa, mas ela bateu na mão dele e o empurrou passando
por ele, indo direto pegar o abridor. Suspirando, ele se inclinou
novamente contra o balcão e colocou o relógio de volta, olhando para ela
enquanto ela lutava para desarrolhar. Ele manteve sua paciência o
maior tempo possível antes de suspirar exasperadamente. Mulher
teimosa. — Desistiu?

— Nunca.

Ele sorriu por sua determinação. Levou outros poucos minutos,


mas ela conseguiu, finalmente, estourar a cortiça. Ela lançou-lhe um
olhar satisfeito enquanto agarrou um copo de vinho e despejou um
pouco nele, tomando um gole e fechando os olhos, um olhar de puro
êxtase cruzou seu rosto cansado.

— Agora está bem. — disse ela, pegando outro copo e derramando


um pouco antes de entregá-lo a ele. Ele a pegou e tomou um gole,
engasgando com a espuma amarga. Ela riu. — Oh, pare de choramingar
e só beba.

— Eu não estou choramingando. — ele disse, tomando outro gole


e fazendo uma careta. — Ugh, é horrível.

— Agora você está choramingando. — Ela chamou a atenção


enquanto fazia sinal através do cômodo em direção ao forno ao lado
dele. — E tire suas almôndegas antes que elas passem do ponto.

Ele olhou para o fogão, assim que o temporizador disparou. Como


diabos ela fez isso? Ele tirou-as e jogou-as no molho, deixando-as ferver
enquanto também fervia o macarrão. Apesar de seus protestos, sua mãe
insistiu em pôr a mesa para os dois, rejeitando suas reservas com um
sarcástico. — Eu ainda não estou morta, você sabe.

Ele vacilou com suas palavras, tentando se conter e não mostrar


em seu rosto, mas ela reparou, com base no olhar de desculpas que ela
lançou a ele. Sem dizer nada, ele serviu os dois com um pouco de
comida antes de se juntar a ela na sala de jantar e sentar-se diante
dela. Ela imediatamente em sinal de paz, dando pequenas mordidas
apetitosas enquanto cantarolava pensativa. — Muito bom.

~ 68 ~
— Obrigado.

— Você poderia ter feito sua própria massa, entretanto.

— Eu poderia.

— E poderia estar um pouco mais picante.

— Poderia.

— Mas ainda... muito bom.

Como ele disse, ela não iria reclamar muito.

Ele comeu, seu estômago protestando com cada mordida que ele
forçou abaixo, enquanto sua mente vagava de volta aos pensamentos
sobre Genna. Ele repetiu sua noite juntos, ainda tentando ver sentido
em tudo. A garota tinha arranhado o caminho dela sob sua pele. Que
diabos ele deveria fazer sobre isso?

Seu dilema deve ter se mostrado em seu rosto porque sua mãe
eventualmente parou de comer e apontou para ele com seu garfo. — Ok,
rapaz. Desembucha. Agora.

Ele ergueu as sobrancelhas. — O quê?

— Nada de 'o que' para mim, Matteo. — Ah, merda. Ela usou seu
nome verdadeiro. Ela estava falando sério. — Eu posso dizer que algo
está incomodando você esta noite, e eu quero saber o que é.

Suspirando, ele olhou para o prato, esmagando uma almôndega


com o garfo. — Você estava certa, eu acho. Há uma garota.

Do canto do olho, viu-a tensa — não era o que ela esperava ouvir
dele. — Uma garota?

— Sim, mas não vá se exaltar sobre isso, mãe. Eu disse que havia
uma garota, não há mais. Descobri que ela era tudo o que eu não
deveria querer.
— Mas você ainda a quer.

Era uma afirmação, não uma pergunta, mas ele respondeu de


qualquer maneira.

— Sim, eu quero. — Cara, ele realmente a queria. Ele não quis


algo — ou alguém — tanto em sua vida.

— Então o que aconteceu?

— Nós acontecemos.

— Oh. — Ela ficou quieta por um momento enquanto começava a


comer de novo. — Então eu acho que essa garota descobriu que você é
um dos famosos garotos Barsanti?

~ 69 ~
— Você poderia dizer isso.

— E isso a incomoda?

— Deveria. — murmurou ele. — Se ela é inteligente, e eu acho


que ela é... — Mais esperta do que eu poderia ter lhe dado crédito... —
Ela nunca vai sequer olhar para mim de novo.

— Mas você ainda a quer.

Outra declaração. Ela o conhecia bem.

— Sim, eu a quero. — ele murmurou. — Eu não deveria, mas eu


quero.

— Eu criei você para ser independente, Matty. Eu sei que seu pai
tem expectativas, coisas que ele quer que você faça com a sua vida, mas
eu sempre fui orgulhosa do fato de que você fez o seu próprio caminho.
Você tem feito o seu caminho por tanto tempo quanto posso lembrar.
Eu nunca vou esquecer todos esses anos atrás, meu determinado filho
de oito anos de idade, colocando o pé no chão e enfrentando seu pai
pela primeira vez. Lembra-se disso? Aquele dia?

Matty sentou-se em silêncio por um momento, surpreso quando o


assunto estava o divertindo. — Claro que sim. Ele não mudou, apesar
de tudo. Eu lhe disse que o odiava por isso, o odiava por me fazer ficar
longe, e não se intimidou nenhum pouco.

Ela riu secamente. — Você e eu nos lembramos um pouco


diferente, mas certamente o incomodou.

— Ele me trancou no meu quarto. — disse ele. — Quando ele


finalmente me deixou sair, ele enviou Enzo e eu para viver com a tia
Lena e Tio Johnny e quando ele voltou para mim. Quando eu pensei
que ele voltou por mim — era só para me enviar para a escola.

— Verdade. — Ela disse calmamente. Ela não podia negar esses


fatos. — Mas você não sabe como arrasado ele estava sobre isso. Ele me
perguntou tantas vezes, 'você acha que ele realmente me odeia?’ — Eu
sempre disse não, esperando que eu não estivesse mentindo para ele,
esperando que você entendesse por que ele fez o que ele fez.

— Eu sei que ele queria nos manter seguros...

— Mas? Eu sei que há um mas.

— Mas ele trouxe Enzo para casa. Era suficientemente seguro


para Enzo voltar anos atrás, mas não para mim. Ele nunca me acolheu
de volta.

— Agora você está sendo ridículo.

~ 70 ~
— Estou, mãe? — ele perguntou, olhando para ela. — Sabe qual
foi a primeira coisa que ele me disse quando eu voltei para Nova York?
A primeira coisa que saiu de sua boca quando viu meu rosto?

— Qual?

— Por que você está aqui?

— Ele apenas se preocupa. — ela disse. — Ele estava preocupado


com o porquê você veio. Ele pensou que algo estava errado.

— Algo está errado.

Sua expressão se suavizou quando ela olhou para ele.

— Olhe, Matty, meu ponto é que você era um homem, mesmo tão
pequeno naquela época, e você se tornou ainda mais um homem agora.
Não importa o que as pessoas lhe digam... você faz o que você quer. Foi
por isso que ele o trancou no seu quarto. Se ele não tivesse feito, teria o
desafiado e ido de qualquer maneira, apesar do fato de que ele disse que
não podia.

— O que isso tem a ver?

— Bem, eu não esperaria menos de você agora. — respondeu ela.


—A vida é curta. Tão curta. Confie em mim. Você nunca terá tempo
suficiente. Por isso, não importa se você acha que esta garota seja
totalmente errada para você. Você a quer? Então, vá para ela.

— Não é tão fácil.

— Sim, é. Se ela não quiser mais você? Ela quem perdeu. Caso
contrário, não há razão para não prosseguir com o que você quer.

Matteo Barsanti.

Genna mal se lembrava, mesmo sendo um Barsanti. Ele tinha se


tornado mais um fantasma do que uma pessoa, uma história de
fantasmas, sussurros de uma vaga lembrança do mais velho dos
garotos Barsanti que ninguém conseguia se lembrar em detalhes. Sua
existência era uma espécie de lenda urbana, o filho do chefe da máfia
que estava desaparecido da sociedade. Todo mundo tinha dúvidas, mas
ninguém nunca ousou conseguir qualquer resposta.

Genna tinha quinze anos, quando ela recordou de ouvir falar dele
pela primeira vez... seu décimo quinto aniversário. Contra a vontade do
pai, ela tinha escapado para arrumar o sótão da sua casa e vasculhou
os pertences embalados de sua mãe, cavando através de todas suas

~ 71 ~
roupas extravagantes, admirando as joias, experimentando seu vestido
de casamento. As coisas tinham sido levadas há menos de um ano, mas
uma camada de poeira revestiu tudo, como se uma vida tivesse se
passado desde que ela tinha usado qualquer uma delas.

Em uma das caixas, uma pequena de madeira com um fecho de


metal oxidado, Genna encontrou uma pilha espessa de fotografias. Ela
tinha sentado bem ali no meio do sótão escuro, usando as pérolas de
sua mãe e um de seus vestidos favoritos, e observando as imagens
desbotadas. Ela nunca tinha visto elas antes, a maioria dos seus irmãos
com ela. No fundo da pilha, as últimas fotos eram de Joey e um outro
menino.

Virando de cabeça para baixo, Genna olhou para a parte de trás,


lendo a elegante letra cursiva de sua mãe.

Joseph Galante & Matteo Barsanti

Sete anos de idade.

Ela olhou para a fotografia, surpresa. Ela sabia sobre a família


Barsanti deste ponto de vista, tiveram seus nomes e rostos
memorizados quando seu pai rotineiramente lembrava a Dante e ela,
garantindo que eles poderiam reconhecê-los na rua. Mas nunca,
ninguém mencionou um Matteo a ela.

Depois de organizar o sótão, ela desceu as escadas, segurando


uma das imagens. Seu pai estava sentado em seu escritório com a porta
escancarada. Curiosa, Genna parou na porta. — Pai, quem é Matteo
Barsanti?

Os olhos de seu pai correram para ela. — O que você disse?

Entrando no cômodo ela levantou a imagem. — Eu encontrei isto,


e na parte traseira dizia...

— Eu sei o que ela diz. — Seu pai estava de pé, puxando a foto de
suas mãos antes que ela mesma tivesse percebido que ele se moveu. —
Vá para o seu quarto.

Ela ficou boquiaberta. — Mas.

— Não discuta, Genevieve. — Ele gritou, mais irritado do que ela


já tinha visto antes, os olhos brilhando de raiva, sua mão tremendo
enquanto ele amassava a fotografia. — E fique fora do maldito sótão. Eu
não vou dizer a você de novo!

Ela tinha perguntado mais tarde a Dante, que desconsiderou a


pergunta com uma resposta meia-boca. — Ele não está mais por perto.

Era isso. Nenhuma explicação.

~ 72 ~
Um ano mais tarde, durante um de seus momentos de rebelião
imprudentes, Genna explorando pelo quarto do pai descobriu que a foto
estava na gaveta de sua mesa de cabeceira... metade dela, de qualquer
maneira.

A metade com a imagem de Joey.

Matteo tinha sido descuidadosamente rasgado fora dela.

Ela acabou por descobrir mais por Dante, mas nada significativo.
Matteo era o filho mais velho, da idade do Joey... ele teria seus vinte
anos agora. Ela assumiu que o menino tinha morrido, assim como seu
irmão, mas é evidente que ele estava vivo e bem.

E de alguma forma conseguindo ferrar com a minha vida.

Assim que Dante e Genna chegaram em casa do Little Italy,


naquela tarde, ele caminhou direito para o escritório de seu pai. Vozes
sendo ouvidas de lá, vários carros alinhados em sua propriedade
dizendo-lhe que estavam realizando negócios. Na pressa, Dante tinha
deixado a porta aberta uma fenda atrás dele. Curiosamente Genna, na
ponta dos pés, de pé contra a parede ao lado da porta, forçou os
ouvidos para escutar.

— Eu o vi hoje. — disse Dante. — Matteo Barsanti.

O silencio tomou os outros homens imediatamente.

— Você tem certeza que era ele? Matteo? — Primo perguntou. —


Sem chance de ser um erro?

— Sem chance.

O estômago de Genna caiu.

— O Barsantis devem pensar que agora é seguro trazê-lo para


casa e envolve-lo nas coisas. — disse Primo. — Por que mais ele estaria
de volta agora?

Por causa de sua mãe doente, ela pensou. Ele voltou para casa de
modo a não perder esta oportunidade de estar com ela.

— Eu não sei. — disse Dante. — Mas eu vou descobrir.

Suspirando, Genna saiu para longe da parede antes de ser pega


espionando e se dirigiu até o quarto dela, atirando-se na cama e
olhando para o teto. Ficando deitada lá pareceu uma eternidade, até
que houve uma batida leve na porta dela.

— Entre. — ela murmurou, não alto o suficiente para que todos


pudessem ouvir.

~ 73 ~
A porta se abriu de qualquer maneira, seu irmão caminhando,
parecendo muito mais relaxado do que estava quando chegaram em
casa. Virando a cabeça, ela viu quando ele se sentou próximo da cama.

— Sinto muito por mais cedo. — disse ele imediatamente. — Eu


não deveria ter jogado Joey na sua cara para assustá-la.

Ela suspirou. — Você tinha boas intenções.

— Eu tinha. — ele concordou. — Mas ainda não foi do jeito certo.


Eu não deveria ter feito isso.

— Bem, eu te perdoo.

— Obrigado. — Dante estendeu a mão, empurrando-a de


brincadeira.

— Então me diga mais sobre este cara que você quase teve uma
combustão espontânea.

Ela balançou a cabeça lentamente. — Não há sentido.

— Por quê?

— Eu acho que você pode ter estado certo sobre tudo isso.

— Sim?

— Eu percebi que nem sequer o conheço. — disse ela. — Eu


estava apenas enganando a mim mesma, sendo uma idiota, como
sempre, pensando que ele poderia ser diferente quando eles são todos
do mesmo jeito.

— Ah, eu não acredito nisso.

— Eu sou uma merda de juíza de caráter. — ela murmurou. —


Eu só irei ficar aqui e definhar, nada com que me preocupar mais. Eu
oficialmente desisto da vida.

Dante se levantou, agarrando sua mão e a puxando para cima.


Ela resistiu, sem vontade de se mexer, mas ele não se intimidou,
arrastando-a fisicamente para fora da cama. Ela grunhiu quando suas
costas bateram no chão, mas Dante ainda não a soltou, agarrando-lhe
os pulsos e puxando-a pelo quarto completo.

— Pare. — ela gemeu quando ele a arrastou pelo tapete. — Você


vai me dar queimaduras do tapete!

— Não. — disse ele. — Minha irmã não é uma perdedora.

Ela lutou com ele, cavando em seus calcanhares, mas ele apenas
a puxou mais forte, praticamente abordando-a no chão. Até o momento
em que ele chegou com ela na porta do quarto, ela estava envolta em
um ataque de riso e incapaz de lutar mais. — Ok, ok, eu parei!

~ 74 ~
Ele estreitou os olhos, e ela riu mais ainda.

— Quer dizer, eu não desisto. Você ganhou, ok?

— Bom. — disse ele, puxando-a para seus pés finalmente. —


Porque as escadas teriam a machucado se eu tivesse que arrastá-la
para baixo, também.

Poucos minutos depois das oito. Ambos estavam atrasados para o


jantar. Genna seguiu Dante até o andar de baixo, escorregado em seu
lugar. Seu pai não disse nada sobre seu atraso, bastava chegar do outro
lado da mesa e estender as mãos para rezar. Todos comeram em
silêncio, a atmosfera tensa. Uma hora torturante se passou antes que
ela finalmente tivesse uma chance de escapar, subindo de volta
enquanto seu irmão seguiu seu pai em seu escritório.

Assim que chegou ao seu quarto, ela pegou o celular da bolsa e o


deixou cair na cama.

Deitada de costas, ela olhou para a tela, abrindo os contatos para


ver o seu nome.

Matty B.

Matteo Barsanti, apenas a um toque de distância.

Suas famílias não apenas continuavam a animosidade — eles


eram inimigos mortais, que teimavam em destruir-se mutuamente. Os
dois eram um desastre esperando acontecer, e eles tinham acabado de
serem enganados por eles mesmos, achando que nada de bom poderia
sair dessa relação.

Hesitante, seu dedo pairou sobre a tela por um momento antes de


ela bater no botão excluir, apagando-o de sua vida tão rápido quanto ele
havia caído nela.

~ 75 ~
Capitulo Quatro
120 horas de serviço comunitário — três horas por dia, cinco dias
por semana, nos próximos dois meses. Isso era praticamente todo o
verão de Genna envolvido em punição. O tribunal criou um dever de
limpeza de grafite em Greenwich Village, em Manhattan, mas seu pai
rapidamente interveio e acabou com isso.

Greenwich Village era território dos Barsanti.

Em vez disso, ela estava programada para trabalhar em uma


cozinha de sopa em East Harlem, em uma seção do bairro considerado
um dos mais estranhos, mas seu pai pensou que seria o mais seguro
para ela. Nenhuma das suas crianças jamais ousaria arriscar ir ao
extremo oriente, ele havia dito.

Ela começou na primeira segunda-feira de junho — no turno do


jantar, das quatro a sete da noite. Em vez de incomodar seu irmão para
uma carona, sabendo que ele tinha coisas melhores a fazer do que levá-
la em todos os lugares que ela precisava ir, ela chamou um táxi. Ela
chegou quinze minutos atrasada na primeira noite, usando um vestido
preto agradável e salto alto, seu cabelo solto e enrolado. Ela imaginou
que só porque ela precisava fazer isso não significava que ela não
poderia fazê-lo em grande estilo.

Grande erro.

O coordenador — um homem magro, alto, com cabelos grisalhos e


pele murcha chamado Adam — a encontrou na porta, dando uma
olhada nela, e abanou a cabeça. — Você sabe onde você está se
metendo aqui?

— Claro. — ela disse, encolhendo os ombros. Eles estavam


alimentando pessoas. Quão difícil pode ser isso?

— Tudo bem, então. — ele disse, jogando um avental branco sujo


para ela. — Vamos começar então.

Como se viu, ela não tinha absolutamente nenhuma ideia do que


estava se metendo. Ela esperava despejar o jantar em uma bandeja e
sem pensar empurrá-lo para a próxima pessoa em uma linha de
montagem, nunca dando atenção ao fato de que alguém tinha que
cozinhar os alimentos.

E aquele alguém, ao que parecia, era o mesmo que servia.

~ 76 ~
Às cinco horas, ela estava pingando de suor, com os braços
doendo de mexer rapidamente uma grande panela de chilli, sua frente
salpicada de molho, e sua cabeça coçando na rede de cabelo que ela
tinha sido forçada a usar. Em seus dezoito anos de vida, ela nunca
tinha cozinhado antes — ela nunca precisou fazer. Sua mãe era a mais
distante do serviço doméstica que uma pessoa poderia ser e Genna
parecia ter herdado suas habilidades. Sua inadequação ganhou os
olhares divertidos do coordenador quando ele a observou se arrastar
para tudo estar pronto a tempo.

Arrastando a pesada panela para fora da cozinha, ela tropeçou


em seus calcanhares e quase deixou cair o chilli. Grunhindo, ela
empurrou em cima do balcão de servir, mal tendo tempo para recuperar
o fôlego quando as portas se abriram e as pessoas entraram na fila para
comer. A partir desse momento, sem parar ela derramava o chilli em
pequenos copos de isopor, apenas alguns lanchinhos para cada pessoa,
antes de colocá-los em uma bandeja e enviá-los em uma fila para
sanduíches e caixas de leite.

Quando finalmente se aproximou das sete horas, seu turno


chegando ao fim, ela estava completamente exausta, seus pés doendo,
seus músculos se contorcendo. Ela quase ansiava pela punição do
grafite. Ao sair, o coordenador a encontrou na porta, onde ficou a maior
parte da noite, saudando todos os que vieram.

— Estou surpreso por você ter sobrevivido a noite toda, senhorita


Galante. — disse ele, olhando para o relógio. Sabia que ainda faltava
alguns minutos, mas ela estava esperando que ele iria deixá-la ir
embora. Era apenas meia hora de viagem para casa, mas ela não queria
se atrasar para o jantar. — Bem, quase toda a noite. Estaremos nos
vendo novamente amanhã?

— Claro. — ela respondeu. — E no dia seguinte. E depois,


também.

E quase todos os dias nas próximas oito semanas.

— Ótimo. — disse ele. — E eu suponho que em sapatos mais


apropriados?

— Absolutamente.

Ela não iria cometer esse erro novamente.

Na noite seguinte, ela pegou o trem para a cidade, descendo em


frente à rua do centro da comunidade que abrigava o sopão e chegou lá
quinze minutos mais cedo, vestida com jeans e regata, sapatilhas nos
pés, um boné dos Yankee do irmão, seu cabelo trançado frouxamente.
O coordenador sorriu, saudando-a muito mais seguramente.

— Você já fez ensopado de carne? — ele perguntou, levantando as


sobrancelhas curiosamente.

~ 77 ~
— Não. — ela disse. — Eu nunca fiz nada... exceto chilli agora, é
claro.

Isso parecia diverti-lo. — Bem, não há melhor momento do que o


presente para aprender, né?

Todos os dias era algo novo, algo tão pouco atraente como no dia
anterior — guisado de carne, sopa de milho, sopa de batata — mas
Genna obedientemente seguiu as receitas dadas a ela, certificando-se
de que estivesse pronto até as cinco horas. Sexta-feira era especial, uma
bandeja cheia de comida: algum ingrediente de carne misterioso
faturado como bolo com batatas instantâneas, molho marrom, legumes
misturados e um pão. O dobro de pessoas vieram por eles, mantendo-os
constantemente se movendo enquanto ela jogava pedaço de carne após
pedaço de carne nas antigas bandejas de plástico antes de empurrá-las
pela fila.

— Os fins de semana são os mais ocupados. — Explicou o


coordenador, entrando na fila para mantê-la constante. — Mais famílias
vêm, com mais crianças, por isso, nós tentamos garantir que tenhamos
o suficiente para sustentar todos eles.

Ela ficou até as sete horas daquele dia, sem se afastar da fila até
que a última pessoa tivesse chegado. Tirando o avental sujo, ela jogou-o
em uma cesta próxima e examinou a sala lotada. As mesas eram velhas,
os assentos multicoloridos rachados cheios de corpos, nenhum lugar
hoje vazio. — Você nunca se esgota de comida antes de ficar sem
pessoas?

— Ocasionalmente. — ele respondeu. — Normalmente, temos o


suficiente para que alguns voltem novamente, no entanto.

Sua testa franziu. — Eu nunca vi ninguém voltar novamente.

— Isso é porque você se foi para ver isso acontecer. — disse ele. —
O turno do jantar termina às sete, oficialmente, mas nós não obrigamos
qualquer um sair. Algumas destas pessoas ainda ficam aqui até as dez
horas, comendo até que a comida acabe. Nós não deixamos que nada se
perca, e para a maioria, esta é a única refeição que terão no dia.

Isso a deixou aturdida. Ela olhou ao redor, observando seus


rostos. A maioria sorria enquanto uma onda de tagarelice rolava através
da sala. Eles não tinham uma fração do que ela tinha na vida, mas eles
pareciam mais satisfeitos do que ela jamais foi.

Ela não pensava em si mesma como uma pessoa egocêntrica, mas


sentia-se extremamente gananciosa.

— Você pode ir agora. — O coordenador disse. — São sete horas.

— Não, eu gostaria de ficar. — ela disse, olhando para ele. — Se


estiver tudo bem.

~ 78 ~
Ele sorriu. — Absolutamente. Você é bem-vinda para ficar o
tempo que quiser.

Não havia muitas sobras esta noite, mas o suficiente para que
algumas dezenas fossem capazes de voltar para uma segunda ajuda —
a maioria pais, buscando para os seus filhos. Eram civis e educados,
ninguém brigava para conseguir comida extra ou saírem nervosos. Eles
pareciam estar apenas gratos por tudo o que lhes foi dado.

Era depois das dez horas quando ela finalmente deixou o centro
da comunidade, onde rapidamente encontrou seu irmão em pé na
frente, recostando-se contra o seu carro estacionado ao longo do meio-
fio, braços cruzados sobre o peito. Sua testa franziu quando ela se
aproximou dele.

— Dante, está tudo bem?

— Papai me mandou vê-la, você não veio para jantar e ele ficou
preocupado.

— Há quanto tempo você está aqui?

— Uma hora ou mais.

— Por que não entrou?

— Eu entrei. — ele respondeu. — Eu entrei, ia perguntar quando


você iria sair, mas vi que você ainda estava trabalhando. Pensei em
deixá-la terminar e esperar aqui por você.

— Você não tinha que esperar. — ela disse. Dante apenas olhou
para ela. Sim, ele tinha que esperar. O pai mandou-o buscá-la, e não
havia como ele voltar para casa sozinho.

— Venha. — disse ele, abrindo a porta do lado do passageiro, e


apontando para dentro. — Vamos para casa, estou morrendo de fome.

O edifício de luxo de 30 andares estava em uma esquina na rua


da Sexta Avenida, no bairro de Chelsea, abrigando sessenta grandes
condomínios, cada um ainda vazio. A construção havia apenas
terminando, os inquilinos esperavam começar a se mudarem em
questão de semanas. As luzes brilharam no exterior do edifício,
refletindo fora das janelas expansivas e iluminando o pequeno reboque
ainda estacionado no lote.

Uma luz fraca brilhava dentro do reboque quando a eletricidade


zumbia de um gerador conectado a ele. Matty dirigiu seu Lotus direto
para frente do novo prédio, estacionando no espaço projetado para o

~ 79 ~
manobrista. Ele trancou as portas e saiu direto para o trailer, batendo
levemente na porta quando se aproximou.

Só demorou um momento antes de ser aberta uma rachadura,


olhos suspeitos olhando para ele. Confusão no rosto do cara
momentaneamente antes de um sorriso dividir seu exterior duro. Ele
empurrou a porta para abrir totalmente e ficou ali, sorrindo.

Gavin Amaro.

— Bem, bem, bem. — disse Gavin. — Se não é o único Matty-B.

Os Amaros, juntamente com os Genevas e os Calabreses,


completavam as cinco famílias do crime que controlavam o submundo
de Nova York. Enquanto eles tentavam manter a neutralidade, a família
Amaro foi amplamente considerada a maior aliada dos Barsantis devido
ao fato de que eles eram praticamente familiares.

Praticamente sendo chave. Roberto Barsanti e Johnny Amaro


compartilhavam nenhum sangue, mas seus filhos sim. Os homens
tinham casado com as irmãs Savina e Lena Brazzi da família que
controlava a maior parte de Nova Jersey. Enquanto isso não era
suficiente para unificar oficialmente as famílias, ele entregou Matty a
alguém fora que poderia cuidar. Gavin não era apenas seu primo, mas
também um mentor, e até mesmo alguém que ele chamaria de amigo
íntimo. E para as pessoas neste estilo de vida, mesmo aqueles tão
distantes, removidos, como Matty, amigo não era um termo usado
levianamente.

— Gavin. — Ele balançou a cabeça em saudação. — Bom te ver.

— Você também. — disse Gavin, afastando-se e acenando para


Matty passar. — Entre.

Gavin fechou a porta do reboque atrás dele antes de se sentar em


uma cadeira de escritório ao longo da parede. Um caderno estava aberto
na frente dele, papeis espalhados por todo o topo da mesa.

Os livros da família Amaro, Matty sabia.

— Como você está indo esta semana? — Matty perguntou,


sentando-se cuidadosamente em um banco acolchoado do lado. —
Ainda estamos correndo numa linha de vinte centavos.

— O mesmo aqui. — disse Gavin, pegando o lápis e voltando


direto ao trabalho. — Foram semanas difíceis, muitos saindo sem
pagamento.

— Nós realmente não tivemos esse problema.

— Claro que não. — disse Gavin. — Você tem a Besta para ir


atrás deles. Enzo executa os pães-duros diretamente do seu território e
os meus.

~ 80 ~
Matty sorriu. — Sim, ele é útil para isso.

— Útil para muitos, pelo que tenho ouvido. Ele está ganhando um
nome para si mesmo atualmente como sucessor do seu pai. Todo
mundo esteve preocupado por um tempo com você desaparecido. Todos
eles se perguntaram...

Perguntavam o que viria da família Barsanti.

Gavin não precisava dizer isso. Matty sabia. — Bem, Enzo pode
ser, estou feliz onde estou.

Gavin riu secamente. — Ninguém está feliz correndo os livros.


Fazemos isso porque alguém tem que fazer, e metade destes idiotas não
podem até mesmo adicionar ou subtrair.

Matty não teve resposta para isso. Era verdade.

— Falando de idiotas. — Matty disse — Eu estava com Enzo em


Little Italy no outro dia, e nós encontramos os Galantes.

— Nenhuma merda? — disse Gavin. — Primo?

— Não, foi apenas Dante. — disse ele, hesitando antes de


acrescentar — E sua irmã.

— Ah, a Princesa do Gelo.

Matty hesitou. — Será que todos a chamam assim?

Gavin encolheu os ombros. — Se a carapuça serviu...

— Então ela é O quê? Fria?

— Sim. — ele disse.

— Fria e mimada. Ela é inacessível, principalmente porque Primo


vai atrás de quem se atreve a sequer chegar perto de sua princesa. Ele é
superprotetor, mas você sabe, justamente por isso, eu diria. Ele
definitivamente tem razão para manter ela no confinamento.

— Ele a soltou alguma vez?

— Raramente.

Gavin continuou a trabalhar em silêncio por um momento antes


de balançar a cadeira ao redor para encará-lo, as sobrancelhas
levantadas interrogativamente.

— Por que está me perguntando sobre Genevieve Galante?


— Nenhum motivo.

Gavin sacudiu a cabeça. — Há sempre uma razão, então não me


venha com essa besteira.

~ 81 ~
— Eu só estou curioso.

— Sobre a princesa Galante?

— Sim.

Gavin olhou-o fixamente como se decidisse se aceitaria ou não


aquela resposta. — Olha, Matty, eu direi o que alguém me disse uma
vez, há alguns anos, em que fiquei curioso sobre uma garota... não
plante suas sementes no jardim de outra pessoa ou você está sujeito a
ficar enterrado seis pés abaixo com fertilizante.

— Alguém lhe disse isso?

— Eu estou parafraseando, mas sim, um amigo de fora da


organização, de Chicago fez.

— Chicago? Você já tentou plantar a tua descendência na família


DeMarco?

— Mais ou menos. É uma longa história, mas eu pensei sobre


isso, quando, por vezes, nós não temos nenhum negócio pensando
nisso. Às vezes simplesmente não é uma boa ideia. Você não vai
acariciar uma cobra venenosa, sabe? Não importa o quão bonita possa
ser.

— Eu não estou tentando acariciar qualquer coisa, eu estou


apenas...

— Curioso, entendi. — Gavin olhou para ele por um momento


antes de voltar para seu trabalho. — Ouvi dizer que ela está
trabalhando em um sopão no East Harlem, em um centro comunitário.
Fazendo uma temporada de serviço comunitário por algum problema
que ela se meteu.

Serviço comunitário. — Aposto que eles têm o lugar protegido.

— Você pensaria, mas não, ela está muito segura lá sozinha. Seu
irmão espreita algumas vezes quando ele não está ocupado com outra
coisa. Você sabe, como quando a família estar ocupada com outros
bairros, como no Brooklyn, como esta noite...

— Esta noite?

— Sim. — Gavin olhou para o relógio. — Agora mesmo, na


verdade.

Matty se levantou e foi para a porta. — Obrigado.

— Você é bem-vindo, mas Matty? Se você for pego acariciando


algo que não deveria, você não ouviu nada disso de mim.

~ 82 ~
Capitulo Cinco
Segunda-feira à noite. Chilli. Mais uma vez.

— Você serve a mesma coisa toda semana? — Genna perguntou,


arrastando o caldeirão grande para o balcão de serviço, sem quase
tropeçar desta vez. Seu avental, cobrindo sua calça jeans escura e
camisa preta, permaneceu quase branco hoje, apenas algumas
manchas de molho de tomate o colorindo.

— Normalmente, — disse o coordenador— servimos o que


podemos conseguir, e bem, da forma como a economia está, isso não é
muito. As pessoas não estão batendo em nossas portas com doações,
nem há uma fila de voluntários ansiosos para ajudar.

Ela notara, na primeira semana, que eram sempre as mesmas


poucas pessoas que trabalhavam todos os dias. Os outros se
mantinham, não tão amigáveis como o coordenador. Ela tinha uma
suspeita que também não estavam lá por bondade de seus corações.

A noite passou rapidamente enquanto ela carregava o chilli,


enchendo os pequenos potes de isopor quase até a borda antes de
colocá-los em uma bandeja e passá-lo adiante. Pessoas passavam para
recolher o jantar, algumas ela reconheceu da semana anterior, algumas
até chegando a uma conversa amigável.

Seu turno acabava às quinze para sete. Ela olhou para o pote de
chilli, mexendo a mistura aquosa, observando os feijões e pedaços de
tomate girando. Suspirando, ela começou a escavar o restante em
xícaras quando alguém se aproximou lentamente, e clareou a garganta
na frente dela.

— Voltando para repetir? — Ela perguntou, olhando para cima


com um sorriso em seu rosto. No momento em que seus olhos
encontraram os dele, o chilli da concha em sua mão virou, desviando
completamente do copo e salpicando na frente de seu avental. Ofegante,
ela saltou para trás, percebendo o que tinha feito, enquanto dezenas de
olhos na sala se voltaram para ela ao som do tumulto.

Ela mal notou, porém, seu olhar voltando para encontrar o dele.

Matty.

— Repetir? — ele disse enquanto a olhava fixamente. — Porque a


primeira vez foi tão boa, hein?

~ 83 ~
O sangue de Genna corria frio. Ela não tinha ideia do que dizer,
esperava nunca vê-lo novamente. Sua mente era uma agitação de
perguntas. O que ele queria? Por que ele estava lá? Ela apenas olhou
para ele, incapaz de encontrar as palavras, enquanto encarava seus
olhos brilhantes.

Por que ele tem que ser tão atraente?

— Senhorita Galante? — Chamou o coordenador do outro lado da


sala. — Tudo bem?

— Uhm, sim, tudo bem. — Ela gritou, desviando seu olhar de


Matty. Não escapou de sua observação que ele visivelmente se encolheu
ao som de seu sobrenome. — Só tive um pequeno acidente, mas eu
estou lidando com isso.

Ela rapidamente desamarrou o avental e puxou-o, jogando-o no


cesto ao lado. Ela fez o seu melhor para ignorar a presença de Matty
enquanto trabalhava limpando a bagunça, mas ela pode sentir sua
atenção nela o tempo todo. Ela se sentiu perturbada em mais de um
nível, seu estômago revirava, enquanto outra sensação tentava afoga-la.

Medo.

Um Barsanti estava lá, parado em frente a ela, respirando o


mesmo ar, e não havia nada que pudesse fazer a respeito.

Quando ela se virou, o coordenador estava se aproximando deles.

— Você vai ajudar o nosso convidado? — Perguntou, erguendo as


sobrancelhas enquanto fazia um gesto para Matty. — Ele tem esperado
pacientemente.

— Não. — disse ela. — Ele já está de saída.

Ela disse, como se acreditasse nisso o suficiente, talvez ele fosse


fazê-lo, mas Matty parecia cavar os calcanhares e empurrar para trás.
— Na verdade, eu não vou a lugar algum.

— Mas você não tem nenhum negócio aqui. — ela disse


rapidamente. — Esta é um sopão. As pessoas vêm aqui para comer.

— Talvez eu esteja com fome.

— Então vá para outro lugar.

Antes que ele pudesse rebater, o coordenador interveio. — Isso


não é maneira de falar com um dos nossos hóspedes. Nós não damos as
costas a ninguém aqui.

— Ele pode se dar ao luxo de comprar sua própria comida. — Ela


disse. — Jesus, basta olhar para ele, está usando um Rolex.

~ 84 ~
— Nós não julgamos as pessoas. Nem questionamos suas
circunstâncias. Ele disse que está com fome. O alimente. — O
coordenador começou a se afastar, mas hesitou. — E senhorita
Galante? Espero que também se desculpe com ele.

Uma vez que o coordenador tinha ido embora, ela virou seu foco
para Matty novamente. Lentamente, ela despejou uma pequena concha
de chilli em uma xícara e bateu-a para baixo, quebrando o frágil fundo,
molho de tomate aquoso escorrendo pela bandeja. Ela empurrou a
bandeja para baixo da fila, seus olhos não deixando os dele. — Eu peço
desculpas, Sr. Barsanti, Acho que esqueci que o seu tipo gosta de se
aproveitar sempre que possível, eu lhe asseguro eu não vou cometer o
mesmo erro novamente.

Ele olhou para ela em silêncio por um momento, sem parecer


ofendido por suas palavras. — Soou como um pedido de desculpas
Galante, se eu já ouvi um.

Ela olhou para ele enquanto se afastava. Uma desculpa Galante?


O que isso significava?

Matty educadamente cumprimentou os outros servidores,


encantando-os, antes de arrebatar a sua bandeja no final da fila.
Seguiu confiantemente pelo centro comunitário, fazendo algo tão
comum como andar parecer como uma forma de arte, e sentou em uma
cadeira no final de uma mesa, longe dos outros.

Inacreditável.

Sete horas. Genna afastou-se do balcão, seu turno oficialmente


terminado, mas em vez de ir para a saída, seus pés instintivamente
desviaram em linha reta em direção a ele. Ela fez uma pausa na mesa à
sua frente, suas mãos nos quadris, sua expressão severa. — O que
diabos você quer?

Ele cutucou o pote partido com a colher de plástico, não olhando


para cima enquanto respondia. — Eu quero mais carne neste chilli.
Nossa, você meio que esqueceu isto, não é? — Em vez de olhá-la, ele
olhou para a mesa com outros comendo. — Ei, o seu chilli está, uh...
deplorável?

— Sim. — um homem concordou.

— Sempre está. — alguém resmungou.

— Eles deveriam fazer algo sobre isso. — disse Matty.

— Sim, bem, mendigos não podem ter escolhas, então coma ou


saia. — Genna rosnou. Assim que essas palavras saíram de sua boca,
ela percebeu quão antipática pareceu. Seu olhar se lançou para os
outros que estavam perto, vendo que alguns olhavam para ela. — Eu,
uh... Eu sinto muito. É só que...

~ 85 ~
— Ela não queria soar como uma cadela insensível. — Matty disse
casualmente, pegando uma colher de chilli com um olhar de desgosto.
— É apenas uma característica familiar.

Ela se inclinou para frente, as palmas das mãos contra a mesa


enquanto ela olhava para ele. — Você tem coragem de merda vindo
aqui, como você soube como me encontrar?

Seu olhar lentamente deslocando da comida para ela, apenas


alguns centímetros de espaço entre seus rostos. Ela olhou para ele,
observando como seus lábios se contraíram. O desejo de beijá-lo
dominou-a, lembranças do modo como sua boca parecia, o arrepio pela
espinha, mas ela lutou contra ela.

Isso nunca mais poderia acontecer novamente.

Nunca.

— Eu tenho meus meios. — disse ele calmamente. — Você não é


uma pessoa difícil de rastrear. Era apenas uma questão de encontrar o
momento certo. Você sabe, quando eles estivessem ocupados.

Ele não elaborou, nem especificou, mas ela sabia que se referia a
sua família. Ela não tinha nenhuma pressa para chegar em casa hoje à
noite, porque seu pai estava fora da cidade e seu irmão estava se
aproveitando da ausência do velho para andar um pouco no Brooklyn,
então não haveria jantar em família. Ninguém a esperava.

Sua expressão rapidamente derreteu de raiva para terror


enquanto seu estômago embrulhava. Como ele poderia saber isso?

— Como eu disse, eu tenho os meus meios. — disse ele,


respondendo a sua pergunta não formulada. — Eu sabia que eles não
iriam procurar você esta noite, então era minha chance.

— Você não tem as bolas para me machucar. — disse ela, com a


voz dura ao forçar a confiança em suas palavras... embora ela mal
acreditasse nelas. Esse cara era a maldita definição de perigo,
especialmente com as emoções que ele despertava dentro dela. Ela
queria simultaneamente lhe dar um soco no rosto e arrancar suas
roupas, e ela não tinha certeza de qual parte dela acabaria por ganhar
essa batalha.

— Oh, eu tenho as bolas. — ele respondeu, arqueando uma


sobrancelha para ela. — Ou você esqueceu? Porque eu não esqueci.

— Você é tão cheio de si. — Ela sentiu o sangue esquentar suas


bochechas com a lembrança. Hum, sim, ela tinha estado cheia dele,
também... cheia até o punho, tanto que ela ainda sentia o doloroso
vazio de quando ele tinha se retirado dela. — Você não era tão grande,
você sabe.

~ 86 ~
— A julgar pela forma como você gritou meu nome, eu tenho que
dizer que você está mentindo.

Suas palavras eram suficientemente altas para chamar atenção


para elas. Gemendo, Genna atirou punhais em alguns dos espectadores
intrometidos, embaraçada, ela puxou a cadeira em frente a Matty para
se sentar. Ela se inclinou sobre a mesa, sua voz baixa novamente para
que ninguém mais pudesse ouvir. — Este é o território do meu pai. Você
deveria ficar do outro lado do Central Park. Você não tem permissão
para vir aqui.

Sem responder, Matty estendeu a mão sobre a mesa em direção a


ela. No momento em que a mão dele saiu, ela recuou, as pernas da
cadeira gritando contra o chão enquanto ela se movia fora de seu
alcance, seu coração batendo erraticamente. Ela engoliu em seco,
tentando acabar com o medo de que o movimento provocava. Sua mão
congelou no ar, permanecendo lá por um momento, antes de descê-la
lentamente à mesa. — Você tem medo de mim.

— Você é um deles.

— Eu era um deles no dia em que nos conhecemos, mas você não


estava com medo.

— Você não sabia quem eu era. — ela respondeu. — Então você


não tinha nenhuma razão para me machucar.

— Eu não tenho nenhuma razão para machucá-la agora.

Ela zombou. — Mentiroso.

— Como você sabe que eu estou mentindo?

— Seus lábios estão se movendo.

— Olha, isso não tem nada a ver com os negócios do meu pai. —
disse ele. — Ou qualquer coisa que nossos pais tenham... não tem nada
a ver comigo.

— Tem a ver com todos nós. — ela argumentou.

— Por quê?

Ela ficou boquiaberta. Por quê? Como ele poderia fazer essa
pergunta?

— Sempre foi assim. Sua família... sua família é cruel!

— Não aja como se vocês Galantes fossem todos rosas. — ele


respondeu. — Você tem mais espinhos do que as pétalas, princesa.
Princesa. A maneira como ele disse fez seu cabelo se eriçar. Ela
olhou para ele quando ele voltou para sua comida, pegando o sanduíche
frágil e desmanchando-o para inspecioná-lo: dois pedaços de pão

~ 87 ~
branco, um pedaço de presunto picado e uma fatia de queijo, duro em
torno das bordas.

— Se não se trata de negócios. — ela começou, cruzando os


braços sobre o peito — Então por que você está aqui?

— Eu queria vê-la. — disse ele calmamente.

— Bem, eu estou aqui. — eu disse. — Então, o que você


realmente quer?

Seus olhos se voltaram para ela quando ele soltou o sanduíche.


Chegando mais perto na mesa, desta vez ele se moveu devagar,
deliberadamente. Genna ficou sentada, com as costas rígidas como uma
tábua, os olhos tremulando quando a palma de sua mão roçou contra
sua bochecha corada, enviando arrepios através de sua pele. Ele
afastou alguns fios rebeldes que saiam do boné dos Yankees e enfiou-os
atrás da orelha. — É tão difícil de acreditar que eu só queria ver você?

— Sim. — ela admitiu.

— Bem, é a verdade. — ele disse, deixando cair sua mão


novamente. Ele voltou para sua bandeja, agarrando a colher e pegando
um pouco do chilli. Desta vez, em vez de apenas olhar, empurrou uma
colherada em sua boca e começou a mastigar. Genna se encolheu,
observando como seu rosto se contorcia de nojo, mas ele sufocou e deu
outra mordida. — Quem fez essa porcaria?

— Eu. — disse ela, observando-o com surpresa. — Eu não posso


acreditar que você está realmente comendo isso.

— É para isso que foi feito, não foi? Seria uma desfeita de merda
pegar a comida e não comê-la.

— Bem... ninguém iria culpá-lo. — disse ela, observando quando


ele deu outra mordida. — Traços de família e tudo mais.

Ele levantou os olhos para ela, sorrindo quando ela jogou o


insulto de volta para ele. Genna sentou-se lá, observando com
admiração enquanto ele comia cada pedaço de comida em sua bandeja,
forçando para baixo sem engasgar, como se ele estivesse tentando
provar algo para ela. Ele abriu o leite e tomou antes de esmagar a
embalagem vazia com uma mão. — Preciso de uma bebida.

— Eles vão te dar outro leite.

— Leite não.

— Há água do outro lado da sala.

Ele empurrou sua bandeja vazia de lado. — Água também não.


Eu quero uma bebida... uma bebida de verdade.

— Ah, um copo de Rum.


~ 88 ~
— E Coca. — ele completou.

— Não havia coca naquele rum.

Ele riu, relaxando em seu assento enquanto olhava para ela. —


Havia.

— Eu não me importo com o que você diz.

— Venha comigo, então. — ele disse. — Deixe-me te mostrar. Eu


vou fazer você ver por si mesma.

Instintivamente, ela sacudiu a cabeça. Ele estava louco? Ele


esperava que ela fosse a algum lugar com ele? — Eu não posso.

— Você pode. — ele insistiu. — Cristo, você já me deixou levá-la


para o coração do território Barsanti.

— Eu não sabia que você era...

— Não importa. — disse ele, cortando-a. — Você foi lá, sabendo


que não era seguro, e você nem sequer bateu uma pestana. Você
confiou em mim para mantê-la segura, e eu fiz, não foi? Você chegou
em casa com segurança, não é?

— Sim, mas...

— Então, o que te faz pensar que não vou te manter segura


agora?

— Porque agora você sabe quem eu sou.

— E eu estou dizendo que não me importo.

— Mas isso muda as coisas. — disse ela. Mesmo ele não podia
negar isso. Independentemente de ele se importar ou não, tantos outros
o fariam.

— Muda sim. — Ele concordou, inclinando-se mais perto, seus


olhos cintilando de seus olhos para seus lábios, como que por algum
instinto. E de alguma forma, ela sabia — ele estava lutando contra o
mesmo desejo que ela tinha lutado antes. — Temos que ser muito mais
cuidadosos agora.

Essas palavras lavaram através de Genna, abafando um pouco de


sua determinação. Ela olhou para ele, examinando seu rosto, tentando
encontrar algum indício de decepção, algo para descobrir as segundas
intenções que ela estava certa de que ele deveria ter, mas ele apenas
olhou para ela, os olhos arregalados cheios de sinceridade. Ugh, por que
ele tem que olhar tão malditamente sincero? Ela queria acreditar que ele
era um lobo em pele de cordeiro, enviado para atraí-la, devorá-la, mas
no momento ele parecia uma ovelha que sabia que estava
perigosamente perto de ser esfolado vivo, mas uma ovelha que estava

~ 89 ~
disposta a caminhar para o matadouro por conta própria. — Eu não
posso ir com você de volta para aquele lugar.

— Que lugar?

— The Place.

Ele abriu um sorriso. — Então vamos para um lugar neutro.

— Não há um lugar neutro.

— Little Italy?

Ela zombou. — Por favor, pelo menos metade desse bairro sabe
quem somos.

Ela, de qualquer maneira. Claro, eles conheciam os Barsantis,


mas ela ainda não tinha certeza se muitas pessoas seriam capazes de
identificar ele. No entanto, não podia arriscar. Tudo o que precisaria era
de uma pessoa reconhecendo-os juntos para que todo o inferno se
soltasse.

Ficou em silêncio por um momento. — Em algum outro lugar,


então.

— Não há nenhum outro lugar. — Seus olhos se estreitaram


quando ela o olhou, ainda tentando descobrir se isso era algum tipo de
armadilha. — Como eu sei que isso não é um truque, que você não vai
me levar diretamente para uma emboscada?

— Você não sabe. Você apenas tem que confiar em mim.

— Preciso de algum tipo de garantia. — disse ela. — Algum tipo


de segurança.

— Então você escolhe o lugar. Iremos onde você quiser.

— Eu não conheço qualquer lugar.

Ele suspirou exasperadamente, passando as mãos pelo cabelo. —


Não estamos chegando a lugar nenhum aqui.

Ele estava errado. Eles definitivamente chegaram. Pouco a pouco,


ele estava quebrando suas muralhas, apesar da voz no fundo de sua
mente, gritando, chorando, e avisando-a para ir para longe. Ela não era
uma idiota, e apesar do que ela tinha dito ao irmão, ela sabia que ela
era uma boa juíza de caráter. Era algo que seu pai havia instilado nela,
ensinando-a como identificar um suspeito à uma milha de distância,
ensinando-a como confiar em um vigarista. E esse cara sentado em
frente a ela ou era tão genuíno como eles eram, ou ele merecia uma
porra do Oscar.

Lobo em pele de cordeiro, talvez não, mas ele era, sem dúvida,
Satanás, tentando-a para o lado negro. Perdoe-me, ó Pai, porque eu não

~ 90 ~
quero nada mais do que ir para o pecado, o pecado, e o pecado de novo...
— Posso te perguntar uma coisa?

A testa de Matty franziu-se. — Claro.

— Como você arruma seu cabelo para que seus chifres não
apareçam?

Ele soltou um riso alto enquanto empurrava sua cadeira. — Muito


engraçado.

— Foi, não foi?

— Sim, foi muito bom. — ele disse, levantando-se. — Estou


surpreso que veio da sua mente, para ser honesto.

Genna sorriu, espantada quão fácil a provocação veio para eles.


Deve estar em nosso DNA.

— Eu não posso ficar aqui por muito tempo. — disse ele, olhando
para ela. — Meu carro está estacionado lá fora, e bem, alguém pode
tomar conhecimento eventualmente.

Ela assentiu com a cabeça. Ele estava flertando com o desastre


vindo aqui, mesmo com sua família estando ocupada. Seu pai não pode
pegá-la pessoalmente, mas alguém poderia. Ele tinha os ouvidos por
toda a cidade. — Você foi estúpido em vir aqui em primeiro lugar.

— Você se pronunciou destemida errada. — disse ele, estendendo


a mão e segurando levemente seu queixo, inclinando o rosto um pouco
mais para ele para olhar para ela. — Obrigado pelo chilli, Genna.
Melhor refeição de sopão que eu já tive.

— Você come em sopão frequentemente? — ela perguntou quando


ele começou a ir embora.

Seus passos vacilaram brevemente quando ele olhou para ela,


seus lábios se transformando em um condescendente — ainda
malditamente sexy — sorriso. — Não, mas eu poderia começar.

Andar pela cozinha de sopa da East Harlem foi como pisar na


lotada estação de metrô. Um fluxo contínuo de pessoas embaralhadas,
metódico, mas ainda caótico, e apesar do fato de que parecia haver
alguém sempre limpando, o lugar constantemente permanecia sujo. Um
odor desagradável pendia no ar de uma fonte desconhecida que Matty
suspeitava que pudesse ter sido de qualquer mistura que eles estavam
preparando na cozinha, forte o suficiente para fazê-lo encolher quando
inalou.

Dirigiu-se para um canto no final do local novamente,


imediatamente vendo Genna atrás do balcão. Mesmo usando um
avental imundo, vestida de jeans e camiseta, ela o fez dar uma pausa
~ 91 ~
para olhá-la. Um sorriso iluminou seu rosto, o tipo de sorriso que
poderia substituir o sol sem que você percebesse a queda de
temperatura. A garota era radiante. Ela riu, e cabeças
involuntariamente viraram para ela como uma flor virando para a luz.

Princesa do gelo? Dificilmente. Ela era o oposto do frio.

Cristo, só a visão dela fez Matty querer falar uma porra de um


verso como se ele tivesse encarnado Shakespeare.

Genna olhou para cima quando ele se aproximou, sua expressão


escurecendo um pouco, preocupação evidente em seus olhos quando
eles correram pelo redor, fazendo tudo para não olhar para ele. Ele
conseguiu isso... ele fez. Ela não confiava nele. Ele não podia dizer que
a culpava.

Depois de um momento, ela encontrou seu olhar cética, suas


bochechas corando. — O que você quer agora?

Havia uma ponta de antagonismo em sua voz que tornava difícil


não rir. O divertimento mal disfarçado de Matty fez seus olhos se
estreitarem ainda mais quando ela olhou para ele, esperando uma
resposta.

— Apenas dando uma passada. — ele disse. — Mas não se


preocupe, eu não vou roubar a sua comida desta vez. Eu trouxe a
minha própria.

Ele segurou seu saco de viagem para ela ver, fazendo seu ponto,
já que ela o havia deixado triste por tirar comida de pessoas que
precisavam. Ele esperava um rolar de olhos, no máximo, mas o brilho
de raiva o pegou desprevenido. — Você trouxe sua própria comida?
Você é estúpido? Você não pode fazer isso!

— Por quê?

— Por quê? É rude! Como você ousa trazer isso aqui e brincar
com essas pessoas. O que é isso, afinal? — Antes que ele pudesse
responder, ela estendeu a mão sobre o balcão e arrancou a sacola de
sua mão, abrindo-a para olhar para dentro. Ela mexeu na comida
dentro, examinando o conteúdo. — Batatas fritas e o que, um
sanduiche de carne? Tem cebolas e pimenta nele?

— Claro.

Ela tirou uma batata, colocando-a em sua boca quando fechou


apressadamente o saco firmemente, seus olhos correndo ao lado dele.
— Ei, você. Sim, você... moço com a camisa verde. Você gosta de
sanduiche de carne?

Matty virou-se, olhando para o cara ao lado dele enquanto os


olhos do homem cresciam. — Uh, sim, claro.

~ 92 ~
Genna empurrou o saco sobre o balcão, direto para ele. — Aqui
está, coma, divirta-se.

O homem agarrou o saco, rapidamente agradecendo, e se afastou


antes que alguém pudesse roubá-lo dele. Matty se virou, de boca aberta
para Genna quando ela pegou um copo côncavo de papel e colocou
algum tipo de guisado marrom nele.

— Aproveite o jantar, Sr. Barsanti. — disse ela, batendo na


bandeja antes de empurrá-la pela fila. Matty ficou ali por um momento,
estupefato, mas ela não disse mais nada, bruscamente dispensando-o
com um aceno de mão antes de continuar a repartir mais cozido em
copos.

Não querendo atrapalhar a fila ou fazer uma maior cena, Matty foi
embora e pegou uma bandeja no final. Ele atravessou a sala, direto
para o mesmo assento que usou a última vez. Ele olhou para a comida,
pegando a colher de plástico e mexendo o guisado, as batatas e as
cenouras se transformando em mingau com um simples toque. Carne,
ele assumiu, embora ele mal encontrou qualquer carne no molho.

Hesitantemente, ele deu uma pequena mordida, encolhendo-se


quando engoliu. Não tinha gosto de nada, além de água e sal. Ele não
podia imaginar comer essa porcaria todos os dias.

Levou mais tempo desta vez, mas Genna, eventualmente, vagou


poucos minutos após as sete, puxando a cadeira em frente a ele e
sentando. Cruzando os braços sobre o peito, ela o olhou fixamente. Ao
contrário do que acontecera ontem, quando estava na defensiva,
lutando para compreender sua presença, esta garota parecia estar
totalmente no controle, um ar de autoridade em torno dela. Confiança
escorria de seus poros, na fronteira com a arrogância.

Matty sabia que era uma atuação, mas porra, ele se não se
importou.

— Você me deve um jantar agora. — disse ele, de fato.

— Eu lhe dei um jantar. — ela disse, apontando a comida na


frente dele. — Eu até mesmo cozinhei.

— Sim, bem, me faz um favor? — ele perguntou, tomando outro


pedaço do guisado de carne. — Nunca cozinhe para mim novamente,
porque isso não é o seu forte.

Ela dramaticamente engasgou, agarrando o peito com mágoa


fingida. — Quer dizer que eu não estou à altura das suas expectativas?
Como vou continuar minha vida agora?

Sem responder, ele fez questão de engolir cada colherada do


maldito cozido horrível antes de lavá-lo para baixo com o leite,
desesperado para tirar o gosto salgado de sua boca. Suspirando, jogou

~ 93 ~
a caixa na bandeja e olhou para ela. — Então, que tal uma bebida
Genna?

Sua expressão de autoconfiança vacilou um pouco, o ceticismo


brilhando. — Vamos fazer isso todos os dias?

— Fazer O quê?

— Fazer isso. — disse ela, acenando entre os dois. — Essa coisa


em que você finge que realmente poderia haver algo entre você e eu.

— Poderia haver. — disse ele. — Houve.

— Isso é passado.

— E eu lhe disse que não vivo no passado.

— Então por que você está aqui?

Cristo, ela era irritantemente teimosa. Inclinando-se para frente,


empurrou a bandeja para o lado. Nenhuma palavra saía de sua boca
enquanto olhava em seus olhos, bebendo na tonalidade do azul pálido,
tão claro que pareciam quase cinza, sem cor. Como uma pedra.

— Não olhe ela nos olhos. — ele disse calmamente. — Ela é


perigosa.

Ela empalideceu. — O quê?

— Isso é o que dizem sobre você. Tenho certeza de que a sua


família lhe avisou sobre mim, disseram para ficar longe, mas você não é
a única, Genna. Eu já ouvi tudo isso, também. Eles têm um monte de
nomes para você...Princesa do Gelo... Medusa... eles dizem que você é o
pior tipo de monstro, do tipo que pode trazer um homem de joelhos, que
pode destruir o seu mundo com um simples olhar.

Ela piscou rapidamente, olhando para longe por um momento,


antes da curiosidade levar o melhor dela. Ela se virou de volta para ele.
— Eu ouvi Princesa de Gelo antes, mas seriamente me chamaram de
Medusa?

Ele sorriu com o tom incrédulo de sua voz. — Eles fizeram.

Ela permaneceu em silêncio por um momento,


contemplativamente mordendo o lábio inferior, seu olhar o deixou mais
uma vez. E desta vez não voltou. — Se eles o advertiram sobre mim, por
que você não só... fica longe? Seria muito mais fácil.

— Eu não faço as coisas apenas porque são fáceis, apesar do que


você pensa, eu não tenho intenções sinistras, arrisco vir aqui, porque
um de nós tem que assumir esse risco. Um de nós tem que estar
disposto. Mas se você quer que eu fique longe, se você não quer nada
comigo, tudo bem. Só me diga. E eu vou ficar longe. Você nunca vai me
ver de novo. — Empurrando a cadeira para trás, ele se levantou e se
~ 94 ~
inclinou sobre a mesa. Ela ficou tensa, fechando os olhos enquanto ele
trouxe seu rosto perto do dela, sua bochecha roçando a dela quando
sussurrou em seu ouvido. — Mas é tarde demais para mim, eu já olhei
nos olhos da ladra de almas.

Agarrando a bandeja, ele começou a se afastar quando o som de


sua voz parou seus passos.

— Matty?

Voltando-se, ele ergueu as sobrancelhas interrogativamente.

Ela olhou para ele por um momento, franzindo a testa, enquanto


soltava o cabelo de seu boné e passava os dedos pelos fios ondulados.
— Não é, uh... não é porque o meu cabelo parece fibroso como cobras,
certo? Porque eu prometo que ele é geralmente melhor do que isso.

Ele caiu na gargalhada, balançando a cabeça. Esta maldita


garota... — Você é linda, Genna. A mais bonita ladrazinha de carro que
eu já vi.

Matty saiu do centro comunitário, mantendo a cabeça baixa e


caminhando rapidamente pelo quarteirão e pela esquina, onde ele tinha
estacionado o Lotus em um beco escuro. Puxando suas chaves, ele
apertou o botão para destravar as portas do carro e ligar a partida, o
motor rugiu para a vida bloco abaixo. Seu telefone tocou no bolso —
sua linha pessoal, não o Blackberry, que estava trancado no porta-
luvas do carro. Vibrou constantemente nos últimos minutos, mas não
queria interromper sua conversa com Genna. Abrindo a porta do carro,
ele deslizou para dentro, fora de vista, quando ele puxou seu telefone
para fora.

Enzo.

— Sim? — ele disse, respondendo enquanto trocava a marcha do


carro, querendo sair de East Harlem. Continuar ali poderia facilmente
matá-lo. Ele viera esta noite sem confirmar que os Galantes estavam
ocupados. Por tudo o que sabia, eles poderiam estar o observando.

— Jesus, Matty. — disse Enzo, com voz frenética. — Onde diabos


você está?

— Perto do Central Park. Perto o suficiente, de qualquer forma.


Por quê? Está tudo bem?

— É a mãe. — disse ele. — Ela foi levada para o hospital.

Frieza lavou através dele enquanto segurava a 1alavanca de


câmbio com força. — Qual?

— New York Presbyterian.

~ 95 ~
Ela tinha tido uma convulsão, ele disse. Eles a acharam
desmaiada. Matty foi direto para o norte até Presbyterian, encontrando
sua família na sala de espera vinte minutos depois. Eles não
questionaram onde ele tinha estado ou por que demorou tanto tempo
para atender o telefone, e ele estava grato por isso.

Ele não tinha ideia do que diria se o fizessem.

Eles fizeram alguns testes e decidiram mantê-la em observação. A


vida não parou para Enzo e seu pai, que estavam dentro e fora
constantemente, mas Matty não saiu de seu lado durante dois dias. Ele
poderia fazer sua parte em qualquer lugar. Quando o expulsaram do
quarto, ele passou a residir no saguão do hospital, comendo comida do
refeitório que rivalizava com a porcaria que Genna fazia e fazer ligações
para apostas fora do The Place.

Era quinta-feira à noite, bem depois do horário de visita, quando


ele se sentou na pequena cadeira desconfortável, a televisão muda
dando-lhe luz suficiente para classificar as figuras em seu caderno. Sua
mãe dormia profundamente, seus roncos suaves enchendo o ar calmo, o
som quase embalando Matty para dormir junto com ela.

Ele sentiu como se nunca tivesse dormido.

A porta se abriu e ele olhou para o outro lado da sala, esperando


que fosse uma enfermeira vindo para expulsá-lo, mas ficou surpreso ao
encontrar o olhar de seu pai. Ele não esteve por perto desde aquela
manhã.

Roberto calmamente se aproximou, alisando o cabelo da mãe de


Matty e olhando para ela enquanto falava suavemente, embora suas
palavras fossem claramente destinadas a Matty. — Estou surpreso que
você ainda está aqui.

— Eu não vou deixá-la se eu puder ajudar.

— Eu não quis dizer no hospital.

— Eu sei o que você quis dizer.

Ele estava surpreso que Matty ainda estivesse em Nova York.

Lentamente, seu olhar se moveu para Matty, a expressão severa.


— Acho que você não mudou de ideia sobre a minha oferta?

Matty balançou a cabeça. — Essas coisas não são para mim.

Ele concordou em assumir os livros, mas isso era o mais longe


quanto ele iria no negócio da família. Se ele tivesse que se envolver, se
tivesse que ajudar, ele ia ficar nos bastidores. Ele não queria nada com
a violência e o ódio, nada haver com a rivalidade.

~ 96 ~
— Você está errado, Matteo. Tudo é para você. Eu construí todo
este império para você, e me entristece muito saber que você quer muito
pouco com isso.

— Entristece? — ele perguntou. — Ou enlouquece?

— Ambos. — Admitiu o pai. — Você é meu filho mais velho, e me


incomoda ver você desprezar o legado da família.

Inferno de um legado, pensou Matty, mas ele não disse nada. Ele
só iria causar uma briga — uma briga que eles não precisavam ter ali,
de todos os lugares. Roberto pareceu perceber isso também, seu olhar
indo de Matty de volta para a cama de hospital.

— Vá para casa, Matteo, ela está sendo liberada de manhã, não


há mais nada que você possa fazer aqui.

Ele não queria ir embora, mas sabia que seu pai não aceitaria
uma recusa fácil. Roberto estava acostumado com as pessoas
obedecendo cada uma de suas palavras, foi o que causou a fenda entre
eles em primeiro lugar. Matty não era muito bom em ser submisso.

Olhando para o relógio, viu que estava se aproximando das sete


horas. — Sim, você está certo.

Ele começou a sair, passando por seu pai, quando o homem


estendeu a mão e agarrou seu braço, o parando. — Eu sei que você não
quer se envolver, mas certas coisas são inevitáveis. Você é um Barsanti,
e a menos que você encontre uma maneira de deixar de ser um, sempre
haverá um alvo em suas costas depois do que aconteceu. Tenha
cuidado, você sabe. Fique onde podemos protegê-lo.

A mensagem era alta e clara: fique fora do território Galante.


Matty assentiu, reconhecendo essas palavras, mas ele não ia atendê-
las.

Assim que estava em seu carro, ele dirigiu direto para o East
Harlem.

Eram sete horas e sete minutos quando chegou àquele lado da


cidade. Ele se aproximou do centro da comunidade e estava prestes a
parar o carro em uma vaga de estacionamento ao longo do meio-fio
quando viu Dante espreitando em frente.

Amaldiçoando, ele passou rápido, esperando que o menino


Galante não o tivesse notado.

~ 97 ~
Genna teve um dia ruim em casa, seguido por uma noite de
merda no centro comunitário, completando a merda: sua babá /
guarda-costas estava esperando do lado de fora por ela quando seu
turno acabou.

Isso nunca era bom.

Dante estava ao lado do meio-fio, as mãos nos bolsos, a testa


franzida enquanto olhava para a rua. Lentamente, Genna aproximou-
se, agarrando-lhe o braço e assustando-o. Ele saltou, imediatamente
olhando para ela. — Droga, Genna, você me assustou!

— Desculpe. — ela disse, olhando para ele. — O que você está


olhando?

— Nada, eu só pensei que tinha visto... — ele pausou enquanto a


olhava estranhamente. — Você não viu nenhum dos Barsantis
espreitando por aqui, não é?

Seus olhos se arregalaram. Oh, merda. — Claro que não.

— Eu devo estar vendo coisas. — disse ele.

— Pareceu aquele carro que vimos na Little Italy, mas mesmo eles
não são tão estúpidos, certo?

— Certo. — Pena que era. Estúpido, Garoto estúpido. Não tinha


aparecido em dias. Ela tinha encolhido os ombros em escárnio, dizendo
a si mesma que era o melhor, que ela não deveria se surpreender, pois
ele era um deles... eles são escamosos, e ela não deve querer ele perto
dela. Mas ainda... ela sentia falta dele. Ela se viu esperando por ele,
observando a porta, desapontada quando seu turno acabou e ele não
estava em lugar nenhum. Ela havia até se preocupado. Deus, o que
diabos está errado comigo, insistindo sobre um deles? — Tem que ter
sido outra pessoa, não seria eles, não aqui.

— Sim. — ele concordou. — Você vai me dizer se ver algum deles,


certo?

— Claro. — ela disse, franzindo o cenho. Ela odiava mentir para


Dante. Ele era sua pessoa, mas ele não iria entender isso. Como ele
poderia? Ela mal fazia. — Devemos ir antes de chegarmos tarde para o
jantar.

— Ah sim, é por isso que estou aqui. — disse ele. — Papai


precisava sair da cidade por alguns dias, então será só você e eu.

— Oh?

— Sim, eu tenho planos para este fim de semana, mas eu pensei


que você e eu poderíamos fazer algo esta noite.

~ 98 ~
— Ah, você tem um pouco de liberdade e não há mais ninguém
com quem prefira gastar?

— Claro que existe. — disse ele. — Mas você vai, de qualquer


maneira.

Ela revirou os olhos, empurrando-o enquanto caminhava para o


lado do passageiro de seu carro enquanto ele subiu ao volante.

— Então, aonde você quer ir?

— Não importa para mim. — disse ela.

Ele ergueu as sobrancelhas. — Genna, sem opinião? Eu estou


começando a gostar da nova você.

Ela riu quando ele ligou o carro e girou para fora no tráfego,
correndo pela rua movimentada. — Eu ainda sou a mesma.

— Não, você não é. — disse ele. — Vamos lá, a Genna com quem
eu cresci teria deixado o serviço comunitário agora e forçado a mão do
pai a pagar quem ele precisasse para tirá-la desta confusão. Você tem
aceitado muito bem isso.

— Não é tão ruim. — ela disse, encolhendo os ombros. — Quero


dizer, não é fácil, mas não é como se eu estivesse fazendo trabalho
manual. Estou apenas cozinhando.

— E como está funcionando?

— Terrível. Aparentemente, eu sou uma cozinheira de merda.

— Não me surpreende nem um pouco. — Dante disse, lançando-


lhe um sorriso brincalhão. — Eu sempre disse que você seria uma boa
esposa troféu.

Eles foram jantar em uma churrascaria no Upper Eastside.


Genna tirou a touca e passou os dedos pelo cabelo, tentando fazer-se
um pouco apresentável antes de se juntar ao seu irmão dentro do
restaurante. Ele estava à vontade, recostado na cabine, bebendo um
copo de vinho de cortesia. Assim que Genna deslizou na frente dele, o
garçom se virou para ela. — Vinho, senhorita?

Ela estava prestes a dizer um enfático — inferno sim! — quando


seu irmão pigarreou, afastando o garçom. — Ela tem apenas dezoito
anos, homem.

Genna olhou para Dante quando o garçom se afastou, levando o


álcool junto com ele. — Isso é horrível.

— Você é minha irmã. — disse ele. — É o meu trabalho cuidar de


você.

~ 99 ~
Revirando os olhos, ela bebeu o copo de água gelada, esperando o
garçom voltar. Ela pediu um bife e batata cozida, e flertou com seu
traseiro, tentando sem sucesso convencer o homem a trazer o vinho.
Dante observava com diversão, firmemente bebendo seu próprio álcool,
a provocando.

— Então me diga. — disse ele finalmente. — Como está seu cara?

Ela ficou tensa, o garfo no ar, enquanto seu olhar atravessou a


mesa para o seu irmão. — Que cara?

— Sr. Olhos em fogo. — disse ele. — O que aconteceu com ele?

— Eu, uh... nada. — ela murmurou. — Nada aconteceu.

— Papai disse que seu nome era Matthew ou algo assim? Matt...
ele o chamou de Matty.

Ela piscou algumas vezes, evitando seu olhar. Nada bom. — Err,
sim. Foi, uh... não era o que eu pensava que era.

— Pena. — disse ele. — Mas você sabe, se você quiser que eu te


junte com Umberto...

— Oh meu Deus. — ela disse em voz alta, interrompendo-o. — Se


você tentar, Dante, eu juro, eu vou tornar sua vida um inferno.

— Vamos lá, por que não?

— Eu vou voltar para Jackson antes mesmo de me divertir com a


ideia de namorar o Umberto.

— O que há de errado com o Umberto?

Antes que ela pudesse dar uma resposta e perguntar-lhe o que


estava certo com Umberto, o telefone de Dante tocou. Casualmente, ele
tirou do bolso e olhou para a tela, lançando-lhe um olhar contemplativo
antes de responder. — O que foi, pai?

Dante ouviu seu pai em silêncio por um momento, os olhos


diretamente sobre ela. Genna mostrou a língua para ele quando o
garçom voltou, mais uma vez para encher sua taça de vinho. Idiota. Ele
reprimiu uma gargalhada, sua expressão endireitando enquanto ele se
concentrava de volta na chamada. — Estamos planejando nos mudar
neste fim de semana... eu não acho que nós vamos ter muita
resistência, você sabe, uma vez que é Little Italy... sim, Umberto está
comigo, não é grande. Temos tudo sob controle.

Dante pegou o copo de vinho, provocando e tomando um gole e


teatralmente revirando os olhos como se fosse a melhor coisa que ele já
tinha experimentado. Genna lançou algumas de suas batatas nele, mas
Dante apenas as afastou, concentrando-se na chamada.

~ 100 ~
— Falando neles, eu pensei que eu vi o mais velho hoje... ele está
dirigindo um carro esportivo, você sabe, aquele vermelho extravagante?
Fodido. O quão estúpido ele pode ser? Mesmo Enzo sabe voar sob o
radar, e ele é quase tão idiota quanto eles podem ser.

Genna ficou tensa, olhando para o irmão.

— Bem, a palavra na rua é que Savina está doente. Sim, câncer


ou alguma coisa. Ela está sendo tratada no Presbyterian em
Washington Heights... provavelmente o lugar onde ele estava indo
quando atravessou East Harlem, mas você acha que ele pensaria
melhor e ficaria no oeste.

Genna afastou a comida em seu prato, seu apetite muito longe


enquanto ela absorvia as palavras de seu irmão.

— Sim, dirigimos à direita pelo centro comunitário... Eu não sei


se eles sabem que Genna trabalha lá, mas nós podemos querer pensar
em ter algumas pessoas a observando. Você sabe, apenas por
segurança.

Seu coração caiu em seu estômago quando o garfo bateu no


prato, deslizando de seus dedos. Dante lançou lhe um olhar estranho.

— Eu provavelmente deveria ir. Sim, eu vou mantê-lo atualizado.

Ele desligou, deslizando o telefone de volta para longe enquanto


se concentrava em seu prato. — Você vai ficar bem, você sabe. Vamos
mantê-la segura.

— Eu, uh... Eu não estou com medo. — Não com medo do que ela
precisava ter, de qualquer maneira. — Você não tem que cuidar de
mim.

Dante ficou em silêncio por um momento, cortando seu bife,


antes de simplesmente baixar os talheres e desistir da pretensão de
comer. — Você sabe, aquele dia... o dia...

—O dia? — ele assentiu.

O dia que Joseph Galante perdeu a vida em uma explosão.

— O que tem? — Genna perguntou. Dante raramente falava sobre


isso.

— Eu quase morri naquele dia, Genna.

— Eu sei que você fez. — disse ela calmamente.

— Você sabe por que eu não morri?


Lentamente, ela balançou a cabeça.

~ 101 ~
— Porque eu estava muito ocupado tentando cuidar de você. Eu
não estava no carro com Joey porque eu estava esperando por você.
Então, de certa forma, você salvou minha vida. Cuidar de você salvou
minha vida. Eu tenho feito isso desde que eu era uma criança, e eu não
vou parar de fazer isso agora.

Suspirando, Genna pegou o copo de água e bebeu, tentando


abafar seus sentimentos. Seu estômago estava azedo, um sentimento de
traição amargou dentro dela em fogo brando. — Você acha que Matteo
Barsanti é um problema? Que ele é... mau?

Dante deu de ombros casualmente. — Ele é um Barsanti, não é?

— Sim, eu acho que ele é. — Genna murmurou. — Eu vi uma foto


dele uma vez, em nossa casa.

— Eu sei. — disse Dante. — Papai me disse.

Genna olhou-o estranhamente. — Ele fez?

— Sim. — respondeu ele. — Ele disse que você estava


bisbilhotando as coisas da mãe e encontrou.

— Ele lhe disse que ficou chateado comigo por isso?

— Ele disse que pode ter exagerado um pouco.

— Eu diria que sim! Ele me aterrorizou no meu aniversário.

— Sim, bem, ele estava chateado. Ele não gosta de ser lembrado
que costumávamos nos dar bem com aquelas pessoas.

— E Matteo e Joey... eles eram...?

— Amigos, sim. — disse Dante. — Melhores amigos.

— Mas então... aconteceu naquele dia.

— Sim. — Dante confirmou. — O dia.

O dia que Roberto Barsanti matou o melhor amigo do seu filho.

~ 102 ~
Capitulo Seis
O serviço de jantar tinha acabado de começar, as portas de
entrada do centro comunitário para os visitantes estavam abertas.
Genna ficou em seu lugar na fila, metódica e indiferentemente jogando
bolos pré-esculpidos de carne nas bandejas de plástico antes de
despejar molho grosso sobre ela e enviá-lo pela fila. As pessoas
passavam por lá, algumas falando, a maioria simplesmente se movendo
silenciosamente. Passaram-se apenas alguns minutos quando um
aroma vagamente familiar flutuou ao seu redor, atravessando a barreira
com uma suave brisa.

Sem sequer olhar para cima, um sorriso tocou levemente seus


lábios, seu coração inchando com a emoção desenfreada.

Sentimentos do caralho.

— Que diabos é isso?

Genna olhou lentamente para cima, encontrando o olhar de Matty


enquanto ele parava em frente a ela, no meio da fila. — Bolo de carne.

— Isso, — disse ele, acenando em direção a bandeja. — não é bolo


de carne. Eu comi o chilli, e sofri com o guisado de carne, mas isso?
Isso não é natural.

— Você deveria ter vindo aqui ontem. — disse Genna. — Eu fiz


um inferno de um caldeirão de sopa de milho.

Ele fez uma careta visível. — As pessoas realmente comeram?

— Até o último caldo. — confirmou Genna.

— E eles sobreviveram?

— Sim.

Ele balançou a cabeça enquanto deu um passo para trás para


fora da fila. — Sinto muito, Genna, mas é aqui que eu saio da fila.

Genna franziu a testa. Ela jogou um pouco de carne em uma


bandeja, não querendo segurar a fila, e assistiu, incrédula quando
Matty virou-se e saiu à direita da porta, passando pelas pessoas à
espera para o jantar.

O bastardo saiu.

~ 103 ~
A exaltação que sentira há pouco desapareceu. Suspirando, ela
voltou seu foco de volta para as bandejas, continuamente distribuindo a
comida e enviando-a em seu caminho. É o melhor, disse a si mesma. Ele
não devia estar aqui, de qualquer maneira. Não era seguro.

Sexta-feira. A noite passou agonizantemente lenta. Era quase sete


horas, a comida já tinha acabado para a noite. Não haveria repetição
para ninguém. Eles mal tinham o suficiente para os primeiros. Genna
começou a limpar quando uma garganta clareou atrás dela. Se virando,
seus olhos se arregalaram quando ela voltou a se deparar com Matty. —
Você voltou.

Ele balançou a cabeça, as mãos nos bolsos. Ele olhou com


facilidade.

— Bem, sinto muito por você, mas a comida acabou. — disse ela,
apontando para as panelas e frigideiras vazias. — Nós servimos rápido.

— Eu não vim aqui para comer.

— Então por que você está aqui?

— Você sabe por quê. — ele disse, aproximando-se da bancada


entre eles. — Venha para algum lugar comigo.

Ela abanou a cabeça. — Eu não sei onde é qualquer lugar.

— Eu sei — disse ele.

Ela o olhou com cautela. — Preciso de alguma segurança.

— Você sabe o número para 911, não é? Use-o se você sentir a


necessidade.

— Como eu sei se eu vou ter a chance? — ela perguntou. — E se


for uma armadilha?

— Me dê uma chance. Você acha seriamente que eu faria isso?

— Eu só...

— Ouça-me. — disse ele, interrompendo-a enquanto olhava em


volta para garantir que ninguém estivesse escutando. — Eu entendo.
Você não esperava isso, você não espera que eu fosse quem eu sou, mas
eu também não, Genna. Eu não esperava que você fosse um deles. Mas
você é, e eu sou. É o que é. Eu fiz tudo que eu posso pensar para chegar
a colocar um pouco de confiança em mim, então me diga... o que mais
posso fazer? O que você precisa que eu faça? Porque eu vou fazê-lo, seja
o que for.

— Eu não sei. — ela disse calmamente. — Não é você.

— Você não confia em minha família. — disse ele.

~ 104 ~
— Sim.

— Eu não vou deixar você se machucar. — disse ele. — Se você


está com medo que eu vá chamá-los, que eu vá lhes dizer onde você
está, vamos, pegue o meu celular. Leve-o para que eu não possa
chamar ninguém.

Ele tirou o celular do bolso e o colocou em cima da bancada entre


eles. Genna olhou para o iPhone branco, lentamente alcançando-o
enquanto sua sobrancelha franzia. — Eu pensei que você tinha um
Blackberry.

— Eu tenho. — disse ele. — É o meu telefone de negócios, eu


daria a você, também, mas está no porta-luvas do carro.

Ela pegou o telefone, olhando-o momentaneamente.

— Por que você precisa de dois telefones?

— Se você for comigo, eu lhe direi. — disse ele. — Vamos lá, o que
você tem a perder?

Minha vida, ela pensou, mas essas palavras ficaram presas dentro
dela, bloqueada pelo inchaço no peito, recusando-se a sair de seus
lábios. Não importa o quanto a voz bem treinada de aviso na parte de
trás de sua cabeça gritasse, ela não podia ouvir. Ela não acreditava.

Antes que ela pudesse responder, houve uma comoção na porta.


Ela olhou para aquele lado, logo depois de Matty, e piscou rapidamente
quando um bando de sujeitos em uniformes vermelhos e brancos
entraram, carregando caixas e caixas de pizza. Ela assistiu, atordoada
quando eles começaram a colocá-las em todas as mesas na frente das
pessoas. Chocada, seus olhos se arregalaram enquanto ela lentamente
se voltava para Matty. Ele não se moveu, seu olhar ainda sobre ela, um
sorriso presunçoso puxando seus lábios. — Você...

— Diga alguma coisa. — disse ele. — É realmente de mim que


você tem medo? Você honestamente acha que eu a colocaria em uma
emboscada? Porque eu lhe asseguro, há maneiras muito mais fáceis de
chegar até você, se é isso que eu realmente quero.

Sua atenção voltou para a sala, observando como o bolo foi


deixado de lado, esquecido por um momento, descartados, uma vez que
mergulharam na comida recém entregue. Devia haver pelo menos cem
caixas, algumas ainda chegando. — Você fez isso só para me
impressionar?

— Isso impressiona você? — ele perguntou. — Eu comprar o


jantar para todos exceto você?

Ela se virou para ele, balançando a cabeça lentamente. Ela não


iria admitir isso em voz alta, mas sim, ela estava muito impressionada,
principalmente porque nunca em sua vida ela tinha pensado que um

~ 105 ~
Barsanti seria capaz de ser tão generoso. Embora, uma parte dela não
se surpreendeu, quando ela olhou para Matty. Não tinha sido assim
desde o momento em que se encontraram? Ele tinha lhe comprado uma
abundância de bebidas e seguiu-se com muitos orgasmos.

O menino era um doador, com certeza.

— O lugar que você conhece. — disse ela. — É seguro?

Ele assentiu. — Terreno completamente neutro.

Cuidadosamente, ela desatou o avental e puxou-o fora, jogando-o


de lado. Ela não lhe deu resposta, mas com base na forma como a sua
expressão se iluminou, seus ombros relaxaram, ela sabia que ele
sabia... ela estava cedendo. Cada ponto de negação dentro dela, cada
ponto de resolução, se desintegrou quando ela admitiu a verdade para
si mesma. Ele não a assustava, nem um pouco.

O que a assustava era o modo como ela se sentia por ele.

Sem palavras, ela atravessou o centro comunitário com ele


diretamente nos calcanhares. Sua respiração se encolheu quando ela se
aproximou da porta, sentindo a palma de sua mão apertada em suas
costas. Eles afastaram-se do coordenador, muito sobrecarregado com a
súbita doação anônima do jantar para sequer notar sua retirada ou
despedir-se de Genna. Seu coração bateu violentamente quando ela
envolveu seus braços ao redor de seu peito, a noite grata tinha caído,
esperando que talvez a escuridão escondesse seus pecados.

— Desta forma. — Matty disse, sua respiração fazendo cócegas na


parte de trás do seu pescoço quando ele se inclinou para sussurrar. Ela
estremeceu quando ele deslocou seu corpo, bloqueando o dela de vista
enquanto ele a levou pelo quarteirão para um beco escuro. Assim que
ela entrou na esquina, ela viu a extremidade dianteira do Lotus,
parcialmente escondida. Apertou o botão em suas chaves, destravando-
o, as luzes iluminando o espaço ao redor deles, antes que rugisse a
vida.

— Acionador remoto. — disse Genna, balançando a cabeça.

Matty deu a volta e abriu a porta do passageiro. — É prático.

— É pretensioso. — Ela fez uma pausa, os olhos vigilantes


inspecionando o bairro ocupado, antes de escorregar para dentro.

Não havia dúvidas, não hesitaria, mas Genna sentiu como se não
pudesse respirar quando ele acelerou pela vizinhança, pneus
guinchando enquanto o carro costurava através do tráfego. Ele desligou
o rádio, o baixo mal batendo uma vibração maçante, quando dirigiu
para o norte através de terreno familiar.
— Este território é Galante. — Ela disse, surpresa, quando ele se
dirigiu para Washington Heights. De alguma forma, por algum motivo,

~ 106 ~
ela o esperava para levá-la no meio termo, em algum lugar ao longo das
fronteiras invisíveis onde ninguém tinha certeza de quem controlava o
quê.

Ele soltou uma gargalhada. — Seu pai não é dono do GWB.

Ela observou pelo para-brisa quando ele acelerou através das


ruas, indo direto pela ponte George Washington que levava para fora de
Manhattan, de Nova York.

— Você está me levando para Jersey?

— Sim.

Ela se esticou ligeiramente, deslocando de seu assento enquanto


o carro se fundia no trânsito da ponte, indo para o oeste em New
Jersey. Ela detectou a primeira vez que ouviu sua voz, o sutil sotaque
de Jersey em suas palavras. Foi lá que ele esteve todos aqueles anos em
que desapareceu da sociedade? Ela sabia que seu pai trabalhava com a
família do crime em Nova Jersey, os Brazzis, assim como os Barsantis,
mas nenhum deles exercia nenhum controle ali. Sua rivalidade
permanecia dentro de Nova York. Terreno neutro.

Aparentemente, ele conhecia um lugar.

Assim que atravessaram New Jersey, Matty dirigiu-se para o sul.


Quase uma hora tinha passado antes de eles se aproximarem de um
pequeno bairro suburbano, as casas familiares, modestas e uniformes,
os gramados tão bem cuidados, aspersores regando a grama na
escuridão enquanto luzes sutis iluminavam as áreas circundantes. Ele
estava quieto e tranquilo, ainda assim, a maioria das casas
escureceram por volta das nove horas da noite. Ele dirigiu o carro em
um beco sem saída, balançando na entrada de uma casa branca no
final. Ele acertou um botão no carro, os faróis brilhando sobre a porta
da garagem enquanto ela lentamente se levantava. Uma vez que estava
em cima, ele colocou o Lotus para dentro, fora de vista, e apertou o
botão mais uma vez para que a porta se fechasse.

Matty desligou o motor, mas sentou-se ali, estendendo a mão na


direção do porta luvas. Ele abriu-o, retirando o Blackberry familiar, e
colocou em seu colo. Genna cuidadosamente o pegou, passando os
dedos pela tela arranhada enquanto ele sem palavras saiu do carro.

A casa era singular, apenas um espaço com uma pequena


cozinha e dois quartos abafados. Matty acendeu as luzes da sala de
estar enquanto Genna explorava o resto do lugar por conta própria, sem
esperar por um convite. Um odor sutil parecia agarrar-se a tudo, o ar
velho como poeira flutuando ao redor, agitado acima de seu movimento.
Ela era totalmente equipada com vários tons de marrom, aconchegante,
porém impessoal. Alguém tinha morado na casa, certamente, mas não
era o que Genna chamaria de — casa — de ninguém.

~ 107 ~
— Você morava aqui?— Ela perguntou hesitante, passando a mão
pela bancada de madeira lisa que separa a cozinha da sala de estar, um
pouco de sujeira ficou na ponta dos dedos.

— Uma vez. — Matty disse, espreitando perto da porta da frente


enquanto ele cuidadosamente a observava. — Achei que era mais fácil
mudar de residência para Nova York por um tempo do que viajar todos
os dias.

— Para ver sua mãe?

— Sim. — Ele confirmou, sem vacilo em sua voz. — Então eu me


mudei para o apartamento acima do The Place com meu irmão.

Sua expressão caiu, os ombros tencionando quando essas


palavras a atingiram. — Enzo também mora lá?

— Sim.

Ela balançou a cabeça, olhando para o tapete de pelúcia. Quão


perto ela tinha chegado a ser pega, a ser enlaçado por eles. Ela não
tinha apenas vagado em território inimigo... ela foi direto para sua base,
fazendo-se em casa em seu ninho, como se ela realmente pertencesse
aquele lugar. E a pior parte? A pior parte era que ela quase se sentia
como se pertencesse. Sentia-se segura. Sua guarda tinha caído, um dos
momentos mais vulneráveis de sua vida.

Ela teve sorte de ter conseguido voltar, completamente ilesa.

Fisicamente, de qualquer maneira. Emocionalmente era uma


história completamente diferente, o rescaldo ainda apertava suas
entranhas e manchava sua própria essência.

Lentamente, Matty caminhou até ela, atrás dela. O dorso de sua


mão esfregou contra a pele nua de seu antebraço esquerdo,
acariciando-a, enquanto sua outra mão varreu seu cabelo para trás por
cima do ombro, fora do caminho. Inclinando-se para baixo, ele
gentilmente beijou seu pescoço, enviando arrepios através de seu corpo.
— Você não tem que ter medo.

— Não tenho. — disse ela. Horrorizada era mais parecido, quando


seus olhos se fecharam, as sensações de calor inundando-a. Ela
inclinou a cabeça para o lado, instintivamente dando-lhe mais de si
mesma. — Seu irmão... ele realmente poderia ter me machucado.

Seu braço a rodeou, puxando-a de volta para ele enquanto seus


lábios arrastavam pelo pescoço em direção ao ombro dela, deixando
leves beijos. — Ele não faria isso.

— Como você pode dizer isso?


Ele beijou de volta seu pescoço, seus lábios encontrando sua
orelha. — Porque eu não deixaria.

~ 108 ~
Queria acreditar nele. Deus, como ela queria acreditar que esta
criatura deslumbrante poderia mantê-la segura em vez de ser o
catalisador para sua morte, mas era difícil. Uma noite de paixão não
poderia enxugar uma animosidade de toda a vida. — Eu não tenho
tanta certeza de que você poderia pará-lo.

Matty deixou escapar um barulho de riso enquanto sua boca


deixava sua pele, mas ele não afrouxou seu controle sobre ela. —
Genna, você já conheceu Enzo?

Ela zombou. — Eu sei quem ele é.

— Errnt! — Ele a cortou, o barulho brusco a fez estremecer. —


Não é o que eu perguntei. Eu perguntei se você já o conheceu.

— Claro que não.

— Então como você pode dizer o que ele faria, como você pode
julgá-lo se você nunca falou com ele?

— Ele é um Bar...

— Barsanti, entendi. — Matty afrouxou a mão, virando-a para


encará-lo. — Eu sou também. Sou um Barsanti desde o dia em que
nasci.

Ela revirou os olhos. — Estou bem ciente.

— Mas você confia em mim.

— Não vá tão à frente. — ela murmurou. — Só porque eu estou


com você não significa que eu confio em você ainda.

— Que seja. Tudo o que eu estou dizendo é que talvez você deva
dar-lhe o benefício da dúvida. Eu sei quem é meu irmão, e ele pode não
ser o cara mais cavalheiro quando se trata de mulheres, mas eu nunca
ouvi falar dele ferindo qualquer uma.

— Nenhuma mulher amarrada no porta-malas?

Ele riu. — Não.

— Hã. — Sua respiração se encolheu quando Matty agarrou seus


quadris, seus olhos piscando para seus lábios. — Há uma primeira vez
para tudo.

Ele se inclinou para mais perto, sua expressão repentinamente


sóbria, toda a sugestão de brincadeira se foi. — Confie em mim, Genna.

— Estou tentando. — ela sussurrou.

Seus lábios se encontraram, suavemente, docemente, enquanto a


beijava. Genna envolveu seus braços ao redor de seu pescoço, tremendo
quando ela retribuiu, seus lábios se separando e língua saindo para se

~ 109 ~
mover com a dele. Ela se perdeu em seu abraço, seus braços
firmemente envolvidos em torno dela, segurando-a perto com o aroma
de seu perfume inflamando seus sentidos. Ele se afastou do beijo depois
de um momento, pressionando sua testa na dela. Genna abriu os olhos,
vendo os dele ainda fechados, um olhar sereno abrandando seu rosto
beijado pelo sol. Ela inclinou a cabeça, pressionando um beijo suave e
casto em seu lábio inferior, quando um súbito som alto interrompeu o
silêncio.

Todos os músculos do corpo de Genna ficaram tensos com o som


estranho. — O que é isso?

Matty recuou. — Meu telefone.

Ela arregalou os olhos instintivamente, de apreensão, mas ele


apenas riu de sua expressão e brincando cutucou o queixo.

— Não fique tão aterrorizada. — disse ele. — Você tem isso.

Ela quase tinha esquecido. Deslizando fora de seu alcance, ela


agarrou a bolsa de onde ela tinha deixado ao lado da porta e tirou seu
telefone tocando. Ela olhou para a tela iluminada, o nome curto exibido
de forma proeminente. En.

— Enzo? — ele perguntou indiferente. Ela hesitou antes de acenar


lentamente. En. Enzo. — Não estou surpreso.

Ela o olhou com cautela. — Por quê?

Ele apontou para o relógio. — São quase dez horas.

— Então?

— Então, tecnicamente, eu deveria estar trabalhando. —


Explicou.

— Ele provavelmente ligou para o Blackberry e está se


perguntando por que está desligado.

O olhar de Genna mudou do iPhone tranquilo em sua mão para o


Blackberry deitado no topo de sua bolsa. Antes que ela pudesse dizer
qualquer coisa, o celular começou a tocar novamente. En.

— Você provavelmente quer desligá-lo. — disse ele. — Ele vai


continuar ligando.

Genna olhou para ele por um momento, o dedo pairando sobre o


botão, mas ela hesitou. Com cuidado, ela se aproximou dele, segurando
o telefone. — Aqui.

Matty o pegou, olhando-a peculiarmente quando o telefone parou


de tocar. Em questão de segundos, ele começou a tocar novamente.

— Continue. — Insistiu ela. — Você pode responder.

~ 110 ~
Matty pressionou algo na tela, o toque parando
instantaneamente, mas em vez de levá-lo ao ouvido para falar, ele
desviou o olhar. Ele recusou o telefonema. Genna o observava com
surpresa quando ele o desligou e o colocou sobre o balcão nas
proximidades.

— Trabalho para o meu pai. — disse ele calmamente. — É para


isso que serve o Blackberry, é minha linha direta.

— E você deveria estar trabalhando?

— Sim.

— Agora?

— Sim.

Ela hesitou. — Você não está, certo?

— Não estou O quê?

— Não está trabalhando. — ela esclareceu. — Agora.

Sua expressão se suavizou quando ele se aproximou dela, suas


mãos levemente segurando seus quadris. — Eu não misturo negócios
com prazer, Genna. E você? Bem, você não é um negócio para mim.

— E me dará prazer, então?

Um sorriso tocou seus lábios quando ele a puxou para mais


perto. — Hmm, bem, essa é certamente a maneira que eu me lembro.

O coração de Genna batia forte no peito quando ele se inclinou


para beijá-la. Sua espinha formigou quando uma outra sensação
borbulhou dentro dela: ansiedade. É errado, tão errado, então por que
se parecia tão certo?

Seus lábios nunca deixaram os dela enquanto ele a puxava pela


casa, para um quarto na parte escura de trás com nada além de uma
cama king size. Seus nervos dispararam, esfregando e massageando
enquanto tentava aliviar suas preocupações. Ela era reconhecidamente
longe de ser inexperiente, mas isso era diferente de qualquer coisa que
ela já tinha feito antes.

Ele ficou ocupado trabalhando em suas roupas, cuidadosamente


descartando-as. Ela nervosamente seguiu o seu exemplo, as mãos
trêmulas tentando desabotoar a camisa. Ele afastou as mãos dela
depois de um momento, arrancando-as e jogando-as no chão. A camisa
branca foi retirada logo depois, e a respiração de Genna engatou
quando seus olhos entraram em contato com o peito nu pela primeira
vez. A tinta nos braços estendia-se até os ombros, espalhada ao longo
do peito. Ela o escaneou instintivamente, seu estômago deu um nó
quando viu o rabisco sofisticado sobre seu coração:

~ 111 ~
Barsanti.

Se ao menos ele tivesse tirado a camisa da última vez. Ela


saberia. Ela teria visto. Como ela teria reagido? Ela não conseguia
entender. Estando lá, sabendo o que ela sabia, acreditando no que ela
acreditava, ao vê-lo - um lembrete físico explicitado na sua pele – a
deixava com os joelhos fracos.

Antes que ela pudesse se debruçar sobre ele, Matty tirou o sutiã e
jogou-o no chão. Sua boca capturou seu mamilo, um arrepio correndo
através dela, sua mente ficando em branco, enquanto ele a puxava para
a cama e pairava sobre ela. Ele brincou com sua pele enquanto
descartava o resto de suas roupas, ele estendeu a mão e agarrou um
preservativo na cabeceira. Seu coração bateu duro quando ele se
afastou para colocá-lo, suas mãos nervosamente alcançando para cobrir
seus seios. Modesta, ela não era, mas nervosa? Inferno, porra, sim.

— Relaxe. — ele sussurrou, seu corpo cobrindo o dela enquanto


ele empurrou entre suas coxas, abrindo as pernas. Seus lábios
levemente encontraram seu queixo, beijando o rosto. — Sou só eu.

Isso deveria consolá-la? Ela não tinha certeza. Ela relaxou,


envolvendo os braços em torno dele enquanto fechava os olhos,
antecipando.

O primeiro impulso a deixou sem fôlego. Desta vez ela o pegou,


inalando bruscamente, enquanto ele se afastava. Seus olhos se
abriram, imediatamente encontrando os seus no quarto escuro, vendo o
sorriso pretensioso levantando seus lábios. Seus golpes eram profundos
e duros, mas ele se moveu agonizantemente lento, tomando seu tempo
entre empurrões e saboreando o momento. Suas mãos estavam
plantadas na cama ao lado dela, apoiando-se.

— Parece diferente, não é? — ele perguntou.

— Sim. — ela concordou, repentinamente nauseada quando


admitiu em voz alta. — Eu me sinto um pouco como Julia Roberts.

— Uma Linda Mulher?

— Dormindo com o inimigo

Ele soltou uma risada leve, olhando para ela. — Ah, não é tão
ruim assim.

— Não?

— Quando muito, eu iria com ‘Eu Amo Problemas’. Porque você,


princesa, é, sem dúvida, um problema.

— E o que, você me ama?

~ 112 ~
No momento em que ela disse isso, sua visão borrou, seu coração
estúpido ignorando a noção. Ela esperava um riso zombeteiro, mas ele
apenas sorriu quando mudou de posição, empurrando os joelhos mais
para cima para empurrar ainda mais profundo, mais de seu peso
pressionando sobre ela. Arfando quando ele a encheu, ela envolveu
suas pernas em torno de sua cintura, seus dedos arrastando abaixo em
sua espinha, acariciando suas costas.

Isto continuaria para sempre e mais um dia, mas terminou muito


cedo. Genna e Matty estavam juntos na cama, nada além de um lençol
frágil cobrindo-os. Não disseram uma palavra, suas mãos falando alto
para eles enquanto levemente acariciaram a pele suada. Genna passou
a mão em seu peito enquanto ela estava deitada em seus braços, a
cabeça perto de seu coração, enquanto as pontas dos dedos
desenharam levemente padrões nas costas dela, fazendo cócegas. Ela
lutou contra uma risada, se contorcendo levemente de seu toque
enquanto um formigamento percorria seu corpo inteiro.

— Você quer assistir a um filme ou algo assim? — Perguntou


Matty, sua voz suave, mas aparentemente ampliada no quarto
silencioso. — Eu não tenho muito aqui, mas há alguns DVDs na sala de
estar, sem Julia Roberts, no entanto.

— Ah, nada de Notting Hill?

Ele riu. — Não. Tenho Silent Hill, no entanto.

Ela se encolheu. Um filme de terror? — Vou passar.

Ele continuou a acariciá-la, não fazendo qualquer movimento


para se levantar, e não disse nada mais. Tranquilidade se assentou
sobre Genna enquanto seus olhos vagavam lentamente fechados.

O sono a levou embora.

Alguma coisa a fez acordar muito mais tarde. O espaço ao redor


dela ainda envolto na escuridão, profundo e consumindo tudo. Não
havia nenhuma luz, nenhum relógio, mas ela podia dizer que era o meio
da noite, bem depois da meia-noite, rastejando perto da madrugada,
com a forma como a escuridão parecia agarrar-se a tudo, inflexível e
fria. Genna sentou-se na cama, envolvendo o lençol ao redor de si
enquanto olhava ao redor.

Estava sozinha.

Levantando-se, ela encontrou a calcinha e vestiu-a antes de pegar


a camisa branca de Matty e vestir também, abotoando-a o suficiente
para cobri-la. O resto de suas roupas tinham desaparecido, ela notou.

Lentamente, ela caminhou até a porta quando ouviu sua voz na


casa, firme com uma ponta dura, embora falasse baixo, como se não

~ 113 ~
quisesse ser ouvido. Olhando para fora, ela o viu em uma mesa com
uma lâmpada fraca iluminando em torno dele.

— Não, não... Eu tenho... Eu estou trabalhando nisso enquanto


falamos.

Genna apertou o peito. Trabalhando em quê?

— Sim, eu tenho certeza... não se preocupe, está resolvido.

Genna deu um passo para trás, de volta para as sombras do


quarto e esforçando-se para ouvi-lo.

— Sim, vai ser feito esta noite. Eu vou deixar você saber quando
eu terminar.

Esta noite? Terminar com o quê?

Matty soltou um gemido irritado. — Sim, estou com ela agora...


nem mesmo comece, En. Eu lhe disse - eu não estou falando com você
sobre o que eu faço com o meu pau, por isso nem sequer peça mais
detalhes.

Genna inalou bruscamente. Oh Deus.

— Olha, eu tenho que ir, eu estarei em contato.

Matty soltou um profundo suspiro e silenciosamente murmurou


para si mesmo antes de erguer a voz mais uma vez. — Você pode vir
agora, princesa. Eu sei que você está acordada.

Respirando fundo, tentando acalmar seu coração frenético,


Genna saiu do quarto, mas não fez qualquer movimento para se
aproximar dele. Ele não olhou para ela, sua atenção em um pequeno
caderno na frente dele enquanto ele batia um lápis contra a mesa.

Quando ela não se aproximou, ele levantou os olhos para ela,


erguendo uma sobrancelha. — Algo errado?

— Você é, uh... — Sua voz tremeu, apesar de suas tentativas para


estabilizá-la. — Você está trabalhando?

— Sim.

Seu estômago revirou-se. — Sim?

— Sim. — Ele disse de novo, jogando o lápis para baixo tão forte
que saltou da mesa e bateu no chão. — Tentando, de qualquer maneira,
só não nessa noite.

— O que é isso?

Ele a olhou por um momento, sua expressão amolecida. —


Quanto você ouviu, Genna?

~ 114 ~
— Chega. Você disse a seu irmão que você tinha tudo resolvido
esta noite, então você falou de mim... que você estava comigo.

— Isso é o que você acha que ouviu?

— Não, é exatamente o que eu ouvi.

— Errado. — disse ele, estendendo a mão para pegar o lápis


novamente, usando-o para apontar para ela. — Eu nunca disse o seu
nome. Ele sabe que estou com uma garota, minha garota, mas ele não
tem a menor ideia de quem ela é.

— Ele não tem?

— Não. — ele disse. — Mata ele, também, não saber com quem
estou namorando.

— Namorando? — Genna disse. — É isso que estamos fazendo?

— Você tem outra palavra para isso?

Não, ela não tinha, embora não estivessem realmente namorando.


Não podiam, realmente. Poderiam?

— De qualquer forma, desde que eu negligenciei meu trabalho


antes, eu tive que sair da cama e tentar lidar com isso... isso, os livros.
— disse ele, apontando para o seu caderno.

Hesitante, Genna se aproximou dele, vendo os elaborados


problemas de matemática trabalhados nas margens das páginas,
respostas circundadas enquanto outras eram rabiscadas. Ela parou ao
lado de sua cadeira, olhando para ele. Os livros. Ele era um apostador?
— Isso é o que você faz?

— Sim. — Ele suspirou, olhando para o caderno, rabiscando mais


algumas coisas antes de rasgar uma página cheia de nomes e números.
— Eu gasto meus dias fazendo estatísticas matemáticas.

— Então, você é como um gangster nerd.

Ele riu, agarrando-a pela cintura. Ela gritou quando ele a puxou
para baixo em seu colo. Inclinando-se para ela, ele beijou a pele exposta
de seu peito perto do pico de seus seios. — Você poderia dizer isso.

— Huh. — ela disse. — Fascinante. Onde é que o grau de


comunicação entra?

— Hmm, bem... eu tenho habilidades decentes, e orais.

Genna corou com isso. — Eu não saberia.

— Você não saberia, você faria? — Ele disse. — Eu vou ter que me
lembrar de mostrar na próxima vez.

~ 115 ~
— Próxima vez?

— Sim. Eu ia mostrar a você agora, mas, bem... — Ele levantou o


papel que ele tinha rasgado do caderno. — Meu irmão está esperando
por isso, e é melhor eu ir até ele do que ele tentar me encontrar.

— Entendido. — disse ela, levantando-se de seu colo, triste pela


perda de seu toque no momento em que ela estava longe dele. Cara, ela
estava mal. — Vou me vestir.

Ela colocou as roupas rapidamente, encontrando-o de volta na


sala de estar, enquanto ela calçava seus sapatos. Matty agarrou suas
chaves, e os dois partiram para seu carro.

— Eu posso deixá-la em sua casa no meu caminho. — disse ele,


olhando no espelho retrovisor enquanto a porta da garagem abria.

Ela olhou para ele com incredulidade. — Você está louco?

— Possivelmente. — disse ele, sorrindo enquanto saia, parando


para fechar a porta da garagem novamente, antes de descer a rua. —
Louco por você, de qualquer maneira.

— Sim, bem, você tem que certificar-se se sequer pensar em ir


para minha casa. — disse ela. — Meu pai iria matá-lo.

— Seu pai está fora da cidade. — disse ele. — Ele está em


Connecticut. E seu irmão, bem... a palavra é que ele tem uma garota
em Little Italy e vai passar o fim de semana com ela.

Ela ficou boquiaberta. — Como você...?

— Me dê algum crédito aqui, Genna. — ele respondeu. — Sei em


que estou me metendo.

Sacudindo a cabeça, ela olhou para longe dele e viu o relógio no


painel. Eram quase três da manhã. — Você não é tão bom quanto você
pensa que é. Meu irmão viu você.

— Em East Harlem?

— Sim.

— Imaginei. — murmurou Matty. — Eu o vi parado ali, então eu


segui em frente, nem pensei em verificar onde ele estava antes de
passar por lá.

— Sua mãe estava no hospital. — Genna disse calmamente,


recordando a conversa que Dante teve com o pai.

— Como você...? — Ele começou a rir secamente enquanto


cortava, balançando a cabeça. — Eu acho que nós não somos os únicos
que mantêm as pontas do outro lado.

~ 116 ~
— Claro que não. Mas você parece desconcertá-los.

— Por quê? — ela hesitou, o silêncio envolveu o carro. O rádio


estava desligado, o ar tão quieto que Genna podia ouvir cada uma de
suas respirações trêmulas. — Eles não conseguem entender por que
você está aqui.

— Você não disse a eles por quê?

Ela zombou. — Nunca.

— Porque você não quer que eles saibam sobre nós?

Ela olhou para ele na escuridão, surpreendida por seu tom sério.
— Eu só não quero dar a meu pai uma razão para matá-lo.

Ele riu secamente. — Seu pai não precisa de uma razão. Ele ia
tentar me matar apenas por existir.

— Ele não faria isso.

— Ele faria. — Matty disse, uma pontada dura em sua voz. — Já


tentou, princesa, certamente não é novidade.

Seu tom zombador arrepiou o cabelo em sua nuca. — Quando?

Ele balançou a cabeça, lançando um olhar para ela. — Não agora.

— Então quando?

— Só... em alguma outra hora. — disse ele. — Eu prefiro não


entrar nisso agora. Mas, acredite em mim quando eu digo que eu não
tenho medo de seu pai. Não há nada que ele pudesse me fazer que já
não tenha tentado... tentou, e falhou, e sempre falhará.

Genna olhou para longe dele, para fora da janela, e não disse
mais nada enquanto se dirigiam de volta através de Manhattan. Matty
dirigiu direto para Westchester County, direto para a casa sem que ela
tivesse que oferecer um endereço ou qualquer tipo de direções. Ela não
ficou surpresa, não realmente, mas ainda enervava que ele sabia
exatamente onde encontrá-la em todos os momentos.

Ele entrou diretamente pela porta da frente e colocou o carro no


parque, agarrando seu braço para detê-la quando ela tentou sair. Ele a
puxou para ele e suavemente beijou seus lábios.

— Obrigado. — ele disse calmamente.

— Por?

— Por confiar em mim, mesmo tendo dúvidas em confiar.

Ela hesitou, olhando para ele, para sua casa e depois para ele de
novo. — Você me trouxe para casa em segurança.

~ 117 ~
— Sim.

— Você disse que sim.

— Eu fiz.

— Acho que isso significa que eu não tenho nenhuma razão para
não confiar em você agora.

Ele sorriu suavemente, soltando seu braço. — Isso significa que


você decidiu que me quer? Porque você ainda não me ligou como eu
disse.

Ela revirou os olhos. — Isso é porque eu excluí seu número.

— Sério?

Ela puxou o telefone, rindo para si mesma. — Sim.

Sem palavras, Matty estendeu a mão e agarrou o telefone, mais


uma vez digitando seu número nele, antes de entregá-lo de volta para
ela. — Não o apague desta vez.

Ela sorriu brincando, agitando o telefone para ele enquanto saia


do carro. — Não faço promessas.

~ 118 ~
Capitulo Sete
La Traviata. A canção para beber.

A música ecoou pela sala de jantar, tão suave que os outros não
pareciam percebê-la, mas Matty podia ouvir. Mais e mais, novamente e
novamente.

Era a música favorita de seu pai.

A ópera favorita de seu pai.

Estalando os nervos de Matty.

Sentou-se à mesa, empurrando a comida em seu prato, sem


nenhuma fome. Ele não estava certo por que concordou com esta farsa
de jantar em família.

Provavelmente porque foi sua mãe que o pediu para vir.

Sua mãe, que estava sentada em frente a ele, sorria alegremente


enquanto jantava, seu olhar vagando entre todos eles. Matty sorriu
quando ela olhou para ele, grato em ver adoração em sua expressão.
Ela o amava. Sabia e acreditava nisso.

Não conseguia imaginar a vida sem ela, mas sabia que isso iria
acontecer — mais cedo ou mais tarde. Podia ver como ela já estava
cansada.

Matty empurrou um pouco mais a comida de seu prato, dando


algumas mordidas, quando a música começou a tocar novamente.
Suspirando, ele deixou cair o garfo e sentou-se reto em sua cadeira
enquanto o som do telefone ecoava pela sala vindo do seu bolso.
Puxando-o, ele olhou para a tela para ver uma nova mensagem de texto
de um número desconhecido... que ele facilmente reconheceu pertencer
a Genna.

Então, eu estive pensando...

Ele digitou rapidamente por baixo da mesa, segurando o telefone


perto de seu colo. — Sobre o quê?

Antes que ele pudesse afastar seu telefone, apitou com outra
mensagem. — Sobre essas habilidades orais que você estava
supostamente certificando.

~ 119 ~
Ele respondeu imediatamente. — Certificando? Princesa,
praticamente tenho um PhD.

— Tudo agora gira em torno de mensagens de texto e tecnologia.


— resmungou Roberto.

Matty ignorou seu pai, escrevendo a Genna novamente antes que


ela pudesse responder a sua última mensagem. — Então eu estive
pensando também...

— É o que está prejudicando as famílias, você sabe. — Roberto


continuou. — Está destruindo a sociedade. Crianças hoje em dia nem
conseguem jantar sem seus telefones.

Suspirando exasperado, sabendo que o homem não iria deixá-lo


em paz, Matty começou a guardar seu telefone quando apitou de novo
com outra mensagem. Foda-se. Descartando o gemido desenfreado de
irritação de seu pai, Matty olhou para a mensagem e sorriu.

Sobre minhas habilidades orais? ;)

Não. — ele respondeu. — Eu estava pensando em um


encontro... embora, agora eu esteja pensando sobre isso também.

— O que está fazendo você sorrir, Sugar Cube?

Matty afastou o telefone e olhou para sua mãe, vendo seu olhar
de curiosidade. Antes que ele pudesse responder, no entanto, Enzo
entrou na conversa.

— Deve ser sua garota de novo.

— Sua garota? — Seus pais disseram ao mesmo tempo.

— Sim. — disse Enzo. — Ela o fez iluminar como a porra do


quatro de julho por semanas.

— En, olha a linguagem. — Sua mãe repreendeu antes de voltar


seu foco de volta para Matty. — Portanto, esta garota...

— Mãe. — Advertiu ele. — Por favor.

— Oh, tudo bem. — Ela acenou com ele. — Eu estava apenas


sendo intrometida.

— Não, eu gostaria de ouvir sobre essa garota. — disse Roberto.


— Ela tem um nome?

— Sim. — disse Matty. — Todo mundo tem, na última vez que


verifiquei.

Os olhos de Roberto estreitaram com seu sarcasmo antes de se


virar para Enzo. — Enzo?

~ 120 ~
— Não me pergunte. — Enzo disse, levantando suas mãos
defensivamente. — Ele não me contará a merda.

— En!

— Linguagem, eu sei. — resmungou ele. — Desculpe mãe, mas é


verdade, eu acho que ele tem vergonha dela, certo?

— Hã. — Roberto olhou para Matty de novo, o juízo claro em seus


olhos enquanto o olhava friamente. — Ou então ele tem vergonha de
nós.

— Já basta. — disse a mãe, a felicidade desaparecendo de sua


expressão. — Não esta noite, amigos.

— Desculpas, Savina. — disse Roberto, empurrando a cadeira


para trás e levantando-se. — Nós temos algum trabalho para atender,
de qualquer maneira. O jantar foi lindo, querida. Enzo?

— Bem atrás de você. — disse Enzo, já de pé. Os dois fizeram


uma saída rápida para o escritório de Roberto, enquanto Matty apenas
ficou lá, seu olhar se mudou para o de sua mãe depois de um momento,
vendo a curiosidade de volta em seus olhos.

— Entre você e eu. — ela disse calmamente. — De quem você está


envergonhado?

— Ninguém.

— Então, o que é?

Ele suspirou, respondendo em silêncio. Tenho medo de que todos


vão se envergonhar de mim.

Ela olhou para ele, sua expressão amolecida. — Não vou te


perguntar mais, não vou fazer isso com você, só quero que você seja
feliz, Matty.

Isso era tudo o que ela sempre quis — a sua felicidade. Mas e a
dela?

Antes que pudesse pensar nisso, seu telefone voltou a apitar.


Puxou-o do bolso, olhando para a tela.

Como um real, encontro ao vivo?

Alguns segundos depois, outra mensagem chegou. — Comigo?

— O nome dela é Genna. — ele disse baixinho, sacudindo a


cabeça. Apenas ela.

— Genna. — ela repetiu. — É a mesma garota de quem falamos


antes, a que você pensou que perderia porque é uma Barsanti?

~ 121 ~
— Sim.

Demorou um momento, mas um sorriso suave tocou seus lábios


quando ela disse o nome novamente. — Genna.

— Não fique sonhando. — Avisou-a, vendo aquele olhar em seu


rosto, o mesmo olhar sonhador que ela teve da última vez, aquele onde
dizia que ela já estava imaginando netos.

— Genna Barsanti tem um bom anel para ela. — ela disse,


ignorando-o. — Sempre cumprimentei Cara por esse nome.

— Cara?

— Sim, minha velha amiga Cara Galante, sua filha, Genevieve...


às vezes a chamavam de Genna.

Matty olhou fixamente para sua mãe, vendo o cintilar de


conhecimento em seus olhos. Ela não era estúpida, nem um pouco.

— Eu, uh... eu deveria ir. — disse ele, levantando-se e andando


para o outro lado da mesa para beijar o rosto de sua mãe. — Obrigado
pelo jantar.

— A qualquer momento, talvez você traga Genna na próxima vez.

— Eu não contaria com isso, mãe.

Não enquanto meu pai estiver por perto.

— Eu vou te buscar.

— Você não pode. — Genna sussurrou ao telefone enquanto ela


caminhou em seu armário e arrancou seu favorito par de sapatos pretos
de seu lugar na prateleira.

— Eles estão aqui.

— Ah, certo.

— Que tal eu encontrar você em algum lugar?

— Onde?

— Não sei, onde você está?

— The Place.

— É seguro para mim ir até aí?

~ 122 ~
— Uh, claro.

Ela suspirou, sentando-se na cama e segurando o telefone na


curva de seu pescoço enquanto deslizava em seus sapatos.

— Você não parece muito segura.

— Bem, é o Soho. Quão seguro é para você?

Verdade. — Que tal se eu... — Uma batida na porta a


interrompeu no meio da frase. — Eu vou chamá-lo de volta.

Ela desligou, jogando o telefone na cama quando a porta foi


aberta. Levantando-se, passou os dedos pelos cabelos ondulados,
afrouxando alguns dos cachos, enquanto Dante entrava.

— Hey. — ela disse casualmente, olhando para ele em seu


caminho para o banheiro. — Precisa de algo?

— Nah. — ele disse, seguindo-a, parando na entrada enquanto ela


pegava um spray de cabelo e cobria seu cabelo. — Ouvi que você estava
saindo.

Ela atirou os olhos para ele. — Então?

— Então, eu estava apenas sendo intrometido como o inferno. —


Admitiu ele, olhando-a peculiar.

— Você não está saindo desde, você sabe...

— Desde que fui presa. — disse ela. — Faz um tempo, hein?

— Faz. Eu estava começando a me preocupar que você realmente


fosse desistir da vida.

— Claro que não. — disse ela, agarrando seu gloss e colocando


uma camada sobre os lábios antes de virar para encará-lo. — Por quê?

Ele encolheu um ombro quando e se virou percorrendo seu


quarto, mexendo com as coisas enquanto se ocupava com
despreocupação.

— Oh Deus. — Ela gemeu, desligando a luz banheiro atrás de


Dante. — Não, Dante, por favor, diga-me que ele não lhe ordenou que
me seguisse esta noite.

Ele lhe lançou um olhar de lado, suspirando, enquanto folheava


um livro em sua mesa. — Você sabe como é.

— Isso é ridículo! — ela disse, levantando as mãos em frustração.


— Não tenho doze anos, você sabe, sou uma adulta, não preciso de
babá.

— Vou levá-la para onde está indo.

~ 123 ~
— E o que, esperar no estacionamento? — ela perguntou
incrédula. — Esconder–se no canto do restaurante? Sentar-se duas
fileiras atrás de mim no cinema?

— É isso que você está fazendo, jantar e um filme?

— Isso importa?

Ele começou a responder, mas ela o cortou antes que pudesse


tirar alguma coisa, porque sim... importa. Ambos sabiam disso.
Importava ao pai.

— Isso não é justo. — ela disse, olhando para seu irmão, embora
soubesse que não era culpa dele. — De jeito nenhum.

— É o preço que você paga por ser uma de nós.

Ela balançou a cabeça. É o preço que eu pago por parecer como


minha mãe.

— Olhe, deixe-me leva-la. — disse ele. — Eu tenho algumas coisas


para fazer esta noite, prometo que não vou me esconder, vou te deixar e
seguir meu caminho.

Ela hesitou. — Você promete?

Ele ergueu os dedos. — Palavra de escoteiro.

— Tudo bem. — ela disse, pegando sua bolsa e soltando a


primeira coisa que apareceu em sua mente. — Vou encontrar alguns
amigos no Harlem.

— Que amigos?

Ela atirou espadas para ele. — Eu concedi a carona, Dante, mas


não um interrogatório.

Ele soltou um riso, puxando as chaves do bolso. — Eu estava


apenas sendo intrometido. Na verdade, todo o tempo.

Genna desceu as escadas, passando rapidamente pelo escritório


do pai para dizer adeus. Entrou, a direita após um de seus associados,
os dois homens abruptamente pararam de falar assim que ela apareceu.
Suspirando, Genna beijou a bochecha de seu pai e se afastou enquanto
ele a olhava, avaliando-a claramente. — Esse vestido é meio curto, não
é querida?

Ela revirou os olhos, sem lhe dar uma resposta. Era vermelho
sangue e caiu quase até a ponta dos dedos, uma camada de rendas de
manga comprida que cobria a parte superior do tubo vestido colante.
Curto, talvez, mas era um inferno de muito mais modesto do que a
maioria pendurado em seu armário.

~ 124 ~
— Estou saindo, pai. — Dante gritou da soleira da porta, onde ele
esperou por ela. — Voltarei mais tarde.

— Dê a sua irmã uma carona, você vai? — Primo perguntou, sua


voz era casual, embora Genna o fitasse. Era um ato, ela sabia. Isso
tinha sido arranjado horas atrás, e não havia dúvidas. Era uma ordem.

— Já tratei sobre isso. — disse Dante, acenando quando ele fez


sinal para Genna ir à frente dele. Ela se dirigiu para fora, seu irmão
bem atrás dela. Ambos subiram em seu carro, e ele ergueu as
sobrancelhas enquanto ela apertava seu cinto de segurança no lugar. —
Para onde?

— Eu lhe disse – Harlem.

— Onde no Harlem?

— Você sabe onde Jackson mora?

A expressão de Dante caiu. — Genna...

— Há uma pizzaria do outro lado da rua. — ela disse, acenando


para fora de seu olhar preocupado. — Deixe-me lá.

Havia também uma estação de trem a menos de uma quadra de


distância.

Dante ficou em silêncio durante a viagem, dirigindo direto para


onde ela pedira, sem fazer perguntas. Não foi até que chegaram à
pizzaria e Dante parou ao longo da calçada que ele falou. — Realmente,
irmã? Você pode ter alguém muito melhor do que este perdedor.

— Quem?

— Jackson.

Ela lhe lançou um sorriso. — Quem disse que eu estava me


encontrando com Jackson?

Os olhos de Dante atravessaram a rua, onde Jackson morava,


antes de balançar a cabeça. — Apenas tome cuidado, ok? Não roube
nenhum carro.

— Não vou.

— E me chame. Se precisar de uma carona... se você precisar de


qualquer coisa... só me chame. Ok? Deveria manter um olho em você a
noite toda, mas bem... Eu não quero fazê-lo mais do que você quer.
Então, basta manter o seu traseiro fora de problemas, e vai me manter
longe de problemas.
— Prometo. — ela disse, realmente significando isso. — Não
haverá nenhum problema esta noite.

~ 125 ~
— Bom. Divirta-se.

Genna saiu do carro e entrou na pizzaria, sentando-se


imediatamente na primeira cabine vazia ao longo da janela. Ela sentou-
se ali, observando do lado de fora quando o carro do seu irmão seguiu
para o tráfego.

Depois de lentamente contar até cem em sua cabeça, ela se


levantou e caminhou de volta para fora, indo direto para a parada de
trem a menos de um quarteirão de distância.

Trinta minutos depois, Genna saiu para Soho, a duas quadras do


seu destino. Mantendo a cabeça baixa, rapidamente navegou pelas
ruas, indo para The Place, enquanto puxava o telefone e discava o
número de Matty. Tocou, tocou e tocou ao ver o sinal desbotado do bar
de esporte. Ela diminuiu e se aproximou dele, hesitando na esquina
perto da garagem.

— Olá? — ele respondeu, sua voz guardada, quando ela estava


prestes a desligar.

— Hey. — ela disse, seus olhos correndo ao redor do bairro,


enquanto ela se esquivou passando o bar e pegou a outra porta,
escorregando na escada que leva para o apartamento no andar de cima.

— Pensei que você tinha me esquecido. — ele respondeu.

— Claro que não. — disse ela. — Só tive um pouco de um


problema em ficar longe de meu irmão. Onde você está?

— No The Place.

— Dentro dele ou acima dele?

— Em cima. — disse ele. — Por que, onde você está?

— Em sua escada.

Assim que essas palavras saíram de seus lábios, ela ouviu passos
no andar de cima, a porta se abrindo. Matty apareceu na porta, telefone
no ouvido, um sorriso iluminando seu rosto quando ele a viu. Genna
estava ali, na parte inferior da escada, olhando para ele. Usava a
mesma coisa que usara no dia em que colocou os olhos nele, exceto em
tons impressionantes de cinza e preto desta vez, em vez do bronzeado
quente, branco e brilhante. Ele parecia escuro, elegante, e francamente
perigoso.

Ele encerrou a ligação, deslizando o telefone do bolso, enquanto


fechava a porta silenciosamente atrás dele e se dirigia para ela. Seu
olhar percorreu seu corpo, varrendo o comprimento de sua forma,
enquanto ele parou bem na frente dela.

~ 126 ~
— Bem, bem. — disse, estendendo a mão e agarrando seus
quadris, as mãos parecendo encontrar instintivamente a curva de seu
traseiro quando a puxou em direção a ele. — Você parece boa o
suficiente para comer.

Calor superou as bochechas de Genna quando ela colocou os


braços em volta do pescoço, olho no olho por intermédio dos seus
saltos. Ela não conseguia parar o rubor que descia para seu pescoço e
engolia seu corpo em formigamento. — Obrigada.

— Estou falando sério. — disse ele, sua voz rouca não traindo
suas palavras. — Eu quero arrastá-la para cima e tirar esse vestido
agora. — Inclinando-se, ele beijou seu pescoço, beliscando a pele perto
de seu ombro. — Com meus dentes.

Ela estremeceu, seus olhos fechando brevemente com a sensação.


— Por que você não faz, então?

— Porque eu prometi-lhe um encontro. — disse, afastando para


trás para olhar para ela de novo, sorrindo suavemente enquanto
cutucou seu queixo. — Além disso, meu irmão está em casa.

Sua expressão caiu lentamente, seus olhos vagando por ele em


direção à porta fechada.

— Não se preocupe. — Matty disse tranquilamente quando deixou


cair os braços em volta dele. — Ele está desmaiado, provavelmente não
levantará até que o sol se ponha.

Ele pegou a mão dela, unindo os dedos, e o coração de Genna


disparou em seu peito com a sensação. Matty apertou a mão dela
quando ele a puxou para a porta, abrindo-a ao redor antes de levá-la
para fora. Eles atravessaram o The Place, ao virar na esquina e para a
garagem. Genna manteve a cabeça baixa, o olhar afastado, quando
Matty casualmente cumprimentou o funcionário do estacionamento
perto de seu carro. Puxando as chaves, apertou os botões para
desbloqueá-lo e iniciar o motor.

Ela entrou no carro, de repente, estranhamente, nervosa. Por


quê? Enxugou suas palmas suadas ao longo de suas coxas quando ela
respirou fundo para se estabilizar quando Matty entrou atrás do
volante.

— Você está bem?— ele perguntou quando levou o carro para o


trânsito.

— Sim, só, uh... — ela balançou a cabeça. — Eu acho que


estamos namorando agora, hein?

Ele sorriu suavemente. — Acho que sim.


Não havia dúvida de onde eles estavam indo, nenhuma surpresa
quando ele se dirigia para o norte. Genna relaxou um pouco no banco

~ 127 ~
do passageiro, olhando para fora da janela do lado quando eles
aceleraram ao longo do GWB, e riu quando passaram em New Jersey.

— O que é tão engraçado? — perguntou Matty, lançando lhe um


rápido olhar.

— É uma espécie de fodido que temos de atravessar tantas coisas


até esse encontro, não é?

— Podia ser pior.

— Como? — ela perguntou, levantando uma sobrancelha para ele.


— Sério, eu quero saber.

— Bem, nós poderíamos ter de deixar o país.

— Isso poderia ser melhor. — ela murmurou.

— Nesse caso, estaríamos longe... longe deles.

— Qual deles?

— Todos eles. — disse ela. — Todos eles, os Barsantis e os


Galantes.

— Você deixaria sua família?

Ela hesitou, ponderando sua pergunta. O silêncio era tão


penetrante que tudo o que ela podia ouvir por um momento era o
batimento de seu próprio coração batendo em seus ouvidos. — Eu
sentiria falta do meu irmão, mas sim... eu gostaria. Honestamente,
Dante teria muito menos trabalho sem ter que estar constantemente
cuidando de mim.

— Hã.

— O quê? — ela o olhou com cautela. — Você iria?

Ao contrário dela, ele não hesitou.

— Eu não posso deixar a minha família, Genna... não quando eles


já me deixaram há muito tempo.

Ela o olhou por um momento antes de chegar mais perto e


agarrar sua mão sobre a alavanca de câmbio, entrelaçando seus dedos
nos dele. Seus olhos deixaram a estrada momentaneamente, distraídos,
quando se acomodaram onde estavam conectados.

Embora ela tenha se perguntado, não obstante queira nada mais


do que ouvir sua história, ouvir seu lado de tudo, saber o que ele sabia,
ver o que ele viu quando recuou e observou tudo, não disse uma
palavra pelo resto do caminho, deixando o silêncio mais uma vez
submergir no carro. Matty dirigiu através de Jersey, em direção a sua
antiga casa, mas entrou em uma área comercial de minério, dirigindo

~ 128 ~
para uma churrascaria. Estacionou o carro, e Genna começou a puxar
a mão dela, mas ele segurou-a firmemente e a puxou para ele,
pressionando um beijo suave no dorso de sua mão antes de finalmente
a soltar.

A churrascaria estava ocupada, dezenas de pessoas em torno da


porta, pacientemente à espera de mesas. Genna suspirou, olhando em
volta, procurando um lugar para sentar, quando a anfitriã olhou de
relance, tomando nota da presença deles. Algo piscou em seus olhos,
algo semelhante ao reconhecimento.

O estômago de Genna afundou. Ah, não.

— Sr. Brazzi! — disse a anfitriã, sorrindo. — Apenas um?

— Dois. — Matty disse, devolvendo seu sorriso quando ele fez um


gesto para Genna. — Tenho uma convidada.

— Maravilhoso. — disse a senhora, pegando dois menus. — Me


sigam.

Genna lançou olhares apologéticos ás pessoas em espera, que


pareceram não muito felizes que eles passaram à frente na fila. A
anfitriã os conduziu a uma mesa no fundo, e Genna deslizou em uma
cadeira em frente a Matty.

— Brazzi? — ela perguntou incrédula quando foram deixados


sozinhos.

— O que tem? — ele sorriu, abrindo o cardápio, mas nem sequer


olhou para ele. — É o nome de solteira da minha mãe, Savina Brazzi.

— Ah!

— Eu só assumo o último nome fora daqui. Ajuda a manter, você


sabe, certas pessoas de me encontrar.

— Certas pessoas, como quem...?

Matty não respondeu, mas sua expressão foi resposta o suficiente


para ela.

Os Galantes.

— Eu ainda quero ouvir essa história. — ela disse, seguindo sua


liderança e abrindo o cardápio.

— Que história?

— A história sobre o que meu pai fez com você.

— Não esta noite. — ele murmurou. — Tenho planos para você,


então manter o lixo afastado não falando sobre sua família é um
mínimo.

~ 129 ~
— Planos, hein?

Ele assentiu enquanto o garçom se aproximou com vinho e sem


palavras derramou um pouco em ambos os copos antes de colocar a
garrafa sobre a mesa para eles. Matty sorriu quando o homem se
afastou. — Como estava dizendo? Dar vinho a você, jantar com você,
fazer um 69 com você?

Genna corou com as notas roucas em sua voz, o som arenoso


parecendo deslizar ao longo de sua pele e fazer os pelos se arrepiarem
quando soltou uma respiração instável, incapaz de conter o sorriso que
esboçou de seus lábios. — Isso está certo?

— A menos que, claro, não esteja planejando sair desse vestido


mais tarde. — ele disse, seu olhar queimando nela mais uma vez, como
se estivesse bebendo sua alma.

— Bem, uh. — ela disse, olhando para si mesma. — Gosto deste


vestido, posso querer mantê-lo.

— Hã. — Matty olhou para longe dela, seu olhar voltou para o
cardápio. — Nesse caso, peça algo barato.

Genna empurrou sua perna sob a mesa para chutá-lo quando ele
riu. Antes que pudesse pensar em algo espirituoso para dizer, o garçom
aproximou-se de sua mesa novamente. — Vocês estão prontos para
pedir, ou precisam de um pouco mais tempo?

— Estou pronto. — disse Matty, fechando novamente o cardápio e


dobrando as mãos em cima da mesa. — Genna?

— Eu, uh...

Não tinha sequer olhado para ele ainda, e com a forma como
Matty estava a perturbando com um simples olhar, não tinha certeza se
iria olhá-lo de volta. E a forma como ele respirou seu nome, enfatizando
o 'a' no final, o ligeiro sotaque de Jersey em sua voz acentuada, quase
fez seus dedos do pé enrolarem. — Eu irei querer o... — ela espiou para
baixo no menu, nomeando a primeira coisa que viu. —... Lombo
Clássico. Bem passado.

— Que tamanho? — perguntou o garçom, anotando.

— Uh... grande. — disse ela, fechando o menu. — O tamanho


grande.

Uma risada irrompeu dos seus lábios, Matty soltou um latido


agudo do riso estrangulado que ele tinha claramente se esforçado para
conter. O garçom ficou imóvel, seu olhar surpreso piscando para ela
brevemente, antes de balançar a cabeça e finalmente anotar algo.
— O quê? — Genna perguntou, olhando para Matty
curiosamente. Que diabos era tão engraçado?

~ 130 ~
— Tamanho grande, hein? — Matty pegou sua taça e fez um gesto
em sua direção com ela. — Talvez pudéssemos ter ignorado a parte do
plano que engloba o vinho. Talvez já esteja bom para ir.

Isso quebrou a séria fachada do garçom quando ele riu. Genna


abriu a boca para lhe perguntar o que diabos ele estava falando, mas
congelou quando entendeu: tamanho grande. Mortificada, ela cobriu o
rosto. Oh, Deus.

O garçom limpou a garganta. — E para você, senhor?

— Eu vou querer o mesmo. — disse Matty, pegando seu menu e o


dela e entregando de volta para o garçom. — O bife a cavalo grande, no
entanto.

— Eu vou ter tudo arranjado para vocês. — O garçom não


conseguiu sair rápido o suficiente. Assim que ele estava fora de alcance,
Genna gemeu e deixou cair a cabeça na mesa, sabendo que seu rosto
estava vermelho brilhante. — Não posso acreditar que eu disse isso.

— Eu posso.

Levantando a cabeça para trás, ela estreitou os olhos para ele,


vendo seus lábios tremerem de diversão quando tomou um gole do copo
de vinho. Observou seus músculos da garganta enquanto engolia,
estranhamente excitada com o pomo de Adão, e quase perdeu a careta
de dor que se contorceu em seu rosto quando ele colocou o copo de
volta na mesa.

— O que está errado? — ela perguntou, pegando sua própria taça


e tomando um gole, saboreando o gosto amargo em sua língua.

— Você consegue beber rum diretamente, não há problema, mas


um pouco de vinho é demais para você?

— É nojento.

— Oh, pare e beba.

Matty levantou uma sobrancelha quando falou. — Você soa como


a minha mãe.

Genna falhou sobre isso. A mãe dele? — Você está me


comparando a um Barsanti?

— Tecnicamente, ela é uma Brazzi E eu preciso lembrá-la, eu


sou...

— Você é um Barsanti — disse ela. — Estou ciente, obrigada.

— Além disso, minha mãe não é como o resto deles. Ou acho que
deveria dizer o resto de nós. Ela é diferente. Sempre foi. Se não fosse
por ela, nunca teria voltado para a cidade.

~ 131 ~
— E depois? — Genna perguntou hesitante. — Quando, bem...
você sabe... o que será então? Você vai embora de novo?

Matty olhou para ela por um momento. — Não pensei nisso.

— Você não pensou? — Como ele não poderia ter pensado nisso?

Ele balançou sua cabeça.

— Eu não gosto de pensar sobre as coisas em termos de depois,


Genna.

— Mas isso é tudo que existe. — disse ela. — O depois. Cada


momento é apenas o rescaldo de tudo o que veio antes dele. Quer dizer,
o inferno, mesmo o tempo é medido pelo seguinte. Depois do meio-dia.
Um quarto depois.

— Nem sempre. — disse ele. — Às vezes é um quarto antes.

Ela estreitou os olhos para ele. Espertinho. — Seja como for, eu só


estou dizendo...

— Eu sei o que você está dizendo. — disse ele. — Mas ainda


assim, quando se trata de minha mãe? Não gosto de pensar sobre o
depois.

Suspirando, Genna tomou um gole de vinho e endireitou-se na


cadeira. — Sei como você se sente, sabe. Quero dizer, não sei
exatamente como se sente, mas eu entendo. Minha mãe...

— Eu sei. — ele disse calmamente.

— Você sabe?

— Claro. — disse ele. — Isso surpreende você?

— Bem, considerando que sua família não tinha nada a ver com
isso... ou, bem, pelo menos eu não acho que... — Ela atirou-lhe um
olhar brincalhão da suspeita que o fez sorrir. — Eu não sei se você
sabe...

— Minha mãe me contou sobre isso quando aconteceu. —


Explicou. — disse que ela morreu em um acidente de carro.

— Sim. — ela murmurou.

— Meu pai odeia que eu dirija por causa disso. Ele a viu afastar-
se uma tarde e ela nunca voltou, e acho que ele tem medo de que a
mesma coisa me aconteça. Levou-me muito tempo para convencê-lo a
deixar-me tirar a licença, e ainda, cada chance que ele tem, ele faz de
tudo para que eu não possa dirigir. Está sempre forçando Dante a me
levar por aí.

— Ele não dirige para você?

~ 132 ~
— Não. Ele não consegue desde... bem... — Desde que Joey
morreu com a explosão de uma bomba ligada ao seu carro. — Vamos
apenas dizer que não me lembro de uma época em que ele dirigiu um
carro.

Matty assentiu, seu olhar passando dela quando olhou para o


copo de vinho abandonado. Empurrou-o fora do caminho, longe dele.
Ela soube, observando sua expressão suavizar, que ele sabia o que
estava falando. — Vamos falar sobre outra coisa. Estamos sempre
falando sobre nossas famílias, e bem, francamente, a última coisa que
quero pensar nesta noite é o que nos espera amanhã. Eu prefiro pensar
sobre esta noite... e você... e me certificar que você coma o grande
lombo que você pediu.

Ela bufou com a risada, tomando outro gole de vinho, a atmosfera


instantaneamente aliviada novamente. Como se na sugestão, o garçom
apareceu com a comida, deslizando seus pratos na mesa na frente
deles.

— Posso pegar um molho de carne? — Genna perguntou, olhando


ao redor da mesa, percebendo que não havia nenhum.

— Sim. — Matty disse, agarrando sua faca e apontando para seu


bife. — Nada pior do que comer um grande bife seco, hein? Quanto
mais molhado, melhor, eles dizem.

Ela olhou para ele quando o garçom riu e saiu para pegar um
pouco de molho de carne. — Engraçadinho.

Matty encolheu os ombros. — Pensei que fosse.

Um clima brincalhão permaneceu durante o jantar enquanto


comiam e riam, as brincadeiras fluíam livremente entre os dois. O álcool
relaxou Genna, afrouxando seus músculos tensos. O ar no restaurante
cresceu abafando um tempo, quente e cheio de conversas das mesas ao
redor deles, a conversa sem fim, ocasionalmente, se intrometendo em
seu momento roubado de paz. Matty suspirou e se levantou. — Vamos
sair daqui.

Ela olhou em volta para o garçom. Fazia algum tempo que não o
via. — Você já pagou a conta?

Ela nem sequer se lembrava de ver a conta chegando.

— Eles vão me mandar a conta. — disse ele, estendendo a mão


para ela. — Vamos.

— Você tem certeza?

— Eles já fizeram antes.


Levantando-se, Genna pegou sua mão, saindo do restaurante,
para a noite quente, tranquila.

~ 133 ~
Eles dirigiram pela cidade, direto para a pequena casa branca
suburbana que Matty tinha a levado antes. Genna passeou dentro,
parando na sala de estar quando Matty acendeu a luz e arrancou seu
paletó cinza, jogando-a sobre o sofá.

— Você realmente está linda esta noite. — ele disse calmamente,


parando na frente dela. Suavemente, afastou alguns cabelos do seu
rosto e colocou-os atrás da orelha, as costas de sua mão roçando contra
sua bochecha corada. — Devo te comparar a um... uh... o que diabos
Shakespeare compara a ti.

Sorrindo, Genna abraçou seu pescoço. — Um dia de verão, mas


eu sou mais como uma tempestade de inverno.

— Princesa do gelo. — ele brincou, beijando-a suavemente


enquanto segurava seus quadris. — Você é quente para mim.

— Talvez você também seja frio.

— Pode ser. — ele disse. — Mas eu não acho que você é feita de
gelo. Você é como um vulcão, Genna. Você esteve dormente todo esse
tempo, toda aquela paixão se acumulando e se formando debaixo da
superfície, esperando o tremor certo para causar a explosão. —Ele
beijou-a novamente, sua mão descendo pela perna dela e deslizando por
baixo do vestido. — E eu acho que tenho apenas a onda de choque para
te deixar em paz, princesa.

Genna estremeceu quando sua mão escorregou entre suas coxas,


sua respiração engatando quando as pontas dos dedos passearam ao
longo das bordas de sua calcinha rendada. — Eu mudei de ideia.

— Sobre?

— Eu acho que eu quero tirar o vestido.

— Não. O vestido permanece... e os sapatos também, enquanto


permanecemos nisso.

Ela levantou uma sobrancelha para ele. — Oh?

Ele sorriu, puxando a mão quando ele deu uma volta, seu olhar
lentamente, metodicamente, passando por seu corpo. Quando ele
alcançou os dedos dos pés, seu olhar voltou até seus olhos. —
Definitivamente.

Genna soltou um grito de surpresa quando ele agarrou sua mão e


a puxou para o quarto. Ela o seguiu, se atordoando quando oscilou um
pouco, seja do vinho fervendo em sua corrente sanguínea ou os olhares
que ele expressou, ela não tinha certeza. Assim que eles estavam no
quarto, Matty a puxou para ele e beijou-a profundamente, suas mãos
mais uma vez em seus quadris enquanto ele a levava para a cama.
Lentamente a deitou e pairou por cima dela, quebrando o beijo de sua
boca apenas para beijar sua mandíbula, seus lábios encontrando seu

~ 134 ~
pescoço. Ele beijou e acariciou sua pele, lambendo e chupando,
deixando pequenas manchas vermelhas ao longo do caminho.

Matty arrastou os beijos para baixo em seu peito, provocando e


mordendo o tecido rendado vermelho enquanto ele deslizava sua
calcinha fora, sua mão levemente acariciando sua coxa. Genna arqueou
as costas, formigamento em seu corpo e uma onda de prazer sobre ela
quando sentiu seus dentes beliscando a carne protegida pelo seu
vestido. Suas mãos encontraram seu cabelo, correndo através dos fios
escuros enquanto ele se movia para baixo ainda mais, ao longo de seu
estômago, até que ele se estabeleceu entre suas coxas separadas.

Segurando seus quadris, Matty a manteve em seu lugar na cama


e arrastou beijos até suas coxas antes de chegar ao seu centro dolorido.
No momento em que Genna sentiu sua boca em sua carne, sua língua
suavemente brincando com seu clitóris, ela sugou uma respiração
aguda que deixou seu corpo com um grito de prazer trêmulo. — Oh,
porra...

Ela era um caso perdido.

Matty levou-a à beira do orgasmo rapidamente, facilmente, com


nada além do toque suave e uma língua sem palavras. Ele tocou seu
corpo como um instrumento, arrancando suas cordas e acariciando
suas curvas, deixando-lhe uma confusão tremenda mais uma vez.

Chorando, ela agarrou seu cabelo com força, forçando as coxas


apertadas em torno de sua cabeça. Seus calcanhares cavaram em suas
costas, enrugando sua camisa, sujando o tecido com a sola de seus
sapatos.

O orgasmo a sacudiu como um terremoto, enrolando os dedos dos


pés e enviando pela corrente sanguínea até o coração. Quando o prazer
desapareceu, ela afrouxou seu aperto em Matty, suavemente passando
seus dedos através de seu cabelo quando ele deslocou seu corpo para
olhar para ela.

— Então? — ele disse, arqueando uma sobrancelha em questão


enquanto pairava sobre ela novamente.

— Então. — ela sussurrou — Eu acho que você pode ter se


graduado com honras. — ela abriu um sorriso. — Entendeu? Com
honras?

Matty riu, balançando a cabeça enquanto a beijava rapidamente.


— Foi uma piada terrível.

Ela encolheu os ombros. Pensou que era muito engraçado. —


Matty?

— Sim?

— Posso tirar o vestido agora?

~ 135 ~
Horas depois de ficarem deitados, suados e enrolados nos lençóis
amarrotados. Genna não tinha noção de tempo — poderia ter sido
minutos ou horas, mas era como se o mundo tivesse parado enquanto
ela estava deitada em seus braços.

A escuridão permeava o ar. Meia noite.

— Nós provavelmente devemos ir logo. — disse ela.

— Você está certa. — ele disse, embora não fez nenhum


movimento para levantar ou até mesmo soltá-la.

Poucos minutos se passaram antes de ela murmurar: — Minha


família provavelmente está me esperando.

— Sim. — disse ele, suavemente beijando o topo de sua cabeça. —


A minha também.

Um estrondo selvagem cercou o lugar, o barulho só crescia mais


alto quando Matty abriu a porta exterior para dirigir-se a seu
apartamento. Ele parou no final da escada e suspirou
exasperadamente, as solas de seus pés vibrando ao ritmo de riffs de
guitarra.

Simplesmente ótimo. Enzo estava em casa... e, obviamente, não


estava sozinho.

Entrando no andar de cima, com os pés pesados de exaustão,


Matty abriu a porta e entrou. A música o atacou, o rock clássico tão alto
que ele se encolheu. Corpos lotavam a sala de estar — três rapazes e
três moças. Enzo estava sentado no sofá com uma garota no colo. Ao
lado deles estava outra menina — uma menina — o rosto endurecido de
maquiagem. Aquanet e Crayola que estava no The Place, Matty as
reconheceu.

Carl e Roy Civello, dois soldados de rua dos Barsantis, irmãos


com uma reputação por ter muitos músculos e pouco cérebro, ladeados
a Enzo, enquanto a última menina se sentou no chão, amontoada sobre
a mesa de centro, cheirando linhas de coca. Ela inclinou a cabeça para
trás, seus olhos fechados em euforia, sua pele maldita quase tão
fantasticamente branca quanto o pó ela que inspirou.

Inacreditável.

Matty fechou a porta atrás dele, o movimento atraindo sua


atenção. Enzo olhou de relance, seu rosto iluminando-se com um
sorriso. — Matty-B! O que está acontecendo?

~ 136 ~
— Nada. — Matty murmurou, não alto o suficiente para o seu
irmão até mesmo ouvir quando ele jogou a camisa em um dos bancos
que rodeavam o pequeno bar perto da cozinha e foi até o aparelho de
som. Ele abaixou a música, baixo o suficiente para que ele pudesse
pensar, ignorando os protestos das meninas. — Eu podia ouvir essa
merda da rua. Você tem sorte que ninguém chamou a polícia.

Enzo zombou, levantando o punho para seu irmão para batê-lo.


— Quem vai chamar a polícia para mim?

— Alguém que não sabe quem você é. — disse Carl, rindo, quando
ele passou o braço sobre o ombro de Crayola.

Matty não esperou por uma resposta, em vez disso entrou na


cozinha para uma bebida. Olhou em volta, vendo uma garrafa quase
vazia de rum no balcão, e pegou um copo para servir-se com um tiro.
Bebeu, fazendo uma careta ao líquido quente, amargo, chamuscado em
sua garganta. Ficou lá contra o balcão, com os olhos fechados,
enquanto deixava a queimadura estabelecer-se em seu peito.

Depois de um momento, ele abriu os olhos e derramou um outro


tiro quando Enzo se aproximou. — Parece bem esta noite, mano.

Matty lançou lhe um olhar rápido, vendo seu irmão avaliando-o.

— Encontro quente? — Enzo perguntou, agarrando a garrafa de


rum e servindo-se também de um tiro. Ele brindou seu copo com Matty,
antes que ambos bebessem. O segundo tiro foi mais suave,
entorpecendo o peito de Matty apenas o suficiente para preencher o
vazio que de repente ele sentiu... o vazio de ter que deixar Genna em
casa, não tendo certeza de quando teria a chance de vê-la novamente.

— Você poderia dizer isso. — ele respondeu.

— Mesma garota?

— Sim. — ele disse. — A mesma.

— Você nunca vai trazê-la aqui?

Matty sacudiu a cabeça. — Provavelmente não.

— Por quê? — Enzo pressionou. — Com medo de eu que vá


roubá-la? Porque eu não vou. Bem, você sabe... depende de quão
quente ela seja.

Matty riu secamente. — Você não poderia roubá-la de mim, nem


se tentasse.

— Quer apostar?

— Vou passar. — Matty definiu seu copo para baixo e se afastou


do balcão. — Estou indo para a cama.

~ 137 ~
— Mas ainda é cedo.

— São três horas da manhã.

— Exatamente. — disse Enzo. — O sol não irá aparecer por mais


algumas horas.

Matty socou seu irmão levemente no ombro quando passou por


ele, indo para seu quarto. — Boa noite, En.

— Achei que quando conseguisse alguma boceta finalmente iria


afrouxá-lo. — Enzo gritou atrás dele. — Não deixá-lo com o punho mais
apertado.

Matty mostrou o dedo médio antes de entrar em seu quarto e


fechar a porta atrás dele. Tirou seus sapatos, se sentou em sua cama de
costas e olhou para o teto escuro, ouvindo a comoção contínua na sala
de estar.

— Seu irmão é do tipo que tem o pau na bunda, não é? — Uma


das garotas perguntou, sua voz alta e bêbada. — Nossa.

— Não fale sobre meu irmão. — disse Enzo.

— Mas...

— Você me ouviu. — disse Enzo, um tom mais duro sua voz. —


Ele merece respeito, e se você não pode respeitá-lo, então pode dar o
fora.

— Vamos lá, En. — disse Carl. — Mesmo você acabou de dizer


que estava ferrado?

— Sim, bem, ele é meu irmão. — disse Enzo. — É meu trabalho o


perturbar. Mas vocês? Fodam-se, especialmente você, Carl... você
conhece melhor. Você não pode falar sobre um Barsanti.

— Sim, você está certo. — Carl murmurou. — Desculpe.

— O que ele fez? — Uma das garotas perguntou.


— O que você quer dizer?

— Você disse que ele merece respeito. — respondeu ela. — O que


ele fez para merecer?

— Não importa o que ele fez. — Enzo respondeu. — Ele não tem
que fazer nada. Ele é quem ele é e o que passou. É sobre o que foi feito
para ele.

— E o que é isso?

~ 138 ~
— Você sabe O quê? — Enzo ergueu a voz, um tom de raiva que
provocou as palavras que surpreenderam Matty. — Talvez façamos isto
uma outra noite?

As meninas protestaram, mais uma vez, mas Enzo as obrigou a


rapidamente limparem o apartamento quando ele praticamente as
chutou pela porta da frente. Ele bateu a porta depois que foram
embora, a vibração tão intensa que sacudiu as paredes e ecoou pelo
apartamento. Matty considerou levantar-se novamente e ir falar com
seu irmão, mas ele ficou apenas lá, com as palavras de Enzo
executando através de sua mente.

É sobre o que tinham feito para ele.

Matty tentou não pensar nisso, mas era a segunda vez em uma
noite que tinha ouvido isso, martelando no centro de sua mente, o
sussurro evasivo do dia que seu mundo perfeito tinha se deteriorado em
torno dele. Um longo tempo se passou desde então — mais de dezesseis
anos — mas ele ainda se lembrava claramente... lembrou-se da
confusão, e o terror... se lembrou do desgosto, e a raiva... lembrou-se da
miséria.

A miséria. Lembrava-se mais que a maioria, porque ele era o mais


velho. Ele sentiu muitas vezes, o seu caminho pelos cantos de seu ser,
infiltrando-se em sua vida, e manchando a sua felicidade com a
memória. Ela deixou uma mancha escura em tudo de bom no seu
universo, e ele sabia... ele sabia que... quando ele disse a Genna, isso
também daria conta do que ele tinha com ela.

Fechando os olhos, Matty suspirou.

É sobre o que tinham feito para ele.

Balões multicoloridos vibrantes tinham coberto quase cada


polegada de espaço, revestindo o piso quando outros pairavam em
aglomerados, em torno do teto baixo, as cordas emaranhadas
penduradas quase até o chão da sala de jantar. A mesa tinha sido
empurrada contra a parede oposta, presentes empilhados sobre ela,
todo o quarto reorganizado para acomodar todos os balões esquecidos
por Deus.

Havia duas centenas deles, para ser exato: uma centena aos seus
pés e uma centena acima de sua cabeça. Matty lembrava, porque sua
mãe lhe tinha dito mais cedo naquela manhã. Ele caminhou ao redor da
sala, tecendo através do labirinto de cordas, quando seu irmão Enzo
arrebatou balões do chão e jogou-os ao redor como bolas, perseguindo-
os, o desembarque à direita deles, o estouro do látex frágil.

Pop.

Pop.

~ 139 ~
Pop.

Já havia estourado cerca de vinte.

O olhar de Matty mantido à deriva para a grande janela próxima,


para o quintal da frente. Dezenas de carros alinhados na garagem — a
família e os amigos da família, mas havia muito poucas crianças,
embora, a festa deveria ter começado há muito tempo.

O oitavo aniversário de Matty.

La Traviata tocava nos alto-falantes quando vozes ecoavam pela


casa, os adultos bebendo e conversando, já atolados em festividades,
parecendo alheios à preocupação crescente de Matty.

Os Galantes não estavam lá.

Eles deveriam estar.

Por que não estavam?

— Mamãe!— Ele chamou, sua voz choramingando. — Por que


Joey ainda não está aqui?

Savina entrou pela porta, sorrindo tristemente. — Eu não tenho


certeza, querido. Eu liguei e não obtive resposta, então eles
provavelmente estão no caminho. Sabe, Joey não perderia sua festa.

— Espere até que ele veja todos os meus balões. — Matty disse
com entusiasmo, assim como Enzo, segurando um azul, e o rosto
plantado direto no chão, o estouro de outro balão. Pop. — Se sobrar
algum, de qualquer maneira.

Minutos se passaram... cinco, dez, quinze... sem nenhum sinal do


melhor amigo do Matty. A frustração crescendo, Matty procurou sua
mãe novamente. Ele atravessou a sala de jantar e parou na porta,
vendo sua mãe segurando o telefone contra o peito, uma carranca no
rosto, quando Roberto ficou na frente dela, sua expressão severa.

— Nenhum deles está aqui. — Roberto disse bruscamente. —


Nenhum, Savina.

— Eles virão. — ela respondeu. — É o aniversário de Matty.

— Isso não significa nada.

— Eles são nossos amigos. — disse ela. — Primo é seu padrinho!


Eles virão.

— Eles não estão vindo. — disse Roberto, sua voz abaixando. —


Eles estão enviando uma mensagem com isso.

— Que mensagem?

~ 140 ~
Antes de Matty poder ouvir a resposta de seu pai, um lampejo de
algo do lado de fora chamou sua atenção, o som de um rugido de motor.
Voltou-se para a janela, vendo o carro arrancando em direção à casa.

— Há um carro aqui mãe! — Matty gritou. — Talvez seja Joey!

Seus pais entraram na sala de jantar, mas também não houve a


oportunidade de falar antes de acontecer.

Pop.

Pop.

Pop.

Matty pensou que eram balões. Instintivamente, ingenuamente,


seu olhar se lançou ao redor, confuso. Em questão de segundos, sua
mãe agarrou-o e o atirou ao chão, agarrando Enzo quando ele passou
correndo, segurando um balão. Ela se jogou em cima deles, fixando-os
lá com seu corpo trêmulo, quando o ruído cresceu, cobrindo o ar em
torno deles.

Pop.

Pop.

Pop.

Incessantes disparos iluminaram a casa, uma chuva de balas


sobre eles, quebrando as janelas, perfurando as cortinas e destruindo
tudo ao redor. Enzo gritou, aterrorizado, enquanto lutava debaixo de
sua mãe, mas Matty ficou deitado ali, atordoado demais para se mover,
lágrimas escorrendo por suas bochechas ruborizadas enquanto ele
tremia violentamente.

Foi mais rápido do que começou. Demorou menos de um minuto


para derrubar seu mundo, para aniquilar sua vida e deixar nada além
de devastação.

Matty abriu os olhos, novamente olhando para o teto em seu


quarto escuro. A sala estava em silêncio agora, Enzo tendo se arrastado
para seu próprio quarto para dormir. O repentino silêncio era
ensurdecedor.

Ele nunca mais viu seu melhor amigo.

Uma semana depois, Joey estava morto.

~ 141 ~
Capitulo Oito
— Então, uh, onde estamos indo?

Matty olhou para onde Genna sentada no banco do passageiro do


Lotus.

— Eu te disse...

— Você disse que eu iria ver.

— Exatamente, você verá.

Genna virou os olhos para ele, fingindo irritação, mas Matty não
pôde ver nada além de apreensão. Ela distraidamente esfregou as
palmas das mãos sobre as coxas de sua calça jeans escura enquanto
observava o bairro do lado de fora das janelas do carro. Era
provavelmente um lugar que ela nunca tinha estado antes, mas ela
sabia tudo sobre essas ruas.

Eram as ruas que ela foi repreendida a nunca supostamente


pisar.

Sua pergunta não ficou no ar por muito tempo. Em poucos


minutos, Matty estava dirigindo na frente da residência de seus pais. A
ansiedade de Genna disparou, sua inquietação se transformando em
tremores.

— Estamos... É isso mesmo... Querido Deus, por favor, diga-me


que esta não é a casa de sua família.

— Isto é.

Ela ficou boquiaberta. — Porque estamos aqui?

— Para o jantar.

— Você está brincando comigo? Hannibal Lecter me levou para


sua casa?

— Hannibal?

— Sim, você distorceu a foda canibalesca.

Apesar de tudo, Matty riu. Menina pateta. — Não tenho planos de


te comer, Genna. — Ele fez uma pausa, levantando as sobrancelhas
brincando. — Bem...

~ 142 ~
— Não tem graça.

— Sim, você está certa.

Ele estacionou o carro e saiu, ouvindo a pressão da porta do


passageiro aberta imediatamente. — Sério, Matty... Matty... Matty...
Maldito seja, Matteo!

Ele fez uma careta quando ela usou seu nome verdadeiro,
lançando-lhe um olhar de lado. — Não me chame assim.

— Tudo bem então, Michael Myers... mas corta a merda e me diga


por que estamos na sua casa de infância dos horrores.

— Eu disse a você... para o jantar.

Através de seu retrato exterior de raiva, Matty ainda não via nada
além de ansiedade. Ela estava começando a suar seriamente. Ele não
podia dizer que a culpava. Mas não tinha dito a ela antes por esta exata
razão, sabendo que não parecia nem um pouco racional. — Você confia
em mim, certo?

— Isso é o que você disse. Você confia em mim agora.

— Sim, mas...

— Então confie em mim. — disse ele, estendendo a mão para ela.


— Por favor.

— Tudo bem. — ela grunhiu, esfregando as palmas das mãos no


jeans mais uma vez antes de deslizar sua mão na dele. Ele a pegou,
apertando-a tranquilamente, antes de levá-la para a casa.

Matty não bateu, abrindo a porta da frente e entrou à direita no


interior, tendo que arrastar praticamente Genna através do hall. Ele
fechou a porta atrás deles quando Genna se agarrou a ele, seus olhos
se lançando ao redor do vestíbulo como um gato feroz apoiado em um
canto, procurando uma saída. Suspirando, ele a puxou para ele,
arrancando sua mão da dela para envolver o braço sobre seu ombro,
colocando-a ao seu lado.

Ela fingia ser tão inquebrável, tão feroz, tão sem medo, mas
momentos como este lembrou Matty que a princesa de gelo não era
nada mais do que uma fachada, disfarçando o fato de que ela era a
mais vulnerável de todos eles.

— Matty, é você, Sugar Cube? — A voz suave saiu do covil,


confortando Matty, mas o som teve um efeito adverso sobre Genna. Ela
se encolheu ao seu lado, sua mão segurando a parte traseira de sua
camisa.
— Sim, mãe, sou eu. — ele gritou.

~ 143 ~
Segundos depois ela apareceu, conversando enquanto se
aproximava. — Eu queria saber se você estava parando por hoje à noite.
Seu pai e seu irmão só...

Sua mãe congelou na porta, suas palavras sumindo, o sorriso no


rosto desaparecendo rapidamente quando sua boca caiu aberta com o
choque. Piscando algumas vezes, ela olhou para Genna.

— Saíram? — Matty adivinhou, terminando sua frase. — Eu sei,


esperei até que eles saíssem.

— Eu vejo. — disse ela, tirando as palavras, incapaz de afastar os


olhos de Genna. Ela apertou-os depois de um momento, o sorriso de
volta em seus lábios enquanto ela se recompôs. — Então, uh, entre.
Sente-se.

Ela apontou para uma poltrona. Matty começou dessa maneira,


arrastando Genna junto com ele. Ela não colocou um impedimento,
mas abaixou a cabeça timidamente enquanto passavam por sua mãe,
suas bochechas coradas. Ele se sentou na poltrona, puxando Genna em
seu colo, quando sua mãe tomou seu lugar habitual no sofá. Ela puxou
o cobertor sobre si, curvando-se, com os olhos nos dois.

— Genna, esta é a minha mãe, Savina. — disse Matty, apontando


entre os dois. — Mamãe, conheça Genna.

— Oh, já nos conhecemos. — disse Savina.

Genna a olhou cautelosamente. — Nós nos conhecemos?

— Certamente. — ela disse, sorrindo. — Embora, você era muito


pequena, na última vez que esteve aqui, então eu não estou surpresa
que você não se lembre. Parece que foi ontem para mim, no entanto.

— Aqui? — Genna perguntou. — Eu já vim aqui antes?

— Sua mãe trouxe vocês quando crianças muitas vezes para


brincar.

— Nós brincamos? — ela perguntou, descrença em sua voz. —


Como, nós e... eles?

O ceticismo de Genna só fez Savina sorrir mais, uma risada leve


ecoando dela. — Absolutamente. Matty e Joey eram melhores amigos.
Eles tentavam fugir e fazerem suas coisas enquanto Dante e Enzo
seguiam atrás deles, irritando os garotos como irmãos pequenos
costumam fazer.

— E eu?

— Você estava mais interessada em causar estragos do que


qualquer coisa.

~ 144 ~
— Ainda está. — Matty disse brincalhão, ganhando uma
cotovelada no peito de Genna quando ele riu.

— Foram bons dias. — Savina continuou deixando escapar um


suspiro profundo.

— Nós nem sempre quisemos uns a cabeça dos outros. Nós


costumávamos existir pacificamente.

— O que aconteceu? — Genna perguntou hesitante. — O que


mudou?

— Esses idiotas que Cara e eu nos casamos escolheram o poder


sobre a amizade. — disse Savina sem rodeios. — Eles escolheram o
dinheiro, e notoriedade... em vez de escolher um ao outro, como eles
deveriam ter feito, não me interpretem mal. Eles são grandes homens.
Eles são ambos grandes homens.

Antes que Matty pudesse falar, para argumentar, sua mãe


apontou para ele, sua expressão severa.

— Eles são. Só se desviaram, e eu esperava que vissem o erro de


seus caminhos, antes que fosse tarde demais.

— Já era tarde demais assim que começou, mãe. — disse Matty.


— Demorou menos de uma semana para destruir ambas as famílias.

— Eu não diria que eles nos destruíram. — ela respondeu. — Nós


ainda estamos aqui, não estamos? E olhe para nós, sentados aqui
juntos novamente. Tudo o que precisamos é que Genevieve fure moedas
de um centavo em minhas tomadas de luz e ela vai se sentir como nos
velhos tempos.

Genna pareceu relaxar, aliviando de volta nos braços de Matty


quando ele deu um leve beijo em seus lábios. — Eu causei um curto de
eletricidade em minha casa há alguns anos atrás, brincando com uma
tomada de luz.

— Eu disse a você. — Matty disse, envolvendo seus braços ao


redor dela. — Ainda causando estragos.

Eles casualmente conversaram um pouco mais antes de Matty se


desculpar, deixando Genna no covil com sua mãe enquanto se dirigia
para a cozinha. Acendendo a luz, ele começou a trabalhar tirando tudo
o que precisaria para fazer o jantar, desta vez começando com o básico
para fazer tudo a partir do zero. Levaria um tempo, mas ele não estava
preocupado — ele sabia que Genna ficaria bem. Seu pai não estaria em
casa até tarde, muito tempo depois que eles já tivessem ido embora, e
ele sabia que sua mãe não iria respirar uma palavra sobre a visita.

Espaguete e almôndegas. Matty tinha as mangas arregaçadas, as


mãos sujas quando trabalhou em massas frescas, o molho já fervendo

~ 145 ~
no fogão. De vez em quando ele ouvia risadas saindo do covil, mas tudo
ficara quieto por alguns minutos.

Quase muito tranquilo.

Ele considerou voltar lá para verificá-las quando passos


tranquilos no corredor chamou sua atenção. Olhando para cima, ele
observou quando Genna entrou.

— Ei. — ele disse. — Você está bem?

— Sim... sua mãe adormeceu.

— Não estou surpreso. — ele respondeu. — Ela tem estado muito


cansada ultimamente. Vou acordá-la e dar-lhe comida.

Genna sorriu suavemente, entrando na cozinha, seu olhar


examinando a bagunça que ele tinha feito. — Então, você cozinha?

— Eu faço.

— Você é bom?

— Bem, eu sou melhor que você.

Ela zombou de brincadeira, cutucando-o quando ela parou ao


lado dele. — Isso não é dizer muito, todo mundo é melhor do que eu.

Matty tirou as almôndegas do forno antes de começar a ferver a


massa. Ele mexeu o molho antes de segurar uma colher em direção a
Genna. Ela o experimentou, lambendo os lábios lentamente depois.

— E então? — ele perguntou.

— Então, eu acho que você é muito bom.

Colocou as almôndegas no molho para ferver. — Você acha?

— Sim. — ela disse, encostando-se no balcão quando ela cruzou


os braços sobre o peito. — Eu ia reservar meu julgamento até depois
que eu provar tudo.

— Justo.

Matty terminou de cozinhar, sentindo o olhar atento de Genna


sobre ele o tempo todo. Uma vez que a comida foi feita, Genna se
ofereceu para organizar a mesa quando Matty foi buscar sua mãe. Ela
estava dormindo profundamente, com a cabeça apoiada no braço do
sofá. Seu rosto estava passivo, seu corpo à vontade.

Ele pensou em deixá-la dormindo, mas sabia que a ouviria mais


tarde se não a acordasse. Gentilmente, ele a sacudiu, sua voz suave. —
Mãe, o jantar está pronto.

~ 146 ~
Seus olhos se abriram, confusão em seu rosto que se transformou
em um sorriso tímido. — Oh meu, eu devo ter adormecido.

Genna já estava sentada à mesa quando entraram. Sentaram-se


imediatamente e começaram a comer. Matty tomou algumas mordidas,
com falta de apetite, muito focado nas mulheres sentadas à mesa.

Ele nunca, em um milhão de anos, pensou que era possível tê-las


ambas lá com ele. Eles falaram calmamente, uma facilidade em sua
conversa quando ela abertamente acolheu Genna em sua casa.

— Isso está bom, Cubo de Açúcar. — disse sua mãe. — Muito


melhor do que a última vez que você fez.

Ele estava prestes a agradecer quando Genna falou. — Cubo de


açúcar?

Matty estava revirando os olhos antes mesmo de sua mãe


começar a explicar.

— Ele é tão, tão doce. — ela disse. — Mas tão, tão quadrado.

Genna riu, quase engasgando com sua bebida.

— Eu não sou tão ruim assim. — disse ele na defensiva.

— Você não é. — Sua mãe disse tranquilamente, estendendo a


mão e cobrindo sua mão com a dela.

— Você costumava ser muito pior. Você está mais leve nestas
últimas semanas. Pergunto por que será...

Com um cintilar de conhecimento em seus olhos quando


encontrou o olhar de Genna. — Provavelmente porque eu tenho duas
mulheres bonitas para passar meus dias.

— Estou feliz por você. — disse sua mãe. — Estou feliz por você
tê-la também.

Não escapou a sua observação que as bochechas de Genna


coraram com o reconhecimento.

O jantar passou rapidamente, escuridão caindo lá fora. Por mais


que Matty desejasse que pudesse ficar mais tempo, assim que ele
limpou a cozinha sabia que tinha que sair de lá. Contra sua vontade,
sua mãe os levou até a porta, abraçando Genna com força. — Foi tão
bom ver você, Genevieve.

— Você também, Sra uh... — ela tropeçou no último nome.

— Me chame de Savina.

— Savina.

~ 147 ~
Genna saiu da varanda, indo para o Lotus, enquanto Matty
olhava cautelosamente para sua mãe. Ela parecia ainda mais exausta
agora, seu rosto pálido, suor ao longo de sua testa. Apenas o jantar
tinha tirado cada grama de energia dela.

— Eu vou voltar depois que de deixá-la. — disse ele. — Vou


esperar com você até que papai chegue em casa.

— Bobagem, eu não preciso de uma babá. — disse ela, afastando-


o com desdém. — Tenha uma boa noite.

Suspirando, ele se inclinou para beijar o rosto de sua mãe


quando ele a abraçou. — Boa noite, mãe.

— Boa noite.

Ele caminhou pela varanda quando ela chamou o seu nome.

— Matty?

— Sim.

— Obrigada.

Ficou ali, olhando fixamente, enquanto ela voltava para dentro da


casa e fechava a porta. Suspirando, Matty se dirigiu para o carro e
escorregou no assento do motorista.

Ele ergueu as sobrancelhas para Genna. — Então?

— Então, você é um ótimo cozinheiro. — ela concedeu,


estendendo a mão para cobrir sua bochecha antes de, suavemente
pressionar um beijo em seus lábios. — Mas o mais importante, estou
começando a pensar que você é uma pessoa maravilhosa.

Matty estava de pé ao lado do estacionamento, recostando-se no


reboque de construção enquanto observava o fluxo de tráfego pela Sexta
Avenida. Estava no meio da tarde, a temperatura subindo lentamente
até o suor escorrer ao longo de suas costas, fazendo sua camisa escura
ficar grudada a ele desconfortavelmente.

— Este lugar parece que demorou muito para ser construído. —


disse Matty, apontando para a estrutura. — Eu me lembro quando
vocês começaram a trabalhar, eu estava começando a faculdade.

— Sim, nós ordenhamos por cada centavo que pudemos. — Gavin


disse casualmente de onde ele estava sentado nos degraus do trailer,

~ 148 ~
bebendo de uma garrafa de água. — Não podia demorar mais, a cidade
estava começando a ficar chateada por não estar terminada.

— Acabou bem. — disse Matty. — Quanto vale um desses


lugares?

— Uh, cerca de quatro mil ao mês ou algo assim. — ele


respondeu. — Você está procurando um novo lugar?

— Não.

— Então por que a pergunta?

— Apenas conversando.

Gavin virou os olhos para ele, um olhar de ceticismo em seu


rosto.

— Ah, vamos lá, Matty-B, corte a merda, você sabe que eu odeio
conversa fiada, diga-me o que veio dizer.

— Por que você acha que eu vim aqui para dizer alguma coisa?

— Porque ao contrário de como você está agindo agora, eu sei que


você odeia conversa fiada, também. Diga o que você veio fazer.

Matty permaneceu ali por um momento em silêncio, continuando


a observar os carros passarem, antes de soltar um profundo suspiro.

— Eu estou no fundo, e eu não sei o que fazer sobre isso.

Gavin sacudiu a cabeça.

— Você está com ela, não é? Eu disse a sua bunda para não, e
você fez isso de qualquer maneira, não é?

— Eu não fiz nada. — disse ele.

— Você não fez?

— Não, tratei-a bem, levei para casa e chamei de minha.

— Jesus Cristo. — Gavin olhou para ele, incrédulo. — Algumas


merdas não estão destinadas a acontecerem. Não importa o quão bonita
ela é, você não pode tentar dominar um animal selvagem e esperar para
sobreviver.

Matty encolheu os ombros. — Eu tenho feito muito bem em


sobreviver.

— Você tem muita coragem ou não tem cérebro, e baseado no fato


de que seu rabo foi para Princeton, eu estou querendo saber como
diabos você anda em torno levando essas bolas grandes.

~ 149 ~
Gavin colocou a tampa em sua água enquanto se levantava e
encarava Matty, olhando-o peculiarmente. — O Filho Pródigo e a
Princesa do Gelo, hein? Parece um terrível conto de fadas. Você sabe, o
tipo onde o grande lobo mau come todos no final.

Apesar de si próprio, Matty riu disso. — Sim.

— Então você está no fundo e não sabe o que fazer sobre isso. —
Continuou Gavin. — Você quer o meu conselho? É isso que você quer?

— Sim.

— Caia fora.

A expressão de Matty caiu. — O quê?

— Você não quer afastar-se dela. Quero dizer saia desta... vida,
para tudo o que você voltou, eu sei que você não quer isso. Ande longe
dele. Seu pai vai ficar puto, mas vamos lá... vamos ser realistas...
quando não é que tio Bobby ficou chateado com você?

Matty não conseguia lembrar uma vez que o homem não estava
pelo menos desapontado. Ele nunca tinha vivido de acordo com seus
padrões, e mesmo se ele estivesse preso, ele sabia que nunca o faria.
Seu coração não estava nisso. Não podia seguir os passos de seu pai.

Gavin deu um tapa no ombro dele. — Vamos lá, vamos tomar um


drinque de compaixão, eu até vou deixar você comprar.

— Obrigado. — Matty riu enquanto pegava as chaves. — Por que


estamos comemorando?

— As mulheres bonitas e o inferno que elas nos fazem passar.

— Falando nisso, o que aconteceu com sua garota? — perguntou


Matty curiosamente.

— Aquela de que você foi avisado?

— Ah!

Gavin encolheu os ombros. — Acho que ela acabou onde quer que
ela foi feita para estar.

~ 150 ~
Capitulo Nove
— Como você aprendeu a jogar? — Matty perguntou, deslocando
o bastão de mão em mão, seus olhos em Genna e não na mesa de
bilhar. Ela encolheu os ombros, tentando manter seu foco no jogo, mas
ele não estava facilitando.

Maldito homem atraente com seus malditos olhos distrativos.

Ela se alinhou, golpeando graciosamente a bola branca, o alto


crack ecoando através do apartamento ao contrário da forma tranquila
quando a vibrante bola vermelha voou para o bolso lateral. Seus olhos
cintilaram para ele, bebendo a verdadeira curiosidade. — Dante me
ensinou.

— Ele deve ser muito bom.

— O melhor. — ela confirmou, batendo a bola branca na verde.


Ela bateu no canto, saltando de volta. Droga.

Matty zombou. — Eu não iria tão longe. Eu gosto de pensar que


sou o melhor.

— Isso não é pensar. — disse ela¸ segurando o taco com ambas as


mãos na frente dela enquanto olhava para ele. — Isso é sonhar. E sonhe
amigo. Meu irmão é definitivamente melhor do que você.

— Como você sabe?

— Eu não posso vencê-lo, mas posso vencer você.

— Você nunca me venceu.

— Mas eu poderia.

— Você quer apostar?

Genna viu quando ele bateu na bola preta oito, caindo no bolso
lateral e terminando aquele jogo. Ele era, sem dúvida, bom. Em outra
vida, teria sido incrível assistir ele e Dante em uma partida.

— Ok. — ela disse. — O que estamos apostando?

— O que você quiser. — ele disse, sorrindo. — Exceto meu carro.

— Ah, cara. — ela franziu as sobrancelhas dramaticamente. — E


o relógio?

~ 151 ~
Ele lançou um olhar para o seu Rolex. — Mas se eu ganhar, quero
sua calcinha.

Seus olhos se arregalaram. — O quê?

Ele andou em direção a ela, seus dedos dos pés tocando, seu
nariz roçando o dela antes de ele suavemente pressionar seus lábios
nos dela. — Eu quero sua calcinha. — Outro beijo. — Em sua boca. —
Outro beijo. — Amordaçando você. — Outro beijo. — Enquanto eu te fodo
por trás.

Oh. Meu. Deus. Genna afastou-se para longe dele, suas bochechas
queimando com as imagens mentais que passou pela sua mente. Matty
apenas riu, estudando cuidadosamente as bolas para o próximo jogo.

— Nós temos um acordo? — ele perguntou.

— Sim. — ela não tinha a intenção de perder, por isso não


importava o que ele queria. Esse relógio estava prestes a ser dela.

Ele indicou a mesa. — Damas primeiro.

— Tem certeza? — ela perguntou. — Eu não quero você chorando


quando eu vencer porque você me deixou ir primeiro.

— Eu não vou chorar nada. Vá, princesa. — ele piscou. — Eu


sempre ouvi que você era boa em quebrar bolas.

Ela revirou os olhos quando deu sua primeira tentativa, batendo


duro, mas não marcando nada, a bola branca voando em um bolso
lateral em vez disso. Gemendo, ela acenou bruscamente para ele ir. Ela
teve um mau começo.

Sorrindo, Matty tomou sua vez, afundando uma bola listrada. Ele
sempre foi para as listras, ela notou. De um lado para outro eles foram,
ambos intensamente focados no jogo, marcando até que tudo o que
restou era a bola preta oito.

A vez de Matty. Ugh.

— Bola oito, bolso de canto. — declarou ele, autoconfiante, na


fronteira com arrogante, quando ele apontou para o bolso diagonal. Ele
se alinhou, tomando seu tempo. Ele bateu, a bola subindo dessa
maneira, ligeiramente inclinada para a esquerda. Ela atingiu a borda
dura, ricocheteando para trás, e rolou direto para o bolso lateral direito
na frente de Genna.

Sua expressão satisfeita caiu quando seus lábios se curvaram em


um sorriso. Bolso errado.

— Eu ganhei. — declarou Genna.

Matty amaldiçoou em voz baixa, jogando o taco para o lado


enquanto caminhava para ela, desprendendo cuidadosamente o relógio.
~ 152 ~
Ele o tirou, segurando-o pela pulseira e balançando na frente dela. —
Acho que sim.

— Não fique tão surpreso. — disse ela, arrebatando o Rolex com


uma risada e rapidamente colocando-o enquanto ela encostava-se à
mesa. O relógio era espalhafatoso, pesado e esmagador em seu pulso
frágil, mas ela usava-o com orgulho. — Isso é verdadeiro, certo? Não vai
fazer meu pulso ficar verde e minha mão cair, não é?

— Claro que é verdadeiro, foi um presente de graduação.

— Bem, é meu agora, já que eu ensinei você. — ela sorriu. — Eu


disse que eu ia te vencer.

— Você não me ganhou, eu perdi, há uma diferença.

Ela revirou os olhos. — Tanto faz.

— E eu acho que, desde que você não me venceu, eu devo


conseguir o que quero, também.
— Você acha?

— Mmmm, eu faço. — ele declarou, parando bem na frente dela,


prendendo ela lá. Suas mãos acariciaram seus quadris antes de derivar
mais para baixo empurrando a saia para cima em direção a sua
cintura. Ele acariciou lentamente a pele nua enquanto enganchava os
dedos nos lados de sua calcinha preta. Sorrindo, ele se agachou na
frente dela, puxando o material frágil por suas coxas. Genna não
colocou nenhuma luta, olhando para ele quando ela levantou seu pé
para que ele pudesse retirá-la, seus movimentos dolorosamente lentos,
pontas dos dedos deixando rastros ardentes ao longo de sua pele.
Nunca deixou de hipnotizá-la, seu simples toque inflamava o fogo nela.

Levantando-se, ele segurou o material rendado na frente de seu


rosto. — Abra a boca.

Seus lábios se separaram em um sorriso sedutor curvando sua


boca enquanto se inclinava mais perto dele, sussurrando. — Foda-se.

Ele não hesitou, espelhando o seu movimento quando ele


respondeu: — Eu acho que o negócio certo é eu te foder.

Guinchando, Genna afastou-se dele fugindo de seu alcance.


Matty agarrou-a, mãos fortes segurando-a ali, tentando divertidamente
girá-la enquanto ela gritava e se movia. Os dois lutaram, o riso ecoando
pelo apartamento enquanto ela conseguia se esgueirar. Ele girou em
torno rápido, indo atrás dela, enquanto ela soltava outro grito, com o
coração disparado.

— Oh não, você...

~ 153 ~
Matty não teve a chance de terminar. 'Não' estava a meio caminho
de seus lábios quando a porta da frente do apartamento de repente se
abriu. Genna parou, virando-se, seu sangue correndo frio. Matty pisou
na frente dela protetoramente, sua postura de repente defensiva.

A voz vagamente familiar atingiu Genna segundos antes que ela


viu seu rosto. Enzo.

— Ei, Matty, eu vi seu carro estacionado no andar de baixo e


pensei... — Enzo entrou no apartamento, congelando, suas palavras
vacilante e o tom virando frio. — em dizer oi.

Enzo piscou rapidamente, olhando-a a poucos metros de


distância. A visão de Genna borrou-se quando o sangue se infiltrou
furiosamente em seu corpo, queimando suas veias. Bile subiu,
queimando sua garganta, enquanto ela tentava engolir o medo. Ela só
podia olhá-lo com os olhos arregalados, e Enzo olhou para trás, dando
um passo para o lado para olhar para seu irmão, morte em seu rosto.

Do canto do olho, Genna viu Matty rapidamente deslizar sua


calcinha no bolso quando ele deu um passo proativo para o seu irmão.
O movimento atraiu a atenção de Enzo. Ele forçou seu olhar longe de
Genna se deslocando entre raiva e descrença,

Sobrancelha franzindo simultaneamente enquanto suas narinas


queimavam.

— Acalme-se. — Matty disse, olhando para seu irmão diretamente


nos olhos, antes mesmo de Enzo dizer uma palavra. A confusão
desapareceu de sua expressão, a raiva ganhando.

Oh merda.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Enzo apontou para


Genna. — Sabe quem é essa garota? Você sabe?

— Sim, mas...

— Claro que você faz! — Enzo cuspiu, claramente não estava


interessado na resposta de seu irmão. — Lembro-me de dizer-lhe quem
ela era! Então, por que ela está aqui? Hein? Que diabos essa garota está
fazendo aqui?

— Eu a trouxe aqui.

— Você a trouxe aqui? Ela? Por que você faria isso? Que porra há
de errado com você? Por que você mesmo...? Como é que você...?
Quando você...? — A raiva de Enzo foi ultrapassada por choque quando
a sua postura se esticou, suas grandes mãos segurando o lado de sua
cabeça, quando a realidade estava perigosamente perto de explodir em
sua mente. — Ela? Ela é a única? Deus, por favor, me diga que a porra
da garota que você estava falando sobre não é ela!

~ 154 ~
— Acalme-se.

Isso pareceu ser uma resposta suficiente para Enzo. De repente,


ele moveu seu corpo em direção a Genna, dando um passo precipitado
na direção dela, apontando acusadoramente. — Você. Não sei qual jogo
você está jogando aqui, mas você está fodida. Grande momento. Porque
eu juro por Cristo, Galante, eu vou...

O estomago de Genna revirou. Esse era seu pior medo. Vendo a


repugnância nos olhos de Enzo, ouvindo o tom ameaçador de suas
palavras, sua voz tão enfurecida tremia... Genna queria evaporar do
quarto, fora de vista. Medo como nenhum outro revestiu seu interior.
Sentia-se como um animal ferido. Lutar ou voar. Seu pai sempre lhe
ensinou a se defender, mas quando era os Barsantis? Corra, filha da
puta.

Antes que ela pudesse descobrir um caminho para fora do


apartamento - correndo por ele e saindo pela porta, ou saltando direto
da janela mais próxima - Matty interveio, cortando Enzo, uma borda
autoritária em suas palavras enquanto ele arrebatava o colarinho da
camisa do irmão e viciosamente puxou-o para ele, puxando sua atenção
momentaneamente afastando dela.

— Acalme-se. — A mandíbula de Matty apertou-se enquanto dizia


as palavras. — Ou saia.

— Saia?— Enzo forçou as mãos de Matty fora de sua camisa e o


empurrou. — Eu moro aqui. E você a trouxe aqui, à minha casa!

— Nossa casa. — Matty o corrigiu. — Eu moro aqui, também.

— Como se fizesse isso melhor! — Enzo levantou as mãos,


incrédulo. — Ela é uma deles!

Matty suspirou exasperadamente, passando as mãos pelo cabelo.


— Olha, só... acalme-se, ok?

— Acalmar-me? — Enzo repetiu.

— Pare de me dizer para me acalmar! Eu estou calmo, porra!

Ele estava o mais distante de calma que Genna já viu, seus


movimentos bruscos enquanto acenava em volta, como se não soubesse
em que diabos se concentrar. Suas bochechas estavam ficando
vermelhas por causa da agitação enquanto o suor se formava ao longo
de sua testa.

Cuidadosamente, Matty estendeu a mão para Genna, e ela não


resistiu quando ele a puxou para ele. Seus braços apertados ao redor
dela enquanto ela estava na frente dele, agarrando os antebraços com
tanta força que as unhas cravaram em sua pele, suas juntas brilhantes
estavam brancas com a tensão. O olhar desaprovador de Enzo queimou
através dela.

~ 155 ~
— Eu disse a ela que ela não podia te julgar porque ela nunca te
conheceu. — Matty disse uniformemente. — Eu disse a ela que você não
era o idiota que ela foi criada para acreditar que você era. Não prove que
estou errado, En. Não a faça acreditar que eu menti.

Enzo fechou os olhos brevemente enquanto soprava uma


respiração profunda. Irritação ainda contornou sua expressão quando
ele os reabriu, mas sua postura relaxou, seus punhos se fechando. —
Ela deveria.

— Deveria o quê? — perguntou Matty.

— Deve acreditar que você mentiu. Ela deve pensar que eu sou
tão idiota. Ela deve me julgar, porque é melhor assim. Ela deveria ter
medo de mim, deveria ter medo do que eu poderia fazer a ela, o olhar
em seu rostinho bonito me faz querer fazer.

O olhar de Enzo deslocando para Genna, mais calmo, mas não


havia calor em sua expressão. Genna estremeceu com a frieza de suas
palavras. — Porque se ela não tiver medo de mim, então ela é uma
ameaça... Para mim, para você, para todos nós. Se ela não está
apavorada, então ela é a única perigosa.

— Ela não é uma ameaça.

— Como você sabe?

— Sim. Você acha que eu a traria aqui se ela fosse?

Enzo sacudiu a cabeça. — Eu não sei, não sei por que você a
trouxe aqui, talvez você tenha esquecido como as coisas funcionaram.
Talvez você tenha esquecido o que aconteceu.

O aperto de Matty em Genna intensificou os músculos rígidos. Ela


estremeceu com a pressão em seu peito, suas costelas pressionando em
seus pulmões, contraindo o fluxo de ar. — Você acha que eu esqueci?
Que eu poderia esquecer?

— Ela está aqui, não está?

— Eu nunca vou esquecer o que aconteceu. — cuspiu Matty, sua


voz uma borda dura que Genna nunca tinha ouvido antes. O tom
ameaçador enviou um frio abaixo de sua espinha. — Lembro-me melhor
do que ninguém, sei do que essa família é capaz.

— Então por que ela está aqui?

— Porque sei do que a nossa também é capaz. Eu estava fodido


de ambos os lados, Enzo, mas talvez você tenha esquecido disso. Eu
não posso culpá-la mais do que eu posso culpá-lo. Menos, mesmo,
considerando que ela não tem nada a ver com os negócios de seu pai,
mas e você? — Matty zombou. — Você está tão fundo na merda. Estou
surpreso que você não fede.

~ 156 ~
Ele faz, pensou Genna. Sua colônia fez seu nariz se contorcer.

Os irmãos se entreolharam, trancados num olhar furioso, o ar em


volta deles tão silencioso como um cemitério. Genna permaneceu
imóvel, seu coração disparado tão forte que ela ficaria surpresa se eles
pudessem ouvi-lo. Ela podia, ouvir um estampido afastado em seu peito
tenso, ecoando em seus ouvidos.

Enzo quebrou primeiro, um fato que surpreendeu Genna. Ele


soltou um gemido exagerado enquanto olhava para longe, balançando a
cabeça. — Você está brincando com fogo, Matty.

— Deixe eu me preocupar com isso. — disse Matty, segurando-a


enquanto relaxava. Ele a manteve por perto, nunca a deixando ir, mas
ela sentiu como se pudesse finalmente respirar com o tom casual de
sua voz.

— Se eu me queimar, queimei.

— Você vai se queimar, tenho certeza. — Enzo murmurou,


caminhando atrás deles e sentando no sofá. Matty girou para encará-lo.

— Se o pai descobre, ele mesmo pode queimar você.

— Ele não vai descobrir. — disse Matty. — Certo?

Enzo levantou as mãos defensivamente. — Eu certamente não


vou dizer a ele, se é isso que você está preocupado, mas eu não vejo
como você pode esconder dele.

— Ele ainda não descobriu. — disse Matty. — E se ele fizer,


vamos lidar com isso então.

— Quando. — Enzo corrigiu. — Quando ele descobrir. Porque ele


vai. É apenas uma questão de tempo. E o pai dela? Quando ele
descobrir? O bastardo frio vai ter sua cabeça cortada. Provavelmente
exibi-la em seu maldito manto como um troféu.

A voz de Genna era mansa enquanto ela instintivamente falou. —


Ele não faria isso.

Os dois rapazes riram secamente enquanto Enzo lançava-lhe um


olhar incrédulo. Ele claramente não gostava dela. Em tudo.

— Ele não faria. — ela disse de novo, mais insistente, enquanto


olhava para ele. — Ele é, bem... ele está...

— Não. — Matty disse, os lábios perto de seu ouvido quando ele


falou a única palavra, brusca e firme, assustando-a em silêncio. — Só...
não.

— Não, a deixe falar. — disse Enzo, sua expressão suavizando


com diversão enquanto se recostou no sofá, esticando os braços para
fora enquanto olhava para ela.
~ 157 ~
— Vamos, querida, conte tudo sobre Primo e o que ele faria ou
não faria.

Genna ficou tensa com aquelas palavras.

Deixando-a ir, Matty suspirou, escorregando os braços dela. Ele a


deixou ali parada, a frieza apoderando sem o conforto de seu abraço.
Permaneceu imóvel, estoica, enquanto ele caminhava em direção à
cozinha aberta. Sem falar, pegou uma garrafa de licor, bebendo
diretamente da garrafa quando voltou. Ele a estendeu para Genna, que
a pegou sem sequer olhar, o amargo de álcool queimando sua garganta.
Ela não podia lutar contra o estremecimento.

— Genna, este é Enzo. — Matty disse, pegando a garrafa de volta


dela e apontando para seu irmão.

— Enzo, esta é Genna.

Nenhum dos dois disse nada. Nada de apresentações calorosas.


Nada de 'bom conhecê-lo'. Nada. Genna olhou para ele por um
momento antes de se virar para Matty.

— Já o conheci.

Matty assentiu com a cabeça. — E?

— E ele é ainda mais idiota do que eu pensava.

Matty apenas olhou para ela, mas Enzo, surpreendentemente,


estourou em um riso, o som animado atraindo a atenção de Genna a
ele. Ele parecia genuinamente entretido por sua avaliação quando ele
estendeu a mão, fazendo um gesto para que Matty lhe desse a garrafa
de licor. Segurando-a, ele tomou um gole, tentando conter sua diversão.
— O sentimento é mútuo, querida.

Genna fez uma careta com seu tom condescendente. Essa foi a
segunda vez que ele a chamava assim. — Eu não sou sua querida.

— Eu tenho alguns outros nomes que eu poderia te chamar, se


você preferir.

— Quais, Medusa? — ela perguntou, erguendo uma sobrancelha


para ele. — Princesa do gelo?

Os olhos de Enzo cintilaram para Matty antes de se concentrar


nela novamente. — Eu estava pensando mais como cadela, mas se a
carapuça serviu querida.

Antes que ela pudesse morder de volta, Matty passou um braço


ao redor dela de novo, puxando-a em direção a ele. — Eu deveria te
levar para casa.

~ 158 ~
— Não vá por minha causa. — disse Enzo, levantando-se e
empurrando a garrafa de bebida à direita no peito de Matty enquanto
caminhava em direção à porta.

— Como eu disse, eu simplesmente entrei para dizer oi, tenho


trabalho a fazer.

Matty suspirou quando Enzo saiu, a porta batendo atrás dele.


Inclinando-se, ele pressionou um leve beijo no pescoço de Genna. —
Sinto muito por ele.

Ele estava se desculpando por seu irmão. Um Barsanti, pedindo


desculpas porque outro Barsanti estar fazendo coisas típicas de um
Barsanti? Genna quase riu, mas a realidade da situação manteve sua
diversão na baía. — Ele levou tudo mais friamente do que eu esperava.

— Sim?

— Sim. — Genna murmurou, inclinando a cabeça para o lado


enquanto ele beijava sua mandíbula. — O inferno de muito melhor do
que Dante iria levar.

~ 159 ~
Capitulo Dez
Enzo sentou-se no banco do passageiro do Lotus, franzindo o
cenho enquanto olhava pela janela lateral, observando a escuridão
passar. Matty atravessou as ruas de Manhattan, dirigindo-se para o
Little Italy. Sua pele parecia muito apertada para seu corpo, coçando
como se estivesse esticado muito, desconforto rastejando em toda a sua
carne.

Enzo não falava com ele há dias. A tensão, irritante no início,


tinha crescido de maneira preocupante, até o ponto onde Matty podia
sentir pressionando-o fisicamente.

— Recebeu todos os pagamentos da semana passada? —


perguntou Matty, tentando conversar. O silêncio era demais.

— Eu não tenho sempre recebido? — perguntou Enzo, seu tom


cortado. Ele ainda não tinha olhado para ele. — Eu vou te pagar
quando acabarmos hoje.

— Eu não estou preocupado com o dinheiro.

— Então por que você está perguntando sobre isso?

Foi uma ótima pergunta, uma que Matty não poderia responder.
Porque você não vai falar comigo soou malditamente petulante, e ele
achava que Enzo estava sendo infantil o suficiente para os dois. Um
silêncio tenso infiltrou o carro enquanto continuava, dirigindo-se para
Mulberry Street. Ele balançou o carro ao longo do meio-fio,
estacionando em frente à loja de música antiga. Antes que pudesse
parar o motor, Enzo abrira a porta e saiu.

Desligando o carro, Matty suspirou e se juntou a seu irmão na


calçada. Ele resistiu... e resistiu... e resistiu um pouco mais... mas era
inevitável que acabasse chegando aqui, arrastado para um dos muitos
esquemas do seu pai.

Extorsão.

Little Italy era notório por ser volátil, um fato que Roberto
Barsanti decidiu capitalizar. Por cem dólares por semana, ele ofereceu
proteção aos negócios locais - uma oferta que a maioria deles estavam
apavorados demais para recusar. Não era um esquema novo, mas
nunca haviam contornado uma área tão cinzenta com ele, andando de

~ 160 ~
ponta a ponta em torno das regras não escritas e empurrando fronteiras
invisíveis, avançando em território que nunca tinha sido reivindicado.

Mas a família Barsanti queria isso.

Enzo, sempre foi primeiro a dar o passo, concordou em colocar


tudo em movimento, mas Matty não poderia apenas sentar enquanto
seu irmão assumia todo o risco. Tão estupidamente, ele se ofereceu
para jogar de acompanhante, um fato que ele estava se arrependendo
enquanto estava lá. O bairro estava longe de ser ameaçador, mas isso
estava fora de sua caixa.

Cedo ou tarde, ele sabia que voltaria para assombrá-los.

Sem palavras, ele seguiu Enzo pelo bairro, ficando de pé


silenciosamente enquanto seu irmão fazia a coisa dele. As pessoas nem
sequer olharam para Matty, muito menos o reconheceu, um fato que ele
tinha se acostumado. A maioria tinha descoberto quem ele era, mas os
desconhecidos os aterrorizavam. Sua ausência o transformou em uma
espécie de lenda, uma história assustadora sobre o menino que pode ou
não estar morto.

Depois de um tempo ele escapou, enquanto Enzo conversava com


um velho amigo. Matty fez o seu caminho para o Casato, o sino acima
da porta tilintando enquanto ele entrava no café. Instantaneamente o
homem atrás do balcão olhou para cima, sorrindo quando o viu.

— Matteo!

— Tio Johnny. — ele disse, balançando a cabeça em saudação.

Johnny apoiou-se em sua bengala enquanto olhava para ele. — O


que eu posso pegar para você, garoto?

— Nada. — disse ele. — Eu estava no bairro e pensei em passar


por aqui.

Johnny Amaro ainda supervisionava os negócios no velho café de


sua família, apesar de ser o chefe da notória e rica família do crime
Amaro. Era uma questão de orgulho, ele sempre disse a Matty. De ter
algo legítimo que tinha sido construído com trabalho duro.

— Venha, sente-se, coma alguma coisa. — Insistiu Johnny. — Já


faz muito tempo.

Matty obedeceu e sentou-se à mesa, bebendo um expresso e


pegando um muffin. Enzo apareceu um pouco mais tarde, saudando
seu tio friamente antes de gesticular em direção à porta.

— Eu já acabei, então podemos ir.


Levantando-se, Matty tentou pagar, mas Johnny recusou seu
dinheiro, em vez disso, o afastou. — Não seja um estranho.

~ 161 ~
— Não serei.

Eles saíram, e Enzo disparou-lhe punhais assim que estavam de


volta na rua. — Você é muito amigável com os Amaros.

A testa de Matty franziu-se. — Eles são nossa família.

— Dificilmente. — disse Enzo. — Além disso, você sabe, quando


se trata de família, o sangue não importa tanto quanto a lealdade.

Matty ignorou isso, sua cabeça baixa enquanto caminhavam ao


redor do quarteirão, indo para onde o Lotus estava estacionado.

Assim que viraram a esquina, os passos de Enzo hesitaram e ele


amaldiçoou em voz baixa. — Porra.

Matty olhou para ele de forma peculiar, vendo o olhar de ódio em


seu rosto. Ele seguiu o olhar de seu irmão, seu estômago caindo. No
final da rua, à espreita em frente à loja de música, estavam dois caras,
as luzes nas proximidades iluminando suas figuras sombrias e dando a
Matty flashes de um dos seus rostos.

Dante Galante estava em ponto morto na calçada, bloqueando


seu caminho, suas mãos casualmente nos bolsos, postura relaxada
enquanto ele conversava com um cara na frente dele. O outro era baixo,
pouco mais de 1,50 cm — nada como a construção do Pillsbury Dough4
Boy.

Enzo dificilmente recuou, seus passos se recolheram enquanto


caminhava pela rua em direção a eles. — Bem, bem, bem. — Enzo falou
pausadamente. — Se não é a escória das ruas, deposito de sujeira da
calçada e um ser tão inútil quanto um Galante é conhecido.

Os ombros de Dante se enrijeceram, mas ele manteve sua postura


indiferente. — Barsanti.

Matty contornou-os, pisando fora enquanto se dirigia para o


Lotus, mas Enzo caminhou para frente, à direita em direção aos
homens. Ele pisou entre eles, caminhando adiante lentamente, roçando
Dante enquanto o olhava sua expressão implorando ao garoto para
reagir. Dante manteve sua postura, não recuando, pés plantados na
calçada.

Balançando a cabeça, Enzo riu amargamente sob sua respiração


enquanto caminhava em direção ao carro. Lentamente, Dante se virou
para olhar, os olhos apertados em Enzo antes de se mover ao longo do
Lotus. Seu olhar pegou Matty depois de um momento. — Carro legal.

Matty hesitou. Um elogio? — Obrigado.

4Pillsbury Doughboy, é um ícone publicitário e uma mascote da Pillsbury


Company, aparecendo em muitos de seus comerciais.

~ 162 ~
— Um Lotus, hein, o que é, uma Elise?

— Evora.

— Lotus Evora. — disse Dante. — Não há muito deles por aí


também, hein? Achei que eu vi um no East Harlem uma tarde. Parecia
malditamente igual ao seu.

Merda. Ele sabia que ele tinha visto — Genna tinha confirmado
isso — mas ele esperava que nunca fosse além disso. Ele tentou evitar
ficar naquela área desde então.

Antes que Matty pudesse pensar em alguma resposta que não ia


fazê-lo parecer tão malditamente culpado ou defensivo, Enzo entrou na
conversa. — Você está acusando meu irmão de algo, Galante?

— Claro que não. — disse Dante. — Estou apenas dizendo...

— Eu sei o que você está dizendo. — disse Enzo. — E você pode


parar exatamente onde começou com essa merda.

— Sim, bem, apenas lembre-se... — Dante brincou. — Você fica


do seu lado e nós ficaremos do nosso.

— Eu não preciso que você me diga o que fazer. — disse Enzo. —


Não há nada que desejemos no East Harlem.

Dante não disse nada, mas sua expressão desconfiada disse a


Matty que ele não acreditava neles. Sua irmã estava em East Harlem, e
isso claramente preocupou Dante.

— Temos coisas melhores a fazer do que lidar com você. — Enzo


murmurou, contornando Dante para entrar no carro. — Vamos Matty,
vamos dar o fora daqui.

Matty começou a entrar no carro quando a voz de Dante tocou


novamente, chamando seu nome. — Matty?

Ele olhou para Dante, levantando as sobrancelhas com


curiosidade. — O quê?

— É assim que eles te chamam? — perguntou Dante. — Matty?

Algo sobre o tom parou Matty de responder, mas Enzo era rápido
em responder. — Essa é a porra do seu nome, não é?

Dante ignorou a pergunta hostil, seus olhos focados diretamente


em Matty. — Basta lembrar o que dissemos aqui... Fique fora do nosso
território e longe do que é nosso. Não há nada lá para você. Em tudo.

Matty não reconheceu a declaração, entrando no carro e ligando-


o, revivendo o motor e acelerando para longe do meio-fio antes de Enzo
mesmo pôr o cinto de segurança. Matty podia sentir o olhar de seu
irmão sobre ele enquanto dirigia em direção a Soho, o julgamento como

~ 163 ~
punhais perfurando através dele. — Nunca pensei que você faria isso,
Matteo.

Ele olhou para seu irmão cautelosamente, sabendo que ele estava
estranhamente furioso. — Fazer O quê?

— Ser aquele que pega boceta cegamente. — Enzo disse,


balançando a cabeça. — Acho que ela fodeu o senso comum direito fora
de você. Isso é bom, irmão?

— En?

— O quê?

— Eu ainda não estou falando com você sobre minha vida sexual.

— Sim, bem, você deveria. — Enzo murmurou, — Considerando


que provavelmente vou ficar fodido por tudo isso, também.

Genna se inclinou contra o balcão da cozinha, observando o


jantar congelado, girando em círculos na bandeja dentro do micro-
ondas, o tempo no relógio recuando continuamente.

Trinta segundos.

Vinte e nove.

Vinte e oito.

Vinte e sete.

Ugh apresse-se.

— O que você está fazendo? — Genna olhou para a porta, vendo


seu irmão ali de pé, olhando para ela incredulamente. Ele estava de
banho tomado e vestido impecavelmente de preto da cabeça aos pés.
Alguém tem planos para esta noite...

— Tentando me matar por overdose de radiação. — disse ela,


apontando para o micro-ondas no mesmo tempo que apitou. Já era
hora. Cinco minutos pareceu uma eternidade com seu estômago
roncando. — Sério, o que parece que estou fazendo?

— Parece que você está fazendo comida. — respondeu Dante. —


Genevieve Galante, na cozinha, cozinhando algo... Uma dessas coisas
simplesmente não pertence aqui.

~ 164 ~
Ela revirou os olhos, estourando a porta do micro-ondas aberta e
puxando o recipiente para fora — Salisbury bife, molho, puré de batata
e milho. — É comida de micro-ondas, eu não a chamaria de cozinhar.

— Bem, eu ainda chamaria isso de um milagre.

Genna removeu o plástico da frágil bandeja branca e pegou um


garfo para cutucar a comida. Ela cortou um pedaço de carne e estalou
em sua boca.

— Isso é bom? — perguntou Dante, com uma expressão de


mórbida diversão enquanto a observava se esforçar para mastigar.

— Tão bom como essa merda que eu servi a todos ontem na sopa
dos pobres. — disse ela. Bolo de carne.

— Então por que você está comendo isso?

— Porque estou com fome. — disse ela, dando outra mordida.

— Porque papai está fora Deus sabe aonde, por isso não há jantar
hoje à noite, de modo que uma cadela tem que comer alguma coisa.

Dante riu, sacudindo a cabeça. — Você deveria vir comigo esta


noite.

Genna tomou uma mordida de milho. Não tinha gosto de nada,


como se estivesse mastigando pequenos pedaços de borracha amarela.
— Onde?

— Fora. — ele disse, encolhendo os ombros. — É sábado à noite.

Ela olhou para seu irmão com ceticismo, lentamente tomando


uma mordida de batatas e fazendo caretas para a textura fina,
granulada. Nojenta. Engolindo, ela acenou com o garfo para ele. — Isso
não é como, trabalho, não é? Você não está dizendo por que você quer
sair, mas o papai mandou você ficar por aqui e me vigiar em vez disso?

— Não. — ele disse, balançando a cabeça. — Não tenho hoje


serviço.

— Então é culpa e não obrigação.

— Mais como pena. — Dante riu dela quando ela forçou para
baixo outro bocado de comida.

— Venha, eu até vou comprar o jantar.

Genna deixou cair o garfo e empurrou a bandeja de comida de


lado antes de se dirigir ao lado de seu irmão. — Vou me trocar.

— Você está bem. — disse ele, agarrando seu braço para detê-la
quando ela tentou fugir dele.

~ 165 ~
Olhando para baixo, ela suspirou — camisa cinza de grandes
dimensões caindo fora de seu ombro, jeans rasgados, e um par de
sapatilhas pretas não era, certamente, — sair— em uma noite de
sábado, em seu mundo. — Sério?

— Sim, serio.

Dante virou-a para a porta. Genna deu de ombros, subindo no


banco do passageiro de seu carro. Ela só estava indo para jantar, de
qualquer maneira. Ela amarrou os cabelos para trás, tentando domar a
bagunça selvagem que ela não tinha certeza se ela tinha mesmo
escovado, quando seu irmão partiu para Manhattan.

— Onde estamos indo? Espera... podemos ir para a churrascaria


novamente? Oh, não, que tal o café em Little Italy?

— Negativo. — ele disse enquanto dirigia para o sul. — Nós


estamos indo para um bar esporte esta noite.

Sua testa franziu. — The Place?

As palavras saíram de seus lábios, ressoando no ar do carro antes


que ela tivesse bom senso o suficiente para contê-las ou até mesmo
perceber o que ela estava dizendo. Ela ficou tensa quando Dante
lançou-lhe um olhar curioso. Merda.

— The Place?

— O lugar que você sempre vai. — ela disse, tentando o


retroceder. — Você sabe, sempre que você sai, seu lugar de sempre.

— Oh, sim, claro.

Genna soltou um suspiro, virando-se para olhar pela janela.


Talvez fosse um nome genial, afinal. Ela não disse mais nada enquanto
eles dirigiam pela cidade, para um lugar na fronteira entre Little Italy e
Nolita. Dante estacionou seu carro em uma garagem subterrânea e
levou-a para o bar de uma entrada de trás. Ele parecia semelhante ao
The Place, mas não bastante sofisticado, o interior desgastado e a
iluminação fraca. Pessoas lotaram a área, conversando e rindo, bebidas
cobrindo mesas enquanto a música explodia dos alto-falantes
posicionados nos cantos. Acima do som da música rock, Genna ouviu
bolas batendo em um jogo de sinuca na parte de trás.

Dante foi direto para uma cabine e fez sinal para um garçom, que
abandonou o cliente que estava ajudando para atender imediatamente
ao seu irmão. Genna involuntariamente sorriu, pensando em Matty. Era
como o tinham tratado no The Place.

— Traga-me uma cerveja — Heineken. — disse ele. — E para


minha irmã uma Coca-Cola.

— Só Coca-Cola?

~ 166 ~
— Rum... — Interveio Genna. — Rum e Coca-Cola.

— Rum e Coca-Cola, sem o licor. — A voz de Dante tinha um ar


estridente, para enfatizar seu ponto.

— Você me escutou? — o garçom assentiu.

— Apenas Coca-Cola.

— Oh, e você tem um cardápio? — perguntou Dante. — Ela está


com fome.

— Absolutamente.

O garçom agarrou um cardápio, entregando-o a Dante, antes de


sair para pegar suas bebidas.

Genna acomodou-se no estande enquanto olhava para o cardápio,


procurando por algo para comer. O garçom retornou com suas bebidas
e ficou lá, esperando pacientemente para tomar o seu pedido.

— Vou querer um hambúrguer. — disse Dante. — Mal passado,


com tudo dentro.

— Eu quero o mesmo. — Genna disse, encolhendo os ombros


enquanto fechava o cardápio. — Exceto que eu quero o meu, na
verdade, bem passado.

Não demorou muito para a sua comida chegar, alguns minutos


no máximo. Genna franziu o cenho, pegando as cebolas e picles fora de
seu hambúrguer, antes de mergulhar dentro. Dante bebeu sua cerveja
enquanto ele comia, antes de empurrar seu prato de lado, fazendo sinal
para a parte de trás do lugar. — Você se importa se eu for bater
algumas bolas?

Ela abanou a cabeça. — Vai em frente.

Dante sorriu, batendo o punho contra a mesa enquanto se


levantava. Genna terminou a comida em silêncio. Ela podia ver as
mesas de bilhar de onde ela estava sentada e viu quando seu irmão
colocou algum dinheiro para baixo na mesa mais próxima. Apressada.
Rindo, ela olhou para o prato e pegou uma batata frita, jogando em sua
boca enquanto olhava para cima. Sua expressão caiu instantaneamente
e ela parou de mastigar, pega de surpresa quando alguém entrou na
cabine em frente a ela, bloqueando sua visão do jogo.

Ele não era ninguém que ela conhecia pessoalmente, embora seu
rosto lhe parecesse familiar, como se ela deveria o conhecer de algum
lugar. Independentemente disso, sua repentina presença, não
convidada em sua mesa, fez seu cabelo se eriçar. Ela fez um balanço de
sua mandíbula e rosto limpo... Classicamente bonito, e não o tipo
áspero e confuso, mas seus olhos contavam uma história mais
profunda. Eram da cor do aço, acentuados por seu terno cinza.

~ 167 ~
— Desculpe-me. — disse ela na defensiva quando sentou-se na
cabine, instintivamente, afastando-se dele. — Mas eu estava apenas
tentando...

— Genevieve, certo? — ele ergueu as sobrancelhas enquanto a


cortava. — Genevieve Galante?

Isso silenciou seu pensamento. Ele sabia o nome dela. Sua


expressão endureceu quando ela olhou para ele, seus pensamentos já
virando na defensiva. Quem diabos era ele? — Depende de quem está
perguntando.

— Pode me chamar de Gavin.

— Prefiro não chamar você de nada. — disse ela. — Agora, se me


der licença, eu estava tentando comer.

Ele ergueu as mãos. — Não me deixe pará-la.

Ela esperava que ele levantasse, para obter uma pista, mas em
vez disso ele permaneceu no local e fez sinal para o garçom. O homem
hesitante aproximou-se, parecendo surpreso ao vê-los sentados juntos.

Eu estou tão surpresa quanto você, amigo.

— Me traga o de costume. — disse Gavin. — E traga a Senhorita


Galante um refil do que ela está bebendo.

— Rum e Coca-Cola. — Genna murmurou, pegando seu copo


enquanto ela ria secamente. — Sem rum.

— Coke Roman. — Ordenou Gavin, surpreendendo Genna


quando usou esse nome. — Com o rum dessa vez.

— Mas... — O garçom balançou a cabeça lentamente. — Sr.


Galante disse não.

— Bem, eu digo para dar à menina um pouco de rum. — Gavin


argumentou.

— Então eu acho que o que você faz agora depende do resultado


de quem mais te assusta.

O garçom pareceu rasgado, genuinamente assustado, enquanto


se afastava da mesa. Os olhos de Genna se estreitaram
suspeitosamente quando ela olhou para o cara sentado em frente a ela.

— Gavin, você disse? Você tem um sobrenome?

Ele assentiu. — Amaro.

Amaro. Agora aquele nome ela conhecia. A expressão temerosa do


garçom fazia sentido agora. Ela relaxou de volta na cabine, esperando

~ 168 ~
em silêncio até que seus drinks fossem trazidos até eles. Ela tomou um
gole, fazendo uma careta com a amargura do álcool. Isso era forte.

— É bom saber que não perdi o meu toque. — disse Gavin,


notando sua expressão.

— Bem, obrigada pela bebida. — disse ela, apontando para ele


com o copo. — Mas, realmente, eu estou aqui com o meu irmão, e eu
não tenho tanta certeza de que ele vá ficar feliz em vê-lo falando comigo,
então você pode querer... Você sabe...

— Ir embora? — ele adivinhou.

Bingo.

— Seu irmão não se importará. — disse Gavin. — Além disso,


estamos apenas conversando.

— O que nós temos que conversar?

Gavin pegou sua bebida e tomou um gole, sem responder por um


momento, seus olhos deixando os dela para varrer o bar ao redor deles.
— Estou surpreso ao vê-la aqui, Genevieve.

— Genna. — corrigiu-o. — Com G.

— Genna com G. — ele repetiu. — Como eu disse, fiquei surpreso


ao vê-la aqui, pensei que o The Place no Soho era mais sua cara.

O pânico borbulhava dentro de Genna. Sua voz era indiferente,


mas havia um significado mais profundo nessas palavras que torceu
seu estômago em nós.

— Eu não sei sobre o que você está falando.

— Não sabe? — ele perguntou, voltando a encontrar os olhos dela.

— Não. — disse ela. — De modo nenhum.

Ele se inclinou sobre a mesa mais perto dela. — Mentirosa.

Genna permaneceu imóvel, seu olhar se lançando sobre o ombro


de Gavin para onde seu irmão jogava bilhar, inconsciente de seu
visitante. Ela se voltou para Gavin, tentando engolir o alarme. — Olha,
eu não sei o que você quer de mim, mas se você acha que pode me
intimidar...

Antes que pudesse terminar, Gavin a interrompeu com uma


risada divertida. — Você acha que estou tentando ameaçá-la?

— Eu não sei o que você está tentando fazer.

— Estou apenas tentando ver o que meu primo vê em você.

~ 169 ~
Choque passou por ela enquanto o encarava. Primo? Antes que
ela pudesse pensar em algo para dizer, Gavin se levantou e começou a
caminhar para longe, indo direto para as mesas de bilhar. Genna pegou
sua bebida, engolindo o resto. Querido Deus, dê-me força para socar com
esse filho da puta no rosto se ele não mantiver a boca fechada.

— Galante. — Gavin gritou, sua voz alta o suficiente para que


Genna ouvisse sobre a música. Ela saltou sobre seus pés e rapidamente
começou a caminhar, seu coração martelando em seu peito. O que ele
estava fazendo? Que diabos estava errado com ele? Ele estava tentando
começar uma briga?

Dante levantou os olhos do jogo de bilhar, encontrando o olhar de


Gavin. — Amaro.

— Você está roubando dinheiro desses idiotas de novo? — Gavin


perguntou.

Dante ficou de pé, apoiando o taco contra a parede enquanto ele


acenou para seu adversário para ter sua vez. Lentamente, ele se
aproximou de Gavin, encolhendo os ombros. — Não é minha culpa que
eles são estúpidos o suficiente para jogar comigo.

Gavin foi direto para Dante. Genna engasgou, seus passos


vacilantes quando, em vez de vê socos entre eles, os mesmos apertaram
as mãos, fazendo algum tipo de abraço brutal de garotos, punhos
batendo nas costas enquanto os dois riram, cumprimentando um ao
outro como velhos amigos.

Que diabos?

— Acho que já deveriam ter aprendido por agora. — disse Gavin.

— Sim, bem, eu espero que eles nunca façam. — disse Dante,


agarrando seu taco para tomar sua próxima vez.

Sorrindo, Gavin se encostou à parede mais distante, seus olhos


mudaram para Genna. Ela olhou para ele enquanto se aproximava, sem
encontrar diversão enquanto piscava de brincadeira. Ugh, o bastardo
presunçoso estava definitivamente relacionado com Matty. Ambos
instintivamente sabiam como empurrar seus botões.

Dante tomou conhecimento de sua presença e apontou para ela.

— Gavin, esta é minha irmãzinha, Genna. Genna, este é Gavin


Amaro, filho de Johnny.

— Prazer em conhecê-la, senhorita Galante. — disse Gavin


educadamente, sorrindo. — Eu ouvi muito sobre você.

Ela não disse nada em resposta a isso, olhando entre ele e Dante.
— Então, vocês dois são, o que... amigos?

~ 170 ~
Dante encolheu os ombros. — Você poderia dizer isso.

Balançando a cabeça, desistindo de achar algum sentido nisso,


ela caminhou e se sentou em uma cadeira em uma pequena mesa perto
de onde Gavin recostou.

Dante continuou jogando, não lhe dando atenção, quando Gavin


eventualmente se sentou em frente a ela. Ele nunca mencionou o nome
de Matty, sem respirar uma palavra do que ele sabia, mas ela podia ver
o olhar de conhecimento em seus olhos quando ele sutilmente brincava
com ela. Bebidas fluíram para sua mesa, e Genna lentamente ficou
intoxicada, o álcool soltando seus músculos e aliviando sua tensão.
Dante passeava entre os jogos para conversar, os bolsos cheios de
dinheiro.

Poucas horas e assim muitas bebidas depois, Gavin se levantou.


— Eu provavelmente deveria ir para casa.

Dante apoiou o taco contra a parede, terminando um jogo e olhou


para o relógio. — Nós devemos ir, também.

Gavin ofereceu a mão a Genna. Ela agarrou, balançando quando


ele puxou-a para seus pés. Antes que ela pudesse se afastar dele, ele
levou a mão para a boca dele e apertou um beijo na parte de trás, seu
olhar persistente sobre o relógio que ela ainda usava, o que ela tinha
tomado direto do pulso de Matty. — Eu acho que eu poderia apenas vê-
lo, Genna com um G.

Ela olhou para ele, surpresa, enquanto saudava seu irmão mais
uma vez antes de se afastar. Dante deu alguns passos na direção dela,
parando ao seu lado. — O que ele está vendo?

— Uh... — ela olhou para seu irmão, vendo suas sobrancelhas


subirem em curiosidade. — Um filme. Eu disse a ele, você sabe, ele
deveria ver este filme, e eu acho que ele pode.

— Que filme?

— Oceanos 11. — Jesus Cristo. Ela amaldiçoou o momento em


que ela disse isso. Realmente, Genna? — E 12, também.

— Ele nunca os viu?

— Não. — ela disse rapidamente.

— E você viu?

— Sim, claro... Julia Roberts está neles.

— E é por isso que você disse a ele para vê-los?

Ela zombou. — Não, eu disse a ele para assisti-los, porque, você


sabe, não há assaltos neles, e uma vez que ele é um... — Ela balançou a

~ 171 ~
cabeça. Ela era uma mentirosa terrível quando estava sob pressão. —
Seja o que for.

Dante olhou para ela, incrédulo. Genna teve medo de elaborar,


sabendo que ela estava apenas cavando-se mais profundo. Depois de
um momento, seu irmão suspirou. — Olha, eu respeito Gavin. Apesar
do fato de que ele está perto daquelas pessoas, ele nunca me deu
motivos para odiá-lo. E eu só estou pedindo que você, Genna... eu estou
te implorando... não me dê motivos para odiar ele.

— Porque eu faria isso?

— Você não faria isso intencionalmente, mas eu sei como você é


com os caras. E enquanto eu gosto dele, eu não vou gostar dele tocando
a minha irmãzinha.

— Você acha que eu... que nós... eu e ele? — ela franziu o cenho.
— Sério?

— Eu só estou dizendo, não comece a vê-lo.

— Confie em mim. — disse ela. — Você não precisa se preocupar


com isso.

~ 172 ~
Capitulo Onze
O ar dentro da casa estava gelado, irritando agressivamente os
pulmões de Matty enquanto ele respirava fundo. Um arrepio subiu por
sua espinha quando entrou, sem se incomodar em bater na porta da
frente. Eles saberiam que ele estava lá.

A luz do dia atravessava as janelas tenuamente, conforme o pôr


do sol se aproximava, os quartos escureciam envoltos em sombras. As
costas de Matty formigaram desconfortavelmente enquanto os cabelos
na nuca do seu pescoço se eriçaram. Nada era tão distante e hostil
quanto à casa dos Barsantis sem o som do riso de sua mãe. Na verdade,
naquele momento, a ausência da risada da mãe, atingiu-o com força.
Não havia nada pacífico nesse silêncio.

Gritava selvagemente para ele.

Sem fazer barulho, Matty subiu as escadas, ouvindo vozes


misturadas e sussurros no escritório de seu pai, a porta totalmente
aberta. Matty parou no corredor do lado de fora, olhando para seu
irmão e seu pai em pé ao redor de uma mesa de madeira. Armas
cobriam cada centímetro da superfície — das mais simples pistolas
calibre 22 aos rifles de assaltos de alta tecnologia feitas pelo o homem.

Enzo agarrou um revólver de 9MM, examinando cuidadosamente


para verificar se estava carregado. Ele olhou para a porta, fazendo um
leve movimento quando viu Matty à espreita ali, mas como esperado, o
seu pai não foi pego desprevenido.

— Matteo. — Roberto disse, sua voz firme e gelada como a casa.


Suas costas estavam para Matty enquanto passava a mão pelo AK-47.
Ele nem sequer se virou para olhar para ele.

— Pai.

Enzo olhou entre os dois e respirou fundo quando enfiou a arma


na cintura. Ele acenou com cabeça para o pai uma vez, enviando uma
mensagem sem palavras para Matty, mas permanecendo no escuro,
antes de andar em passos largos para fora da sala.

— Ela está descansando. — disse Roberto calmamente.

— Confortavelmente?
— Por agora.

~ 173 ~
— O que o médico disse?

— A mesma coisa que ele sempre diz. — Roberto respondeu. É


difícil dizer; não há maneira de saber. — Não importa, porém, porque eu
sei. Eu não preciso de nenhum médico para me dizer. Eu mesmo posso
fazer. Não vai demorar muito agora.

O peito de Matty apertou com essas palavras. Seus pulmões


protestavam contra a entrada de ar. Roberto abaixou a cabeça, soltando
um suspiro triste.

Embora ele não estivesse certo do que dizer, Matty sentiu a


necessidade de dizer alguma coisa. Algo, qualquer coisa, para limpar o
ar entre eles, para difundir um pouco da tensão gelada, para aquecer a
casa apenas um pouco para sua mãe enquanto ela se aproximava do
fim.

Ele não teve a chance, no entanto. O momento de compreensão, o


momento de medo mútuo, desapareceu quando Roberto abriu a boca de
novo, arrastando Matty de volta para a realidade deles.

— Você carrega uma arma, Matteo?

— Você sabe que não.

Roberto assentiu, finalmente se virando para encará-lo, sua


expressão nada mais do que uma expressão impassível aperfeiçoada em
seu rosto. — Depois desta noite, meu filho, você pode querer começar.

O homem saiu a passos largos, deixando Matty lá sozinho para


ouvir a sua pesada descida ao longo das escadas, cada pisada como um
chute no intestino. Não havia nada mais perigoso no mundo do que um
homem sem fundamento. A mãe de Matty era o alicerce que os
mantinha juntos. Sem ela, nada mais eram do que tijolos fraturados e
argamassa, fragmentados, que davam à escuridão um fácil acesso para
se esgueirar enquanto caíam em pedaços.

E embora Roberto parecesse tão forte e resistente como aço,


Matty sabia que a perda que estavam prestes a sofrer seria forte o
suficiente para dobrar até o metal mais resistente.

Seus olhos examinaram as armas ao longo da mesa, brevemente,


antes de se virar e sair do escritório, silenciosamente fazendo o seu
caminho para mais além no corredor, até o quarto principal. Ele bateu
na porta levemente com os nós dos dedos, apenas por respeito, nem um
pouco à espera de uma resposta, antes de entrar no quarto. Sua mãe
dormia profundamente, um olhar calmo em seu rosto, seu peito
vacilava com cada respiração que ela tomava.

Suspirando, Matty sentou-se na beira da cama ao lado dela. Ele


permaneceu ali por um minuto ou mais, ouvindo o som de sua
respiração, antes de tirar o telefone do bolso.

~ 174 ~
Ele mandou uma mensagem para Genna. As coisas não estão
parecendo boas para a minha mãe.

Ela respondeu de imediato. Eu sinto muito. Você precisa de


alguma coisa?

Precisava de alguma coisa? Ele precisava de tudo para ser um


sonho, um pesadelo cruel que ele pudesse acordar. Eu preciso de você
para me dizer que ela vai ficar bem.

Um nó se formou em sua garganta, mesmo digitando essas


palavras, seus olhos olhando para outro lado com lágrimas não
derramadas. Era um pensamento ilusório, a mesma mentalidade que
ele tinha sustentado quando ele era apenas uma criança, recusando-se
a acreditar que alguém que ele amava estava realmente desaparecendo
para sempre. Não havia jeito, ele disse. Era uma brincadeira, uma piada
cruel, uma mentira, a pior mentira já contada. Pessoas não morrem.
Não as pessoas que ele amava, de qualquer maneira.

Sua resposta, mais uma vez, veio instantaneamente. Ela vai ficar
bem, Matty. Ela vai. Ela pode não estar mais com você, você pode
não vê-la, mas ela vai ficar bem. Eu prometo a você isso.

— Tão injusto. — ele murmurou para si mesmo, digitando uma


resposta a ela com uma lágrima caindo pelo canto do olho e deslizando
por sua bochecha. Ele a afastou, quando a cama se moveu ao redor
dele. Olhando para o outro lado, viu sua mãe mexendo, seus olhos se
abriram para olhar para ele.

Um sorriso suave e sonolento curvou seus lábios. — Oi, Cubo de


Açúcar. — Sua voz era tão frágil. A dor em seu peito se aprofundou.

— Oi mãe.

— Há quanto tempo você está aqui?

— Apenas alguns minutos.

— Você deveria ter me acordado.

Ele zombou. — Você precisa descansar.

— Eu vou ter um monte de descanso em breve. — disse ela


calmamente, mexendo-se em torno da cama para obter um melhor
olhar para ele. — Estou cansada, Matty, tão cansada.

— Eu sei, mãe. — Sua voz quebrou, apesar de seu melhor esforço


para mantê-la estável.

Ela levantou o braço em direção a ele enquanto ele virava para


encará-la, seus dedos roçando sua bochecha. — Tão bonito.

~ 175 ~
Sua mão começou a cair quando ele a pegou, segurando-a e
agarrando suavemente enquanto a segurava em seu colo. — Isso é
porque eu vim de alguém tão bonita quanto você.

Seu sorriso aumentou. — Você guarde esse charme para aquela


garota sua.

— Eu vou.

— É preciso estimá-la, mantê-la segura. — Ela continuou. — Se


você recebeu qualquer coisa de seu pai, se você aprendeu alguma coisa
com ele, espero que seja isso. Ele foi generoso, um bom protetor, mesmo
da maneira que ele era, por vezes...

— Agora não, mamãe. — Matty disse calmamente, apertando sua


mão. Esta era a última coisa sobre a qual ele queria falar agora.

— Então quando? — ela perguntou, sua voz séria. — Agora é tudo


que eu tenho Matty, e quero que você entenda.

— Entender o quê?

— Que às vezes fazemos coisas que lamentamos, na hora do


sofrimento, da raiva, e isso destrói as pessoas que amamos. — disse ela.
— Não cometa o mesmo erro.

— Não vou.

— E mantenha aquela garota segura.

Antes que Matty pudesse responder, da porta, alguém limpou a


garganta antes da voz de Roberto dizer: — Que garota seria essa?

Olhando para trás dele, Matty olhou para seu pai enquanto o
homem entrava no quarto, seus passos pesados. Ele não o tinha ouvido
subir. Ele tinha intencionalmente esgueirado sobre eles. Enzo estava
com ele, espreitando na porta, hesitando antes de se aproximar.

— Escutando escondido, Bobby? — Savina perguntou, olhando


para seu marido, sua expressão amolecida enquanto ela puxava a mão
de Matty para estender a mão mais uma vez. Roberto se aproximou,
segurando sua mão, e se inclinou para beijá-la suavemente.

— Apenas escutei, por acaso. — disse ele. — Puramente


acidental.

— Sim, sim. — ela disse. — E se você quiser saber, eu me refiro a


garota de Matty, bem como eu sou sua garota.

— Ah! — Roberto olhou entre eles curiosamente. — Mantê-la a


salvo do quê?

— Vida. — ela respondeu, hesitante antes de acrescentar. —


Morte.

~ 176 ~
— Impossível. — disse Roberto. — É como nadar contra a
corrente. Você luta, luta, e luta, mas você só vai chegar tão longe antes
que isso a leve para baixo.

— Mas geralmente, é lutar que te arrasta para baixo. — ela


respondeu, sua voz mais forte agora. — Às vezes é melhor apenas ir
com o fluxo.

Roberto olhou para ela por um momento, não oferecendo


nenhuma resposta.

— Acabe com isso. — continuou ela. — Por favor, Bobby, por


mim, por todos nós, acabe com essa tolice.

A disputa. Os combates. A guerra com os Galantes. Matty nunca


tinha ouvido sua mãe confrontar diretamente seu pai sobre isso, nunca
tinha ouvido ela lhe pedir uma coisa dessas, e com base na expressão
de Roberto, sua máscara escorregou quando surpresa brilhou através,
ela provavelmente nunca tinha. Ela nunca pediu muito, agora que
Matty pensou nisso.

Roberto soltou um suspiro cansado quando ele levantou a mão,


pressionando um beijo nas costas da mão. — Considere terminado.

O sorriso que encheu os lábios dela naquele momento estava


radiante. Ela puxou a mão do marido, mudando de posição na cama
para sentar-se, apesar dos protestos de todos os três homens para ela
ficar de repouso. Ignorando-os, ela acariciou a cama em ambos os lados
dela, pedindo que se sentassem.

Matty correu para o final da cama, apoiando-se contra o pé,


enquanto Enzo e seu pai sentaram-se nos lugares do lado direito e
esquerdo dela. Eles conversaram, relaxando e o mundo exterior
desaparecendo, nada mais importando naquele momento, exceto ela.
Ela riu de algo que Enzo disse, alguma história que ele contou, o som
acalmando Matty e aquecendo o ar em torno dele. Ele sentiu aquele
riso, sentiu-o no fundo do seu peito enquanto cercava seu coração,
apertando ao ponto que sentiu que poderia estourar. Ele sorriu, as
lágrimas mais uma vez nadando em seus olhos, quando ele revelou na
sensação, o som de sua felicidade.

Oh, como ele desejava que fosse para ele, mas ele iria tomá-lo, no
entanto.

Minutos pareciam horas, mas no grande plano das coisas, não


era tempo nenhum. Não foi suficiente. Nunca teria sido suficiente. Eles
poderiam ter sentado lá por dias, semanas, meses, e nunca teria havido
tempo suficiente para qualquer um deles.

O sono a levou, apesar das grandes tentativas de ficar acordada, e


não muito tempo depois, a morte a levou também, apesar da
determinação de seu coração para continuar batendo. Tudo

~ 177 ~
desacelerou, seu último suspiro saindo delicado e instável, enquanto
Matty observava seu peito subir e descer pela última vez.

Ninguém disse nada por um momento. Não se moveram;


dificilmente respiravam. Eventualmente, Roberto soltou sua mão e
levantou-se, afastando-se da cama, com os olhos ainda em sua esposa
quando ele fez o sinal da cruz e inclinou a cabeça, proferindo uma
oração silenciosa. Depois, ele olhou entre seus filhos, seu olhar se
fixando em Enzo.

— Quero você e os irmãos Civello sobre Dante. Assista cada


movimento dele. Encontre as suas vulnerabilidades. A irmã dele,
também. Você não vai chegar perto de Primo, e eu não posso tocá-lo,
mas seus filhos... é assim que você chega até ele.

O estômago de Matty caiu. O olhar de Enzo se moveu para ele por


uma fração de segundo, como se preocupado com sua reação, antes de
acenar com a cabeça e de pé. — Sim senhor.

— Depois do funeral, — disse Roberto, seu olhar mudando de


volta para sua esposa. — nós atacamos.

Enzo saiu andando, com a cabeça baixa. Roberto se virou para


sair enquanto Matty o observava, incrédulo.

— Você disse que estava acabado. A guerra... você disse a ela que
iria acabar.

— Eu disse, e eu vou. — Roberto parou momentaneamente, ao


lado de Matty, para fitá-lo diretamente nos olhos. — Tudo vai acabar
logo.

Depois que ele estava sozinho, Matty levantou-se do final da cama


e endireitou suas roupas, uma vez mais lutando contra as lágrimas. Ele
deu alguns passos em direção a sua mãe, gentilmente escovando o
cabelo do rosto, antes de pressionar os lábios em sua testa.

O depois. Ele não queria pensar nisso antes, a vida sem a mãe,
mas Genna tinha razão. Ele não podia evitá-la. Era tudo o que havia
agora.

Puxando o seu telefone outra vez, ele enviou um texto. Ela se foi.

Sem surpresa, a resposta foi quase instantânea. Como você


está?

Como ele estava? Entorpecido. Chocado. Coração partido. Se ele


estivesse sendo sincero, ele estava completamente aterrorizado. Mas,
em vez de dizer-lhe isso, ele mandou uma mensagem para ela, uma
simples palavra... que parecia a mais certa naquele momento.
Sozinho.

~ 178 ~
Genna estava no topo das escadas, olhando para a palavra
solitária na tela de seu telefone. Sozinho. Ela parou, sua resposta mais
lenta do que o habitual, enquanto tentava pensar em algo para lhe
dizer. O que faria ele se sentir melhor? Nada.

Você pode se sentir solitário, Matty, mas você nunca estará


sozinho.

Assim que ela tocou enviar, a porta da frente abriu e vozes


chegaram através do saguão. Olhando para o outro lado, viu seu irmão
entrar, conversando com alguém logo atrás dele. Assim que Dante saiu
do caminho, Genna vislumbrou o rosto.

Ugh. Umberto Ricci.

— Oi, maninha. — disse Dante, apontando para o amigo. — Você


se lembra de Bert?

Bert? Quem se chamava a si mesmo Bert?

— Claro. — ela murmurou, pondo o celular no modo de vibração e


deslizando no seu bolso. — Bert e Ernie.

Dante riu, cutucando seu amigo. Não escapou a Genna que as


bochechas bronzeadas de Umberto, coraram.

— É um prazer vê-la de novo Genevieve. — disse ele calmamente.


— Você está linda como sempre.
Seu pai saiu de seu escritório, então, caminhando em sua
direção. Primo vacilou no hall de entrada, um sorriso iluminou seu
rosto quando ele os viu ali de pé juntos.

— Umberto, fico grato por se juntar a nós para o jantar. — disse


Primo, cumprimentando-o calorosamente, apertando sua mão
firmemente enquanto segurava seu ombro com a outra mão.

— Obrigado pelo convite. — Umberto disse — É uma honra.

Genna franziu o cenho, observando enquanto os dois se dirigiam


para a sala de jantar, seus olhos se estreitando em seu irmão enquanto
ele ficava para trás. Antes que ela pudesse dizer uma palavra mordaz,
Dante levantou as mãos na defensiva. — Não me culpe. Eu estou tão
surpreso quanto você.

Esta era a última coisa que ela precisava esta noite. Gemendo, ela
desceu os degraus e entrou na sala de jantar. Somente as colocações
dos lugares habituais tinham sido mudadas, as costumeiras cinco que

~ 179 ~
adornavam a mesa todas as noites. Umberto sentou-se o mais distante
de Primo — o lugar habitual de Genna — e puxou a cadeira ao lado dele
para ela. Ela congelou ali, olhando para a cadeira... a cadeira da sua
mãe.

Dante foi ao seu próprio assento e hesitou, parecendo sentir seu


dilema, e começou a falar quando Primo limpou a garganta. — Está
tudo bem, Genevieve, sente-se.

Não. Não. Não. Ela balançou a cabeça instintivamente, olhando


para Dante. Ele fez um gesto em direção à cadeira, sua expressão
incitando-a a não tornar isso uma grande confusão. Franzindo a testa,
ela deslizou na cadeira, no canto o mais longe agora.

Era errado.

Sua pele rastejou através da oração enquanto Umberto apertava


sua mão com força, sua palma suada. Nervoso. Genna puxou a mão
para trás, esfregando-a nas suas calças debaixo da mesa enquanto os
homens mergulhavam imediatamente no jantar. O estômago de Genna
protestou até mesmo com o cheiro da lasanha. Seu apetite tinha
desaparecido desde o primeiro texto que Matty enviara naquele dia.

Quando seus pensamentos voltaram para ele, sentiu seu telefone


vibrando no bolso. Cuidadosamente, ela olhou ao redor da mesa,
certificando-se de que os outros estavam ocupados antes de deslizar o
celular e ocultá-lo no colo, vendo uma nova mensagem de Matty.

Existe alguma maneira de te ver?

A pergunta lançou-a para dentro da anarquia, com o estômago


apertado enquanto seu coração pulava uma batida muito necessária,
fazendo-a momentaneamente tonta. Ela olhou para a pergunta, sua
mente trabalhando rápido, tentando pensar em uma maneira de fazer
acontecer, quando seu pai limpou a garganta. — Guarde o telefone,
Genevieve.

Ela ousou olhar para ele e viu o pai a observando com


desaprovação. — Desculpe. — ela murmurou, colocando o telefone de
volta em seu bolso enquanto ela pegou o garfo e apunhalou a sua
comida.

Isso ia ser uma das mais longas horas de sua vida.

— Como vai o trabalho voluntário, Genevieve? — Umberto


perguntou, tentando conversar.

Ela tomou uma pequena mordida, para parecer que ela estava
comendo. — Trabalho voluntário?

— Seu pai disse que você foi voluntária no sopão neste verão. —
Esclareceu ele. — Uma coisa tão maravilhosa que você está fazendo lá,

~ 180 ~
você sabe, ajudando as pessoas que precisam. O que fez você querer
fazer isso?

— Meu desejo de ficar fora da cadeia. — disse ela. — Um macacão


faria nada para a minha figura e para não mencionar que o laranja não
me favorece em nada.

Umberto franziu a testa, sem entender, enquanto Dante soltava


uma gargalhada. — Não é tanto trabalho voluntário como é um serviço
comunitário.

— Ah! — Umberto assentiu, parecendo entender. — Entendi.

— Embora, não seja tão ruim. — disse ela, encolhendo os ombros.


— Poderia sempre ser pior.

Primo zumbiu contemplativamente. — Onde você aprendeu a


olhar para o lado positivo das coisas?

De um menino Barsanti. Em vez de responder, ela simplesmente


encolheu os ombros.

Uma e outra vez, conforme o jantar avançava, eles tentavam


desviar conversa em direção a ela, e ela desviar o melhor que podia, não
tendo nenhum interesse em participar, durante todo o tempo seu
telefone continuamente vibrando com mensagens. A vontade de lê-las
incomodava-a com cada zumbido macio, a perna saltando debaixo da
mesa em antecipação para nove horas.

O jantar finalmente havia acabado. Ele não iria mantê-la mais


tempo do que isso, certo?

Oh Deus, ele iria.

Poucos minutos depois das nove, Primo não mostrou nenhum


sinal de estar pronto para dispensá-los. Genna estava prestes a
inventar uma desculpa para escapar quando um toque abrupto
quebrou o ar, silenciando todos.

A linha de emergência.

Primo agarrou instantaneamente o telefone, respondendo


bruscamente. — Fale.

Segundos tensos passaram-se com Primo ouvindo na linha até,


finalmente, terminar a chamada sem dizer mais uma palavra. Ele
colocou de volta e pegou o garfo para continuar comendo. Ele não
parecia aflito, um fato que aliviou um pouco a tensão de Genna.

— Então. — Primo disse depois de um momento. — Savina


Barsanti está morta.

Genna congelou. Ela sabia disso, sabia antes de qualquer um


deles, mas ter seu pai anunciando de forma tão casual, tão friamente,
~ 181 ~
era como um pontapé no seu intestino. Dante não disse uma palavra,
nem sequer olhou para cima de seu prato de comida, enquanto
Umberto soltava um assobio baixo.

— Grande perda. Sempre ouvi que ela era uma boa senhora, você
sabe, relativamente falando. — Roberto zombou.

— Um bom Barsanti é um Barsanti morto.

Um bom Barsanti é um Barsanti morto. Quantas vezes Genna


ouviu seu pai dizer isso? Quantas vezes ela acreditou? O pensamento
fazia sentir-se doente. Uma boa mulher estava morta. Uma mulher que
havia saudado calorosamente Genna em sua casa.

Ela não tinha o seu sobrenome.

Tecnicamente, ela era uma Brazzi, de qualquer maneira.

A vontade de dizer isso estava na ponta de sua língua, mas seu


pai continuava silenciado ela.

— Nós temos a festa neste fim de semana, sexta à noite.

Uma festa de iniciação, Genna sabia, embora ela mal soubesse os


detalhes. Tinha sido planejado há muito tempo. — Depois disso, nós
faremos nosso movimento.

— Nosso movimento? — perguntou Dante.

— Sim, acho que é hora de resolver isso de uma vez por todas. —
respondeu ele. — E agora que Matteo está de volta na cidade, é a
oportunidade perfeita para acabar com todos eles.

Genna caiu o garfo quando ele disse aquilo, desistindo de fingir


que estava comendo, o tilintar de metal chamou a atenção do pai direito
para o seu lugar.

— Posso ser dispensada? — ela perguntou, empurrando a cadeira


para trás para se levantar sem sequer esperar sua resposta. Ela sentiu
como se estivesse vomitando. Ela precisava sair daquela sala.

— Claro. — ele disse, acenado para que fosse. — Você


provavelmente nem deveria ouvir isto, de qualquer maneira.

Genna saiu, virando a esquina, seus passos hesitantes em


contemplação. Ela deu um passo para o lado no hall de entrada
escurecido, recostando-se contra a parede perto da porta da sala de
jantar, seu coração batendo irregularmente quando ela pegou o
telefone, recuperando suas mensagens.

Mesmo só por um minuto.

Só preciso te ver por um minuto.

~ 182 ~
Eu não quero ficar sozinho agora.

Depois disso foram duas chamadas perdidas e mais uma


mensagem.

Por favor.

A palavra fez o coração dela dor. O texto tinha chegado há mais


de trinta minutos.

— Como vamos fazer isso? — Dante perguntou na sala de jantar,


sua voz baixa. — Tem um plano?

— Ainda não. — disse Primo. — Mas eu vou chegar a um.

Suspirando, Genna se afastou da parede e começou a subir as


escadas para o andar de cima, marcando o número de Matty enquanto
subia. Duas chamadas que foram direto para o correio de voz, seguido
por três textos que ficaram sem resposta.

Onde está você?

Eu sinto muito.

Vou tentar fugir.

Ela andava ao redor de seu quarto, sua mente correndo, incapaz


de relaxar ou fazer o seu estômago parar de rodopiar. Ela estava nisso
por tanto tempo que suas pernas se cansaram, sua cabeça batendo
enquanto ela se esforçava em pânico. Eventualmente, ela ouviu o som
indicando que o carro de seu irmão estava partindo, acelerando para
longe de sua casa, enquanto conduzia para sabe Deus onde nas ruas de
Manhattan. Genna saiu correndo para o corredor, então, escutando no
topo da escada enquanto seu pai andava por volta da casa, despedindo
a equipe antes de se instalar em seu escritório e fechar a porta.

Quando ela ouviu o clique do bloqueio do escritório, ela sabia que


ele iria ficar lá durante toda a noite, preocupado.

Mente corrida, frenética, ela mal pensou duas vezes. Deslizou em


um par de sapatos e colocou o telefone no bolso antes de descer,
cautelosamente, as escadas. Ela deslizou pela porta traseira, sabendo
por experiência própria que era mais fácil escapar sem serem
detectados dessa forma.

Assim que ela estava lá fora, ela se foi, chamando um táxi quando
encontrou um. O motorista olhou para ela no espelho retrovisor,
erguendo as sobrancelhas com curiosidade.

— Onde?

— The Place. — disse ela. — É um bar, você sabe?

— Absolutamente.

~ 183 ~
Trinta minutos depois, ela saiu do banco de trás, jogando algum
dinheiro ao motorista e dizendo-lhe para ficar com o troco. Ela olhou ao
redor do bairro, cautelosamente, mantendo a cabeça baixa, enquanto
ela se abaixou junto ao bar e entrou na segunda porta ao lado.

Assim que entrou, ela viu alguém na escada, um par de olhos


encontrando os dela imediatamente.

Enzo.

O Barsanti errado.

Ele fez uma pausa, no meio das escadas, e piscou algumas vezes
como se pego de surpresa pela sua presença. Genna ficou ali parada,
congelada, seu coração acelerado enquanto ela olhava para ele. Ela não
sabia o que dizer, ou o que fazer. Ele a encarou, o julgamento nublando
sua expressão.

— Bem, bem. — ele disse depois de um momento, descendo


lentamente os degraus em sua direção. — Apanhada novamente no lado
errado da cidade.

— Eu, uh... — Ela tentou fazer sua voz ficar firme. — Só estou
procurando Matty.

Enzo parou quando ele chegou ao final dos degraus a poucos


metros dela, tão perto que Genna podia cheirar sua colônia. Fazia a
cabeça dela vaguear, seu estômago agitando mais forte do que nunca.
Ele olhou para ela, nem mesmo uma fração do calor vindo dele como ela
sentia de Matty.

— Diga-me uma coisa, querida. — disse ele, baixando a voz. — O


que realmente você está fazendo com o meu irmão?

— Desculpe?

— Que tipos de jogos você está jogando? — ele perguntou. — O


que você está tentando tirar de Matty?

— Nada. — disse ela. — Eu não estou jogando nenhum jogo.

— Besteira. — ele cuspiu, dando um passo abrupto em direção a


ela, o movimento súbito a fazendo encolher. Eles estavam de olho a
olho, tão perto que Genna podia ver como seus olhos estavam injetados
em sangue, lágrimas não derramadas nadando nas bordas. Sinais de
alarme soaram na sua cabeça, mas havia pouco que pudesse fazer
naquele momento. Ele estava instável. Estava no limite. Estava em luto.
— Você pode ter influenciado o meu irmão, seduzido meu irmão, mas
você nunca vai me convencer. Eu sei o seu tipo, Galante.

— Mas você não me conhece. — disse ela, mentalmente


amaldiçoando o tremor em sua voz. — E além disso, eu nem sabia que
ele era... que ele é...

~ 184 ~
— Bem, ele é. — Enzo disse, parecendo saber exatamente onde
ela estava indo com isso. — Ele é um de nós, e você é um deles, e este
jogo que você está jogando acabou. Acabou o tempo, querida.

Seus olhos se estreitaram. — O que isso deveria significar?

— Significa que você não tem nada que estar aqui, e se você
souber o que é bom para você, você nunca virá aqui outra vez.

— Estou aqui por Matty.

— Ouvi na primeira vez. — disse ele. — Mas Matty não está aqui,
e você também não deveria estar.

Antes que Genna pudesse responder, a porta atrás dela começou


a se abrir, vozes masculinas desconhecidas ecoando. Ela começou a
girar em torno quando Enzo agarrou-a, jogando-a contra uma parede
nas sombras escuras. O ar deixou seus pulmões em um clarão, batendo
a respiração dela, quando ele atirou-lhe um olhar severo e estendeu sua
mão para fora, advertindo-a sem palavras a permanecer mesmo lá. Ela
observou, atordoada, quando Enzo entrou pela porta e bloqueou quem
estava tentando entrar.

— Oi, caras. — Enzo disse, sua voz casual. — Eu estava saindo,


agora mesmo.

— Seu pai nos disse para passar por aqui. — respondeu um dos
caras. — disse que precisávamos de um plano para lidar com os filhos
do Galante.

— Agora não é a hora certa. — disse Enzo. — Eu vou te encontrar


no The Place em, digamos, uma hora? Vamos conversar sobre isso
então.

Enzo estava lá, continuamente bloqueando a entrada, até que os


caras reconheceram e se afastaram. Uma vez que eles foram embora,
ele se virou para ela, sua expressão furiosa.

— Vocês, Galantes, certamente vivem pela vossa reputação...


estúpidos pra caralho.

— O que está rolando? — ela perguntou, sua voz tensa. — O que


foi isso sobre mim e meu irmão?

Enzo não disse nada quando ele se virou para longe dela, olhando
para a rua, antes de agarrar o braço dela.

— Você precisa dar o fora daqui. Agora.

Ela queria protestar, queria lutar quando ele a puxou para fora
da escada e para a rua, mas as palavras foram perdidas por ela
momentaneamente. Ele manteve um aperto doloroso em seu braço
quando ele passou, apressado, pelo The Place, em direção à garagem

~ 185 ~
subterrânea onde Matty sempre estacionava. O Lotus vermelho estava
longe de ser vista, mas Enzo puxou-a para uma Mercedes preta ao lado
do lugar vago.

— Entre. — ele exigiu, abrindo a porta do passageiro.

— O que lhe dá o direito de me dar ordens?

Ele olhou para ela. — Entre na merda do carro, Galante.

Ela hesitou naturalmente, assustada pelo que seguir as ordens


dele poderiam significar, mas um carro estacionando abruptamente
dentro da garagem a colocou em movimento. Este ainda era o território
do inimigo, e enquanto o homem estava olhando para ela era, sem
dúvidas, perigoso, Matty tinha assegurado que ele, pelo menos não iria
machucá-la.

Além disso, ele tinha acabado de a proteger, não tinha?

Ela deslizou no assento de couro fresco, com o coração disparado,


e se encolheu quando Enzo bateu a porta. Ela esperava que não
estivesse cometendo um grave erro.

— Para onde você está me levando? — perguntou ela assim que


ele entrou no lado do motorista e ligou o carro.

Enzo não respondeu de imediato, esperando até que eles


estivessem fora da garagem e no trânsito para falar com ela. — Vou
levá-la para casa.

Por alguma razão, aquela resposta a surpreendeu. — Casa?

— Sim, casa, onde você pertence. — disse ele. — Não é seguro


para você aqui, especialmente agora.

— Por que você...? — ela parou, atordoada. — Eu não entendo por


que você faria isso por mim, por que você acabou de me proteger lá
atrás. Você me odeia.

— Eu odeio. — Ele admitiu e não havia sombras de dúvidas, que


ele estava falando a verdade — Mais do que você mesmo sabe, odeio
tudo sobre você, tudo o que você representa, odeio mesmo ter que
respirar a mesma porra de ar que você.

— Então por quê?

— Porque o meu irmão não. — Ele olhou para ela com os olhos
cheios de raiva. — Eu não confio em você, eu não tenho nenhuma
utilidade para você, mas por algum motivo divino Matty diz ter. E, bem,
perdemos muito esta noite. Não acho que perder você bem no topo não
ajudaria. Uma morte é o suficiente para lidar.

— Obrigada. — ela sussurrou.

~ 186 ~
— Não me agradeça. — disse ele bruscamente. — Agradeça ao
meu irmão. Se não fosse por ele, eu teria matado você no segundo que
vi seu rosto. E pro caralho se eu ainda não desejo poder fazer isso.

Pelo tom de sua voz, ela acreditava nessas palavras.

Eles não disseram mais nada, conforme Enzo acelerou pelas ruas,
o carro nunca sequer abrandando quando ele cruzou o território de seu
pai. Nenhum pingo de medo apareceu em sua expressão, sem
apreensão. Ele deve se aventurar muito lá, ela pensou.

Esse fato a deixou nervosa. Ela sempre se sentia segura lá por


mais ingênuo que isso parecesse. Essas ruas eram deles. Nada poderia
acontecer com ela, ninguém ousaria tocá-la. Mas, claramente, ela tinha
depositado muita confiança sobre esses limites invisíveis, agindo como
se fossem paredes à prova de balas, fisicamente repelindo-os de entrar
no bairro. Ela tinha atravessado as fronteiras tão facilmente, de forma
tão descuidada... o que a fez pensar que alguém como Enzo Barsanti
não seria descarado o suficiente para fazer o mesmo?

Ele dirigiu diretamente para sua casa, assim como Matty tinha
feito, sem precisar de quaisquer direções. No entanto, ele parou a um
quarteirão de distância, estacionando o seu carro em um pequeno beco
e colocando-o no parque.

— Eu não vou mais perto, então você vai ter que andar o resto do
caminho.

Ela olhou para ele, estranhamente tendo o desejo de agradecer


novamente, mas ela engoliu sua gratidão, tão amarga como pode ter
sido. Seu 'obrigada' nunca iria ser recebido um ‘de nada’ — Onde está
Matty?

Enzo olhou para ela. — Seu palpite é tão bom quanto o meu.
Provavelmente melhor do que o meu.

— Você não sabe? — ela perguntou hesitante. — Eu fui lá hoje à


noite, porque ele disse que queria me ver, que ele precisava me ver.

— Não me surpreende, mas não, eu não sei. — disse ele,


balançando a cabeça enquanto riu amargamente sob sua respiração. —
Você já viu o meu irmão chateado?

— Não.

— Vamos apenas dizer que eu posso não ser o Barsanti mais


assustador nas ruas esta noite.

Matty? Assustador? Dificilmente. — Ele é sempre tão calmo.

— Ele é. — ele concordou. — Mas é com os calmos com quem


você tem que se preocupar.

~ 187 ~
Enzo estendeu a mão para ela, agarrando a maçaneta e
empurrando a porta aberta. — Agora saia do meu carro antes que eu
mude de ideia e decida matá-la de qualquer maneira.

Ele não precisou dizer duas vezes. Genna saiu, incapaz de parar
que a palavra — obrigada — saísse dos seus lábios desta vez. Enquanto
ela fechava a porta, ouviu Enzo gemer com irritação, gritando — Você
não é bem-vinda, caralho. — Ele manobrou o carro em sentido inverso
enquanto ela estava ali, saindo para fora do beco e correndo.

Genna correu o quarteirão, respirando pesadamente quando ela


chegou em casa. Ela voltou para dentro, fazendo seu melhor para não
fazer um som enquanto se dirigia pelas as escadas, mas alguém a
assustou quando ela alcançou o segundo andar.

— Onde você estava?

Genna saltou, agarrando seu peito quando. Dante saiu de seu


quarto.

— No andar de baixo.

— E antes disso?

— Fora.

— Onde?

— Por quê?

Os olhos de Dante estreitaram-se de forma suspeita enquanto ele


andava em direção a ela, rodeando-a como um abutre. — Por que você
cheira a colônia barata?

— Por que você está me cheirando?

Um sorriso rachado na expressão de Dante. — Por que você está


respondendo minhas perguntas com mais perguntas?

— Por que você ainda me está questionando?


Ele parecia não ter resposta a isso, apenas encolhendo um
ombro. Genna ficou lá, esperando por ele para dizer mais alguma coisa,
mas ela começou a ir para o seu quarto quando ele permaneceu em
silêncio.

— Ei, espere. — disse ele, pegando o braço dela. — Eu sinto


muito.

— Sobre?

— Tudo. — ele disse.

~ 188 ~
— Hoje à noite, você sabe... Bert... o que o pai tentou fazer. Ele só
quer que você esteja com alguém em que ele possa confiar você...
alguém que a vá manter segura. Especialmente agora.

Especialmente agora. Essas eram as mesmas palavras que Enzo


usara. Ouvi-las fez seu estômago doer. Uma tempestade estava se
formando, e ela tinha um sentimento terrível de que ia ficar feio.

— Eu não preciso de Bert para me manter segura. Tenho zero


interesse nele.

— Eu sei que você não tem. — ele disse, olhando para ela de
forma peculiar. — Eu estou apenas curioso em quem que você tem
interesse.

— O que você quer dizer?

— Vamos, Genna, eu te ensinei tudo que você conhece, eu a


conheço melhor do que ninguém, quem é?

— É, uh... ninguém.

— Com quem você estava esta noite?

— Ninguém.

— Não é Gavin, certo?

— O quê? Claro que não!

— É Jackson novamente? — Dante pressionou.

— Não.

— Pode me dizer, Genna. — disse ele seriamente. — Eu sei que


meu pai não quer que você o veja mais, e eu não posso dizer que não
concordo. Eu não acho que ele merece nem mesmo um segundo de seu
tempo, mas eu não vou dedurar você. Eu nunca faria. Apenas... me
diga que você está vendo Jackson novamente.
Havia algo em sua voz, o tom de súplica quando ele pediu a ela
para dizer-lhe, que sugeriu a Genna que ele realmente queria ouvi-la
dizer isso.

— Por quê?

— Porque você está vendo alguém. — ele respondeu. —


Esgueirando-se, voltando para casa cheirando a água de colônia, sendo
sútil... na semana passada você estava com um chupão perto de sua
clavícula, nem pense que eu não reparei naquilo. Você teve sorte que o
pai não reparou. Então o ponto é... que há alguém, e eu só... só me diga
que é Jackson que você está vendo e eu vou te deixar em paz, mas... —
ele parou de falar, e Genna ouviu a preocupação em suas palavras não
ditas. Ele estava preocupado quem mais poderia ser. Será que ele

~ 189 ~
estava com ela? Ela não podia sequer imaginar o que ele pensaria
quando ele descobrisse. Esta era a pior traição. Ela envolver-se com o
inimigo.

Mas este era o seu irmão, seu melhor amigo...

Como poderia escolher entre eles?

— Tudo bem. — ela murmurou. — Você está certo.

A expressão de Dante instantaneamente amoleceu, o alívio que


brilhou através dele, que fez a culpa aumentar para ela. Ela não tinha
exatamente mentido para ele, então... ele estava certo, ela estava saindo
com alguém... mas ela o tinha enganado, deixando-o acreditar no quer
que fosse que ele queria acreditar.

Era a única maneira.

— Basta ter cuidado, ok?— disse Dante.

— Eu vou. — respondeu ela, sorrindo suavemente. Ele estava


sempre preocupado com ela quando havia muito mais na vida que ele
precisava para se preocupar. — Eu prometo.

Ela escapou para o seu quarto, em seguida, chutando os sapatos


e se jogando na cama, quando ela puxou o telefone do bolso. Sem novas
mensagens. Nem chamadas perdidas. Nenhum sinal de Matty.

Ela só esperava que ele estivesse sendo cuidadoso, onde quer que
estivesse.

~ 190 ~
Capitulo Doze
Escuro. Malditamente escuro.

O caixão era da cor de chocolate amargo, tão marrom que era


quase preto, combinando com os carros alinhados no caminho estreito
através do pequeno cemitério. O ar estava triste, frio e úmido, nuvens
cobriam cada polegada do céu, nenhuma fresta de sol rompendo em
qualquer lugar.

Até a terra parecia estar de luto.

Salpicos de cor pontilhavam a paisagem como rosas vermelhas


cobrindo a parte superior do caixão. Roberto Barsanti estava na frente e
no centro, Matty e Enzo ao seu lado, todos os três impecavelmente
vestindo ternos de três peças pretos, enquanto massas de corpos os
rodeavam, de cabeças baixas, as mãos cruzadas na frente deles.
Centenas tinham vindo para prestar seu respeito, tantos homens juntos
em um lugar, chamou a atenção da lei.

Os policiais locais estavam estrategicamente posicionados ao


redor do cemitério enquanto a vigilância do FBI estava estacionada mais
longe, observando e esperando. Era provavelmente a única vez que eles
apreciaram a atenção, uma vez que eles estavam mais vulneráveis
nesse momento do que nunca tinham estado antes.

Ninguém veio armado, por respeito à Savina.

Ela queria que a violência terminasse.

Mas não terminaria. Matty podia sentir a tempestade, o peso no


ar indicava muito mais do que apenas uma morte.

Era sobre as próximas.

— Lhe dê eterno descanso, ó Senhor, e que a luz perpétua brilhe


sobre ela.

Disse o sacerdote, fazendo o sinal da cruz sobre o caixão.

— Que ela descanse em paz.

Um coro de - Amém - fluiu através da multidão. Matty baixou a


cabeça e fechou os olhos quando o padre terminou.

~ 191 ~
— Que a sua alma e as almas de todos os fiéis mortos, pela
misericórdia de Deus, descansem em paz.

Em seguida, a multidão se dispersou, se espalhando em direções


diferentes por todo o cemitério quando o serviço terminou. Dezenas de
pessoas alinharam-se, aproveitando a oportunidade de dirigir-se
pessoalmente à família. Matty manteve a cabeça baixa e as mãos
entrelaçadas na frente dele enquanto ouvia seu pai reconhecer suas
condolências. Ninguém falou com ele, vivenciando o passado como se
ele não estivesse ali. Ele não tinha certeza de que estava.

Ele se sentia como um fantasma.

Quando a última pessoa passou, Matty virou-se para ir embora


quando seu pai agarrou seu ombro, apertando tão firmemente que
Matty fez uma careta.

— Eu espero você em casa, Matteo.

— Claro.

Murmurou Matty. Ele iria, por sua mãe, mas ele não tinha
nenhum desejo de estar em torno dessas pessoas, e ele arriscava
adivinhar a maioria deles não se importava se ele apareceria de
qualquer maneira.

— Eu estarei lá.

Ele vagou através do cemitério, em direção ao seu Lotus


estacionado na frente, o carro esportivo vermelho brilhante se
destacando como uma ferida no polegar, rodeado pela massa de sedans
escuros. Ele tirou as chaves do bolso, o barulho de um motor ao longe,
e ele quase tinha alcançado o carro quando alguém o chamou.

— Ei, Matty, espere!

Ele abrandou os passos enquanto seu irmão corria para alcançá-


lo. Ele não tinha visto Enzo desde aquele momento no quarto de sua
mãe quando ela tinha tomado seu último suspiro. Ele tinha
desaparecido para lidar com o que a família estava planejando,
enquanto Matty simplesmente vagava em uma névoa, se perdendo na
escuridão.

— En.

Enzo deu-lhe um tapa nas costas, respirando pesadamente


enquanto dizia:

— Onde você esteve?

— Por perto.

Respondeu Matty.

~ 192 ~
— Por quê?

— Sem motivo.

Enzo sacudiu a cabeça, seus passos pararam.

— Não vi você. Você não voltou para casa.

Matty sabia que ele se referia ao apartamento acima do The Place,


mas suas palavras eram contraditórias. Aquele não era o lar dele. Ele
não tinha um, não realmente, não mais... se ele já tivesse mesmo tido
um. O mais próximo que ele conseguiu foi a casa em Nova Jersey, e era
exatamente onde ele esteve.

Pelo menos ele poderia pensar lá.

Suspirando, Matty abriu a porta do lado do motorista de seu


carro e fez uma pausa, sem intenção de entreter o seu irmão com uma
explicação. Ele se virou para Enzo, olhando-o com curiosidade.

— Você precisa de uma carona?

— Eu, uh...

Enzo olhou ao redor, encolhendo os ombros.

— Sim claro.

Eles não falaram durante o caminho, a música estava tão alta que
impediu qualquer possibilidade de conversa. Matty manobrou para
encontrar o estacionamento na casa Barsanti, passando os sedans que
estavam à espera, e deixando o Lotus no quarteirão de baixo. Ele
esperava entrar na casa sem ser detectado, para ficar continuamente
fora do radar, mas ele foi abordado no segundo em que atravessou a
porta. Alguém pisou à sua frente, alguém que Matty apenas reconhecia
vagamente como um dos sócios de seu pai.

O homem, com cabelos grisalhos e pele escamosa, imediatamente


agarrou a mão de Matty e firmemente a sacudiu.

— Matteo Barsanti, é uma honra finalmente conhecê-lo.

Matty ficou surpreso.

— Você não sabe quanto tempo esperávamos que você voltasse —


o homem continuou apertando a mão com força, não mostrando
nenhum sinal de deixá-lo ir tão cedo.

— Quanto tempo esperamos que você tomasse seu lugar.

Estômago de Matty afundou.

— Eu não diria que eu...

~ 193 ~
Antes que ele pudesse terminar a frase, eles foram interrompidos
por um grupo de homens, outros entrando na conversa para se
apresentarem a ele. Matty sacudiu as mãos, os nomes escapando dele,
esquecidos no segundo que eram pronunciados. Uma tensão
esmagadora alcançou seu corpo, seu cabelo eriçou. Tentou sair a
passos largos, afastá-los e afastar-se, mas logo ficou claro para ele que
não havia fuga.

Estava apenas começando.

Olhando para o outro lado da sala, ele viu seu pai de pé ao longo
da parede, bebendo um copo de uísque, seus lábios se contraindo
enquanto os observava. E ele percebeu então, refletindo em sua
expressão presunçosa, o olhar que falava de inúmeras expectativas.

Ele tinha orquestrado isso.

Enzo escorregou por entre a multidão, interrompendo para puxar


um Matty perplexo para o lado.

— Os livros foram abertos hoje.

Enzo explicou calmamente, mantendo sua postura


despreocupada, mas havia um cuidado em suas palavras.

— Eu queria avisá-lo, eu estava indo para dizer-lhe no caminho


para cá, mas...

Mas não era pra Enzo saber. Matty suspirou, passando a mão
pelo cabelo.

— Ele está usando isso como um encontro de saudação, não é?


Ele vai tentar me nomear.

— Não tentar;

Disse Enzo.

— O velho vai fazer isso, quer você goste ou não.

— E se eu recusar?

Enzo encolheu os ombros. Ninguém recusou antes.

Matty olhou ao redor, examinando a multidão. Ele não tinha


pensado que fosse possível, mas o pior dia de sua vida tinha ficado de
repente ainda pior.

— Eu vou precisar de uma bebida.

Enzo deu-lhe um tapa nas costas.

— Eu vou pegar uma para você.

— Faça-o forte. – Disse Matty.

~ 194 ~
Se tivesse que fazê-lo, não havia como fazê-lo sóbrio.

Uma conversa divertida tagarelava e a música alta arrastava


Genna enquanto ela subia, de cabeça baixa, olhos fixos em seus dedos
pintados de rosa. Seus sapatos balançavam em sua mão e seus ombros
cederam. O alívio se espalhou por ela quando escapou da festa, mas
não era suficientemente forte para ofuscar sua tristeza. Agora que
estava sozinha, longe dos olhos curiosos, brilhava intensamente em
suas feições, a preocupação gravada nas linhas muito profundas em
seu rosto jovem. Estava preocupada.

Muito, realmente preocupada.

Ela não tinha ouvido falar de Matty em dias, desde que ele tinha
enviado uma sequência de mensagens de texto desesperadas.

Ela caminhou silenciosamente pelo corredor e entrou em seu


quarto, fechando e trancando a porta atrás de si. Ela deixou cair seus
sapatos no chão e se recostou contra a porta de madeira, fechando os
olhos. Esta noite tinha sido a mais longa de sua vida, a mais tentadora
de sua paciência. Tantas vezes ela estava perto de extravasar, de
estalar, todas as suas frustrações e queixas empoleiradas na ponta de
sua língua, mas ela continuamente as engolia de volta e estampava um
sorriso falso em sua face. Então eles não saberiam... então eles não
veriam.

Então eles não perceberiam como ela se sentia diferente.

Durante toda a noite, mais e mais, ela tinha ouvido o nome,


falado em voz mordaz, cheio de desgosto. Barsanti.

Suspirando, ela afastou-se da porta e olhou ao redor. Seu vestido


estava muito apertado, o ar sufocante demais. Ela sentiu como se
estivesse sufocando com os sons de baixo alcançando até mesmo aqui.
Frustrada, ela caminhou para a porta de vidro deslizante e destrancou-
a, empurrando as cortinas de lado para abri-la. Uma onda de ar fresco e
úmido a assaltou. Ela inalou profundamente, respirando-o, dando-lhe
as boas-vindas enquanto saía para o pequeno terraço. Seus pés
pareciam escorregar contra a madeira chuviscada. Apesar do verão, as
noites ainda estavam frias. Nenhuma estrela podia ser vista essa noite,
a lua estava envolta em um cobertor grosso de nuvens cinzentas,
lançando uma escuridão nebulosa sobre tudo.

Ela se apoiou no parapeito de madeira enquanto o vento


chicoteava ao redor, balançando as árvores e soprando seus cabelos
longos em seu rosto. Foi uma noite tão tumultuada, seus pensamentos
distraindo-a tanto que ela quase perdeu o movimento no pátio abaixo. A

~ 195 ~
forma misturada com as sombras em torno das árvores, logo abaixo da
varanda até que uma rajada de iluminação brilhou, iluminando a
figura. Embora não fizesse nenhum som, Genna sacudiu como se um
raio de trovão tivesse atingido bem ao lado dela. Assustada, ela agarrou
seu peito enquanto olhava para a figura.

— Matty? – Ela ofegou.

Ele estava lá no quintal, seu terno preto de alguma forma parecia


muito grande, como se estivesse se afogando no material. Os botões de
cima da camisa estavam desfeitos, solta na cintura, com a gravata
frouxa amarrada ao pescoço.

Sufocando. Ele estava sufocando, também.

— O que você está fazendo aqui?

Ela perguntou, o coração batendo de forma irregular em seu


peito. Ele estava lá, em seu quintal. Era o último lugar que ele deveria
estar.

Suas palavras se juntaram quando ele disse:

— Eu precisava te ver.

— Você não poderia ter ligado?

— Vê-la.

Frisou.

— Eu tinha que te ver, Genna.

— Skype?

Ela sugeriu, inclinando-se sobre a grade enquanto ela olhava para


ele, a chuva começando a cair mais forte sobre eles e mais relâmpagos
brilhavam.

— Facetime? Algo?

— Não é o mesmo.

Não era, ela sabia, mas ele não deveria ter ido lá. Seus olhos
corriam em volta nervosamente enquanto seu estômago se apertava.

— Jesus, Matty, você não pode estar aqui, alguém poderia vê-lo,
não é seguro, você sabe disso.

— Não importa.

Ele deu um passo à frente, cambaleando enquanto puxava a


gravata um pouco mais.

— Não importa! Sabe o que eles fariam se vissem você aqui?

~ 196 ~
— Me matariam.

Sua resposta foi impassível.

— Eu não me importo.

— Você deve.

— Por quê?

Ele olhou para ela, pingos de chuva salpicando seu rosto e


pingando de sua pele desbotada.

— Por que eu tenho que viver?

— Eu.

Disse ela imediatamente.

— Viva para mim.

Agonia cruzou sua expressão, seus olhos deixando os dela


enquanto seu olhar se dirigia para a porta de trás da casa. A poucos
metros dele, os maiores e mais poderosos membros do crime da família
Galante se reuniam. Cada homem lá em baixo sabia quem ele era e
queriam nada mais do que ver todos que ele amava destruídos. Nada
além de madeira, tijolo e vidro separavam-no de sua morte, mas ele
ficou lá, parado, como se não tivesse medo de ver seu fim.

Ele a aterrorizava, embora. Deus, isso a assustava.

— Você não pode estar aqui.

Ela disse em um sussurro, em pânico.

— Você tem que ir embora, Matty.

— Eu não posso.

Sua voz se quebrou quando seus olhos encontraram os dela de


novo.

— Não tenho para onde ir.

O tormento em sua voz atingiu profundamente dentro dela,


apertando seu coração e lhe doendo o peito. Garoto estúpido. Seus olhos
correram novamente em choque por ele ainda não ter sido descoberto.
Mas era só uma questão de tempo. Ela tinha que fazer algo e rápido.

— O galpão.

Disse ela, apontando o pequeno edifício ao longo da parte de trás


da propriedade.

Seus olhos se abriram, com a testa franzida.

~ 197 ~
— Você quer que eu me esconda no seu galpão?

— Não, seu idiota.

Ela sibilou.

— Há uma escada no galpão.

Começou a perceber o que estava acontecendo. Ele começou


assim que ela gritou para ele.

— Faça isso rápido! E pelo amor de Deus, fique quieto!

Suas palavras caíram em ouvidos surdos... ou talvez só bêbados.


Seus passos eram lentos e desajeitados, E o coração de Genna golpeou
violentamente enquanto submergia a escada a uma distância. Ela
ressoou e bateu quando ele puxou para ela, e Genna fez uma careta
quando bateu contra o lado da casa.

Subiu, seus sapatos brilhantes escorregando sobre o material.


Assim que ele estava perto o suficiente para Genna, ela agarrou seu
braço e ajudou a puxá-lo sobre a grade. Ela olhou para a escada,
contemplando.

Ugh. Não tinha realmente pensado nisso.

Ela considerou arrastar a escada, mas ao invés disso, deu-lhe um


empurrão e jogou-a no quintal. Talvez ninguém fosse notar.

Matty olhou para baixo enquanto pousava na grama.

— Acho que vou ficar.

Suspirando dramaticamente, Genna puxou-o para seu quarto e


para fora da chuva. Ela deixou a porta deslizante de vidro aberta, a
brisa fresca batendo quando Matty puxou-a em seus braços. Um odor
lhe agarrou, o cheiro de uma garrafa de licor, ligeiramente ofuscado
pela forte menta que derretia em sua língua.

— Você está bêbado.


Disse ela, suas preocupações anteriores esquecidas. Em qualquer
caso, ela confirmou suas suspeitas. Ele estava quebrando.

— Por favor, me diga que você não dirigiu assim.

— Eu não fiz.

Disse ele.

— Não sou estúpido, Genna.

— Não é estúpido?

Ela zombou.

~ 198 ~
— Você não poderia ser mais estúpido! Você apareceu na minha
casa enquanto eles estão todos...

— A comemorar.

Sua voz tremia quando ele forçou a palavra com amargura.

— Eu estou de luto, e essas pessoas — estão comemorando.

— Eles não.... estão,

Disse ela, sabendo que era uma mentira no momento em que ela
disse isso. Eles certamente não estavam abalados com o rumo dos
acontecimentos. Eles nunca diriam a ela nenhum de seus planos,
nunca a trariam para o negócio, mas ela ouviu os sussurros e
insinuações durante toda a noite. Agora que os Barsantis estavam
distraídos, era o momento perfeito para fazer um movimento. Eles iriam
eliminar o inimigo antes que o inimigo soubesse que a guerra havia sido
declarada. Se o pai de Genna tivesse o seu caminho, este seria apenas o
começo da desolação para Matty. Eles estavam indo para derrubar toda
a sua família, matar um por um.

Ela passou a mão pela mandíbula, sentindo a coceira na palma


da mão. Seus olhos pareciam tão ocos, com bordas vermelhas e
brilhantes com lágrimas não derramadas. Vê-lo em tanta agonia
despertou os mesmos sentimentos dentro dela. Ela sentiu-se traída...
mas não por ele. Não por eles. Não os Barsantis. Seu próprio pai, sua
própria família, causou essa angústia, e ela não tinha certeza se havia
alguma maneira de curar essa dor. O senso de lealdade que tinha sido
incorporado nela desde o nascimento selou seus lábios e silenciou sua
língua para as coisas que ela conhecia.

— Eu sinto muito.

Ela sussurrou, escovando seus dedos em seus lábios rachados,


perguntando-se que tipo de segredos ele, também, guardava.

— Então, sinto muito. Eu desejava estar lá para você. Eu queria


estar lá para você. Eu tentei.

Ele agarrou a mão dela, segurando-a enquanto beijava as pontas


dos dedos.

— Você está aqui agora.

— Estou.

Disse ela.

— Para o que você precisar.

— Eu preciso de você.

~ 199 ~
Ele afastou a mão dela de sua boca, sem hesitação quando seus
lábios encontraram os dela em um beijo ardente. Ela engasgou,
envolvendo seus braços em volta de seu pescoço enquanto suas mãos
derivavam para os quadris. Ele empurrou seu vestido para cima, as
mãos escorregando debaixo do tecido enquanto ele passava por sua
bunda, apertando as bochechas e pressionando-a contra ele. Ela gemeu
em sua boca, o calor se acendendo em seu interior quando ela sentiu
sua ereção esticar o tecido de suas calças.

Ele a levou até sua cama desfeita enquanto ele se atrapalhava


com suas roupas, quebrando o beijo o suficiente para puxar seu vestido
e jogá-lo fora. Ela olhou para ele na escuridão, mordendo o lábio
inferior, observando enquanto ele fazia o trabalho com suas roupas.

— Agora?

Ela perguntou enquanto desabotoava suas calças e as deixava


cair no chão, deixando-o em nada além de um par de cuecas boxers
preta.

— Meu pai está aqui... e meu irmão...

— E?

— Eles podiam ouvir.

— Não, se você ficar quieta... se isso é possível para você.

Ela rolou dramaticamente os olhos, incapaz de manter o rubor em


suas bochechas. Quieta? Com ele? Improvável. Matty a puxou para
baixo em sua cama. Ele deitou-se sobre ela, com o coração batendo
freneticamente em seu peito enquanto ele pairava sobre ela, beijando-a
profundamente. Seus lábios formigavam pela força dele, o gosto de
hortelã e pimenta cobrindo sua língua enquanto ela, também, ficava
embriagada, mas de luxúria. Ele despertava cada parte dela, acendendo
todas as terminações nervosas, como seu indistinto corpo e o acolhia.

Ele beijou e acariciou sua pele exposta enquanto fechava os


olhos, relaxando nos lençóis macios de cetim. Suas mãos exploraram
antes de agarrá-la, surpreendendo-a enquanto a empurrava sobre seu
estômago. Seus olhos se abriram, as perguntas na ponta da língua, mas
elas foram interrompidas no momento em que o sentiu se estabelecer
entre as pernas. Ele acariciou suas coxas, separando suas pernas e
levantando sua metade inferior da cama apenas o suficiente para ele
empurrar dentro dela por trás. Ela gritou, agarrando os lençóis da cama
enquanto ele a enchia. Ele arrastou beijos ao longo de sua espinha
antes de deitar-se sobre ela, seu peito quente contra suas costas,
cobrindo-a, envolvendo-a em seu abraço. Um braço serpenteava em
torno de seu peito enquanto ele a segurava firmemente, com a mão
apertando a base de sua garganta, enquanto sua outra mão esfregava
seu quadril antes de deslizar para baixo. As pontas de seus dedos
acariciavam seu clitóris, provocando um alto gemido de seus lábios.

~ 200 ~
— Shhhh.

Ele sussurrou enquanto beijou-a atrás sua orelha, cobrindo seu


corpo completamente com o seu.

— Quieta, lembra?

— Estou tentando.

Ela ofegou quando ele saiu e lentamente empurrou para trás e


para dentro.

— É difícil.

— É, não é?

Ele sussurrou.

— É tudo para você, só você.

Seus olhos reviraram em sua cabeça enquanto ele aumentou seu


ritmo, cada impulso apenas um pouco mais duro, um pouco mais
profundo. Ele a abraçou tão forte que ela mal conseguia respirar, mas
ela apreciava a sensação, saboreando a queimadura em seu peito e o
calor que a envolvia. Estava sufocando, e dominando, enquanto ela
soltava, entregando o controle para ele, tensão e preocupação
evaporando de seu corpo. O suor a cobria, pequenos arrepios
arrastaram em sua pele pela brisa fresca que flutuava pela porta aberta
enquanto ele se movia.

Ele não disse mais nada — nenhum deles fez. Não havia nada
mais a dizer. Genna enterrou-se nos lençóis, sufocando seus gritos de
prazer enquanto se entregava a ele. Ela podia senti-lo em cada impulso,
em cada batida forte de seus quadris dentro dela, cada grunhido
estrangulado que escapava de sua garganta enquanto ele acariciava seu
pescoço. Isso não era luxúria. Era algo mais, algo maior. Isso não era
falta; era preciso, mais do que ela já tinha sentido antes. Era desespero,
um náufrago desesperado por ar, um homem faminto. Ele se agarrou a
ela, como se ele estivesse preso por sua vida, com medo de se afastar.

Não, não era luxúria. Isso era amor.

E ela sabia, quando sua respiração tornou-se irregular, o tremor


do corpo, seu aperto de alguma forma a apertando ainda mais, e não
era o prazer que o levava perto da borda. Era aquela agonia que ele tão
desesperadamente tentava impedir de entrar debaixo de sua pele. Ele
gritou quando gozou, suas lágrimas escorregando de suas bochechas e
batendo em sua pele úmida, misturando com seu suor. Genna podia
sentir quando ele se derramou dentro dela, sentiu os restos do orgasmo
correndo por suas coxas enquanto ele acalmava seus movimentos. Ele
sacudiu violentamente, seus braços debaixo dela tremendo tão forte que
parecia um terremoto sacudindo a cama. E ela quase sentiu isso

~ 201 ~
naquele momento, seu chão tão forte e tão estável que a deixou cair de
pé, levando os dois juntos.

— Eu te amo.

Ela sussurrou, desejando que houvesse algo mais que pudesse


fazer por ele, algo para aliviar seu sofrimento.

Há quanto tempo ele estava sofrendo, ela se perguntava?

Quanto tudo isso era culpa de sua família?

Ele apenas conteve um soluço ao som de suas palavras, inalou


profundamente. Seu corpo se moveu quando ele se afastou,
afrouxando-a. Genna rolou sobre suas costas sob seu corpo e olhou
para ele na escuridão. O segundo em que seus olhos se encontraram ele
desviou o olhar, virando a cabeça para evitar o olhar dela. Escondendo-
se dela.

Alcançando-o, ela agarrou seu rosto e virou-o para ela. As pontas


dos dedos lhe roçaram as bochechas antes de se inclinar para beijá-lo
ligeiramente. O sabor salgado de lágrimas permanecia em seus lábios.

Algo se moveu dentro dela, então, enquanto olhava fixamente em


seus olhos vermelhos e lacrimejantes, um pesadelo sinistro bateu no
abismo de seu estômago. Tinha estado ali desde aquele dia na rua
quando ouviu seu nome falado pela primeira vez.

Ele era um Barsanti...

... Mas talvez os Barsantis não fossem o inimigo.

Sua expressão permaneceu séria por um momento antes de


suavizar, um pequeno sorriso em seus lábios.

— Você realmente me ama?

— Eu amo.

— Eu também te amo.
Seu coração acelerou, perdeu o ritmo ante essas palavras, antes
de soltar uma risada leve.

— Nós somos tão clichê.

— Você acha?

— Sim.

Disse ela.

— A primeira vez que dizemos isso é durante o sexo.

— Tecnicamente é depois do sexo.

~ 202 ~
— Mesma coisa.

Ela revirou os olhos.

— A próxima coisa que você vai fazer é correr para o aeroporto


tentando me impedir de deixá-lo, e depois vamos nos beijar na chuva.

— Mas não antes de sairmos para a música, certo?

Sua testa franzida.

— O quê?

Ele encolheu os ombros.

— Eles fazem essa merda em filmes o tempo todo. Eles fizeram


isso no casamento do meu melhor amigo.

Ela ficou boquiaberta.

— Perturbador.

— O quê?

— Seu conhecimento dos filmes de Julia Roberts.

Rindo, Matty se afastou dela e se levantou ao lado da cama,


balançando um pouco em seus pés, ainda inebriado. O luar que entrava
pela abertura da porta de vidro lançava um brilho suave sobre a sua
carne nua. Genna estava deitada lá, admirando-o na luz quando ele se
virou para encará-la, arqueando a sobrancelha. Ele começou a falar
quando um forte estrondo o silenciou. Em pânico, os olhos de Genna
correram em direção à porta enquanto maçaneta sacudiu e a porta
bateu, a voz de Dante ouvida pela madeira fina.

— Genna, abra!

Ele gritou.

Seu coração bateu como um bumbo em seu peito quando ela se


ergueu em seus pés, alarmada. Arrebatando o vestido do chão, ela
puxou-o rapidamente sobre seu corpo e gritou.

— Espere, um segundo!

— Vá depressa.

Disse ele, batendo na porta.

Genna começou a reunir as roupas de Matty, empurrando-as em


seus braços antes de empurrá-lo para seu closet.

— Se esconda.

~ 203 ~
Ele começou a protestar, mas ela o silenciou com um beijo rápido
antes de lançar seus sapatos em direção a ele. Ela fechou a porta do
armário, escondendo-o e parou para respirar fundo quando Dante
começou a bater de novo. Seus passos apressados até a porta do quarto
enquanto ela alisava o cabelo dela e puxava seu vestido. Destrancando,
ela abriu a porta, parando na entrada para impedir que seu irmão
entrasse.

— O que ?

Ela latiu, agarrando firmemente à porta, tentando forçar um olhar


de aborrecimento em seu rosto para mantê-lo de ver seu pânico.

Dante a empurrou para fora do caminho para entrar no quarto.

— Não me venha com o quê.

Disse ele, andando por ela.

— Você desapareceu da festa.

— Bem, aqui estou eu.

Disse ela, abrindo mais a porta, esperando que ele iria entender
como um convite para sair tão rapidamente como tinha entrado.

— Você precisa de algo?

— Não.

Ele disse.

— Papai estava imaginando aonde você foi. Eu disse a ele que eu


iria ver você.

Lentamente, Genna passou por cima de sua cama e sentou-se


sobre ela, olhando para seu irmão enquanto ele se movia através de seu
quarto, olhando ao redor. Seu olhar deslocou-se para a porta deslizante
aberta e ele seguiu por esse caminho, empurrando-a mais aberto para
sair na varanda. Genna ficou tensa, segurando a respiração quando ele
se aproximou do corrimão. Por favor, não olhe para baixo.

— Uh, Genna?

Dante disse, olhando diretamente para baixo. Foda-se.

— Por que há uma escada do lado de fora de sua janela?

— Não sei.

Disse ela.

— Talvez o jardineiro a deixou fora ou algo assim. Você sabe que


eu não faço trabalho de jardinagem.

~ 204 ~
Dante balançou a cabeça enquanto voltava para dentro, limpando
os pingos de chuva do cabelo enquanto reclamava dos trabalhadores
incompetentes. Ele a cutucou enquanto passava.

— Eu vou dizer a papai que você dormiu assim ele vai deixar você
sozinha.

— Obrigada.

Ela murmurou enquanto ele seguia para a porta. Ela observou


suas costas, dando um breve suspiro de alívio. Assim que ele chegou à
porta, um barulho alto ecoou pela sala. Genna inalou bruscamente
enquanto os passos de Dante vacilavam. Ele se virou, os olhos estreitos
passaram brevemente por ela antes de se voltar direto para o armário
onde o barulho tinha vindo. Parecia que ela não era a única que lutava
para ficar quieta.

— Você está sozinha?

— Claro.

O olhar de Dante saltou entre ela e a porta do armário, cético.

— É Jackson? Jesus, Genna, me diga que não é Jackson, que


você não se esgueirou com aquele idiota com o pai aqui em casa.

— Não é.

Ela disse rapidamente quando ele voltou para o quarto.

— Não é ninguém.

Dante caminhou direto para o armário quando Genna pôs-se de


pé. Ela se aproximou de seu irmão para detê-lo, mas ele deu de ombros,
segurando a maçaneta. Sentia-se enjoada ao tentar freneticamente
puxar seu irmão para longe, mas ele não se aturdiu.

Por favor, esteja escondido, ela pensou. Pule em uma prateleira,


em uma porra de um tronco, empilhado com as roupas... alguma coisa.
Qualquer coisa. Não deixe que meu irmão o veja.

Ela contou na cabeça aqueles poucos segundos quando Dante


hesitou, esperando que Matty fosse inteligente o suficiente para estar
fora de vista, mas sua esperança acabou quando Dante abriu a porta do
armário. Bem na frente da porta, com os pés descalços e só meio
vestido, com o cabelo torto, estava Matty, sua expressão grave e ombros
quadrados, como se estivesse se preparando para uma luta. Dante
congelou a poucos pés na frente dele e piscou rapidamente,
momentaneamente atordoado, em silêncio, como se não pudesse
acreditar no que via. Tensos segundos se passaram, cada um
acentuado pela batida do coração aterrorizado de Genna, enquanto os
dois homens que mais significavam para ela — seu irmão, e o que ela

~ 205 ~
tinha de bom grado dado seu coração — encaravam um ao outro de
cima a baixo com ódio, como se o mundo estivesse em pausa.

De repente, o impasse chegou ao fim. Rapidamente, num piscar


de olhos, Dante enfiou a mão na cintura e tirou a pistola que sempre
carregava. Genna soltou um grito assustado, com lágrimas nos olhos,
enquanto Matty lentamente levantou as mãos em sinal de rendição
imediata. Sabia agora, seus olhos traíram sua expressão severa, o medo
brilhando enquanto seu olhar de pânico piscava para ela.

— Dante, por favor.

Implorou Genna, agarrando o braço de seu irmão, mas ele parecia


nem mesmo registrar sua presença.

— Deixe-me explicar.

— Pai!

Dante gritou, tão alto que sua voz se quebrou. Genna se


encolheu, com os ouvidos doendo. Seu pânico se intensificou.

— Vem cá, papai, rápido!

Não, não, não.

— Por favor.

Implorou ela, empurrando Dante para ficar entre os rapazes. Ela


estendeu os braços defensivamente enquanto ficava na frente de Matty,
seus olhos arregalados implorando a seu irmão.

— Por favor, Dante, não faça isso!

— Saia, Genna.

Dante se moveu, olhando a direita sobre o ombro esquerdo... à


direita no coração de Matty.

— Eu não quero que você se machuque.

— Já estou machucada!

Isso chamou a atenção de Dante para ela.

— Ele machucou você?

— Não, você está me machucando.

Disse ela freneticamente, pisando para o lado, com o rosto


olhando por cima do cano da arma de seu irmão. Se ele planejava atirar
em Matty, ele teria que passar por ela primeiro.

— Por favor, pare Dante, não faça isso!

~ 206 ~
A expressão de Dante mudou, a raiva nublando seu rosto. Sua
mão livre agarrou o braço de Genna tão forte que ela estremeceu. Dante
puxou-a para longe, empurrando-a para trás, e deu um passo em
direção a Matty, segurando a pistola com ambas as mãos. Matty
instintivamente deu alguns passos para trás enquanto Dante o
encurralava no armário, prendendo-o.

— Eu não sei qual o seu plano aqui, Barsanti, mas não está
funcionando. Você acha que pode colocar minha irmã contra nós, que
você pode usá-la para chegar até nós?

— Dante!

Genna gritou, tentando detê-lo novamente, mas ele quase não


vacilou. Ele soava como Enzo.

— Por favor, pare, por mim!

— Você não sabe o que está pedindo, Genna.

Dante levantou a voz mais uma vez.

— Ele é um deles.

— Você não entende.

Genna gritou, lágrimas queimando seus olhos e fluindo por suas


bochechas.

— Eu o amo, Dante! Eu o amo!

Essas palavras apanharam Dante desprevenido pela segunda vez


naquela noite. Ele hesitou, virando a cabeça ligeiramente para olhá-la.

— Você o ama?

— Sim.

Ela gritou.

— Não faça isso, por favor, por favor. Você me deve.

— Eu lhe devo?

— Você disse que me devia, que qualquer coisa eu precisasse,


tudo que eu tinha que fazer era pedir.

Disse ela.

— Então, eu estou pedindo... Eu estou implorando... Por favor,


não faça isso.

Dante hesitou quando o som de passos se aproximou, subindo as


escadas.

~ 207 ~
— Dante?

Gritou seu pai.

— Onde está você?

— Por favor.

Genna sussurrou, sua voz tremendo.

— Por mim.

Dante deu um passo para trás, olhando fixamente para Matty por
um momento antes de olhar para longe e baixar a arma.

— No quarto de Genna, papai.

Antes que Genna pudesse protestar, Dante saiu do armário e


fechou a porta com Matty ainda dentro. Genna limpou o rosto,
balançando quando os passos do pai soaram pelo corredor. Ele entrou
na porta, parando enquanto avaliava seus filhos.

— O que está acontecendo aqui?

— Foi apenas um erro.

Disse Dante.

— Pensei ter visto um rato.

A testa de Primo franziu.

— Um rato?

— Sim, um rato.
Primo olhou para ele brevemente antes que seus olhos se
voltassem para a arma em sua mão.

— E você estava indo fazer o quê? Atirar?

Dante forçou um riso enquanto afastava a arma.

— Força do hábito. Como eu disse, porém, que foi um erro. Certo,


Genna?

— Sim.

Ela sussurrou.

— Um grande erro.

— Ah!

Primo olhou entre eles, seu olhar fixo em Genna.

~ 208 ~
— Você está bem, querida, você está corada.

— Não estou me sentindo bem.

Disse ela. Pelo menos não era uma mentira. Bile queimou seu
peito. Ela queria vomitar.

— Bem, durma um pouco. — disse Primo.

— Vou dizer aos homens que você disse boa noite e eu vou
chamar um exterminador amanhã, você sabe, para se certificar de que
não haja nenhum rato. Eu odeio eles.

— Obrigada.

Ela disse, fechando os olhos com força quando seu pai foi
embora. Ninguém disse nada, a atenção se concentrou no som de
passos enquanto desciam as escadas novamente. Uma vez que ele se
foi, Dante reabriu a porta do armário e ficou entre Genna e Matty, os
olhos severos saltando entre eles, repreendendo-os, julgando.

— Você o mande para fora daqui.

Dante cuspiu.

— E você nunca me peça para fazer isso de novo, Genna Eu faria


qualquer coisa por você, você sabe, mas você não pode me pedir para
fazer isso. Você não pode me pedir para aceitar isso.

— Sinto muito.

Ela sussurrou e seu irmão começou a se afastar.

— Você deveria sentir.

Disse ele, de fato.

— Se você não ficar longe dele, Genna, você vai se arrepender.

— Não a ameace. – A voz de Matty fez Genna vacilar quando ele


saiu do armário, envolvendo um braço protetor em volta da cintura e
puxando-a para si.

— Eu não estou ameaçando ela.

Dante disse com raiva, os olhos estreitos em Matty.

— A única ameaça para ela aqui é você, Barsanti.

— Eu nunca a machucaria. — Disse Matty.

— Talvez não. — Disse Dante.

— Mas isso não significa que você não a magoaria. Eu te desafio a


negar. Eu te desafio a negar que ela não sentirá dor.

~ 209 ~
— Vou protegê-la.

— Talvez você acredite nisso. — Dante disse.

— Mas eu aprendi há muito tempo a não confiar à segurança da


minha família em torno de um Barsanti, e eu não vou ignorar isso
agora, não importa o quanto a minha irmã me peça.

Dante saiu furioso, sem sequer olhar para Genna novamente. Ela
ficou ali por um momento, tentando fazer seu coração diminuir a
velocidade, enquanto ela parecia se derreter no abraço de Matty.

— Isso vai nos matar, não é?

Ela sussurrou.

Matty soltou um suspiro exasperado enquanto a segurava mais


forte. Ela esperava que ele a contradissesse, dissesse algo para
tranquilizá-la, mas em vez disso murmurou uma resposta que fez seu
estômago afundar.

— Provavelmente.

~ 210 ~
Capitulo Treze
Antes que Savina Barsanti fosse abaixada até o chão naquela
triste tarde de verão, os planos foram postos em movimento,
provocando animosidade que haviam sido postas de lado durante anos.
Depois de anoitecer, quando Matty buscou apoio no abraço de Genna,
encontrou consolo em sua carne quente, a luta entre suas famílias se
acendeu violentamente quando ambos os lados cruzaram as fronteiras
sob o manto da escuridão, furtivamente roubando, instigando e
perseguindo.

Massacre.

Na manhã seguinte, quando a fumaça desapareceu daquela


primeira noite de destruição, deixando as partes geralmente calmas de
Manhattan subitamente contaminadas pela violência, o primeiro sangue
já havia sido derramado.

Dois soldados Galantes jaziam mortos no asfalto sujo, a poucos


quarteirões do local, morto a tiros enquanto atravessavam a rua.
Ninguém sabia para onde estavam indo, ou o que eles estavam fazendo
naquele lado da cidade. Eles haviam sido mortos à vista, sem
perguntas, por simplesmente se aventurarem no território inimigo.

A guerra tinha sido declarada.

Caminhões foram sequestrados e lojas foram quebradas, pessoas


assaltadas e outras roubadas. Noite após noite, nenhum canto estava
seguro de assassinato e caos.

Matty estava sentado à sua mesa de sempre algumas semanas


mais tarde, olhos abertos em seu notebook enquanto ele trabalhava as
estatísticas na margem do papel, assegurando que ele ainda estava à
frente do jogo. O telefone na mesa à sua frente tocou e tocou, mas ele o
ignorou, assim como ele ignorou os homens reunidos ao redor das
mesas e ao longo do bar, esperando por sua chance de fazer uma
aposta para o fim de semana.

Eram 10h30min... ele já estava trinta minutos atrasado.

— Você vai atender a isso? — Enzo perguntou exasperadamente


do assento em frente a ele, apontando para o telefone ainda tocando.

— Não.

~ 211 ~
Enzo olhou para ele, seu olhar penetrante. — Você está quase
pronto?

— Não.

— Você vai se dar bem ao fazer apostas hoje à noite?

A palavra — não — estava na ponta da língua de Matty, mas ele


engoliu de volta. Ele iria... eventualmente. Apenas não agora.

— Você está se afastando ultimamente. — disse Enzo, pegando a


cerveja e tomando um gole. — Papai não está feliz com isso.

— Sim, bem, em vez da promoção indesejada, eu espero que ele


me envie uma folha rosa.

Enzo riu secamente. — O rosa do papai vem na forma de balas no


cérebro.

— Eu sei. — murmurou Matty, jogando a caneta para baixo e


olhando ao redor do bar, espiando por cima dos olhos estudiosos para
procurar a garçonete. Ele a viu, gesticulando para ela trazer-lhe uma
bebida, antes de voltar ao seu irmão. — É uma linha de vinte centavos
esta semana novamente.

Enzo tomou o último gole de sua cerveja. — Você pode me contar.

— Por quê? — perguntou Matty.

— Tem medo de perder?

— Claro que sim. — disse Enzo. — E se aprendi alguma coisa, é


que odeio perder muito mais do que gosto de ganhar.

Encolhendo-se, Matty estendeu a mão para o telefone tocando


enquanto Enzo se levantava e se afastava. Matty atendeu o telefone com
um suspiro exasperado. — Sim?

Não houve conversa fiada. Os homens soltaram suas apostas e


Matty anotou-as, sabendo seus nomes no segundo em que ouviu suas
vozes. Entre as chamadas, outros do bar vieram, fazendo apostas em
pessoa, entregando seu dinheiro para Enzo guardar. Era metódico e
tedioso, a mente de Matty vagando enquanto mantinha as contas das
apostas e os totais correndo, caso ele precisasse ajustar seus números.

Poucos minutos antes da meia-noite, ele terminou, rasgando a


página de apostas e deslizando-a sobre a mesa para Enzo. A garçonete
veio até ele, trazendo-lhe outra bebida sem ele ter que pedir enquanto
seu irmão observava a lista.

— Comece tarde, termine cedo. — Enzo dobrou o papel e colocou


no bolso como segurança. — Seu coração não está mais nisso, não é?

Nunca esteve, pensou Matty, tomando sua bebida.

~ 212 ~
— Muito mais em minha mente.

Enzo assentiu conscientemente, seu olhar cauteloso se movendo


ao redor do bar. — Ninguém sabe ainda, se é isso que você está
preocupado.

Ainda. A palavra-chave, que fez a cabeça de Matty doer apenas


por reconhecer. Ninguém ao redor tinha descoberto sobre ele e Genna
ainda, mas era apenas uma questão de tempo antes que a pessoa
errada soubesse. Eles tinham intencionalmente ficado longe um do
outro nas últimas semanas, sabendo que era perigoso demais se
arriscar em ser pegos juntos novamente, mas isso estava acabando com
seus nervos, desconfortavelmente ficando sob sua pele. Algumas
mensagens de texto vagas e curtas e alguns telefonemas apressados e
sussurrados não o satisfaziam quando ele precisava dela.

Mas ele não poderia tê-la, não agora, não quando suas famílias
estavam de guarda, observando todos os seus movimentos em uma
tentativa de protegê-los, e ele estava começando a se perguntar se ele
poderia realmente tê-la para sempre.

Não enquanto nossas famílias estão dispostas a matar uns aos


outros.

— Posso dizer que você não a viu. — disse Enzo.

— Como?

— Você está mais chato do que o normal. — resmungou Enzo. —


Estou começando a ver por que vocês gostam um do outro. Vocês estão
ambos mal-humorados.

— En. — Matty avisou para ele. — Não comece.


— Eu só estou dizendo, você está deprimido como o inferno, e eu
entendi... mas que porcaria, mano. Confie em mim. Eu não gosto dessa
merda. Mas você está me dando nos nervos com esta atitude pobre.

— Vamos a um local comercial e ver como você lida.

Enzo riu secamente. — Primeiro de tudo, eu não estaria em seus


sapatos, porque eu não seria estúpido o suficiente para cair pela
Medusa.

— En...

Ele ergueu as mãos. — Ela é corajosa, eu vou dar-lhe isso, e eu


não estava mentindo quando eu disse que ela era durona. Mas o fato
permanece... ela é uma Galante. E talvez você aprecie toda essa besteira
de romance de Shakespeare, talvez isso tenha apelo para você. Mas
cada um na sua. Não mergulhe de cabeça nisso e, em seguida, jogue
essa pobre besteira em mim. Eles chamam isso de tragédia por uma

~ 213 ~
razão. Não pode acabar bem. Eu sei disso, você sabe disso, todo mundo
sabe disso, então comece a agir assim.

— Que diabos eu deveria fazer? — Matty atirou para fora,


segurando seu copo com tanta força que seus nódulos estavam
brancos.

— Algo. — disse Enzo. — Alguma coisa.

— É fácil para você dizer.

— Sim, fácil. — Enzo balançou a cabeça enquanto se levantava


para partir. — É fácil, ajudar a quebrar o coração do meu irmão,
tomando dele o que ele ama... novamente. Nenhum suor na porra das
minhas costas, certo?

Genna mexeu a sopa de milho em torno da panela enorme,


tirando com a concha o que era deixado da mistura e colocando em
copos descartáveis coloridos e colocando-os alinhados. Aproximava-se
das sete horas, mas não tinha pressa em ir embora, sem pressa para ir
para casa.

Ela não podia ver do lado de fora do centro comunitário de onde


ela estava, atrás da bancada, mas ela sabia quem estava lá fora,
esperando por ela. Dante viria, estacionaria bem na frente, encostando-
se ao lado do passageiro de seu carro para levá-la direto para o jantar.

E ele não estaria sozinho. Outros estavam posicionados ao redor


do bairro, escudos humanos, protegendo a área de quaisquer visitantes
indesejados. Seu pai a estava seguindo, as pessoas observando-a como
um falcão cada vez que ela pisava um pé fora da casa. Tinha ido tão
longe a ponto de tentar tirá-la a punição, o serviço comunitário foi
excluído para que ela não tivesse que se aventurar mais longe da casa,
mas ela insistiu em ir de qualquer maneira.

Talvez fosse teimosia. Talvez ela estivesse pouco ligando para o


seu pai.

Ou talvez fosse porque, totalmente, ela esperava que Matty


achasse uma maneira de passar sem ser detectado.

Sete horas veio, a comida do dia tinha acabado. Genna


desamarrou seu avental e tirou, jogando-o no cesto. Em vez de se dirigir
para a porta, no entanto, ela agarrou a panela vazia e levou-a de volta
para a cozinha.

— Saindo? — perguntou o coordenador.

~ 214 ~
Genna sacudiu a cabeça. — Eu prefiro ficar por aqui.

— Você não precisa.

— Eu sei.

Era a verdade, tanto quanto ela costumava olhar para frente e


sair com seu irmão, tanto quanto ela costumava estimar seu tempo
juntos, apenas os poucos minutos no carro com ele agora eram
praticamente insuportáveis. A tensão entre eles era sufocante, desde
que Dante descobriu seu segredo. Quando ele olhava para ela, ela podia
ver o julgamento em seus olhos, o desgosto, a falta de compreensão de
como ela poderia amar alguém assim, alguém como Matteo Barsanti.

Você não o conhece, Genna pensava cada vez que seu irmão
olhava para ela dessa maneira, mas ela nunca disse isso. Ele não
entenderia. Ele não podia. Sua animosidade corria profundamente,
cimentada dentro dele pelas cicatrizes espessas em seu peito.

Ela lavou pratos e varreu de baixo das mesas, ajudando de todas


as formas possíveis, até que ela não tinha mais desculpas para ficar por
aqui. Aproximava-se das dez horas quando finalmente se dirigiu para a
porta e saiu, seus olhos imediatamente atraídos para Dante. Ele ainda
estava lá, andando pela calçada em frente de seu carro, as luzes da rua
brilhando sobre ele. Ele estava no telefone falando com alguém, sua voz
calma, mas firme.

Virando-se, ele avistou Genna ali parada e fez uma pausa,


abrindo a porta do passageiro para que ela entrasse no carro enquanto
continuava seu telefonema. Uma vez que ela estava lá dentro, ele fechou
a porta e entrou atrás do volante. — Não, não se preocupe com isso. -
disse ele no telefone, sua voz tensa. — Eu tenho certeza... Eu vou lidar
com isso agora.

Ele desligou, deixando escapar um gemido irritado quando ele


jogou o telefone de lado e começou dirigir o carro.

— Problemas? — Genna perguntou hesitante.

— Você poderia dizer isso.

Ele murmurou, dirigindo o carro em torno do tráfego. — Preciso ir


para a Little Italy.

— Você pode me deixar em casa antes.

— Ninguém está em casa.

— E?

— Então. — ele disse. — Eu não estou deixando você lá sozinha.

— Você está brincando comigo? Não posso nem ficar sozinha em


casa?
~ 215 ~
— Não agora, não é seguro.

— Você está sendo paranoico.

— E você é muito confiante, Genna, porra. — Ele virou os olhos


para ela, aversão familiar em sua expressão. — Pelo que sei, isso
poderia ser apenas uma diversão, a sua maneira de ficar sozinha, para
se isolar, para que eles possam chegar até você, sem um de nós estar
por perto.

Genna revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito, uma


pequena parte dela desejou que fosse assim. Pelo menos, então ela
saberia que era possível ver Matty novamente. Tinha sido assim por
muito —muito tempo.

Dante correu pelas ruas, dirigindo-se para o sul para Little Italy.
Apesar de estar escuro lá fora e a maioria dos lugares fechados, o bairro
estava vivo. As pessoas estavam penduradas nos cantos, os prédios
iluminavam-se, a música soava e os carros passavam pelas ruas. Dante
passou por eles e virou na Mulberry Street, parando o carro na primeira
vaga de estacionamento ao longo da rua.

— Espere aqui. — disse Dante, seu tom sério. — Seja o que for,
Genna, não saia desse carro.

Ela não lhe deu uma resposta enquanto se debruçava no assento,


fingindo saudá-lo. Dante saiu, batendo a porta, usando as chaves para
trancar o carro atrás dele. Genna deitou a cabeça para trás e fechou os
olhos, soltando um profundo suspiro. Ela se sentia como uma criança
com a forma como sua família a tratava. Ridículo.

Alguns minutos se passaram antes que houvesse um tumulto do


lado de fora, vozes eram ouvidas abaixo do bloco k. Abrindo os olhos,
Genna olhou pelo para-brisa, ouvindo vagamente o grito de seu irmão
para alguém. Ela se sentou, de repente alerta, enquanto Dante
empurrava alguém na frente da loja de música. O homem tropeçou para
trás alguns passos inesperados, e Genna avistou um rosto no brilho da
rua.

Enzo.

— Ah Merda.

No momento em que Genna respirou aquelas palavras, o caos


irrompeu. Dante avançou, ainda gritando, preparado para atacar de
novo, mas Enzo estava pronto naquele momento. Ele balançou, seu
punho se conectando com a mandíbula de Dante fazendo-o tropeçar.
Antes que ele pudesse obter o equilíbrio, antes que ele pudesse
contrariar, Enzo se lançou para ele, brutalmente bateu em Dante o
enviando caído na calçada e subiu em cima dele, batendo-lhe com os
punhos.

~ 216 ~
O coração de Genna parou uma batida, momentaneamente
congelada em seu lugar, mas o momento em que ele chutou suas
costelas, batendo duro em seu peito, ela se mexeu. Ela abriu a porta do
passageiro, sem pensar duas vezes, e saltou para fora do carro para a
rua. A buzina soou, um carro desviou quando ele acelerou passando
por ela, por pouco acertando a porta do carro. Ela bateu a porta e
correu para a calçada, ouvindo pneus cantarem. Um carro deslizou
para uma parada abrupta, e Genna olhou fixamente, sua visão
borrando quando ela piscou rapidamente à vista do Lótus vermelho
familiar.

Ele estava parado na rua, abrindo a porta do lado do motorista.


Matty saltou para fora e correu para a calçada, indo para a direita onde
seus irmãos rolavam no chão, brigando.

Não. Deus, por favor, não se envolva.

Uma pequena multidão rapidamente se reuniu, as pessoas


ouviram o tumulto e vieram investigar. Dante conseguiu ganhar a mão
o suficiente para dar um soco no rosto de Enzo, a força o derrubou em
alguém da multidão, que recuou alguns passos. Dante ficou de pé e
avançou então, socando Enzo febrilmente, assim como Matty forçou seu
caminho através dos espectadores para alcançar os dois. Tentou pular
entre eles, dando um golpe na bochecha de Dante, mas Enzo bloqueou
seu irmão numa tentativa de lutar. Os dois o ignoraram, implacáveis,
apesar das tentativas de Matty em intervir.

— Parem com isso! — Genna gritou, espremendo-se através da


multidão. — Parem!

O som de sua voz distraiu seu irmão, que instintivamente olhou


em seu caminho. — Volte para o carro, Genna.

Antes que ele terminasse a frase, Enzo atacou, aproveitando sua


interferência. Ele bateu em Dante com tanta força que o sangue voou do
nariz de Dante, uma sensação de repulsa ecoou pela multidão. Ele
tropeçou, bateu no chão duro, quando Enzo desembarcou em cima dele
de novo.

Genna amaldiçoou, empurrando as pessoas para fora do seu


caminho, mas antes que pudesse alcançá-las alguém a agarrou por
trás. Ela gritou, tentando lutar contra os braços ao redor dela, até que a
voz suave sussurrou em seu ouvido. — Calma, princesa.

Matty.

— Pare-os. — ela chorou, as lágrimas ardendo os olhos. — Faça


alguma coisa!

— Estou fazendo alguma coisa. — disse Matty, afastando-a da


horda. — Estou tirando você daqui.

~ 217 ~
Ela não entendeu até que ele a arrastou para a rua, não
afrouxando seu aperto ao se aproximarem do Lotus. Ela tentou lutar
contra ele de novo, então. O que ele estava fazendo?

— Não, espere, pare! Nós temos que pará-los!

— Não há como detê-los. — disse ele, abrindo a porta do


passageiro do carro e empurrando-a para dentro. Ela lutou, mas ele era
mais forte, forçando-a para o assento e batendo a porta. Ela reabriu
para voltar quando ele subiu ao lado dela, mas antes que ela pudesse
conseguir um pé para fora, ele jogou o carro em marcha e acelerou.
Assustada, Genna bateu a porta novamente e ficou boquiaberta.

— Por que estamos indo embora?

— Eu preciso te tirar daqui.

— O que, por quê?

— Realmente, Genna? Por quê? Você está me perguntando a sério


por quê?

— Mas nós temos que detê-los! —Por que ele não estava
entendendo esse fato? — Eles vão matar um ao outro!

— Não, eles não vão. — Matty disse, suspirando de frustração


quando ele acelerou para o oeste através da Little Italy. — Há muitas
testemunhas para que isso aconteça, eles vão simplesmente bater o
inferno um do outro até que eles se cansem.

Ela olhou para Matty, horrorizada, uma sensação de descrença se


estabelecendo sobre ela. Ela observou enquanto ele esfregava a
mandíbula, inchando do soco de Dante. Ela sentiu-se tonta, a onda de
adrenalina nauseando-a. — Eu vou vomitar. — disse ela, cobrindo sua
boca enquanto a bile lhe queimava a garganta. Matty olhou para ela
antes de dirigir o carro ao longo do lado da estrada e estacionar. Ela
abriu a porta, mal tendo tempo para se inclinar para fora antes dela
vomitar tudo de seu estômago.

— Você está bem? — ele perguntou quando ela fechou a porta


novamente e se acomodou no assento. Ela assentiu com a cabeça,
abrindo a janela e respirando fundo, o cheiro de couro esmagando-a. As
lágrimas borraram sua visão enquanto ela tremia, tentando se
controlar. Matty olhou para ela, franzindo a testa, e estendeu a mão
para enxugar as lágrimas em suas bochechas. — Tudo vai ficar bem,
Genna, eu prometo.

Ela estendeu a mão, colocando sua mão sobre a dele enquanto as


pontas dos dedos roçavam sua pele. Parecia que ela não o tinha visto há
muito tempo, muito menos sentido seu toque. Matty lhe deu um suave
sorriso, simpatia brilhando em seus olhos.

~ 218 ~
Ele dirigiu direto para o Soho, estacionando em seu lugar
reservado na garagem, e agarrou sua mão enquanto ele a ajudava a sair
do carro. Eles correram pelo estacionamento e ele a levou direto para
seu apartamento, não deixando de correr, até que estivessem em
segurança. Genna tremia quando ela começou a andar ao redor da sala,
as palavras de Matty correndo sobre ela, mas não afundando. Ela só
ficava imaginando Dante batendo no chão, vendo o sangue jorrar, e
ouvindo o estalo do osso de Enzo. Uma e outra vez, mais e mais.

— Eles vão matar um ao outro. — ela repetia, passando as mãos


pelo rosto antes de se agarrar firmemente a seus cabelos em frustração.
— Esses dois vão se matar, Matty.

— Não, eles não vão. — ele tranquilizou-a, segurando uma garrafa


de água e incentivando-a a beber. — Não esta noite, de qualquer
maneira.

Ela zombou, empurrando a mão dele enquanto ignorou a bebida.


Tranquilizador.

O tempo passou em um borrão, cada tique do relógio era uma


agonia enquanto ela continuamente observava o tempo. Meros minutos
haviam passado, mas parecia uma eternidade enquanto esperava. O
que ela estava esperando? Ela não tinha certeza...

... Até que a porta do apartamento se abriu.

Genna ofegou quando Enzo entrou, seu lábio sangrando e nariz


quebrado, sua mandíbula machucada e olho começando a inchar. Ele
estava vivo. Oh Deus, e Dante? Enjoo correu através dela, seu estômago
violentamente torcendo. — Eu vou vomitar novamente.

Matty empurrou a porta do banheiro aberta, apontando para


dentro. Genna correu pelo quarto, olhando ao redor freneticamente, e
chegou ao banheiro a tempo. Ela caiu de joelhos no chão e
violentamente soltou, mais e mais, até que seu estômago apertou
dolorosamente e ela sentiu como se fosse desmaiar.

Matty deu-lhe alguns minutos antes de caminhar para o banheiro


e agachou ao lado dela. Ele escovou o cabelo de seu rosto e ela piscou
rapidamente, o cheiro de sua colônia chegando a ela e deixando-a tonta.
— Você está terrivelmente pálida. — ele disse, segurando seu queixo
enquanto ele a fitava intensamente.

— Sim, bem, sua colônia é forte. — ela murmurou. — O que você


fez, tomou banho com ela?

Sua expressão se suavizou quando ele olhou em seus olhos, mais


uma vez, oferecendo-lhe a garrafa de água. Ela tomou dessa vez,
sentada no chão do banheiro, e, lentamente, bebeu o líquido frio. Ela
acalmou sua garganta, lavando o amargo de sua boca.

~ 219 ~
— Então, uh. — ela murmurou. — Acho que seu irmão
sobreviveu.

— Ele fez. — Matty concordou. — E o seu também.

— Será que ele...?

— Sim. — respondeu ele. — Ambos sobreviveram... como eu disse


que iriam.

— Então, ele está bem, Dante?

— Bem, ele está tão bem quanto Enzo.

— Ele parecia meio fodido.

— Ele está. — concordou ele. — Eles bateram o inferno fora de


si... como eu disse que iriam.

— Sim, sim. — Genna disse, acenando enquanto ela tomava outro


gole da água. — Eu tenho que dizer - você sabe tudo.

Matty riu secamente. — Eu queria que isso fosse verdade, então


eu saberia o que fazer agora.

— Você quer dizer o que fazer comigo?

— Exatamente. — ele respondeu. — O que eu vou fazer com você,


princesa?

Ela olhou para ele, seu estômago finalmente se acomodando


enquanto ela inalava pela boca e exalava pelo nariz, tomando
respirações lentas e constantes. — Me ame. — ela sussurrou.

Matty sorriu, escovando a parte de trás da sua mão ao longo de


sua bochecha vermelha. — Eu já faço.

Ele começou a se inclinar para ela, mas Genna recuou,


afastando-se enquanto ela rapidamente levantou suas mãos para detê-
lo. Matty congelou, a testa franzindo por sua reação.

— Ugh. — disse ela, em direção a sua boca enquanto ela fez uma
careta. — Confie em mim, você não quer beijar essa boca agora, é
repugnante.

Ele se levantou e agarrou sua mão para ajudá-la a sair do chão


do banheiro. — Escove os dentes se isso vai fazer você se sentir melhor.

— Eu não tenho uma escova de dente.

— Use a minha.

— Ugh, grosseiro.

~ 220 ~
— Você pode me beijar, mas você não pode usar minha escova de
dente?

— Eu te beijo, não compartilho a comida de seus dentes.

Ele riu enquanto passava por ela, abrindo uma gaveta até que ele
tirou algumas novas escovas de dente. Ele levantou-as. — Azul, verde
ou laranja?

Ela olhou para elas. — Uh, azul.

Ele jogou as outras duas de volta na gaveta e segurou a azul para


ela. — Ai está.

— Por que você tem tantas escovas de dente sobressalentes? - ela


perguntou, olhando para ele.

— Eu gosto de comprar coisas em massa.

— O que mais você compra a granel, Sr. Econômico?

— Tudo.

— Como?

— Como tecidos, garrafas de água, pastas de dentes...


preservativos.

Ela olhou para ele. — Usa um monte de preservativos, não é?

— Parece que sim.

— Huh. Você usou muitos no mês passado?

Ele olhou para ela, a diversão desapareceu de seus olhos. — Nem


um único. Não tenho usado nenhum, desde... desde a última vez que
usamos um.

Sentia-se estúpida ali, as inseguranças se agitando em tal


momento, mas não conseguia evitar. Ela tinha que perguntar, tinha que
saber, era melhor perguntar-lhe diretamente. Eles nunca tinham
exatamente conversado sobre isso antes, escolheram viver no momento,
em vez de se deter sobre o passado ou tentar descobrir o futuro. Teriam
um futuro, ela se perguntava? Ele queria um?

— O que você vai fazer sobre mim, Matty? — ela perguntou,


surpresa pela vulnerabilidade em sua voz.

— Escove os dentes. — ele disse calmamente, dando um passo


para trás. — Então venha descobrir.

Ele saiu do banheiro, fechando a porta atrás dele para dar-lhe


alguma privacidade. Genna escovou os dentes, tentando se recompor,
antes de olhar para seu reflexo. Seus olhos estavam injetados de

~ 221 ~
sangue, seu rosto inchado de chorar, cada ponto de maquiagem
apagado ou manchado. Suspirando, ela jogou água em seu rosto,
lavando o resto, e secou com uma toalha antes de ir para o quarto de
Matty.

Ele estava ao lado de sua cama, vestindo nada além de um par de


cuecas boxers preta. Instintivamente, o olhar de Genna o escaneou,
absorvendo cada centímetro de seu corpo com os olhos. Ele não era
muito forte, mas ele não era de todo fraco, seu corpo era bem formado -
não muito macio, nem muito duro. Era um corpo que a fazia sentir
segura, mas um corpo que a tornava tão suscetível. Quando ele a
abraçou, sentiu-se tão alta como uma montanha, uma força da
natureza, imparável e inegável, mas um simples olhar dele a fez sentir
tão frágil como um lenço de papel, como se o simples toque errado
pudesse deixá-la em pedaços.

Matty estendeu os braços para ela, e Genna nem hesitou,


deslizando diretamente em seu abraço.

— Eu senti sua falta. — ela disse calmamente.

— Eu também senti sua falta. — ele respondeu, beijando o topo


de sua cabeça. — Estava me matando, não vê-la... não saber quando eu
seria capaz de vê-la novamente.

— Meu pai me fez ficar presa.

— Eu sei. — Matty inclinou o queixo e suavemente beijou seus


lábios, puxando para trás depois de um segundo e fazendo caretas. —
Você está certa.

Sua expressão caiu. — O quê?

— Você tem gosto de hortelã. Nojento.

Genna revirou os olhos, acotovelando-o enquanto ele ria. —


Engraçado.

— Você quer algo para dormir? — perguntou ele, afrouxando-a


para se mover em direção à sua grande cômoda. — Eu tenho certeza
que há alguma coisa lá dentro que você pode usar.

— Dormir? — ela perguntou hesitante. — Isso é o que você


pretende fazer comigo?

Ele assentiu. — Eu pretendo fazer tudo com você, na verdade, e


uma coisa que nós ainda temos que fazer é dormir juntos.

Por mais que ela gostasse de ouvir essas palavras, seu coração
caiu no que significa dormir juntos. Havia uma razão para eles não
terem feito isso, porque eles nunca tinham sido capazes de passar uma
noite inteira juntos antes.

~ 222 ~
— Minha família... eles vão procurar por mim.

— Eu não duvido.

— Dante saberá exatamente onde procurar. — disse ela. — Ele


sabe sobre você... sobre nós. Ele saberá que eu estou com você.

— Eu também não duvido disso.

— Ele pode dizer.

Ela acreditava que Dante não contaria sobre ela apenas por
contar — que não era sua natureza, em tudo — mas se ele pensasse
que ela estava em perigo, se ele achasse que sua vida estava em jogo,
ele certamente derramaria o que sabia. — Você sabe, dizer ao meu pai.

— Não me surpreenderia nenhum pouco.

— Então, não devemos... Quero dizer, nós não podemos...

— Você está certa de que não devemos. Mas eu não concordo que
não podemos. Nós podemos, e eu quero. Eu quero, porque eu quero
você, e eu estou cansado de não ter você. Eu estou cansado de ficar
longe de você, de evitar você. Você é a última pessoa que eu quero
evitar. — Suspirando, Matty sentou-se no final de sua cama e segurou
os quadris de Genna, puxando-a para si. Ela ficou entre suas pernas,
olhando para ele enquanto ele olhava para ela, sua expressão séria. —
Olha, Genna, eu estou te dando uma escolha... Eu vou te levar para
casa agora, verificar se você está quente em sua própria cama, onde eu
tenho certeza que sua família vai fazer de tudo ao alcance para protegê-
la. Eu farei isso se é isso que você quer.

— Ou?

— Ou você pode ficar aqui. — disse ele. — Fique comigo esta


noite, durma na minha cama, fique comigo. E eu garanto que, se você
ficar, eu vou mantê-la segura. Eu vou te proteger, não importa o quê.
Eu não vou deixar nada acontecer com você. Mas eu não posso estar
com você, Genna, e não mais ficar com você.

— Mas quem vai te proteger? - ela perguntou. — Quem é que vai


mantê-lo seguro?

— Você deu um passo na minha frente quando eu tinha uma


arma carregada apontada para o meu peito. — disse ele. — Acho que
vou ficar bem.

Ela refletiu sobre isso enquanto olhava para ele. Ele queria dizer
cada palavra. Ela poderia dizer que, acreditava no fundo de sua alma, e
embora isso a aterrorizasse, o que ficar com ele significava para ela...
para ele... para ambos, ela sabia que não havia realmente uma escolha
a fazer. Ficar com ele significava escolhê-lo.

~ 223 ~
Ela não tinha escolhido ele? — Eu não preciso de roupas para
dormir. — disse ela, inclinando-se para beijá-lo suavemente.

— Não?

— Não. — ela sussurrou contra seus lábios. — Eu gosto de dormir


nua.

Ele riu, segurando seus quadris mais apertados enquanto a


puxava para mais perto dele. — Você não vai ouvir reclamações de mim.

Genna agarrou a bainha de sua camiseta e puxou-a pela cabeça,


jogando-a no chão perto de seus pés. Matty se inclinou, arrastando
beijos suaves ao longo de seu estômago enquanto suas mãos se moviam
para frente, lentamente desabotoando suas calças e deslizando o zíper
para baixo. Ele puxou as calças para baixo, e Genna as chutou para
fora junto com seus sapatos, deixando-a em nada, além de o sutiã e a
calcinha pretos. Suas mãos percorreram sua pele, explorando,
acariciando, enquanto ele olhava para sua carne suave sob as luzes
brilhantes. Ele olhava para ela como se estivesse memorizando cada
curva, estudando cada marca e linha, e beijando cada lugar de seu
corpo, não deixando nenhuma polegada inexplorada.

Sem outra palavra, Matty a puxou para a cama com ele.

~ 224 ~
Capitulo Quatorze
O coração de Genna martelava dolorosamente em seu peito,
correndo febrilmente e batendo contra sua caixa torácica ao ritmo da
música vibrando nos alto-falantes do carro.

Martelando. Martelando. Martelando.

Matty dirigiu através de Manhattan, fluindo com o tráfego


enquanto seguia para o norte. Ela nunca tinha visto ele andar no limite
de velocidade antes.

Eu não pensei que o Lotus poderia andar tão malditamente rápido.

Ele estava nervoso, distraidamente batendo os dedos contra o


volante enquanto obsessivamente checava os espelhos, monitorando os
carros ao redor deles. Genna podia sentir a tensão irradiando dele,
embora ele mantivesse sua expressão neutra, os ombros relaxados para
não a alarmar.

Sem sentido, realmente. Ela estava no limite. Nada a acalmaria.

— Você não tem que fazer isso. — ela disse calmamente, mais
uma vez tentando dar a ele a chance de recuar.

— Não estou com medo, Genna. — respondeu ele.

Você deveria estar, pensou ela. Eu com certeza estou.

Como se ele pudesse de algum modo sentir seus pensamentos,


Matty estendeu a mão e segurou a sua, suavemente apertando-a em
uma tentativa de tranquilizá-la.

Genna olhava pela janela lateral enquanto as ruas se tornavam


mais familiares para ela, aqueles que ela se aventurava no dia a dia, o
Lotus rastejando no núcleo do território Galante. Seu coração de
alguma forma conseguiu bater ainda mais forte, martelando em seus
ouvidos, o fluxo aquecido de sangue fazendo ela se sentir enjoada.

Ugh, por favor, não vomite novamente.

Ela beliscou a ponte de seu nariz quando fechou os olhos,


tentando aliviar a sensação.

— Vai ficar tudo bem. — disse Matty. Ele parecia que realmente
acreditava nisso. — Confie em mim.

~ 225 ~
— Eu confio.

Genna reabriu os olhos quando se dirigiram ao condado de


Westchester, indo direto para a residência Galante. O Lotus diminuiu
ainda mais, parando na rua por alguns segundos antes de se virar para
o caminho que levava a casa. O carro de Dante estava bem perto da
porta da frente, estacionado torto como se tivesse sido abandonado
apressadamente.

Matty parou a alguns metros de distância, estacionando o Lotus e


virando-se para ela. O silêncio os rodeou enquanto ficaram sentados ali
por um momento, o motor ronronando enquanto o carro estava parado.
— Você precisa que eu a acompanhe?

Ela zombou. — Definitivamente não. Eu deveria, você sabe...


enfrentá-los sozinha. Eles vão ficar chateados o suficiente, mas talvez
eu possa acalmá-los se, você sabe...

— Se eles não tiverem que olhar para o meu rosto.

— Exatamente.

Tão lindo como ela achava aquele rosto, ela sabia que a visão dele
iria enraivecer sua família.

— Bem, me ligue se precisar de mim. — disse ele, olhando para a


porta da frente da casa, quando esta abriu. Dante saiu para a varanda.
— Se você precisar de qualquer coisa. Eu vou buscá-la, ok? A qualquer
hora, dia ou noite. Quero dizer isso.

— Eu vou. — ela disse, inclinando-se e beijando-o rapidamente


antes de sair. Ela caminhou em direção à porta da frente, seus braços
nervosamente enrolados ao redor de seu peito. Ela podia sentir o olhar
de preocupação de Matty atrás dela, enquanto o olhar feroz de Dante a
queimava da varanda.

Lentamente, o Lotus recuou antes de desaparecer rua abaixo.


Genna subiu na varanda, evitando olhar para seu irmão, e tentou
passar direto por ele quando ele entrou em seu caminho. Olhando para
cima, ela congelou quando seus olhos se conectaram com os de Dante.

Ele parecia áspero. Cortes e hematomas marcavam sua pele


bronzeada, o nariz muito inchado. A visão de suas óbvias lesões fez seu
peito doer.

— Dante, eu...

Antes que ela pudesse obter as palavras, para lhe dizer que sentia
muito que ela o preocupou, dizer-lhe que não queria brigar, lhe dizer
que ela o amava e nunca quis machucá-lo com tudo isso, ele arrebatou
um abraço dela e a puxou para ele, abraçando-a com força enquanto ele
soltava uma respiração profunda.

~ 226 ~
— Porra, Genna, não me assuste assim.

— Eu estou bem. — Insistiu ela, abraçando-o, levemente


esfregando suas costas. — Eu estava, uh...

— Você estava com ele. — disse Dante. — Eu lhe disse para


esperar no carro e em vez disso você fugiu com ele.

— Eu só... — Ela estava perdida por palavras, incapaz de forçar


para fora um pensamento completo. — Você... o papai...?

— Ele está em seu escritório. — disse Dante. — Não foi capaz de


dormir, ficou acordado a noite toda à espera de algum sinal de você.

Genna suspirou, afastando-se. — Você disse a ele.

Não havia nenhuma acusação em seu tom. Era apenas uma


questão de fato, e ela não esperava menos.

— Eu estava preocupado. — ele disse, com a voz baixa.

— Eu sei. — ela sussurrou. — Mas eu estou bem.

Por enquanto.

Genna entrou, hesitante no escritório. Parte dela queria correr


para o andar de cima, para acampar em seu quarto e se esconder
debaixo de suas cobertas pelo resto da eternidade, mas sabia que
quanto mais ela adiasse, pior seria. Ela tinha que enfrentar seu pai. Ela
tinha que encarar a realidade.

Respirando fundo para se manter firme, caminhou até seu


escritório e bateu na porta antes de abri-la. Seu pai estava sentado no
sofá e olhou para ela quando entrou, com uma expressão tão dura, tão
implacável, era como se seu rosto tivesse sido esculpido a partir de um
bloco de pedra rígida.

— Matteo Barsanti. — disse friamente.

— Matty. — ela disse, sua voz era pouco mais que um sussurro.

— Matty. — ele rosnou. — Esse é o seu Matty?

— Sim.

Ele olhou para ela em silêncio, não abrandando nem um pouco,


intensa raiva focada nela enquanto ela estava ali, inquieta. — Você me
odeia, Genevieve? — Ele perguntou finalmente, sua voz caindo um tom,
baixa e ameaçadora. — Você odeia tanto assim a nossa família?

— Não. — ela abanou a cabeça. — Eu não os odeio em tudo.

— Você deve odiar, para virar as costas para nós. — disse ele. —
Para virar as costas para mim, para seu irmão... seus irmãos. Todos

~ 227 ~
nós! Aquela família... eles mataram Joey. Meu Joey, meu garoto! Eles o
roubaram de mim, de nós, e você está em conluio com eles! Com o
inimigo!

— Eu não estou! — ela disse. — Eu não estou em conluio com


ninguém.

— Não minta para mim, garota! — Primo se levantou, apontando


o dedo para ela, seu rosto se contorcendo pela raiva surgindo através
dele. A visão dele fez Genna instintivamente retroceder. Seu pai era um
homem perigoso. Ela não estava nada no escuro sobre isso. — Eu sei
que você esteve com esse garoto, que você já teve encontros secretos
com ele, que você o procurou pelas nossas costas. Você nos traiu!

— Isto não é sobre você, não tem nada a ver com você, nem com
esta família, ou a família dele! Isso é sobre mim, sobre ele.

— Ele é um deles!

Ela jogou as mãos para cima em frustração. — Oh, quem se


importa?

— Eu me importo! — Ele se moveu para ela rapidamente,


provocando outro recuo de Genna. — E se você se importasse um pouco
com esta família, seria importante para você também. Ele não é bom...
ele é veneno! E você está bebendo, deixando ele infectá-la!

— Eu o amo! — gritou ela, arrancando as palavras de seu peito,


incapaz de serem contidas. Elas pareceram ecoar pela sala e bater em
seu pai com tanta força que ele se encolheu. — E eu sinto muito se isso
te perturba... se isso te machuca... mas eu o faço. Eu o amo, e nada do
que diga ou faça pode mudar isso.

— Você está errada.

O sangue de Genna pareceu ficar frio com suas palavras, sua voz
caindo de repente. — Você está jogando um jogo de roleta russa com
aquele garoto. — Ele continuou, olhando para ela.

— Você pode ter sorte, você pode sair ilesa algumas vezes, mas as
probabilidades nunca estão sempre em seu favor. Só é preciso uma
vez... uma única vez... para o seu dedo estar nesse gatilho quando a
bala estiver na câmara. E então você não voltará mais para casa.

— Talvez sim. — disse ela. — Mas dado que isto não é minha
guerra, eu acho que foi você quem carregou a arma em primeiro lugar.

Ele olhou para ela, sua raiva nunca diminuindo. Depois de um


momento ele desviou o olhar com uma careta, como se ele não tivesse
estômago para continuar olhando pra ela, e apontou para o teto. — Vá
para o seu quarto.

~ 228 ~
— Eu não sou um de seus homens. — disse ela. — Você não pode
me mandar por aí.

— Você é minha filha.

— Eu sou uma adulta.

— Enquanto viver sob meu teto, Genevieve, você seguirá minhas


regras.

— Então talvez seja hora de eu me mudar.

Ele olhou para ela novamente e lá, além da raiva e ressentimento,


ela finalmente viu algo mais brilhante. Medo. Ela nunca tinha visto seu
pai com medo antes. A visão disso a assustou. — Vá para o seu quarto.
— ele disse novamente, correndo suas mãos pelo rosto, sua voz soando
como uma súplica.

Genna saiu da sala, virando-se e se dirigindo para as escadas, e


quase correndo direto para Dante. Ele estava escondido atrás dela,
ouvindo. Ele não disse nada, saindo do caminho para deixá-la passar,
antes de tomar o seu lugar no escritório de seu pai e suavemente fechar
a porta.

Matty entrou no The Place, pedindo uma Coke Roman ao barman


antes de ir para a parte de trás do bar, onde Enzo estava sentado,
estudando cuidadosamente o dinheiro das apostas da semana. Notas de
dez, vinte, cinquenta, cem... Pilhas de dinheiro cobriam a mesa
enrubescida e desgastada à sua frente.

Dinheiro sujo.

Matty deslizou no assento em frente a ele, suspirando, enquanto


bebia sua bebida. Enzo olhou para ele brevemente, nunca perdendo a
atenção, continuando a contagem mesmo quando se dirigiu a seu
irmão. — Onde você esteve?

Matty encolheu os ombros. — Deixando Genna em casa.

— Em casa.

— Sim. — disse Matty.

— Casa. — Enzo sacudiu a cabeça, virando outra pilha para


contar. — Você realmente tem um grande desejo de morte, não é?

— Eu não chamaria isso de desejo. — disse Matty. — É mais um


desinteresse.

~ 229 ~
— Desinteresse.

— Sim.

— Eu odeio dizer isso a você, mano, mas você não tem que estar
interessado na morte para ela te encontrar.

— A morte tem andado atrás de mim desde que eu era jovem. —


Matty disse. — Não importa o que eu fizer... quando ela estiver pronta
para me encontrar, ela irá.

— Sim, bem, você não tem que desenhar a ela um mapa do


caralho.

Apesar de tudo, Matty riu disso, pegando seu copo e dando outro
gole. Enzo continuou contando, classificando as contas em silêncio,
organizando-as em pilhas diferentes antes de guardá-las em envelopes.
Ele empurrou um na mesa em direção a Matty, que pegou e a enfiou no
bolso traseiro.

— Eu ainda lhe devo mais ou menos mil. — disse Enzo,


recolhendo o resto dos envelopes antes de se levantar. — Tenho
algumas pessoas que ainda precisam pagar, eu vou falar com elas mais
tarde, mas primeiro eu tenho que ir para o norte por um tempo.

Norte. Território Galante.

— Por quê?

— Por que, nunca é uma boa pergunta. — disse Enzo, batendo


nas costas do seu irmão enquanto passava. — Você nunca receberá a
resposta que quer ouvir.

— Por quê?

Enzo riu, olhando por cima do ombro para ele. — Confie em mim,
você não quer saber.

Ele não queria. Ele era inteligente o suficiente para perceber isso.
O que quer que estivessem fazendo, ele não queria nada além de ficar
longe, e manter Genna longe, longe do perigo.

Suspirando, pousou o copo e puxou o telefone, olhando para a


tela. Ela não tinha ligado ainda, então isso era promissor. Se ela não
precisava dele, ela deveria estar bem.

Eu espero, de qualquer maneira.

Depois de terminar o que restou de sua bebida, ele se levantou e


se dirigiu para a porta. Assim que saiu, o som da voz de seu irmão
chamou sua atenção enquanto falava animadamente com alguém na
calçada. Matty olhou por cima, surpreso por Enzo não ter ainda deixado
o bairro, e congelou quando pegou um olhar familiar.

~ 230 ~
Seu pai.

— Matteo. — Roberto disse, cortando a frase de Enzo enquanto


dirigia sua atenção diretamente para Matty. Outros o rodeava, alguns
Matty não conhecia, com os irmãos Civello parados ao lado, esperando.

Sem falar, Matty acenou para cumprimentar seu pai, sem ter
muito a dizer ao homem. Eles tinham compartilhado poucas palavras
em mais de um mês, e nada desde a noite do funeral de sua mãe. Ela
tinha sido a conexão deles, sua última fonte de relacionamento
verdadeiro, e sem ela sentiam-se como nada mais do que estranhos que
compartilhavam um nome.

— Eu ouvi algo fascinante esta manhã. — disse Roberto. — Algo


sobre a garota Galante.

— Sim? — Matty fingiu ignorância enquanto mantinha sua


expressão neutra. — O que ouviu?

— Por que não me diz, filho?

Matty sacudiu a cabeça. — Não tenho nada a dizer.

— Ah, então você não está se encontrando com ela?

Um silêncio gélido seguiu essa pergunta enquanto todos os que


ouviam endureceram, olhares questionadores direcionados a Matty,
aguardando sua resposta. Ele ficou ali, na calçada, olhando para o pai,
com o suor ao longo da testa da intensidade que ele olhava de volta.

— E se eu estiver? — Os ombros de Matty endureceram, seus


músculos tensos enquanto se preparava para uma discussão,
preparado para defender-se de seu pai, para defender Genna, mas em
vez de atacar, a expressão de Roberto se iluminou, um sorriso puxou
seus lábios o qual ele nem sequer se preocupou em conter. Em questão
de segundos, ele ficou cheio de risos, uma gargalhada leve escapou.

O sangue de Matty correu frio. Ele preferia a fúria. Este era um


homem que fazia cócegas com diversão, como se não fosse nada mais
do que uma grande piada para ele. — Eu não vejo o que diabos é tão
engraçado.

— Engraçado, não. — Roberto disse. — Mas definitivamente


interessante.

Ele se afastou de Matty, sua atenção voltando a Enzo enquanto


ele fazia um gesto com a cabeça para que ele partisse. Enzo assentiu,
reconhecendo a conversa silenciosa, enquanto Roberto afastava-se para
entrar em um carro à espera. Os outros se dispersaram quando Enzo
permaneceu lá, esperando que todos os outros se fossem antes de
suspirar.

~ 231 ~
— Eu juro que eu não contei. Os irmãos Civello deve ter ouvido
nas ruas… Galante falou ontem à noite, procurando sua filha. Espalhou
como um incêndio que ela estava em algum lugar com você.

— Não importa. — Matty disse, olhando para seu irmão


peculiarmente. — Por que você está indo para o norte, En?

— Pensei que conversamos sobre isso. — disse Enzo.

— Nós fizemos, mas eu mudei de ideia. — disse Matty. — Quero


saber agora.

Enzo puxou suas chaves, balançando-as para que elas fizessem


barulho. — Venha e descubra então.

~ 232 ~
Capitulo Quinze
O cheiro de molho marinara pendia no ar, infiltrando os pulmões
de Genna e fazendo seu estômago rosnar com cada respiração que ela
tomava. Era tarde, bem depois das nove horas, toda a louça do jantar
estava limpa e os funcionários encerraram o dia.

Ela não tinha descido para jantar, achando que era melhor ficar
no quarto, e seu pai não tinha mandado Dante atrás dela. Mas, depois
de um tempo, passou a ser demais, sua fome estava ganhando dela. Ela
comeu o café da manhã naquela manhã com Matty, depois almoçou
com ele naquela tarde, antes de trazê-la para casa, mas mesmo assim
ela sentiu como se não tivesse comido em dias.

Dirigindo-se para a cozinha quieta, ela abriu a geladeira e olhou


para dentro, mexendo em alguns recipientes em volta, procurando o
que eles jantaram esta noite.

— Ugh, por que não há nada para comer?

— Há muito para comer. — Ela assustou-se com a interrupção e


olhou através da cozinha para Dante na porta.

— De onde você veio?

— Do mesmo lugar que você. — disse ele. — Mamãe.

Genna revirou os olhos. Espertinho. — Onde estão todas as


sobras de hoje à noite?

— Ah, não há nenhuma.

— O quê? — ela ficou boquiaberta. Nada mais? — Vocês comeram


toda a comida?

— Não, papai disse ao cozinheiro para se livrar de tudo o que


restou. — respondeu ele. — Disse que se você quisesse alguma coisa, se
você estivesse com fome, teria trazido seu traseiro para baixo na hora
do jantar.

— Isso é odioso.

— Você sabe como ele se sente.

Teimoso pra caralho. Genna voltou para a geladeira e começou a


puxar outros recipientes, olhando para dentro deles. Ela encontrou um

~ 233 ~
recipiente quase vazio de salada de frango e pegou um garfo,
recostando-se contra o balcão enquanto comia. Quando tudo se foi, ela
jogou o recipiente na pia e voltou para a geladeira, procurando mais. —
Ele está no escritório?

— Sim. — Dante respondeu calmamente. — Ele dormiu rápido, já


está roncando.

Quando foi a última vez que ele dormiu em sua cama?


Provavelmente em anos, pensou Genna. Provavelmente desde a última
vez que sua mãe dormiu nela com ele.

Suspirando, Genna pegou um pote de picles e puxou para fora,


dando uma mordida enquanto olhava para o irmão. Ele ainda estava de
pé na porta, observando-a e fazendo nenhum movimento para se
aproximar mais.

— Você sabe. — ela disse, apontando o picles para ele. — Só fui


com ele ontem à noite porque ele não queria que eu me machucasse.

— Eu teria mantido você segura.

Ela zombou, dando outra mordida no picles enquanto olhou de


volta para a geladeira e procurou em volta um pouco mais, encontrando
um pacote de presunto. Ela pegou algumas fatias e envolveu-os em
torno de seu picles antes de dar outra mordida. — Você estava um
pouco, uh, preocupado com a surra que estava levando.

Dante fez uma careta quando ele finalmente saiu de sua posição,
dando alguns passos em direção a ela. Ele não lhe deu uma resposta,
sua atenção estava em sua comida. — Que diabos você está comendo?

Ela encolheu os ombros, recostando-se contra o balcão. —


Comida.

Dante fez uma bebida para si quando ela terminou seu lanche, a
última mordida não caiu bem em seu estômago. Começou a se agitar de
novo, tontura fazendo sua cabeça ficar confusa, enquanto a bile
queimava em seu peito. Ela engoliu em seco, tentando empurrar para
baixo, mas era demais.

Muito repentino.

Muito forte.

Genna mergulhou na lata de lixo, mal conseguindo chegar a


tempo de perder tudo o que tinha acabado de comer. Seu estômago doía
dolorosamente, queimando tudo dentro dele.

Dante amaldiçoou e afastou-se dela. — Chame o padre.


Ela ofegou, tentando recuperar o fôlego.

~ 234 ~
— Precisamos de um exorcismo. Você está bem? — ele perguntou
hesitante.

— Sim. — ela disse, sentando-se de joelhos na frente do lixo


quando seu estômago se acalmou. — Só não tenho me sentido bem.
Acho que tenho uma virose ou algo assim.

— Você não está grávida, está?

Sua voz era brincalhona quando ele a cutucou, entregando sua


bebida. Ela tomou-a, zombando enquanto tomava um gole de água fria.
Grávida? — Claro que não. Eu...

Genna parou quando esse pensamento se instalou dentro dela.


De maneira nenhuma. Ela não podia estar. Saltando para seus pés,
batendo em Dante e derramando a água, ela atravessou a sala em
busca do calendário na parede e voltou atrás, contando as semanas.

Não. Não. Por favor, Deus, não.

Cinco semanas desde aquela noite com Matty em seu quarto. O


tempo tinha passado num borrão, a vida mergulhando no caos, que ela
não tinha sequer notado que ela perdeu o seu período. — Oh Deus.

— Relaxa, mana, eu só estou brincando com você.

Disse Dante, rindo. Genna se virou para olhar para ele, engolindo
em seco, de repente sentindo como se fosse vomitar novamente. Dante
olhou para ela, sua expressão caindo, seus olhos se alargando.

— Você não está.

— É apenas o estresse. — disse ela.

— O stress faz isso, né? Porque eu estive sob um monte de stress.

— Por favor, diga-me que isso não é nem ao menos possível,


Genna. — disse Dante, caminhando para ela. — Diga-me que você é
mais esperta do que isso, que você esteve segura.

— Eu, uh... não é possível. Só não é. Não pode ser. — ela piscou
rapidamente. — Oh, Deus, por favor, não deixe que seja.

Grávida?

À medida que mergulhava nisso, Dante saiu furioso, indo direto


para a porta da frente e saindo de casa, batendo a porta quando ele
saiu. Genna ouviu seu carro rugindo do lado de fora enquanto se dirigia
para o vestíbulo.

Ela subiu as escadas para seu quarto, deixando a porta aberta


enquanto se sentava na cama. Ela estava aturdida, a palavra correndo
continuamente por sua cabeça.

~ 235 ~
Grávida?

Como se não tivesse passado tempo algum, Dante reapareceu,


brotando na porta na frente dela, segurando uma sacola de farmácia.
Ele atirou pra ela. — Faça.

Ela olhou para dentro da bolsa, vendo um teste de gravidez. —


Eu, uh...

— Faça. — ele disse de novo, sua voz mais firme. — Agora.

Genna levantou-se, com as pernas tremendo quando entrou no


banheiro. Impossível, pensou. Apenas não pode ser.

Cinco minutos depois, ela olhou para as duas linhas rosa


brilhantes que lhe diziam que poderia ser... que diziam que estava. Ela
tropeçou fora do banheiro, procurando seu irmão em seu quarto. Dante
estava sentado na beira da cama e levantou-se lentamente, estudando-a
com cautela.

Ela não disse nada. O que ela poderia dizer? Palavras escaparam
dela, abandonando-a quando ela precisava delas. Ela olhou para ele,
chocada.

O rosto de Dante empalideceu. Ela não precisa dizer nada de


qualquer forma. Ele sabia. Passou as mãos pelos cabelos, entrelaçando
os dedos no topo de sua cabeça enquanto se dirigia para a porta. —
Acho que podemos precisar do padre, depois de tudo.

Sua voz tremeu quando ela sussurrou: — Para onde você está
indo?

— Fazer o que sempre faço, Genna. — ele murmurou. — Cuidar


de você.

A noite estava clara, a lua cheia clara, brilhante, alta no céu


negro. Era próximo da meia-noite, outro dia quase sobre eles... um
outro dia quase da mesma coisa.

Matty sentou-se no banco do passageiro do Mercedes de Enzo,


seus olhos se dirigiram para fora da janela enquanto as ruas eram um
borrão. Eles estavam de volta a Soho, tendo sobrevivido à viagem ao
norte.

Acabou por ser armas. Os Barsantis estavam acumulando armas


em uma unidade de armazenamento em East Harlem, as quais tinham
roubado logo abaixo dos narizes dos Galantes, em seu território. Matty
estava parado no estacionamento e observou um caminhão de armas

~ 236 ~
recém-adquiridas sendo descarregado. Deixou um mau gosto em sua
boca, amargura que ele não conseguia se livrar. Todas aquelas armas,
toda essa munição... eles estavam se preparando para algo grande.

Algo que ele queria longe.

— Você está tenso. — disse Enzo, voltando os olhos para ele.

— Não gosto disso.

— Pensei que você disse que eu estava sempre tenso.

— Você está, mas não assim. Normalmente você é como uma


bobina, você sabe, pronta para saltar a qualquer momento, mas esta
noite você é como um fio... como se você fosse puxado mais forte você
pudesse finalmente explodir.

Ele se sentia assim. Porra, ele se sentia assim. Ele não tinha
certeza de quanto mais poderia aguentar, e ele não queria ficar por
perto e descobrir. Ele tinha vindo pela sua mãe, mas agora que ela
tinha ido, por que ele ainda estava lá?

— Eu estou cansado de esperar por aquele deslize rosa... acho


que eu poderia entregar minha renúncia em vez disso.

— Você pensa que papai vai aceitar a sua demissão?

— Ele realmente não terá escolha. — disse Matty. — Quando ele


perceber que eu desisti, estarei longe daqui.

Enzo hesitou. — Sozinho?

— Espero que não. — disse ele. — Espero que ela vá comigo.

— Eu espero que ela vá, também.

— Você espera?

— Sim. — Enzo franziu a testa, olhando para ele, sua voz sincera
quando ele disse: — Eu não quero vê-la ferida. Eu não poderia me
importar menos sobre a garota, mas ela é sua... ela é sua garota... e
você é meu irmão.

Ele não disse isso diretamente, mas Matty ouviu toda a verdade
nessas palavras. Se eles ficassem presos, se Genna estivesse presa,
Enzo sabia que algum dia ele poderia ter que machucá-la.

Nem um deles falou mais enquanto Enzo dirigia pelas ruas do


Soho. Ele parou o carro no estacionamento perto do The Place e eles
saíram, saindo da garagem.

Eles viraram a esquina, indo para o apartamento, quando alguém


atrás deles gritou: — Barsanti!

~ 237 ~
Eles se viraram, parando no meio da calçada. Dante Galante.
Enzo imediatamente preparou-se para uma briga, ambos os irmãos
esperando que Dante investisse contra eles, mas em vez disso,
apressadamente ele deu um passo à direita para Matty. Outro cara,
ladeado ele, mais baixo, cara atarracada — o mesmo que tinha estado
com ele na rua naquele dia em Little Italy.

— Que porra você está fazendo aqui, Galante? — Enzo cuspiu,


dando um passo à frente, mas Dante rapidamente se esquivou. Matty
tentou reagir, se afastar, suas mãos para cima defensivamente, mas
Dante estava bem na frente dele dentro de segundos, balançando.

O punho de Dante se conectou com a mandíbula de Matty,


brutalmente batendo a cabeça para o lado, a dor rasgando sua coluna
enquanto ele tropeçava alguns passos, atordoado. Antes que ele
pudesse obter o equilíbrio, Dante agarrou seu colarinho, olhando com
raiva. — Isto é por minha irmã.

Ele balançou de novo, de costas para trás, seus punhos batendo


freneticamente no rosto de Matty, enegrecendo seu olho e revirando seu
nariz. Sangue derramando pelo seu rosto quando ele tropeçou para
trás, todo o senso de lógica se desintegrando na explosão de dor cega.
Sem sequer pensar, ele retrocedeu, batendo em Dante na cabeça. O
soco acendeu uma briga enquanto Enzo lutava contra o segundo cara,
deixando Matty para se defender sozinho.

Matty desencadeou cada onda de raiva que ele poderia evocar,


tentando manter-se em pé, mas não tinha nada em comparação com a
fúria de Dante. Seus punhos embalados em tal veneno que Matty não
poderia igualar.

Dante o derrubou no chão, puxando o pé para trás e chutando-o


brutalmente. Dor dividiu o lado de Matty, tirando o ar de seus pulmões.
Ele podia ouvir o estalo e sentir a agonia da força do pé batendo sua
caixa torácica, uma e outra vez. Tentou se proteger, arrancando o pé de
Dante e puxando-o, tentando jogá-lo no chão, mas Dante simplesmente
se soltou.

— Porra! — Matty gritou, segundos antes de ver o pé vir direto


para o seu rosto. Ele tentou se mover, para bloquear o ataque, mas mal
teve tempo de piscar antes de ele pisar no seu rosto. A dor explodiu em
seu crânio, tão intensa, tão esmagadora, que ele apagou
momentaneamente.

Assim que tudo voltou ao foco, Dante afastou-se. A voz de Enzo


ecoou ao redor deles, amarga e cheia de malícia. — Afaste-se do meu
irmão maldito antes que eu te mate.

Matty se sentou, sua visão turva, sangue quente derramando ao


lado de seu rosto e manchando a roupa. Através da neblina ele viu a
arma, o brilhante e automático revólver automático de Smith e Wesson
na mão firme de seu irmão, apontando diretamente para Dante.
~ 238 ~
— En. — Matty gritou, frenético, com a voz embargada enquanto
ele dolorosamente forçava de sua garganta, mas já era tarde demais.
Muito malditamente tarde. Em um piscar de olhos, Dante enfiou a mão
na cintura, puxando sua própria arma e apontando.

Um único tiro disparou durante a noite. Soou como uma explosão


a sair ao lado de Matty, a rua em torno deles iluminando por uma
fração de segundo, quando a bala solitária quebrou todas as esperanças
das duas famílias encontrarem a paz novamente.

~ 239 ~
Capitulo Dezesseis
A poeira fazia cócegas no nariz de Genna, o sótão cheirando
fortemente a bolinhas de naftalina e bolor, o ar sufocante e velho de
ficar trancado por anos. Genna não havia pisado no local desde o seu
décimo quinto aniversário, mas ela teve o impulso irresistível, naquele
momento, de subir aquelas escadas.

Era o mais próximo que tinha de ver sua mãe novamente.

Genna caminhou na ponta dos pés ao longo do chão de madeira


rangente e puxou a corda na lâmpada suspensa. Luz instantaneamente
cercou-a por alguns segundos antes de cintilar e desaparecer com um
pop alto.

Ela encolheu os ombros e sentou-se no chão sujo, puxando seus


joelhos para o peito enquanto envolvia seus braços ao redor deles. Seu
corpo praticamente se dobrou sobre si mesma, desaparecendo na
escuridão, desintegrando-se no ar, apesar do peso em seus membros
que a fazia sentir como se fosse feita de chumbo. As coisas de sua mãe
a cercavam, uma espessa camada de poeira cobrindo tudo, coberturas
de terra nas caixas, seu velho vestido de noiva tingido de cinza de
abandono.

Parecia uma vida inteira desde que aquelas coisas tinham visto a
luz do dia. Uma vida que Genna se viu desejando de novo, uma vida de
simplicidade, onde o mundo fazia perfeito sentido. As coisas tinham
sido preto e branco então. Sua família era tudo, o bem em sua vida, os
heróis de sua história, enquanto os Barsantis eram tudo o que estava
errado com o universo.

Suspirando, Genna estendeu as pernas na frente dela e deitou-se


no chão, a cabeça pousando em uma pilha de velhos vestidos de verão
de sua mãe, meros trapos agora. Ela olhou para o teto, suas mãos se
movendo para o estômago enquanto ela estava deitada em silêncio.

O que ela vai fazer?

O que eles vão fazer?

Como ela ia dizer a ele?

Ele se sentiria como ela se sentia?


O que diabos eu sinto? Ela estava em total descrença, dormência
cobrindo seu corpo. Sentia-se desapegada do mundo, como se tivesse
~ 240 ~
deslizado para uma realidade alternativa, onde uma Galante e um
Barsanti pudesse de alguma forma ser uma família.

Certamente não era nenhuma realidade que ela já tinha vivido


antes.

Aterrorizada, ela decidiu. Eu estou aterrorizada pra caralho.

Ela ficou deitada ali por um tempo antes de fechar os olhos,


exausta, mas o sono fugiu dela. Eventualmente, ela ouviu um barulho
no andar de baixo da casa, barulho que ela deu de ombros, pois fora
meramente sua imaginação, até que ouviu o bater de portas e pés
correndo. Curiosa, e não querendo que seu pai a pegasse ali, Genna
saiu do sótão, ouvindo a comoção. Pousou silenciosamente na ponta
dos pés, encontrando Umberto parado no vestíbulo sozinho. Sua
expressão era sombria, seu rosto recém-ferido. Ele tinha levado uma
surra esta noite.

Oh Deus. Outra briga.

Ela passou por ele sem falar. Ele mal olhou para ela, atordoado
enquanto olhava para a cozinha. Genna andou naquela direção,
ouvindo vozes abafadas e frenéticas. Ela parou na porta, vendo seu
irmão em um par de boxers, meias brancas salpicadas com manchas
vermelhas. O resto de suas roupas estavam amontoadas no chão,
descartadas, enquanto Dante passeava ao redor delas. Seu corpo tremia
quando ele balançava as mãos, como se estivesse tentando se sentir de
volta. — Isso é uma merda... Eu estou fodido.

— Você vai ficar bem, filho. — disse Primo, puxando um saco de


lixo preto para recolher suas roupas enquanto ele indicava seus pés. —
Me dê essas meias.

Dante as tirou, quase perdendo o equilíbrio, e jogou as meias no


saco antes de continuar a andar. Suas mãos correram pelo seu rosto
enquanto ele murmurava para si mesmo, frenético. — Eu juro que não
tive a intenção de fazer. Eu só... ele sacou antes. O idiota estúpido
sacou uma arma para mim. O que mais eu deveria fazer?

O estômago de Genna afundou, arregalou os olhos em horror.

— Você não precisa se explicar. — disse Primo. — Era prematuro,


sim, e você não deveria ter feito isso em Soho, mas eu não vou ficar
chateado que um rapaz Barsanti esteja morto.

Morto. Genna engasgou com a palavra, chamando a atenção deles


diretamente para ela. A expressão de Dante tremeu, qualquer que fosse
a calma que ele vinha lutando para manter deslizou enquanto seu rosto
se contorcia, quase como se ele lutasse contra as lágrimas. Genna
freneticamente sacudiu a cabeça, essas palavras batendo através dela
como um martelo.

~ 241 ~
Rapaz Barsanti. Morto.

— Oh, Deus. — ela ofegou. — O que você fez?

— Vá para o seu quarto, Genevieve. — Primo gritou. — Agora!

Ela o ignorou quando entrou na cozinha, seu foco em seu irmão.


— Dante, por favor... me diga.

— Genevieve!

— Me diga! — ela gritou freneticamente. — O que você fez, Dante?

— Ele apontou para mim. — disse Dante, com a voz trêmula. —


Enzo puxou a arma. Eu não tive escolha. Eu tive que matá-lo.

Alívio lavou através de Genna, tão intenso que seus joelhos


dobraram. Ela teve que agarrar a parede para impedir de bater no chão.
Não era Matty. Matty não estava morto.

Mas esse alívio foi de curta duração. Matty podia não estar morto,
mas seu irmão estava, morto pelas mãos de seu irmão. Dante — o
passivo, Dante o protetor — era um assassino. O conhecimento fez o
chão tremer sob seus pés.

— Por que você estava lá? — ela perguntou desesperadamente,


tentando fazer sentido. — Por que você estava em Soho esta noite?

Primo falou de novo, ficando entre seus filhos. — Genevieve, você


sabe que é melhor não se intrometer nos negócios.

— Negócios? — ela olhou para o pai. — Este não é apenas um


negócio, pai. Isso é pessoal, e você sabe disso! Um rapaz está morto, e
por quê? Para quê?

— Porque ele é um deles. — resmungou Primo. — E se isso


funciona como tem que ser, todos eles acabarão assim. Eu não estarei
satisfeito até que cada gota de sangue Barsanti seja derramado.

Assim que essas palavras atingiram Genna, suas mãos


instintivamente agarraram seu estômago. Ela se afastou, sacudindo a
cabeça enquanto as lágrimas picavam seus olhos. Virando-se, saiu
correndo da sala, indo direto para a porta da frente.

Ela não poderia estar lá. Ela não poderia estar com eles.

O caminho para Soho pareceu que demorou horas na parte de


trás de um táxi. Genna remexeu, tentando repetidamente chamar
Matty, mas não obtendo resposta repetidas vezes. O taxista teve que
deixá-la a uma quadra do The Place, o bairro bloqueado pela polícia.
Genna correu por entre os espectadores reunidos, esquivando-se sob a
fita amarela da cena do crime, ignorando os protestos quando um oficial
tentou detê-la.

~ 242 ~
— Matty? — ela gritou, olhando ao redor desesperadamente e
congelando quando ela o viu sentado ao longo da calçada do outro lado
da rua. Suas roupas estavam sujas, manchadas de sangue e imundas,
enquanto sangue seco cobria o lado de seu rosto inchado. Um médico
pairava sobre ele, tentando fazer um curativo na sua cabeça. Genna se
aproximou dele quando ele olhou para cima, sua expressão áspera. Ele
empurrou o médico para longe, recusando o tratamento, enquanto seus
olhos se encontravam com os dela.

— Matty. — disse ela freneticamente, agachando-se na frente dele


e agarrando suas bochechas enquanto observava seu rosto ferido. — Oh
Deus, olhe para você!

— Estou bem. — Sua voz quase era um sussurro enquanto cobria


suas mãos com as suas próprias, afastando-as do rosto. — O que você
está fazendo aqui?

— Eu sei... Quer dizer, eu ouvi... — As lágrimas rolavam pelo seu


rosto, apesar do quanto ela lutava para contê-las. — Enzo.

Matty se encolheu ante seu nome, seu olhar atravessou a rua em


direção ao The Place. — Já o levaram.

— Ele estava realmente... Eu quero dizer, ele está...? — ela não


podia nem dizer a palavra. Morto.

— Não é seguro para você aqui. — Matty disse calmamente, sem


responder a sua pergunta, mas a verdade estava ali, nadando em seus
olhos injetados de sangue. — Você precisa ir para casa.

— Eu não posso. — ela balançou a cabeça. — Como você pode


dizer isso? Eu não posso estar lá com eles. Não agora. Não depois...

— Eu tenho que lidar com isso. - disse Matty, secando as


lágrimas do rosto dela. — Quando isso acabar, eu irei buscá-la, e
partiremos, sairemos de Nova York sem olhar para trás.

— Você promete?

— Eu juro, mas até então, sua casa é o lugar mais seguro para
você.

Antes que ela pudesse argumentar, Matty agarrou o braço de um


oficial enquanto o homem passava a passos largos. — Preciso de
alguém para acompanhar a Senhorita Galante até sua casa
imediatamente, ela não deveria estar aqui.

O policial assentiu, observando-a. — Vou cuidar disso.

— Obrigado. — Matty olhou Genna por um momento antes de


puxá-la em direção a ele e pressionar um beijo suave na testa. — Eu te
amo.

~ 243 ~
— Eu também te amo. — ela sussurrou. — Eu sinto muito.

— Sim. — ele murmurou, olhando para longe dela quando ela se


levantou para seguir o oficial até o carro. — Eu também sinto muito.

A residência Barsanti parecia abandonada, uma casca de uma


família que antes era amorosa, agora envolta em sombras e apagada
pela frieza. Matty estacionou bem na frente e sentou-se em seu carro
por um momento, olhando para a porta da frente. Estava tudo
silencioso e escuro, exceto por um sutil brilho de luz vindo de um
quarto no segundo andar.

O escritório de seu pai.

A polícia não veio para fazer a notificação oficial ainda e


provavelmente não o faria por mais algumas horas, mas Matty não era
um tolo — ele sabia que seu pai já sabia. Provavelmente Roberto soube
no segundo em que Enzo tomou seu último suspiro.

Roberto não tinha ido ao hospital, porém, e ele não tinha


aparecido na cena. Aquele brilho sutil que atravessava as cortinas do
andar de cima disse a Matty que ele não tinha ido a lugar nenhum. Ele
se sentou firme, e esperou... e esperou... e esperou...

Mas pelo quê?

Matty não tinha certeza se queria saber.

Empurrando sua apreensão de lado, ele saiu do carro e dirigiu-se


para a varanda, usando a chave reserva que sua mãe lhe tinha dado
para entrar. Tranquilamente, subiu a escada, seus pés soando como
aço contra o chão de madeira, o som saltando nas paredes brancas,
enquanto se encaminhava direto para o escritório.

A porta estava aberta. Roberto estava sentado em sua poltrona de


couro, com o olhar fixo no topo de sua estéril escrivaninha. Ele não
olhou para cima quando Matty entrou, não falou, embora a sutil queda
de seus ombros enquanto soltava uma respiração profunda disse a
Matty que ele sabia que ele estava lá.

Lentamente, Matty entrou na sala, seu olhar se deslocando de


seu pai para a mesa de armas à direita. Ele arrastou os dedos ao longo
do cano de um rifle, o metal frio contra a ponta dos dedos. Cada
músculo de seu corpo doía, dor apunhalando em seu peito toda vez que
ele respirava profundamente, mas não era nada comparado com a
angústia mental acontecendo dentro dele.

Nada comparado com a picada fresca de memória.


~ 244 ~
— Eles o mataram. — Roberto estava quieto, embora um tremor
restrito acentuasse suas palavras enquanto lutava para manter a voz
firme. — Ele está morto.

Matty suspirou, estremecendo ante o desconforto em seu peito.


Ele lutou contra as lágrimas, mantendo a boca fechada para não deixar
inadvertidamente soltar um soluço. Em vez disso, ele assentiu, apesar
de saber que seu pai ainda não estava olhando para ele.

— Eles mataram meu garoto. — Roberto disse de novo, sua voz


quebrando dessa vez, seu aperto escorregando enquanto o sofrimento
brilhava para fora. — Eles o tiraram de mim.

A mão de Matty deslizou por cima de uma caixa de munição antes


que suas pontas dos dedos roçassem o aperto estriado de uma pistola.
Ele a pegou, segurando-a firmemente e olhando para ela apertando-a
em sua mão. Depois de um momento, ele deslizou no bolso,
escondendo-a, e agarrou a caixa de munição.

Sem dizer uma única palavra, ele se virou e saiu.

Matty estava aturdido enquanto passava rapidamente por


Manhattan, entrando e saindo das ruas, sem nenhum destino claro em
mente. As linhas eram um borrão para ele, bairros que não significam
mais nada. Eventualmente, ele acabou saindo de Manhattan, indo para
o norte, dizendo a si mesmo que ele estava indo apenas para olhar. Ele
só ia assistir. Ele estava indo só para ver...

Ele estacionou o Lotus ao longo da rua, não muito longe da


residência Galante, dando-lhe uma visão da casa. Estava escuro, quase
tão escuro quanto a casa de sua família, apenas algumas poucas luzes
acesas na mansão extensa. Eles estavam dormindo, ele se perguntava?
Descansando profundamente em suas camas, nenhuma preocupação
no mundo, sem suor nas suas costas.

Quão insensíveis, quão cruéis, as pessoas poderiam ser?

Saindo do carro, a curiosidade tirando o melhor dele, se arrastou


em direção à casa. Sentiu uma pontada de culpa por ter enviado Genna
de volta para cá, ele tinha insistido que ela tinha que ir para casa, mas
não era seguro para ela em nenhum outro lugar. Se Roberto Barsanti
ouvisse rumores que ela estava nas imediações, se ele até pensasse que
ela poderia estar dentro do alcance de um braço, eles certamente a
pegariam.

Não havia dúvida sobre isso.

Matty caminhou ao redor do lado de fora da casa, deslizando para


o quintal e olhando para o quarto de Genna. As luzes estavam
apagadas, a porta da varanda bem aberta para deixar o ar entrar. Ele
poderia subir até lá, pensou, e escorregar em seu quarto, passar a noite
com ela, segurá-la nos braços, encontrar o conforto que ele procurava

~ 245 ~
desesperadamente, mas fazer isso significava respirar o mesmo ar deles.
Significava estar naquela casa, com aquelas pessoas.

Ele sabia o que ela queria dizer sobre não ser capaz de voltar aqui
depois de tudo. Só o ar em volta da casa parecia envenenado.

Ele ficou surpreso por não estarem comemorando.

Suspirando, ele afastou-se, caminhando para o carro. Não havia


nada aqui para ele esta noite, nada que ele pudesse fazer para mudar o
que aconteceu. Ele quase tinha conseguido voltar para a rua quando a
luz da varanda acendeu e a porta da frente da casa abriu. Os passos de
Matty pararam enquanto ele voltava para trás, observando enquanto
alguém passeava lá fora. Não era um Galante, mas era perto o
suficiente — o rapaz que tinha estado com Dante mais cedo.

Ele parou ali na varanda, a porta aberta atrás dele, como se ele
esperasse por algo... ou alguém. Matty deu alguns passos para trás nas
sombras, observando, seu sangue escorrendo frio quando Dante pisou
fora atrás do rapaz.

Dante tinha tomado banho e trocado as roupas, limpo de todas as


evidências de qualquer coisa que tivesse acontecido. O homem falou
calmamente quando eles andaram fora da varanda, dando a volta em
direção a um carro estacionado junto ao meio-fio.

O outro rapaz entrou nele depois de um momento e afastou-se


enquanto Dante ficou parado ali, seus olhos examinando
cuidadosamente o bairro. Não demorou muito para ele ver o Lotus, seu
olhar sobre ele quando ele ficou tenso, com os ombros duros. Depois de
um segundo ele se virou, em guarda, mas Matty foi mais rápido que ele.

Sua mente se apagou, o pensamento racional se apagou quando


ele saltou para Dante. Este garoto — este monstro — tinha atacado eles,
matando seu irmão a sangue frio antes de correr como um covarde,
deixando Matty lá para pegar os pedaços. Antes que Dante pudesse
reagir, Matty o atingiu, derrubando-o no chão, antes de selvagemente
balançar contra ele. Dante tentou combatê-lo, para frustrar o ataque,
mas Matty estava muito longe de ser derrotado.

Ofegante, Dante estava deitado de costas no chão, o sangue saindo de


sua boca, enquanto Matty se erguia sobre ele. Ele tirou a arma do
bolso, armando-a e apontando-a diretamente para a cabeça de Dante.
Seu dedo vagamente tocando o gatilho, tremendo de raiva reprimida,
enquanto olhava nos olhos de quem havia roubado seu irmão dele
apenas algumas horas atrás.

— Por quê? — A pergunta saiu vigorosa e cheia de tanto veneno que


Matty mal reconheceu sua própria voz. — Eu quero saber por quê.

~ 246 ~
— Por que nunca é uma boa pergunta para se fazer. — 'Enzo tinha
advertido apenas um dia antes. — Você nunca vai obter a resposta que
você quer ouvir.

— Você não me deu escolha. — Grunhiu Dante. — Por causa de


você, minha irmã está melhor morta.

Antes que Matty pudesse processar isso, a porta da frente da casa


se abriu novamente. Ouvindo isso, Dante sentou-se quando Matty
retrocedeu, abaixando a arma. No momento em que ele viu o rosto
alarmado de Genna na porta, seus sentidos voltaram para ele.

Ele assistiu seu irmão morrer esta noite.

Ele não poderia fazer o mesmo com Genna.

~ 247 ~
Capitulo Dezessete
A última semana de serviço comunitário finalmente chegou.

Genna apresentou-se pontualmente ao sopão para o servir o


jantar, cumprindo seu serviço enquanto ela cozinhava e servia,
ajudando a limpar o máximo que podia, para concluir exatamente às
sete horas. Já não podia ficar mais tarde, apesar do quanto ela desejava
que ela pudesse manter-se e perder-se no trabalho.

Mas todos os dias, Dante estava estacionado na frente, esperando


por ela, mesmo sabendo que ele tinha um alvo nas costas. Ele arriscou
a exposição para ter certeza de que ela era entregue em casa sã e salva,
um fato que ela tanto apreciou como detestou. Suas corridas foram
ainda mais tensas, tanto que ela não pensou que eles iriam conseguir o
que eles tinham uma vez. Tinha acontecido muita coisa. Tinha ido longe
demais para que tudo fosse esquecido.

Ela sentiu isso pesando sobre ela, carregado no ar naqueles trinta


minutos que eles estavam confinados em seu carro juntos. Ela queria
dizer alguma coisa, conseguir alguma forma de diminuir a tensão um
pouco para tornar mais fácil respirar ao redor dele, mas ela não tinha
certeza sobre o que dizer.

Uma coisa ela tinha certeza, porém: ela ansiava por seu melhor
amigo novamente.

Dante balançou seu carro ao longo da calçada, logo abaixo do


centro comunitário e colocou-o no estacionamento enquanto soltava um
profundo suspiro. — Último dia, hein?

Ela ficou surpresa por ele ter tentado conversar. Ele não tinha se
incomodado durante toda a semana. — Sim.

— Tenho que te dizer, mana, eu não achei que você conseguiria.


— ele disse. — Mas você foi até o fim.

— Sim. — ela disse. — Eu fui.

— Estou orgulhoso de você.

Essas palavras a assustaram. Piscando rapidamente, ela se virou


para Dante, vendo o sorriso suave puxando seus lábios. — O quê?
— Estou orgulhoso de você. — Ele disse de novo, sem sarcasmo
em sua voz.

~ 248 ~
— Papai nunca diria isso, mas bem... eu estou orgulhoso como o
inferno. Orgulhoso que você não desistiu, que você seguiu com isso, não
importa o quê.

Ela ficou surpresa. — Obrigada.

— Tenho dificuldade em aceitar que você cresceu. — ele


continuou. — Sei que não sou muito mais velho do que você, mas
sempre me senti responsável e sei que você se ressentiu algumas vezes
por isso, mas...

— Eu não me ressinto. — ela disse, cortando-o.

Ele fechou os olhos brevemente antes de continuar exatamente de


onde tinha parado. — Mas eu só tentei cuidar de você, da única
maneira que eu sabia.

— Eu sei.

Levantando as sobrancelhas, ele olhou para ela com curiosidade.


— Você já contou a ele?

Suas bochechas se aqueceram diante da pergunta. — Eu não tive


a chance.

— Você está feliz, pelo menos?

A honestidade de sua pergunta a surpreendeu.

— Eu, uh... sim... bem, quero dizer, eu estou... tão feliz quanto eu
poderia estar sob as circunstâncias, de qualquer forma. É uma
porcaria, sendo quem nós somos, mas...

— Mas ele é diferente. — Dante disse calmamente. — Foi o que


você me disse naquele dia, você disse que ele era diferente.

— Ele é.

Dante correu as mãos pelo rosto. — Eu não posso te ajudar mais,


Genna, eu não posso cuidar de você... não como eu sempre fiz. Você
está sozinha com isso, e eu não acho que isso possa acabar bem.

— Eu sei.

Um sorriso lentamente voltou aos lábios de Dante. — Mas você


provou que eu estava errado na última vez que duvidei de você. Talvez
você faça de novo.

Genna lhe devolveu o sorriso. — Eu vou.

Alcançando-o, Genna abraçou seu irmão, sentindo seus braços


envolvê-la firmemente. Ele se virou enquanto a soltava, sua atenção se
concentrando no para-brisa.

~ 249 ~
— Sete horas?

— Sete horas. — ela confirmou.

Ela saiu do carro e dirigiu-se para dentro do centro comunitário,


parando ali e observando enquanto Dante se fundiu no trânsito e
acelerou. Suspirando, ela olhou ao redor. Último dia.

O jantar passou como uma brisa, com mais comida que o


suficiente para servir. Chegou sete horas e Genna estava puxando seu
avental fora e jogando-o para o cesto pela última vez quando o
coordenador se aproximou, acenando em torno de um pedaço de papel
enquanto ele sorria. — Você sabe o que é isso?

— O quê?

— Seus documentos de quitação.


— Hã. — Genna pegou-o, lendo os comentários brilhantes que o
coordenador tinha escrito sobre ela. — Obrigada.

Ela se dirigiu para a porta, ainda percorrendo o papel enquanto


saía para a calçada. Olhando para cima, esperava ver o carro de Dante
esperando por ela, na frente e no centro, como de costume, mas um
velho Toyota estava estacionado naquele lugar. Ela olhou ao redor,
examinando o bairro, pensando que talvez ele não tivesse conseguido
um lugar perto, mas seu carro estava longe de ser encontrado.

Ela enfiou a mão em seu bolso para o seu telefone, amaldiçoando


quando ela não o encontrou. Ela devia ter deixado no carro de Dante.

Encolhendo os ombros, forçando de volta o sentimento de medo


que a ausência de seu irmão conjurou, ela desceu pela quadra em
direção ao trem. Ele deve ter perdido a noção do tempo, ela pensou. Não
havia como dizer o que ele estava fazendo.

Ela olhou para os dois lados, certificando-se de que nada estava


vindo, antes de atravessar a rua. Ela subiu na calçada, dobrando o
papel e colocando-o no bolso, quando alguém gritou para ela.

— Galante.

O sangue de Genna correu frio. A voz era estranha e vazia de


calor. Olhando para trás, ela imediatamente viu dois rostos vagamente
familiares — caras que costumavam se pendurar em torno de Enzo.
Tweedledum e Tweedledee, Dante os chamara. Eles ficaram parados, a
poucos metros entre ela e eles. Alarmada, ela deu um passo para longe.
— O que vocês querem?

O sorriso que atravessou uma das suas faces falou mais alto do
que quaisquer palavras. Você, ele dizia. Nós queremos você.

~ 250 ~
Ela não hesitou, virou-se e correu, correu tão rápido quanto suas
pernas poderiam levá-la para baixo da quadra. Eles imediatamente a
perseguiram, mantendo seu passo apertado. Frenética, ela correu para
a estação de trem, empurrando as pessoas para fora do caminho,
ignorando seus gritos quando ela tentou mover-se através da multidão.
Ela continuamente olhou para trás enquanto corria, tentando
vislumbra-los, mas ela os perdeu em algum lugar ao longo do caminho.

O coração batia errático, ela se esquivou para o primeiro trem que


passou, instantaneamente tomando um assento enquanto ela
nervosamente inquietava-se, virando para o lado para olhar para fora.
Alguém tomou o assento ao lado dela, escovando contra ela, fazendo ela
saltar, ganindo. Virando-se para eles, ela começou a se desculpar por
sua reação assustada, mas congelou quando olhou para os seus olhos.

Tweedledum. Ou Tweedledee.

Ela não sabia qual era, mas isso não importava. Um deles a
alcançou. Ele sentou de costas no assento enquanto Genna se deslocou
para longe dele tanto quanto pôde, sua visão turva, enquanto as
lágrimas de pânico saltavam dos olhos.

— Vou gritar.

— Não, você não vai, além disso, não estou aqui para te
machucar.

— Então por que você está aqui?

— O quê? — ele ergueu as sobrancelhas, fingindo inocência. —


Um cara não pode pegar o trem?

— Eu sei que você quer algo. — ela apertou as mãos tremendo. —


Então me diga o que você quer.

— Transmitir uma mensagem.

— Que mensagem?

Ele não respondeu, relaxando para trás no banco enquanto


olhava ao redor com indiferença. O trem parou depois de um minuto, as
portas se abriram e os passageiros se filtraram para fora. Calmamente,
o homem se levantou. — Êxodo 21:24.

— Me desculpe?

— Êxodo 21:24 — ele disse de novo, estendendo a mão no bolso e


puxando alguma coisa, jogando-a no colo de Genna. Ela pegou aquilo
antes de jogar no chão, vendo que era uma carteira. — Diga ao seu pai
que Bobby Barsanti envia seus cumprimentos.
Antes que pudesse processar isso, o homem se foi, as portas se
fecharam e o trem seguiu em frente. Cuidadosamente, Genna pegou do

~ 251 ~
chão e abriu a carteira de couro, esperando contra a lógica que não
fosse o que ela achava que era, mas ali, bem no interior do plástico no
interior, estava o rosto sorridente de seu irmão em sua carteira de
motorista.

Ela tomou outro trem antes de chamar um táxi, correndo para


casa quando ele a deixou a uma quadra de lá. Sem fôlego, abriu
caminho pela porta da frente. — Papai, onde você está, papai?

— Por que você está gritando? — gritou ele do escritório, entrando


no corredor, franzindo a testa enquanto a olhava.

— Onde está seu irmão?

Imediatamente, ela correu para ele, empurrando a carteira de


Dante enquanto sua boca se movia freneticamente, palavras
esvoaçando em uma tentativa de explicar o que tinha acontecido. Ela
fez pouco sentido até para si mesma, e ela poderia dizer que ele não
tinha ideia do que ela estava dizendo a partir do seu olhar confuso.

— Devagar, Genevieve, e me diga o que aconteceu.

— Dante não apareceu esta noite para me buscar. — disse ela,


tentando se acalmar. — Eu estava tomando o trem para casa e vi um
deles... um deles... e eles me deram esta carteira e disseram-me para
transmitir-lhe uma mensagem.

A expressão de Primo endureceu enquanto fez exatamente o que


Genna tinha feito: abriu a carteira e olhou a carteira de motorista. —
Que mensagem?

— Uh, Êxodo... 21:24.

Os olhos de Genna correram para onde a placa que portava


aquela escritura pendurava na parede. Ela estava mentalmente
amaldiçoando-se por não prestar atenção na escola dominical quando
era criança, por nunca ter aberto a bíblia que sua mãe tinha comprado
para ela antes de morrer. Embora tivesse sido batizada católica, e seu
pai gostasse de afirmar que eles eram uma família honrada, religião
nunca tinha sido uma grande parte de sua vida. Os mandamentos? Ela
provavelmente poderia nomeá-los, graças ao filme de Charlton Hesston,
que seu pai assistia a cada páscoa, mas além disso?

Nada.

Primo ficou parado por um momento, olhando a carteira de


motorista de Dante. — Ele disse mais alguma coisa?

— Não.

Ela balançou a cabeça, hesitando. — Só que Bobby Barsanti


envia seus cumprimentos.

~ 252 ~
Primo assentiu, sem dizer uma palavra enquanto se virava e
voltava direto para o escritório. Genna o seguiu, demorando-se na
soleira da porta, olhando incrédula enquanto ele se sentava no sofá.

— Então? — ela perguntou, ansiosamente inquieta enquanto


esperava por algum tipo de reação dele. — O que isso significa?

Primo brincava com a carteira, abrindo-a e fechando-a uma e


outra vez, sua expressão tensa. — Êxodo 21:24.

— Sim. — disse ela. — O que diz?

Suspirando, ele fechou a carteira pela última vez antes de deixá-la


de lado, seu olhar se encontrando com o dela. — Olho por olho... dente
por dente... uma mão por uma mão... um pé por um pé...

A mão de Genna cobriu a boca com a implicação afundando,


lavando toda a esperança de seu sistema, deixando-a com nada além de
uma doença amarga.

Um filho por outro filho.

~ 253 ~
Capitulo Dezoito
Paz.

Não acontece com frequência, não na medida em que se


estabeleceu em Manhattan naquele fim de semana. Ambos os lados
voluntariamente se retiraram em um cessar fogo não dito, cruzando de
volta em seu próprio território, esses muros invisíveis que dividiam o
bloqueio da cidade de volta no lugar para manter as famílias separadas,
mas o estrago já tinha sido feito.

Seus mundos foram fraturados por uma miséria, os momentos de


tensão, paz nenhuma poderia começar a consertar.
Nada aconteceu por dias — sem violência, sem roubos, sem
brutalidade. Nenhum sangue derramado nas ruas desoladas. O carro
de Dante foi recuperado não longe de casa, a porta do lado do motorista
bem aberta e as chaves ainda penduradas na ignição. Não havia
nenhum sinal dele, o interior salpicado de sangue. Seu telefone tinha
sido encontrado no chão ao lado do passageiro, a tela rachada de uma
briga, aparentemente.

Genna afundava em lágrimas, escondida em sua casa, sem


sequer pisar na varanda para enfrentar o sol. Ela não queria vê-lo
brilhando, não queria ver o mundo continuar a girar. Os dias passaram
como um borrão de horas... minutos... segundos...

Ela passou pelos momentos, olhando, mas não vendo, tocando,


mas não sentindo. Ela estava lá, mas sentia-se tão longe.

— Você está bem? — Matty perguntou em voz baixa no telefone


uma noite, a sua comunicação nas duas semanas desde a morte de
Enzo foram pouco mais do que uma série de chamadas perdidas e
mensagens de texto. Ela tinha tanto a dizer a ele, tanto a falar, a
perguntar, a implorar dele, mas suas palavras se perderam em uma
névoa de sofrimento. Você está bem? Era uma pergunta que ela lhe
havia perguntado mais de uma vez, mas parecia uma bofetada no rosto
quando empunhada em troca.

Claro que não estou bem.

— Não parece real. — ela sussurrou, sua voz tensa. Ela estava
deitada em sua cama na escuridão, seu telefone sobre o travesseiro ao
lado dela no viva-voz. Sua voz a cercava, tão perto, mas tão distante. Se
ela fechasse os olhos, quase... quase... sentia que ele estava ali. — É
como se eu não o visse... como pode ser real?

~ 254 ~
Nenhum corpo, nenhum funeral. Embora Dante foi dado como
morto pela família, as suposições não ofereceram qualquer
encerramento, não a confortou, como se simplesmente não fosse real.
Um minuto ele estava lá e o próximo, tinha sumido… mas sumido pra
onde?

Logicamente, ela sabia que provavelmente nunca descobriria.


Dante já a tinha advertido antes. Parecia uma vida desde que eles
tinham estado em Little Italy e ele a advertiu que se os Barsantis
conseguisse agarrar um deles, não haveria nada para identificar.

— Você sabe, eu tentei ir para funeral de Joey. — disse Matty. —


Eu quase fiz. Eu me vesti e desci as escadas e disse que estava indo. Eu
não pedi... eu disse. Meu pai me proibiu, mas o enfrentei.

— O que o impediu?

— Ele, é claro, me trancou no meu quarto até que terminasse. Ele


disse que não era seguro, e ele estava certo — não era. Ainda não é.
Nunca será seguro para mim... Nesta cidade, mas ainda assim, até hoje,
lamento não ter um encerramento, é difícil para uma ferida curar.

— Será? — ela perguntou. — Será que vai ficar melhor? Nunca vai
curar?

— Eu não sei. — ele respondeu. — Eu tinha apenas oito anos


quando perdi meu melhor amigo, e eu ainda não me curei.

— Sim, bem, eu tenho dezoito anos, e meu melhor amigo se foi


agora, e não acho que eu vou ficar bem novamente.

— Você ficará bem. - A voz de Matty era quase um sussurro. —


Nós dois ficaremos.
Genna fechou os olhos, lágrimas escorrendo do canto deles e
correndo por suas bochechas. Limpando-as, ela soltou um suspiro
trêmulo. Estariam bem? Ela queria desesperadamente acreditar nisso.
— Matty, há algo. Eu preciso te dizer. — disse ela, com a voz trêmula.
— Algo que você deveria saber.

— O que é?

Antes que ela pudesse responder, houve um barulho na linha, e


Matty amaldiçoou em voz baixa. — Segure esse pensamento, meu pai
está aqui.

Imediatamente, o telefone soou com Matty terminando a


chamada, o silêncio superou seu quarto novamente. Ela continuou ali,
sem vontade de se mover, sem vontade de fazer nada. O tempo passou
novamente, a escuridão caindo sobre o quarto, antes de um sinal
sonoro tocar com uma nova mensagem de Matty.

Amanhã

~ 255 ~
Amanhã... Segunda-feira. Ela sabia que eles estavam planejando
finalmente enterrar Enzo, para colocá-lo para descansar.

Ela respondeu de imediato. O que tem amanhã?

Sua resposta foi rápida. Amanhã vamos embora.

Genna olhou para aquelas palavras. Ele havia prometido que


iriam, que iriam embora e nunca olhariam para trás. Que eles
começariam de novo em algum lugar. Matty disse a ela que ele vivia no
presente, que ele levou as coisas como elas vieram, mas em algum lugar
ao longo da linha tinha mudado. Ele estava se preparando para o futuro
agora.

Um futuro para eles juntos.

Amanhã, pensou fechando os olhos, as mãos à deriva do


estômago instintivamente. Só mais um dia e nós estaremos fora daqui.

Pela segunda vez naquele verão, Matty se viu de pé no meio do


cemitério católico, quase exatamente no mesmo local — o enredo da
família Barsanti.

Semanas atrás, estava vazia, apenas uma colina gramínea,


perfeitamente limpa e esperando o dia que seria usada. Mas agora uma
lápide saia do chão, com o nome de Savina Brazzi Barsanti, a relva a
poucos metros dela, recentemente perturbada quando se despediram de
outra.

Enzo. Matty sentiu o vazio, o espaço ao lado do pai, onde seu


irmão tinha ficado sempre, agora nada além de ar, ninguém se atreveu
a pisar lá. Suspirando, Matty manteve a cabeça abaixada, as mãos
cruzadas na frente dele, até que o “Amém” final foi falado pela multidão
aflita.

Em poucos segundos ele estava indo embora, sem se preocupar


em ficar por ali para o costumeiro 'respeitos à família', e se aproximou
de seu primo Gavin. Subitamente, Gavin acenou com a cabeça em
saudação, sua voz calma enquanto ele dizia:

— Eu estarei em contato.

Matty devolveu o aceno antes de um passeio através do cemitério,


longe da multidão, em direção ao outro lado, onde ele nunca havia se
aventurado antes.

~ 256 ~
Levou um tempo — dez, talvez quinze minutos — antes que ele
visse o que ele estava procurando. As lápides estavam desgastadas,
estando aqui há anos... uma mais desbotada do que a outra.

Joseph Galante

Abaixo de seu nome, seguia as datas demasiada curtas que


medem sua vida, trazia as palavras — para sempre jovem. — Ele foi
enterrado ao lado de sua mãe, sua lápide maior para algum dia
acomodar Primo no mesmo marcador de mármore. Seu nome estava lá,
gravados na pedra, o dia da morte deixado em branco.

O bastardo insensível ainda respirava.

Ao redor deles havia parcelas vazias que Matty suspeitava que


estavam reservadas para as outras crianças Galante, mas nenhuma
delas jamais seria enterrada ali. Dante, porque ele havia desaparecido,
e Genna, porque Matty estava tirando-a de lá. Ela não estaria por perto
para ver o fim, para ver a amarga conclusão da longa rivalidade.

Nenhum deles estaria lá.

Porque Matty sabia, no fundo, não tinha acabado. Eles estavam


simplesmente de pé no olho do furacão... e só ficou calmo durante tanto
tempo.

— Em breve.

A voz grosseira atrás de Matty fez o cabelo na nuca do pescoço


arrepiar. Ele não tinha ouvido seu pai se aproximar. Girando
lentamente a cabeça, ele olhou para o homem. — Em breve?

— Logo essa lápide terá uma data. — disse Roberto, olhando para
o mármore gasto exibindo o nome de Primo. — E então eu finalmente
estarei satisfeito.

— Você poderia? - Matty perguntou calmamente, afastando-se de


seu pai. — Será que você realmente estará satisfeito?

Em vez de se ofender com a pergunta, Roberto soltou uma risada


leve, dando um tapa no seu filho antes de apertar o ombro. — Tão
satisfeito como um homem como eu pode estar.

Nada satisfeito.

Roberto soltou-o e deu um passo para trás. — Você está voltando


para a casa?

— Não, tenho algumas coisas para cuidar. — disse Matty.

— Negócios de família? — perguntou Roberto.

— Sim. — disse Matty em voz baixa. — Família.

~ 257 ~
Concordando, Roberto foi embora sem dizer uma palavra. Matty
ficou ali por alguns minutos mais, antes de olhar para o relógio. Seis
horas. Ele estaria buscando Genna um pouco depois das nove, depois
que seu pai fosse dormir.

Isso lhe deu três horas.

Dando um passo para trás através da trilha de lápides, ele se


dirigiu em direção a seu Lotus estacionado ao longo da estrada,
pressionando o botão a poucos metros de distância para desbloquear as
portas e ligar o motor. Assim que ele estava lá dentro, ele fugiu, dando
apenas uma breve olhada de volta para o cemitério.

Dirigiu-se para The Place, pedindo uma Coke Roman ao barman e


tomando um assento na sua mesa habitual, por puro hábito. Ficou ali
sentado, olhando para o assento vazio em frente a ele enquanto ele
tomava sua bebida, tentando reunir a coragem de ir lá em cima. AS
coisas de Enzo estavam espalhadas por todo o apartamento,
exatamente onde ele as havia deixado, e Matty não tinha o coração de
enfrentar.

Quando sua bebida terminou, ele pediu outra.

E outra.

E outra.

Esmoreceu, a escuridão que não se enquadrava tomou forma e


seu telefone soou com uma mensagem de um número familiar.

Encontre-me no Casato.

Matty levantou-se e caminhou enquanto olhava de novo para o


relógio. Já era quase oito. Em vez de ir no andar de cima, em vez de
embalar suas coisas como ele tinha planejado, ele simplesmente foi
embora. Ele tinha tempo suficiente para caminhar pela Little Italy antes
de reclamar sua garota e sair de Manhattan, o inferno fora de Nova
York, o inferno longe dos Galantes, dos Barsantis, e de tudo.

— Nenhum trabalho hoje à noite? — Perguntou o barman quando


ele se dirigiu para a porta.

— Não. — disse Matty. Não trabalharei nunca mais.

Dirigiu-se até a Little Italy, estacionando o Lotus em um ponto


logo após seu destino. Ele passeou em direção ao Casato, com as mãos
nos bolsos, a cabeça baixa. O café era tranquilo nesta hora, quando eles
estavam fechando para a noite. Matty pisou dentro, o sino acima da
porta tilintando. Johnny não estava trabalhando hoje à noite, uma
jovem atrás do balcão lançou-lhe um olhar curioso.
— Estamos fechando em cinco minutos.

~ 258 ~
— Sim, estou apenas procurando alguém. — disse Matty. —
Gavin Amaro?

Como se fosse um sinal, a porta da cozinha se abriu e Gavin saiu,


sua atenção no telefone enquanto discava um número. Ele trouxe-o ao
ouvido, mas hesitou quando olhou para cima, sua expressão
iluminando. Ele riu quando terminou o telefonema e afastou o telefone.
— Eu só estava chamando você.

— Aqui estou eu. — disse Matty.

Gavin se virou para a garota trabalhando. — Você pode ir em


frente e sair, eu vou terminar de fechar.

Ela agradeceu e saiu pela porta. Uma vez que ela se foi, Gavin
puxou um envelope pardo do bolso do terno e bateu-o na mesa mais
próxima.

— Tudo o que você pediu — duas novas identidades, totalmente


legítimas, completas com certidões de nascimento e carteiras de
motorista.

— E a pessoa que você tem que partir...?

— Não há problema. — disse Gavin. — Foi um favor de Chicago,


ele nunca dirá uma palavra sobre isso.

— Ah! — Matty pegou, apertando o envelope com força. —


Obrigado.

— Não foi nada. — disse Gavin, afastando-o. — É para isso que


serve a família, certo?

Matty sorriu. — Certo.

~ 259 ~
Capitulo Dezenove
— Não... definitivamente não... de jeito nenhum... ugh, que merda
é essa?

Genna tocou as roupas no armário, empurrando os cabides para


o lado. Uma mochila preta estava no chão, descalça, completamente
vazia. Precisava fazer as malas, mas não tinha nenhuma ideia do que
levar. Isso ajudaria se ela soubesse para onde eles estavam indo, mas
Matty não lhe tinha dado nenhuma pista.

Suspirando, Genna chutou a mochila, descartando-a no canto.


Foda-se. Quem precisa dessas coisas, de qualquer maneira? Deslizando
um par de sapatos, ela voltou para seu quarto e olhou para o relógio.

Alguns minutos depois das oito.

A adrenalina, alimentada pela expectativa, queimava em suas


veias. Ela não era nada mais do que uma bola emaranhada de nervos, a
ferida apertada e desordenada que ela não poderia acalmar. Desistindo,
saiu do quarto e desceu as escadas lentamente enquanto se dirigia para
a sala de jantar. Primo sentou-se em seu lugar habitual, na cabeceira
da mesa, a comida na frente dele completamente intocada. Quatro
posições de lugar vazias o cercaram, uma visão que fez Genna pausar
para escrutinar.

— Juntando-se a mim hoje à noite? — perguntou Primo, sua voz


sem emoção enquanto pegava seu copo de vinho e tomava um gole. —
Você não veio para jantar em dias.

— Sim, eu, uh... eu pensei... — O que ela estava pensando? A


culpa irritou seu peito, torcendo o estômago e tirando o último pedaço
de fome que ela sentia. — Só pensei que seria bom para nós comermos
juntos de novo... você sabe... como nos velhos tempos.

Lágrimas não derramadas arderam em seus olhos enquanto ela


gaguejou através dessas palavras. Ugh, porra de hormônios. O fato de
que poderia muito bem ser a última vez que veria seu pai — a última
vez que ela se sentava nesta mesa, comeria este jantar, dentro desta
casa — despertou uma pontada de desejo dentro dela.

— Sente-se. — disse Primo, fazendo sinal para a cadeira antes de


chamar a equipe para trazer o jantar. Eles colocaram um prato de carne
de porco assado na frente de Genna antes de desaparecer de volta na
cozinha, preparando-se para encerrar a noite.

~ 260 ~
Assim que o prato estava na frente dela, Primo estendeu a mão.
Cuidadosamente, ela a pegou, sua mão forte aninhou a dela enquanto a
apertava, inclinando a cabeça para orar. — Perdoe-nos, Pai, pelos
nossos pecados. — disse ele. — Agradecemos por nossas muitas
bênçãos.

Genna puxou sua mão de volta, assim que ele soltou e agarrou o
garfo, cutucando a comida. Estava tranquilo, nenhum deles comeu. Era
agridoce, enquanto o olhar de Genna estava mantido no local em frente
a ela, a cadeira que Dante sentava a cada dia. Ela tinha evitado durante
todo fim de semana, tinha evitado a realidade, mas lá estava,
encarando-a... a verdade tangível, um lembrete gritante que ele tinha
ido embora.

Não foi possível parar, uma lágrima rolou pelo rosto de Genna.
Tentando afastá-la, para esconder a evidência de sua aflição antes que
seu pai a visse, mas nada escapou a ele. Sem sequer olhar para ela,
soltou um profundo suspiro.

— Seu irmão amou você.

— Eu sei que ele fez. — ela sussurrou.

— Não será o mesmo sem ele.

— Não mesmo. — ela concordou.

Nunca mais seria a mesma coisa.

O jantar ficou em silêncio depois disso, nenhum dos dois parecia


ter mais a dizer. O olhar de Genna manteve saltando para o relógio,
contando os minutos, uma vez que lentamente se aproximou das nove
horas. O silêncio era tão espesso, permeando cada canto da sala de
jantar que Genna assustou quando um telefone tocando o quebrou.
Deixando cair o garfo, agarrou seu peito enquanto Primo pegava a linha
de emergência, latindo a palavra — Fale — no telefone.

Passaram-se segundos.

— Ele está lá? — perguntou Primo, sua voz vazia de todo


sentimento. — Faça isso agora.

Ele desligou o telefone, então, olhando para Genna novamente,


assim quando ela limpou outra lágrima desgarrada.

— Não se preocupe. — disse ele. — Eles não vão se safar.

Genna cortou os olhos para o pai com desconfiança. — O quê?

— Eles vão conseguir o que está vindo para eles.

— Já o fizeram. — Ela sacudiu a cabeça, exasperada. Ele estava


tão cego pelo seu ódio que não podia ver que ambas as famílias já

~ 261 ~
tinham pago com sangue? Sangue novo - sangue inocente - que tinha
sido arrastado para a rivalidade. — Eles perderam um filho.

— Eu perdi dois.

Essas palavras acertam Genna, eram como um balde de água fria


sendo despejado sobre sua cabeça. Incapaz de se conter, ela
violentamente estremeceu.

O telefone tocou novamente. Primo agarrou-o para responder,


ignorando o olhar preocupado que sua filha o lançava. — Fale.

Mais silêncio gelado.

— Está pronto? — perguntou Primo. — Bom.

— É o que definiram?

Genna perguntou quando ele desligou o telefone. — O que está


acontecendo?

Primo voltou os olhos para ela. Lá, no profundo marrom de seu


olhar, Genna viu o ódio. Ela viu a amargura, a raiva e a necessidade de
vingança. Mas em nenhum lugar, no olhar, ele não ofereceu a ela
nenhuma compaixão. Nenhum entendimento. Nenhuma consideração
pelo fato de que ela estava apaixonada por um deles, não importa o que
eles podem estar passando.

Os Barsantis chamavam seu pai de insensível. Pela primeira vez


em sua vida, Genna viu.

— O que você fez? — Sua voz tremeu, um sussurro apavorado. —


Conte-me.

— Olho por olho. — ele respondeu. — Uma vida por uma vida.

— Um filho por um filho. — ela sussurrou. — Um carro por um


carro.

Primo soltou um riso curto, sua atenção em seu copo de vinho. —


O céu em Little Italy será iluminado mais uma vez.

O estômago de Genna afundou, a respiração bateu em seus


pulmões nessas palavras.

O Lotus.

Empurrando a cadeira para trás, Genna estava de pé sem mais


uma palavra. Terror a envolveu, empurrando-a em direção à porta
enquanto ela ignorou seu pai chamando logo atrás. Ela pegou as chaves
do porta-chaves saltando para a varanda, olhando em volta em frenesi,
debatendo o que fazer quando ela pegou o telefone. Ela discou o número
de Matty quando ela estabeleceu, pelo quintal, em linha reta na direção

~ 262 ~
de onde o carro dela não conduzido tinha estado estacionado durante
os últimos dois meses.

O telefone tocou... e tocou... e tocou.

Sem resposta.

Em pânico, ela pulou para dentro do carro e fugiu da casa,


distraidamente tecendo através do tráfego enquanto se dirigia em
Manhattan e em direção a Little Italy, discando o número de Matty de
novo e de novo, desligando assim que ela chegava ao seu correio de voz
antes de discar mais uma vez. Ela recusou-se a pensar que fosse tarde
demais... que ela era tarde demais. Não podia ser.

Não poderia ser.

Ela acelerou pelas ruas, passando pelos carros ilegalmente, sem


se importar com quem ela tirou da estrada. Ansiosamente, ela correu
direto passando um sinal vermelho, esmagando o acelerador em uma
tentativa de chegar ilesa, o estreitamento de uma buzina distraindo-a.
Ela olhou para trás, aterrorizada, e viu o carro que por pouco não havia
acertado sua traseira.

Genna soltou um suspiro de alívio, mas foi de curta duração. No


momento em que ela se virou, viu o brilho de um par de luzes traseiras
bem na frente dela. Maldição, ela pisou nos freios, mas não tinha sido
rápida o suficiente. O telefone caiu de sua mão, batendo no chão de seu
carro, quando ela preparou-se para o impacto.

Seu corpo balançou, e ela fez uma careta, batendo no volante


enquanto ela derrapou para a direita na extremidade traseira de um
carro, quase derrubando-o em um cruzamento. Coração martelando em
seu peito, ela abriu a porta para sair, a tontura a dominou
momentaneamente. O motorista do outro carro começou a sair, mas
Genna já tinha ido embora.

Ela correu.

Ela correu até suas pernas queimarem e sentiu que seu peito
parecia que ia estourar. Ela correu mais rápido do que jamais tinha
corrido antes, pelas ruas que ela vagamente conhecia, passando pela
loja de música e pelo antigo cinema, bandeiras italianas batendo na
brisa noturna acima da cabeça.

Ela correu, e correu, e correu um pouco mais.

Mas ela não correu rápido o suficiente.

No momento em que ela virou a esquina fora do Mulberry Street,


um flash de vermelho brilhante chamou sua atenção. O Lotus estava
estacionado apenas perto do seu pequeno café favorito. A respiração de
Genna engatando, os pés dando alguns passos apressados na direção
antes que ela fosse brutalmente golpeada para trás pela explosão.

~ 263 ~
BOOM

Ela sentiu isso antes de vê-lo, a vibração rasgando-a antes que o


barulho estrondoso atravessasse o bairro. O ar foi batido em linha reta
de seus pulmões quando ela tropeçou, uma bola de fogo atirando para
cima no ar. O carro explodiu, desaparecendo em uma massa de fumaça
e chamas, metal voando com escombros espalhados, janelas quebrando
na vizinhança.

O calor era tão intenso na pele de Genna que sentiu que estava
em chamas, mesmo afastada a meia quadra. Inalando bruscamente, ela
deixou escapar um grito de agonia, o som ressoando profundamente em
sua alma, incapaz de ser contido dentro de seu corpo. Ela gritou seu
nome, sua voz dolorosa, quando a explosão consumiu o carro e acendeu
outros em torno dela.

As ruas entraram em erupção no caos, o mundo ao seu redor


mais rápido enquanto ela foi atingida em câmera lenta. Chorando,
lágrimas cobrindo seu rosto, ela caiu de joelhos na calçada e se agarrou
em seu cabelo, olhos abertos no inferno ardente, onde o carro de Matty
costumava estar. As pessoas passavam por ela, batendo nela, movendo-
se ao redor dela como se ela não estivesse lá. Mas Genna não podia se
mover. Ela não podia falar. Ela não conseguia respirar.

Tudo que ela podia fazer era olhar fixamente.

De repente, abruptamente, como uma multidão escalando em


cena, Genna foi agarrada por trás. Braços serpentearam em volta de
sua cintura, violentamente puxando-a para seus pés. Assustada, sua
voz rachou enquanto ela gritava e lutava contra eles, mas seu aperto
era forte.

Respiração fez cócegas na parte de trás do seu pescoço enquanto


a voz tremia, sussurrando para ela. — Calma, princesa.

A voz lavou-a, sustentando-a simultaneamente, enquanto


roubava o último pedaço de sua força. Seu corpo ficou mole, a cabeça
caindo enquanto suas mãos agarraram firmemente aos braços em volta
dela. Os nós dos dedos, brancos brilhantes com tensão, destacavam-se
surpreendentemente em comparação com a tinta escura que corava
seus antebraços.

— Matty.

Ele a arrastou pela rua, longe da loucura, e direto para o café. As


janelas tinham sido explodidas, o restaurante estava deserto, exceto por
dois deles. Assim que estavam dentro, ele a soltou. Genna se virou,
piscando rapidamente enquanto olhava para seu rosto, marcado apenas
pelos resquícios de problemas passados. Apressadamente,
freneticamente, ela agarrou-o, sentindo-o em seu peito, avaliando-o
para se certificar de que ele não estava ferido.

~ 264 ~
— Você... você está aqui... você está bem! Como? Eu vi... o
Lotus... eu só vi isso... - ela freneticamente sacudiu a cabeça, tão
selvagemente sua visão turva. — Eu vi!

— Genna. — Sua voz era firme enquanto suas mãos seguravam


suas bochechas, segurando-a ali, forçando-a a olhar para ele. —
Acalme-se.

Ela olhou para ele, seus pensamentos freneticamente correndo. —


Mas... como?

— Controle remoto. — disse ele, levantando as sobrancelhas. —


Lembra?

A partida era pelo controle. Ela subjugou sobre ele como era
desnecessário, ter um botão em suas chaves para dar partida em seu
carro de longe. Pretencioso, bastardo e seus aparelhos chamativos. —
Agradeça a merda, você é tão maldito preguiçoso.

Antes que ele pudesse responder, ela se atirou, envolvendo seus


braços ao redor dele. Ele a abraçou de volta, segurando-a com força e
alisando o cabelo. — Meu melhor amigo morreu ao ligar a chave em
uma ignição. Eu tento fazer isso o mínimo possível.

Lágrimas escorriam pelas bochechas de Genna enquanto ele a


segurava. — Você está bem.

— Bem... eu estou vivo.

Ela soltou um suspiro instável. — Já chega.

A adrenalina dentro dela, protegendo-a da dor, mantendo-a em


choque, lentamente começou a diminuir. Cada músculo em seu corpo
estava tenso, tenso, seu estômago em cólicas.

— Precisamos sair daqui. — Matty disse calmamente, deixando


ela ir. — Primeiro, precisamos encontrar um carro e seguir para
Jersey... então vamos levá-lo de lá.

Genna deu um passo para trás, estremecendo quando seu


estômago se apertou. Seu alarme disparou novamente. — Espere, eu
tenho que lhe dizer uma coisa.

— Não pode esperar? — ele perguntou.

Ela sacudiu sua cabeça. — Eu não penso assim. Você deve saber.
Antes de fazer isso... você deve saber.

— O que é?

— Eu estou, uh... - ela respirou fundo, os olhos arregalados. —


Estou grávida.

~ 265 ~
Ela não tinha certeza de como ele reagiria, especialmente agora -
especialmente no momento - mas ela certamente não esperava um
silêncio duro como pedra. Ele ficou ali, a poucos metros à sua frente,
com a expressão em branco, e não disse uma única palavra em
resposta.

Ela o olhou com cautela. — Matty?

Ele ainda não disse nada.

— Oh Deus. — ela gemeu. — Será que eu o quebrei? Matty, pelo


amor de Deus, fale comigo, por favor.

— Você está grávida.

— Sim.

— Você está...? Quero dizer, você sabe… — ele acenou em direção


a seu estômago. — É...?

— É… seu? É isso que você está me perguntando?

— Não. — ele soltou uma respiração profunda. — Estou


perguntando se você está bem.

— Oh. — ela agarrou seu estômago. — Eu acho que sim.

— Ok então. — ele disse, balançando a cabeça. — Mudança de


planos: primeiro, encontramos um carro, depois encontramos um
médico...então nós pegamos a estrada e nunca olharemos para trás.

~ 266 ~
Epilogo
É aqui que a história termina, de volta para onde ela começou,
persistindo em uma nuvem de espessa fumaça negra, pesada com o
peso da miséria.

Roberto Barsanti nunca acreditou que ele fosse culpado por


qualquer coisa que tivesse acontecido. Ele estava apenas protegendo
sua família, vingando um ataque que tinha sido praticado contra eles
no oitavo aniversário do seu filho mais velho. Algumas vezes ele sentiu
vergonha por certas circunstâncias infelizes, embora nunca forte o
suficiente para parar sua busca de retaliação. Sua raiva era muito
profunda, a traição muito séria para ele apenas recuar e esquecer tudo.

Mas, parado na esquina da Little Italy naquela noite de verão,


olhando para o ar confuso do carro de Matteo, ele finalmente sentiu o
que estava perdendo.

Remorso.

A explosão tinha sido sentida por quilômetros em torno na forma


de um pequeno terremoto, uma vibração debaixo dos seus pés. Roberto
teria ficado chocado se não tivesse registrado na escala Richter com a
maneira que parecia balançar seu universo, sacudindo o último pó de
terreno estável.

Ele não tinha mais nada. Nada. Por tudo isso, ele dizia que era
pela sua família, pelos Barsantis, mas o que restava deles agora?

Ninguém a não ser ele.

Ele não tinha nenhuma maneira de realmente saber, enquanto


ele estava lá, se Matteo estava no carro quando ele explodiu.
Fragmentos estavam espalhados por todo o bairro, o carro esportivo
brilhante semelhante a um alumínio que alguém poderia ter esquecido
descuidadamente. Mesmo que ele estivesse dentro, eles nunca poderiam
saber. Mas, naquele momento, tudo o que podia pensar era que Deus
estava punindo-o por seus pecados, tinha roubado o filho dele em troca
do que ele tinha tomado da mesma forma, há tantos anos.

Um filho por um filho, de fato.

Roberto nunca acreditou no carma. Foi por isso que ele sempre
tinha sido tão rápido para agir, tão rápido para buscar vingança. Ele

~ 267 ~
não podia confiar no universo para retribuição. Ele precisava ir lá e
pegá-lo sozinho. Mas ele acreditava agora.

Ele acreditava, e ele estava aflito.

Quando Roberto observava tudo o que restava de seu mundo,


uma voz solitária quebrou através da névoa densa, com a mesma
angústia que sentiu constrição no peito. O som desolado afastou o olhar
do inferno enquanto o homem familiar passava por ele, ignorando sua
presença.

Primo Galante.

— Genevieve! — ele gritou, freneticamente empurrando seu


caminho através da multidão. — Onde você está? Oh Deus! Genevieve!

Sua voz quebrou na última vez que ele gritou seu nome. Roberto
observou como oficiais tentaram conter o homem, subjugando Primo
antes que pudesse romper a barreira em torno da cena. Ele os
empurrou, tremendo, enquanto olhava freneticamente ao redor, ainda
gritando seu nome, procurando por ela.

Seus olhos se encontraram depois de um momento de onde


estavam, a poucos metros de distância um do outro na calçada. Eles
haviam visto um ao outro ao longo dos anos, tinha sentado na mesma
sala algumas vezes ao lidar com negócios com as cinco famílias, mas foi
a primeira vez que ele realmente olhou o seu velho amigo nos olhos em
mais de uma década, uma vez que as crianças eram da altura do joelho
e ainda inocentes a tudo isso.

Seus filhos. Roberto viu o mesmo medo que sentia refletir nos
olhos de Primo enquanto eles se olhavam em silêncio.

Incapaz de lidar com isso, o olhar de Roberto passou por seu


velho amigo, pelo frenético bloco. Gavin Amaro, único filho da família do
crime Amaro, estava bem em frente ao café de sua família, com uma
expressão atordoada em seu rosto enquanto os observava. Gavin
considerou o homem cautelosamente quando uma pergunta solitária
tocou os lábios de Roberto, apenas um sussurro de palavras.

— Meu filho.

Devagar, hesitante, Gavin acenou com a cabeça uma vez antes de


baixar os olhos, seu olhar piscando para as chamas. Ele não tinha
coragem, mas ele sabia, e era toda a confirmação que Roberto
precisava. Voltou-se para o carro demolido, o calor e violência do fogo
lambendo-o mesmo de longe, tornando-se a sentir como se sua pele
estivesse derretendo. O entorpecimento o encobriu, o choque afastando
cada pedaço de raiva. Ele sentiu uma conexão estranha com Primo
Galante novamente, o homem que ele tinha uma vez considerado o seu
melhor amigo, e, em seguida, seu inimigo mortal. Ele nunca o
perdoaria, assim como ele nunca iria perdoar a si mesmo agora, mas

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acabou, no que lhe diz respeito. Precisava parar. A morte era muito boa
para Primo, assim como ele sabia que ainda não viria para ele.

Eles teriam de viver com suas escolhas.

Alguém se aproximou de Roberto. Ele olhou ao seu lado, vendo


um dos irmãos Civello, um olhar de choque doente sobre o rosto do
garoto enquanto ele via o caos em torno da Little Italy. Ele parou ali,
depois de um momento do encontro com Roberto olho no olho. — Isso
é...? Isso era...?

Roberto não respondeu imediatamente, voltando o olhar para o


veículo em chamas enquanto o corpo de bombeiros tentava combater as
intensas chamas. De alguma forma, isso parecia mais cruel do que
realmente ver o seu filho morto. São todos crianças, Primo tinha
tomada dessa maneira.

— Precisamos discutir sobre Dante. — disse Roberto, seu olhar


mais uma vez procurando seu ex-amigo enquanto o homem lutava,
ainda gritando por sua Genevieve.

Ela estava com Matteo?

O homem matou a própria filha?

— E quanto a ele? — perguntou o menino Civello.

Roberto fechou os olhos, o peito pesado do arrependimento dentro


dele. — Estou pensando em devolvê-lo ao pai.

Houve um momento de estranho silêncio enquanto os gritos de


ensurdecer de desespero parou. Reabrindo seus olhos, Roberto
observou quando Primo caiu de joelhos, seu rosto uma máscara em
branco quando o choque parecia definido.

— O que você quiser, chefe, você quer que ele seja entregue, nós o
entregaremos.

O menino hesitou antes de acrescentar. — Apenas uma pergunta,


no entanto.

Roberto afastou-se do fogo, longe da loucura, e olhou para ele. —


O quê?

— Deveríamos matá-lo primeiro?

Fim
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