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3 Apostila - Direito Financeiro
3 Apostila - Direito Financeiro
2020 - – 2º semestre
Segundo Ricardo Lobo Tôrres (Curso de direito financeiro e tributário, 20ª edição, RJ:
Renovar, 2018, p 181), receita pública é a soma de dinheiro percebido pelo Estado
para fazer face à realização de gastos públicos.
Receitas x Entradas: A Ciência das Finanças faz distinção entre receitas e entradas,
de modo que todo ingresso de dinheiro aos cofres públicos caracteriza uma entrada,
mesmo que haja uma baixa patrimonial futura correspondente, como sucede com
cauções, fianças, depósitos recolhidos ao tesouro, o produto dos empréstimos internos
ou externos, contraídos pelo poder público, etc., que são exemplos de ingressos
provisórios que devem ser, oportunamente, devolvidos.
Já, em sentido estrito, receita pública, segundo Aliomar Baleeiro, é a entrada que,
integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou
correspondência no passivo, vem acrescer seu vulto, como elemento novo e positivo
Distinção não acatada pelo nosso Direito positivo brasileiro: Essa definição
doutrinária não foi acatada pelo nosso Direito Financeiro positivo brasileiro, assim é
que os empréstimos compulsórios são definidos na Constituição Federal (art. 148)
como receitas derivadas da espécie tributo, e na Lei 4.320/64 os empréstimos são
tidos como como receitas públicas (arts. 3º; e 11, § § 1º e 4º), como também na Lei de
Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101/2000 (art. 12, § 2º), embora não
sejam ingressos permanentes de dinheiro aos cofres públicos, pois existe a obrigação
de devolução.
Lei 4.320/64, arts. 3º, caput: A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas,
inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei.
Lei 4.320/64, art. 11, §4º: - A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema:
RECEITAS CORRENTES
RECEITA TRIBUTÁRIA (Impostos, taxas e contribuição de melhoria).
RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES
RECEITA PATRIMONIAL
RECEITA AGROPECUÁRIA
RECEITA INDUSTRIAL
RECEITA DE SERVIÇOS
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES
OUTRAS RECEITAS CORRENTES
RECEITAS DE CAPITAL:
Operações de crédito
Alienação de bens
Amortização de empréstimos
Transferências de capital
Outras receitas de capital.
Art. 12. ... § 2o O montante previsto para as receitas de operações de crédito não
poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei
orçamentária.
Previsão das receitas públicas: diferentemente das despesas públicas que são
fixadas nas leis orçamentárias (CF, art. 167. São vedados: ... II – a realização de
despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos
orçamentários ou adicionais...), as receitas públicas são meramente previstas nas leis
orçamentárias (CF, art. 165, § 8º: “A lei orçamentária anual não conterá dispositivo
estranho à previsão da receita e à fixação da despesa...”.
Receitas públicas derivadas: São as obtidas sob o regime de direito público, usando
o Estado o seu poder de império – jus imperii, retirando coercitivamente dos seus
administrados os recursos necessários para a consecução dos seus fins (fonte legal).
Conceitos de tributo
1
O Pleno do STF, no julgamento de mérito da ADI 1.917/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski
(Revista dos Tribunais – RT, vol. 96, nº 866, 2007, p. 106 a 111), confirmou a medida cautelar
anteriormente concedida (rel. Min. Marco Aurélio, DJ 19/9/2003, p. 14), tendo considerado
inconstitucional lei ordinária distrital nº 1.624/1997, que facultava o pagamento de débitos
tributários por meio de dação em pagamento de bens móveis, hipótese, portanto, de criação de
nova forma de extinção do crédito tributário na modalidade civilista de dação em pagamento, e,
portanto, não expressamente prevista em lei complementar nacional – Código Tributário
Nacional (CTN, arts. 3º e 156) – além de representar ofensa ao princípio da licitação na
aquisição de materiais pela Administração pública (CF, art. 37, XXI).
2
O Pleno do STF, decidiu, na ADI 2.045/RS, rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe-215, de
3/10/2019, que não há reserva de lei complementar nacional para tratar de novas hipóteses de
suspensão e extinção de créditos tributários, não havendo inconstitucionalidade de que lei
ordinária de Estado-Membro estabeleça regras específicas de quitação de seus próprios
créditos tributários. S. m. j., tal decisum inibe o múnus, conferido pela Lei Maior (CF, art. 146,
caput, inciso III, nomeadamente, alíneas a e b, de lei complementar nacional para estabelecer
normas gerais em matéria de legislação tributária em proteção até mesmo da eficiência das
Administrações fiscais e de suas receitas tributárias (os entes da Federação precisam de
receitas públicas em dinheiro, em reais, para o atendimento do bem-comum, não sendo
adequado que seus créditos tributários sejam quitados com bens ou mercadorias de devedores
dos Fiscos).
tributaristas: "Quando se diz que o tributo não constitui sanção de ato ilícito,
isto quer dizer que a lei não pode incluir na hipótese de incidência tributária o
elemento ilicitude. Não pode estabelecer como necessária e suficiente à
ocorrência da obrigação de pagar tributo uma situação que não seja lícita. Se o
faz, não está instituindo um tributo, mas uma penalidade. Todavia, um fato
gerador de tributo pode ocorrer em circunstâncias ilícitas, mas essas
circunstâncias são estranhas à hipótese de incidência do tributo, e por isso
mesmo irrelevantes do ponto de vista tributário.3" Destarte, o que o ente
tributante não pode é prever um ato ilícito como hipótese de incidência do
tributo, pois, isto acontecendo, não se estaria criando um tributo, mas um delito
e a sua correspondente sanção negativa ou penalidade. Todavia, se,
ocasionalmente, o fato gerador de um tributo ocorrer em decorrência de um ato
ilícito, este fato é irrelevante para o Direito Tributário (CTN, arts. 118 e 126).
Nas palavras esclarecedoras de Luciano Amaro: "Não se paga tributo porque
se praticou uma ilicitude, embora se possa ter de pagá-lo com abstração do
fato de ela ter sido praticada.4" O STF tem assentado a juridicidade da
incidência de tributo ainda que o mesmo decorra de ato ilícito, com base no
princípio de que tributo não cheira5;
3
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, 38ª ed. São Paulo: Malheiros, 2017,
p.59.
4
AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 25.
5
STF-1ª Turma. HC 77.530/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence. EMENTA: Sonegação fiscal de
lucro advindo de atividade criminosa: "non olet". Drogas: tráfico de drogas, envolvendo
sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à contabilização regular
das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos: caracterização, em tese, de crime de
sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair pela conexão, o tráfico
de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtraída à
tributação. A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso - antes de ser
corolário do princípio da moralidade - constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de
manifesta inspiração ética. (DJ 18/9/1998, p. 7). HC 92.240/SP, rel. Min. Dias Toffoli. EMENTA:
Habeas corpus. Penal. Processual penal. Crime contra a ordem tributária. Artigo 1º, inciso I, da
Lei nº 8.137/90. Desclassificação para tipo previsto no art. 2º, inciso I, da indigitada lei. Questão
não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça. Supressão de instância. Inadmissibilidade.
Precedentes. Alegada atipicidade da conduta baseada na circunstância de que os valores
movimentados nas contas bancárias do paciente seriam provenientes de contravenção penal.
Artigo 58 do Decreto-Lei nº 6.259/44 - Jogo do Bicho. Possibilidade jurídica de tributação sobre
valores oriundos de prática ou atividade ilícita. Princípio do Direito Tributário do non olet.
Precedente. Ordem parcialmente conhecida e denegada. 1. ... 2. A jurisprudência da Corte, à
luz do art. 118 do Código Tributário Nacional, assentou entendimento de ser possível a
tributação de renda obtida em razão de atividade ilícita, visto que a definição legal do fato
gerador é interpretada com abstração da validade jurídica do ato efetivamente praticado, bem
como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Princípio do non olet. Vide o HC nº
77.530/RS, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 18/9/98. 3. Ordem
parcialmente conhecida e denegada. (RT vol. 101, nº 917, 2012, p. 584 a 597).
Por sua vez, o artigo 9º da Lei nº 4.320, de 1964, assim conceitua tributo: é a receita
derivada instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as
taxas e contribuições nos termos da Constituição e das leis vigentes em matéria
financeira, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou específicas
exercidas por essas entidades.
Por esse conceito de Direito Financeiro tributo é uma espécie de receita pública,
classificada quanto à origem, como derivada, isto compulsória, utilizando o Estado o
seu poder de império sobre os seus cidadãos ou administrados para obtê-la, só tendo
competência para a sua instituição os entes da Federação – União, Estados, Distrito
Federal e Municípios -, pessoas jurídicas de Direito Público detentoras de Poder
Legislativo, diante do princípio da legalidade tributária e da reserva legal em matéria
tributária, destinando o seu produto ao custeio das necessidades políticas, aquelas
escolhidas politicamente para serem satisfeitas, tanto gerais da sociedade, através
principalmente dos impostos e de contribuição de melhoria, quanto necessidades
específicas como taxas, empréstimos compulsórios e contribuições especiais.
Competência tributária
Espécies tributárias
A Lei Suprema de 1988, no seu art. 145, caput, enuncia o poder genérico de a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituírem os seguintes tributos em
sentido restrito, os chamados tributos fiscais, porque as respectivas receitas visam a
Impostos
Impostos são tributos cujas obrigações têm por fatos geradores situações
independentes de quaisquer atividades específicas do ente tributante em relação ao
contribuinte (CTN, art. 16).
6
O princípio do Direito Constitucional-Financeiro da não vinculação ou da não afetação de
receitas de impostos visa a evitar o engessamento ainda maior das receitas públicas: está
consagrado no inc. IV do art. 167 da CF que proíbe “a vinculação de receita de impostos
próprios a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos
impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos ações e serviços
públicos de saúde (art. 198, §2º), para manutenção e desenvolvimento do ensino, como
determinado pelo art. 212, e para realização de atividades da administração tributária (art. 37,
XXI), e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas
no art. 165, § 8.º, bem assim o disposto no § 4º deste artigo (167)”. CF, art. 167. § 4º: É
permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts.
155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação
de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. Outra
exceção - CF, art. 216, §6º (EC 42/03): É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a
fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária
líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses
recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiados. Também não se aplica a vedação de vinculação de receita de impostos estabelecida
no inciso IV do artigo 167 da CF às hipóteses previstas no § 19 do artigo 100 da CF (EC
94/2016) e no § 2o do artigo 101 do ADCT (EC 94/2016). CF, art. 100, § 19. Caso o montante
total de débitos decorrentes de condenações judiciais em precatórios e obrigações de pequeno
valor, em período de 12 (doze) meses, ultrapasse a média do comprometimento percentual da
receita corrente líquida nos 5 (cinco) anos imediatamente anteriores, a parcela que exceder
esse percentual poderá ser financiada, excetuada dos limites de endividamento de que tratam
os incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de quaisquer outros limites de
endividamento previstos, não se aplicando a esse financiamento a vedação de vinculação de
receita prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal.
A União Federal tem competência para instituir os seguintes impostos (art. 153, CF): I
- imposto sobre importação de produtos estrangeiros (II), II - imposto sobre exportação
de produtos nacionais ou nacionalizados (IE), III - imposto sobre renda e proventos de
qualquer natureza (IR), IV - imposto sobre produtos industrializados (IPI), V - imposto
sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários (IOF), VI - imposto sobre propriedade territorial rural (ITR), todos, por lei
ordinária, e VII - imposto sobre grandes fortunas (IGF), nos termos de lei
complementar.
Por sua vez, os Estados e o Distrito Federal têm competência para instituir, nos termos
do artigo 155, caput, da Constituição Federal (com a redação dada pela EC nº 3/93),
os impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou
direitos (ITCD); II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação,
ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior (ICMS); III -
propriedade de veículos automotores (IPVA).
Consoante o parágrafo único do mesmo artigo 78, é regular o exercício desse poder,
quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com
observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como
discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
A definição dos serviços sujeitos às taxas consta no artigo 79, incisos I, II e III, do
mesmo Código: Consideram-se utilizados pelo contribuinte, efetivamente, quando os
serviços públicos são por ele usufruídos a qualquer título; e potencialmente quando,
sendo de utilização compulsória, os serviços sejam postos à sua disposição mediante
atividade administrativa em efetivo funcionamento. Consideram-se serviços públicos
específicos quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção,
de utilidade ou de necessidade pública; divisíveis, quando suscetíveis de utilização,
separadamente, por parte de cada um dos seus usuários.
7
Cf. STF-Pleno, RE nº 416.601, Rel. Min. Carlos Veloso, in DJ de 30/9/2005; RE nº 588.322,
Rel. Min. Gilmar Mendes, in RT v. 99, nº 902, p. 149-157, 2010. STJ AgRn no AREsp nº
245.197, Rel. Min. Benedito Gonçalves, in DJe 11/06/2013.
A doutrina tem apresentado as seguintes distinções entre taxa e preço público, com
vistas a orientar tanto o intérprete quanto o poder público na respectiva instituição: a) a
remuneração pelo uso ou aquisição da propriedade de bens do Estado se dá através
de preço; b) já remuneração em face do exercício do poder de polícia se dá através de
taxa; c) o serviço público a ser remunerado pela taxa deve ser específico e divisível; d)
se o serviço público situa-se no âmbito típico, essencial e exclusivo do Estado, só
sendo prestado por pessoas jurídicas de direito público interno, a receita dele
decorrente é uma taxa; e) contrariamente, se se trata de exploração de atividade
econômica (industrial ou comercial) regida pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, sendo possível que este serviço seja prestado por
pessoas jurídicas de direito privado, como empresa pública, sociedade de economia
mista, a contrapartida se faz por meio de preço ou tarifa; f) na taxa, há um caráter
compulsório (Súmula nº 545 do STF), que se traduz ou pela impossibilidade jurídica de
satisfação de uma necessidade por outro meio que não a utilização efetiva do serviço
público (quando não é permitido recorrer-se facultativamente, por exemplo, ao serviço
privado para o atendimento de uma necessidade), ou pela obrigação do pagamento
8
Cf. SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. Inconstitucionalidade do preço pelo serviço
de renovação de licenciamento anual de veículos automotores do Distrito Federal. RFDT, n. 17,
Belo Horizonte: set./out. 2005, p. 39 a 48.
O STF, por ocasião dos julgamentos da ADI 1.145, ADI 1.444, ADIMC 1.556,
ADI 1.709 e da ADIMC 2.129/MS, tem decidido que as custas, a taxa judiciária
e os emolumentos dos serviços notariais e de registro devidos aos delegatários
do Poder Público (cartórios) têm natureza tributária da espécie taxa, devendo
obediência ao princípio da legalidade.
O STF, por ocasião dos julgamentos da ADI 1.145, ADI 1.444, ADIMC 1.556,
ADI 1.709 e da ADIMC 2.129/MS, tem decidido que as custas, a taxa judiciária
e os emolumentos dos serviços notariais e de registro devidos aos delegatários
do Poder Público (cartórios) têm natureza tributária da espécie taxa, devendo
obediência ao princípio da legalidade.
Decidiu o STF T1, no AI 699.074-AgR, rel. Min. Dias Toffoli, que a segurança
pública é atividade geral e indivisível custeada por receitas provenientes de
impostos.
Contribuição de melhoria
Como reza a Lei Maior que a contribuição é de melhoria, obviamente, que não basta a
obra pública, esta é um dos pressupostos; é indispensável o outro requisito, qual seja,
O artigo 81 do CTN, recebido pela Carta Política de 1988 com status de lei
complementar (§ 5º do art. 34, do ADCT), estabelece que a contribuição de melhoria
cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no
âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras
públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada
imóvel beneficiado.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho anota que "se a valorização trazida para os imóveis
não cobrir a despesa realizada, esta só será parcialmente indenizada. Indenizada até
o limite das valorizações9”.
9
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. São
Paulo: Saraiva, 1994, p. 93.
Por ter o fato gerador dessa exação a característica de ser instantâneo e único, o
tributo incide sobre um fato isolado a valorização imobiliária em decorrência da
realização da obra pública, não incidindo tal gravame sobre os contínuos serviços
públicos de conservação dessa obra.
Assim, não se ligam ao fato gerador da contribuição de melhoria nem podem ser
computadas, na sua base de cálculo, a valorização imobiliária influenciada pelo
mercado nem decorrente de obras privadas.
Ademais, como todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus
representantes eleitos ou diretamente (CF, parágrafo único do art. 1º), os
parlamentares, representantes do povo, devem aprovar ou não a criação de cada
contribuição de melhoria, decorrente da realização de cada obra pública que tenha
acrescido o valor venal dos imóveis vizinhos.
10
STF- RE 115.863/SP, rel. Min. Célio Borja, RTJ vol. 138-2, p. 600. No mesmo sentido: STF-
RE 116.148/SP, rel. Min. Octávio Gallotti, DJ 21/5/1993, p. 9.768.
11
MACHADO, Hugo de Brito. Obra citada, p. 452.
Nesta categoria, encontra-se uma espécie tributária sui generis, por não representar,
segundo definição da Ciência das Finanças, uma receita pública – ingresso definitiva
de recursos financeiros nos cofres públicos, como elemento novo que acresce o
patrimônio público sem nenhuma baixa futura correspondente – mas mera entrada,
por se caracterizar pela indispensabilidade de devolução.
Em que pese a diferenciação feita pela Ciência das Finanças entre receitas públicas e
entradas14, o ordenamento jurídico brasileiro considera que o empréstimo compulsório
12
STJ-T1. REsp 739.342/RS, rel. Min. Francisco Falcão, in “Revista Dialética de Direito
Tributário” (RDDT) vol. 130, p. 152.
13
No mesmo sentido: STJ-T2. REsp 444.873/RS, rel. Min. Castro Meira, DJ 03/10/2005; STJ-
T1. Resp 927.846/RS, rel. Min. Luiz Fux, RDDT vol. 181, p. 173.
14
Para a Ciência das Finanças, todo ingresso de dinheiro aos cofres públicos caracteriza uma
entrada, mesmo que provisório e que haja uma baixa patrimonial futura correspondente.
Assim, essa definição doutrinária de outra ciência não foi acatada pelo nosso Direito
positivo, assim é que os empréstimos compulsórios são definidos na Constituição
Federal como receitas derivadas da espécie tributo (art. 148), ou seja, receitas obtidas
compulsoriamente, e na Lei 4.320, de 17 de março de 1964 os empréstimos são tidos
como como receitas públicas (arts. 3º; e 11, § § 1º e 4º), como também na Lei de
Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (art. 12, §
2º), embora não sejam ingressos permanentes de dinheiro aos cofres públicos, pois
existe a obrigação de devolução.
Empréstimos compulsórios
A União possui competência exclusiva para instituir, por lei complementar, tributos
extraordinários ou suplementares, isto é, empréstimos compulsórios para atender a
despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou
sua iminência, sendo dispensada, nessas hipóteses, a observância do princípio da
anterioridade em função do exercício e a anterioridade de noventa dias da data
publicação da lei instituidora, e no caso de investimento público de caráter urgente e
de relevante interesse nacional, observando-se, todavia, o princípio da anterioridade
tradicional e a noventena (CF, art. 148).
Estatui o parágrafo único do artigo 148 da Constituição Federal que a aplicação dos
recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que
fundamentou a sua instituição.
Art. 15. Somente a União, nos seguintes casos excepcionais, pode instituir
empréstimos compulsórios:
Observe que a hipótese, prevista no inciso III do artigo 15 do CTN não foi recebida
pela Constituição Federal de 1988, estando, pois, esse dispositivo revogado pela Lei
Maior.
A Constituição Federal prevê, ainda, uma outra espécie tributária: os tributos especiais
ou parafiscais, que visam a custear a atuação, quase que exclusivamente da União,
em determinados assuntos de relevante interesse público, embora que não sejam
inerentes ao Estado (CF, art. 149).
1 Contribuições sociais:
Dispõe o caput do artigo 149 da Carta Magna que compete exclusivamente à União
instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado sempre o disposto nos arts. 146, III – normas gerais
sobre legislação tributária prevista em lei complementar -, e 150, I e III – princípios da
legalidade, da irretroatividade da lei, da anterioridade em função do exercício
financeiro e da anterioridade de noventa dias -, e sem prejuízo do previsto no art. 195,
§ 6º - princípio da noventena, com a exceção da aplicação da anterioridade tradicional
-, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
A seu turno, o § 4º do mesmo artigo 195 estatui que a lei poderá instituir outras fontes
destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o
disposto no artigo 154, caput, inciso I, da mesma Carta, ou seja, através de lei
complementar.
Art. 149....
Sobre esta questão o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região, através de sua
2ª Turma, já se manifestou, por ocasião do julgamento da Apelação em Mandado de
Segurança nº 2003.71.00.073662-9/RS, cuja Ementa é transcrita a seguir:
Este entendimento foi referendado pelo Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal,
no julgamento do Recurso Extraordinário 564.413/SC, nos termos da correspondente
Ementa abaixo transcrita:
15
TRF-4ª R. AMS 2003.71.00.073662-9/RS “Revista Fórum de Direito Tributário” (RFDT) nº 13,
Belo Horizonte: Ed. Fórum, jan. e fev. de 2005, p. 171 a 178.
16
STF. RE 564.413/SC, rel. Min. Marco Aurélio, RFDT 48, Belo Horizonte: Fórum, nov. e dez.
de 2010, pp. 191 a 221.
17
No mesmo diapasão, cf. STF-Pleno. RE 566.259, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe-179 de
24/9/2010, Tema 52.
Art. 177...
18
STF-Pleno. RE 603.624 RG/SC, rel. Min. Alexandre de Moraes, Informativo STF nº 992, 21 a
25 de setembro de 2020, in www.stf.gov.br//arquivo/informativo/documento/informativo992.htm.
19
STF-Pleno. RE nº 396.266/SC. Acórdão publicado na íntegra na RFDT n° 17, Belo Horizonte:
Fórum, set./out. 2005, p. 165-175.
Parece mais exata a tese de que mesmo tendo sido dado o nome de contribuição,
essa exação não tem essa natureza, simplesmente, porque a contribuição existe para
incidir sobre um grupo social, econômico ou profissional, e não existe grupo dos
iluminados.
A iluminação pública sempre foi custeada com receitas provenientes de impostos, por
representar despesas gerais dos entes públicos. Por isso, o novo gravame pode ser
tido como novo imposto de competência dos Municípios e do Distrito Federal, com a
vinculação constitucional de receitas.
20
STF-Pleno. RE 573.675/SC, rel. min. Ricardo Lewandowski, DJe de 22-5-2009, Tema 44.
21
CF/1988. Art. 167. São vedados: [...] IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo
ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se
referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de
saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da
administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37,
XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas
no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
22
STF-Pleno. RE 666.404/SP, rel. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJe-221 de 4/9/2020,
Tema 696.
Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF - Lei Complementar 101/2000: Art. 8º, § único,
da LC 101/2000, impõe que os recursos destinados por lei à finalidade específica
devam ser aplicados exclusivamente para atender o objeto de sua vinculação, ainda
que em exercício diverso daquele em que ocorra o ingresso. O atendimento desse
mandamento legal exigirá que as receitas vinculadas sejam identificadas por código
específico de Fonte de Recursos durante todas as etapas de execução do orçamento
e na transposição de eventuais sobras para exercícios subsequentes.
LC 101/2000 – LRF, art. 12, § 1º: Somente será admitida reestimativa de receita por
parte do Poder Legislativo se restar comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou
legal.
LC 101/2000 – LRF, art. 12, § 2º: O montante previsto para as receitas de operações
de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital* constantes do projeto
de lei orçamentária. Numa interpretação conforme o art. 167, III, da CF, decidiu o STF,
na ADIMC 2.238, que tal proibição não abrange operações de crédito autorizadas
mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo
Poder Legislativo.
Art. 113 do ADCT da CF: A proposição legislativa que crie ou altere despesa
obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da estimativa do
seu impacto orçamentário e financeiro. (EC nº 95, de 15/12/2016)
Bibliografia
- ARAÚJO, Eugênio Rosa de. Resumo de direito financeiro, 2ª ed., SP: Editora