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TECNOLOGIA

FAZENDO A PONTE ENTRE


ENGENHARIA E TRYOUT
POR FERNANDO HENRIQUE TERSETTI

A
tualmente é possível observar Não é fácil conseguir uma simu- certamente um ganho de eficiência e
grandes avanços nos depar- lação computacional onde podemos produtividade sem precedentes.
tamentos de engenharia das confiar nos resultados. Ainda mais Hoje pode-se dizer que um dos
empresas, onde cada vez mais busca- difícil é conseguir com que tudo maiores desafios da gerência das
-se prever com o auxílio de softwares aquilo que foi simulado seja correta- empresas é conseguir integrar estes
específicos os problemas que seriam mente executado pela ferramentaria e departamentos eliminando a síndro-
enfrentados na execução de um proje- construído seguindo o que foi deter- me do “problema do outro” e dire-
to e, assim, atuar antecipadamente de minado pela engenharia. cionando todo o time para o objetivo
forma a evitá-los. Softwares de simu-
lação estão disponíveis para diversas
áreas de implementação, seja para
complexos sistemas e linhas de pro-
dução que envolvem vários produtos
até para processos individuais, como a
estamparia automotiva. Voltado a este
último, discutiremos a seguir ações e
procedimentos que podem trazer bene-
fícios ao setor.
A tarefa inicial de elaboração de
um processo de estampagem já é
considerada difícil, pois são muitos os
fatores que influenciam o mesmo. A
Engenharia precisa vencer uma série
de desafios: encontrar os softwares
adequados, obter os dados de entrada
necessários - informações da matéria
Figura 1: Fluxograma de troca de informações convencional
prima, os equipamentos a serem utili-
zados, a precisão da usinagem, tonela- É comum encontrarmos, ainda nos final. Fazer com que todos trabalhem
gem da prensa, etc - e assim conseguir dias de hoje, profissionais com vários em conjunto, afinal, todos tem um
montar simulações computacionais anos de experiência que simplesmen- objetivo comum que é ter a peça com
que permitam prever de forma coeren- te não acreditam que um software a melhor qualidade possível no menor
te os resultados físicos, para facilitar as possa prever o que vai acontecer de- espaço de tempo e pelo menor custo.
tomadas de decisões relativas ao pro- baixo de uma prensa e que, com essa Existem algumas teorias sobre
cesso. Tal tarefa é ainda agravada por visão, acabem por frear a evolução e como melhorar esta comunicação e
uma série de fatores externos, como a o ganho de eficiência de todo um time integrar os times. Uma delas visa en-
falta de confiança nos resultados virtu- de tryout. Quão bom seria se ao invés volver o time de tryout durante o pro-
ais por parte dos mais conservadores e, de dividir, os paradigmas fossem ven- cesso de desenvolvimento do pacote
acima de tudo, pelo eterno problema de cidos e fossem somadas as experiên- de engenharia, pois como geralmente
comunicação existente entre os diferen- cias e os adventos tecnológicos para possuem uma grande experiência
tes departamentos. um bem maior, onde o resultado seria prática os mesmos podem ter inputs

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valiosos para a definição do processo e, uma gia, o tryout propriamente dito


vez que se sintam parte do desenvolvimen- se inicia uma vez que todo o
to, podem passar a adotar os projetos como ajuste inicial tenha sido feito,
próprios e lutar para que os mesmos ganhem garantindo que haja o contato
vida na ferramentaria. necessário no fechamento da
A teoria baseia-se no gerenciamento de definição da ferramenta. A
stakeholders, exemplificada no mapa da figu- partir daí busca-se a primei-
ra 2, envolvendo todos aqueles que possuam ra correlação com o que foi
qualquer tipo de influência no projeto desde desenvolvido nas fases de en-
o seu início e fazendo com que estes se sintam genharia: Encontrar a mesma
mais engajados, parte de um todo, e lutem corrida de chapa da simulação
a favor da equipe deixando de enxergá-los na peça estampada durante o
como “instituições feudais”, encurtando as tryout.
distâncias e minimizando o fator “problema Fatores importantes e qua-
do outro”. se sempre negligenciados tem
papel significativo nos resul-
tados alcançados. Entre estes
fatores, podemos destacar: A
matéria prima simulada é a
mesma utilizada no tryout?
A posição inicial do blank
estava correta? Condições de
atrito e sistema tribológico
são coerentes (i.e. ferramenta
já foi polida como suposto na
simulação)? A medida dos que-
bra-rugas está de acordo com
a intenção inicial? As geome-
Figura 2: Mapeamento de Poder/Interesse - Fonte: FGV
trias das ferramentas seguem
a simulação?
Apesar de possuir uma definição simples, Muitos destes fatores são
não é fácil realizar o acima descrito, sendo sim verificados, mas normal-
necessário uma ação direta de gerências e mente quando algo no tryout
supervisões de todos os departamentos envol- foge do esperado, somando-
vidos para que o objetivo principal possa ser -se a pressão por resultados
alcançado. rápidos, planos de contingên-
No mercado atual, algumas empresas já cia são adotados e perde-se o
notaram esta deficiência e buscam diversas controle de correlação entre
formas de contorná-la. Softwares de simula- o que foi simulado e o que foi
ção já estão trabalhando no desenvolvimento executado. Para tentar evitar
de módulos cujo objetivo é encurtar as dis- estes problemas e maximizar
tâncias. Tais softwares foram desenvolvidos a eficiência do tryout podemos
especificamente para utilização do time de utilizar tecnologias já disponí-
tryout e, por conterem informações utilizadas veis no mercado, abrangendo
pela engenharia, fatalmente obrigarão o time a aplicação da simulação, dire-
de tryout a se envolver no processo, pois os cionando as ações e mantendo
mesmos passarão a entender o que está sendo tal correlação.
avaliado e o mais importante; por que algo é Estas tecnologias já nos
implementado ou não em um processo. permitem ir além da simu-
Apesar de cada empresa ter sua metodolo- lação tradicional. Prevendo

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resultados com base em faixas de qual quebra-rugas deve ser modificado o começo se torna essencial, e pode
variação e não mais dados pontuais. e qual modificação deve ser feita, com fazer com que a eficiência aumente uma
Desta forma, conseguimos fazer ajustes base em uma estratégia de redução defi- vez que todos passam a fazer parte da
no tryout com base nos dados reais, nida previamente com a participação evolução e lutar a favor, ao invés de se
garantindo a estabilidade do processo dos times de engenharia e tryout. sentirem de certa forma ameaçados pela
e que o mesmo esteja sempre dentro da Além de propor soluções, o software tecnologia que cada vez mais pode fazer
janela projetada (figura 3) pela engenha- também permite que o ferramenteiro melhor proveito do conhecimento e da
ria, diminuindo não só o tempo de tryout de tryout verifique quais serão os resul- experiência dos usuários.
mas também as perdas resultantes em tados caso a alteração seja feita. Desta Todas as análises e exemplos
paradas de produção, como aquelas que forma é possível manter um controle mostrados aqui utilizaram os
ocorrem ao trocar bobinas, devido ao de todas as alterações, garantindo que módulos AutoForm Sigma e AutoForm
desgaste das ferramentas, ao aquecimen- não se comprometa, por exemplo, os TryoutAssistant.
to e etc. resultados de springback já estudados
Em combinação com o descrito e compensados pela engenharia. Na
acima, também já é possível carregar figura 4, podemos ver um exemplo do
estas informações para o usuário do descrito, onde na imagem superior
time de tryout, onde o mesmo conse- observa-se o resultado de springback na
gue executar um checklist de como a situação atual, e na imagem inferior o
ferramenta e processo estão no início resultado caso os quebra-rugas tenham
do tryout com base nestas informações suas dimensões, e consequentemente
e nas simulações realizadas pelo time seu fator de restrição, alteradas.
de engenharia, o software é capaz de Estes softwares possuem informa-
propor soluções para o ajuste da cor- ções que hoje são comuns na enge-
rida de chapa, indicando por exemplo nharia, como nível de estiramento,
afinamento,
curva limite de
conformação,
etc, mas que não
são tão corri-
queiras assim,
pelo menos não
nestes termos,
no tryout.
Desta forma o
envolvimento
e a integração Figura 4: Resultados de springback em função de
Figura 3: Janela de Processo dos times desde alterações na geometria dos quebra-rugas

Fernando Henrique Tersetti - Engenheiro de aplicação na AutoForm do Brasil e integrante da equipe técnica responsável pelo suporte a aplicação do software no mer-
cado brasileiro e argentino, possui 10 anos de experiência na indústria automobilística tendo atuado na área de projetos de ferramentas para estamparia e simulação
de processos de estampagem. Possui graduação em Engenharia de Controle e Automação e cursa MBA em Gerenciamento de Projetos. +55 11 4121-1644 / fernando.
tersetti@autoform.com.br

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