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OPERACIONALIZANDO O MÉTODO DA GROUNDED THEORY NAS PESQUISAS

EM ESTRATÉGIA: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE COM APOIO


DO SOFTWARE ATLAS/TI

Rodrigo Bandeira-de-Mello – UNIVALI


Cristiano José Castro de Almeida Cunha – PPGEP/UFSC

Resumo
O método da Grounded Theory, e suas técnicas de análise, apresentam-se como formas
viáveis de conduzir pesquisas qualitativas, sejam com a intenção de gerar teoria substantiva
ou apenas de proceder a uma ordenação conceitual. No entanto, tal como ocorre com outros
métodos de análise qualitativa dos dados, é necessário definir critérios de avaliação da
qualidade da pesquisa e como persegui- los na prática. Nesse sentido, este artigo tem como
objetivo desmistificar conceitos inerentes aos processos de análise e codificação do método da
Grounded Theory, por meio da apresentação de sugestões de técnicas de análise auxiliadas
por computador, que respeitem critérios previamente definidos para avaliação da teoria
gerada. São apresentados exemplos de como as análises podem ser operacionalizadas e como
conceitos, tais como sensibilidade teórica, comparações constantes e codificação, são
desenvolvidos na prática. Este artigo pode ser entendido como um relato de experiências dos
autores, com finalidade de incitar a discussão entre os pares e contribuir com a disseminação
do método junto à comunidade de pesquisadores em Administração, especialmente, no campo
da estratégia.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa em estratégia no Brasil tem experimentado, a exemplo do que ocorre em


âmbito mundial, a utilização de métodos de pesquisa alternativos ao paradigma tradicional de
bases positivistas. Sejam de cunho fenomenológico, interpretativo ou dialético, por exemplo,
esses métodos, são, na maioria das vezes, denominados na literatura de métodos qualitativos
de pesquisa.
Paralelelo a disseminação dos métodos qualitativos em pesquisa em estratégia, pode-
se notar aumento do ceticismo por parte da comunidade acadêmica, a qual se apoia, para
fundamentar seus argumentos, na falta de clareza com relação aos procedimentos de análise
utilizados, na arbitrariedade do pesquisador no processo de pesquisa e na conseqüente
inpossibilidade de escutínio público.
Na realidade, a distância epistemológica que separam os métodos objetivos e
subjetivos (MORGAN; SMIRCICH, 1980) impede comparações que utilizam os mesmos
critérios de rigor científico, ou o que se convencionaria chamar de “boa ciência”. Por
exemplo, há metodos, como o fenomenológico, a etnografia e a experiência vivida que não se
preocupam com a possibilidade de refutação ou a objetividade de seus achados, mas
itencionam apresentar a narração da versão dos envolvidos ou deixar que os “dados falem por
sí”. Ou ainda, em um nível mais abstrato, reduzir os dados a conceitos que signifiquem a
interpretação dos envolvidos sobre o fenômeno ao qual se deparam.
Porém, esse argumento não exclui, qualquer que seja o método, a explicitação dos
critérios pelos quais o leitor deve avaliar os resultados da pesquisa e nem de como o
pesquisador perseguiu esses critérios ao longo do desenvolvimento do projeto.
Nesse sentido, este artigo apresenta sugestões de operacionalização do processo de
análise dos dados para o método da Grounded Theory que proporcionem a geração de
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resultados de acordo com os critérios aceitos para avaliação do rigor de uma teoria
substantiva.
É importante deixar claro que não se pretende aqui impor um método ou
procedimentos. Quanto a isso, até os criadores da metodologia da Grounded Theory, Barney
Glaser e Alsem Strauss, divergiram. É importante deixar claro para o leitor que o objetivo
deste artigo é proporcionar para os iniciados no método esclarecimentos sobre procedimentos
e técnicas de análise, ou seja, como, na prática da pesquisa, termos como comparações
constantes, amostragem teórica, sensibilidade teórica, saturação teórica, quebra e análise de
dados são operacionalizados. Para os pares e comunidade científica, o objetivo é desmistificar
os conceitos inerente às análises dos dados e apresentar sugestões de como eles podem ser
trabalhados na prática, servindo, assim, de mais uma fonte de informação para futuros
avaliadores exercerem seu escrutínio sobre o processo utilizado e sobre o nível de
fundamentação empírica da teoria gerada.
Também não se pretende neste trabalho, tecer discussões filosóficas sobre bases
epistemológicas. Da mesma forma que o método da Grounded Theory se propõe a
fundamentar seus resultados nos dados e não na literatura existente, busca-se neste artigo
evitar definições que não tenham a fundamentação empírica, ou seja, na prática da pesquisa.
Em outras palavras, não é relevante para a proposta deste artigo discutir a definição de
“codificação por comparações constantes”, proposta por Glaser (1992) como “operação
fundamental no método de análise por comparações constantes. O analista codifica incidentes
para categorias, e suas propriedades, e os códigos teóricos que as conectam”. Porém, é
relevante mostrar sugestões de como isso ocorre na prática, na ação do pesquisador, seja por
meio de exemplos, sugestões de técnicas e de procedimentos.
Este artigo é também um relato de experiências dos autores na utilização do método da
Grounded Theory na pesquisa em estratégia. São apresentadas possibilidades para facilitar a
análise dos dados, tendo o software ATLAS/ti como apoio, e tornar o pesquisador menos
sobrecarregado para que exerça plenamente suas funções podendo, assim, aproveitar o prazer
da descoberta e da constatação da emergência da nova teoria.
Inicialmente, é necessário apresentar, sucintamente, os principais fundamentos do
método da Grounded Theory. Em seguida, são apresentadas as sugestões para
operacionalização das análises dos dados, com ênfase na utilização do software ATLAS/ti, e
como esses procedimentos geram teoria substantiva com rigor e fundamentação empírica.

2. O MÉTODO DA GROUNDED THEORY

Esta seção não pretende revisar, com profundidade, a história do método e seus
desenvolvimentos, nem discutir sua epistemologia. Essa tarefa foi empreendida por Ichikawa
e Santos (2001), em um ensaio apresentando a Grounded Theory, então como uma nova
proposta para pesquisa qualitativa pesquisa organizacional. Esta seção tem como objetivo
nivelar os leitores sobre definições dos principais termos relacionados com as fases de coleta
e análise de dados, considerados nesta proposta, e que serão operacionalizados nas seções
subsequentes.
O método da Grounded Theory adota as considerações ontológicas e epistemológicas
do subjetivismo, conforme definições de Morgan e Smircich (1980), as quais consideram que
a realidade pode ser socialmente cons truída a partir da interação entre indivíduos que a
legitimam por meio de símbolos. É um método interpretativista de pesquisa que busca
explicar a realidade a partir dos significados atribuídos pelos envolvidos às suas experiências.
Contudo, diferentemente de outros métodos subjetivistas como o método
fenomenológico, a etnografia e a experiência vivida, os procedimentos de análise do método
da Grounded Theory intencionam tornar os resultados os mais objetivos possíveis, tanto do
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ponto de vista teórico, para que tenham possibilidade de generalização do fenômeno


explicado, como do ponto de vista metodológico, para que possam sofrer posterior escrutínio
público sobre o processo de pesquisa utilizado. Isso não significa estar alinhados com os
cânones do positivismo ou outro paradigma objetivista, pois, na realidade, o que deve ser
passível de refutação é o processo de pesquisa e o nível de fundamentação empírica e não se
os resultados são a única explicação da realidade. Isso será atratado adiante, mas serve aqui
para ratificar os objetivos deste artigo em esclarecer procedimentos operacionais do método.
O método da Grounded Theory surgiu em Glaser e Strauss (1967). Teve seu
desenvolvimento em Glaser (1978) e Strauss (1987), com contribuição substancial de Strauss
e Corbin (1998). A Grounded Theory é, geralmente, apresentada como uma abordagem de
pesquisa qualitativa. No entanto, há duas linhas divergentes quanto ao método. Uma delas é
defendida por Glaser (1992) e dá ênfase a característica emergente do método e aos processos
indutivos desenvolvidos pioneiramente pelo Departamento de Sociologia da Universidade de
Columbia nos anos 50 e 60. A outra linha — considerada por Glaser a antítese da Grounded
Theory, pois, segundo o autor, permite a influência de preconcepções do pesquisador — foi
desenvolvida por Strauss (1987) e consolidada em Strauss e Corbin (1998), com primeira
edição em 1990, livro que tornou o método, suas técnicas e procedimentos populares na
comunidade acadêmica.
Apesar das divergências, a Grounded Theory é um método científico que utiliza um
conjunto de procedimentos sistemáticos de coleta e análise dos dados para gerar, elaborar e
validar teorias substantivas sobre fenômenos essencialmente sociais, ou processos sociais
abrangentes. Entende-se por teoria “um conjunto de categorias (conceitos) que estão
sistematicamente inter-relacionadas através de sentenças de relacionamento [proposições]
para formar o esquema teórico que explica um fenômeno social” (STRAUSS; CORBIN,
1998, p. 22).
A diferença entre a teoria formal e a teoria substantiva é que, enquanto a primeira é
mais geral e aplica-se a um espectro maior de disciplinas e problemas, a segunda é específica
para determinado grupo ou situação e não visa generalizar além da sua área substantiva.
A essência do método da Grounded Theory é que a teoria substantiva emerge dos
dados, ou seja, é uma teoria fundamentada em uma análise sistemática dos dados. Para Strauss
e Corbin (1998), a teoria formulada pelo método deve apresentar as seguintes caracterís ticas:
a) coerência entre os dados e resultados; b) compreensão pelo envolvidos; c) generalização
suficiente para que variações da ocorrência do fenômeno sejam consideradas; e d) controle na
previsão das ações dos envolvidos. Ademais, deve ser coerente com a realidade da área
especificada para o estudo e, como conseqüência, fornecer sentido para que seja
compreendida pelos sujeitos envolvidos e por outros pesquisadores.
“Se não existe teoria, ou a teoria existente não explica adequadamente o fenômeno,
hipóteses não podem ser definidas para estruturar uma investigação [no sentido positivista de
pesquisa]. [Então...] o pesquisador, no estudo de caso, coleta quantas informações forem
necessárias sobre o problema com a intenção de analisar, interpretar ou teorizar sobre o
fenômeno” (MERRIAM, 1998, p. 38). Portanto, as teorias substantivas são especialmente
importantes quando a ocorrência de um fenômeno social, em uma área específica, é
insuficientemente explicada pelas teorias gerais.
Apesar de existir um conjunto sistemático de procedimentos, a criatividade do
pesquisador é muito importante para a análise dos dados. Glaser (1978) chamou de
sensibilidade teórica a criatividade do pesquisador na identificação, construção e medição dos
conceitos que compõem a teoria. Ou seja, a sensibilidade teórica refere-se à habilidade de dar
significado aos dados, à capacidade para entender e à capacidade para separar o que é
pertinente do que não é para a pesquisa. A sensibilidade teórica é desenvolvida a partir do
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conhecimento científico acumulado pelo pesquisador, de sua experiência profissional e


pessoal (STRAUSS; CORBIN, 1998).
No entanto, o método, como proposto por Strauss e Corbin (1998), deve utilizar as
técnicas e procedimentos, para atenuar os preconceitos do pesquisador no processo
interpretativo. O pesquisador deve dar sentido aos dados, através de comparações entre os
dados e um elenco de possibilidades de significados, fruto de sua sensibilidade teórica. As
comparações evitam distorções e atenuam a imposição de preconceitos do pesquisador na
interpretação dos dados (forcing). Em suma, as técnicas de comparações utilizam o
conhecimento do pesquisador para descobrir o que não está revelado nos dados.
As questões de pesquisa são abertas e gerais e não são formalizadas a priori na forma
de hipóteses específicas e fechadas. Geralmente originam-se em um problema de interesse do
pesquisador, o qual delimita inicialmente uma área substantiva para estudo. Por exemplo, o
relacionamento estratégico entre empresas e ambiente pode ser particularmente digno de
investigação em uma área substantiva caracterizada pela presença de turbulência ambiental e
pela forte influência governamental, como é o caso de pequenas construtoras de edificações.
Ou ainda, a explicação de como grandes empresas mantêm retornos superiores ao longo do
tempo, apesar das adversidades econômicas e instabilidades institucionais a que foram
submetidas durante sua existência atuando no Brasil. É importante ressaltar que o problema
inicial de interesse do pesquisador deve servir como ponto de partida, contudo, o fenômeno
que explica a ação organizacional, ou o processo social identificado nos dados, somente é
revelado ao longo da emergência da teoria.
A coleta dos dados, a análise, a formulação e a validação da teoria são tratadas como
sendo reciprocamente relacionadas, em um processo indutivo de interpretação e em um
processo de dedução e validação de proposições. Haig (1995) denominou esse processo de
inferencialismo explanatório abdutivo. Contudo, a dedução é teórica e não lógica e a
validação é empírica e não estatística (GLASER, 1992).
Com relação às fontes de dados, Glaser (1992) considera que todos os dados possíveis
de serem obtidos, tanto subjetivos como objetivos, são passíveis de análise pela Grounded
Theory. Para o autor é possível construir teoria substantiva tanto sobre dados qualitativos
como quantitativos desde que se submetam ao crivo da relevância para o fenômeno e não
sejam admitidos como verdade simplemente por terem sido coletados por um instrumento de
coleta fundamentado na literatura existente. Na realidade, como será tratado posteriormente,
aconselham-se que multiplas fontes de dados sejam utilizadas para aumentar a confiabilidade
dos resultados. Típicas tecnicas de coleta de dados são entrevistas semi e não-estruturadas,
que consigam captar a versão dos envolvidos, notas de campo fruto da observação do
pesquisador e fontes secundárias, tais como documentos, gravações de áudio e vídeo e dados
quantitativos.
A análise dos dados consiste em uma fase central na Grounded Theory, visto que a
teoria emerge dos dados. Strauss e Corbin (1998) ressaltam duas tarefas fundamentais que o
pesquisador deve fazer nas análises: elaborar questionamentos sobre os possíveis significados
e fazer comparações.
Há dois tipos de comparação: teóricas e incidente–incidente. As comparações teóricas
são feitas no início das análises ou sempre que algo novo surgir nos dados. Têm essa
denominação, pois contribuem na identificação de categorias conceituais, suas propriedades e
dimensões. É nessa hora que o pesquisador exerce sua sensibilidade teórica e utiliza seu
conhecimento para interpretar, da forma mais isenta possível, o significado dos dados.
Especificamente, a utilização de figuras de linguagem, como as comparações e as me táforas, é
fundamental, pois ressalta propriedades conhecidas e compara-as com as características dos
dados. As comparações teóricas são predominantes durante os exercícios de microanálise dos
dados nas fases iniciais.
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Já as comparações incidente–incidente são feitas somente quando já existem possíveis


categorias definidas em suas propriedades e dimensões. Elas avaliam se um dado novo, ou
citação, tem as mesmas propriedades de alguma categoria já identificada. Em caso afirmativo,
o dado novo torna-se associado a essa categoria, o que aumenta sua fundamentação empírica.
Nesse processo, a atenção do pesquisador é guiada pela amostragem teórica. As
unidades amostrais são representadas por trechos das entrevistas ou observações selecionadas
pelo pesquisador visando melhorar o poder explicativo da teoria que está sendo construída
(STRAUSS; CORBIN, 1998).
A codificação é a parte central da análise dos dados. O processo de codificação pode
ser divido em três fases: codificação aberta, axial e seletiva. A codificação aberta envolve a
quebra, a análise, a comparação, a conceituação e a categorização dos dados. Na codificação
aberta, são descobertas propriedades e dimensões das categorias, e os incidentes ou eventos
são agrupados em códigos (ou construtos ou conceitos) através da comparação incidente–
incidente. A intenção é realizar amostragens teóricas suficientes e ter as evidências
necessárias para formar uma categoria conceitual fundamentada nos dados.
Os códigos podem ser classificados em categorias — que representam um fenômeno
— ou subcategorias associadas, tais como condições de ocorrência do fenômeno, ações e
conseqüências. Os códigos gerados podem ainda ser classificados em:
códigos de primeira ordem, diretamente associados às citações; e
códigos abstratos ou teóricos, associados a outros códigos, sem necessariamente estarem
ligados a alguma citação.
Após a identificação de categorias conceituais pela codificação aberta, a codificação
axial examina as relações entre categorias e subcategorias. Explicitam-se caus as e efeitos,
condições intervenientes e estratégias de ação, em proposições que devem ser testadas
novamente nos dados (STRAUSS e CORBIN, 1998).
Finalmente, a codificação seletiva refina todo o processo identificando a categoria
central da teoria, com a qual todas as outras estão relacionadas. A categoria central deve ser
capaz de integrar todas as outras categorias e expressar a essência do processo social que
ocorre entre os envolvidos. Ainda na codificação seletiva, categorias mal formuladas são
revistas, e falhas na lógica da teoria são resolvidas. A figura abaixo ilustra esquematicamente
uma proposta do processo de codificação e análise.

COD. ABERTA COD. AXIAL COD. SELETIVA

MICROANÁLISE AMOSTRAGEM IDENT. DE


TESTE DE
TEÓRICA CATEGORIAS
(MEMOS “TEMA”) REFINAMENTO
(COMP. INCIDENTE- PROPOSIÇÕES
MICROANÁLISE DA TEORIA SATURAÇÃO
INCIDENTE)
TEÓRICA
(COMP. TEÓRICAS)

AMOSTRAGEM
AMOSTRAGEM TEÓRICA
MICROANÁLISE TEÓRICA

(QUEBRA DOS DADOS)

DADOS

Figura 1 - Ilustração do Processo de Coleta e Análise

O ciclo ilustrado pela figura acima contina até que ganhos marginais no poder
explicativo da teoria, para mais evidências coletadas, seja aproximadamente nulo. Quando
isso acontece, atinge-se a saturação teórica das categorias (GLASER, 1992; STRAUSS;
CORBIN, 1998). A saturação teórica deve ser entend ida como uma “utopia estimulante”. É
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uma meta que o pesquisador deve perseguir. No limite de seus esforços e dos dados
disponíveis nenhum novo dado deve gerar novas descobertas, e deve estar associado às
categorias existentes.

3. COLETANDO E ANALISANDO DADOS

Nesta seção, mostram-se sugestões de procedimentos e técnicas para coletar e analisar


os dados no método da Grounded Theory. Na medida do possível, são apresentados exemplos
de uma pesquisa conduzida pelos autores sobre adaptação estratégica de peque nas empresas a
ambientes turbulentos e com forte influência governamental.
É extremamente recomendável a utilização de um software para apoio às
interpretações e organização documental. Dentre os softwares existentes, o ATLAS/ti é uma
alternativa viável para o desenvolvimento de Grounded Theory, visto que foi elaborado
principalmente para essa finalidade. A seção seguinte descreve as principais características do
software, importantes para o entendimento dos procedimentos sugeridos neste artigo 1 .

3.1 Os elementos do software ATLAS/ti

O software ATLAS/ti, desenvolvido pela Scientific Software Development, foi criado,


principalmente, visando à construção de teorias. O software permite a auditoria, pelos leitores,
necessária para verificar a validade e confiabilidade dos resultados. A auditoria é possível por
meio da análise de dois relatórios gerados pelo ATLAS/ti. O primeiro mostra o histórico do
processo de análise e de codificação, através da listagem, por ordem de data de criação de
todos os elementos que culminaram com a versão final da teoria substantiva. O segundo
relatório, mais denso, contém a descrição e comentários dos elementos da teoria,
principalmente comentários de códigos e as notas de análise na íntegra. A figura abaixo
apresenta os principais elementos (objects) do ATLAS/ti, cuja compreensão é necessária para
o entendimento dos relatórios gerados.

ELEMENTOS DESCRIÇÃO
Unidade hermenêutica
Reúne todos os dados e os demais elementos.
(Hermeneutic unit)
Documentos primários São os dados primários coletados. Em geral, são transcrições de entrevistas e notas
(Primary documents) de campo e de checagem. São denominados de Px, onde x é o número de ordem.
Trechos relevantes das entrevistas que geralmente estão ligados a um código. Sua
Citações referência é formada pelo número do documento primário onde está localizada,
(Quotes) seguido do seu número de ordem dentro do documento. Também constam da
referência as linhas inicial e final.
São os conceitos gerados pelas interpretações do pesquisador. Podem estar
associados a uma citação ou a outros códigos. São indexados pelo nome.
Códigos Apresentam dois números na referência. O primeiro se refere ao número de citações
(Codes) ligadas a ele; e o segundo, ao número de códigos. Os dois números representam,
respectivamente, o grau de fundamentação (groundedness) e o de densidade
(density) do código.
Notas de análise Descrevem o histórico da interpretação do pesquisador e os resultados das
(Memos) codificações até a elaboração final da teoria.
São os elementos mais poderosos para exposição da teoria. São representações
Esquemas
gráficas das associações entre os códigos (categorias e subcategorias). O tipo das
(Netview)
relações entre os códigos é representado por símbolos.
Comentário Todos os elementos podem e devem ser comentados, principalmente os códigos,
(Comment) fornecendo informações sobre seu significado.
Figura 2 - Principais Elementos do ATLAS/ti
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Os símbolos contidos nos esquemas, que representam as relações entre os códigos, ou


o que Glaser (1992) denomina de conectores, podem ser definidos pelo pesquisador. Em
Glaser (1978) são apresentados 18 tipos diferentes de conectores que representam as relações
entre as categorias, possibilitando a construção das hipóteses. Já em Strauss e Corbin (1998),
a relação é simplificada, e formam os que os autores denominam de paradigma: condições
causais, intervenientes conseqüências e ações. Uma sugestão de conectores, e suas
represetnações gráficas nos esquemas, estão na figura abaixo

SIMBOLOS DESCRIÇÃO DAS RELAÇÕES


Ph O código-origem é a categoria principal do fenômeno estudado.

*} O código-origem é propriedade da categoria (código-destino)


O código-origem é um tipo, ou forma, do código-destino encontrada nos dados, e possui um
Isa padrão determinado de variação dimensional ao longo das propriedades da categoria
(código destino)
=> O código-origem (condição causal), quando presente, causa a ocorrência do código-destino.
O código-origem (condição interveniente), quando presente, modifica a ação da condição
=>!
causal.
[] O código-origem é uma parte, que compõe juntamente com outras partes o código destino.
Figura 3 - Símbolos Representantes dos Relacionamentos entre os Códigos no Atlas/ti

A figura abaixo apresenta um exemplo de um esquema teórico que mostra os


relacionamentos das categorias principais de uma teoria substantiva. A categoria central foi
denominada de “coping” e conta com 25 citações ligadas a ela e com 13 códigos. Os demais
códigos são todos de ordem superior, ou códigos abstratos, pois não possuem citações ligadas
à eles, mas estão relacionados com outros códigos. Essa relação é importante para uma teoria,
visto que confere parcimônia, na medida em que poucos códigos abstratos relacionam-se a
vários códigos fundamentados nos dados.

Figura 4 – Exemplo de um esquema teórico no ATLAS/ti


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Além dos esquemas, outro elemento fundamental para a construção e posterior


avaliação da teoria substantiva são as notas de análise (memos). Nelas, o pesquisador deve
registrar seu raciocínio, insights, resultados das comparações, ou seja, deve registrar o
caminho seguido pelas interpretações e integração entre os códigos. As notas de análise são o
principal instrumento para futuras auditorias no processo de pesquisa utilizado e por isso o
pesquisador deve ser claro, e ter em mente que outras pessoas ao lerem seus apontamentos
devem ser capazes de seguir o mesmo caminho trilhado. É útil que o pesquisador crie uma
nota especificamente para registrar o roteiro seguido e esquematize graficamente a ordem em
que as principais notas foram criadas.
Uma sugestão para organização das notas criadas é classificá-las de acordo com sua
finalidade: MA: microanálise, OC: codificação aberta, AC: codificação axial, SC: codificação
seletiva e AT: amostragem teórica. As no tas podem ter mais de uma classificação e são
comuns notas em que são registradas microanálises e amostragem teóricas a serem feitas. A
seções seguintes descrevem como as notas podem ser usadas no processo de codificação.

3.2 Roteiro de codificação sugerido

Para operacionalizar o processo de codificação, sugere-se aqui um roteiro que se inicia


na tarefa de rotular (labeling) os códigos criados e finaliza com a integração da teoria em
torno da categoria central, aquela que representa o fenômeno explicado. Apesar de serem
apresentadas de forma linear, as etapas do processo se sobrepöem e o fluxo admite a
circularidade e, por isso, devem ser melhor compreendidas como tarefas do pesquisador e não
como etapas de um processo linear.

3.2.1 Codificando e rotulando

Antes de inciar o processo de codificação, o pesquisador deve eleger uma entrevista,


ou outro tipo documento primário, que julgue como a mais completa, para que sirva de fonte
inicial de exploração do dados.
À medida que a entrevista vai sendo lida, o pesquisador cria os códigos e atribuir
nomes às citações importantes, objetos e eventos. Esse processo exige uma boa dose de
criatividade e capacidade de abstração, visto que o rótulo do código deve significar uma idéia
ou conceito que permita ser utilizado em outros casos. O processo de conceitualização é uma
abstração que remete o pesquisador do nível dos dados específicos do caso para o nível dos
conceitos. A figura abaixo mostra exemplos de citações para o código “alta dependência do
mercado”.

Figura 5 – Exemplo de codificação


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Para manter um nível de objetividade na classificação, é interessante que todos os


códigos sejam comentados, ressaltando-se as características da idéia que ele representa bem
como os critérios que fazem de uma citação candidata a ser ligada a ele.
Com relação ao rótulo, três aspectos devem ser observados. Um é a possibilidade,
sempre que possível, de associar um adjetivo para facilitar posterior dimensionalização. O
segundo aspecto diz respeito a utilização de nomes gerais e não específicos do caso; a exceção
é a utilização de códigos in vivo fornecidos pelo próprio entrevistado. Finalmente, o rótulo
utilizado deve dizer respeito ao tema ou idéia que a citação representa ou está associado. Este
último aspecto é particularmente importante para que se possa apresentar a técnica de
construção de uma rede de notas de análise organizada por temas afins, que é desenvolvida
durante a microanálise dos dados.

3.2.2 Desdobrando os dados: A microanálise

A técnica de microanálise dos dados é fundamental para a construção da teoria. Nele,


o pesquisador exercita sua sensibilidade teórica e é deparado com as várias possibilidades de
interpretação que os dados revelam. É o ponto de partida da codificação e fornece insights
tanto sobre possíveis categorias como sobre seu inter-relacionamento.
A técnica de microanálise utiliza os procedimentos básicos de comparações teóricas e
questionamentos. Fornece uma boa forma de sensibilizar o pesquisador e abrir (unpack) os
dados na busca de possíveis interpretações e classificações, diminuindo a distorção ou bias
introduzido pelo pesquisador.
Esse processo auxilia e orienta as codificações expostas na seção anterior. É
importante salientar que as atividades de codificação são resultantes, na maiora das vezes, da
técnica de microanálise. Dessa forma, evita-se a crítica de Glaser (1992) sobre o
superdimensionamento da codificação proposta por Strauss e Corbin (1998).
Na realidade, após ler uma palavra, ou passagem ou idéia do texto, pode-se fazer uma
microanálise para ela (e ligar a citação a nota do tipo MA). A figura abaixo, que amplia a
Figura 5, mostra as citações originaram a nota de microanálise denominada “alterações
ambientais dos planos econômicos”, que por sua vez, orientou a codificação e o rótulo de
“alta dependência do mercado” e de outros códigos associados ao tema da nota.

Figura 6 – Microanálise e a construção da rede de notas de análise


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A figura 6 também mostra o relacionamentos entre as notas de microanálise. Isso


permite que sejam construídos esquemas que relacionem as notas em torno de temas e
subtemas. Essa técnica permite que o pesquisador mantenha sinteticamente suas idéias, de
forma ordenada, ao mesmo tempo que mantém os códigos criados relacionados entre si. É
importante lembrar que, nas fases iniciais, o pesquisador não tem condições de identificar
sobre qual fenômeno os dados estão se referindo e por isso, manter uma rede de notas
relacionadas auxilia a emergência da teoria e a sensibilidade teórica do pesquisador.
Durante as microanálises uma série de questionamentos sobre o que está por trás da
citação são feitos, podendo, assim revelar possíveis fenômenos, ou seja, categorias
conceituais, suas propriedades e dimensões. A figura a seguir mostra exemplos de notas de
microanálise.

EXEMPLOS DE NOTAS DE MICROANÁLISE


NOTA 1
MICROANÁLISE PARA O IN VIVO CODE "CAIXA PRETA"

O que o entrevistado B quis dizer com "caixa preta" quando se referiu a como o cliente percebe o tipo de
operação da construção civil? Fazendo uma comparação “close-in” e aproveitando a metáfora do próprio
entrevistado, quais são as características da caixa preta de um avião? 1. Algo que não se conhece o conteúdo
apriori, inviolável (incerteza). 2. Depois de aberto revela muitas coisas (surpresa). 3. Quando é aberto, o desastre
já aconteceu (prejuízo).
Uma caixa preta deve revelar surpresas, nada que se conhece apriori, e cuja revelação só se conhece após o
desastre. No caso da aquisição do imóvel, o cliente se depara com uma caixa preta, com as proriedades listadas
acima. Do ponto de vista do cliente:

O que pode ser surpresa?


1. Turbulências na economia, em virtude das influências do Governo e seus planos econômicos (histórico dessa
turbulência). 2. Uma proposta orçamentária e de produtoque não condiza com a realidade 3. Regimes de
construção fundamentados em contratos mal feitos, que não prevêm todos os desembolsos.

O que pode ser incerteza?


1. incertezas quanto à idoneidade da construtora 2. falta de informações acerca da economia. 3. longa duração do
prazo de construção 4. incertezas quanto à sua própria capacidade financeira (do cliente) 5. longo prazo de
financiamento 6. falta de experiência própria, virtude de que compram apenas um imóvel durante a vida.

O que pode ser prejuízo?


1. atrasos no cronograma 2. chamadas de capital não previstas 3. aumento dos indices de correção 4. problemas
de financiamento e hipoteca das unidades para o banco.

NOTA 2
ANÁLISES DAS DIMENSÕES DA BUROCRACIA E SUA MUDANÇA DE "NAQUELE TEMPO" E
"HOJE"

Este memo fala da burocracia, especificamente para liberação de empréstimos. A burocracia, "naquele tempo"
era menor, quando ele B1 dizia "bastava". Hoje não basta mais somente um bom projeto.
Fazendo comparações “close-in” sobre o processo de liberação de financiamentos, posso analisar o processo de
liberação de crediário de uma loja, que possui as seguintes propriedades: 1. volume de informações solicitadas 2.
tipo de garantia exigida 3. nível do risco assumido pelo credor que se reflete na taxa de juros 4. tempo para
liberação 5. proximidade da decisão de quem libera 6. volume liberado.
Essas propriedades devem guiar minhas amostragens.
Figura 7 – Exemplo de notas de microanálise

As comparações feitas na microanálise permitem que o conhecimento prévio do


pesquisador possa ser utilizado nas análises de forma segura. Isso porque todos os insights
sobre possíveis categoria e propriedades são mantidos provisórios até que sejam validados nos
dados, com está descrito a seguir.
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3.2.3 Descobrindo e validando categorias e suas relações

A Identificação de categorias é basicamente uma redução conceitual. Isso significa


definir um código como categoria, e identificar as propriedades que a definem, e partir para
identificação de incidentes ou ocorrências da categoria nos dados.
Os exercícios de microanálise devidamente registrados e organizados na rede de notas
de análise proporcionam a sensibilidade teórica necessária para iniciar o processo de redução
e identificação das categorias. Os códigos existentes até o momento, e ligados a um memo
tema, podem vir a ser a própria categoria, ou um elemento contextual, ou estratégias ou ainda
manifestações das propriedades.
Nas notas de análise referentes a codição aberta (OC), a categoria é definida em suas
propriedades e dimensões, as quais¸ em seguida, são va lidadas em função da sua ocorrência
nos dados. É importante lembrar que as propriedades são códigos abstratos, na maioria das
vezes, para permitir validação em outros casos e aumentar a capacidade de modificação da
teoria.
O pesquisador deve procura por incidentes ou padrões de ocorrência da categoria nos
dados. É o retorno aos dados sendo orientado pela amostragem teórica para as comparações
incidente-incidente. Cada incidente deve ser agrupado ao longo das dimensões de cada
propriedade para fins de classificação. O resultado é uma categoria com propriedades bem
definidas e padrões de ocorrência efetivamente encontrados nos dados. Esse processo garante
fundamentação empírica e parcimônia na explicação do fenômeno que representa a categoria.
A figura a seguir ilustra o processo.

DESCOBRINDO E VALIDANDO PROPIEDADES DE RISCO PERCEBIDO PELO MERCADO


Tal como exposto no memo -tema ligado a este, o nível de risco percebido deve ser investigado para os três
atores: clientes, construtoras e instituições financeiras. Acredito que o fenômeno de percepção do risco pelo
cliente tem como consequencias, ações no mercado, que são condições contextuais para determinar a postura das
empresas em administrar o risco (coping with risk).
Quais as propriedades e dimensões do fenômeno de percepção do risco pelo cliente? Comparando “close-in”,
como nós percebemos através dos nossos sentidos e atribuimos significado? 1. experiência passada 2. valores
praticados no meio social em que vivemos 3. informações de outras pessoas que nos tornam predispostos 4. tipo
de canal sensorial 5. velocidade de resgate da memória sobre o significado do percepto mental.
No caso dos dados da entrevista B1, quais as propriedades e dimensões que podem ser inferidas que
caracterizam padrões ou tipos de percepções? Buscando focalizar no fenômeno administração do risco, tenho
interesse em saber quais condições são favoráveis ou não para o negócio das construtoras. Logo os tipos "is a"
interessantes para a minha teoria podem ser: 1. favorável 2. desfavorável. Mas, favorável a ter mais retorno com
menos risco? Acho melhor rever essas tipificações. Que tal: mercado confiante ou mercado cético? Devo
retornar aos dados para ver o ocntexto de cada código referente aos clientes.
Nesse raciocínio a pergunta deveria ser: O que SIGNIFICA uma percepção favorável (alta ou baixo o
que?)....depois categorizando para o paradigma devo identificar sob que condições, quais estratégias e
consequencias ocorrem determinados tipos de percepção.
Enfim, retornando a pergunta, as propriedades podem ser (provisoriamente): 1. características do regime de
construção quanto a parcela do risco da operação que é incorrido pelo cliente. 2. aversão ao financiamento 3.
valor da imagem da marca da empresa 4. valor do conhecimento pessoal dos donos da
Empresa 5. imagem das indústria devido a atuação das suas firmas (idôneas ou não) 6. desconfiança quanto à
segurança do empreendimento que se manifesta na resistência em adquirir o imóvel na planta.
Organizando analiticamente:
------------------
Regime (REG)
CONCEITO: a parcela de risco da operação que o cliente está disposto a incorrer devido às características do
regime de execução do produto.
ALTO (+): está disposto a incorrer em grande parte do risco.
BAIXO(-): não se dispõe a incorrer em grandes riscos na operação de compra de um imóvel.
------------------
Financiamento (FIN)
CONCEITO: a disposição do cliente em participar de financiamentos bancários.
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DESCOBRINDO E VALIDANDO PROPIEDADES DE RISCO PERCEBIDO PELO MERCADO


ALTO (+): está disposto a participar como mutuário em um financiamento bancário.
BAIXO (-): não está disposto a participar como mutuário em financiamento bancário e prefere ser devedor da
direto com a construtora.
---------------------
Imagem (IMAG)
CONCEITO: quanto que o cliente valoriza a imagem da marca da empresa, sem necessariamenteconhecer os
donos, na transação com uma empresa.
ALTO (+): o cliente valoriza a imagem da empresa
BAIXO (-): o cliente não valoriza a imagem da empresa
-----------------------
"Endereço" (END)
CONCEITO: aproveitando um "in vivo code" em D1, refer-se ao valor dado pelo cliente sobre o conhecimento
pessoal da empresa e seus donos.
ALTO (+): o conhecimento dos donos da empresa ("o cliente sabe que tem endereço") é importante.
BAIXO (-): o conhecimento pessoal da origem da empresa não é importante.
------------------------
Cronograma (CRON)
CONCEITO: refere-se a quando o cliente decide adquirir o produto, ou seja, em que fase do cronograma: p.exe.
na planta, estrutura ou acabamento.
ALTO (+): o cliente está disposto a adquirir o imóvel somente nas fases mais adiantadas na obra, sendo
resistente a vandas na "planta"
BAIXO (-): O cliente está disposto a adquirir o imóvel nas fases iniciais, sendo a venda "na planta" facilmente
concretizada pela empresa.
------------------------

Essas propriedades me ajudarão a responder as questões colocadas no memo MA: nível de risco percebido, que
abordam as situações em quando que a imagem, indoneidade e tipo de regimes de construção são valorizados ou
não pelos clientes. Isso tudo me ajudará a explicar o fenômeno da administração do risco. Agora neste mesmo
memo irei validar as propriedades. Em B1, codificarei para o código "percepção do risco pelo cliente" e depois,
como fiz para C, buscarei criar os tipos "is a" e dar a fundamentação empírica (groundedness) devido.

DESCOBRINDO TIPO "IS A": COMPARAÇÕES INCIDENTE-INCIDENTE

Antes de identificar tipos "is a" algumas observações:


1. IMAG não teve nenhuma menção direta, e dado que não quis fazer muitas inferências, mas me ater a citação,
decidi não apontá-la. Contudo, neste momento vou deixar, pois sei que nas outras entrevistas vou ter evidências
para ela. Acredito que ela terá dimensão alta para a percepção mercado cético associada com baixo END.
2. Em processo semelhante para C, às vezes não há menção direta para a propriedade na citação, mas faço a
inferencia apoiado na análise do contexto da citação. Basta ver e conferir.
--------------
Grupo: mercado confiante
Divisões: absorvedor
Características:
Esta forma de perceber o risco significa que os clientes estão dispostos a incorporar uma parcela significativa do
risco da operação quando aceitam ser condôminos ou, em um grau menor, cotistas em incorporações a preço de
custo. Observando o contexto das citações, observa-se facilmente que o endereço da firma importa e que, devido
às características deste tipo de obra, os clientes adquirem o imóvel no projeto ainda, ou em fases inciais.
Citações em B1:
REF REG FIN IMAG END CRON OBSERV/CONTEXTO
164 + + - planel e o cond fechado
171 + + - explica o cond fech e inc a preço custo
155 + + - planel desmoraliza mecado de cond fech
169 + + - problemas do cond fech- villa adriana pos-encol
170 +- +- + - inc a prec de custo é um REG menor que cond fech
----------------
Grupo: mecado confiante
Divisão: devedor
Características:
Nesta situação, o mercado (agregação dos clientes) não es tá disposto a incorrer com uma parcela significativa
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DESCOBRINDO E VALIDANDO PROPIEDADES DE RISCO PERCEBIDO PELO MERCADO


dos riscos da incorporação. Neste caso o risco da incorporação fica para a PCE. A percepção quanto ao
financiamento bancário também é positiva, bem como a confiança nas empresas, refletindo-se na fácil
comercialização dos imóveis em fases iniciais do cronograma. A importância do endereço da empresa é
facilmente inferida, devido a pessoalização do mercado. Apesar de não incorrer nos riscos da incorporação,
havia os riscos do financiamento, que no contexto que isso ocorreu, era mínimo.

Citações em B1:
REF REG FIN IMAG END CRON OBSERV/CONTEXTO
163 - + + - o pedro vendia rapido antes do cruzado
162 - + - compra para investimento antigamente
158 + - merado pessoal e comprador
168 - + + - compra para investir em 80
010 - + + - idem
154 - + + - mercado pessoal, vendas fáceis pelo Pedro
160 - + + - naquele tempo, venda na planta coma pastinha
166 - + cliente quer o máximo de fin bancário
165 - + idem
026 - + + - vendia na planta pois havia confiança
-----------------
Grupo: mercado cético
Divisões:
Características:
Neste tipo de percepção do risco o mercado não está disposto a assumir o risco da incorporação nem está
disposto a assumir financiamento bancário. A aquisição do imóvel ocorre nas fases mais adiantadas do
cronograma.
Citações em B1:
REF REG FIN IMAG END CRON OBSERV/CONTEXTO
156 - - cliente quer financ direto hoje
167 - - + - + oprotunistas e aventureiros estragam o mercado
172 - - + hoje, cliente quer financ direto
157 - - cliente não quer financiamento de banco
086 - + cliente não compra a custo, volta ao inc prec fech
Figura 8 – Exemplo de identificação e validação de categorias

Nota-se que as propriedades que não encontraram fundamentação empírica foram


desprezadas. Os padrões encontrados compartilham dos mesmos valores ao longo das
dimensões das propriedades. Qualquer novo dado ou incidente pode ser comparado com as
propriedades e dimensões da categoria. Dessa forma, a teoria consegue modificar-se para
incorporar nova variações na ocorrência da categoria ou, em caso contrário, aumentar a
fundamentação empírica e a saturação teórica da mesma.
Com relação à identificação e à validação das relações entre categorias, o pesquisador,
nesse ponto da análise, já está envolvido com os dados e dispõem de material suficiente para
estebelecer hipóteses provisórias. Em outras palavras, o pesquisador, quando executando os
exercícios de sensibilização, por meio dos questionamentos e das comparações feitas ainda
nas fases inciais, nas notas de microanálises, deve voltar a atenção para os possíveis
relacionamentos. Sugere-se, portanto, que as notas de análise da rede de temas sejam revistas.
É importante que as relações, não somente as categorias sejam validadas. Para isso, a
amostragem teórica deve orientar o processo. O ATLAS/ti possui uma ferramenta query que
possibilita a localização no texto dos códigos hipoteticamente relacionados. Sugere-se que as
notas de análise da codificação axial (AC) que descrevam os relacionamentos estejam ligadas
às citações que as fornecem a devida fundamentação empírica.
Analiticamente, os relacionamentos entre categorias devem ocorrer ao longo de suas
propriedades e dimensões. Por exemplo, na figura 8 pode-se supor que quando os clientes
estão céticos as empresas adotam a estratégia A. Nesse caso, o significado de clientes céticos
e da estratégia A devem estar definidos pela variação dimensional que cada um representa nas
14

categorias respectivas, ou seja, percepção do risco pelo mercado e estratégias da empresa. É


importante ter em mente que o foco da análise é no fenômeno, ou no caso da estratégia, como
as empresas lidam com determinadas situações ou quando determinadas estratégias são mais
adequadas, por exemplo.
Quando o pesquisador conta com categorias identificadas e relacionadas entre sí, o seu
conhecimento sobre o fenômeno já permite que o mesmo faça insights sobre de que tratam os
dados. Essa tarefa é central na codificação seletiva.

3.2.4 Integrando e refinando a teoria

Geralmente, após uma grande parte dos dados tenham sido codificados, e as relações
entre as categorias identificadas, o pesquisador tem condições de inferir sobre qual é a
categoria central que consegue integrar todas as outras categorias identificadas em um
esquema teórico principal, como o exposto na figura 1.
Durante este processo, central na codificação seletiva, busca-se por proposições sem a
validação adequada até que se atinja o ponto da saturação teórica. Exige um grande esforço de
integração e recuperação das informações. A integração da teoria ocorre da seguinte maneira:
a) descobre-se a categoria central, ou seja, sobre o que a pesquisa trata, usando as
técnicas da redação da estória ou revisando as notas e os diagramas (STRAUSS;
CORBIN, 1998). A idéia é que o esquema teórico principal seja abstrato suficiente
e simples (reduzido) que abranja toda a variação do fenômeno, explicado nas
proposições;
b) a categoria central deve também ser difinida em termos de suas propriedades e
dimensões, relacionando com as demais categorias;
c) refina-se a teoria, buscando por incoerências lógicas ou por proposições sem
fundamentação empírica ou densidade;
d) valida-se a teoria utilizando as técnicas propostas na figura 11.

4. RIGOR E FUNDAMENTAÇÃO EMPÍRICA DA TEORIA

Pode-se questionar se o método da Grounded Theory produz realmente uma boa


ciência. Strauss e Corbin (1998) alertam que os cânones de uma boa ciência não devem ser
interpretados à luz de uma visão positivista, mas repensados em uma base fenomenológica. A
figura abaixo compara as interpretações dos cânones validade interna, confiabilidade e
validade externa interpretados para o método da Grounded Theory.

CÂNONES VISÃO POSITIVISTA GROUNDED THEORY


A realidade é socialmente construída através da
É o grau de ajustamento (fit),
VALIDADE percepção dos indivíduos. O pesquisador deve
ou coerência, da teoria com a
INTERNA identificar a realidade observada a partir dos dados
realidade.
coletados.
Impossibilidade de recriar experimentos controlados
Quando os resultados de um
nos contextos organizacionais. O comportamento
experimento são alcançados
CONFIABILIDADE humano não é regido por leis universais que geram
em outras tentativas, dado que
(Replicabilidade) resultados iguais. A confiabilidade é o grau de
existe uma única realidade, são
consistência entre os resultados do estudo e os dados
considerados mais válidos.
coletados.
A proposta da Grounded Theory é especificar as
Refere-se à medida na qual os condições em que ocorrem, em geral, determinados
VALIDADE
resultados podem ser aplicados eventos, e suas conseqüências. Quanto maior as
EXTERNA
a outros contextos (inferidos variações incorporadas nos dados, mais diferentes são
(Generalização)
para populações). as condições contempladas e mais geral é a teoria
substantiva.
Figura 9 - Como a Grounded Theory Interpreta os Cânones da Ciência
Fonte: Adaptado de Merriam (1998) e Strauss e Corbin (1998)
15

Uma teoria substantiva deve conter categorias fiéis à realidade dos entrevistados e
deve estar livre de pressuposições do pesquisador (forcing), o que lhe fornece validade e
confiabilidade. Seu grau de generalização deve ser entendido como poder explicativo, ou seja,
a capacidade de prever as estratégias em função da presença de condições causais e
intervenientes.
Para avaliar uma teoria substantiva, Glaser (1992) propõem 4 critétios: grau de ajuste
à realidade (fit), relevância para o envolvidos, controle na predição de suas ações e capacidade
de permitir modificações. Sugere-se aqui, os cirtérios propostos por Kerlin (1997), adaptados
de Sherman e Webb (1988), para avaliar a qualidade de uma teoria substantiva. A descrição e
contribuição para a qualidade da teoria de cada critério encontram-se na figura a seguir.

CRITÉRIOS DESCRIÇÃO CONTRIBUIÇÃO


As categorias da teoria devem ser derivadas Confere credibilidade à teoria e permite que
Grau de coerência
dos dados e não de preconceitos do seja entendida por terceiros que não
(fit)
pesquisador. participaram do estudo.
A teoria deve explicar as variações
Uma teoria substantiva funcional deve ser
encontradas nos dados e as inter-relações dos
Funcionalidade entendida como uma teoria útil para os
construtos, de forma a fornecer capacidade
envolvidos.
preditiva acerca do fenômeno explicado.
A teoria deve emergir fruto da sensibilidade
A relevância é verificada pelo
teórica do pesquisador, que deve ser capaz
Relevância reconhecimento imediato do significado da
de identificar a categoria central, mais
categoria central pelos envolvidos.
relevante para explicar o fenômeno.
A teoria deve ser passível de modificação,
Uma teoria substantiva deve estar aberta
permitindo que novos casos a enriqueçam
Flexibilidade para o aprimoramento da sua capacidade de
com a introdução de novas propriedades e
generalização.
categorias.
A teoria deve possuir poucos elementos-
A densidade confere maior validade aos
Densidade chave e um grande número de propriedades e
construtos da teoria.
categorias relacionadas.
Todos os construtos devem estar
relacionados a uma categoria central e A integração evita a existência de falhas na
Integração
expressos em termos de proposições lógica explicativa da teoria.
derivadas de um esquema teórico.
Figura 10 - Critérios para avaliação da teoria substantiva
Fonte: Adaptado de Scherman e Webb (1988) por Kelly (1997)

Além dos critérios acima, devem ser utilizados critérios sugeridos por Strauss e Corbin
(1998). O autores colocam que os trabalhos que visam gerar e elaborar uma teoria substantiva
devem considerar também os seguintes critérios: adequação do processo de pesquisa utilizado
e fundamentação empírica da pesquisa. Algumas técnicas que visam aprimorar a qualidade da
teoria em cada um dos critérios perseguidos, elaboradas a partir de de Guba e Lincoln (1982),
Merriam (1998) e Strauss e Corbin (1998), estão descritas na figura abaixo.

TÉCNICAS DESCRIÇÃO
Uso de múltiplas fontes de dados na busca por divergências que possam revelar novos
Triangulação
facetas sobre o fenômeno.
Consiste-se em analisar citações em comum para diferentes códigos, verificando a
Ataque à teoria
relação entre eles, por meio da ferramenta de query do ATLAS/ti.
A cada rodada de coleta e análise, os dados devem ser checados com os informantes. Ao
Checagem com os
final das análises, os principais resultados da teoria, o resumo (storyline) devem ser
entrevistados
checados com os informantes.
Longo tempo Durante o período de convívio, pode-se conhecer os informantes e suas principais
No campo características.
16

Amostragem
Um estudo longitudinal, por exemplo, permite que diferentes condições contextuais
em diferentes
sejam consideradas na teoria.
contextos
Todo o processo da pesquisa e das análises dev estar registrado nas notas e esquemas do
Auditorias ATLAS/ti, permitindo que auditores possam resgatar o processo de interpretação e
confirmar os resultados encontrados.
Figura 11 - Técnicas Utilizadas para Aprimorar a Qualidade da Teoria Substantiva

Os critérios apresentados fornecem uma perspectiva suficientemente abrangente para


avaliar a qualidade de uma teoria substantiva. Em termos gerais, uma teoria substantiva de
qualidade deve estar isenta de arbitrariedade do pesquisador, sendo capaz de permitir seu livre
escrutínio público por meio de auditorias que avaliem o pesquisador e o processo de pesquisa
utilizado. De acordo com os pressupostos da Grounded Theory, outro pesquisador pode
chegar a uma diferente teoria a partir dos mesmos dados, mas qualquer pessoa deve ser capaz
de seguir a mesma trajetória do pesquisador e concordar ou discordar do que foi feito.
Nesse sentido, sugere-se que o pesquisador forneça roteiros de auditoria, que têm a
finalidade de fornecer ao auditor pontos importantes que devem ser identificados no texto do
relatório final e nos relatórios do ATLAS/ti. Dois roteiros são apresentados para avaliar o
processo de pesquisa utilizado e a fundamentação empírica da pesquisa. Ambos foram
elaborados com base em Strauss e Corbin (1998).

QUESTÕES A SEREM OBSERVADAS


Como foi escolhida a empresa e por quê?
Quais as principais categorias que emergiram dos dados?
Quais os principais eventos ou ações que orientaram a descoberta das categorias?
Com base em que a amostragem teórica procedeu? Como a teoria em desenvolvimento guiou a coleta de dados?
Quais as proposições principais que relacionam as categorias e como foram formuladas e validadas?
Houve casos em que as proposições não explicaram o que acontecia nos dados? Como essas divergências foram
tratadas?
Como e por que a categoria central foi selecionada? Foi uma descoberta súbita ou gradual, foi fácil ou difícil?
Com base em que as decisões analíticas finais foram tomadas?
Figura 12 - Roteiro de Auditoria: Processo de Pesquisa

QUESTÕES A SEREM OBSERVADAS


Foram gerados conceitos (códigos) a partir dos dados?
Os conceitos estão explicitamente relacionados nas proposições?
As categorias tem densidade?
A variação na ocorrência do fenômeno está considerada na teoria?
As condições geradoras da variação estão consideradas na teoria?
Os aspectos processuais do fenômeno foram considerados?
Os resultados parecem ser significativos para a área substantiva? A teoria consegue perdurar e tem potencial
para participar dos debates acadêmicos e profissionais?
Figura 13 - Roteiro de Auditoria: Fundamentação Empírica

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo procurou demistificar conceitos inerentes aos processos de codificação e


análise inerentes ao método da Grounded Theory. Foram apresentados exemplos de como os
processos podem ser conduzidos na prática como apoio do software ATLAS/ti. Foi dado
especial ênfase às fases iniciais da análise, especialmente às técnicas de microanálise, criação
de uma rede de notas de análise e identificação e validação de categorias.
Portanto, este texto não tem a pretensão de ser exaustivo nem definitivo no
treinamento de um pesquisador no método. Aliás, a leitura deste artigo pressupõe prévio
17

conhecimento do leitor sobre a Grounded Theory. Também não houve a intuito de servir de
guia ou roteiro, nem submeter os leitores à ditaduta de um método.
Um dos objetivos deste artigo é, na realidade, contribuir na disseminação deste
método de pesquisa na área da estratégia. Acredita-se que a Grounded Theory é uma solução
metodológica para análises qualitativas. Em muitos projetos de pesquisa qualitativa, as
técnicas aqui apresentadas podem ser utilizadas sem que o pesquisador tenha intenção de
gerar teorias, mas apenas proceder uma ordenação conceitual. A Grounded Theory é um
método robusto que prorporciona, se bem aplicado, o rigorismo metodológico tão perseguido
pelos avaliadores de pesquisa qualitativa.
Outro aspecto digno de nota, é a capacidade de o método proporcionar explicações
sobre fenômenos relacionados à estratégia relevantes para o contexto brasileiro. Pode-se
expor as limitações da teorias gerais, geralmente estrangeiras, e apresentar propostas fiéis ao
contexto pesquisado, com maior relevância e controle.
Finalmente, qualquer que seja a pesquisa, principalmente a que utiliza o método da
Grounded Theory, trabalhos em grupo são extremamente mais eficientes do que o esforço
espartano de um pesquisador único. A formação de grupos de pesquisa orientados por uma
linha definida claramente, e abraçada por todos, torna o trabalho intelectualmente superior e
mais robusto. Softwares de análise qualitativa de dados, como o ATLAS/ti, permitem de
forma simplificada a multiautoria nas análises e a interação com pacotes de análise estatística.

Notas
1
Versão WIN 4.1 (Build 5.1)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Review, v. 14, n. 4, p. 532-550, 1989.
GLASER, B. Basics of Grounded Theory analysis. Mill Valley, CA: Sociology Press, 1992.
GLASER, B. Theoretical sensitivity. Mill Valley, CA: Sociology Press, 1978.

GLASER, B.; STRAUSS, A. The discovery of Grounded Theory : strategies for qualitative
research. New York: Aldine de Gruyter, 1967.
GUBA, E.; LINCOLN, Y. Epistemological and methodological bases of naturalistic inq uiry.
Educational Communication and Technology, v. 30, n. 4, p. 233-252, 1982.
HAIG, B. Grounded Theory as scientific method. Philosophy of Education Society, 1995.
KERLIN, R. Breaking the silence: toward a theory of women’s doctoral persistence. 1997.
Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de Vitória, Vitória, British Columbia, Canadá.
MERRIAM, S. Qualitative research and case study applications in education. São
Francisco: Jossey-Bass Inc. 1998.
PANDIT, N. The creation of theory : a recent application of the Grounded Theory Method.
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SHERMAN, R.; WEBB, R. (Org.). Qualitative research in education: focus and methods.
New York, NY: The Falmer Press, 1988.
STRAUSS, A. Qualitative analysis for social scientists. New York: Cambridge University
Press, 1987.
18

STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of qualitative research: techniques and procedures for
developing Grounded Theory. 2. ed. Thounsand Oaks: Sage Publications, 1998.

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