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Resumo
Este texto lança um olhar sobre algumas revistas brasileiras relacionando-as com os
conceitos de lugar e não-lugar de Marc Augé. Os padrões globalizados e massificados
utilizados em algumas publicações proporcionam ao leitor a mesma sensação de não
estar situado no tempo, na história e de não encontrar a sua identificação, senão na
imagem do outro. Essa sensação, que acaba por se tornar uma experiência e uma
vivência reais, resultando em conseqüências culturais bem delimitadas é alcançada não
apenas por seu conteúdo textual como também por seu conteúdo imagético e gráfico.
Os objetos e artefatos que nos rodeiam dizem muito sobre o que somos enquanto
indivíduos inseridos em uma cultura, ao mesmo tempo em que têm autonomia para nos
(in)formar, numa relação de idas e voltas, de trocas, às vezes, recíprocas.
O design, de um modo geral, e, em particular, o design gráfico, participa
ativamente da comunicação eficiente e da formação da cultura das sociedades e dos
indivíduos. Design gráfico em seu sentido geral, pode ser definido como a atividade de
planejamento e projeto que articula o texto e a imagem, enfatizando a linguagem visual.
Essa linguagem pode ser produzida em diferentes suportes e situações, tais como
projetos de identidade visual, editoriais, cartazes, etiquetas e embalagens, diagramas,
sistemas visuais de orientação, exposições, displays e inúmeras outras possibilidades,
em mídias impressas e digitais.
No Brasil, o design gráfico tende a adquirir uma importância cada vez maior uma
vez que o mercado oferece um consumo crescente de informações verbo-visuais, que,
em sua maioria, carecem de mais cuidado.
A linguagem visual do design gráfico merece atenção, pois está calcada em
padrões possíveis de se detectar, o que não significa, no entanto, fazer a apologia da
forma, mas valorizar sua função para a compreensão e comunicação do conteúdo,
entendendo-a como parte indissociável de um projeto de design.
Entende-se por composição ou configuração visual a imagem total ou completa
que aparece na capa, ou página de um livro, de um jornal, de uma revista, de um
catálogo, de um folder; na tela do monitor, seja de um CD-Rom, de um website, ou do
próprio sistema operacional.
A configuração ou composição visual é tida normalmente como a “cara” do
design, o “cartão de visita”, aquilo que faz com que o usuário se sinta estimulado a
prosseguir num caminho, rumo ao desvendamento ou exploração de uma peça, seja ela
impressa ou digital. Essas configurações ou composições constituem interfaces gráficas.
O conceito de interface, mais freqüentemente utilizado em produções digitais,
pode também ser usado em mídias impressas e se refere ao ponto ou pontos de contato
entre o usuário e o conteúdo que se deseja acessar, aquilo que faz com que o primeiro se
sinta disposto a adentrar o mundo de dados contidos na peça. Elementos de uma
interface gráfica são textos, imagens, cores, texturas, e a própria diagramação.
Espaço e tempo
(…) A mediação que estabelece o vínculo dos indivíduos com o seu círculo no espaço do não-lugar
passa por palavras, até mesmo por textos. Sabemos, antes de mais nada, que existem palavras que fazem
imagem, ou melhor, imagens: a imaginação de cada um daqueles que nunca foram ao Taiti ou a
Marrakesh pode se dar livre curso apenas ao ler e ouvir esses nomes (Augé 1994:87).
O passageiro do não-lugar obedece ao mesmo código que os outros, registra as mesmas mensagens,
responde às mesmas solicitações. O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem relação,
mas sim solidão e similitude. Ele também não concede espaço à história, eventualmente transformada em
elemento de espetáculo. A atualidade e a urgência do momento presente reinam neles (Augé, 1994:95).
Revista em foco
Para analisar uma revista deve-se levar em conta o conteúdo impresso, não
esquecendo que a forma é também conteúdo. Incluindo a qualidade do texto, os
seguintes ítens devem ser avaliados: a adequação da linguagem (verbal e visual) ao
leitor e à identidade da revista; a qualidade ética e técnica; o estímulo à leitura; o
equilíbrio e a harmonia entre texto, imagem e diagramação como um todo; o ritmo do
espelho da revista, isto é, como suas partes são previstas e organizadas; a qualidade das
imagens: fotografias e ilustrações bem como do texto impresso (escolha de fonte); o
conteúdo informativo das ilustrações e fotografias que não devem estar ali apenas para
preencher brancos.
Olhando mais atenciosamente para os elementos visuais, observamos que, em
uma capa de revista temos como elementos constituintes: o formato, o logotipo, as
chamadas, as fotografias, as legendas e pequenos elementos como selos e códigos de
barra. Neste ítens entram como elementos de design, a tipografia e suas variações de
forma, estilo e tamanho; as cores; a diagramação ou distribuição desses elementos
visando uma organização hierárquica – a grade – com elementos mais importantes que
outros. A parte interna de uma revista é geralmente composta por sumário, editorial,
anúncios e sessões diversas: cartas do leitor, notas com informações curtas, colunas
assinadas ou não, matérias principais, matéria de capa, matérias secundárias, que podem
utilizar e adaptar os mesmos elementos de design da capa.
Revista Tupigrafia
A Tupigrafia é uma revista jovem feita por designers e tipógrafos muito dedicados
ao assunto. Procura como projeto de revista como um todo abordar o assunto
“Tipografia” sem preconceito, enfocando momentos diversos da história e do
desenvolvimento dessa prática. Não existe um projeto gráfico fixo, existe um formato
22,5 cm x 16,5 cm que é respeitado proporcionando identidade à revista. Conforme o
assunto focado, sempre mantendo como tema principal a tipografia, a matéria recebe
um projeto gráfico próprio adequado com diagramação e fontes condinzentes, e , de um
modo geral criado pelos realizadores da pauta e do texto. Todas as fontes utilizadas na
revista estão elencadas no final de cada publicação.
Por exemplo, a matéria “Um olhar tipográfico sobre as artes plásticas” de
quatorze páginas, escrita e montada por Claudio Rocha e Rubens Matuck, passeia sobre
exemplos coletados na história da arte do passado e mais recente, variando a tipografia a
cada época sem fugir a um padrão de diagramação. Dessa forma, a página dupla que
fala sobre o uso de palavras na pintura chinesa e na obra de Dürer, recebe um
tratamento com fonte serifada. Nas páginas seguintes, quando o assunto é arte moderna,
a tipografia muda para um tipo não serifado, porém, a diagramação continua no mesmo
padrão da anterior, com blocos de textos que variam a medida das colunas alinhando
com as imagens.
Nesse mesmo número da revista, outra matéria, uma entrevista com o tipógrafo
James Grieshaber, com cinco páginas, alterna a entrevista com exemplos das fontes que
ele criou, com fundos de cores escuras e fortes contrastando com os textos, em um
projeto gráfico criado pelo próprio entrevistado.
Em todos os números da revista Tupigrafia podemos atestar uma publicação que
reforça a idéia de “lugar gráfico”, uma vez que respeita a identidade do assunto
tipografia com seu leitor, observa a produção brasileira colocando-a em destaque
perante o cenário internacional e considera também o aspecto histórico da tipografia.
Além disso, a revista tem um cuidado gráfico, que corresponde ao assunto, condizente
com o tipo de leitor e aproveita bem os recursos de que dispõe.
Bibliografia