Você está na página 1de 21

Sistema Cardiorrespiratório

Sistema Cardiorrespiratório

Professor Newton Nunes

1
Sistema Cardiorrespiratório

2
Sistema Cardiorrespiratório

Introdução...................................................................................................................4
Efeitos agudo, subagudo e crônico do exercício.................................................................... 4
Introdução...................................................................................................................4
A via anaeróbia alática........................................................................................................ 5
Sistema dos Fosfagênios (Sistema Anaeróbio Alático)........................................................... 5
A via anaeróbica lática........................................................................................................ 7
Glicólise (Sistema Anaeróbio Lático).................................................................................... 7
A via aeróbia...................................................................................................................... 8
Oxidação (Sistema Aeróbio)................................................................................................ 8
Funcionamento integrado dos sistemas energéticos.............................................................. 10
Tipos de fibras musculares.................................................................................................. 14
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO AERÓBIO: TEORIA E
SUMÁRIO PRESCRIÇÃO...............................................................................................................14
PRESCRIÇÃO DE TREINAMENTO FÍSICO....................................................................14
Introdução......................................................................................................................... 14
Consumo máximo de oxigênio............................................................................................. 15
Estrutura muscular............................................................................................................. 15
Tipos de fibras musculares.................................................................................................. 15
Mitocôndria........................................................................................................................ 16
Capilaridade muscular........................................................................................................ 16
Fluxo sanguíneo................................................................................................................. 17
Metabolismo...................................................................................................................... 17
Estímulo do treinamento..................................................................................................... 17
Duração e intensidade do exercício...................................................................................... 17
Cuidados adicionais com a intensidade da prescrição............................................................ 18
Tipo de exercício................................................................................................................ 18
Exercício de curta duração.................................................................................................. 19
Referências..................................................................................................................20

3
Sistema Cardiorrespiratório

INTRODUÇÃO Ao longo do tempo, esse estresse provoca um efeito


adaptativo, então, existem os efeitos crônicos do exercício.
O exercício se traduz, fisiologicamente, em contração O débito cardíaco em repouso de um atleta permanece
muscular esquelética. Deve-se diferenciar o que é o mesmo de um indivíduo sedentário; o que muda é a
exercício e o que é atividade física: atividade física é forma como se gera esse débito cardíaco. O indivíduo
qualquer contração muscular que eleve o gasto energético treinado aerobiamente vai apresentar uma frequência
em repouso, e exercício físico é um subtipo de atividade cardíaca de repouso menor com um volume sistólico
física realizado com objetivo de ganhar condicionamento maior. Em um exercício físico, ao se atingir a frequência
físico ou de executar algum tipo de tarefa. A diferença cardíaca máxima, essa permanece igual à de um indivíduo
fundamental é que a atividade física é realizada como um sedentário, porém é atingida em um tempo maior do que
meio, enquanto o exercício físico tem um fim. Exemplo: o mesmo. A frequência cardíaca em repouso é menor no
trabalhando o indivíduo está fazendo atividade física, ao treinado, mas a máxima é a mesma do sedentário
contrário do indivíduo que vai jogar bola, cuja finalidade é
fazer exercício.

Efeitos agudo, subagudo e crônico do


exercício
Fisiologicamente, é necessário entender o que é um
efeito agudo e o que é um efeito crônico do exercício. Efeito
agudo é toda aquela manifestação fisiológica que ocorre
durante o exercício. Por exemplo: durante o exercício,
há aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão
arterial, diminuição da resistência vascular periférica,
aumento da secreção de hormônio do crescimento e ocorre
hipovolemia. O exercício aumenta a demanda energética
INTRODUÇÃO
e a produção de calor, sendo, portanto, um estresse para
O exercício é uma atividade ativa, portanto, demanda
o organismo.
muita energia. A quantidade de ATP de reserva que se tem
no organismo é muito pequena: só é capaz de ser utilizada
Efeito subagudo é tudo aquilo que ocorre imediatamente
em contrações que duram, no máximo, 3 segundos.
após a prática do exercício, como, por exemplo: a pressão
Então, o organismo desenvolveu, ao longo dos milênios, a
arterial diminui nos períodos pós-esforço, de modo que,
capacidade de ressintetizar o ATP.
se um indivíduo se exercita todos os dias, nas horas após
a prática do exercício, sua pressão arterial estará mais
A musculatura esquelética possui um sistema muito
baixa. Então, pode-se usar o exercício como tratamento
eficiente (de, aproximadamente, 20%) de transferência
coadjuvante para hipertensão arterial, por exemplo.
de energia química, do ATP, em energia mecânica, dos
movimentos. A energia que obtemos para ressintetizar
Do ponto de vista hemodinâmico, durante o exercício,
ATP vem dos alimentos .
há o aumento do débito cardíaco, da frequência cardíaca
e do volume sistólico, numa proporção maior do que a
Há 3 vias de ressíntese de ATP: anaeróbia, que pode
diminuição da resistência vascular periférica. Logo, há
ser alática (não tendo ácido lático como produto final) ou
o aumento da pressão arterial sistólica e a diastólica
lática (ácido lático como produto final); e aeróbia (reações
permanece a mesma.
que dependem do oxigênio).

4
Sistema Cardiorrespiratório

O processo bioquímico que deflagra esses mecanismos tenha a capacidade de acumular a energia proveniente
é a baixa do ATP de reserva, estimulando a ressíntese. das reações exergônicas (reações que libertam energia).
Todas as vias de ressíntese de ATP são estimuladas É igualmente imprescindível que esse composto seja
simultaneamente; o que determina qual delas irá posteriormente capaz de ceder essa energia às reações
participar mais é a intensidade e duração de determinado endergônicas (que consomem energia). Esta substância
exercício, pois cada uma dessas vias possui características existe efetivamente nas nossas células e designa-se por
bioquímicas diferentes. adenosinatrifosfato, vulgarmente conhecida por ATP.

O ponto mais importante desse tema é a mensagem O ATP é um composto químico lábil que está presente
de que a prática de exercícios físicos é a medida de maior em todas as células. É uma combinação de adenina, ribose
impacto em saúde pública, na melhoria da qualidade de e 3 radicais fosfato. Os 2 últimos radicais fosfato estão
vida e sobrevida, a mais barata e com maiores evidências . ligados ao resto da molécula através de ligações de alta
energia. A quantidade de energia libertada por cada uma
A via anaeróbia alática dessas ligações por mole de ATP é de aproximadamente
11kcal nas condições de temperatura e concentração de
O processo pelo qual há liberação de energia para reagentes do músculo durante o exercício. Assim, como
ressíntese, através da via anaeróbica alática, é a hidrólise a remoção de cada radical fosfato liberta uma grande
da creatina-fosfato, uma molécula existente no músculo quantidade de energia, a grande maioria dos mecanismos
esquelético, que se constitui em uma creatina ligada a um celulares que necessitam de energia para operar obtêm-
radical fosfatídico de alta energia. A hidrólise da molécula na, de um modo geral, via ATP. Deste modo, os produtos
libera energia, que é utilizada na contração muscular; finais da digestão dos alimentos são transportados até
não é usado o oxigênio e não se forma ácido lático. Esta às células via sanguínea e aí oxidados, sendo a energia
via está envolvida em exercícios rápidos ou situações de libertada utilizada para formar ATP, mantendo assim um
transição imediata. permanente suprimento dessa substância.

Um exemplo cotidiano de exercício anaeróbico alático Além dos artigos esportivos comercializados, a indústria
é atividade de curta duração: dar uma corrida rápida para do esporte envolve serviços diretos e indiretos, como
pegar um ônibus, subir um lance de escada, carregar um orientação das atividades físicas nas academias, aulas de
objeto por uma distância curta. Demora cerca de 8 a 10 ginástica e de modalidades esportivas como o tênis, o vôlei,
segundos, 3 vezes a mais do que o ATP de reserva suporta o basquete, escolinhas de futebol, atividades de gestão e
(cerca de 3 segundos). Quanto mais prolongado, mais prestação de serviços promocionais e publicitários. Entre
aeróbio é o exercício; depois de 2 minutos, a via aeróbia as atividades de prestação de serviços indiretos podemos
começa a se tornar prioritária. citar o transporte e translado, a hotelaria e hospedagem e
o atendimento médico, entre outros.

Sistema dos Fosfagênios (Sistema


De fato, a respiração celular representa a conversão
Anaeróbio Alático) da energia química dos alimentos numa forma química de
armazenamento temporário. No caso específico da fibra
Nos desportos de potência, em que a atividade se
muscular, essa energia química armazenada (ATP) é depois
caracteriza por esforços de intensidade máxima com
transformada em energia mecânica, traduzida pelo deslize
uma duração inferior a 30s, o músculo recorre a fontes
dos miofilamentos durante o ciclo contrátil. Em suma, o
energéticas imediatas, habitualmente designadas por
ATP funciona como uma bateria recarregável, uma vez que
fosfagênios, como a adenosinatrifosfato (ATP) e a
pode acumular a energia libertada por compostos de mais
fosfocreatina (CP). As células tem obrigatoriamente de
elevado nível energético e, posteriormente, o deslize dos
possuir mecanismos de conversão de energia. Por esta
miofilamentos de actina e miosina, resulta da alteração da
razão, necessitam da presença de uma substância que

5
Sistema Cardiorrespiratório

angulação das pontes transversas de miosina de 90º para A CP não pode atuar da mesma maneira que o ATP
45º. Para que essa alteração conformacional ocorra, é como elemento de ligação na transferência de energia
necessária energia que provém, em exclusivo, da hidrólise dos alimentos para os sistemas funcionais da célula, mas
de ATP. este composto pode transferir energia em permuta com o
ATP. Quando quantidades extras de ATP estão disponíveis
A grande função dos sistemas energéticos é, na célula, muita da sua energia é utilizada para sintetizar
precisamente, formar ATP para a contração muscular, CP formando, dessa maneira, um reservatório de energia.
uma vez que o músculo esquelético é incapaz de utilizar Deste modo, quando o ATP começa a ser gasto na contração
diretamente a energia proveniente da degradação muscular, a energia da CP é transferida rapidamente de
dos grandes compostos energéticos provenientes da volta ao ATP (resíntese do ATP) e deste para os sistemas
alimentação, como a glicose, os ácidos graxos (AG) ou os funcionais da célula.
aminoácidos. A razão pela qual isso é impossível, tem a ver
com o fato de só existir um único tipo de enzima nas pontes É importante referir que o maior nível energético
transversas de miosina - a ATPase – que só hidrolisa ATP. da ligação fosfato de alta energia da CP, faz com que a
Por isso todas as outras moléculas energéticas têm de ser reação entre a CP e o ATP atinja um estado de equilíbrio,
previamente convertidas em ATP, de forma a essa energia muito mais a favor do ATP. Portanto, a mínima utilização
poder ser utilizada na contração muscular. de ATP pela fibra muscular utiliza a energia da CP para
sintetizar imediatamente mais ATP. Este efeito mantém
No entanto, nem toda a energia libertada pela hidrólise a concentração do ATP a um nível quase constante
do ATP é utilizada na contração muscular. De fato, apenas enquanto existir CP disponível. Por isso podemos designar
uma pequena parte dessa energia é utilizada no deslize o sistema ATP-CP como um sistema tampão de ATP.
dos miofilamentos, uma vez que a maior parte se dissipa De fato, é facilmente compreensível a importância de
sob a forma de calor. manter constante a concentração de ATP, uma vez que
a velocidade da maioria das reações no organismo estão
Aproximadamente 60-70% da energia total produzida dependentes dos níveis deste composto. Particularmente
no corpo humano é libertada sob a forma de calor. Mas no caso da atividade física, a contração muscular está
este aparente desperdício energético assume-se como totalmente dependente da constância das concentrações
fundamental para que o ser humano se assuma como intracelulares de ATP, porque esta é a única molécula que
um organismo homeotérmico, i.e., um ser vivo com pode ser utilizada para produzir o deslize dos miofilamentos
temperatura constante, permitindo-lhe funcionar 24h contráteis.
por dia, dado que o funcionamento enzimático está, em
grande medida, dependente da temperatura corporal. Durante os primeiros segundos de uma atividade
Com efeito, a maioria do ATP gasto no metabolismo muscular intensa (ex: sprint), verifica-se que o ATP se
humano visa manter estável a temperatura corporal e não mantém a um nível relativamente constante, enquanto
apenas assegurar energia para a contração muscular, que as concentrações de CP declinam de forma sustentada á
representa apenas uma das vertentes da utilização desta medida que este último composto se degrada rapidamente
molécula energética. Um exemplo do que afirmamos, para resintetizar o ATP gasto. Quando finalmente a
pode facilmente ser constatado meramente observando exaustão ocorre, os níveis de ambos os substratos são
o aumento da temperatura corporal que ocorre num bastante baixos, sendo então incapazes de fornecer
indivíduo que realiza exercício e que resulta do fato dessa energia que permitam assegurar posteriores contrações e
tarefa implicar uma maior degradação de ATP, logo uma relaxamentos das fibras esqueléticas ativas. Deste modo,
inevitável formação acrescida de calor, conduzindo à a capacidade do ser humano em manter os níveis de
ativação dos mecanismos homeotérmicos de regulação ATP durante o exercício de alta intensidade à custa da
localizados no hipotálamo. energia obtida da CP é limitada no tempo. Segundo vários
autores, as reservas de ATP e CP podem apenas sustentar

6
Sistema Cardiorrespiratório

as necessidades energéticas musculares durante sprints acúmulo de ácido lático. Por este motivo, as modalidades
de intensidade máxima até 15s. No entanto, dados mais que envolvem este tipo de esforços são habitualmente
recentes sugerem que a importância do sistema aláctico se denominadas de láticas, dado que a produção de energia
situa para além dos 15s, tendo sido sugerido que continua no músculo resulta do desdobramento rápido dos hidratos
a ser o principal sistema energético mesmo para esforços de carbono (HC) armazenados, sob a forma de glicogênio,
máximos com uma duração até 30s. em ácido lático, um processo anaeróbio que decorre
no citosol das fibras esqueléticas e que se designa por
Convirá ainda referir que, em situações de forte depleção glicólise. Este processo, consideravelmente mais complexo
energética, o ATP muscular pode ainda ser resintetizado, do que o relativo ao primeiro sistema energético, requer
exclusivamente a partir de moléculas de ADP, através de um conjunto de reações enzimáticas para degradar o
uma reação catalisada pela enzima mioquinase (MK). No glicogênio a ácido lático. Deste modo, é possível converter
entanto, na maioria das reações energéticas celulares rapidamente uma molécula de glicose em 2 de ácido lático,
ocorre apenas a hidrólise do último fosfato do ATP, sendo formando paralelamente ATP, sem necessidade de utilizar
bastante mais raras as situações em que ocorra a quebra O2.
do segundo fosfato. Alático significa que não produz ácido
lático. Este sistema energético permite formar rapidamente
uma molécula de ATP por cada molécula de ácido lático,
A via anaeróbica lática ou seja, estes compostos são produzidos numa relação de
1:1.
A via anaeróbia lática é a aceleração específica da via
glicolítica, com liberação de ácido lático, que é a molécula Por este motivo, um corredor de 400m deve procurar
de piruvato modificada. A vantagem da via lática é ser desenvolver o mais possível no processo de treino tanto
mais potente, mas possui como desvantagem a produção a capacidade para formar ácido lático, quanto a de correr
de ácido lático, após alguns segundos. Há mecanismos a velocidades elevadas tolerando acidoses musculares
que inibem a via glicolítica, como a acidose intramuscular. extremas, uma vez que o pH muscular pode descer de
O lactato é reaproveitado pelo organismo; entretanto, o 7.1 para 6.5 no final de um sprint prolongado. De fato, as
H+ livre no músculo provoca acidose muscular, causando maiores concentrações sanguíneas de lactato observadas
dor e queimação. A acidose também inibe a ligação entre em atletas de elite, tem sido precisamente descritas em
o cálcio e a tropomiosina, ou seja, há inibição do próprio especialistas de 400-800m, que atingem frequentemente
mecanismo de contração. A duração é intermediária: mais lactacidemias na ordem das 22-23mmol/l.
de 10 segundos e menos de 2 minutos; para durar mais
de 2 minutos, deve-se baixar a intensidade, passando a Existem dois grandes reservatórios de glicogênio,
ser aeróbio. um no fígado e outro no músculo esquelético. O fígado
representa o maior reservatório, em termos relativos, e o
A subida de alguns lances de escada pode ser músculo o maior reservatório, em termos absolutos.
considerada como uma atividade que demanda a via
anaeróbica lática. A glicólise é, por definição, a degradação anaeróbia
(decorre no citosol) da molécula de glicose até ácido
pirúvico ou ácido lático e é um processo muito ativo no
Glicólise (Sistema Anaeróbio Lático)
músculo esquelético, razão pela qual é frequentemente
designado por tecido glicolítico. Em particular, os músculos
Os esforços de intensidade elevada com uma duração
dos velocistas apresentam uma grande atividade glicolítica,
entre 30s e 1min – por ex: resistência de velocidade, tais
pelo fato de possuirem uma elevada percentagem de
como uma corrida de 400m, ou uma prova de nado de
fibras tipo II (fibras de contração rápida) com elevadas
100m livres - apelam a um sistema energético claramente
concentrações deste tipo de enzimas. Com efeito, a
distinto, caracterizado por uma grande produção e

7
Sistema Cardiorrespiratório

glicólise é a principal fonte energética nas fibras tipo II Vários autores consideram que, do ponto de vista
durante o exercício intenso. A título de exemplo, durante energético, os esforços contínuos (cíclicos) situados entre
uma corrida de 400m cerca de 40% da energia produzida 1 e 2min são assegurados, de forma semelhante, pelos
é resultante da glicólise. No entanto, as quantidades sistemas anaeróbio (fosfagênios e glicólise) e aeróbio, o
significativas de ácido lático que se vão acumulando no que significa que cerca de metade do ATP será produzido
músculo durante este tipo de exercício, provocam uma fora da mitocôndria e o restante no seu interior.
acidose intensa (libertação de H+) que conduz a uma
fadiga progressiva. Este último fenômeno resulta de No entanto, nos esforços de duração superior a 2min,
alterações do ambiente fisico-químico dentro da fibra, a produção de ATP é já maioritariamente assegurada pela
nomeadamente da diminuição do pH, o que acaba por mitocôndria, pelo que esses esforços são denominados
bloquear progressivamente os próprios processos de de oxidativos ou, simplesmente, aeróbios. Com efeito,
formação de ATP na fibra esquelética. a produção de energia aeróbia na célula muscular é
assegurada pela oxidação mitocondrial dos HC (glucose)
A via aeróbia e dos lipídios (AG), sendo pouco significativo o contributo
energético proveniente da oxidação das proteínas
A via aeróbia envolve a via glicolítica, formando ácido (aminoácidos).
pirúvico que passa pela mitocôndria, ciclo de Krebs e
cadeia respiratória. O oxigênio chega como aceptor final Deste modo, as atividades físicas com uma duração
de elétrons para formar água. A molécula de glicose é superior a 2min dependem, absolutamente, da presença
quebrada na via glicolítica, formando 2 moléculas de e utilização do oxigénio no músculo ativo. Adicionalmente,
piruvato, com 3 carbonos. No final, a molécula de glicose também a recuperação após exercício fatigante é,
libera água e CO2, lembrando uma reação inversa da essencialmente, um processo aeróbio, uma vez que
fotossíntese. sensivelmente o ácido lático produzido durante o exercício
de alta intensidade é removido por oxidação, enquanto os
A desvantagem da via aeróbia é a sua lentidão, sendo restantes 25% sofrem gliconeogênese, voltando a formar
dependente de várias enzimas, de oxigênio e da passagem glicose.
de piruvato para dentro da mitocôndria. Para funcionar
efetivamente, demora de 1 a 2 minutos. Os exercícios Como já foi referido, no interior da fibra muscular
tipicamente aeróbios são de longa duração e intensidade esquelética existem organelas especializadas designadas
moderada. Uma corrida ou pedalada longas podem ser por mitocôndrias que são responsáveis pelo catabolismo
consideradas como exercícios aeróbios. aeróbio dos principais compostos provenientes da
alimentação, pelo consumo de oxigênio na fibra e
pela homeostasia das concentrações celulares de ATP-
Oxidação (Sistema Aeróbio)
CP. O termo oxidação refere-se à formação de ATP na
mitocôndria na presença de oxigénio, i.e., à formação de
energia aeróbia. Energia aeróbia significa a energia (ATP)
derivada dos alimentos através do metabolismo oxidativo.
Contrariamente à glicólise, que utiliza exclusivamente
HC, os mecanismos celulares oxidativos que decorrem na
mitocôndria permitem a continuação do catabolismo dos
HC (a partir do piruvato), bem como dos AG (lipídios) e
dos aminoácidos (proteínas).

A grande maioria das atividades do dia a dia são


suportadas, na totalidade, pelo metabolismo aeróbio,

8
Sistema Cardiorrespiratório

a um computador, recorrem exclusivamente à produção


sendo a oxidação mitocondrial dos ácidos graxos livres
energia aeróbia e mais especificamente ao catabolismo
(AGL) a que assegura a maior parte do dispêndio
mitocondrial lipídico (ß-oxidação dos AG). Portanto,
energético muscular nas rotinas habituais. De fato, apesar
a maioria das nossas atividades rotineiras dependem
de em repouso a produção energética ser assegurada
da produção de ATP na mitocôndria na presença de
em 40% pelos HC e em 60% pelos lipídios os gastos de
oxigénio e não do metabolismo anaeróbio. O recurso mais
glicose resultam, quase exclusivamente, do seu consumo
acentuado aos fosfagênios e à glicólise implica outros tipos
pelo tecido nervoso. Efetivamente, em repouso o cérebro
de atividades mais intensas.
é o grande consumidor de HC do organismo, uma vez que
O impacto benéfico do exercício aeróbio sobre a saúde
é um tecido glicose-dependente, consumindo cerca de 5g
do indivíduo, tem sido referido em inúmeros trabalhos de
de glicose por hora.
investigação conduzidos ao longo das últimas décadas.
Com efeito, muitos dos trabalhos que procuraram
Deste modo, nesta situação são os AGL a assegurarem a
estudar as inter-relações entre a atividade física e a
quase totalidade das necessidades energéticas musculares.
saúde, demonstraram claramente que o exercício regular
Com efeito, um indivíduo sedentário pode passar vários
aeróbio é susceptível de diminuir a taxa de mortalidade
dias sem ter necessidade de recorrer à glicólise muscular,
em pessoas ativas. De fato, os estudos epidemiológicos
a não ser, por exemplo, quando tem de correr mais de 30s
permitiram concluir que um indivíduo que faça atividade
para apanhar o carro para o emprego. Assim, as exigências
física regular, apresenta metade da taxa de mortalidade
do ponto de vista energético para atividades como dormir,
de um sedentário.
caminhar ou, pura e simplesmente, estar sentado em frente

9
Sistema Cardiorrespiratório

O American College of Sports Medicine (ACSM) elaborou 800m a produção de energia é assegurada em partes
um conjunto de Diretrizes para o desenvolvimento sensivelmente iguais pelos sistemas aeróbio e anaeróbios,
e manutenção da aptidão cardiorrespiratória e da enquanto numa corrida de 1500m a participação aeróbia
composição corporal em adultos saudáveis, que inclui sobe para cerca de 67% relativamente à anaeróbia (23%
entre 3-5 sessões semanais de atividade física aeróbia da glicólise e 10% dos fosfagênios).
em que sejam recrutadas, de forma contínua, grandes
grupos musculares. Já em relação à composição corporal, É claramente visível que os fosfagênios representam o
se um dos seus objetivos for, por exemplo, perder peso principal sistema energético para esforços de intensidade
mobilizando as suas reservas de triglicerídeos (TG) máxima até 30s. Já a glicólise assume o papel preponderante
armazenadas no tecido adiposo, os dados das Diretrizes nos esforços máximos entre 30s e 1min, produzindo cerca
sugerem como preferencial a utilização de exercícios de 40% da energia total dispendida. A oxidação passa a
prolongados de intensidade baixa ou moderada. Com assegurar mais de 50% do dispêndio energético quando
efeito, a taxa máxima de oxidação dos AGL plasmáticos os esforços têm uma duração superior a 2min.
é atingida com exercícios aeróbios (como correr, pedalar
ou remar) realizados a uma intensidade correspondente a Mas, independentemente da contribuição energética
cerca de 40%VO2max e realizados durante o maior tempo de cada sistema, esta pode variar em função do tempo
possível (>30min). de competição, a ideia a reter é a de que todos os
sistemas energéticos participam sempre integradamente
Uma frequência respiratória e cardíaca muito e nunca de forma isolada. Um exemplo do que foi
elevadas estão normalmente associadas ao exercício de afirmado, é a constatação de que mesmo numa prova de
características acentuadamente anaeróbias. Portanto, se velocidade pura, como é o caso dos 100m rasos, cerca
o seu objetivo prioritário é diminuir a sua percentagem de 5% do ATP é produzido mitocondrialmente. Um outro
de massa de gordura, não se esqueça de que o exercício aspecto fundamental, é a compreensão de que os vários
moderado e prolongado constitui a melhor forma de sistemas apresentam potências energéticas distintas, i.e.,
atingir esse objetivo, isto, evidentemente, para além de capacidades diferenciadas para formar ATP por unidade
inúmeros outros benefícios que lhe trará tanto no aspecto de tempo (kcal/min). Com efeito, o primeiro sistema
cardiovascular quanto no psicológico. apresenta mais do dobro da potência da glicólise e quase
quatro vezes a potência da oxidação, razão pela qual é
Funcionamento integrado dos sistemas o preferencialmente utilizado nos esforços de intensidade
máxima e de curta duração.
energéticos
O sistema dos fosfagênios apesar de ser o mais
Um aspecto fundamental na bioenergética, é a
potente é o de menor capacidade, enquanto se verifica
compreensão do funcionamento integrado dos sistemas
exatamente o oposto relativamente à oxidação. Já
em termos de participação energética nos vários tipos
quando nos referimos à capacidade de cada sistema (kcal
de atividade física. Efetivamente, a ação destes sistemas
disponíveis), temos de ter em consideração as reservas
ocorre sempre simultaneamente, embora exista a
energéticas que cada sistema disponibiliza. Deste modo,
preponderância de um determinado sistema relativamente
apesar do primeiro sistema ser claramente o mais potente,
aos outros, dependendo de fatores como a intensidade e a
i.e., o que mais rapidamente permite resintetizar ATP, é
duração do esforço, a quantidade das reservas disponíveis
também, simultaneamente, o de menor capacidade, uma
em cada sistema, as proporções entre os vários tipos
vez que as reservas de CP são extremamente limitadas.
de fibras e a presença de enzimas específicas. A título
Comparativamente com o sistema oxidativo, verifica-se
meramente ilustrativo, gostaríamos de referir que, por
exatamente o oposto, dado que apesar de ser o menos
exemplo, numa corrida de 100m planos, sensivelmente
potente, é o que claramente apresenta maior capacidade,
80% do ATP produzido vem da degradação da CP, 15%
em grande medida devido às enormes reservas de
da glicólise e 5% da oxidação. Já numa corrida de

10
Sistema Cardiorrespiratório

triglicerídeos existentes no tecido adiposo, que constituem receptores de dor, promovendo náusea e desorientação,
um substrato energético quase inesgotável para a oxidação diminuindo a afinidade do O2 pela hemoglobina e também
mitocondrial. No entanto, embora as mitocôndrias sejam, a taxa de lipólise adiposa.
indiscutivelmente, em termos absolutos, o principal local
Felizmente que tanto as células quanto os fluídos
de formação de energia na célula, estas organelas não
corporais, possuem tampões, como o bicarbonato (HCO3-
conseguem dar resposta às necessidades energéticas
) ou as proteínas celulares, que minimizam os efeitos
musculares durante os esforços de intensidade máxima
do H+. Sem estas substâncias tampão, a liberação e
com uma duração até 1min, precisamente devido à sua
acúmulo de hidrogênios baixaria o pH para cerca de 1.5,
baixa potência em termos formação de ATP.
matando as células. Deste modo, por causa da capacidade
de tamponamento do organismo, a concentração de H+
Em termos gerais, as reservas de lipídios superam em
permanece baixa, mesmo durante o exercício de alta
mais de 60 vezes as reservas de glicogênio e em cerca de
intensidade, embora se verifique uma queda do pH desde
6 vezes as de proteínas. Assim, cada sistema apresenta
o valor de repouso de 7.1, até ao valor de exaustão situado
uma série de condicionalismos específicos que limitam o
entre 6.4-6.6. A maior parte dos pesquisadores tem uma
seu papel enquanto fonte energética, circunscrevendo-o
opinião concordante quanto ao fato da diminuição do
a determinados tipos de atividade física para os quais
pH muscular, que se verifica durante o exercício de curta
surgem como os mais adequados. Nesta perspectiva, o
duração e de intensidade máxima, ser o principal limitador
primeiro sistema é claramente limitado pelas escassas
da performance e a principal causa de fadiga neste tipo
reservas musculares de CP, o que acaba por delimitar o
de esforço. No entanto, após um sprint prolongado até
seu papel aos esforços máximos até 30s. Durante um
à exaustão, o restabelecimento total do pH muscular de
sprint prolongado até à exaustão, as concentrações de ATP
volta aos valores de repouso requer apenas 30-35min de
mantêm-se relativamente estáveis até aos 10s (quebra
recuperação, sensivelmente o mesmo tempo que leva à
de apenas 15-20% nos 2s iniciais), momento a partir do
lactacidemia a voltar aos níveis de pré-exercício.
qual quebram acentuadamente, sensivelmente quando a
depleção da CP atinge 75-85% dos valores de repouso.
Quanto ao sistema oxidativo, os seus principais fatores
No entanto, convém referir que, mesmo em condições
limitantes são, por um lado, a capacidade de transporte
extremas de exercício, nunca se verifica uma depleção total
de O2 para os músculos ativos (fatores centrais) e, por
do ATP, isto apesar de já terem sido descritas diminuições
outro, a extração de O2 que ocorre nesse tecido (fatores
de 30-40% nas suas concentrações musculares. Já, em
periféricos). Com efeito, a possibilidade humana de
contraste, é possível verificar-se uma depleção quase
desenvolver esforços prolongados está diretamente
completa das reservas de CP no final de um Sprint.
relacionada com a capacidade do metabolismo oxidativo,
habitualmente expressa pelo consumo máximo de oxigénio
O segundo sistema apresenta como principal fator
(VO2max), parâmetro que corresponde à máxima taxa a
limitativo a acidose celular que resulta da produção e
que o oxigênio pode ser captado e utilizado durante um
rápida dissociação do ácido lático, um produto secundário
exercício de grande intensidade que se prolongue, mais
inevitável da atividade da própria glicólise. Com efeito,
ou menos, no tempo. O caminho que o oxigênio percorre
este é um dos ácidos mais fortes produzido no nosso
desde o ar atmosférico até à mitocôndria é constituído por
organismo e, como se dissocia rapidamente, liberta uma
uma série de etapas, cada uma das quais pode representar
grande quantidade de hidrogênios (H+) que induzem
um potencial fator condicionante do fluxo de oxigênio.
fadiga, principalmente pelo fato de inibirem a PFK
(fosfrutoquinase), a principal enzima alostérica no controle
Assim, a taxa de oxidação muscular pode ser limitada
da glicólise. No entanto, os efeitos da diminuição do pH
tanto por fatores centrais (capacidade de difusão pulmonar
são múltiplos e não se limitam apenas ao bloqueio da
ao O2, débito cardíaco máximo e capacidade sanguínea de
glicólise, interferindo igualmente com a contração muscular
transporte do O2) quanto periféricos (relacionados com
(deslocando o Ca2+ da troponina C), estimulando os

11
Sistema Cardiorrespiratório

características específicas do músculo esquelético). O as provas de meio-fundo e fundo, as fontes energéticas


fator determinante a nível central é, sem dúvida, o volume utilizadas são os HC, os lipídios e os aminoácidos. A
sistólico que, em atletas muito bem treinados, pode chegar obtenção de moléculas de ATP a partir destes compostos
a atingir o dobro do valor apresentado por sedentários. As por oxidação, embora seja um processo mais lento,
melhorias induzidas pelo treino no volume sistólico situam- é quantitativamente mais rentável em relação à sua
se nos 15-20% e estão diretamente relacionadas com a obtenção de forma imediata (anaeróbia).
capacidade do coração em ceder O2 aos tecidos.
Comparativamente aos HC, a oxidação dos lipídios é
Os estudos evidenciaram que o aumento no VO2max altamente rentável em termos energéticos, no entanto
induzido pelo treino resulta, primeiramente, do aumento a sua mobilização é lenta e implica um maior consumo
do débito cardíaco e só depois das melhorias operadas na relativo de O2. Por esta razão, durante os esforços aeróbios
diferença artério-venosa. A nível periférico, são também de intensidade mais elevada, em que a disponibilidade de
vários os fatores que influenciam a taxa de metabolismo O2 no músculo ativo é limitada, o glicogênio assume-se
oxidativo muscular, nomeadamente: claramente como o principal substrato energético, uma vez
que apresenta processos de ativação mais rápidos e um
(1) a composição muscular – o indivíduo com elevada menor consumo relativo de O2, o que permite assegurar
percentagem de fibras do tipo I apresenta uma superior uma maior produção de ATP por unidade de tempo em
utilização do metabolismo oxidativo; função do O2 disponível nos tecidos ativos. Um dos
fatores que contribui para a mobilização mais rápida dos
(2) o perfil enzimático muscular - o aumento do HC, é o que resulta do fato do início da sua degradação
potencial oxidativo intramuscular está relacionado com o até piruvato (glicólise) ser anaeróbia, decorrendo fora da
aumento da atividade de enzimas chave do ciclo de Krebs mitocôndria, o que implica um número inferior de reações.
e da fosforilação oxidativa; O catabolismo das proteínas e aminoácidos desempenha
apenas um papel secundário nos esforços aeróbios,
(3) o conteúdo de mioglobina - quanto maior a podendo assegurar um máximo de 5-10% do dispêndio
percentagem deste pigmento intracelular fixador do energético total durante o exercício prolongado
oxigénio maior é a quantidade de O2 em reserva; o perfil
mitocondrial - o tamanho, o número e a localização das No entanto, se durante o exercício mais intenso o
mitocôndrias interfere diretamente na taxa do metabolismo glicogênio é o substrato energético preferencial, tal já não
oxidativo; se verifica em repouso, uma vez que nesta situação já não
existe uma disponibilidade limitada de O2, o que torna
(4) a densidade capilar – a taxa de oxidação é claramente vantajoso utilizar AG em vez de glicose. Esta é,
condicionada pelo aumento do número dos capilares aliás, a razão porque temos reservas de lipídios cerca de
musculares, o que permitirá aumentar o tempo de trânsito 70 vezes superiores às de HC, porque efetivamente 1g de
do sangue, melhorando a eficiência das trocas energéticas; lípídios produz mais do dobro da energia comparativamente
a 1g de HC.
(5) a capacidade de difusão periférica – que determina
a quantidade de oxigênio que é transportado desde a rede Deste modo, durante os esforços sub-máximos de
capilar até à mitocôndria. longa duração, o catabolismo oxidativo dos HC é o
principal fornecedor de energia, no entanto, como o
Como já foi citado anteriormente, a energia utilizada músculo tem concentrações reduzidas de glicose, a
para suprir as necessidades do organismo nos esforços maioria do potencial energético provém da degradação
prolongados (>2min), envolve a utilização de O2 do glicogênio. Contudo, sempre que se verifica uma
nas mitocôndrias das células musculares. Nas provas depleção acentuada do glicogênio muscular com a
normalmente designadas de resistência (endurance), como inevitável quebra no rendimento, o exercício submáximo

12
Sistema Cardiorrespiratório

passa a ser prioritariamente assegurado pela mobilização quando este diminui durante a contração muscular. Esta
dos AGL (apenas a baixas intensidades) e pelo glicogênio reserva de O2 é utilizada durante a transição de repouso
hepático. Nesta perspectiva, os eventos de endurance e a para exercício, providenciando O2 para a mitocôndria. Os
qualidade da performance são fortemente condicionados estudo permitiram concluir que:
pela depleção seletiva do glicogênio nas fibras musculares
ativas. (1) durante o exercício realizado até 50%VO2max,
os níveis plasmáticos de AGL aumentam continuamente,
O treino de longa duração aumenta a capacidade indicando a sua mobilização acrescida;
muscular de oxidação do piruvato e dos AGL, através
do aumento da densidade mitocondrial, do aumento da (2) a intensidades superiores a 65%VO2max, em que o
atividade e concentração das enzimas oxidativas, bem como lactato sanguíneo aumenta e o pH diminui, a degradação
da capilarização da musculatura treinada. Estes tipos de lipídica começa a ser inibida;
adaptações musculares, conjuntamente com uma elevada
percentagem de fibras tipo I e os aumentos observados na (3) o exercício intenso (>85%VO2max) é suportado
concentração da LDH-H com este tipo de treino, permitem predominantemente pelos HC, enquanto o exercício de
explicar a capacidade elevada destes atletas para remover baixa intensidade (25%VO2max) mobiliza, essencialmente,
o lactato do organismo. Adicionalmente, se considerarmos lipídios );
que vários estudos sugerem que este tipo de treino
pode ainda diminuir, de forma acentuada, a produção (4) a cerca de 65%VO2max a relação de utilização dos
de lactato, por diminuição da concentração de algumas lipídios e dos HC equilibra-se.
enzimas glicolíticas (ex: PFK e LDH-M), então começa a
ser possível entender como os maratonistas de elite são
capazes de correr mais de 2h a velocidades superiores
a 20km/h e com lactacidemias próximas dos valores de
repouso (entre 2-3mmol/l). Este tipo de treino parece
igualmente aumentar o conteúdo muscular de mioglobina,
facilitando o transporte do oxigênio da membrana celular
até às mitocôndrias.

As reservas de glicogênio, no fígado e no músculo


esquelético, estão limitadas a 2280kcal, o que representa,
aproximadamente, a energia necessária para correr
cerca de 32km. As mitocôndrias do músculo esquelético
aumentam, tanto em tamanho quanto em número,
com o treino aeróbio, providenciando ao músculo um
metabolismo oxidativo muito mais eficiente. Estudos em
que indivíduos não treinados foram submetidos a treino
aeróbio (por ex: 5 sessões de treino semanal de 50min
de corrida contínua) durante períodos entre 4-5 meses,
evidenciaram aumentos da densidade mitocondrial de
100-120%.

Em suma, mais mitocôndrias significam uma maior


capacidade de remoção do lactato no músculo ativo. A
mioglobina armazena O2 e liberta-o para a mitocôndria

13
Sistema Cardiorrespiratório

Tipos de fibras musculares PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PRESCRIÇÃO


DO EXERCÍCIO AERÓBIO: TEORIA E
Os mamíferos possuem miócitos do tipo I e do tipo II.
As fibras musculares do tipo I têm características que as
PRESCRIÇÃO
tornam adaptadas para exercícios aeróbios; são as fibras
lentas e vermelhas, pois possuem mais mioglobina.
PRESCRIÇÃO DE TREINAMENTO
FÍSICO
As do tipo II são rápidas, adaptadas para exercícios de
potência, principalmente a fibra do tipo II-B. A do tipo II-A Introdução
é intermediária entre a do tipo I e II.
A habilidade de desenvolver determinadas atividades

O que determina a fibra ser do tipo I ou tipo II é como correr ou pedalar, necessita da produção de

sua inervação, logo, isso é determinado geneticamente, energia pelos músculos estimulados, ou seja, aumento na

porém, a mudança de II-A para II-B e vice-versa é degradação do ATP (adenosina trifosfato) e a resíntese

bastante plástica e dependente de treinamento físico. Se do mesmo. Se a demanda não é atingida ocorre a fadiga

um indivíduo treina aerobiamente, as fibras do tipo II-B muscular. Em qualquer atividade física que ocorre em

se tornam II-A, pois se tornam mais parecidas com as do tempo superior a alguns min., a energia é fornecida pelo

tipo I. Se o treino é anaeróbio, as fibras do tipo II-A se sistema aeróbio, ou seja, utiliza o oxigênio para degradar

transformam em II-B. moléculas de carboidratos e ácidos graxos. A mitocôndria e


as fibras musculares respondem às informações químicas,

Todos os músculos do organismo possuem proporções que são fornecidas durante a contração muscular e a

diferentes de fibras, dependo da ação dos mesmos. O utiliza na resíntese do ATP, ou seja, na fosforilação do ADP.

músculo, quando adaptado ao treinamento aeróbio utiliza Esse processo necessita da liberação de oxigênio para

melhor a reserva energética. Um aumento na captação ativar as fibras musculares e também da disponibilidade

de oxigênio do sangue e alterações no metabolismo de nutrientes (carboidratos e ácidos graxos) para manter

energético, contribuem para a melhoria do desempenho o consumo do oxigênio. Esses combustíveis devem estar

nos treinamentos. O desempenho, logicamente, é presentes em quantidades adequadas no organismo.

melhorado também pelo aumento do débito cardíaco O oxigênio é captado pelo músculo através do fluxo

e outras alterações que não estão correlacionadas sanguíneo e se difunde dos capilares para a mitocôndria

bioquimicamente. das fibras musculares.

As adaptações musculares são induzidas especificamente A produção de energia pode ser interrompida se ocorrer

nos grupos musculares exercitados. Essas adaptações são uma diminuição no fornecimento de combustível ou então,

mantidas quando a atividade é contínua, porém quando se ocorrer diminuição nas reações de oxi-redução a nível

tal fato não ocorre, ela é desativada. Tanto a intensidade celular. Os exercícios de resistência provocam adaptações

como a duração são fatores determinantes nas adaptações musculares que controlam o fornecimento de energia. As

musculares. adaptações que ocorrem com o treinamento promovem


alterações no metabolismo muscular, adaptando-o para

Por outro lado, a adaptação do músculo ao exercício aumentar a velocidade das trocas entre os capilares e as

é um fator importante na melhoria do desempenho em células e consequentemente uma melhoria no desempenho

esportes competitivos, essas adaptações são salutares físico.

também para grupos populacionais que fazem atividade


física sem o intuito de competir.

14
Sistema Cardiorrespiratório

extrai, mesmo em repouso, uma quantidade alta de O2 do


Consumo máximo de oxigênio
sangue arterial , que é muito próxima dos limites máximos
de liberação de O2 pela hemoglobina, resultando assim
uma grande diferença artério-venosa (diferença entre o
conteúdo de oxigênio entre o sangue arterial e o sangue
venoso misto ou fluxo arterial pulmonar em repouso,
que representa a quantidade de oxigênio extraído ou
consumido pelos tecidos), de aproximadamente 75%.
Dessa forma, o coração diante do aumento das demandas
metabólicas imposta pelo exercício físico, tem que manter
a oxigenação a expensas da variação e elevação de fluxo
coronário, conhecida como reserva coronária, que pode
chegar até 4 a 5 vezes, quando comparado com o fluxo
basal.

Desta forma, o consumo máximo de O2 é definido


como a quantidade máxima de O2 que o organismo pode
absorver da atmosfera para os alvéolos, transportando,
Tradicionalmente, o consumo máximo de oxigênio
liberando e utilizando o O2 nos tecidos. Ao mesmo tempo,
é a variável mais conhecida e a mais estudada, sendo
ele representa o nível de atividade física do indivíduo, que
considerada ainda a mais importante em relação ao
representa a reserva máxima do sistema cardiovascular. O
prognóstico de sobrevida na insuficiência cardíaca. O
mesmo é atingido quando ao aumentar-se a inclinação da
consumo máximo de oxigênio tem sido considerado um
esteira em 2.5%, o consumo de O2 permaneça estável,
importante indicador do nível de capacidade física e/
ou quando sua elevação é menor do que 150ml O2/min
ou da capacidade aeróbia, representando dessa forma,
Ao atingir-se o VO2 máximo, a capacidade de transportar
a reserva máxima do sistema cardiovascular, definida
e utilizar o O2 desde a atmosfera até os níveis teciduais
como a percentagem máxima que o débito cardíaco pode
através da oxidação celular, o O2 é utilizado para a
aumentar acima dos níveis normais, afim de atender as
produção energética dos corpos trifosforados do ciclo de
necessidades metabólicas impostas pelo exercício físico.
Krebs a nível mitocondrial, torna-se insuficiente para suprir
o aumento da demanda energética imposta pelo exercício
Sabe-se que, que dependendo da idade e do
físico.
treinamento físico a mesma pode aumentar entre 200%
a 600%, quando comparado ao metabolismo basal. Por
conseguinte, durante o exercício físico agudo, nos indivíduos Estrutura muscular
com reserva cardíaca baixa, não existe condições para o
aumento adequado do débito cardíaco, afim de permitir o Tipos de fibras musculares
ajuste do organismo às novas necessidades metabólicas
do organismo. Como consequência, ocorre dispnéia e O músculo esquelético é a maior massa tecidual do
fadiga muscular intensa, decorrente da isquemia tecidual corpo humano. Com o envelhecimento, há uma diminuição
e da isquemia muscular. lenta e progressiva da massa muscular, sendo o tecido
nobre, paulatinamente, substituído por colágeno e
Também, ao exercício físico, o consumo de oxigênio gordura: o motor se encolhe dentro do chassi. Ela diminui
correlaciona-se com o fluxo arterial coronário. Por outro aproximadamente 50% (dos 20 aos 90 anos) ou 40%
lado, o consumo de oxigênio correlaciona-se também (dos 30 aos 80 anos). Tal perda tem sido demonstrada:
com o fluxo arterial coronário e, sendo o coração um primeiro, pela excreção da creatinina urinária, que reflete
órgão essencialmente aeróbio através da rede coronária, o conteúdo de creatina nos músculos e a massa muscular

15
Sistema Cardiorrespiratório

O músculo esquelético de um adulto 22, é formado por


total; segundo, pela tomografia computadorizada, em quantidades iguais de fibras de contração lenta (Tipo I)
que se observa que, após os 30 anos de idade diminui e de contração rápida (Tipo II). As fibras de contração
a secção transversal dos músculos, há menor densidade lenta apresentam um maior fluxo sanguíneo, uma maior
muscular e maior conteúdo gorduroso intramuscular densidade capilar e também, um maior número de
(alterações que são mais pronunciadas na mulher do mitocôndrias. Este tipo de fibra é bastante resistente à
que no homem); e terceiro, histologicamente, detecta-se fadiga, desde que o fluxo sanguíneo seja mantido. As
uma atrofia muscular as custas de uma perda gradativa fibras de contração de mitocôndrias, também as fibras
e seletiva das fibras esqueléticas (o número de fibras do Tipo IIa têm um metabolismo oxidativo elevado e
musculares no idoso é aproximadamente 20% menor do são resistentes à fadiga. As fibras do Tipo IIb entram
que no adulto, sendo o declínio mais acentuado em fibras em fadiga rapidamente quando são requisitadas para a
musculares do tipo II – anaeróbicas, de contração rápida contração muscular. O organismo adapta-se ao aumento
– que, de uma média de 60% em adultos sedentários, vai de intensidade de exercício (de suave para moderado a
para menos de 30% após os 80 anos)(12-13). Tal declínio intenso) pela utilização de maior número de fibras em
está diretamente relacionado com a diminuição da força geral na seguinte ordem: Tipo I, Tipo IIa e Tipo IIb.
muscular idade-relacionada. Sabendo-se das características dos tipos de fibra, torna-
se fácil entender porque o desempenho atlético pode ser
Os benefícios das sessões de longa duração em facilmente prolongado de intensidade submáxima e de
melhorar o desempenho estão relacionadas com curta duração até aquele de alta intensidade. Sabe-se
as adaptações cardiovasculares, balanço hídrico, que as adaptações das fibras musculares induzidas pelo
disponibilidade de substratos ou outros fatores que treinamento não promovem alterações significativas entre
não estão diretamente relacionados com as adaptações as fibras de contração lenta (Tipo I) e contração rápida
específicas a nível muscular. Pelo menos, parte dos efeitos (Tipo II). O elevado número de fibras de contração lenta
benéficos do aumento da intensidade do treinamento para (70 a 90%) que observa-se em atletas de resistência de
induzir as adaptações musculares podem ser atribuídos à alto nível, provavelmente, é genético e não devido ao
intensidade de solicitação das fibras musculares 8. Uma treinamento.
vez que o pico de desempenho (ou seja, desenvolvimento
de força e/ou potência) é obtido pelo desenvolvimento do
conjunto de fibras, o aumento da potência está calcado
Mitocôndria
na requisição de fibras musculares adicionais. Este tato
Uma adaptação básica que ocorre bioquimicamente e
pode ser observado pela marcante adaptação que ocorre
que é induzida pelo treinamento reside no aumento do
com as fibras de baixo poder oxidativo, que aumentam
número de mitocôndrias nas fibras dos músculos 14. O
para atender a maior demanda devido ao exercício mais
aumento significativo na quantidade de mitocôndrias
intenso.
aumenta também a capacidade para produção de energia
aeróbia e consequentemente os carboidratos e gorduras
Enquanto as adaptações para o treinamento de
são mais facilmente oxidados; este fato é observado
resistência são complexas e multifacetadas, as modificações
tanto nas fibras de contração lenta como naquelas de
que ocorrem nos músculos ativados são fundamentais
contração rápida que se adaptam melhor ao programa de
e provavelmente garantem as alterações metabólicas e
treinamento.
funcionais que dão o suporte para aumentar o desempenho
em resistência observado após o treinamento. A adaptação
que envolve uma remodelação muscular (aumento no
Capilaridade muscular
conteúdo mitocondrial e na capilaridade) é influenciada
O exercício aumenta a capilaridade das fibras
pela duração e intensidade dos exercícios e necessita de
musculares, portanto, quando estas estão em atividade,
um longo período até atingir o estágio ótimo de equilíbrio
o fluxo sanguíneo aumenta. O aumento da capilaridade
adaptativo e é perdido pela inatividade.

16
Sistema Cardiorrespiratório

ocorre mais facilmente nas fibras de baixa capacidade


Metabolismo
oxidativa (Tipo IIb), que apresentam, normalmente, uma
baixa densidade capilar. O desenvolvimento de novos
capilares, porém, pode ocorrer em todos os tipos de fibras.

O aumento da capilaridade ao redor de cada fibra


aumenta a captação de oxigênio devido ao aumento da
capacidade de difusão desse elemento, encurtando a
distância necessária para que o oxigênio se difunda no
músculo e/ou pelo aumento do tempo para que o processo
ocorra (ou seja, as células vermelhas do sangue ficam
mais tempo nos capilares). Este aumento da capilarização
contribui para a melhora da oxigenação, como já foi
observado com animais de laboratório submetidos a
treinamento e em seres humanos e como consequência
promove um aumento na captação de oxigênio como se
O aumento das mitocôndrias que ocorre nos músculos
observa em indivíduos treinados para provas de resistência.
treinados, apresentam uma série de efeitos metabólicos
que melhoram o desempenho em exercícios prolongados.
Fluxo sanguíneo Primeiramente, ele é responsável pelo aumento na
utilização de ácidos graxos como fonte de energia após o
O fluxo sanguíneo no músculo esquelético é bastante exercício, mesmo quando os níveis desses ácidos graxos
elevado; ele é tão alto que o débito cardíaco não consegue no sangue estão baixos. Também o aumento mitocondrial
perfundir todos os capilares de massa muscular quando nas fibras musculares alteram os sinais bioquímicos que
está em atividade máxima. Devido a este fato, quando o controlam o metabolismo durante uma atividade sub-
indivíduo está se exercitando intensamente e requisitando máxima. De fato, quando comparamos com indivíduos
um consumo máximo de oxigênio, o débito cardíaco somente não treinados, os sinais das fibras musculares treinadas
atinge parte das exigências, portanto, as necessidades que podem acelerar o metabolismo durante o exercício
não são atendidas. Não existe nenhum trabalho que tenha estão atenuados, portanto, reduzindo a utilização de
demonstrado que o fluxo sanguíneo possa atingir seu pico carboidratos e provavelmente contribuindo para uma
máximo aumentando o treinamento em resistência, porém economia de glicogênio muscular que é observado em
os valores adaptativos podem promover um aumento além pessoas treinadas. Essas adaptações metabólicas do
do previsto. Parece que ocorrem modificações e adaptações músculo favorecem o desempenho de indivíduos treinados
durante o treinamento, envolvendo uma melhor utilização para provas de resistência.
do fluxo sanguíneo nos músculos e, também ocorre um
aumento na troca de nutrientes entre os capilares e as
Estímulo do treinamento
fibras. Este fato tem um papel importante no controle
arterial vasomotor no suprimento e na resistência dos
vasos e também no aumento da capacidade de trocas
Duração e intensidade do exercício
entre os vasos que circundam as fibras musculares.
Para indivíduos jovens e idosos, portadores ou não de
fatores de risco para doença cardiovascular e cardiopatas
estáveis, a intensidade do exercício deve ser prescrita pelos
limiares ventilatórios fornecidos pela ergoespirometria.
Para os pacientes com insuficiência cardíaca a prescrição
do limite superior deve ser estabelecida 10% menor que o

17
Sistema Cardiorrespiratório

valor registrado no ponto de descompensação respiratória, É viável e sensato que exista flexibilidade durante a
evitando assim, que o exercício seja realizado em acidose aplicabilidade dessas porcentagens na prescrição de
metabólica descompensada. No programa de prevenção exercício, no que se refere à condições gerais de saúde
e reabilitação cardiovascular oferecida pela Unidade de do indivíduo (cardiovascular, muscular, osteo-articular,
Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do psicossomáticas e outras). Vale lembrar que o custo/
Instituto do Coração, a prescrição de exercício é realizada benefício da prevenção e reabilitação cardiovascular
numa intensidade entre o limiar anaeróbio e 10% abaixo deve obedecer muita mais a adesão desse paciente ao
do ponto de descompensação respiratória. Na falta de uma programa, conseguida através do prazer em realizar o
avaliação ergoespirométrica, entre 50 e 80% da frequência exercício físico.
cardíaca de reserva (FCres).

Pela maior facilidade de mensuração durante as sessões


Tipo de exercício
de treinamento físico, a intensidade do exercício pode ser
As atividades que utilizem grandes grupos musculares
controlada pela frequência cardíaca correspondente ao
e que possam ser mantidas por prolongado período de
limiar anaeróbio e 10% abaixo do ponto de descompensação
tempo, de forma rítmica como, por exemplo, caminhada,
respiratória, através da palpação da artéria radial no punho
corrida e ciclismo, são recomendadas como o tipo de
ou frequencímetro. A frequência cardíaca de reserva é
exercício mais efetivo para a melhora cardiovascular. Este
empregada na fórmula de Karvonen, descrita abaixo:
tipo de atividade pode ser realizada por indivíduos que
idealizam a prevenção (saudáveis e portadores de fatores
FC treinamento = (FCmáx – FCrep) x
de risco), bem como a Reabilitação Cardíaca(cardiopatias
% de treinamento físico + FCrep
no geral).

Cuidados adicionais com a intensidade O exercício resistido dinâmico de baixa a moderada


da prescrição intensidade (até 50% da contração voluntária máxima),
realizados em séries de 10 a 15 repetições, com intervalos
É de extrema importância que as recomendações sejam de descanso entre as séries, é recomendado como
seguidas pelo paciente, principalmente quando ele faz uso parte complementar de um programa de prevenção e
de beta-bloqueadores ou anti-hipertensivos, pois esses reabilitação cardiovascular 2. Nessas condições, este tipo
medicamentos alteram a frequência cardíaca e a pressão de exercício promove melhora na resistência muscular,
arterial durante o teste. Outro ponto importante também facilitando a realização das tarefas diárias, trazendo maior
acontece quando o paciente treina em bicicleta. Quando independência , principalmente para indivíduos com idade
isto ocorre, deve-se reduzir em 10% o valor da frequência mais elevada.
cardíaca máxima, se o teste ergométrico for realizado em
esteira rolante, antes de aplicar a fórmula de Karvonen. Também é de grande importância que os exercícios de
Dessa forma, quando o aluno realizar o treino em bicicleta, alongamento sejam realizados no início e no término das
a frequência cardíaca estará diminuída em 10% em relação sessões, sempre com a orientação para que o paciente
a esteira, pois na bicicleta estarão envolvidos menores mantenha uma respiração adequada, na tentativa de se
grupos musculares. evitar a Manobra de Valsalva.

Ainda com relação à frequência cardíaca, quando a As sessões de condicionamento físico são realizadas
resposta ao teste for isquêmica (teste positivo), deve- de forma coletiva, mas com prescrições individualizadas.
se considerar como frequência cardíaca máxima, o valor Elas são divididas em turmas com frequência semanal de
registrado no estágio de positivação, para evitar que o duas ou três sessões. As sessões possuem a duração de
indivíduo treine acima do limite de isquemia. 60 minutos e são divididas em 4 partes distintas:

18
Sistema Cardiorrespiratório

a) aquecimento – (duração 5 a 10 minutos) consta podem ser instrumentos que contribuem para realçar o
de exercícios envolvendo grandes grupos musculares desempenho após um treinamento de semanas ou meses.
realizados com intensidade progressiva;

b) parte principal ou parte aeróbia – (duração 30


minutos) consta de exercício em cicloergômetro e
caminhada/corrida;

c) ginástica localizada – (duração 15 minutos) visa


o desenvolvimento dos objetivos específicos citados
anteriormente;

d) parte final – (duração 5 minutos) consta de exercícios


de alongamento e relaxamento.

Durante o programa, os participantes são reavaliados


nos primeiros 3 e 6 meses e, a partir disso, semestralmente.
Essa reavaliação visa avaliar a progressão da doença
e o efeito do condicionamento físico, possibilitando a
atualização da prescrição de exercício físico conforme o
estado atual do aluno.

Exercício de curta duração


Nem toda a melhoria que ocorre no desempenho,
devido ao treinamento, deve ser atribuído às adaptações
bioquímicas em longo prazo. Por exemplo, mesmo alguns
dias após o início do programa de treinamento, pode-
se evidenciar uma melhoria no desempenho muscular
e no metabolismo, talvez devido ao fato deste tipo de
treinamento causar, inicialmente, uma modificação
no controle neuromuscular e/ou cardiovascular, que
melhoram a utilização das fibras musculares, metabolismo
e distribuição do fluxo sanguíneo. Este é um dos exemplos
da complexidade das mudanças e da variedade na
duração do treinamento que é necessário para que uma
determinada adaptação possa ocorrer, na fase de transição
de uma condição de relativa inatividade, a um estágio de
condicionamento físico ótimo.

Todas as melhorias que ocorrem no desempenho físico


após o treinamento não podem ser atribuídas unicamente
às adaptações desenvolvidas pelo músculo. Outras
modificações (neuromuscular, cardiovascular e endócrinas)

19
Sistema Cardiorrespiratório

Dudley, G.A. P.C. Tullson and R.L Terjung (1987).


REFERÊNCIAS
Influence of mitochondrial content on the sensitivity of
respiratory control. J. Biol. Chem. 262: 9109-9114.
Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho
Humano. William D. Mcardle, Frank I. Katch, Vitor L. Katch.
Fink, W.J., D.L. Costill, and M.L. Pollock (1977).
7 Edição, Guanabara Koogan, 2011.
Submaximal and maximal capacity of elite distance
runners. Part II. Muscle Fiber composition and enzyme
Guyton, AC. Fisiologia Humana. Guanabara Koogan, 6.
activities. Annals N.Y. Acad. Sci. 301: 323-327.
Edição, 2009.

Gollnick, P.D., and B. Saltin (1982). Significance of


Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho
skeletal muscle oxidative enzyme enhancement with
Humano. William D. Mcardle, Frank I. Katch, Vitor L. Katch.
endurance training. Clin. Physiol. 2: 1-12.
7 Edição, Guanabara Koogan, 2011.

Green, H.J., R. Helyar. M. Ball-Burnett, N. Kowalchuk, S.


ACSM. Manual de pesquisa das Diretrizes do ACSM para
Symon, and B. Farrance (1992). Metabolic adaptations to
os testes de esforço e sua prescrição. 6 ed., Guanabara
training precede changes in muscle mitochondrial capacity.
Koogan, 2010.
J.Appl. Physio. 72:484-491.

Andersen, P., and B. Saltin (1985). Maximal perfusion of


Henriksson, J., and J.S. Reitman (1977). Time course of
skeletal muscle in man. J. Physiol., London 366:233-249.
changes in human skeletal muscle succinate dehydrogenase
and cytochrome oxidase activities and maximal oxygen
Bebout, D.E., M.C. Hogan, S.C. Hempleman, and P.D.
uptake with physical activity and inactivity. Acta Physiol.
Wagner (1993). Effects of training and immobilization on
Scand. 99:91-97.
VO2 and DO2 in dog gastrocnemius muscle in situ. J. Appl.
Physiol. 74: 1697-1703.
Holloszy, J.O. (1967). Biochemical adaptations in
muscle. Effects of exercise on mitochondrial oxigen uptake
Booth. F.W. (1977). Effects of endurance exercise on
and respiratory enzyme activity in skeletal muscle. J.Biol.
cytochrome c turnover in skeletal muscle. Annals N.Y.
Chem. 242:2278-2282.
Acad. Sci. 301: 431-439.

Holloszy, J.O., and F.W. Booth (1976). Biochemical


Cadefau, J., H. J. Green, R. Cusso, M. Ball-Burnett, and
adaptations to endurance exercise in muscle. Ann. Ver.
G. Jamieson (1994). Coupling of muscle phosphorylation
Physiol. 38:273-291.
potential to glycolysis during work after short-term training.
J.Appl. Physiol. 76:2586-2593.
Holloszy, J.O., and E.F. Coyle (1984). Adaptations of
skeletal muscle to endurance exercise and their metabolic
Delp, M.D., R.M. McAllister, and M.H. Laughlin
consequences, J.Appl. Physiol. 56: 831-838.
(1993). Exercise training alters endothelium-dependent
vasoreactivity of rat abdominal aorta. J. Appl. Physiol. 75:
Karlsson, J., L.O. Nordesjo, L. Jorfeldt, and B. Saltin
1354-1363.
(1972). Muscle lactate, ATP, and CP levels during exercise
after physical training in man. J.App. Physiol. 33:199-203.
Dudley, G.A., W.M. Abraham, and R.L. Terjung (1982).
Influence of exercise intensity and duration on biochemical
Mackie, B.G., and R.L. Terjung (1983). Influence of
adaptions in skeletal muscle. J. Appl. Physiol. 53:844-850.
training on blood flow to different skeletal muscle fiber
types. J.Appl. Physiol. 55:1072-1078.

20
Sistema Cardiorrespiratório

Mole, P.A., L.B. Oscai, and J.O. Holloszy (1971).


Adaptation of muscle to exercise. Increase in levels of
plamityl Co-a synthetase, carnitine palmityltransferase,
and plamityl Co-a dehydrogenase, and in the capacity to
oxidize fatty acids. J. Clin. Invest. 50: 2323-2330.

Negrão,C.E.;Barreto,AC.P. Cardiologia do Exercício: do


atleta ao cardiopata. Manole 3.edição, 2010.

Robinson, D.M., R.W. Ogilvie, P.C. Tullson, and R.L.


Terjung (1994). Increased peak oxygen consumption of
traine muscle requires increased electron flux capacity.
J.Appl. Physiol. 77: 1941-1952.

Saltin, B, and P.D. Gollnick (1983). Skeletal muscle


adaptability: significance for metabolism and performance.
In: L.D. Peachey (ed.) Handbook of Physiology, Sec. 10,
Skeletal Muscle, Baltimore, MD: Williams and Wilkins, pp.
555-631.

Saltin, B., K. Nazar, D.L. Costill, E. Stein, E. Jansson, B.


Essen, and P.D. Gollnick (1976). The nature of the training
response: peripheral and central adaptations of one-
legged exercise. Acta Physiol. Scand. 96: 289-305.

Segal, S.S. (1994). Cell-to-cell communication


coordinates blood flow control. Hypertension 23:1113-
1120.

Sexton, W.L., and M.H. Laughlin (1994). Influence of


endurance exercise training on distribution of vascular
adaptions in rat eskeletal muscle. Am. J. Physiol. 266:
H483-90.

Terjung, R.L. (1979). The turnover of cytochrome c in


different skeletal-muscle fibre types of the rat. Biochem. J.
178: 569-574.

Yang, H.T., R.W. Ogilve, and R.L. Terjung (1994).


Peripheral adaptions in trained aged rats with femoral
artery stenosis. Circ. Res. 74:223-243.

21

Você também pode gostar