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O BARAO DE STUDART E AS FAMILIAS FEITOSA E ARAUJO Carlos Feitosa Assinalando a passagem do primeiro centendrio de nascimento do Dr. Guilherme Studart — 0 Bardo de Studart das lides do pen- samento, titulo honorifico com que firmava suas pesquisas histéricas e de genealogia —, gcorrido a 5 de janeiro do ano fluente, prestaram © mundo intelectual do Ceara, a classe médica e as Conferéncias Vicentinas 0 tributo das homenagens de que se féz merecedor aquéle que dedicou as exceléncias de sua nobre e privilegiada inteligéncia & retificaco histérica de sua terra e A filantropia, como principal inspirador 2 sustentaculo que foi da Pia Sociedade de Sao Vicente de Pauio, da quai, por quarenta anos, foi Presidente de seu Conselho Central, exercendo a missio que Ihe conflaram os seus pares como 0 dever maior de sua luta, Quem tomar conhecimento desta vida longa, util e proveitosa, nao pedera discernir em que mais se agigantou: se como paciente es- quadrinhador dos nossos primérdios ou como discipulo dileto de Ozanan. 2. As primeiras tentativas para escrever a histéria do Ceara foram feitas pelas autoridades administrativas que, numa fuga da, linguagem monétona e tediosa dos relatérios oficiais, se alongavam. em apreviagées sébre fatos travados durante suas gestées ¢ as vézes observados em visitas ao interior, a que se obrigavam, os que se impunham 0 bom desempenho da fungi. Incluem-se nesta catego- nia, @ “Relac&io” de Soares Moreno, a “Meméria” de Barba Alardo, a “Desericio” de Paulet, o “Relatérlo” de Montaury, a “Noticia” de Borges da Fonseca, etc. Ao depois, surgiram os viajantes estrangeiros. Entre éles, e por naver transitado por nossa terra, cujo estudo colimamos, ressalta- mos a figura de Henry Koster que, vindo da brumosa Albion, refu- REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA xi) givu-se nv clima tropical do Recife com o fito de obter melhoras para a saude sériamente abalada. Nio deve ser esquecida a presenga entre nés de George Gardner. Procurando distrair-se dos fastidiosos dias do burgozinho aca- nhado que era a cidade Mauricia de entao, para quem procedia da metrépole inglésa, deliberou Koster percorrer as Capitanias vizinhas e de registrar 0 que ia vendo, ouvindo e participando em sua pas- sagem. Por fim, enfeixou o produto de seus apontamentos na ov que recebeu 0 batismo de “Travels in Brazil", magnificamente ver- tida para o portugués por Luis da Cémara Cascudo, que lhe ajustou © nome para “Viagens ao Nordeste do Brasil” e Ihe enriqueceu de notas eruditas e explicativas de varios pontos obscuros e mal inter- pretados. Logo depois de publicada, no seu original, dela se aproveitou 1argamente Robert Southey em sua “History of the Brazil”, “co- piando o seu patricio quase textualmente” (Paulino Nogueira in CONSTITUIGAO, de Fortaleza, de 19-3-1884), em muitas partes, in- ciusive na que descreveu a priséo do Coronel Manuel Martins Cha- ves, como se constata do confronto feito pelo esmiugador Studart. A esia fase, que podemos chamar de memorialista, seguiu-se a de uma pléiade de ilustres coletadores que tiveram como pionelro o espiritosassantense Major Jo’o Brigido dos Santos — que aliave 4s atividades jornalisticas a de historiador —-, com os “Apontamentos para a Histéria do Catiri”, inseridas nas paginas do ja centenario ARARIPE, do Crato, em 10 de fevereiro de 1859, mais tarde, com outros trabalhos, reeditados com o nome de “Resumo Cronolégico da Historla do Cearé, segundo os Documentos Conhecidos até 1850”, em 1867; acompanhou-o o médico francés-nordestino Dr. Pedro ‘Théberge. totalmente integrado na terra cearense, com 0 “Esbéco Historico sébre a Provincia do Cear4”, primeiramente, propagado nas félhas do DIARIO DE PERNAMBUCO, a 28 de novembro de 1859, pesteriormente, reunido em dois tomos saidos a lume, respecti- vamente, os anos de 1869 e 1875; em seguida — agora, com cabe¢gas- -chatas genuinos —, surgiu o Conselheiro Tristao de Alencar Ara- ripe, com a “Historia da Provincia do Ceara, desde os Tempos Primi- tivos até 1850”, inicialmente estampada no DIARIO DE PERNAM- BUCO, de 13 de novembro de 1862, e impressa em 1867, continuado pelo Senador Tomaz Pompeu de Sousa Brasil, com “Estudos para a Historia do Ceara”, pelo Desembargador Paulino Nogueira, por Rodolfo Tedfilo, Perdigdo de Oliveira e outros, em artigos espalhados em jornais e revistas. Ressalte-se, também, o contributo da obra de feitio jornalistico @me s&o as “Notas de Viagem na Provincia do Cearfé — Parte do Nor- te’, de Anténio Bezerra de Menezes, datada de 1889, que foi colhér os 76___ REVISTA Do INSTITUTO DO CEARA fatos no proprio local de sua elaboracio. Alls, trabalho mais de romancista, para o deleite dos leitores, do que de indagacao histé- rica. Nao deve ficar deslembrado que éste autor é o maior respon- savel, seno o Unico, pela grande porgdo de fantasmagorias de que a nossa historia esta recheada. N&o o condenamos inteiramente, por que a lend ou fantasia 6 sempre o substractum da realidade. O que desaprovamos € a invencionice, aquilo que € exposto com nudez forte jara impressionar como verdadeiro. Enfim, na expressio veraz de Silvio Jtilio, estava honestamente escrita a historia politica do Cearé, ao contrario do que sucedia com outros ramos do conhecimento humano, alguns déles ainda pouco sabido (“Terra e Povo do Ceara”, 1936, pag. 80). 3. © mesmo arroubo e auddcia que caracterizaram o desenrolar dos relatos histéricos marcaram, por igual, as primeiras tentativas dos cronistas coevos que, a0 se dedicarem ao nosso patriménio his- jorieo, deixaram-no cheio de erros, de opinides contraditérias entre um autor e outro, de indicios e suposigdes quando nao encontravam os Hames que uniam os episédios. Nao devemos esquecer que, se a 1* fase foi sacrificada pela ele- vada dose de parcialidade, uma vez que os seus autores eram figu- 1as principais dos feitos, e a 2° ficou prejudicada pela pressa dos viajantes —- cronistas do acaso —, também a 3% se viu fortemente influenciada pelas injuncées politicas, pois os qye se ocuparam dela detinham as posigées exponenciais do tempo, como se infere dos prenomes de seus apelidos. Assim, tais obras necessitavam de serem submetidas ao crivo de um exame rigoroso, para Ihes esvurmar, corrigir e aclarar todos os defeitos, Apareceu, entéo, nesta etapa aurea de nossa historiogratia, o Bardo de Studart, com seus métodos de pesquisas extenuativas até © esgéte completo da via probatéria, estabelecendo paralelos, coli- gindo a matéria dispersa e constrangindo a volumosa, esclarecenda as passagens duvidosas, e compendiando 0 produto dos seus esforgos. Em tudo, sobrepondo a verdade ao conjectural. Obtido o material, como ocorria, interessava, agora, joeirar a colheita e sistematiza-la. E do Bardo de Jaceguai a imagem que passamos a transcrever, a respeito da formacao dos povos: “A Historia de tédas as civilizagdes 6 como a forma- edo dos rios; antes de acharem o seu leito, sdo torrentes errantes que se precipitam, se cruzam, se espraiam, per- correndo Jagos trechos com aparéneia de um cusro nor- mal para irromperem subitamente, através dos aluvides, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA . 77 em direcdes divergentes, antes de confluirem para o vale em que encontram afinal 0 seu Alveo definitivo”. A idéia se adapta perfeitamente & evoluc&o de nossa terra, pois, apanhada de envolta com as alegorias e imaginacdes fantasistas. a Cronolugia do Ceara s6 se enveredou nos seus verdadeiros limites com os comentarios do Bardo de Studart. Ineansavelmente. e com probidade inatacdvel, éle se atirou & tarefa inumana de refazer os sucessos do seu patrio torrao, escoi- mando-os dos graves senées que os mutilavam- A colecdo da Revista do Instituto do Ceari e a da Academia earense de Letras, ai estao para atestarem a energia incomum éste homem, presente em quase todos os niimeros, e em monogra- fias e separatas, que contém descobertas nfo conhecidas dos que o antecederam. Os arquivos da Bahia, de Pernambuco e 0 Nacional, bem assim os europeus, objeto de seus culdados, foram vasculhados e déles retiradas cOptas que so hoje documentos valiosissimos para quantos se interessem pelos longes da histéria do Norte, especialmen- te do Cearé. Nestes repositérios do pretérito, estéo as pegadas do escavadcr indormido que éle fol. 4. Duas familias até entao estigmatizadas por aquéles historia- dores suspeitosos, e acreditadas com reservas em face da desfigura- ‘40 histurica que fizeram, foram grandemente beneficiadas pela eniténcia na caga 4p “por qué” do Bardo de Studart. Em primeiro sgat, a Feitosa, seguindo-se-Ihe a Aratijo Chaves, ambas, muito en- trelacadas entre st, familiarmente, porém, politicamente indepen- dentes e obedecendo a pater-familias proprios Conecidas nos fastos coloniais pelos incidentes em que se vi- vam enredadas, graves acusagdes Ihe pesavam por cometimento de ais que n&o praticaram, uns, outros, ditados pelo meio em que se zgitavam. De ambas, 0 provecto historiador se ocupou, pessuido do fervor da verdade, tao forte quanto o era o que consomia Epaminondas. Da Feitosa, tratou em Inéditos Relatives ao Levante Ocorrido na Ribelra do Jaguaribe no Tempo de Manuel Francés e do Ouvidor Mendes Machado (“Rev. Trim. do Inst. do Ceara”, 1° trim., tomo X, ano 1898, pigs. 142 a 208), revivendc as gestas épicas da demanda entre Montes e Feitosas, do que foi extraida uma separata, Este trabalho se acompanha de vasta correspondéncia oficial ainda nic vista, oferta do Coronel Lourenco Feitosa e Castro, guardiac glorioso 40 arquivo e das tradigdes mais caras da familia. Sobre a Aratijo Chaves, focalizou em Joao Carlos Augusto de Ocynhausen e Manuel Martins Chaves (‘Rev. do Instituto do Ceara”, tomo XXXII. ano 1919, pags. 3 a 21), reconstituindo a prisiio déste Ultimo, gue era Coronel da Quinta Companhia do Regimento de Ca- 3 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA vataria de Vila Nova dBl-rei, pelo primeiro, no momento, Governa- dor do Ceara. Em outro numero do mesmo periddico, versando ainda, éste proprio assunto, para o ano de 1927, paginas 121 a 158, sob a epigraie Manuel Martins Chaves — Documentos do Arquivo Publico Nacional, copiados ¢€ oferecidos pelo Barao de Vasconcelos, diversos tutulos de provas esto entranhados. 5. Vale, mais uma vez, desfazer os equivocos em que incidiram Koster ¢ Southey. O primeiro estudo, como se disse, reporta-se @ luta de familias ccnhecidas por dos Montes e Feitosas, ferida no primeiro quartel do século 18. O outro, diz respeito & prisio de Manuel Martins Chaves, injustamente apontade como autor intelectual do homicidio prati- vado contra o Juiz Ordindrio da Vila Nova d’El-rei, ao depois, Cam- po Grande, e, hoje, ora Inhucu, ora Guaraciaba do Norte. Studart empreendeu procura exaustiva para mostrar a diferenga entre os dois fatos. Um, as razias entre os Montes e os Feitosas, tcavadas no primeiro quartel do século 18, nos sertées dos Inhamuns, no Alto e Medio Jaguaribe; o outro, a, prisio do Coronel Manuel Mar- tums Chaves, pelo Governador Joao Carlos, ne primeiro Iustro do seculo 1b, nos campos dos Crateus, na Ribeira do Acarat. Por con- seguinte: fates, épocas, motivos e participantes distintos, de cuja Uiferenciagio n&o se apercebeu Koster, que ficou empolgado com as mirabolantes encenagdes de puros gestos que delas fizeram os vlicos do Govérno, emprestando-lhes colorido exagerado. Todavia, nao hesitamos em afirmar que éstes recontros danados despertaram um fascinio muito grande na alma daquela gente simples ¢ inculta dos tempos da conquista da terra. Colhendo sua narrativa por via oral, o viajante inglés Henry Koster, considerado por Richard Burton como the accurate Koster —— muito embora éle nao tenha sido téo cuidadoso quando trabalhou © material recebido —, que por aqui passou e se demorou entre 16 Ge dezembro de 1810 e 8 de janeiro de 1811, encontrou ainda fresco 0 alarde que a prisio de Martins Chaves levantou, pois que ocorrera de novembro para dezembro de 1805, Portanto, o fato ainda estava cheio dos exageros que a exaltacéo suscitou. Nao se advertindo disto, ‘Koster fundiu os dois casos num 86, atribuindo @ familia Feitosa o que sucedera com um membro da Araiijo Chaves. Hospedando-se na casa de Marcos Anténio Bricio, e frequentan- do assiduamenie o Palicio do Governador Barba Alardo, como éle gréprio afirma, o qual fomentava politica diversa da dos Feitosas, éstes j@ ligados aos Araitijo Chaves por elo familial, déle e de ele- mentos palecianos colheu aquelas historias téo escancaradamente adulteradas que renderam ensejo a Studart de, depois de fazer cotejo rigoroso dos dois textos, aparar os excessos e as excrescéncias, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 79 afinal, taxer a descri¢io de Koster, como a de Southey, de “um tecido de inexatiddes” (Rey. do Inst. do Ceara”, 1919, pag. 6). Coube ao Bur4o o afanoso encargo de desfazer o imbréglio criado por Koster. Evidentemente, 23 dias passados por entre as paredes do Palacio Governamental, ouvindo conversas nos jantares e em festas, para depois emprestar-lhes marca de autenticidade, é um meio muito du- vidoso de se fazer histéria, para o que se exige o completo alheamento das paixdes. Observando-se o periodo em que éle estéve entre nds, ‘yé-se que o assunto que lhe conferia autoridade para falar, seriam as iestas natalinas, as de ano bom e os reisados, que, se esta tivesse sido a sua preocupacio, teria deixado excelente contribuigao para 0 co- nhecimento dos nossos costumes daqueles tempos. aoe ee Vamos abrir um paréntese para apresentar ao puiblico um do- cumento que estéve perdido nos Cartérios, até agora, e que vem a:sentar, como definitivo, o que j4 se tinha como verdadeiro. Diz o Sr. Leonardo Feitosa, apoiado em duas cartas encontradas no arquivo da familia, manuscritas por Francisco do Vale Pedrosa, wma, a outra, por Manuel Martins Chaves e Vale, que os verdadeiros responsaveis intelectuais pela morte do Juiz Ordinario Antonio Bar- bosa Ribeiro foram o Ten, Cel. Antonio da Costa Leitao e seu sobri- nko, o Cap.-ror Bernardino Gomes Franco, por causa de haver o Juiz, por motivo de intriga (sic), ter sentenciado contra a Fazenda “Cachoeira”, pertencente ao primeiro e, ainda, a referida autoridade haver morto um rapaz do segundo (Ver O Coronel Manuel Martins Chaves, in “Rev. do Inst. do Ceara”, 1928, pag: 27 ¢ o “Tratado Genea- iégico da Familia Feitosa”, 1952, pags. 146-148). Um documento que, por intermédio do Dr. Meton Vieira, bela vocagao de linhagista transviada para a advocacia, tivemos a fortuna de recolher, e ora apresentamos discussio, em primeira mio, escri- to do préprio punho do Governador Montaury, revela a existéncia de uma questao de terras, provavelmente a da Fazenda “Cachoeira”, gue vem corroborar, plenamente, as cartas de Francisco do Vale Pe- diosa ¢ de Manuel Martins Chaves e Vale, atualmente em poder co Sr. Leonardo Feitosa, dando-lhe, assim, cunho de veracidade. Mais, ainda, confirmam os juizos eritieos de Studart, ressaltando a acuida- de do saudoso historiador: Expde a pega em destaque: “Depois de ter despachado hum requerimento seu ins- truido com documentos, que ao parecer comprovario o que no mesmo allegava, ordenando por desp° meu no 30 REVISTA pO INSTITUTO DO CEARA mesmo requerimento posto, ao Capm.-Mor Antonio Pin- to de Mesquita erigisse as caissaras q. tinha demolido nas terras cuja possessio vmce. contendem, me foi aprezen- tado pot parte do dito Mesquita outro requerimento tao bem instruido com documtos., titulos de que consta igual- mente serem suas as mesmas terras, que sendo por mim visto, e a vista delle e ambiguide da materia: Ordeno a ambos que a ventilassem no competente Juizo, aonde sé podem yentilar o direito e preferencia q. 4s mesmas ter- ras cada hum tiver. Come. porem infiro que ainda nao recebeo a referida ordem, por esta Ihe ordeno que com o mesmo Mesquita no contenda senao pelos meios da justica, e a elle torno agora a ordenar o mesmo. Deos ge. a vmce. Va. de Santa Cruz do Aracaty, 9 de Agosto de 1783. Joao Bapta. de Azdo. Conto- de Montaury. Sr. Capm. Ant® de Souza Carvathedo”. © reconhecimento pelo Governador Montaury da dualidade de direitos ora conferido 2 uma parte e em detrimento da outra, e vice- ~versa, quando se presume”que sé os primeiros eram idéneos, sendo obra de arranjos os ultimos e 0 convencimento posterior da autori- dade governamental, iruto do protecionismo politico; a ordem pri- meiramente tomada e a expedi¢aio de um novo mandado em sentido oposto; o aviamento em tempo regular de uma contra-ordem e 0 envio de uma outra no mesmo sentido, em carater urgente, para evitar o desfecho da primeira resolucdo, as pressas desfeita, e de assim ficarem ressabiados os seus amigos politicos; a declinacio da competéncia todo poderosa do Governador, para julgar as lides, para 0 Juiz Ordinario, eleito gracas & sua interferéncia (Ver Joao Carlos Augusto de Oeynhausen e Manuel Martins Chaves, op. e n° cits., pag. %), que foi uma desgarantia maior de imparcialidade no desate da causa além de por o julgamento nas maos dos adversarios mais re- uhidos do querelante, que, por sinal, foi vencido; tudo isto vem de- monstrar 0 carater parcial e fraco do Governador Montaury —- jul- gados & Pilatos —-, pondo & mostra a instabilidade de suas senten- \4s, que tinham ainda o aspecto vacilante. Por outro lado, tendo o Juiz Ordinario sido assassinado a 3 de marco de 1795, como justificar a prisio de Martins Chaves, em no- vembro ou dezembro de 1805, mais de dez anos depois, sem éle nunca ynaver arredado o pé de sua fazenda, em pleno g6zo dos seus direitos politicos, pois era Coronel da 5%. Cia. de Cavalaria de Vila Nova @El-rei, quando os animos j4 estavam arrefecidos? Nao hé negar REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 81 que se tratava de perseguicdo politica, pois nem sequer a sua patente inka sido cassada ou os Governadores que antecederam a Joao Car- Jos procuraram prendé-lo. A felonia do Juiz Barbosa Ribeiro no ficou sé na decisao injusta dada contra a fazenda “Cachoeira”. Abusando de suas funcdes e com o propésite de vingar-se de seus adversarios e atender a com- Promissus assumidos no pleito que o elegeu, matou um rapaz do Cap.-mor Bernardino Gomes Franco, crime que lhe valeu o seu assassinio. Nao esquecamos que viviamos em pleno fastigio da lei de Talléo: traturain pro fractura, oculam pro oculum, dentem pro dente, como preserevia 0 cédigo babilénico de Hammurabi, que é norma consuetudinaria de téda sociedade no embriio. Por sua vez, nao facas a outrem... recomendam os Evangelhos. Déste modo, ¢ como nao calhassem em sua alma desajustada os conselhos dos livros sdbios, pagou com a vida a existéncia roubada a ouirem Conheeidos os precedentes, néo se pode coneluir que 0 Coronel ienha mandado eliminar a autoridade arbitraria. Chegamos a ac- initir que éle estivesse a par, nunca, porém, que autorizasse 0 sac ieio. Quem se dispuser a ler as crénicas do tempo, veré que o crime foi cometido por uma multidao, tantos quantos eram os seus desa- fetos. © Coronel Martins Chaves, ao ser acusado da morte que nao praticara, teve a atitude digna da posigdo que desfrutava no seio de sua familia, chamando a si a responsabilidade do erime que sabia pertencer a dois de seus parentes, muito embora isto Ihe custasse Lagicio e morte. © assento de personalidade do cli dos Arattjos Chaves, que nao se vergavam a Montaury e o favoritismo que éste dispensava ao Juiz Ordinario, foi o principal fator da morte déste. © atestado firmado pelo Ouvidor Manuel de Magalhdes Pinto ¢ Avellar de Barbedo, fornecido em 23 de setembro de 1786, cujo intei- 10 teor se encontra no “Trat. Gen. da Fam. Feitosa”, pag. 146 e “O Cel, M, Chaves”, pags. 25-26, jd citados, explica pormenorizadamente aS razées por que Montaury moveu forte perseguicéo aos Aratijos Chaves. Esciarega-se que tanto a familia Feltosa, como a Aratijo Chaves eram nativistas, contrarias, portanto, aos objetivos da metrépole na sua cobica execrével de ouro e de poder, representada pelos Gover- nadores que, a ferro e a fogo, impunham as Provincias o sinéte da forea. © Iema destas familias, era: com os colonizadores, quando 0 inimigo vinha de fora, como aconteceu na Invasio Holandesa, em Pernambuco; contra éies, quando se feriam interésses dos brasfiei- 82 __REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 10s, como sucedeu na Guerra dos Mascates, em Recife, de cuja uni- dade federada sio provenientes ambas as familias. Como prova de nossa assertiva, apresentamos o Coronel Jodo de Aradjo Chaves, do “Estreito”, Comendador do Habito de Cristo pelos servicos presta‘los na séea de 1825-1827 e Conselheiro Provincial em 1829, de quem Mantel Martins Chaves era tio-avd, que matchou em maio de 1823 como Comandante das Tropas dos Inhamuns para se 1euni: &s Forgas Expedicionérias Cearenses a0 comando de Fil- guciras ¢ de Tristao, despachados pelo Imperador Pedro I, contra o idié, que, em Oeiras, no Piaui, representava a illtima resis- téncia portuguésa, euja acio se estendeu a Caxias, no Maranhio, com: 0 escopo de ajudar a consolidar a independéncia politica do Brasil. Por outro iado, estava contra a legalidade, quando esta procura- va ferir direitos dos nacionais, como o foi a dissoluedo da Consti- cuinte por D. Pedro I, que provocou a deflagracio da Revolucéo do Squador, a favor da qual o Coronel Joio de Araujo Chaves prestou iclevantes servicos tomando parte na célebre Comissio Matuta ou o chamado Govérno Reyoluciondrio do Icé, em 1824, do qual foi um dos trés Vogais, Ali, estava com o Govérno; agora, virava-se contra éle. De sua parte, circunsténcias varias concorreram para que a familia Feitosa tomasse posi¢&io adversa aos Governadores. Em primeizo plano, vem sua rebeldia contra as imposi¢des arbi- lrarias @ descabidas das autoridades, com suas ingeréncias na vida patrimonial dos particulares para satisfazer apetites politicos, de que 6 exemplo a ordem assinada pelo Governador Montaury que se tornou inimigo figadal da gente dos Aratijos Chaves, pelo fato de nao se sufeitar aos seus caprichos; o acendrado amor 4 terra, que do- minava e donde tirava sua subsisténcia, manifestade, em Pernam- buco, pelo herdico patriotismo na defensio da terra invadida, e de onde foram acossados, dai decorrendo a vinda desta familia a estas plagas, como acentua Joao Brigido: “Os Feitosas, pernambucanos de Serinhaem, emigrados, ao que parece, no periodo de ocupacéo ho- jandesa” (‘Ceara — homens e fatos”, 1919, pags. 173 e 338) ou por se haverem ecomprometido no levante dos Mascates em Recife, em virtude do seu nativismo exaltado, contra os portuguéses que acam- bareavara as posigdes dignas, no pensar de Theberge, que, referindo-se acs Feitosas, diz: “que se suppde gravemente compromettidos no le- vante dos mascates do Recife. Para evitar a perseguig&o que se fez aus Brasiieiros que entraram nesta sedicéo, fugiram para o interior do Ceara, onde se fixaram nas proximidades do Ic6” (“Esb. Hist. s/a Frov. do Ceara”, 1* parte, 1869, pag. 128); resisténcia aos atos de in- justiga, que é a motivacéo das guerras aos Montes, que haviam per- REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 83 ido em iavor dos Feitosas, por ter caido em comisso, a data da Lagoa de Iguatu (“Datas de Sesmarias”, vol. 6°, pag. 168, n° 468), vujos direitos, concedidos pelo Cap.-mor Manuel Francés, e reconhe- vidos pelo Ouvidor José Mendes Lobato, o Tubarao, defenderam sem uesfalecimentos por largos anos em cruenta luta. A politica despética dos Governadores, acobertando os seus parti- darios de tédas as faltas cometidas e vexando os que Ihes eram con- trarios por nonadas, e, as vézes, gratuitamente, como ainda hoje si acontecer, foi, talvez, a razdo mais forte por que a realidade dos fa~ tos ficou tao empanada nos racontos dos nossos cronistas. © eminente Ministro Abner de Vasconcelos, do Tribunai Federal de Recursos, hoje aposentado, ao tempo em que exercia as elevadas fungées de Procurador Geral do Estado do Ceara, de cujo Tribunal tara conspicuo Desembargador, apreciando a psicologia das acusa- ¢6es dos senhores do mando, déste modo se expressou em Parecer que fol submetido a consideragéo do honrado Interventor Carneiro de Mendonca: “® preciso que V. Excia. no perca de vista que, em tédas estas cousas do interior, vive, infelizmente, em es- tado latente, o velho sentimento de partidarismo, se- gundo o qual os amigos de um credo politico mocentam sempre os cotreligionarios de tédas as suas faltas, en- quanto os adversarios os acusam, ainda quando nenhu- ma infracéo do dever se haja verificado. © meu conhe- cimento da vida do interior habilita-me, data vénia, a fazer essa observacdo a V. Excia.” (“Pareceres”, 1° vol. 1935, pag. 102). © caso debatido esta retratado fielmente pela figura da acusa- ¢&o gratuita de que nos fala o inclito Ministro Abner de Vasconcelos. Como no momento em que éle viu o interior do nosso Estado, quando o percorria e fazia o seu curriculo de Juiz, a situagiio de seu tempo é a mesnia de hoje e a da época em que se verificaram os fatos ora examinados. Para os sectarios da cér politica situacionista, os seus correligio- narios sio os melhores, os sem maculas. Os piores, os negrejados, esto do outro lado. Grandes adversarios das familias Feitosa e Araijo Chaves, por diferencas politicas, foram os Governadores Jodo Carlos, Montaury 2 outros. A respeito da personalidade do primeiro, o historiador José Ho- norio Rodrigues, Diretor da Divisio de Obras Raras e Publicagdes da Biblioteca Nacional, apresentando o volume CII da Colegio “Docu- 84 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA mientos Histéricos” (1953, pertencentes & Revolucdo de 1817, despede este comento contra o Governador Joao Carlos: “N&o faltam palavras legalistas de 4nimos servis, gue no sabiam sequer disfarcar a sabujice de carater com que se prostraram ante os poderosos do momento. Figuram, entre éstes, homens como o dicionarista Antonio de Morais e Silva ¢ Jo&o Carlos de Oeynhausen e Graven- burg, que governou Mato Grosso e Sio Paulo. O primeira chama de canalha ao povo que se ajuntou acs conspira~ dores e a tropa de linha e o segundo diz que em Mats Grosso n3o se fazia idéla de que houvesse poriuguéses como éstes degenerados infames que intenlaram desor- dem na Capitania de Pernambuco, da gléria com que andam anexos ao seu nome os de Vieira, Camardo e Dias. Oeynhausen beijava a benfazeia ¢ protetora mao con: que S. Majestade ia castigar ou j4 tinha castigado o ul- traje felto & dignidade e lealdade portuguésas”. Realmente, quem se dispuser a ler a carta que Jodo Carlos enviow ao Conde da Barca, em 1° de setembro de 1817, referindo-se aos re- ventes casos ocorridos em Pernambuco (doc. n° 56, fls. 106-108, vol CTL) e a reafirmacao da lealdade dos seus governados, ficaré enojado de tanta subserviéncia Outra mostra do descoloride do carater do Governador Joao Car- los 6 aquéle’ fato que se passou entre éle, j4 Ministro das Relagées Exteriores e da Marinha,e D. Pedro I, como se vé da seguinte passagem: “A rigides, do carater do Marquez de Aracaty foi mui- to apregoada no seu tempo, e passou para a historia do nosso paiz. Mas, isso se entende, quando elle agia ampa- rado pelo poder official contra adversarios mais fracos, ou quando, na presuncdo de que a Marqueza de Santos comecava a perder as gracas de D. Pedro I, cortou-Ihe a vizita 4 Imperatriz moribunda, ameagando-a asperamen- te. Mas quando D. Pedro Ihe disse verbalmente: “E eu no meu regresso vos enforcarla por crime de lesa-bele- za!...”, acrescentando: “Agora, meu amigo, para que jamais apparecam motivos de perigo para 0 seu pescoco, eu 0 dispenso do Ministerio. A um Mlnisiro enforcado, cu prefiro um Ministro esquecido. Saia de minha pre- senca”. Que ati(ude foi a daquele homem rigido? Nao obstante D. Pedro ter agido vergonhosamente, sem raziio, em favor de sua atrevida e audaciosa amante, o grande Ministro nao REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 85 teve uenhuma energia, e sé teve a dignidade que um eseravo teria pe- rante o seu senhor: submisso, calou-se. Pot que n&o seguiu 0 exemplo dos Ministros de D. Affonso IV, 0 Bravo, 7° Rei de Portugal? (O Coronel Martins Chaves, op. e lugar etis, pags. 21-32). Montaury, como j4 vimos, desfazia, com prontidao, qualquer despache que viesse contrariar seus amigos e seguidores politicos. et 6. Fechado o paréntese, reiniciamos 0 nosso debate. De tudo o que ficou dito, ha um fato a lamentar. & que a causa de tantas verdades andarcm ainda torcidas e de ja nado estarem to- talmente desmentidos os cronistas sem vocacio, em que faltam fé historica — para nado dizer inteireza moral —, deve-se, na maioria dos casos, & circunstancia de os livros do Baréo de Studart terem sido iidos por pouca gente, no tempo de suas edigées, em virtude de tira- gens reduzidas e fora do mercado. E hoje, que se tornaram raridades bibliograficas, muito menos o sio. Nem mesmo léem-nos aquéles que se dedicam a Historia e sdbre ela escrevem, como tivemos oportuni- dade de assinalar em “Lutas de Familias do Brasil”, do Prof. L. A. da Costa Pinto, da Universidade do Brasil. Contra esta obra redigimos enérgica refutagéo nas edicées de “O Nordeste”, de 11 e 12 de outubro de 1950, corrigindo conceitos ina- plicdveis emitidos sébre as familias Feitosa e Aratjo Chaves, que nao se coadunam com 9 carater de ambas. Outro historiador néo menos categorizado, no caso o escritor Gustavo Barroso, da Academia Brasileira de Letras e Diretor do Mu- seu Historico Nacional, em seco que mantém na revista “O Cruzei- To”, Sob o titulo Segredos e Revelacées da Histéria do Brasil, com um artigo que é uma, traicdo histériea, porém de grande efeito jornalisti- co, em face da manchete UM CANGACEIRO CEARENSE NA PRISAO DE LIMOEIRO, versando a prisio do Coronel Manuel Martins Cha- ves pelo Governador Joao Carlos, adulterou o acontecimento ven- lado. Lendo-se 0 contetido da reportagem, vé-se logo que éle se abe- erou tnicamente dos ensinamentos de Koster e de Southey, estando, pois, jejuno dos reparos do Bardo de Studart- Nao desejando ver propagada tio mal versada historia, resolve- mos enviar-lhe dois exemplares do jornal que difundiu nossa modesta co:tigenda, quando redatguimos o Prof. Costa Pinto e pugnavamos para que ninguém escrevesse algo a respeito do assunto, sem pro- vas Novas ou antecipado exame das obras do venerando historiador, as quais exigem consulta obrigatéria de quem se ocupar de qual- quer aspecto das antiguidades do Ceara. 86 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA Seis anos 0 nosso coestaduano Gustavo Barroso se quedou silen- eioso em relagio & matéria que havia suscitado a réplica, Agora, na dita segéo e mesma revista, nitmero de 4 de novembro de 1956, rempeu o mutismo em que ficara e recontou o episddio nos moldes de como o refez o Bardo. Desta vez, j4 ndo se trata de Um Cangaceiro Cearense na Prisio do Limoeiro, mas de uma Tragédia em Vila Nova l’E}-rei. Nao se fala mais cm facanhas de um cangaceiro, mas em tragédia de um inteliz. Foi um belo tento que marcamos, mas, a nossa maior satis- facao esta no fato de havermos vencido mais um dos que pensam que devemos romancear os fios perdidos da historia, a nosso bel pra- zer, que? por propositado interésse, quer por negligéncia em procurar as fontes da historia, ou preguiga, mesmo, sem se aperceber no mal que tal comportamento possa causar a outrem. De novo, na estacada da familia Feitosa, estivemos quando velo ® publicidade o livro “Dr. Antonio Vicente do Nascimento Feitosa”, do Mestre Anténio Austregésilo de Ataide, da Academia Brasileira de Letras, € professor emérito, cujo protesto se encontra em “O Povo”, de 5 de julho de 1954. Foi outro que nao leu Studart. Por igual, o poligrafo Abelardo Fernando Montenegro, da Aca- demia Cearense de Letras, em sua bem langada “Historia do Canga- ceirismo do Ceara”, 1955, no capitulo Cla Pastoril e Lideranca, pags. 32-33, esteando-se em Théberge e no Prof. Costa Pinto, éste, j4 am- parado naquele, mostra-se desconhecedor da contrasteacd do Baro aos escritos de Koster e de Southey e incorre nos mesmos erros do professor universitério. Recentemente, a divulgagio “Anuario do Cearé” (1953-1954), de Waldery Uchoa, nos titulos Guaraciaba do Norte (pag. 107) ¢ Ipuei- ras (pag. 127) expde o ato indigitado ao Coronel Manuel Martins Chaves, adulieradamente. & o resultado que colhem os que escre- vem apressadamente. Nesta obra encontramos confusdes lamenté- veis. Naquele titulo, vé-se que a vitima 6 o Juiz Anténio Barbosa Ri- peiro, o que é verdade. No outro, o Juiz passa a ser o Coronel Por- bem Barbosa. Foi a primeira vez que vimos 0 nome daquele senhor assim modificado, com risco grave de aumentar a algaravia em que 4 se acha, e contra a qual lutamos. Finalmente, em outra oportunidade que néo esta, iremos contra- ditar “Os Montes’, do Dr. Raimundo Girdo, do Instituto do Ceara, pondo-o em contradic¢éo com o Dr- Helvécio do Monte (edi¢éio do “Unitario”, de 4 de junho de 1916), o Bardo de Studart, as “Datas de Sesmarias” e outras fontes velhas, e, ent&o, diremos quantos eram os “800 indios Jenipapos”, demonstraremos que os Feitosas nao usur- param as terras de Trussu, mas, que Ihas concederam por sesmarias, em virtude de ter caido em comisso o Cap.-mor Salvador Alves REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 87 da Silva; provaremos que néo existe “data do Jucé” ¢ que os Fel- tosas nao esbulharam os Montes, até porque como tal nfo deve ser hhavido quem nfo tem posse; e detalharemos mais alguns sendes do apressado esbéco genealogico indicado. 7. Neniwm historiador com responsabilidade de buseador dos fatos da vida humana, e que déles queira ocupar-se com fidelidade, podera prescindir dos trabalhos do Barao de Studart. Salvo, se qui- ser ter as mesmas canséiras. Assim mesmo, seria proveitoso um confronto do resultado de suas especulagées, pois os que lhe sucede- ram terio sempre que seguir pela mesma trilha por éle aberta. Com inaudito esféreo, e o propésito de restaurar a verdade his- torica de sua terra, dedicou éle os melhores dias de sua vida. Como um artista que apanhasse um bloco de mérmore bruto ou um arqued- togo que achasse uma esquirola, éle recompés a histéria do Ceard de antanho. SObre o seu labor benfazejo, assim se externou o Prof. Djacir Menezes, conhecido jurista e socilogo conterraneo: “Durante decénios éle fol o garimpeiro incansavel a sondar os fides da nossa tradi¢éo, mergulhando nas cré- nicas para retificar desvios, corrigir erros, aluir falsida- des, na faina de clarear os meandros obscuros do nosso passado. E foram de tal porte o valor de sua tarefa, as revelacdes de seu génio investigador, as revelac6es do seu esférco fecundo, que o nome do Barao de Studart varou . ‘os quadrantes do Nordeste, repereutiu em todos os Angu- los do Brasil intelectual, projetou-se além das fronteiras, nos centros de ressonancia cultural do mundo” (“Bole- tim” do Instituto do Ceara). 8. Coneluindo, real¢amos que 0 reconhecimento da obra do Ba- 1Ao de Studart, e sua significacdo, acham-se comprovados pelos inti- meros epitetos que recebeu, testificantes todos da operosidade e qua- lidade de sua lida absorvente, Ai estéo: para José Vieira Fazenda, © mais profundo conhecedor das antiguidades do Rio de Janeiro, autor do inestimavel de “Antigualhas”, era “o Alexandre Herculano do Norte do Brasil”; para o genial Capistrano de Abreu, era “o bene- ditino dos arquivos”; para uns, era “o Thiers cearense”; para outros, “o Fernio Dias de Nossa Histéria” ou “o Herédoto cearense”. Nao resta diivida de que se tratava de um gigante, ¢ lhe assenta- vam bem as alcunhas com que foi designado, pois foi um obrelro in- fatigével que soube inteligentemente revelar dos velhos alfarrébios os segredos dos nossos arquivos.

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