O documento discute como a música "poente" evoca sinestesias e contradições entre conceitos como presente e ausente, histórico e cósmico, finito e infinito. A música apresenta tempos sem espaço e escalas sem referência, invertendo a flecha do tempo. O autor pergunta se o pintor Iberê Camargo estava presente na escrita do verso "vidas em carretéis".
Descrição original:
Pdf de texto dedicado a letrista que toca o sentimento
O documento discute como a música "poente" evoca sinestesias e contradições entre conceitos como presente e ausente, histórico e cósmico, finito e infinito. A música apresenta tempos sem espaço e escalas sem referência, invertendo a flecha do tempo. O autor pergunta se o pintor Iberê Camargo estava presente na escrita do verso "vidas em carretéis".
O documento discute como a música "poente" evoca sinestesias e contradições entre conceitos como presente e ausente, histórico e cósmico, finito e infinito. A música apresenta tempos sem espaço e escalas sem referência, invertendo a flecha do tempo. O autor pergunta se o pintor Iberê Camargo estava presente na escrita do verso "vidas em carretéis".
Sinestesia faz sentir o desvio entre as palavras e as coisas apresentadas a quem escuta
‘poente’. Mesmo nas formas já dissolutas, apressadas, do nosso presente. Dobras de
sinos marcaram vidas (Proust, Drummond, crianças no interior), mas as dobras das estrelas, apesar do silêncio positivista do espaço, fazem imaginar que o tremolo que marca o tempo musical de ‘poente’ convida a sensibilidade à imaginação. Mesmo repetido na execução inteira esse pulso, tremolo rápido, não é em nada apressado: ao contrário ele é anti-moderno. É duração. Pode ser isso, mas um outro chute seria mais acertado: o tremolo acompanha o cintilar das estrelas. Quando ainda não se estiver suspenso nesse luzir que um dia se esteja, como a lua aos gregos significava outra coisa que a nós agora. A música, o poema, inverte o sentido da flecha do tempo apontando para um outro perdido. ‘Tabas’ cobertas de ‘arabescos’ abrindo-se às molduras das estrelas, quase uma descrição proustiana em detalhes. Mas em ‘poente’ nada é demorado, o tempo e a escala são flechas que se atravessam de verso em verso, às vezes adjetivando a contradição. Presente-ausente é ver o mar em ilhós, pelo cais. Sinestesia (mas essa não é a palavra), contradição(?) entre a metafísica e o natural, entre o histórico e o sideral, finito e infinito. Entre a jabuticaba (ou açaí) e o quasar, entre a física e o individual (a consciência?). O belo da música é que ela apresenta tempos sem espaço e escalas sem referência. Não entro no mar por ser mineiro (apesar de cacaso), nem nos astros por ser telúrico, mas, caso houvesse permanência na morte, não seria insublime a duração de ‘poente’ como imagem de um pós-entardecer possível. Não entro nas cores comparecendo juntas, de mãos dadas, à luz. São sempre de tons escuros, apesar da luz e do brilho. Entro, finalizando, numa pergunta: na escrita do verso “vidas em carretéis” iberê camargo estava? Salve André! Salve Luísa! Abraços!