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OS JORNALISTAS ENQUANTO COMUNIDADE INTERPRETATIVA* Barbie Zelizer Annenberg School of Communication, Univ. de Pensilvania O que faz uma comunidade? Desde que os jornalistas ameri¢anos comecaram a ser identificados como grupo em ascenso social, a aca- demia olhou para estes como fazendo parte de uma profissao ou de um colectivo profissional. Ver o jornalismo como profiss4o pode con- tudo ter constituido uma limitagaéo 4 nossa compreensao da pratica jomalistica, levando-nos a considerar apenas as dimensdes do jorna- lismo pestas em evidéncia pelo enquadramento [frame] através do qual escolhemos observa-los. Este artigo propde uma forma suplementar de conceber a existéncia de uma comunidade que nao passa pelo quadro da «profissio». A im- portancia do discurso jornalistico para determinar aquela que é a ta- refa dos repdrteres, 0s contactos informais que cstabelecem entre si e © papel central da narrativa ¢ do acto de contar westérias», tudo isso sao dimensdes da pratica jornalistica que nao tém sido abordados nas discuss6es sobre a profissao e que contude contribuem para unir os jornalistas. Este artigo prope assim um novo quadro através do qual pode ser analisado o jornalismo, o qual da conta de dimensdes alter- nativas da pratica jornalistica, Propée que se considere o jornalismo nao sé como profissao mas também como uma comunidade interpre- tativa, unida pelo seu discurso partilhado e pelas interpretagdes co- lectivas de acontecimentos ptiblicos relevantes. Esta concepgao procura examinar a proliferagao do discurso jornalis- tico em torno de eventos-chave na historia do trabalho jornalistico como forma de compreensao do passado comum através do qual os jornalis- tas dao significado as suas vidas profissionais e se unem enquanto gru- ” Originalmente publicado na revista Critical Staries in Mass Communication, 1993, Vol. 10, pp. 219-237. Republicado com a autorizacao da Speech Communication Associa- fion. A auiora agradece aos seus revisores andnimose a Michael Schudson pelos seus comentarios. M Barbie Zelizer po. Este artigo aplica o enquadramento da comunidade interpretativa a nossa compreensao de dois acontecimentos centrais para os jornalistas americanos: o Watergate e 0 mecarthisme. Ao er em conta como ambos: os acontecimentos foram colectivamente interpretados pelos jornalistas, sugerc-se que estes nao s6 usam o discurso para dar sentido a pratica jomnalistica, mas que o fazem de forma a assimilar elementos dessa pra- tica negligenciados pelas interpretagdes formalizadas da profissao. 1, O enquadramento dominante: os jornalistas enquante profissianais Tomar 0 jornalismo como profisséo ajudou-nos durante muito tem- po a compreender como funciona esta actividade. Os socidlogos con- sideram determinado grupo ocupacional como «profissao» quando este exibe certas combinagdes de aptiddes, autonomia, aprendizagem ¢ educacao, testes de competéncia, organizagao, codigos de conduta, autorizagGes e orientagdes em termos de prestar um servico (Cf., por exemplo, Moore, 197()). «A profissao> proporciona também um corpo de conhecimentos que permite ensinar aos individuos o que fazer eo que evitar em qualquer circunstancia (Larson, 1977; Freidson, 1986; Gouldner, 1979). Os jornalistas adquirem assim 0 seu estatuto devido ao trabalho que efectuam agindo «como profissionais» ¢ exibindo cer- las caracteristicas predefinidas de uma comunidade «profissional». Is- to dé origem a uma orientacao ideoldgica para a producao de trabalho jornalistico que é necessdria para que o jornalismo mantenha os seus limites enquanto contunidade (Freidson, 1986; Larson, 1977; Johnson, 1977; Janowitz, 1975). Como tal, o sentimento de partilhar algo em co- mum por parte dos jornalistas é dcterminado por um enquadramento compartilhado de referéncia resultante do trabalho que efectuam Como pode 0 jomalismo beneficiar do facto de ser chamado uma profissao? Desde o inicio do século, quando um grupo difuso e de- sorganizado de escritores pode consolidar-se por intermédio de um acordo quanto aos padroes de acgao (Schiller, 1981; Schudson, 1978), a ideia duma profissao forneceu avs repérteres uma sensagao de con- trolo relativamente as condigdes de trabalho, aos salarios ¢ tarefas. A capacidade dos jornalistas para decidirem o que é noticia pass constituir aquile que os distingue dos que nao 0 sao. J nos anos 20, «05 profissionais dos media adoptaram a ideia segunde a qual os pro- fissionais so mais qualificados do que a respectiva audiéncia para de- terminar os scus interesses ¢ necessidades» (Tuchman, 1978b, p. 108). Enquanto esta ideia foi usada no interior das organizagdes mediati- cas como salvaguarda contra a mudanga, contra a perda de controlo e Os jornalistas enquanto comunidade interpretaliva 35 contra uma possivel rebelido (Soloski, 1989/1993), a orientagae ideo- légica que determinava tais capacidades permaneceu como o susten- taculo do reconhecimento do jornalismo enquanto profissao. Ser pro- fissional nao sé permitiu gerar uma aura de autoridade baseada nu- ma atitude especifica para efectuar tal tipo de trabalho como sugeriu além disso que os repérteres deveriam tomar determinadas aborda- gens quanto a difusao das noticias: serem cronistas objectivos, neutros eequilibrades (Schiller, 1979, 1981). Adoptar tais atitudes ajudou a por de parte os perigos inerentes 4 subjectividade do acto de informar ao mesmo tempo que permihu que 0s jomalistas se intitulassem como: profissionais (Schudson, 1978). Ainda que os académicos contemporaneos tendam a avaliar 0 jorna- lismo através do enquadramento da profissao, isso é na verdade posto em pratica de forma desigual. Diversas dimensdes da pratica jomalisi- ca, por exemplo, nao sao mencionadas na maioria das discuss: for- mais relativas ao jomalismo enquanto profissao. Por exemplo, os jorna- listas raramente admitem recorrer a construgées de realidade, considera- das pelos abservadores criticos como uma forma comum de apresentar as noticias (Goldstein, 1985; Tuchman, 1978a; Schiller, 1979). Em vez dis- so, preferem pdr a énfase na sua adesao aos principios da objectividade ¢ do equilibrio, ambos sugerides pelos cédigos profissionais (Gans, 1979). Isto Jevanta quest6es sobre como ¢ por que razao os jornalistas usam 0 profissionalismo como forma de esconder a dimensio «constru- liva» das suas actividades. Como é que «ser prolissi “Tsai para ocultar os elaborados mecanismos pelos quais é construi- da a realidade? A incapacidade de analisar esta dimensao comum do trabalho jomalistico permitiu que esta florescesse acriticamente, levan- do a necessidade de um enquadramento explicative alternativo. _Arrede informal que se estabelece entre os repérteres foi de forma si- milar descurada nas analisés formais do jornalismo enquanto profis- sao. Os socidlogos verificaram que o trabalho dos jornalistas se faz re- correndo a uma forma distinta de se sentirem enquanto colectividade (Gans, 1979; Tuchman, 1978b; Fishman, 1980; Rosheo, 1975; Tunstall, 1971; Roeh et al., 1980), forma esta que privilegia a interac¢ao hori- zontal relativamente 4 vertical, assim como a autoridade colegial rela- tivamente a autoridade hierarquica (Blau & Meyer, 1956; Tuchman, 1978a; Fishman, 1980; Gans, 1979), Tal rede informal pede ser (ao res- ponsavel pela consolidacao dos jornalistas nas respectivas comunida- des como as interpretacdes altamente codificadas de associagae e in- teracgdo que costumam ser pastas em destaque em andlises formais. E, no entanto, os contributos para a criagao dessa colectividade infor- mal nao sao mencionados nas anilises ao jornalismo enquanto profis- 36 Barbie Zelizer sd0, o que toma necessario um enquadramento alternativo para fazer face a relevancia ¢ a fungao do chamado jornalismo de matilha [pack journalism], dos pools de jornalistas, briefings e outros encontros profis- sionais, da pertenga a clubes sociais e a outras formas através das quais os jornalistas assimilam regras, fronteiras e adquirem um senti- mento de propriedade, isto é, saber quando as suas acgdes sido ade- quadas sem que tal lhes seja inculcado pelos seus superiores. Por exemplo, como ¢ que a comunidade jornalistica emerge a partir da discussao cultural? Como é que os jomnalistas efectuam o seu trabalho negocianda, discutindo c desafiando outros jornalistas? Qual o papel da consulta regular aos colegas sobre ideias para «estérias» ou sobre 0 modo de apresenté-las? Coma beneficiam os jornalistas da «recicla- gem» de vestérias» encontradas noutros mcios? Um enquadramento alternativo poderia abordar esta colectividade partilhada através da qual os repdrteres estabelecem um debate cultural através das empre- sas jornalistica As praticas jornalisticas de narragae-e-de-caulay «estérias» foram tame bém descuradas. Enquanto os jornalistas hd muito que discutem entre si questdes ligadas ao acto narrative — «como contar uma “estdria” noticiosa», distingdes entre facte e ficcdo, sobre as determinantes esti- listicas ou decorrentes do género e convengbes especfficas relativas 4 apresentagao de noticias (Evans, 1991; «Be it resolved», 1989-1990; | Berryhill, 1983)! — confessar a nao jornalistas uma dependéncia da es- trutura narrativa parece pressupor uma falta de profissionalismo. Ig- norar a importancia da narrativa em discussdes sobre 0 jornalismo en- quanto profissao gerou uma ambivaléncia relativamente a esta pratica, © que por sua vez levou a escdndalos ligadas a distingdo entre facto e ficgaa, como 0 caso Janet Cook no inicio dos anos 80?. O embarago dos jormalistas ao lidarem com a questao da fraude leva a crer que os qua- dros existentes para a compreensao do jornalismo nao tiveram tais praticas de contar «est6rias» em conta. Uma abordagem alternativa podera levar a compreensao de questdes relevanles para a centralida- de da estrutura narrativa — de que modo os jornalistas atribuiram a si Proprios o poder de interpretacao, 9 que levou a que certos tipos pri- vilegiados de narragio tivessem sido adoptados pelas organizagocs noticiosas, ¢ de que forma a estrutura narrativa ajudou os jornalistas a neutralizar outras descricdes menos fortes ou menos coerentes do mes- mo acentecimento. eti¢ao de tm mesmo esquema narrativo nas noticias pode ter tanto a Ver com a coesao entre 03 jornalistas quant com a compreensdo das audiéneias ou com o reforgo das mensagens. E, finalmente, 0 jornalismo pura ¢ simplesmente nao exige todos os wialistio. Ao contrario das profissées classicamente aparatos de profi: Os jornalistas enquanto comunidade interpretativa 37 definidas como a medicina ou 0 dircito, onde os profissionais legiti- mam as suas acgées por intermédio de percursos reconhecidos de aprendizagem, educacao e «licenciamento», estes aparatos tém tido uma importancia reduzida para os praticantes do jornalismo. Os jor- nalistas tém tendéncia a evitar os livros de ensino de jornalismo (Bec ker et ai., 1987), as escolas e os programas de jornalismo (Johnstone et al., 1976; Weaver e Wilhoit, 1986), assim como os. cédigos de conduta jornalistica. A aprendizagem é em vez disso considerada uma «com- binacao de osmose e facto consumado», com cédigos éticos altamente irrelevantes ¢ uma rejeiciio sistemitica da autorizacao de procedimen- tos (Goldstein, 1985, p, 165). Os jornalistas preferem as credenciais li- mitadas emitidas pelo departamento policial que, na perspectiva de Halberstam, funcionam como um «cartao de crédito social» (cit in Ru- bin, 1978, p. 16). Os jornalistas sao também avessos a associagoes pro- fissionais: a maior de todas elas — a Society of Professional Journalists ou Sigma Delta Chi — reivindica apenas 17 por cento dos jornalistas americanos (Weaver e Wilhoit, 1986). Isto sugere que os aparatos do profissionalismo nao dao origem a um quadro coerente do jornalisme enquanto profissao. Sabemos contudo que os jornalistas agem en- quanto comunidade, ainda que nio se organizem exclusivamente se- gundo as linhas da profissae. Quando observada alravés do enquadramento da profissdo, a ca- munidade jornalistica nao surge como satisfazendo as condicdes para ser considerada «profissional». Em alguns casos, uma vez que tende a ignorar, subestimar, ou quando muito a ser ambivalente nos seus apa- ralos, os repérteres correm 0 risco de serem apclidados como «profis- sionais fracassados» e de serem acusados de promover a «incapacida- de treinada» (luchman, 1978b, p. 111). Como foi sugerido por uma cquipa de investigadores, «0 jornalista moderno pertence a uma pro- fissa0 mas nao est? numa profissdo (...). As formas institucionais de profissionalismo serao provavelmente sempre evitadas pelo jornalis- la» (Weaver ¢ Wilhoit, 1986, p. 145). As actuais andlises do jornalismo enquanto profissao s4o portanto uma forma demasiado restritiva de explicar a pratica ¢ a comunidade jornalistica, uma vez que inserir os jornalistas em colectives profissionais nos dé um enqtiadramento in- completo do como funciona e da razao por que funciona 0 jommalismo. Isto nao significa que a colectividade representada pela profissao nao exista entre os jornalistas. Podemos facilmente recordar frases co- mo «the boys in the bus», «pack journalism» ou, segundo a imagem recente de uma jornalista, «the eyes in the gallery» — todas elas indi- cio de um enquadramento de referéncia comum. Somos contudo le- vados a admitir que necessitamos de outra abordagem para dar con- 38 Barbie Zelizer ta de praticas diferentes das que nos siéo dadas pelas imagens mais tradicionais do jornalismo enquanto profissao. Precisamos de um quadro que permita explicar o jomalismo concentrando-nos na forma como os jornalistas constroem um significado sobre si mesmos. 2. O enguadramento alternativo: os jornalistas enguanto comutidade interpretativa Um modo alternativo de conceber a comunidade jornalistica pode ser encontrado indo além dos estudes de media e jornalismo e recor- rendo & antropologia, & etnologia e aos estudos literdrios, através da ideia de «comunidade interpretativay. Hymes (1980, p. 2) define a co- munidade interpretativa como um grupo unido pelas suas interpreta- Ges compartilhadas da realidade. Para Fish (1980, p. 171), do campo dos estudos literdrios, as comunidades interpretativas produzem tex- tos ¢ «determinam a forma daquilo que é lido». As comunidades in- terpretativas exibem certos padres de autoridade, de comunicacio e de meméria quando interagem mutuamente. (Degh, 1972). Estabele- ccm convengdes que sao predominantemente tacitas ¢ negaciaveis no que respeita 4 forma como os membros de uma comunidade podem. «reconhecer, criar, experienciar e falar sobre textos» (Coyle e Lindlof, 1988, p. 2). Nalguns casos, agem como «comunidades de meméria», como grupos que ao longo do tempo usam interpretagdes comuns (Bellah et al., 1985). Estas formas de abordagem sugerem que uma ¢o- munidade se revela menos por indicadores rigidos como a aprendiza- gem ou educagio — come acontece de acordo com o enquadramento da pro! — e mais por associacoes informais que se produzem em torno de interpretacgées compartilhadas. Ainda que a ideia de comunidade interpretativa tenha sido avida- mente inveeada nos estudos de audiéncias, onde as compreensies lo- cais de determinado texto sao recebidas de modo diferente por dife- rentes comunidades (Lindlof, 1987; Morley, 1980; Radway, 1984), os préprios comunicadores podem ser encarados enquanto comunidade interpretativa (Zelizer, 1992b). Tal dependéncia dos jornalistas da sua imagem colectiva tem também o seu lugar nos estudos académicos so- bre jornalismo. A imagem que Park (1940) tinha das noticias como uma forma de conhecimento, a definigao de Carey (1975) da comuni- cagao como ritual ¢ como quadro comum de compreensao, as idcias de O’Brien (1983) sobre as noticias como um pseudo-ambiente, ¢ 0s es- tudos de Schudson (1988, 1992) sobre o modo como os jornalistas constroem uma imagem de si mesmos, tudo isso aponta para a im- Os jornalistas enquanto comunidade interpretativa 39 portaneia da criagdo de sentide através do discurso. Os jornalistas es- tao unidos, enquanto comunidade interpretativa, pelas interpretagdes colectivas de determinados acontecimentos-chave. O discurso com- partilhado que produzem é assim um indicador de como se véem a si proprios como jomalistas. Analisar os jomalistas como comunidade interpretativa permite compreender como se legitimam através de canais diferentes dos for- necidos pela «profissio». Os jornalistas, segunda esta perspectiva, unem-se criando «estérias» sobre o seu passado que regularmente e informalmente fazem circular entre si — «estérias» que possuem cer- tas construcdes da realidade, certos tipos de narrativas ¢ certas defini- Ges daquilo que &¢ considerado uma pratica adequada. Através de ca- nais como as conversas informais, as revistas profissionais e do oficio, 0s encontros profissionais, as autobiografias c as memérias, as entre- vistas em falk-shows e as retrospectivas nos media criam uma comuni- dade por intermédio do discurso. Tomar o jornalismo como comuni- dade interpretativa dé uma imagem bastante diferente da que € dada pelo enquadramento da profissiio e pe em evidéncia elementos liga- dos a pratica jornalistica que sao centrais aos proprios jornalistas. © passado partilhado através do qual os jornalistas estabelecem ¢ negociam discursivamente standards de accéo gira em tomo da reci- clagem de «estérias» de determinados acontecimentos-chave. Os jor- nalistas estao envolvidos mum processo ininterrupto através do qual criam um repertério de acontecimentos passados que ¢ usado como padrao para avaliar a acgao contemporanea. Ao contarem com inter- pretagdes comuns, criam uma autoridade relativamente a sua pratica que nio é posta em destaque pelas concepgées tradicionais do jormna- lismo, Tendo em conta que os jornalistas se consolidam enquanto comur dade interpretativa quando discutem trabalho quotidiano — a co- bertura de acontecimentos politi 0S, policiais.ou sou «entdrias» sobre cor con flitos de interesse —, 0 valor da-commmictade interpretativa como én- quadramento de andlise pode ser mais adequadamente-pereebido ao examinar © discurso jornalistico sabre—acentecimentos-chave ios anais do jomalismo. Tais alvos de interpretagao, através dos quais os jomalistas marcaram a sua ascensao enquanto profissionais, sao «mo- mentos quentes» (Lévi-Strauss, 1968, p. 259), fenémenos ou aconteci- mentos através des quais uma sociedade ou cultura determina o seu proprio sentido. Estes acontecimentos nao tém necessariamente uma existéncia «ubjectiva», sendo antes, de acorde com de Certeau (1978), as projeccdes dus individuos e grupos aquilo que lhes da significado no discurso. Quando usados discursivamente, os acontecimentes cri- 40 Barbie Zelizer ‘tices sdo escolhidos pelos individuos para ventilar, desafiar e negociar as fronteiras das suas praticas. Por exemplo, a reportagem de guerra contemporanea, tal como acorreu na Guerra do Golfo, é avaliada por comparagao com a experiéncia da cobertura da Segunda Guerra Mun- dial ¢ do Viemame («Reporting a new kind of war», 1991; Valeriani, 1991; Williams, 1991, Zelizer, 1992a). O discurso sobre certos aconteci- mentos criticos proporciona-nos um meio para responder a preacupa- gdes em causa na comunidade jornalistica, mesmo que a consciéncia de fazer parte de uma profissao ocorra pelo menos parcialmente nos casos de ruptura onde é necessdria uma renegociagdo das praticas considcradas apropriadas. Para os jornalistas de hoje, sao tais discur- sos aquilo que cria os padrées de comportamento profissional pelos quais ¢ aferido 0 trabalho quotidiano. O discurso tende a proliferar quando esta em questo dimensdes nao resolvidas do trabalho quotidiano de producao de noticias. Um tal conjunto de praticas € o que diz respeito A relacao do jomalista ao tempo. Os jornalistas constituem-se (ou necessitam fa7é-le) enquanto tal a partir daquilo que poderia ser chamado «tempo duplo» (Bhabha, 1990, p. 297), Os jornalistas nao sé se constituem como objectos des re- latos que dao mas também como sujeitos de outros relatos que se ba- seiam em coberturas anteriores. Assim, enquanto os estudos académi- cos tradicionais analisaram os jornalistas em grande parte a partir dos relatos originais dos acontecimentos ¢ nao nos relatos que deles sao feitas anos depois, tomar o jornalismo como uma comunidade inter- pretativa obriga a ter esse duplo posicionamento em relagao av tempo como um dado indispensavel. E isso que nos dé um mcio para anali- sar a autoridade dos jornalistas enquanto relatores dos acontecimen- tos, na medida em que tal implica recorrer a uma acomodagao simul- tanca a duas posigdes temporais, o que permite dessa forma alargar as fronteiras da sua autoridade colectiva ¢ da comunidade assim criada. Estas interpretagées narrativizadas do «tempo duplo» tém essencial- mente um modo local e um modo durativo. 3. O modo local de interpretacio ‘Os jornalistas véem-se a si préprios como possuindo as qualifica- gOes necessdrias para avaliar delerminado acontecimento aitico re- correndo aquilo a que chamo o modo local de interpretacaa. Neste, 05 jornalistas discutem a relevancia de determinada interpretagao a par- tir de um ponto de vista especifico e particular, Este modo é essencial para proporcionar aos jornalistas marcadores discursivos que sirvam Os jomalistas enquanto comunidade interprelativa 4 de suporte 4 sua ideologia profissional. Parte-se do principio de que a autoridade dos jornalistas deriva da sua presenga nos acontecimentos, de acordo com a ideologia da autenticidade da «testemunha ocular». Ao produzirem metaforas como «testemunhar», «caes de guarda», «ter estado ld», praticas de descoberta, ou «estar no momento certo na hora certa», os jornalistas estabclecem marcadores que nao sé impdem a sua presenga como além disso confirmam a sua importancia ideolé- gica. Pedindo emprestada uma expresso de Bhabha (1990, p. 297), os jornalistas assumem o papel de «objectos pedagégicos» — «dando ao discurso uma autoridade que ¢ baseada no acontecimento histérico tal como cle nos é dado», O modo local do discurso tanto pode ser positivo quanto negative. Ainda que os jornalistas possam discutir e de facto discutam os prdés e os contras de qualquer mudanca nos seus padrdes de pratica, de- pressa aleangam um consenso sobre 9 significado de tal mudanga, No preciso momento em que tem lugar @ acontecimento, este filtrado de acordo com o valor que possui para estabelecer e confirmar padroes de accao. O discurso ¢ altamente emulatdrio nos casos profissional- mente coroados de éxito. De certa forma, os jomalistas sao condes- cendentes com o facto de os acontecimentos criticos produzirem man- chetes. Discutem o acontecimento numa variedade de formatos noti- ciosos, afirmam reproduzir a pratica que a cle vem associada, ¢ imi- tam os jomalistas responsaveis pela divulgacao dessa pratica: neste caso os prémios e os galardées abundam. As referéncias ao aconteci- mento crilico aparecem nas revistas profissionais e tornam-se assunto de discussdo em encontros profissionais. Os jornalistas adoptam uma posicao altamente estratégica quando tém de integrar-se a si mesmos na construgio do acontecimento e de consolidar essa integracaio. Nos casos de insucesso profissional, o modo local de discurso dd a ver me- nos praticas imilativas e deixam de existir prémios e galardées. Mas 's0 nao significa que se ignore o acontecimento. Pelo contrario, os jor- nalistas associam-se de forma miligada ao acontecimento — dando énfase ao modo como observaram © que ocorria nao tendo contudo tomado parte do acontecimento, apontando outros jornalistas que es- tiveram envolvidos, ou pura e simplesmente procurando destacar a sua pertenga a comunidade. O incidente é discutido em encontros e revistas profissionais mas nao como exemplo de realizacao positiva. Independentemente da forma posiliva como 0 acontecimento pos sa ser inicialmente codificado, o modo local de discurso torna mani. festa uma rigidez inicial da comunidade interpretativa. Uma vez que é previsivel e que conserva as definigdes explicitas dos jornalistas so- bre a sua pratica, o modo local de discurso ajuda a consolidar as fron- 42 Barbie Zelizer teiras dos jornalistas enquanto comunidade interpretativa. A associa- do, a presenca e o «ter estado La» servem de justificagio quando se fa- zem alegacoes de autoridade que se prolongam no tempo. Por esta ra- zo, a mudanca — tal como é consubstanciada pela acontecimento — ora adoptada e aceite ora negada e rejeitada, sendo contudo tratada discursivamente de forma unitdria. No momento em que se dao os acontecimentos, os jornalistas tendem a interpreté-los unidimensio- nalmente porque se véem a si mesmos colectivamente como condu- zindo a comunidade em determinado sentido. Isto menoriza a instru- mentalidade do discurso dado que conserva as frontciras colectivas. 4. O modo durativo de interpretagao Ainda nao foi contudo posto em evidéncia o modo como os jorna- listas utilizam a autoridade do discurso local para se deslocarem para um segundo modo interpretativo — o durativo. Os jornalistas estabe- Jecem um segundo tipo de autoridade cultural que lhes permite com- pensar o facto de nao terem estado 14. Ao avaliarem acontecimentos que tiveram lugar muitos anos antes da sua incorporagae no discurso, 95 jornalistas posicionam o acontecimento critico mum continccurn tem poral mais amplo. Vemos aqui os repérteres como compiladores, co- mo historiadores. Muitas vezes os jornalistas usam a autoridade que foram buscar ao seu posicionamento local perante o acontecimento para avaliar 9 seu significado mais geral. Criam a sua propria histéria do jornalismo fazendo com que cada acontecimento critico seja repre- sentative de um dilema ou de uma pratica jornalistica mais amplos. Segundo esta perspectiva, a cobertura da guerra do Vietname torna-se parte de um discurso mais amplo sobre a reportagem de guerra. A cobertura do assassinato de Kennedy toma-se representati- va dos problemas associados as coberturas televisivas em directo. Os jomalistas usam o discurso durativo para gerar um contintnon de tra~ balho jornalistico contemporaneo relativamente ao qual se podem si- tuar, Discutem determinado acontecimento como um ponto neste con- tinuum ao ligé-lo a outros casos que o antecederam ou que se lhe su- cederam. O jomalista torna-se, para usar a terminologia de Bhabha (1990), um sujeito performative envalvido num proceso de significa- 40 que usa 0 passado como um conjunto de dados que permitem ge- rar definigdes mais eontemporaneas. David Broder, repdrter do Was hington Post (1987, jp. 15), por exemplo, definiu a sua carreira jornalis- tica como estendendo-se do «caso Watergate que baniu @ presidente do Govermo alé ao caso Janct Cooke que manchou a reputagao do Os jornalistas enquanto comunidade interpretativa 43 mai alto prémio de jornalismo». James Reston (1991, p. ix) referiu-se a uma extensao temporal — «de Pearl Harbour em 1941 4 Guerra do Golfo em 1991» — como sendo uma série de anes que para ele «nem sempre faziam sentido mas sempre fizeram notici Dado que os jornalistas estao envolvides na feitura da sua propria histéria e que constroem esse continuum em livros, filmes ou talk- -shaws, 0 acontecimento é aquilo que serve de marco na discussao so- bre 0 jomalismo. O repérter Sam Donaldson (1987, p. 68) redigiu o seu livro centrando-se na cobertura televisiva da guerra do Vietname e do Watergate porque «estes dois acontecimentos (...) convenceram mui- tos de nds de que deveriamos encarar as nossas responsabilidades de uma nova forma». O que esta aqui em causa € 0 contizssum temporal mais amplo no qual os jornalistas integram tais acontecimentos ¢ re- Jativamente ao qual todo o jornalismo é avaliado. Fazer uma retros- pectiva da reportagem jornalistica comegando com o eseandalo do Teapot Dome ou com o Victname apenta para perspectivas bastante diferentes daquilo que é relevante para a comunidade jornalistica no que respeita ao modo como se determinam os padrées contempora- neos de acgao. Os joralistas tendem, quando optam pelo discurso durativo, a associar-se de forma diferente ao acontecimento, o que facilita um afrouxamento das interpretagdes demasiado restritas inicialmente as- sociadas a esse mesmo acontecimento. Se os jornalistas comegam por Jouyar 9 acontecimento, alguns continuam a fazé-lo mas através de lentes tecnoldgicas diferentes. Os repdrteres televisivos tanto podem interpretar a gucrra do Vietname quanto o assassinio de Kennedy de forma diferente do que fazem os repérteres radiofénices, Alguns jor- nalistas dissociam-se das prdticas que so emuladas. E neste ponto que comega a critica «saudavel», 4 medida que o acontecimento criti- co caminha para um modo de avaliagao mais durativo. Em casos de insucesso profissional, 0s repérteres apresentam progressivamente di- ferentes associagdes ao acontecimento, procurando salientar o seu va- Jor pedagégico mesmo se no momento em que se deu o consideraram como problematico. Estas amplas subculturas de interpretagao no in- terior da comunidade — subculturas que permitem ajustar de forma sistematica o acontecimento ao longo do tempo — sugerem que pode nao ser correcto falar de uma comunidade interpretativa unitaria ao fim de determinado periodo de tempo. Ao invés, 4 medida que se re- velam novas facetas para a interpretagao, esta torna-se um indicador de uma vasta rede de forcas, de interesses e de capacidades. E, contu- do, é apenas ao analisar o discurso que a sua complexidade se apre- senta. A imagem tradicional do jomalismo pés em destaque o modo 4 Barbie Zelizer local de discurso em prejuizo do durativo. A forma acritica sob a qual este Ultimo floresceu levanta importantes questdes acerca do seu pa- pel na manutengao da comunidade para os jornalistas. 5. O caso Watergate ¢ 0 iniccartitismio. A inter-relacao entre estes dois modos de interpretagdo pode ser sis- tematicamente evidenciada em acontecimentos que sio marcos, um positivo outro negativo, da realizagao jornalistica. O caso Watergate ¢ 9 mccarthismo dao-nos dois exemplos cujas interpretagées se altera- ram colectivamente ao longo do tempo, sendo que em ambos os casos tal mudanga permitiu que os jornalistas adaptassem as suas recolhas destes acontecimentos para produzirem discursos mais amplos sobre 0 estado do jornalismo americano. Podemos comegar por Watergate. Dum ponto de vista local, Water- gate pareceu ser um sucesso brilhante, aquilo a que o repérter Peter Arnett chamou «tum capitulo glorioso no jornalismo americano», sen- do ao mesmo tempo um dos «mais sombrios da histéria americana» (Newsmen», 1973, p. 28). Tratava-se de uma «lua-de-mel Watergate» (Adamo, 1973, p. 152). Foruns profissionais, como 0 Associated Press Freedom of Information Committee, dcbateram vigorosamente a questao considerada mais relevante para os jomalistas relativa 4 co- bertura do caso Watergate, isto 6, a de saber como proleger as fontes (Ayres, 1972, p. 42). Surgiram directrizes sobre qual a melhor forma de usar as fontes nao identificadas (Pinaus, 1973) e os jornalistas louva- Tam 0 que aparentou ser uma subida marcada no uso de fontes and- nimas («Newsmen», 1973). Varias organizagées noticiosas iniciaram programas de formacao bascados nas técnicas extensivas de auseulta- cao das fontes. O programa Closeup, da ABC News, por exemplo, teve inicio em Setembro de 1973, e as mais importantes organizacées jor- nalisticas expandiram de forma permanente © seu pessoal investigati- vo no mesmo ano (Sesser, 1973). Era, segundo a opiniio da reporter Mary McGrory (1973, p. 437), uma «md altura para se estar ausente. Os jornalistas motivaram o entusiasmo pelo caso Watergate que ca- racterizou este discurso local. A medida que intimeros prémios ¢ ou- tros troféus marcaram o que parecia ser um ponto de viragem no jor- nalismo americano — que deu ao Washigton Post um prémio Pulitzer ¢a Daniel Schorr trés Emmy —, os jornalistas procuraram mencionar 0 caso Watergate em reunides profissionais, colunas de opiniao e ou- tros pontos de encontre. Contudo, foram Carl Bernstein ¢ Bob Wood- ward, do Washigton Post, quem conquistou a ribalta. Como comentou ‘Os jomalistas enquanto comunidade interpretativa 45 Dan Rather, ninguém «no jernalismo pode gabar-se [da sua cobertu- ra] excepto Woodward e Bernstein» (cit. in Sesser, 1973, p. 15). Em 1973, Woodward e Bernstein ganharam praticamente todos os prémios jornalisticos existentes, incluindo o Sigma Delta Chi Award, © Worth Bingham Prize, o Newspaper Guild's Heyman Broun Award, o Drew Pearson Prize e o George Polk Memorial Award («Other Awards», 1973), Nesse mesmo ano tinham jd ganho a sua presenga nes anudrios na entrada «jornalistas», e uma «estéria» numa revista pro- fissional sobre Walter Cronkite apresentava a pega fazendo a apologia «com todo 0 respeito devido a Woodward e Bernstein do Washington Post» (Powers, 1973, p. 1).O executivo da CBS William Small predisse que a «estdria> que Woodward e Bernstein tinham publicado seria «a “estéria” da década», aplaudindo as raras circunstancias que tinham impelido os dois repérleres «to visivelmente a frente de todos nés ao terem coberto aquela “estéria"» (cit. in Bernstein, 1973, p. 45). Contudo, os nomes de Woodward e Bernstein persistiram além do modo interpretative local; no final dos anos 70 tinham escrito dois best-sellers sobre o caso Walergate (Woodward ¢ Bernstein, 1974, 1976) e tinham surgido como protagonistas dum filme de grande publico, Os Homens do Presitente, A persisténcia colectiva no louver a Wood- ward e Bernstein foi assim ligada ao aparecimento de um modo du- rativo de interpretagdo cm torno de Watergate que poucas semelhan- sas aprescntaya com os factos tal como tinham ocorrido. De todos os reporteres disponiveis para 0 discurso durativo em tor- no deste acontecimento, Woodward e Bernstein eram os que melhor se ajustavam. Apresentavam distintos marcadores que permitiram Ppromover uma deslocacao da “estéria” do caso Watergate, que passou de uma discussaio especifica acerca das técnicas de auscultagao das fontes para um discurso sobre um continuiwe mais amplo da pratica jornalistica centrado cm torno da reportagem investigativa. Em mea- dos dos anos 70, em alguns dos relatos a «estéria» do furo jornalistico come¢ou a substituir-se 4 que se centrava nos processos eleitorais e ju- diciais da nagao, como numa comemoracao intitulada «All the Presi- dent's men — and two of journalism’s finest» (1976). O jornalismo in- vestigativo foi definido como uma arte em «Watergate popularity» (Behrens, 1977, p. xix), ¢ 08 artigos sobre o jornalismo investigative de uma década depois ainda se iniciavam com histérias sobre Garganta Funda e os Hoiens do Presidente (Leslie, 1986; Mauro, 1987). Até mes- MO Nos casos cm que o efeito Watergate era na pratica questionavel, os editores e jornalistas alteraram a narraliva para a ajustar 4 mem6- ria. Schudson (1992, p. 110) sublinhou © mode como o Ailantic Monthly enquadrou um artigo sobre o ensino do jornalismo, 0 qual SS ee = ae 46 Barbie Zelizer apoiava o mito de Watergate mesmo que tal nao tivesse sido intencio- nal por parte do respectivo autor. Em 1977, muitos dos artigos relati- vos a Watergate centravam-se nos reporteres que 0 cobriram>. As «es- térias» sobre a reportagem do caso Watergate tornaram-se parte inte- grante de «est6rias» sobre o proprio caso Watergate. Uma recente pe- ¢a retrospectiva sobre Watergate, o escandalo politico, foi acompa- nhada por uma pega menor sobre Watergate, a «estéria» jornalistica. E significativo que a pega posterior tenha descrito com detalhe o modo como os jornalistas tinham aprendido as ligdes erradas ao cobrir 0 acontecimento (Martz, 1992). Assim, numa perspectiva durativa, o acontecimento foi reenqua- drado para abarcar uma perspectiva mais lata no jornalismo. Os jor- nalistas nao 56 viram 0 caso Watergate como algo que sugeria novas praticas de auscultacao de fontes ou de recolha de noticias mas. como algo instrumental num sentido mais amplo — no estabelecimento de padres para o jornalismo investigalivo (Armstrong, 1990; Banker, 1991; Langley e Levine, 1988; Rather e Herskowitz, 1977, pp, 238-296). Nessa perspectiva, foi apelidado como «o mais decisive dos aconteci- mentos para a ascensao do jomalismo investigativo» (Broder, 1987, p. 141); «a mais intensa “estéria” que alguma vez cabri» (Donaldson, 1987, p. 61); ¢ ainda considerado indicio de um «novo grau de respei- tabilidade» para a fonte andénima (Schorr, 1977, p. 179). Dan Rather (1977, p. 340) disse que «o heroismo de Woodward e Bernstvin» trans- formou o jornalismo numa «profissao cheia de charmen. Tudo isto fez com que fosse facil alegar que o caso Watergate continua a ser «um momento de orgulho na histéria do jornalismo americano» (Broder, 1987, p. 365), embora os factos sugiram agora que foi o Vietname, e nao Watergate, aquilo que levou a que os jornalistas se tornassem mais agressivos nos seus relatos (Schudson, 1992). No seu discurso mais critico sobre este acontecimento, os jornalistas interrogaram-se sobre se o caso Watergate mudou de facto o jomalis- mo ou se apenas pis em destaque a atipicalidade de Woodward e Bernstein (Schudson, 1992). Ao passo que anteriores adverténcias nes- se sentido tinham sido relegadas para segundo plano — como na car- ta de um leitor que considerava «execssiva» a adulagao feita pelo The Quill ao caso Watergate (« Watergate», 1973, p. 6) —, os repdrteres co- mecaram cada vez mais a pér em causa a forma como a generalidade da imprensa ficou imobilizada pelo caso Watergate (Sesser, 1973). A medida que 6 tempo passou, os jornalistas foram criticados por reve- lar muito pouco a nao ser que recorressem a ajuda de nao repdrteres (Epstein, 1974). Surgiram artigos que punham em causa a validade de Watergate no jornalismo, como pode ser exemplificado por um artigo

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