MIMA

Roteiro por Yasmin Corrêa,

Vinicius Gonçalves e Thalyta M. Kishi
SEQUÊNCIA 1

CENA 1 - INT. SALA DA CASA NOVA - DIA

Agnes (jovem, longos cabelos ruivos e pele clara) entra na

sala, retirando a máscara do rosto e colocando uma bolsa e
uma mala na sala. Ela sai em direção a porta e trás mais
malas, telas de pintura e vasos de plantas para dentro. Ela
vai e volta, caminhando com firmeza, enquanto fala com alguém
ao telefone.

AGNES:
Sei... sim, mas é que... Eu não tava
conseguindo, sabe? Depois do que ela
fez... foi como se ela tivesse
implorando pra que eu desaparecesse.~

(Pausa da outra pessoa.)

AGNES:
Porra? proteção?! Cara, ela nunca me
apoiou em nenhum sonho! Sempre me
tratou como um lixo, como se nunca
quisesse me ter, sabe?

(Pausa.)

AGNES:
Na verdade acho que ela nem percebeu
que eu saí de casa… a Mima me acolheu
tão bem aquela noite, disse que eu
poderia ficar, e aí hoje só estou
terminando de trazer minhas coisas.
Não sei se ela já acolheu outras
alunas aqui (ela olha para a casa como
se procurando por alguém), mas fico
feliz de estar aqui. Eu precisava
mesmo de um ar diferente.

(Pausa. Agnes finalmente terminou de

trazer coisas para dentro. Ela fecha a
porta e para num canto da sala)

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 2.

AGNES:
Ah não, ela disse que não estaria aqui
hoje. Acho que ela foi viajar para ver
um familiar, algo assim. Ai amiga,
apesar de tudo, eu tô muito feliz. A
Mima acredita muito no meu potencial
na pintura e a gente tem feito telas
incríveis. (pequena pausa.)

Eu vou terminar de arrumar minhas

coisas agora, tá bom?

(Pausa.)

AGNES:
Tá bom, amiga. Obrigada, de verdade.
Se cuida, até mais.

Agnes desliga o telefone e suspira, cansada. Ela dá alguns

passos e olha em volta, percebendo que há algo na mesa de
centro da sala.

Uma pequeno estojo de veludo com uma nota. Agnes pega a nota,
onde se lê:

"Parabéns por chegar até aqui. Você

também será grandiosa. - Mima."

Agnes lê o bilhete, um pouco confusa. Ela abre o estojo com

cautela e fica encantada: um belo colar prateado, com um
pingente redondo. O colar brilhava enquanto ela passava as
pontas dos dedos sobre ele e apreciava seus detalhes. Ela
retira o colar do estojo e o coloca em seu pescoço, muito
feliz e emocionada com o presente.

SEQUÊNCIA 2

CENA 2 - INT. QUARTO DE AGNES - NOITE

Agnes, com o cabelo meio molhado e de pijama, se joga em sua

cama, cansada, porém inquieta. Ela encara o teto, bufando. Ao
ligar a tela de seu celular, ela vê que são 22 horas. Agnes
se levanta e sai do quarto.

CENA 3 - INT. ATELIÊ - NOITE

Agnes entra no ateliê de pintura observando ao redor, com as

mãos na cintura, impaciente. Caminha até uma tela em branco e
para em sua frente. Ela observa seus materiais de pintura e

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 3.

começa a organizá-los melhor no espaço. De repente, ela

percebe algo na tela. Cerrando os olhos e se aproximando,
Agnes encontra uma sujeira na tela e tenta removê-la raspando
com a unha. Ela começa a raspar com mais força, sua expressão
mais firme, a unha grande quase rasgando o tecido da tela.
Quando seu celular toca, em seu quarto. Agnes se assusta, e
voltando a si, ela bufa, revira os olhos e vai para seu
quarto.

CENA 4 - INT. QUARTO DE AGNES - NOITE

Agnes entra e se joga na cama para pegar o celular tocando.

Ela o atende já deitada, mas ninguém responde. Ela xinga.
Larga o celular ao lado do travesseiro e dorme.

CORTE SECO PARA AGNES ACORDANDO

CENA 5 - INT. QUARTO DE AGNES - MADRUGADA

Agnes acorda assustada com o som do celular tocando. Ela pega

seu celular e vê que ele está desligado, sem bateria. Ao se
sentar na cama, porém, ela olha para o relógio na parede que
marca 3 horas da manhã. Ela se levanta sonolenta e sai do
quarto.

CENA 6 - INT. CORREDOR - MADRUGADA

Agnes caminha pelo corredor, limpando os olhos e bocejando.

Mas ela para abruptamente. Arregalando os olhos e muito
confusa, ela vê uma sombra sem rosto à sua frente, no fim do
corredor, parada. Ela esfrega os olhos e se curva para olhar
com mais clareza, e a sombra anda lentamente em sua direção,
como todos seus movimentos estivessem em câmera lenta. Mais
um passo e a sombra se curva um pouco, como se fosse correr
em sua direção. E ela se curva mais um pouco, em um movimento
surreal e bizarro. Os olhos de Agnes se arregalam e ela
grita, mas nenhum som sai de sua boca.

Agnes acorda com o barulho do alarme e a luz do dia em seu

rosto. Ela se levanta e se senta na cama, passando as mãos no
rosto para acordar e se levanta, jogando os lençóis como se
quisesse se desprender deles.

SEQUÊNCIA 3

CENA 7 - INT. ATELIÊ - DIA

Um fino pincel faz detalhes numa tela. Ouvindo uma música no

celular e cantarolando, Agnes pinta uma paisagem. Ela está

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 4.

tranquila no ateliê, e seu celular toca: dessa vez, se lê

'Isabel (irmã da Mima)' na tela. Agnes atende e coloca no
viva voz, para poder responder enquanto termina sua pintura.

ISABEL:
Oi Agnes, tudo bem?

AGNES:
Oi Isabel! Cara, Esse lugar é
incrível! Muito obrigada por ter me
deixado vir pra cá. Devo muito a você
e a sua irmã, mal posso esperar pra
quando ela chegar e começarmos a-

ISABEL:
Agnes, escute. Eu... tenho más
notícias.

AGNES:
(Pausa, suspiro.) O que aconteceu?

ISABEL:
A Mima... ela... faleceu. Nem eu sei o
que aconteceu... ainda estou indo para
o local...

AGNES:
Ela... faleceu? Mas... (Chocada,
lágrimas começam a escorrer de seu
rosto.)

ISABEL:
Eu também não sei, Agnes. Tudo que sei
é que foi ontem à noite.

AGNES:
Isabel, não pode ser, a Mima... (Ela
começa a respirar rapidamente, se
desesperando.)

ISABEL:
Agnes, fique calma. (voz triste) Eu
preciso que você tenha calma. Mima não
te escolheu por acaso, você sabe
disso. Ela nunca deu um ponto sem nó.
E é você quem vai levar o legado dela
adiante.

(Agnes toca no pingente do colar com

delicadeza e também dor, como se o
peito estivesse apertado.)

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 5.

AGNES:
Você tem razão. Ela me ensinou tudo
para que eu chegasse até aqui. (Ela
enxuga as lágrimas e se recompõe.)
Isabel, por favor... assim que souber
de algo, me avise.

ISABEL:
Pode deixar, querida. Te ligo em
breve. Até mais.

Agnes olha para cima, respirando fundo. Leva as mãos ao colar

e coça o pescoço, levemente.

CENA 8 - 11 INT. COZINHA - DIA

Ainda abalada com a notícia, Agnes entra na cozinha e anda

até a geladeira. Ela abre e procura por uma jarra com água.
(sugestão: pov da geladeira, vemos uma sombra atrás de Agnes,
quase escondida.).

Agnes levanta a cabeça e olha por cima da porta da geladeira,

como se tivesse visto alguém a observar. Vai até a pia, pega
um copo e a jarra com água, se serve. Ela bebe rapidamente,
em grandes goles, como se engolisse suas mágoas. Ao terminar
segundo copo d'água, ela coça o pescoço novamente. Agnes
enche o copo novamente e sai da cozinha.

CENA 9 - INT. ATELIÊ - DIA

Agnes passa pelo corredor, e vemos rapidamente os quadros

pendurados ali. Ela entra em seu ateliê segurando o copo
d'água e coçando sutilmente seu pescoço. Vai até suas
suculentas próximas à janela e começa a regá-las. O incomodo
em seu pescoço vai crescendo. Agnes para de regar e leva a
mão até o colar, com falta de ar, como uma reação alérgica.
Ela coloca a mão por dentro do colar, e derruba o copo que
estava na sua outra mão.

O incômodo em seu pescoço desaparece, e Agnes recupera o ar.

Ela xinga e abaixa para recolher os cacos, cortando a mão
esquerda. Agnes xinga novamente e se levanta para olhar sua
mão sangrando, com vários cacos de vidro no chão. Ela segura
a mão machucada com a mão direita e vai até a saída do
ateliê, mas volta e para em frente de uma tela em branco. Ela
olha por alguns segundos e passa seu próprio sangue na tela.
Em seguida, ela sai do ateliê.

CENA 10 - INT. ATELIÊ - DIA

Num copo d'água, a tinta vermelha sai do pincel e se mistura

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 6.

à água. Agnes está sentada em frente a sua pintura,

misturando tons de vermelho em seu godê. Insatisfeita, ela
para de pintar e checa o celular: nenhuma ligação perdida.
Ela bate no pote de tinta que rola pelo chão parando ao lado
dos cacos de vidro e espalhando tinta vermelha pelo chão.

AGNES:
Droga!

Agnes olha para eles, e se vira para pegar panos para limpar
a tinta. (vemos o pote de tinta e, quando ela se vira, vemos
um caco de vidro). Agnes acha um pano com sua mão esquerda, e
ao levantá-lo, ela para e observa o curativo em sua mão.

Enquanto ela olha o curativo, ela anda e se ajoelha para

limpar a tinta no chão, mas acaba pisando nos cacos do copo
quebrado anteriormente. Agnes consegue agarrar um pano branco
que estava cobrindo as outras telas guardadas e joga por cima
da tinta no chão.

Não conseguindo dar muita atenção para o chão, ela se senta e

começa a examinar a ferida em seu pé. Um caco está enfiado
nele e Agnes começa a puxar para que ele saia. A medida que o
caco sai de seu pé, mais sangue começa a sair do buraco. Com
um forte gemido ela consegue tirá-lo e fica um tempo se
recuperando da dor.

Agnes olha para o quadro e um Som estridente começa a

preencher o local. Agnes levanta o caco de vidro
ensanguentado para que fique, na visão dela, na frente do
quadro (como quando alguém enquadra algo com as mãos). O som
vai se intensificando.

CENA 11 - INT.BANHEIRO. - DIA

Agnes fecha a porta do banheiro. Silêncio. Ela se apoia na

pia tentando se acalmar. Ao se olhar no espelho, ela passa a
mão no rosto e vê o curativo, descendo a mão até o pescoço
machucado. Seu reflexo parece 'atrasado".

Ela se apoia novamente na pia e abaixa o rosto, mas seu

reflexo continua parado, e quando ela sai da frente do
espelho, seu reflexo dá um leve sorriso. Agnes entra no
banho. Debaixo do chuveiro, ela deixa a água cair em sua
cabeça enquanto respira fundo. Sons de cigarra começam a
crescer. Sangue escorre pelo ralo.

CENA 12 - INT. CASA - DIA

Som de cigarra se mescla com o da chaleira.

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 7.

Agnes cantarola 'Dominique', de Giane. Ela está servindo chá,

passando manteiga num pão, arrancando o próprio dente, um
pincel passando tinta no quadro, colocando curativos,
enchendo um copo com água, pincel misturando tinta na água.
Vemos quadros na parede, como se observassem tudo sorrindo.

SEQUÊNCIA 4

CENA 13 - INT. SALA - NOITE

Agnes acorda no chão da sala. Ali, existem apenas algumas

plantas e poucas luzes iluminam o local. Suas mãos estão
cheias de sangue. Ela se levanta e sai, atordoada.

CENA 14 - INT. CORREDOR - NOITE

Agnes para e observa um ser no fundo do corredor. Dessa vez,

ele não anda na direção dela, mas a chama com as mãos e ela
vai em sua direção. Assustada, ela caminha pelo corredor,
observando com atenção os quadros de mulheres na parede, que
sussurram. Todas as mulheres no quadro usam o mesmo colar que
Agnes, e todos são assinados por Mima.

Agnes chega ao fim do corredor, no ateliê. Ela observa seu

quadro na parede e vai se aproximando. Ela se ajoelha
enquanto observa o quadro, sorrindo em transe, enquanto
lágrimas escorrem de seu rosto. As mãos escuras da sombra
acariciam seu cabelo e descem para seu pescoço. As mãos se
entrelaçam no colar no pescoço de Agnes, enforcando-a até a
morte.

O corpo de Agnes cai morto no chão. O quadros emanam sons

tristes que são interrompidos pelo celular de Agnes, tocando.
O corpo de Agnes se levanta, pega o celular e atende enquanto
se aproxima do quadro.

ISABEL (VOZ OFF):

Bem vinda de volta.

Mima, já no corpo de Agnes, sorri. Mima com o sangue em suas

mãos assina seu nome no quadro e toca o colar.

FIM

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