Você está na página 1de 9

PRÁTICA PENAL

Direito Processual Penal


Ana Cristina Mendonça

www.cers.com.br 1
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça
HABEAS CORPUS

CARACTERÍSTICAS
O habeas corpus é um instituto processual que, assim como a revisão criminal e o mandado de segurança em matéria crimi-
nal, possui natureza jurídica de ação autônoma de impugnação, não se caracterizando como recurso, apesar de encontrar-se
inserido no título destes no Código de Processo Penal. Dentre as características que demonstram não ser o habeas corpus um
recurso, podemos apontar:
- O habeas corpus é cabível contra atos que não sejam emanados de juiz, como contra decisões de autoridade policial e até
mesmo contra atos de particulares que ameacem ou cerceiem a liberdade de locomoção;
- o habeas corpus desencadeia um novo processo, uma nova relação jurídico-processual, que independente da existência de
um processo prévio;
- o habeas corpus não possuir prazo para ser impetrado, sendo cabível sempre que alguém estiver, por ato ilegal ou abuso de
poder, ameaçado ou cerceado em sua liberdade ambulatorial, ou seja, em sua liberdade de ir, vir ou até mesmo permanecer.
Assim, desde que presentes os seus requisitos, não há preclusão pela não utilização do habeas corpus em determinado mo-
mento procedimental.

CONCEITO
Desta forma, o habeas corpus pode ser conceituado como uma ação autônoma de impugnação que tem a finalidade de resta-
belecer a liberdade de ir e vir, sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar, nos termos do art. 647 do CPP.
A doutrina reconhece, pacificamente, a existência de duas espécies de habeas corpus, quais sejam:
 Liberatório – impetrado em favor de quem já se encontra privado em sua liberdade ou nos casos em que a prisão tenha sido
decretada.
 Preventivo – impetrado quando há ameaça ao direito de liberdade do paciente.

Há ainda quem defenda uma terceira modalidade:


 Profilático – ocorre todas as vezes que existir uma possibilidade remota de apli- cação de pena privativa de liberdade.

SUJEITOS
No tocante aos sujeitos do habeas corpus podemos identificar o impetrante, o impetrado ou coator e o paciente, além do órgão
julgador.

► Paciente – pessoa cuja liberdade ambulatorial foi ou está ameaçada de ser cerceada. É aquele que sofre a coação ilegal,
ainda que esta coação esteja na iminência de ocorrer ou seja remotamente possível. Somente pessoas físicas podem ser
pacientes no habeas corpus, já que a pessoa jurídica não pode sofrer restrição na liberdade de locomoção.
Portanto, não se esqueça: pessoas jurídicas NÃO poderão figurar como pacientes em um habeas corpus, pois a estas não
podem ser aplicadas prisões ou penas privativas de liberdade, somente sendo sujeitas a penas restritivas de direitos ou multa.
O nome paciente deriva do status do habeas corpus como remédio constitucional.

► Impetrante – é a pessoa física ou jurídica que promove, propõe, impetra o habeas corpus, ou seja, aquele que aciona o
Poder Judiciário em favor do paciente, o autor no habeas corpus. Vale ressaltar que nada impede que o impetrante seja o
próprio paciente, tendo em vista que o habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa. Exatamente em face da ampli-
tude na legitimidade ativa para o habeas corpus, muitos o identificam como a verdadeira "ação popular". O impetrante pode
ser, portanto, qualquer pessoa, física ou jurídica, nacional ou estrangeiro, cidadão ou não, alfabetizado ou analfabeto, capaz
ou incapaz. Se o impetrante for incapaz, entretanto, deverá ser representado.
O habeas corpus não é peça privativa de advogado.
O Ministério Público poderá impetrar habeas corpus. Já os juízes e tribunais, enquanto órgãos jurisdicionais, possuem compe-
tência para expedir de ofício ordem de habeas corpus (art. 654, § 2º, do CPP), desde que estejam acima e na linha de reforma
em relação à autoridade coatora, que é aquela responsável pela coação ilegal. Desta forma, se um juízo ou tribunal, no exercí-

www.cers.com.br 2
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça
cio de sua função jurisdicional, tiver conhecimento de uma coação ilegal ocorrida em um processo que seja de sua competên-
cia, deverá o mesmo conceder a ordem ex officio, independentemente de provocação, não havendo necessidade, ou mesmo
possibilidade, de um juiz ou tribunal impetrar um HC. O habeas corpus é uma das hipóteses de jurisdição voluntária no pro-
cesso penal.
Contudo, não é possível que um juiz conceda ordem de habeas corpus de ofício se o mesmo estiver no mesmo grau ou ins-
tância daquele que proferiu a decisão a ser impugnada.

► Coator, autoridade coatora ou impetrado – é quem exerce a coação ilegal, nos termos do art. 654, § 1º, “a”, do CPP,
podendo ser autoridade ou particular.

HIPÓTESES DE CABIMENTO
As hipóteses de cabimento do habeas corpus estão previstas no art. 648 do CPP:

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:


I – quando não houver justa causa;
A falta de justa causa como hipótese de cabimento do habeas corpus ocorrerá todas as vezes que o motivo da coação ilegal
for ilegítimo, sendo mais ampla que a justa causa referente as causas de rejeição liminar da denúncia, prevista no art. 395, III,
do CPP, tendo em vista que nesta última somente poderá ser alegada se ocorrer a falta de indícios suficientes de autoria e
falta de prova da materialidade do fato.
É lógico que na eventualidade de uma denúncia ser oferecida e recebida sem que estejam presentes a prova da materialidade
da infração e os indícios suficientes de autoria, ou seja, sem o lastro probatório mínimo que caracteriza a justa causa para
ação penal, será possível impetrar habeas corpus com a finalidade de buscar o “tran- camento” da ação penal, isto é, a extin-
ção do processo sem julgamento do mérito.

II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
Ocorrerá esta situação todas as vezes em que houver previsão por lei de um prazo específico para a duração de uma prisão e
este prazo se esgotar sem ter o réu sido posto em liberdade.

III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
Nesta hipótese específica, a autoridade que ordenou a coação simplesmente não tem competência para determiná-la, ou seja,
a princípio, caso o ato fosse realizado por autoridade competente não haveria coação, entretanto, como a autoridade é incom-
petente, há coação ilegal.

IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;


Nesta situação, inicialmente não havia coação ilegal, entretanto, os motivos que autorizaram a coação não mais subsistem e o
sujeito ainda permanece preso.

V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;
Esta hipótese de impetração de habeas corpus é bastante peculiar, tendo em vista que o objeto da coação ilegal é a falta de
prestação de fiança mesmo existindo previ- são expressa de seu arbitramento. Ou seja, a impetração com base neste funda-
mento é tão somente para que seja arbitrada fiança ao impetrante. O CPP, inclusive, traz previsão expressa neste sentido em
seu Art. 660, § 3º

VI – quando o processo for manifestamente nulo;


Esta hipótese de impetração de habeas corpus também é bastante peculiar, pois possui a finalidade específica de anular o
processo, seja de forma total ou parcial.

www.cers.com.br 3
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça
Quando a ordem de habeas corpus é concedida com base neste inciso, o processo será, em regra, devolvido ao momento do
ato nulo, para que os atos sejam renovados, agora de forma válida.

VII – quando extinta a punibilidade.


Esta hipótese de impetração do habeas corpus tem como fundamento a ocorrên- cia de alguma hipótese de extinção de puni-
bilidade prevista no art. 107 do Código Penal, que, por alguma razão, ainda não foi reconhecida em favor do paciente, ou ain-
da cujo reconhecimento foi negado.

REQUISITOS DA INICIAL
Os requisitos da petição inicial do habeas corpus estão previstos expressamente previstos no Art. 654, § 1º, do CPP da se-
guinte forma:

Art. 654, § 1º – A petição de habeas corpus conterá:


o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coa- ção e o de quem exercer a violência, coação ou
ameaça;
a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu te-
mor;
a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das respecti-
vas residências.

 OBS. 1 : Conforme doutrina e jurisprudência majoritária, os Tribunais costumam flexibilizar os requisitos da petição inicial do
habeas corpus, uma vez que é possível a concessão de ofício do habeas corpus pelo órgão jurisdicional competente.

 OBS. 2 : É possível pedido de liminar em sede de habeas corpus. Na maioria das vezes, a liminar consiste, em verdade, em
pedido de antecipação de tutela, pois referido pedido confunde-se com o pedido principal. Assim, será possível ao impetrante
formular pedido de concessão liminar da ordem, por exemplo, para restituir, de forma imediata, a liberdade do paciente, deter-
minar a produção de prova que haja sido negada, reconhecer nulidade, suspender o processo etc.
O pedido de concessão de liminar no habeas corpus tem fundamento no art. 660, § 2º, do CPP, que prevê que o juiz ou o
tribunal poderá ordenar que cesse imediatamente o constrangimento sofrido pelo paciente. Entretanto, vale lembrar que, inde-
ferida a liminar, NÃO será cabível, via de regra, a impetração de novo habeas corpus para atacar a decisão desfavorável,
conforme Súmula nº 691 do STF:
“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas
corpus requerido a tri- bunal superior, indefere a liminar.”

Nos casos em que o habeas corpus é impetrado perante um tribunal, a análise sobre o pedido liminar caberá monocraticamen-
te ao relator e, sendo a mesma negada, a grande maioria dos tribunais admite a impugnação da decisão através do agravo
regimental (previsto no regimento interno do tribunal respectivo). Regra geral, referido agravo levará o requerimento à mesa da
primeira seção designada pela Câmara ou Turma competente para o habeas corpus.
Apesar da aplicabilidade da Súmula 691 do STF, a jurisprudência do próprio STF vem relativizando o teor da mesma em situa-
ções excepcionais, como nos casos de flagrante ilegalidade ou abuso de poder ou em contrariedade a princípios constitucio-
nais ou legais na decisão questionada, nestes casos específicos, o STF vem admitindo a impetração de novo habeas corpus
contra decisão liminar que tinha indeferido habeas corpus anterior, neste sentido, os seguintes julgados do STF e do STJ:

Ementa: EMENTA Habeas corpus. Processual Penal. Sonegação de contri- buição previdenciária (CP, art. 337-A). Prisão
preventiva (CPP, art. 312). Pre- tendida revogação. Impetração dirigida contra decisão do Superior Tribunal de Justiça, que
indeferiu medida liminar requerida pela impetrante. Incidência da Súmula nº 691 da Suprema Corte. Inexistência de ilegalidade
flagrante a justificar a superação do enunciado em questão. Periculosidade em concreto dos pacientes. Modus operandi da

www.cers.com.br 4
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça
conduta criminosa. Crime perpetrado por organização criminosa de forma habitual. Real possibilidade de reiteração delitiva.
Decreto prisional devidamente fundamentado. Habeas corpus não conhecido. 1. A Súmula nº 691 do Supremo Tribunal Fede-
ral somente admite mitigação na presença de flagrante ilegalidade, abuso de poder ou teratolo- gia, o que não se verifica na
hipótese em exame. Precedentes.(…). (STF, HC 128779 / SP, Relator(a): Ministro Dias Tofoli, 2ª Turma, DJe 05/10/2016)

PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. HA-


BEAS CORPUS CONTRA INDEFERIMENTO DE LIMINAR NA ORIGEM. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 691/STF. MITIGAÇÃO.
EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGU- RADA. INEXISTÊNCIA DE TERATOLOGIA. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO REGI-
MENTAL IMPROVIDO. 1. Formulado pedido de reconsideração dentro do quinquídio legal deve ser recebido como agravo
regimental, em homenagem ao princípio da fungibilidade recursal. 2. De acordo com a jurisprudência do STJ, nos termos da
Súmula 691/STF, não cabe habeas corpus contra decisão não teratológica que nega liminar em writ impetrado no Tribunal de
origem, somente sendo admitido o afastamento do entendimento, excepcionalmente, em hipóteses de ilegalidade flagrante e
manifesta, o que não é o caso dos autos, razão pela qual deve a decisão agravada ser mantida por seus próprios fun- damen-
tos. 3. Pedido de reconsideração recebido como agravo regimental, ao qual se nega provimento. (STJ – RCD no HC: 312215
SP 2014/0336838-1, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 05/03/2015, T6 – SEXTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 17/03/2015)

COMPETÊNCIA
Em relação à competência para julgamento do habeas corpus, a regra é a de que ele seja julgado pela autoridade imediata-
mente superior à autoridade coatora, conforme esquema a seguir:

continuando…

www.cers.com.br 5
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça

ATENÇÃO: O endereçamento do Habeas Corpus dependerá, portanto, de quem é definido como autoridade coatora.

ENDEREÇAMENTO

Autoridade coatora Competência Endereçamento


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA
delegado de polícia civil Juiz Estadual
___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ________
delegado de polícia civil, nos crimes Juizado Especial EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO
de menor potencial ofensivo Criminal Estadual JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE _______
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA
delegado de polícia federal Juiz Federal ____ VARA CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE
_______
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO
delegado de polícia federal nos cri- Juizado Especial
JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDI-
mes de menor potencial ofensivo Criminal Federal
CIÁRIA DE _________
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA
___ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE
delegado de polícia, em crime for ________
Tribunal do Júri
doloso contra a vida EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __
VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE
____________
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR
Juiz de Primeiro Grau Estadual ou
Tribunal de Justiça PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
Ministério Público Estadual
____________
Juiz de Primeiro Grau Federal ou
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR
Procurador da República (MPF ofici- Tribunal Regional
PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ____
ando perante dos Juízos Federais de Federal
REGIÃO
1o. grau)
se Juizado Estadual:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE
Colégio ou Turma DO COLÉGIO RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CRIMI-
Juizado Especial Criminal
Recursal NAL DA COMARCA DE _____________
Se Juizado Federal:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE

www.cers.com.br 6
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça
DA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL
CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA COMARCA DE
___________
TJ ou TRF ou pessoa com prerrogati- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESI-
STJ
va de foro no STJ DENTE DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Tribunais Superiores (STJ, TSE ou
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESI-
STM) ou pessoa com prerrogativa de STF
DENTE DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
foro no STF

PROCEDIMENTO
Quanto ao procedimento do habeas corpus deverá ser observada a seguinte ordem:
- Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este lhe seja
imediatamente apresentado em dia e hora que designar. (art. 656. CPP)
- Haverá a requisição de informações à autoridade coatora, determinando prazo para sua apresentação.
- Poderá o juiz requerer diligências e interrogar o paciente;
- Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá, fundamenta- damente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas,
nos termos do art. 660, CPP.
- Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão
conforme art. 660, § 1º, CPP.
- Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a
fim de juntar-se aos autos do processo. (art. 660,§ 5º, CPP).

No caso de julgamento de habeas corpus por Tribunal deverá ser observado o seguinte procedimento:
- A petição de habeas corpus será apresentada ao secretário, que a enviará imedia- tamente ao presidente do tribunal, ou da
câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro tiver de reunir-se. (art. 661, CPP)
- Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1º, o presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como
coatora as informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo
que lhe for apresentada a petição. (art. 662., CPP).
- As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indeferido in
limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou turma, para que delibere a respeito. (art. 663, CPP)
- Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na pri- meira sessão, podendo, entretanto, adiar-
se o julgamento para a sessão seguinte. (art. 664, CPP).
- A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na votação, proferirá
voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente. (art. 664, parágrafo único, CPP).

ATENÇÃO: Não caberá habeas corpus:

1) Das punições disciplinares militares no que diz respeito ao mérito da decisão, com fundamento no art. 142, § 2º da Consti-
tuição e art. 647 do Código de Processo Penal.
2) Durante o estado de sítio, vedação indireta dada pela Constituição Federal nos arts. 138, caput e 139, I e II, salvo se a pri-
são for determinada por quem não seja competente ou em desacordo com as formalidades legais.
3) Contra imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública, nos moldes da Súmula 694
do STF.
4) Quando já extinta a pena privativa de liberdade, com fundamento na Súmula 695 do STF.
5) Se o intuito for resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a liberdade de locomoção, nos termos da
Súmula 395 do STF.
6) Da decisão condenatória a pena de multa ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a
única cominada, nos termos da Súmula 693 do STF.
7) Contra omissão do relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem
foi ele provocado a respeito, a teor da Súmula 692 do STF.

www.cers.com.br 7
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça

ESTRUTURA DO HABEAS CORPUS

ENDEREÇAMENTO - conforme indicado no item 14.7 acima, exemplo:


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
____________

(NOME DO IMPETRANTE), nacionalidade, identidade, CPF, profissão, residente e domiciliado no _______, (por seu advogado
formalmente constituído que esta subscreve, procuração em anexo) (se for o caso), vem respeitosamente à presença de Vos-
sa Excelência, com fundamento no art. 5º., LXVIII, da Constituição Federal, e no art. 647 e seguintes, em especial no art. 648,
inc. ___, todos do Código de Processo Penal, impetrar

HABEAS CORPUS
com pedido de liminar
em favor do paciente (NOME DO PACIENTE), que se encontra indevidamente preso por ordem do __________, ora apontado
como autoridade coatora.

1. Dos Fatos
Fazer um resumo dos fatos que ensejam a impetração do habeas corpus, ou seja, indicar que foi, por exemplo, decretada uma
prisão pelo Juízo ___, autoridade coatora, e que tal prisão é manifestamente ilegal por “tais motivos”. Indicar que referida(s)
ilegalidade(s) caracteriza(m) ameaça ou cerceamento ao direito de liberdade do paciente, ensejando o habeas corpus.

2. Do Direito
Ressaltar a ilegalidade na prisão ou na ameaça ao direito de liberdade do paciente, apresentando os dispositivos legais viola-
dos.

3. Da presença dos pressupostos à concessão liminar da ordem


Indicar encontrarem-se presentes o fumus boni iuris, caracterizado pela violação/cerceamento/ameaça ao direito de liberdade
do paciente, e também o periculum in mora, que reside no fato de já estar o paciente submetido à uma prisão flagrantemente
ilegal, que não pode prosperar.

4. Do Pedido
Indicar a necessidade de concessão da ordem liminarmente, bem como seja oficiada a autoridade coatora para que preste as
informações necessárias, e intimação do Ministério Público.
Ao final, deve-se fazer o pedido pleiteando a consequente concessão definitiva da ordem de habeas corpus, na forma do art.
5º., LXVIII, da Constituição Federal, e art. 647 e seguintes do Código de Processo Penal, para ... , com consequente expedi-
ção do alvará de soltura (se for o caso).

Termos em que,
Pede deferimento.

Comarca, data.
Advogado, OAB (se for o caso)

www.cers.com.br 8
PRÁTICA PENAL
Direito Processual Penal
Ana Cristina Mendonça

www.cers.com.br 9

Você também pode gostar