Direito Processual Penal
Professor Renato Ercolin
DA LEI PROCESSUAL PENAL
LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
CPP:
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território
brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito
internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente
da República, dos ministros de Estado, nos crimes
conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
responsabilidade (...)
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial
(Não existem mais. Refere-se a CF/1937) crimes contra a
segurança nacional. Hoje: 109, IV CF
V - os processos por crimes de imprensa. (incompatível
com a CF - Vide ADPF nº 130)
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos
processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais
que os regulam não dispuserem de modo diverso.
Princípio da territorialidade: O Código de Processo Penal é
aplicável aos processos em trâmite no território nacional.
O CPP (e também outras leis processuais) só valem no
território brasileiro: o rito a ser seguido no exterior será o da
legislação do respectivo país. Ex.: Carta rogatória para citação
– Seguirá o regramento processual do país estrangeiro.
O CPP é único, válido e aplicável em todo o território
nacional: Os Estados não podem legislar sobre processo
(art. 22, I, CF), mas podem sobre procedimento e direito
penitenciário (art. 24, XI).
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
XI - procedimentos em matéria processual
(...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência
da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
contrário
Art. 1º, inciso I, CPP
CPP:
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território
brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito
internacional;
Excepcionalmente haverá a incidência de outros diplomas,
como por exemplo, no caso de imunidade diplomática
(inciso I, art. 1º, CPP) – hipótese de exclusão da jurisdição
criminal brasileira (penal e processual penal).
Ex.: Embaixador dos Estados Unidos da América que comete
crime no Brasil será processado no seu país de origem.
Vale ressaltar que os demais incisos do art. 1º do CPP
(III e IV) não afastam a jurisdição criminal brasileira,
mas apenas trazem a incidência de outros regramentos
positivados na legislação extravagante.
Art. 5º, § 4º, CF : O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão.
Obs: Criado para julgar os crimes de guerra ou contra a
humanidade o Tribunal Penal Internacional tem jurisdição
subsidiária, intervindo apenas se o país competente não
aplicar a sua lei e julgar o caso (Brasil aprovou o texto do
Tratado no ano de 2002 – Estatuto de Roma)
Em tese, o Brasil pode entregar um nacional para o TPI,
tendo em vista que este Tribunal faria parte da sua própria
estrutura do Poder Judiciário (não se trataria de extradição,
que se dá entre Estados soberanos.)
Art. 1º, inciso II, CPP
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente
da República, dos ministros de Estado, nos crimes
conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
responsabilidade (...)
Os denominados crimes de responsabilidade têm
regramento próprio quanto ao seu processamento e
julgamento. (Ex.: apreciação pelo Poder Legislativo)
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da
República nos crimes de responsabilidade, bem como
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles;
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II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça
e do Conselho Nacional do Ministério Público, o
Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da
União nos crimes de responsabilidade
(...)
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e
II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal
Federal, limitando-se a condenação, que somente será
proferida por dois terços dos votos do Senado Federal,
à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para
o exercício de função pública, sem prejuízo das demais
sanções judiciais cabíveis.
Art. 1º, inciso III, CPP
III - os processos da competência da Justiça Militar;
Trata-se de exceção à aplicação do CPP, pois a Justiça
Especializada Militar é regida por codificação própria
(Código de Processo Penal Militar).
Apesar de haver apenas ressalva apenas quanto à Justiça
Militar, existem diversas leis que possuem procedimento
próprio a ser seguido. Ex.: Crimes Eleitorais (Lei 4.737/65);
Crimes de competência originária dos Tribunais (Lei
8.038/90); Infrações de menor potencial ofensivo (Lei
9.099/95); Lei de Drogas (11.343/06); Crimes falimentares
(Lei 11.101/05); Estatuto do idoso (Lei 10.741/03)
OBS.: No estatuto do idoso (art. 94) há menção a aplicação
do procedimento da lei 9.099/95 aos crimes cuja pena máxima
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos.
Atenção ao fato de que se aplica apenas o procedimento
da Lei 9.099/95, que é mais célere. Não se trata de beneficiar
o réu com os institutos despenalizadores para esses crimes
(ADI 3.096-5 – STF)
Art. 1º, inciso IV, CPP
IV - os processos da competência do tribunal especial
O tribunal especial não existe mais. Aqui houve referência
a uma previsão da CF/1937, em que existia o Tribunal de
Segurança Nacional
Hoje, os crimes contra a segurança nacional, previstos
na lei nº 7.170/1983, são de competência da Justiça Federal,
conforme o art. 109, IV, da CF
Art. 1º, inciso V, CPP
V - os processos por crimes de imprensa.
Por meio do julgamento da ADPF nº 130, o STF assentou
o entendimento que a Lei de Imprensa (Lei 5.250/1967) é
incompatível com a CF, não tendo sido recepcionada.
Direito Processual Penal
LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo,
sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a
vigência da lei anterior.
Leis genuinamente processuais
Tratam de procedimentos e atos processuais
Leis processuais materiais (híbridas ou mistas)
Trazem disposições de caráter processual e também penal.
Ex.: se a norma processual também versar sobre crime, pena,
medida de segurança, causas extintivas da punibilidade.
Princípio da aplicação imediata das
leis genuinamente processuais
As leis genuinamente processuais se aplicam
imediatamente, independentemente de qual fase se
encontre o processo.
Sobre o momento em que a lei processual penal se
aplica, existem 3 sistemas:
• Sistema do isolamento dos atos processuais: é o
sistema adotado pelo art. 2º do CPP. Os atos que foram
praticados sob a vigência da lei anterior são válidos. A
lei nova se aplicará aos atos processuais que ainda não
foram praticados.
• Sistema da unidade processual: o processo somente
pode ser regulamentado por uma lei (unidade). Nesse
sistema o processo já em andamento é regulamentado
pela lei existente ao seu tempo. Se surgir uma lei nova,
ela se aplicará somente para os processos novos.
• Sistema das fases processuais: segundo esse sistema
a lei nova se aplica à fase nova. Ex.: fase instrutória
regida por uma lei; fase decisória regida por outra lei;
fase recursal por outra)
E quanto às leis processuais materiais?
Não se aplica o art. 2º do CPP às leis processuais materiais.
Levando-se em conta que as leis processuais materiais
geram reflexos penais, elas recebem o mesmo tratamento
das normas penais, que são regidas por dois princípios: a)
retroatividade da lei mais benéfica; b) irretroatividade da
lei mais severa.
Ex.: Agravamento da execução da pena
Normas processuais heterotópicas
São as normas que, pelo conteúdo, deveriam estar em
diploma diverso do qual estão inseridas.
Ex.1: Norma prevista em diploma processual, mas que
possui conteúdo exclusivamente material
Ex.2: Norma prevista em leis materiais, mas que possuem
conteúdo exclusivamente processual.
A Norma heterotópica possui conteúdo de uma única
natureza (processual ou material), porém, inserida em
diploma de caráter distinto.
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Exemplo: Art. 186, do CPP
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado
do inteiro teor da acusação, o acusado será informado
pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito
de permanecer calado e de não responder perguntas
que lhe forem formuladas.
Ex.: O art. 186 do CPP, que assegura o direito ao silêncio
ao acusado, tem natureza material, mas está previsto
num diploma processual. A natureza deste artigo é
assecuratória.
Obs.: Enquanto a norma heterotópica possui conteúdo
de uma única natureza (processual ou material), porém,
inserida em diploma de caráter distinto, a norma não
genuinamente processual (processual material) é mista
(possui natureza processual numa parte e material em
outra).
Vigência, validade, revogação, derrogação
e ab-rogação das normas.
Vigência: após a norma ser aprovada pelo Congresso
Nacional e sancionada pelo Presidente da República, a lei
está apta a iniciar a sua vigência.
A vigência pode ser imediata (nesse caso há previsão:
“esta lei entra em vigor na data da sua publicação) ou pode
se dar após um período (vacatio legis - período entre a data
da publicação e a vigência da lei).
Se a lei for omissa quanto a sua vigência, ela entrará em
vigor após 45 dias de sua publicação (conforme dispõe o
art. 1º, da LINDB)
A lei também pode estabelecer prazo de vacatio legis,
situação em que a sua vigência se dará no dia seguinte do
final do prazo.
Ex.: Lei 13.431/2017
(depoimento especial de crianças ou adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência).
Art. 29. Esta Lei entra em vigor após decorrido 1 (um) ano
de sua publicação oficial.
Brasília, 4 de abril de 2017; 196o da Independência e 129o
da República.
Validade: a lei é válida quando respeita os aspectos formais
e materiais para a sua edição (todos os trâmites previstos
para a sua aprovação, iniciativa, quórum, compatibilidade
com a CF, etc.)
Revogação: é o término formal da vigência da lei; a
cessação formal da vigência da lei. Pode ser tácita ou
expressa.
Derrogação: revogação parcial
Ab-rogação: revogação total
Direito Processual Penal
INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
Espécies de interpretação
Quanto ao sujeito:
Autêntica ou legislativa: realizada pelo próprio legislador.
Ex.: art. 302 do CPP, que define as situações em que se
considera que o indivíduo está em flagrante delito.
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos,
armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
autor da infração
Doutrinária ou científica: realizada pelos juristas, pelos
estudiosos do Direito.
Obs.: As Exposições de Motivos constituem forma de
interpretação doutrinária (e não autêntica), haja vista que
não são leis.
Jurisprudencial ou judicial: realizada pelos juízes e tribunais.
Quanto aos meios:
Gramatical (sintática ou literal): interpretação literal do
texto.
Lógica: interpretação a partir das regras gerais do
raciocínio e conclusão, buscando-se o espírito da lei.
Ex.: Quem pode o mais, pode o menos.
Teleológica: busca-se entender qual a finalidade da
norma; o que o legislador pretendeu.
Histórica: interpreta-se a lei a partir da análise do
momento em que a lei foi aprovada, verificando-se o
contexto da sua tramitação, as emendas, os debates, a
origem do projeto, etc.
Sistemática: Interpreta-se a lei em consonância com todo
o sistema jurídico
Quanto ao resultado:
Declaratória: o sentido da lei corresponde exatamente ao
seu conteúdo. Não há necessidade de ampliar ou restringir
o seu alcance.
Restritiva: Na hipótese em que a lei diz mais do que
deveria, o seu alcance deve ser restringido, devendo ser
feita uma interpretação para restringir o seu significado.
Ex.: O art. 271 do CPP dispõe que: “Ao assistente será
permitido propor meios de prova”. No entanto deve ser
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entendido que está excluída a prova testemunhal, pois o
art. 41 do CPP dispõe que o rol das testemunhas deve ser
apresentado por ocasião do oferecimento da denúncia ou
queixa.
Extensiva: Nesse caso, a lei diz menos do que deveria.
Assim, a sua interpretação deve ser no sentido de ampliar
o seu alcance. Ex.: Art. 581, I, CPP.
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença:
I - que não receber a denúncia ou a queixa;
Nesse caso, é possível que se faça a interpretação
extensiva para admitir o cabimento do recurso na hipótese
de decisão que não receba o aditamento da denúncia ou da
queixa.
Progressiva: Busca-se o ajuste do sentido da lei às
transformações da sociedade (científicas, tecnológicas,
jurídicas, sociais).
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade
judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e
interrogado na presença de seu defensor, constituído ou
nomeado
(...)
§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão
fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema
de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real (...)
Interpretação extensiva: Nesse caso, existe norma que
regula o caso, mas a lei diz menos do que deveria. Assim,
a sua interpretação deve ser no sentido de ampliar o seu
alcance.
Aplicação dos princípios gerais do Direito: Ex.: As provas
ilícitas são inadmissíveis no processo penal, no entanto,
por força do princípio da proporcionalidade, elas serão
admitidas em favor do réu.

Analogia, interpretação analógica

e interpretação extensiva

CPP: Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação

extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.

Ex.: Aplicação subsidiária do CPC ao CPP

Analogia: Inexiste uma norma regulamentadora para o

caso concreto, aplicando-se, então, uma norma que trata
de situação semelhante. Logo, é uma forma de integração
do direito, utilizada para suprir lacunas.
Entende-se que no Direito Processo Penal a analogia
pode ser usada contra ou a favor do réu, pois não se está
diante de uma norma penal incriminadora. (Nesse sentido:
Nucci)
Ex.: É possível a aplicação analógica dos arts. 61 e 62
da Lei 11.343/2006 para admitir a utilização pelos órgãos
públicos de aeronave apreendida no curso da persecução
penal de crime não previsto na Lei de Drogas, sobretudo
se presente o interesse público de evitar a deterioração do
bem (REsp 1.420.960-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 24/2/2015, DJe 2/3/2015 – Informativo 556)
Vale ressaltar que em sede de Direito Penal não se
admite a analogia contra o réu.

Interpretação analógica: Nesse caso, existe norma

regulamentadora, porém o legislador se vale de uma
enumeração casuística e, em seguida, uma formulação
genérica, a qual deve ser interpretada de acordo com os
casos que foram enumerados. Trata-se, portanto, de uma
forma de interpretação do direito.
Ex.: O parágrafo 2º do art. 185 do CPP

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