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REPUBLICA DE ANGOLA ‘TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAO N.° 655/2020 PROCESSO N.* 833-4/2020 Processo de Fiscalizasio Abstracta Sucessiva (alinea b) do artigo 3.° da Lei 3/08, de 17 de Junko). Em nome do Povo, acordam, em Conferéncia, no Plenério do Tribunal Constitucional: 1. RELATORIO © Procwador Gerald Repti ver, os eamos dana) don*? do 3 autigo 230.° da Constituigdo da Repiblica de Angola (CRA), conjugado com 0s artigos 27° alinea ¢) ¢ 28° da Lei n° 3/08, de 17 de Junho, (As. 2-7), requerer a0 Tribunal Constiucional, que aprecie e declare com forya sy obrigatora geral a inconstitucionalidade da norma do n.° 2 do artigo 68.° de> Lei n 6/20, de 24 de Margo (Lei de Bases Sobre a Organizagiowe ‘Funcionamento da Potcia Nacional), portal norma ofeader os principios da gy (,)Mt— legldade eda supremacia da ConstivigSo, da cenezae seguranga juidica,™~, 0 «a igualdade e o da autonomia, consagrados na Constituicao da Repitlica,—{- de Angola (atigos 2°, 6.°e 23°, m1), 0 que faz nos termos e fundamentod seguintes: A 1 4 Assis Neonat & 0 Org Legilativo a quem, de enre ours \ ‘atrbnigées, compete 0 cntrolo e fisalizagdo da aplicapio da Constituigéo da Y°" Reptiblica de Angola e da toa execugo das leis; oak 2. Como dro legifrante por exclincia deve aprovar leis que esiiam em ‘ hharmonia coerécia com sister jridico vigente no pais : i 5 ag A Asenblea Nacional eons aos 20 de Fevereiro de 2020, a Lei n.°6/20, A 24 de Mary, Lei de Bases Sobre a Organizapio e Funcionamonto da Poids Nacional de Angle, publicada na I Série, n.*34, do Didro da Replica, de 24 do ‘mesmo més ano; © nan tr 2 de azo 68.* da Lei com a epignafe “imunidades” estabeleceu 0 seauite “os Ofias Comisrios da PNA no podem se presos sem culpa fanmade, Scat norma ‘wassrita mo nimero anterior exracmse das ideas, ‘nomeadamente: 1. A ideia de que os Ofciais Comissiries da Policia Nacional sé podem ser _Presosom flagrante delte por crime doleso punivel com pena superior atts arose 2. A ideia de que a mamutengio da pristo do Ofcial Comissirio da Policia ‘acional depended auterzato do Presidente da Replica e Comandante an Chet das Forgas Armadas Angelanas. 8 ane tors juris que integram 0 sisema juridico de um pas devem 2 en Sea jira icogrients cis nomas ns cnformam coma ei Suprema do Pais é one ce intablidade para os seus deinen Em mutila de imitates criminas, «Contiso da Repiblinde Angola, Qe Let fundamental do Estado Anglano,ecom a qual toda legislagioinfaconsttucona? CO dow conformance, esabcesimanidade os args 140 150° 179" 18 pars 2 “: mamires do Govern, Deutedes, Magtrads Judas ¢ Magis do et Pic, eee 2. eis ortinda, xpto a Lei 6/20, de 4 de Mago, nto fain c SE Padrdo seguido pela Constauigdo da Repiiblica de Angola Eo caso do antigo 38.° da Lein 2/0 de 17 hbo (tO do Taba Concord oe An Tae ded Mano (Ut Orta d Tana Sapreno ago tern’) 4 ds Lei’ I4/11, de 18 de Margo (Lal do Conlho Superior da Mogisrtin de Miniirio Pita, argo 118° da Lei n* 22/12, de H de Ages (Xt da \ Procuradoria Geral da Rein edo Minis Pbla)e aries #6 42 a8 cc 48° da Lei" 25115, de 18 de Saembro (Lt das Medes Catelores on Prone Penal, gue eables inmates crim aos Dpuades 3 asembles Nesoacn Titaares de cargos de reponsabilidade politica, Magictrados e Ofiiais Generais€ Comissires da Policia Necona, 10, Notas claramente que 0 crtrio para 0 reconhecimento de imumidades, em tds a casas, 6.0 da malta penal absractaaplicivel a wm determinado crime. Se «20 crime coresponder pena de prstocorecionl,oarguido sb pode ser peso depos da culpa formada; Todavia, set preso se ao crime crresponder pena de prisdo superior « dois anos ¢ 0 arguid for autuado em flegrante dels; 11, Este 0 ertério consagrado pela Constitute, que 0 legislador ordindrio no deve volar na sua atividae lgilativa so pena de cia is incostituconas 12, 0 m2 do artigo 68. da Lei n.* 6/20, de 24 de Maryo ao reconecer aos Oicias Comiscris tmuaidades para crimes puniveis comm pena de prisio até és ‘aos, padendo sb serem dees em flagrante deli, por infacyes punivels com pena de pristo superior a eres cmos, violow os priniios do primado da Constiuigaoe da foualdade, previsas nos artigos 2° e 23° n.* 1 da Consiuigéo da Replica de Angola; 13, Als, nose justifia que os Ofciais Comissrias nha mais imunidades que «es membros des bros de berania eos Ofciais Generis as quis so equparados; 14, Nes termos do ani 185.°n.'s 1 2 da Consttuigio da Repiblioa de Angola, *O Minisério Piblico é 0 érgto da Procuradoria Geral da. Replica esencial & fungi jurisdicional do Esado, sendo dotado de cutonomia e estatuto préprio A autononia do Mini Pibie caracerina se pela ua vinaago a rts de eis Iegalidadeeobjecsividade' 4 15. O uizo subjacent dstas normas que o Ministro Piblico, na sua actividad, do est subordinado a qualquer outro érgio, seus magistrades devem apenas obediéncia dle ed sua concénca resultante da obsevagdo imparil dos fats, nd entender ser inconsttucional areferida norma, por volar es principies da autonomia \ (pois que a sua actividade néo esta’ subordinada a qualquer outro érgtio), da — ee Tegalidade e objectividade (porque devem, apenas, obediéncia d lei e a sua etn, rad roo np i) ei, of fia Comisros da Pita Nason aden spss em fara dais por ime dls univ com pena sper aicanes + ae a monongeda prsio ds. mesinos depende de autanizagio do Presidente da Reptiblica e Comandante-em-Chefe das Forgas Armadas Angolanas; 4, Quam wf econ moma ine de ied com pm de). rao perio ts an nd ads ans como wrong sents Macon Plo tendo em conta a nova realidade juridco-penal tracida pelo Cédigo Pont ZL “Arslan, dit prado, ae dew promo no qual ome gue x | | sribunal pode suspender a execugto da prisio apicada em medida ndo superior a trés anos o que fz pressupor a narueza corecional, para aguele cio das penas de pisio ‘até rds anes, contrariameate aos dois anos prevsias no Cédigo Penal vgente; Fao 1 Simsituio da Repiia de Angola nao chamou as a definigto do que & »risio coresionale do que ndo o &, deéxou, como enconsrou, tal tara és mies do ‘egislador ordindrie.O stro que o legstadorconstituint ulzou para conormar os digas 140% 150. 172% 188. fo o ques coadunara com a relidade que o Cdigo Penal de 1886, ainda er vigor, the ofereca; 8 ag Ne nie um conccitodorinal sim normative infaconsituconal, que é ‘Prisio comrccional ou no, & 0 que cada Cédigo Penal espeifio 0 diser, sem vinculagto @ opto do legislador consttunteexpressa nos artigos 140, 150.% 179." 188, da Consituigto ds Replica de Angola; 7, Em rela d auwrizago para a manutogo da prisio do Oficial Comissirio, tas termos do n.*2 do ertgo 8." da Lei n.*6/20, de 24 de Marg, haverd agut wm re no detectado, na medida em que ndo sepetendia condiconar a manutenpdo da Pristo a uma autorizapéo do Presidente da Repiblica, mas sim suetar o Ministerio Pilblico & prestagto de wma informagio dquele, exqanto Comandante-em-Chef das Forpas Armadas Angolanas, sore a sua decisio de mantera prsto, Este éo sentido (que deve tera norma; & A stile refiria no aniculado anterior no visa a protecgto do ofl artigo 180." e do n.° 1 do artigo 230°, ambos da CRA, normas que esiabelecem que compete 20 Tribunal Constucional aprecar a consttucionalidade de quaisquer normas e demais actos do Estado, bem como apreciare declarer com forga obrigatiria geral a inconsttucionalidade ) ée qualquer norma, 2 Por sua vez, a Lei n.* 2/08, de 17 de Junho, Lei Organica do Tribunal we CConsttucional (LOTC),dspde na alinea a) do Seu artigo 16° que competes a0 Tribunal Constitucional “apreciar a constitucionalidade das leis, dos" ecretos pesdencials, das resolves, dos tratados, das convengdes¢ dos \ \ acordos intemacionais ratificados e de quaisquer notmas, nos termos | Previstos na alinea a) dc n.° 2 do artigo 180.° da. Constituigao”. Ademais, a norma cuja consttucionalidade se requer a apreciagSo,consta de um diploma com a forma de lei de bases que est publicada na T* Série do Dittio da Republica n 34, de 24 de Margo de 2020, a0 abrign do disposio I ‘na alinea c) do n.° 2 do artigo 166. da CRA, pelo que, para efeitos da alinea ie 4) do artigo 227.° da CRA, 0 Tribunal Constitucional é competente para apreciar a sua conformidade com a CRA. I. LEGITIMIDADE O ns 2 do artigo 230° da CRA estabelece que: Fadem requerer ao Tribunal Constitucional a delanigdo de inconsttucionalidade as seguintes enidades: 4) 0 Presidente da Replica; 2) 1/10 dos Deputados a Assembleia Nacional em efctividade de anes; ©) 0s Grupos Parlamentares; 4) 0 Procurador Gera da Replica; ©) 0 Provedor de Susiga; D) @ Ondem dos Advogados de Angola. © artigo 27.° da Lei do Processo Constitucional, reforya essa legitimidade cconstitucional, ao estabelecer, no mesmo sentido, que “...tém leitimidade para solicitar a0 Tribunal Constitucional a fscalizacao abstracta sucessiva da apreciacdo, prende-se, pot um lado, com o facto de o legislador da ae 2 le 24 Se Man or shen 0 ti pn o continent ff atrigio. de imunidades 4 margem do eitéio constiuconaimente PP determinado. Ou sea, 2m todos os easos de imunidades previstos na CRA e demais legislagao vigerte, o critério é 0 da moldura penal abstracta aplicavel | a um determinado crime. Quer dizer que, se a determinado crime comesponder pena de prsto comecional,o aguido 6 pode se peso depois da culpa formada. Todavia, sera preso se ao crime corresponder pena de prisio superior ads anos cs arguido for autuado em fagrante del. Ora, a Lei em questo vem reconhecer aos Ofciais Comissrios im para crimes punivels com pena de prio até trés anos e podendo apenas serem detdos em flagrantedelit, por infacgSes puniveis com pena de piso superior awk ans, & margem do comando constiucional prevstos no artigo 2° enon” | do artigo 23.° da CRA. For ono lade, vem comciona 8 = ‘anutensao da pristo de um Ofcial Comissirio da PN & autorizacto do, Presidente da Repiblica e Comandante em Chefe das Foreas Armadas Angolanas, contrariando os princpios da avtonomia, da legalidade e objectvidade previstos no artigo 185: da Constivio da Repiblica de Angola wn a nterpretando as normas legais invocadas pelo Requerente, no seu confronto ‘com as disposigdes constitucionais também por si invocadas e, ciente de que © legislador ordindri conhece qual é 0 valor que a CRA ocupa no ‘ordenamento juridico angolano, o Tribunal Constitucional entende que 0 ceme da discuss4o passa necessariamente, em primeiro lugar, pela verificagao dos conceitos de constirucionalidade e de inconstitucionalidade; ‘em segundo lugar, pelo sistema de imunidades & tuz da CRA e, em terceiro lugar, pela verificacac da constitucionalidade ou inconstitucionalidade das ‘normas postas em causa pelo Requerente 3. Sobre os conceitos de constitucionalidade e de inconstitucionalidade A doutrina afirma que, Constitucionalidade e inconsituconalidade designam conceites de relapioa reanio que se extabelece entre uma coisa - a Consttuigdo-e ‘uta coisa - sam comportamento- que Ie exté ou nao conforme, que cabe ou nd cabe 10 seu sentido, que tem aela ou ndo a sua base”, “Nao se trata, de relagdo de mero cardicter légico ow intelectivo. E essencialmente uma relagio de caricter normativo e alorative, emiboraimpligue serspre um momento de conhecimento, Ngo estéo em ‘causa simplesmente a adsquagio de uma relidade a outa relidade, de wm quid a ‘outro quid ou a desurmonia entre este € aguele acto, mas 0 cumprimento ou ndo de cena norma juridica (et, por todos, Miranda, Jorge, Manual de Direito Sag Consitucional: Inconstitcionalidade Garantia da’ Constituigio, Tomo VL, cedigdo, Coimbra Féitora, 2008, pig. 9 10). Dest conceto resulta que, O princi termo da rel de incr ah a Constiigio. A Contigo, nto genericamente, na sua slobalidade, em J Bloom brat; mas or mferéncia a uaa norma determina, oes norma guerege cero compres, pr nrini acer noma, oa certo gent denarma |. qual fora sua exprssia verbal, (texto de predmbulo, artigo, nimero ou a alinea | de antigo). Hi sempre wma norma violada,e néo outra. Pela inconsttucionaidade, ( Ps treme ma nora outcome, os nnd fdas a9. et ‘esti tempo e de iguai modo.” Pode assim fear afectado todo ums instituso ou uphao que, ne por iso.) diva de seratravésde qualquer das sats nas (ou dg segments de noras)qve « inconsiulonalidade se manifeta. (biden, eft, © Miranda, Jorge, pig. 11) Ora, por aquilo que os presentes autos do processo1.° 833-A/20 nos dio a conhecer, resulta claro que o Requerente nfo questiona a constitucionalidade a norma do n.* 2 do artigo 68." da Lei n° 6/20, de 24 de Margo, em relaca0 a todas as normas da CRA. Fé-o sim, conffontando normas conatitucionais especfias e concretas, nomeadamente: a prevista no artigo 140° (sobre a Lo responsabilidade criminal dos Ministros de Estado, Ministros, Secretétios de Estado e Vice-Ministros, cft. 0 n.° 2 do citado artigo); a prevista no artigo 150. (sobre as imunidades dos Deputados em matéria criminal, cfr. 0 n° 2 do citado artigo); a prevista no artigo 179.° (sobre a responsabilidade criminal dos juizes, eft. 0 n.* 4 do citado artigo); a prevista no artigo 188." (Sobre imunidades cu responsabilidade criminal dos Magistrados do Ministério Pablico) e em relagao norma prevista no artigo 185.° (sobre a autonomia institucional do Ministério Piblico, cf. o n.° 2 do citado artigo). ‘Neste particular dominio, o Requerente considera ter a norma em crise se afastado do padrio seguido pelos demais diplomas legais enunciados que regulam sobre a matér.a, decorrendo dat a ofensa de principios fundamentais consagrados na CRA. 4 Sore o sistema deimunidaes az da CRA Nos anigos 140°, 150°, 179° € 188% da CRA “definese” 0 regime consttucional das imenidads dos memos dos Srgis de sobereia, dos membros do Poder Executvoe dos Magitrados do Ministério Pubic, em ‘matéria de responsabilidade criminal. Concretamente, diz-se nestes artigos: os Ministos de Estado, os Minstos, 0s Secetros de Esado e ot Vie. Minisros; os Deputados, 0s Iuizes eos Magistados do Minitério Pico, si podem ser pees depo de up fomada and infant! com pos de prio spr a dois asec em lant dlc, or rime dls pen com pena de pis serra dts ams. Estas norma, se inerpretadas sentido lteal, de fact, pode resular mum juzo’ sparen de inconsttuconalidade. 2 por? Vejamos: ae Quando 0 legislador constituinte pensou e aprovou o contetido dessas ff rnormas especfias fol apenas para garanir que a piso reventiva dos 7) membros desses Orgios se concretizasse nas situagdes em que houvesse culpa formada (ato 6 pronioca pla) no uilmes conileradon graves, IO crimes puniveis com penas de prisdo maior, (nos termos do artigo 55.° do ae Cédigo Penal), imped:ndo com isso, que essas entidades sejam presas ou EO detidas por crimes considerados menos graves, isto ¢, crimes correcionais, \ Puniveis com penas de prisdo de trés dias a dois anos (nos termos do artigo =) 56.° do Cédigo Penal, ainda em vigor). 0 sc Cie Pen (C) fo tint ets, por om ad, cies 786 menos graves, os puns com at dois ance de pst, qulificando-s como sendo de piso corecionale, por outo, cimes mais graves, chamando-os de crimes de prisio maior, que € a categoria de eximes com penaldades B acima de dois anos. © que & que isto quer dizer? Quer dizer que a CRA, 20 reoonhecer ais imunidades Aqula entidades, no pretendeu apenas mia. ‘se ao numero (superiot a dois anos); apenas fazendo refer€ncia pela expresso pena de pristo superior a dois anos a categoria de um conjunto de crimes legalmente designades pelo Cédigo Penal vigente, que ¢ a de erimes comrecionas Por eta raz entendose que, na evenualdade deo legislador oxdindrio. alterar 0 contetdo ou penalidades méximas dos crimes corecionis, nada impede que, no cas> concreto, haja a necesidade de se faze? uma imerpretagio actualsa da norma constiucional em causa, Entretant, a auestio que por ora secolocaprendese como facto deo lesslador rdindlo ainda nto ter alteradoo contebdo eo limite maximo do que entendeserem crimes de penas corresionais ou o que considera, na substancia, ser crimes ‘menos graves € crimes graves, nfo tendo esse contedo ainda defnid, entendese iso sim, qu es8 norma legal do n° 2 do artigo 68° da Lei 6/20, de’ 24 de ‘Margo, pode efectivamente, levantar quest6es de consituconaidade, pois, enquanto nao entrar em vigor 0 novo Cédigo Penal, esa intencao do legiladorordindtio, manifesada por via da Lei de Bases Sobre a Organizao e o Funcionamento da Policia Nacional, pode afectaro principio da iguldade que rege a matria de imunidade criminal dos membros dos drgos ja acima refeenciados. A consequénca € que, futuro, quando 0 Cédigo Penal entrar em vigor com a previsto invocada, uer dizer que essa enidades apenas poderao ser prsas se «penaidadefor_ superior a ts anos esto independeemente da previsto consituconal~S\. cuja referencia & a pio em crimes puniveis com penas superires& dois anos. Por aqui pode :eferir-se o seguinte: se a estrutura legal muda, ni Fal precisa de mudar também a Constituicio. Porque a CRA. nio define pris correecional, tal como no define os demais institutes; quem o faz é ale. Sea Lein.° 6/20, de 24 de Marco, consagrou na norma legal em apreciacto, \V\ ‘rime punivel com pera de prisso superior a ts e iio a dois (como previato na CRA e no ata Ce) for ektacia «uma “nova rade cs. cc, penal” intoduzda no CP promulgndo pelo Presidente ds Rep, she ‘5 ainda nfo em vigor eatlo é porque esse Cédigo Penal ainda ndo produz, xo we efeitos. Aliés, o proprio Autor da norma destacou que ao consagrar na ay ‘mesma aquelecritério,o crime doloso punivel com pena de prsdo superiora tts anor eto a dol Bo endoem conta 0 novo €Stigo Peal anguaee data aprovado pel Asembca Navona, apesr de ado promulgado consequentemente nose encontrar ainda em vigor. Ae (Ora se assim é, a manutenggo de uma norma com esta categoria benefic ‘menos imunidades acs demais em matéria de responsabilidade criminal prevista nos diversos artigos jd referidos e atenta de forma flagrante contra 0 principio constitucional da igualdade, previsto no artigo 23.°, nos termos do qual, “Todos sao iguzis perante a lei” e “ninguém pode ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito(..). Ser igual perante lei nco significa apenas aplicago igual da lei. A li, la pripria, deve tratar por igual todes os cidadios ou grupo de cidadaos). 0 principio da fqualdade dirigese ao priprio legislador,vinculando-o & criagto de um diveito igual ‘Para todos os cidadios {ou grupo de cidadios). (J. J. Gomes Canotilho, Dirito Consticucionale Teoria da Consttuicdo, * Edigho, 2003, Pag. 426), principio da igualdade, tendo como corolério os principios da proibigao do arbitrio, da descriminagio ¢ da obrigagao de diferenciagto, é um dos pPrincipios fundamentais que, visando garantir a igualdade juridica de todos (08 cidadaos ou grupo de cidadaos, preside & interpretacio e aplicarto dos direitos fundamentais, “O principio da igualdade, no sentido de igualdade na _Pripria lei é ur postulado de rcionalidade pritce: para todos os individuas com as ‘mesmas caracterstcas devem prevers, através da lei, iguais situagSes ou resultados Jridices". (8. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituicao, 7* EdigSo, 2003, Pag. 427). © principio da iguaidade vem concretizado em virios precitos da Constituigio dos quais se realga in case 08 artigos 23° ¢ 22.° da CRA ¢ serve ‘como principio informador de toda a ordem juriico-consttucional Por outro lado, o princ‘pio da igualdade contibui para a seguranga e jucdicas, inclusive com soluedes isonomicas para situagDes idénticas ou Proxima. Ese princi impte wn tatamento ji idntico a rdos os que se, ‘encontrem em stu iaénticn ou sinilar. Raul Araijo e Elisa Rangel Nunes, 1. Consiuigto da Repiiblica de Angola Anotada, Tomo I, pig. 261, 2014. A ‘Assim, luz desta dispssjdo da CRA, a norma tegal do n.° 2 do artigo 68° da Lei n° 6/20, de 24 de Margo, aprovada com o fundamento espelhado pela Requerida deve ser considerada inconsttucional. Ndo apenas por causa a categoria em s (tne punivel com pena superior a és anos) mas pelos facto de a norma ter consagrado um conteido que, na vigéncia do actual > Codigo Penal, esti em desconformidade com o principio da igualdade, da | seguranga e da certezajurdicas. , Por esta razio a norma do n° 2 daLei n° 6/20, de 24 de Margo, deve conformar-se ao padrio seguido pela CRA e as demais lis ordinaras que ,2l-—~>— ¢stabeleceu imunidades criminais aos Deputados & Assembleia Nacional, aos as Titulares de cargos de responsabilidade politica, aos Magistrados Judiciais ¢ 0 Ministério Publico e aos Oficiais Generais e Comissérios da Policia ‘Nacional, que ¢ 0 da moldura penal abstracta aplicdvel a um determinado crime. 5. Sobre a verificagio da constitucionalidade ou inconstitucionalidade (principios da tegalidade ¢ objectividade, e da separasio de poderes ou da autonomia). (© Requerente alega que nos termos dos n.°s 1 ¢ 2 do artigo 185.° da CRA, 0 ‘Ministério Publico esta dotado de autonomia e estatuto proprio, deve apenas obediéncia lei, ndo cevendo receber ordens ou instrugtes de outros érgios do Estado. Por isso, nio se pode vincular & norma do n.° 2 do artigo 68.° da Lei n.* 6/20, de 24 de Margo, porque esta, ao condicionar a autorizagao do Presidente da Repibica e Comandante-em-Chefe das Foryas Armadas Angolanas manuten;4o da prisio de um Oficial Comissério, ofendeu os principios da autonomia ¢ da legalidade e objectividade, previstos no artigo 185.° da CRA, principio da autoncmia, constitucionalmente consagrado, confere aos ‘Magistrados do Ministério Pablico, como érgio do poder judicial, cembora hierarquicamente subordinados, garantias de autonomia ¢ independéncia constitucionais que os coloca dependentes a critérios de legalidade ¢ de objectvidade, conforme se interpreta dos artigos 185. 186° © 189.° da CRA. Portanto, ao Ministerio Piblico compete representar 0 Estado, defender a legalidade democritica e os interesses que a lei determinar, promover o processo penal e exercer a acco ps O principio da separagdo e interdependéncia dos érgiios de soberania tem, assim, uma Finpio de arama da ensue, pots os esenas de reonsblidade econo entre 0s varios érgiios transformaram-se em relevantes factores de observincia da \ constituigdo. (J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Coninit, P Basho, 2003, Pig. 889) Ora, 0 artigo 185° da CRA define o que é 0 Ministrio Piblico equal a (\y~ fangdo que a lel fundamental he reserva no exercicio da fanedojuisdclona, “ee 0 estabelecer que 0 Ministério Pitblico & 0 érgio da Procuradoria Geral Reptiblica essencial fungio jurisdicional do Estado, sendo dotado de autonomia e . estatuto prépro, (cfr. 0 .° 1 do citado artigo). Essa autonomia caracteriza-se, | em primeiro lugar, pela sua vinculagio a critérios de legalidade e de objectividade, conforms 0 n.° 2 do citado artigo. Da leitura conjugada dessas ys ‘normas resulta que, peve embora os Magistrados do Ministério Péblico sejam A hierarquicamente subordinados (cff. 0 n.° 3), ainda assim, no exercicio da 6 sua fungdo jurisdicioal, 0 Ministéio Péblico no esté subordinado a qualquer outro érgio, Isto quer dizer que os seus Magistrados devem Somente obediéncia a CRA a lei, 0 que thes impede de realizar a sua actividade com base era ordens ou instrugbes de outros érgios do Estado que ndo seja dentro da prépriaestrutura organizativa da Procuradoria Geral da Repiblica, ‘Assim, ndo tem razic o Autor da norma quando no seu pronunciamento referese que 0 sentido do n.° 2 do artigo 68° da Lei n° 6/20, de 24 de Marco, é de suetar 0 Ministério Piblico a prestagdo de uma informagEo 20 Presidente da Repdbiica, enquanto Comandante em Chefe das Forvas ‘Anmadas Angolanas, sobre a sua decisio de manter a pristo ¢ no condicionar a manutea¢io da prio & uma autorizagao do Presidente da Republica, pois on.° 2do artigo 68. da Lei n° 6/20, de 24 de Maryo, dia bbem claro que 0 oficial comissirio detido deve “...) ser entregue imediatamente a0 Procurador Geral da Repiblica para interrogatorio ¢ solicitagio de autorizegio a0 Presidente da Repiblica e Comandante em CChefe das Forgas Armadas Angolanas, para a manutensio da detensio”, 0 que contraria odisposto no artigo 185° da CRA. Se assim é, 0 n° 2 do artigo 68° da Lei n. 6/20, de 24 de Margo, ao ter consagrado que a manutensio da prisio depende da autorizagdo do Presidente da Repiblica ¢ Comandante em Chefe das Forgas Armadas Angolanas, essa norma constitui uma flagrante violaclo dos referidos princpios da autonomia, da legaidade e objectividade e da separacad. poderes, previstos no jécitado artigo 185.° eno n. 3 do artigo 105° d Determina este titimo artigo que “os Srgios de soberania devem respeitar @ separario ¢ interdeperdéncia de fungoes estabelecidos na Constitucao. A ‘Assembleia Nacional, dentro da organizasio do poder do Estado & definida | como um érgio de soberania ¢, como tal, tem, & luz da alines a) do artigo. / 162.° da CRA, competéncia de controloe iscalizaso, mediante a qual se Ihe impoe 0 dever de vela pela eplicayao da le suprema angolana e 0 de velar pela boa execuro das kis, athe 0 pi eel pl st pp tote» winio oe upremacia ow prevalnca da tei (..) e 0 principio da reserva de lei (..) Eas» Principios permanecem vilidos, pois num Estado democritico-consttucional a lei \ parlamentaré, ainda, a xpreso prvlepada do principio democétco (data sua _spremacia) 0 instnumerte mais apropriado seguro para defn s regimes deceras matérias, sobreudo os dos dite findamenas¢ da verbo democrtca do_gy2% Exado (dai a reserva da te) (J. J. Gomes Canotilno, Direto Consttucional ¢ Teoria da Constitute, P Edigdo, 2003, ig. 256). v (© principio da legalidade também é realyado no ambito do principio geral da seguranga juridica em sentido amplo (abrangendo, pis, aideia de protecgao da confianga) porque este principio prende-se com as components subjectivas da segura, dsignadamente a calcabildade e previsilidade dos indviduas em rela as ets juris dos actos dos podees bias. A segurana ea proeco da conan exigm, no nd: (1 iabildede, caress, racionalidadeetransparéncia das actos do poder; (2) de forma que em relagdo a eles o cidadao vei garamida a seguranga nas suas dpsigies pesoase noses juries dos seus prprios actos. G. J. Gomes Canotiho, Dirto Consitutonal ¢ Teoria da Constiigto, * Edicio, 2003, Pig. 257). Assim, a norma do n° 2 do artigo 68: deve conformarse com a CRA, sob pena de inconstitucionaidade ex v dos artigos 206. da CRA, Pelas raz0es expostas, 0 Tribunal Constitucional considera que o legislador (eutos) da Lei n° 6/20, de 24 de Margo, ao condicionar a manutengéo da prisio dos Oficiais Comissérios da Policia Nacional autorizagao. do Presidente da Repibiica e Comandante em Chefe das Forgas Armadas Angolanas, viola 0 n.*2 do artigo 185.°e 0 n° 3 do artigo 105.°, ambos da CRA. Considera ainda 0 Tribunal Construcional, que o prevsto no n.° 2 do artigo 68.° da mesma lei em andlise, também esté em desconformidade com 5g os ns 1 ¢ 2 do attigo 23° da CRA, ao estabelecer para 03 Oficiais ‘Comissérios da Policia Nacional mais imunidades que os membros dos, {rgtos de soberania, 0s membros do Poder Executivo, os Magistrados do Ministério Péblico, e que os Oficiais Generais aos quais s40 10 cequiparados, tendo como base uma lei que ainda nfo esti em vigor no cordenamento juridico e, em consequéncia, o conteido da referida norma ‘estar em desarmonia com 0 Cédigo Penal ainda vigente, 0 que na pritica | resulta na violaglo do principio da igualdade, da seguranca e da certeza_/ \V unidicas, (© Requerente juntou o Dirio da Repiblica n° 34, * Série, de 24 de Margo, oe fem que esté publicada a Lei n.* 6/20, de 24 de Margo, Let de Bases Sobre a. git ‘Organizacto e Funcionamento da Policia Nacional 4 estes termos, 0 Tritunal Consttucional considera inconstitucional, com ? feito erga omnes, a norma do n.° 2 do artigo 68.° da Lei n.° 6/20, de 24 de, Margo, nos termos ds artigos 226," n.° 2 ¢ 231.° da CRA, bem como do artigo 30.° da LPC, por esta (norma) ofender os principios da legalidade e da supremacia da Constituicio, da igualdade, da certeza ¢ seguranca juridica, ¢ da autonomin, todos consagrados na CRA ale 18 Gonstitcional, em: orcedee Litem ele ar * feodide e ‘tatzcern Prien Bigalitua geval a ener ght ‘whale te beotoatt ale on! 2 alee eakiper E85 abe. ‘Sem custas pelo Requerente, nos termos do artigo 15,° da LPC. ‘Tribunal Constitucional, em Luanda, 2 de Dezembro de 2020 OS JUIZES CONSELHETROS Dr. Manuel Miguel da Costa Aragio (Presidente) Dr. Carlos Alberto ‘Burity da Silva (Relator). aoe ‘Dr Josefa Ant6nia dos Santos Neto Si dehy Dr." Jilia de Fatima Leite da Silva Ferre 4 oh. RM) aan ttle Dr. Simo deSovsa Vicor Sb Dr Viet6ria Manuel daSilva Trata 1 ° « te ahey cet 19

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