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Análises e reflexões da interação do artesanato com o design

Analysis and reflection of the interaction between Handcraft and design

Ana Carolina Brito França1


Edilson Thialison da Silva Reis ²

RESUMO

Desde a revolução industrial o design e o artesanato têm tido uma turbulenta


relação. Com o advento do design nesse mesmo período, os primeiros
“profissionais” tinham o objetivo de separar o que era ou não design, todavia esta
tarefa era (e ainda é) muito árdua. Tanto que ainda hoje é difícil definir com exatidão
o que é design. Este artigo tem como objetivo discorrer a história do artesanato até o
momento em que as transformações sociais culminaram no surgimento do design e
analisar as contribuições do artesanato para esse novo ramo de produção de
objetos. Para tal, fez-se uso de pesquisa bibliográfica usando, principalmente, as
ideias de Wanderley, Menezes e Nascimento (2013) no livro “Design: análises e
reflexões” e o artigo de Santana (2012) “Design e Artesanato: Fragilidades de uma
aproximação”. Com as ideias desses autores em mente, chegou-se à conclusão de
que o artesanato foi um fator importante para o desenvolvimento do design e que
sem ele a profissão não teria chegado ao lugar onde se encontra atualmente.

Palavras-chave: Artesanato historicamente. Relação artesanato-design.

ABSTRACT

Since the industrial revolution, Design and Handicraft has been a messy
relation. With the coming of Design in this same period, the first professionals aimed
to separate what was and what was not Design, however this task was (and still is)
very difficult. It's still difficult these days to define with precision what Design really is.
This article aims to discuss the history of handicrafts until the moment when the
social transformations culminated in the emergence of design and analyze the
contributions of handicraft to this new branch of objects production. For this, the
bibliographical research was made using the ideas of Wanderley, Menezes and
Nascimento (2013) in the book: "Design: analyzes and analyzes" and Santana's
article (2012) "Design and Handicraft: Fragilities of a approach". With the ideas of
these authors in mind, it was concluded that Handicraft was an important factor for
the development of design and that without it the profession would not have reached
the place where it is currently.

Keywords: Handicrafts historically. Relation between handcrafts and design.

1
Estudante de Design na Universidade Federal do Maranhão.
² Mestre em Design na Linha Design e Produtos Multimídias pela Universidade Federal do Maranhão.
1. INTRODUÇÃO

O artesanato está atrelado a história da produção do objeto desde sua origem na


pré-história, mantendo-se firme através dos tempos até o surgimento do design na
revolução industrial.
O artigo em questão tem como objetivo trazer, de forma sucinta, essa relação do
artesanato e do design, abordando, principalmente, a relação entre eles e a forma
como o artesanato pode adquirir grande importância pedagógica para o design.

2. Do artesanato ao Design
O artesanato tem sua origem ainda na pré-história quando o homem passou a
sentir necessidade de inventar produtos e ferramentas que fossem úteis para sua
sobrevivência. Naquela época, a maior importância de um produto se encontrava
essencialmente na praticidade dele. Isto é, o valor estético ainda não estava
agregado ao produto.

Além disso, ainda não existia a ideia de separação e individualização entre as


etapas de produção, logo, uma mesma pessoa era responsável por realizar todas as
etapas de confecção de um mesmo produto.

Com o passar do tempo, através de experimentações:

“(...) os seres humanos puderam compreender melhor as


matérias-primas e identificar as possibilidades de ações perante elas.
(...) Diversas técnicas, equipamentos e ferramentas, ainda utilizados
atualmente mesmo já mais estruturados, foram descobertas nesta
fase pela experiência manual e geradas pelo processo artesanal.”
(WANDERLEY, MENEZES e NASCIMENTO, 2013, p. 19)
Pode-se citar como exemplo o ato de cozer a cerâmica, para que, assim, o
produto final obtido seja mais resistente. Na indústria têxtil pode-se citar, também, o
curtimento do couro. E, na metalurgia, o uso de metal como matéria prima.

Já na Idade Clássica, diante de um novo contexto social com: sistema político


monárquico e déspota de caráter religioso, o produto passa a ganhar um novo valor:
decorativo. E, para tal, o ofício do artesão ganha novas característica bem com:
trabalhadores especializados e com dedicação exclusiva ao ofício.

Ainda mantém-se a produção sem divisão de etapas e/ou hierarquização de


trabalho e com somente uma única pessoa realizando todas as etapas. No entanto,
as peças produzidas passam a ser mais elaboradas e sofisticadas pelo fato da
produção ganhar um caráter comercial.

E é na segunda fase da Idade Média que a hierarquização entre os artesões


começam a aflorar. Surge uma relação de mestre; oficial e aprendiz, na qual o
mestre era o dono da oficina; das ferramentas e da matéria-prima e o oficial eram
artesões com conhecimento técnico (uma espécie de nível maior em relação ao
aprendiz). Com essa nova organização, o processo produtivo passa a ser
cooperativo e não é só uma pessoa que se ocupa de toda a produção, são várias
sob a orientação do mestre.

Surge, também, uma regularização do ofício (passa-se a exigir permissão para


praticar a atividade). E, de acordo com Wanderley; Menezes e Nascimento (2013),
“cada corporação tinha um ofício, ou seja, era responsável pelo uma atividade
específica não podendo exercer outra função que concorre com outra corporação”.

E é com o advento da Revolução Industrial que o modo de fabricação muda


completamente. Com a chegada de máquinas que realizavam boa parte das fases
da produção, o trabalhador comum passa a ser deixado de lado.

“Esse novo processo produtivo valoriza e depende muito dos


modelos, demanda um maior rigor no projeto. Além disso, separa o
planejamento da execução, individualiza as etapas de conceituação,
desenvolvimento e fabricação. Com isso, exige um profissional mais
especializado e dedicado na ação de projetar (o futuro designer)”.
(WANDERLEY, MENEZES e NASCIMENTO, 2013)
E é a partir desse momento que o artesanato passa a ser visto como apenas um
“meio artístico de se produzir objetos”. E, com o surgimento das máquinas e a
adoção de uma separação entre quem planejava o produto e quem executava, a
figura do designer tem seu nascimento dentro da revolução industrial. Cardoso
(2013) reforça essa ideia apontando momentos especialmente interessantes para o
ponto de vista do design, como: a performance do pintor Charles Le Brun com o
papel de inventeur na fábrica de Gobelins; e a desenvoltura de Wedgood no estudo
de materiais para melhoras seus produtos.

Cardoso (2004) ainda afirma que o advento do design é um fenômeno recente e


esse só começa a atingir sua maturidade nos últimos vinte anos. O nome da
profissão se popularizou, todavia, de forma indiscriminada.
“Ele é associado, principalmente, à forma e à inovação,
sobretudo quando se pretende relacionar uma forma diferente –
‘Olha o design desse produto!’ – ou quando se quer fazer ligação às
tendências ou à imagem pessoal – ‘design de sobrancelha’, ‘hair
design’. Essas utilizações do termo abordam a perspectiva estética
que é apenas um aspecto de seu conceito.” (SANTANA, 2013)

O conceito de design vai muito além da estética, como a maioria dos leigos
acreditam. É o que Eguchi e Pinheiro no Congresso Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design (2008) afirmam, “o designer é o profissional
responsável por realizar um projeto pensado e esclarecido, tanto do ponto de vista
da inovação, criatividade e da percepção e exploração dos materiais, quanto do
domínio do modo de produção industrial”. Resumidamente falando, o designer pega
um problema, elabora um projeto e oferece uma solução.

No entanto, para isso, ele faz inter-relações outras inúmeras áreas, sobretudo o
artesanato. Ao longo da história, conforme Cardoso (2013), a primeira geração de
designers teve o papel de se diferenciar das demais áreas. Porém, essa era (e ainda
é) uma tarefa muitíssimo árdua. Tanto que ainda hoje é difícil dizer com exatidão o
que é design.

3. Artesanato e Design: a relação

“O artesanato, [assim como o design], é património inestimável


que nenhum povo pode se dar ao luxo de perder. Mas esse
património não deve ser congelado no tempo. Congelado ele morre.
E é na transformação respeitosa que entra o papel dos designers”
(BORGES, 2002)

Para Wanderley, Menezes e Nascimento (2013), o ofício do artesão vai muito


além de uma simples fabricação manual. O artesanato é “um processo de criação de
produto que envolve definição de tema, seleção e preparo de matéria-prima e
escolha e aplicação de técnicas e ferramentas e a produção propriamente dita”.

Enquanto isso, o design já é uma atividade difícil de se definir, mas sua


essência envolve o desenvolvimento de projetos. “É uma área de conhecimento que
requer habilidades e técnicas artísticas e abstratas, pois absorve os conhecimentos
e os comunica nos projetos.”
E é como os autores afirmam, o design e o artesanato possuem uma grande
ligação pelo fato de ao produzir um novo produto ambos buscam se comunicar com
o público, sempre mantêm contato direto com os materiais (buscando o produto
ideal para obter uma melhor qualidade), as técnicas, os processos e as
metodologias. Isto é, o artesanato e o design compartilham e trocam valores e
conhecimentos.

Além disso, o artesanato tem grande importância pedagógica para o design. De


acordo com Wanderley, Menezes e Nascimento (2013): “a atividade artesanal é um
conceito de criação completo e não só um meio de fabricação, trabalhando desde a
geração do projeto até a produção efetiva do objeto”.

Logo, o artesão tem toda uma preocupação com todas as fases que levam a
materialização do objeto. Isto é, ele vai se preocupar com as técnicas a serem
aplicadas, o material a ser utilizado, o acabamento final desse objeto... Tudo isso
para que no final ele obtenha um objeto da mais alta qualidade possível. E essa
preocupação reflete muito o que o designer busca oferecer.

REFERÊNCIAS

Adelia Borges. Design não é  “personal  trainner”  e  outros  escritos.  São


Paulo: Rosari. (Colecção Textos design). 2002.

CARDOSO, Rafael. Introdução: História e Design. In: CARDOSO, Rafael. Uma


introdução à história do design. 2. ed. São Paulo: Edgord Blücher, 2004. Cap. 1.
p. 12-16.

CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN,


8º, 2008, São Paulo. Design versus Artesanato: Identidades e Contrastes. São
Paulo: Anais, 2008. 7 p. Disponível em:
<https://repositorio.unesp.br/handle/11449/134807>. Acesso em: 09 jul. 2017.

SANTANA, Maíra Fontenele. Design e Artesanato: Fragilidades de. Cadernos


Gestão Social, Bahia, v. 3, n. 2, p.103-115, dez. 2012. Trimestral. Disponível em:
<http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/cgs/article/view/334/pdf_51>. Acesso
em: 09 jul. 2017.

WANDERLEY, Renata Garcia; MENEZES, Marizilda dos Santos; NASCIMENTO,


Roberto Alcarria do. Contribuições do artesanato diante de um contexto histórico
para o início da pesquisa e do ensino do design. In: MENEZES, Marizilda do Santos;
PASCHOARELLI, Luís Carlos. Design: Análises e reflexões. Bauru: Canal 6, 2013.
Cap. 1. p. 15-29.

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