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Resumo
O locutor de rádio atrai a atenção do público unicamente por sua voz. Sendo assim,
é indispensável a adoção de cuidados a fim de preservar seu instrumento de trabalho. O objetivo
deste estudo foi determinar a prevalência de sintomas vocais e fatores de risco associados nesses
profissionais da radiodifusão. A pesquisa foi desenvolvida com locutores de emissoras de rádio em
AM e em FM da Cidade do Salvador, segundo relação fornecida pelo Sindicato dos Radialistas-
Bahia. Participaram da pesquisa 52 locutores, sendo 25 deles profissionais de emissoras com
modo de transmissão em AM e 27 de emissoras em FM. Os dados foram coletados por meio de
questionário fechado. A prevalência de sintomas vocais foi de 21%. Encontrou-se associação com
fatores relativos ao perfil do profissional e hábitos de saúde vocal. Pôde-se concluir que estes
profissionais necessitam de orientações quanto ao uso e cuidados com a voz.
Abstract
Casting professionals attract the attention of the audience exclusively through their
voices. Therefore, specific care is essential for preserving their main tool. The Study aimed at
determining the prevalence of vocal symptoms in these casting professionals, as well as
investigating possible risk factors. The research was developed in AM and FM radio stations in the
city of Salvador, based on a list provided by the Bahia Radio Worker’s Union. 52 speakers took
part in the research, being 27 from FM stations and 25 from AM. Data were collected through a
multiple-choice questionnaire. According to the results, the prevalence of vocal symptoms
a
Mestranda em Saúde Coletiva (ISC/ UFBA), Especialização em Audiologia - saúde do trabalhador (CEFAC), Docente da
Universidade Federal da Bahia.
b
Mestranda em Fonoaudiologia (PUC/ UNIME), Especialização em Voz (CEFAC), Docente da Universidade Federal da Bahia.
Endereço para Correspondência: Carla Lima de Souza. Instituto de Ciências da Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Av.
Reitor Miguel Calmon, s/n, 1º andar, Vale do Canela - Salvador, Bahia, Brasil. CEP 40110-100. Tel: (71) 245-8339 (71) 245-
8602 / (71) 9167-2297. E-mail: carlalimafono@yahoo.com.br
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INTRODUÇÃO
Entre os meios de comunicação de massa, o rádio é o mais popular e o de maior
alcance, no Brasil e no Mundo1. O locutor de rádio atrai a atenção do público unicamente por sua
voz. Sendo assim, é indispensável a adoção de cuidados, a fim de preservar seu instrumento de
trabalho.
Considerando-se a incidência de alterações vocais e o impacto em suas carreiras, os
profissionais da voz poderiam ser comparados aos atletas, os quais, pela demanda física, estão
mais sujeitos a lesões do que a população geral. Enquanto o atleta toma medidas corretivas ao
menor sinal de alteração, o profissional da voz assume uma atitude de risco, adiando o
diagnóstico e o tratamento até o momento em que é praticamente impedido de atuar2.
O uso da voz em caráter profissional, sem o necessário preparo específico, pode
sobrecarregar o aparelho fonador e gerar adaptações deficientes que se refletem numa disfonia, ou
seja, numa dificuldade na emissão vocal que impeça a produção natural da voz3.
O primeiro passo na identificação de alterações vocais é conhecer a queixa ou
sintoma de um indivíduo. Sintoma “[...] é o que o paciente relata sobre seu problema e suas
características.” 4: 22
Os principais sintomas de distúrbios vocais envolvem: rouquidão; fadiga vocal ou
cansaço após a fala prolongada; soprosidade ou constante necessidade de reabastecer o suprimento
de ar somado a dificuldade em fazer-se ouvir; extensão fonatória reduzida, em geral associada a
cantores com dificuldades em alcançar algumas notas; afonia ou ausência de voz; quebras de
freqüência ou dificuldade de controlar a freqüência da voz; voz tensa/comprimida ou necessidade
de esforço ao falar; e, por último, tremor ou incapacidade de produzir um som estável sustentado4.
Uma série de sintomas podem ser relacionados ao abuso agudo ou crônico, ou mau
uso do mecanismo vocal: pigarro; rouquidão; cansaço ao falar; falhas na voz; ardor; ressecamento
da boca ou garganta; dificuldade para engolir; perda da voz; sensação de aperto ou corpo estranho;
sensação de pescoço inchado; dor5. Muitos destes sintomas podem resultar de não adoção de
medidas de higiene vocal. “Higiene vocal consiste de normas básicas que auxiliam a preservar a
saúde vocal e prevenir o aparecimento de alterações e doenças” 6. Fazem parte destas normas
básicas atitudes como: cuidar em manter postura corporal ereta e pés apoiados no chão; realizar
TERIAL E MÉTODOS
MATERIAL
MA
Realizou-se um estudo transversal com locutores de rádios comerciais da cidade de
Salvador, com modo de transmissão em AM e FM. Para estimar a população de estudo, foi
utilizada a base de dados do Sindicato dos Radialistas (SINTERP-Ba), cujo universo de locutores
radialistas era de 132 profissionais, distribuídos em 17 emissoras de rádio, sendo 7 em AM e 10
em FM.
Os dados foram coletados por meio de questionário fechado, auto-aplicado. Este
instrumento buscou conhecer as características do profissional que indicariam a possibilidade de
presença ou predisposição a alterações vocais.
Queixa vocal foi definida como variável dependente. As variáveis independentes
formam cinco categorias, a saber: características gerais (sexo, idade); características inerentes à
profissão (tempo de profissão, tipo de emissora, formação preparatória, atividade paralela,
distúrbio vocal ao longo da carreira); hábitos potencialmente maléficos à saúde vocal (uso de
fumo, uso de bebida alcoólica, beber líquidos gelados durante a locução, falar sempre em forte
intensidade, trabalhar em ambiente com ar-condicionado, ingerir café durante a locução, pigarrear,
uso de sprays, pastilhas e semelhantes); e hábitos potencialmente benéficos à saúde vocal (beber
no mínimo 8 copos de água por dia, beber água na temperatura ambiente, postura ereta e pés
274
RESULTADOS
RESULT
A idade dos locutores variou entre 23 e 68 anos, sendo a média 36,5 anos. Quanto
ao sexo, 43 (82,7%) são do sexo masculino. O tempo de profissão variou entre 3 meses e 52 anos,
com média de 15,5 anos. Há uma maior concentração de profissionais na faixa entre 11 e 20
anos, com 22 (42,3%). Quanto à formação preparatória para o exercício da profissão, 32 (61,5%)
locutores responderam afirmativamente.
Além da locução de programas de rádio, 32 (61,5%) dos indivíduos exercem alguma
atividade paralela, em que também é necessário utilizar a voz. Destas, a atividade mais
freqüentemente citada foi a locução de comerciais 14 (43,8%).
Do total de indivíduos, 45 (86,5%) afirmaram ter procurado um ou mais tipos de
trabalho vocal para aperfeiçoar a voz, sendo mencionados com maior freqüência dicção 36 (80%),
impostação 20 (44,5%) e preparação vocal 19 (42,2%). A fonoterapia foi citada como recurso
utilizado para aprimoramento vocal por 5 (11%) locutores.
Verificou-se que 7 (13,5%) profissionais afirmaram ter sofrido algum distúrbio vocal
ao longo da carreira, sendo as fendas glóticas a alteração mais citada. No momento da coleta de
dados 11 (21%) locutores afirmaram apresentar uma ou mais queixas vocais. Houve uma grande
variabilidade quanto ao tipo de queixa mencionada; dor na garganta 3 (5,8%) foi a mais
frequentemente citada, conforme demonstra a Tabela 1
1.
Com relação à adoção de hábitos adequados de cuidado com a voz, bem como aos
hábitos prejudiciais ao bom desempenho vocal, encontram-se demonstrados nas Tabelas 2 e 3
3.
Verificou-se associação entre ter queixas vocais e: ser do sexo feminino (RP=1,19);
ter maior tempo de profissão (11 a 20 anos, RP=1,27; 21 a 30 anos, RP=1,16); atuar em emissora
com modo de transmissão em AM (RP=1,29); não ter formação preparatória para o exercício da
Tabela 1. Distribuição numérica e percentual das queixas vocais referidas pelos locutores.
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*grupo de referência
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos evidenciam a importância de conhecer as características do
locutor de rádio, no que se refere às queixas e aos cuidados com a voz, a fim de que se
desenvolvam abordagens específicas de intervenção, seja de caráter reabilitativo, sejam ações
preventivas.
Estudos epidemiológicos com esta categoria profissional ainda são escassos e devem
ser ampliados.
O desenvolvimento do distúrbio de voz relacionado ao trabalho é multicausal,
podendo estar associado a diversos fatores, que podem desencadear ou agravar o quadro de
Tabela 5. Associação entre queixa vocal e hábitos potencialmente maléficos à saúde vocal.
*grupo de referência
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Tabela 6. Associação entre queixa vocal e hábitos potencialmente benéficos à saúde vocal.
*grupo de referência
Num estudo com professores, o sintoma vocal apareceu nos primeiros anos de
profissão, com aumento da prevalência desses sintomas quanto maior o tempo de docência13. Um
estudo semelhante encontrou associação estatística entre diagnóstico referido de “calo nas cordas
vocais” e tempo de trabalho como docente maior que oito anos14.
Com relação ao tipo de emissora, afirma-se que locutores de rádios em AM têm alta
demanda vocal devido à característica dos programas que apresentam, noticiário com comentários.
Os locutores de FM, por outro lado, têm demanda vocal menor, visto que intervém no decorrer da
programação musical somente para informar o nome da rádio, da música e a hora9.
280
CONCLUSÃO
A prevalência de sintomas vocais nesta população de locutores de rádio é de 21%,
associando-se a este dado fatores relativos ao perfil do profissional e hábitos de saúde vocal. Os
sintomas vocais são mais prevalentes nos profissionais do sexo feminino, com maior tempo de
profissão, que atuam em emissoras em AM, não tiveram formação preparatória para o exercício da
profissão, desenvolvem outras atividades que requeiram o uso da voz e tenham desenvolvido
distúrbio vocal ao longo da carreira. Além disso, não realizar aquecimento vocal e manter hábitos
como beber líquidos gelados ou ingerir café durante a locução, ingerir chocolate, leite ou
derivados antes ou durante a locução e uso de sprays, pastilhas ou semelhantes estão relacionados
às queixas vocais.
É de suma importância que estes profissionais recebam orientações adequadas sobre
uso profissional da voz e hábitos de higiene vocal, visando a prevenção de alterações, o que
deveria ocorrer durante os cursos de formação.
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(Org.). Voz – o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. V. 2.
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