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POMBA.
Área temática: Gestão Ambiental e Sustentabilidade
Resumo: Tendo em vista a recente crise hídrica no Brasil, que quase culminou com o desabastecimento
de água nas principais cidades brasileiras, faz-se necessário entender o comportamento hidrológico dos
principais mananciais e rios do país. Nesse contexto, é de grande importância ter a disposição dados de
vazões e outros parâmetros de uma bacia hidrográfica. Como essa disponibilidade de dados no Brasil é
aquém do desejável, foi necessário desenvolver técnicas que maximizem a utilização dos dados
existentes. A Regionalização de Vazão é uma ferramenta que permite estimar o comportamento
hidrológico de um rio mesmo que nele não existam dados disponíveis, tal estimativa é possível graças à
transferência de dados existentes em outra localidade dentro de uma mesma bacia. Nesse artigo serão
calculadas as vazões mínimas 95% e 7,10, utilizando o software Hidro 1.2, assim como a regionalização
delas, utilizando uma regressão estatística entre as vazões características calculadas e às áreas de
drenagem dos postos fluviométricos. O resultado do estudo foi satisfatório, com coeficientes de
determinação muito próximos de 1 e com isso as equações regionais podem ser usadas para quase toda a
bacia hidrográfica do rio Pomba.
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1. Introdução
O Brasil atualmente está enfrentando uma crise hídrica grave, provocada por um regime
de chuvas abaixo na média nos últimos anos e pela falta de gestão adequada dos recursos
hídricos e seus usos múltiplos.
A Lei Nacional de Recursos Hídricos nº 9433 de 8 de Janeiro 1997 preconiza a gestão
múltipla dos recursos hídricos, instituiu a Politica Nacional de Recursos Hídricos e criou o
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Ela define em seus fundamentos que água é de domínio público e é dotado de um valor
econômico e em caso de escassez hídrica o uso prioritário da água será para consumo humano e
dessedentação animal (BRASIL, 1997).
Nesse sentido, fez-se importante determinar a região para a Gestão de Recursos Hídricos,
a partir da lei nº 9433 foi determinado que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Bacia hidrográfica pode ser compreendida como uma área com um conjunto de vertentes
e de uma rede de drenagem, onde todos os cursos d’águas e precipitação iram escoar até atingir
um único ponto de saída, seu exutório (TUCCI, 2007).
Portanto, conhecer o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é essencial
para fazer uma boa gestão de recursos hídricos. Para isso é necessário dispor das suas
características físicas e climáticas, possibilitando a realização de estudos.
Nesse sentido, é de grande importância que tenha um monitoramento continuo de certos
parâmetros ao longo da bacia, ou seja, postos de monitoramento que meçam características
físicas como vazão, cota do rio, sedimentação e características climáticas de precipitação.
Entretanto, realizar essas medições continuamente apresenta um custo elevado de
operação e manutenção, o que provoca a não instalações ou desativação dos postos de medições
existentes, impossibilitando o conhecimento hidrológico de grande parte das bacias hidrográficas
brasileiras, tal problemática é mais grave em pequenas bacias, onde seus dados de
monitoramentos são escassos ou inexistentes (TUCCI, 2007).
O hidrólogo para enfrentar tal dificuldade buscou otimizar ao máximo as informações
existes e com isso desenvolveu técnicas para transferir informações de uma localidade para outra
dentro de uma bacia. Tal procedimento em hidrologia é conhecido como Regionalização de
Vazão (TUCCI, 2007), que busca utilizar ao máximo as informações existentes para estimar
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parâmetros hidrológicos em localidades sem dados ou insuficientes. É uma ferramenta relevante
para a gestão de recursos hídricos no país, devido à escassez de dados em grande parte das bacias
hidrográficas.
Em 2003, o Serviço Geológico do Brasil - CPRM realizou a regionalização de vazão da
bacia do rio Paraíba do Sul, entretanto, por ser uma bacia hidrográfica grande, o estudo não
abordou a regionalização de vazão separadamente dos principais afluentes, mas por regiões
homogêneas, determinadas por afinidade estatística e hidroclimatológica (CPRM, 2003).
Nesse contexto, esse artigo irá realizar a regionalização de vazão exclusivamente da bacia
do rio Pomba, afim de maior precisão nas estimativas de vazões dessa bacia.
2. Materiais e Métodos
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Figura 1: Localização da bacia do rio Pomba.
Fonte: GUEDES et al., 2009.
A bacia do rio Pomba tem uma área de drenagem de 8.616 km², sendo os principais
afluentes os rios Novo, Xopotó, Formoso e Pardo. A bacia abrange 35 municípios mineiros e 3
municípios fluminenses, com uma população aproximada de 450.000 habitantes.
Segundo o Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba Do Sul -
CEIVAP (2006), o saneamento ambiental na bacia é precário, resultando no lançamento de
esgotos domésticos e industriais sem tratamento diretamente nos cursos d’águas na maioria dos
casos, apresenta alto grau de desmatamento e degradação ambiental da cobertura vegetal, o que
provoca carreamento de sedimentos, agravando o assoreamento dos rios.
Esse processo de desmatamento ocorreu principalmente na Zona da Mata, durante o ciclo
do café, degradando até mesmo locais das nascentes do rio. Contribuiu para a degradação atual
um grave vazamento de mais de 1 bilhão de litros de resíduos tóxicos em uma indústria situada
em Cataguases, Minas Gerais, causando enorme prejuízo ambiental na bacia, com reflexos no rio
Paraíba do sul até a sua foz.
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De acordo com CEIVAP (2006), as cheias que ocorrem na bacia são muito mais brandas
que comparadas com às da bacia do Muriaé, possivelmente devido ao número significativos de
reservatórios ao longo da bacia do rio Pomba.
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poderiam ser aproveitados, somente 13 apresentavam 10 anos ou mais de dados disponíveis. A
Tabela 1, na página a seguir, relaciona os postos que atenderam esses requisitos.
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Nome Rio Estado Municí Responsá Operadora Período de Falhas
Código pio vel Observação
587100 Usina Rio Minas Rio ANA CPRM 01/1982- 07-19/1987; 05/1991;
00 Itueré Pomba Gerais Pomba 12/2005 12/1993-02/1994;
01/2003
587200 Tabulei Rio Minas Tabule ANA CPRM 08/1964- 1966; 03-05/1974;
00 ro Formo Gerais iro 12/2005 08-10/1978; 03-
so 11/1979; 05-10/1980;
02-09/1981; 01/1982;
05/1982-01/1983;
11/1987; 06-07/2004;
02-04/2005
587250 Fazend Rio Minas Rio ANA ANA 10/1930- 03/1947; 01-03/1949;
00 a Ferraz Formo Gerais Pomba 07/1964 11/1950-06/1951;
so 02/1952-08/1952; 01-
02/1955; 03-04/1960;
01-04/1961
587300 Guarani Rio Minas Guara ANA ANA 01/1934- Sem falhas
00 RV Pomba Gerais ni 12/1944
587300 Guarani Rio Minas Guara ANA CPRM 10/1949- 11-12/1949; 03-
01 Pomba Gerais ni 12/2005 05/1951; 02-04/1961;
02/1979; 12/1984;
11/1987; 01/2003
587350 Astolfo Rio Minas Astolf ANA CPRM 01/1932- 01-09/1933; 08-
00 Dutra Pomba Gerais o 12/2005 10/1945; 06/1946;
Dutra 09-11/1946; 12/1948-
03/1949; 04/1951;
07/1951; 01-06/1966;
05-12/1976; 02-
08/1979; 01/1983;
01/1987
587360 Barra Rio Minas Astolf ANA CPRM 04/1988- 01-04/1997; 02-
00 do Xopot Gerais o 12/2005 03/2000; 02/2005;
Xopotó ó Dutra 11/2005
587500 Piau Rio Minas Piau ANA CPRM 01/1958- 07/1968-12/1970;
00 Piau Gerais 12/2005 05/1973-12/1986
587550 Rio Rio Minas Rio ANA CPRM 05/1944- 02-04/1979; 01/1983;
00 Novo Novo Gerais Novo 12/2005 12/1987; 01/2003
587650 Usina Rio Minas Itamar ANA ANA 01/1929- 08-11/1957; 01-
00 Mauríci Novo Gerais ati de 05/1962 12/1958; 01-12/1959;
o Minas 06-12/1962
587650 Usina Rio Minas Itamar ANA CPRM 05/1967- 08-12/1980; 04-
01 Mauríci Novo Gerais ati de 12/2005 10/1981; 09-11/1982;
o Minas 01/1983; 07/2005
587700 Catagu Rio Minas Catagu ANA CPRM 07/1934- 1969-12/1973; 01-
00 ases Pomba Gerais ases 04/2005 02/2003; 04-09/2003;
01-02/2005
587900 Santo Rio Rio de Santo ANA ANA 05/1935- 01-07/1963
00 Antôni Pomba Janeiro Antôni 08/2002
o de o de
Pádua Pádua
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2.3.1 Vazão mínima média de 7 dias consecutivos com 10 anos de
recorrência (Q7,10)
A Q7,10 é uma vazão que representa a vazão mínima de 7 dias consecutivos com 10 anos
de recorrência, ela é um importante instrumento na gestão de recursos hídricos, pois diversos
órgãos gestores de recursos hídricos utilizam uma porcentagem dessa vazão para indicar o
máximo valor outorgável de água. A vazão máxima outorgável, por sua vez, representa a vazão
adotada para a estimativa da disponibilidade hídrica das águas superficiais na emissão de
outorgas.
Para realizar o cálculo da Q7,10 é necessário ter posse dos dados de vazões diárias,
calcular a média móvel de 7 dias consecutivos para cada ano, com os valores da menor média,
elas são então reordenadas de forma crescente, seguido de um tratamento probabilístico e ajustes
estatísticos (TUCCI, 2007). Todavia, o Hidro já realiza esses procedimentos internamente, para a
estimativa da Q7,10 basta ter posse do histórico de vazão em formato Access e carregá-lo no
software.
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2.3.3 Vazões Calculadas
A Tabela 2 apresenta as vazões características de cada posto calculadas no software
Hidro 1.2.
Tabela 2: Postos fluviométricos e suas vazões características.
Área de Q95%
Q7,10
Código Nome Rio Drenagem Latitude Longitude Município diário
(m³/s)
(km²) (m³/s)
Usina Rio
58710000 784 -21,305 -43,199 Rio Pomba 5,41 7,37
Itueré Pomba
Rio
58720000 Tabuleiro 322 -21,384 -43,235 Tabuleiro 2,87 3,47
Formoso
Fazenda Rio
58725000 387 -21,35 -43,2 Rio Pomba 3,56 4,37
Ferraz Formoso
Rio
58730001 Guarani 1650 -21,356 -43,05 Guarani 9,66 14
Pomba
Astolfo Rio Astolfo
58735000 2350 -21,307 -42,862 11,8 17,4
Dutra Pomba Dutra
Barra do Rio Astolfo
58736000 1280 -21,298 -42,819 0,796 1,46
Xopotó Xopotó Dutra
58750000 Piau Rio Piau 490 -21,497 -43,317 Piau 3,62 4,92
58755000 Rio Novo Rio Novo 835 -21,474 -43,129 Rio Novo 2,91 6,62
Usina Itamarati de
58765001 Rio Novo 1770 -21,471 -42,83 3,73 7,24
Maurício Minas
Rio
58770000 Cataguases 5880 -21,389 -42,702 Cataguases 26,1 36,3
Pomba
Santo Santo
Rio
58790000 Antônio de 8210 -21,542 -42,181 Antônio de 28,2 43
Pomba
Pádua Pádua
Fonte: Elaborado pelos Autores.
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Segundo o Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM (2008), o uso da água no rio
Xopotó apresenta total de vazão outorgável de apenas 0,0216 m³/s em toda a extensão do rio, o
que não caracteriza o uso intensivo de recursos hídricos, mesmo para uma Q7,10 de 0,796 m³/s.
Segundo Plano de Controle de Inundação na Bacia do Rio Paraíba do Sul (2002), o rio
Xopotó apresenta um aproveitamento hidrelétrico a fio d’água em fase de inventário final com
uma potência instalada de 15 MW, com uma capacidade mínima de volume de 196,8 milhões de
metros cúbicos, um volume significativo.
Tal aproveitamento está localizado na latitude 21º16’31” sul e longitude 42º49’08” oeste,
georreferenciando constatamos que o aproveitamento está próximo do posto fluviométrico Barra
de Xopotó (Figura 2).
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analisar o comportamento hidrológico dessa sub-bacia, não sendo possível afirmar se ela
apresenta um comportamento diferente do restante da bacia ou identificar possíveis usos
cadastrados de recursos hídricos afetando seu comportamento hidrológico, por isso, optou-se por
excluir “Barra de Xopotó” desse estudo.
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Figura 3: Postos fluviométricos na bacia do rio Pomba.
Fonte: Adaptado ANA, 2013
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Q95% (m³/s) Q7,10
Fazenda Ferraz ≥ Tabuleiro Relação Fazenda Ferraz ≥ Tabuleiro Relação
4,37 3,47 Ok 3,56 2,87 Ok
Fazenda Ferraz Fazenda Ferraz
Guarani ≥ Guarani ≥
+ Usina Itueré + Usina Itueré
14 11,74 Ok 9,66 8,97 Ok
Astolfo Dutra ≥ Guarani Astolfo Dutra ≥ Guarani
17,4 14 Ok 11,8 9,66 Ok
Rio Novo ≥ Piau Rio Novo ≥ Piau
Incremento
6,62 4,92 Ok 2,91 3,62 negativo de
Vazão
Usina Maurício ≥ Rio Novo Usina Maurício ≥ Rio Novo
7,24 6,62 Ok 3,73 2,91 Ok
Usina Usina Maurício
Cataguases ≥ Maurício + Cataguases ≥ + Astolfo
Astolfo Dutra Dutra
36,3 26,1 Ok 26,1 15,53 Ok
Santo Antônio Santo Antônio
≥ Cataguases ≥ Cataguases
de Pádua de Pádua
43 36,3 Ok 28,2 26,1 Ok
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Tabela 4: Análise de continuidade de vazão da Q7,10 no período comum.
Q7,10
Rio Novo ≥ Piau Relação
4,11 3,34 Ok
Usina Maurício ≥ Rio Novo
3,73 4,11 Incremento negativo de Vazão
Fonte: Elaborado pelos Autores.
Reservatório
Para comprovar essa hipótese, foi calculado a Q7,10 para os períodos comuns dos posto
de montante, de 1967 a 1991, ano em que foi feito o novo aproveitamento hidrelétrico na
Usina Maurício e um período posterior, de 1992 a 2005. A Tabela 5 apresenta os resultados.
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Analisando a Q7,10 desses períodos distintos a hipótese foi confirmada, verificando que
a disponibilidade hídrica no trecho da Usina Maurício teve uma redução 1,6 m³/s, uma
redução drástica, considerando que a Q7,10 já é uma vazão mínima, o que motivou a exclusão
de posto Usina Maurício deste estudo.
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2.5 Regionalização de Vazão
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A (Km²)
A (Km²)
18
Analisando as curvas geradas é possível afirmar que a linha de tendência está bem
aderida aos postos, bem relacionada com a área de drenagem, e o coeficiente de determinação
R² foi superior a 0,9951, dando maior confiabilidade ao presente estudo. Assim sendo,
podem-se utilizar as equações regionais geradas na bacia do rio Pomba em localidades
desprovidas de dados hidrológicos para diversos fins, como outorga de uso de recursos
hídricos, abastecimento de água, aproveitamento hidrelétrico, navegação fluvial, entre outros.
3. Resultado e Discussões
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um estudo mais aprofundado nessa sub-bacia, visto que há perspectiva de construção de um
aproveitamento hidrelétrico no seu estirão final.
4. Conclusões e Recomendações
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Referências Bibliográficas
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. INVENTÁRIO DAS ESTAÇÕES
FLUVIOMÉTRICAS. 2. ed. Brasília: ANA, 2009. 196 p.
TUCCI, Carlos E. M;, et al. Hidrologia: Ciência e Aplicação. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS,
2007. 943p.
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