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INDIGENTE

[Poema datado de meados da década de 80 do século passado de uma pessoa


anônima de uma das Comunidades Rurais da Aliança I, II e III de Mirandópolis-SP]

Quando eu era gerado me senti mal querido.

Eu era apenas um feto

E me senti um bandido

Ou nada mais que um inseto.

Indigente, me chamaram

Minha mãe não me quis.

Por pouco não me mataram

E eu pergunto: - que mal eu fiz?

E assim os anos passaram

Dos orfanatos passei às ruas.

Quantas esquinas passei e falaram:

- Que sorte a tua!

Eu não tenho brinquedos caros:

Bicicletas, bolas?
- Não, nenhuma, somente observo as outras crianças!

Talvez tivesse inveja ou talvez não pudesse nem invejá-las.

Caixa de engraxate nos ombros

Sou motivo de risada

Será que isto é um defeito ou

É porque não tenho direito?

Eu sou aquele que nasceu

De descuido fruto de uma curtição:

De uma mulher cheia de vaidade

E de um homem sem coração!

Eu não tenho nome,

Idade ou sobrenome

Passo frio e fome

Vivo no espaço que some!

Tenho fome de carinho

Tenho sede de amor

Queria ter um ninho


E sentir muito calor.

Indigente é nome de gente?

Animal ou vegetal?

Aquele que é mal crente

E que nasceu na noite de Natal

Indigente, mal crente?

Pingente, dependente?

Ou ninguém somente?

Infelizmente, tristemente...

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