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VARZEA ALEGRE...
Muita gente que conhece Várzea Alegre se toma de surpresa ante a desconexidade do
seu nome, pois a vila se estende sobre a lombada de um alto vermelho-escuro, de ruas
desalinhadas, constatando um contraste flagrante aos olhos de quem a visita, e de seus
próprios filhos.
Nas linhas, porem, que se seguem o leitor, desavisado, encontrará a razão do por
que...
O alferes Bernardo Duarte Pinheiro, datando o Riacho do Machado, edificou sua casa
de residência no mesmo Riacho no lugar denominado Lagoas, e, dois anos mais tarde,
organisando uma commisão de homens de representação social e de responsabilidade,
subiu com a referida de Riacho acima, de Nascente para o Poente, metidos por um baixio
fechado de um juremal viçoso e de arvores seculares copadas, onde o ar se fazia penetrar
a custo e abafadissimo...
Essa comissão que se traçara unicamente a conhecer aquele terreno de matas virgens,
chegou, finalmente, a um alto, que para o Poente fazia descortinar uma soberba lagoa; ali
via-se pássaros diversos, desde o tuntun-vaqueiro, o pato, o marreco, a galinha dagua, o
mergulhão, a jaçanã, e o pirú dagua, até a aza-branca, o papagaio, a juriti, o jacú e outras
aves de somenas importância.
Contornando-se a lagoa, ao lado Sul, onde as suas águas se represam, estendia-se uma
vargem de panorama belíssimo e arrebatador, cujo ar era fresco e saudável e a natureza
abria-se risonha em quadros contemplativos.
Chegando a essa parte um dos que fazia parte da comissão em apreço, não se conteve
e solta este brado de admiração: Vejam que Várzea Alegre!... E desde esse dia para cá
assim ficou se chamando.
Casando-se em novembro de 1788 um neto do alferes Bernardo Duarte Pinheiro de
nome Raimundo Duarte Bezerra, com Teresa Maria de Jesus, sendo ele filho legitimo de
Francisco Duarte Bezerra e Bárbara de Morais Rego e esta filha legitima de Felix Gomes de
Oliveira e Ana Maria Bezerra, foi pois desse consorcio matrimonial que veio a procriação
dos filhos de Várzea Alegre.
Teresa Maria de Jesus tinha uma inabalável fé e devoção a S. Raimundo Nonato, cuja
imagem em vulto pequeno possuía na sua casa, num quarto de orações, que mandara
construir.
Nas conversações que mantinha com os de sua família manifestava sempre o desejo
de construir uma capela para S. Raimundo, pois assim se espressava: “Tenho fé em Deus e
em S. Raimundo Nonato que ainda edifico nesta terra uma capela, embora que pequena,
dedicada a S. Raimundo Nonato.
Teresa Maria de Jesus, porem, não teve a dita de ver esse seu tão aspirado e nobre
desejo realisado; pois em setembro de 1823 na ocasião em que nascia um seu netinho e
ela, alegremente, desprendida das futilidades deste vale de mizerias, erguia um
entusiástico viva a S. Raimundo, tombara sem vida, morrendo repentinamente.
A família de Teresa Maria de Jesus não se esquecera dos desejos que ela nutria
ardentemente para erigir aquela capela e confiada ficou somente a espera de um dia
promissor.
Vinte e nove anos depois, em 1852, ordenava-se o padre José de Pontes Pereira da
família e Pontes de Assaré e natural daquele lugar.
Estando o Pe. Pontes desocupado, sem ter uma freguezia para curar, estando, repito,
desocupado sem ter mesmo o que fazer para desempenhar-se dos misteres sacerdotais
de que acabava de ser investido, aparecendo na vila de Assaré o major Joaquim Alves
Beserra, do Arneiroz, fez com ele um contrato para celebrar em Várzea Alegre as missas
de Natal, Ano Bom, e Reis, pois que já tinha ali aquele quarto de orações que muito bem
se prestaria para esse fim.
Decorrido esse período o Pe. Pontes, após ter celebrado a ultima missa do contrato,
muito satisfeito e agradado imensamente do lugar e mais ainda da concorrência de povo
havida e do seu comportamento exemplar e instintos religiosos, embora que sem cultivo,
fez ver ao mesmo povo que se prometesse fazer para si uma casa de morada e edificar
também uma capela para S. Raimundo Nonato, que vinha ser o seu capelão.
De bom grado o povo accedeu a esse seu altruísmo gesto, pois para ter mão desse fim,
de que muitíssimo se resentia, não haviam sacrifícios a encarar por mais intransponíveis
que fossem.
Os principais homens da localidade mandaram logo a Pernambuco conseguir do Sr.
Bispo diocesano a licença para ereção da capela, visto que aqui no Ceará não existia ainda
Bispado. O Sr. Bispo respondeu que só daria a licença si herdeiros forçados duassem o
terreno para o santo, onde fossem edifica-la – (a capela).
Três filhos de Raimundo Duarte Besêrra, vulgo papai Raimundo, e um genro deste,
deram, então, por escritura publica, duzentas braças de terra quadradas, sendo que a
medição da referida terra si faria de duzentas braças de cada canto da capela, fechando-se
assim um quadro de duzentas braças para todos os quatro lados ou pontos cardeais.
Logo que concedia a licença se fizeram iniciar os serviços, (1854) sendo deopis
suspensos, visto os oficiais da obra não se estarem desempenhando bem...
Em 1855, porem, reiniciaram-se os serviços, com muita intensidade, e maior
entusiasmo, ficando concluídos no ano seguinte, quando com as cerimônias do estilo fora
benta, cujo ato ocorrera a 2 de fevereiro do mesmo ano, pelo Pe. Manoel Caetano, então,
coadjutor do Icó.
Como prometera, o Pe. Pontes veio para Várzea Alegre e ali permaneceu, na qualidade
de capelão, até 11 de Maio de 1862, quando vitima do cólera faleceu, deixando a todos
que o conheciam de perto com o coração pungido de dor e acerbas saudades.
Nunca será ocioso lembrar nesses rápidos traços que o Pe. Pontes durante aquele
pequeno lapso de tempo tudo fez pelo progresso de Várzea Alegre, deixando-a em
condições tão favoráveis e promissoras que sem sacrifício algum pôde conseguir o Cel.
Tomás Duarte de Aquino o termo judiciário.
Por esse tempo foi igualmente criado o termo eclesiástico pelo primeiro Bispo do
Ceará – D. Luiz Antonio dos Santos, sendo nomeado primeiro vigário dali o Pe. Benedito
de Souza Rego, natural do Arneiroz, e da família Feitosa e Morais Rego, por ser neto do
tenente-coronel Eufrásio Alves Feitosa que edificou a igreja dos Inhamuns e bisneto de
Gabriel de Morais Rego, do S. Gonçalo dos Angins, de cuja freguezia tomou posse no ano
de 1864, exercendo o seu paroquiato até fevereiro de 1875, em cuja época celebrou ali a
sua primeira missa – Pe. José Alves Besêrra,- a primeira e ultima missa nova que se disse
em Várzea Alegre até os dias de hoje.
Vigários que se seguiram a este: Primeiro: - Pe. Vicente Pontes Pereira que tomou
posse em fevereiro de 1875 e foi vigário até 1878, retirando-se então em conseqüência
dos horrores da seca que tocara ao seu auge; foi se ter a pés e de alpercata, em Fortaleza
onde fez entrega da freguezia ao Sr. Bispo – D. Luiz Antonio dos Santos.
Segundo: Pe. José Alves Bezerra, que era natural de Várzea Alegre, tendo ali sua
família, e cuja posse se verificara a 30 de abril de 1878, saindo em 1883 a 31 de maio.
Terceiro: Pe. Manoel Rodrigues de Lima, de Junho de a 16 de Janeiro de 1885. Era ele
natural de Milagres e quando nomeado vigário de Várzea Alegre, ocupava idêntico cargo
em S. Pedro do Cariri.
Quarto: Pe. José Gonçalves Ferreira de 2 de fevereiro de 1885 a janeiro de 1904.
Quinto: Pe José Gonçalves Ferreira de 2 de fevereiro de 1904 a 3 de novembro de
1907.
Sexto: Pe. José Alves de Lima que de ordem do Exmo. Sr. D. Quintino Rodrigues de
Oliveira e Silva, foi celebrar a missa de visita de cova do Pe. José Gonçalves Ferreira e ali se
ficou para celebrar, também, as missas de Natal, Ano Bom e Reis, sendo nesse ínterim
nomeado vigário de Várzea Alegre, em cujo cargo permaneceu até Janeiro de 1923
Sétimo: Pe. Raimundo Monteiro Dias, natural do Icó e descendente da família
Monteiro – de 20 de janeiro de 1923 a Janeiro de 1928.
Oitavo: Pe. José Ferreira Lobo, natural de Missão-Velha – de 1928 a Junho de 1932.
Nono: Pe. Raimundo Monteiro Dias – de Dezembro de 1932 até esta data e que se há
de conservar emquanto Deus quiser.
ESCLARECIMENTOS
Corre por aí afóra nesto velho rincão cearense a nota dissonante e desabonadora
contra os filhos de Várzea Alegre, que são taxados de maus, ruins, fuxiqueiros, mentirosos
e que têm sido o fator primordial da causa da retirada dos padres daquela localidade.
Em virtude do que passamos a contraditar tal versão malévola, mostrando de per si,
fato por fato, e suas circunstancias especiais, e então a verdade surgirá enxotando a
mentira, porque essa só prevalece enquanto aqui não chega...
COMECEMOS:
Pe. José de Pontes, primeiro capelão de Várzea Alegre, deixou de ser porque morreu
do cólera; - não foram os filhos de Várzea Alegre quem o botaram p0ara fora...
Pe. Benedito de Souza Rego – saiu porque o Pe. Frota do Icó deu uma denunca dêle ao
Sr. Bispo, da qual resultou a sua demissão de vigário; - não foram os filhos de Várzea
Alegre quem o botaram para fora...
Pe. Vicente de Pontes Pereira – abandonou a freguezia por causa da grande seca de
1877 a 1879, como já atrás ficara dito – não foram os filhos de Várzea Alegre quem o
botaram para fora...
Pe. José Alves Beserra – deixou o vigariato por causa dos seus maus procedimentos... –
não foram os filhos de Várzea Alegre quem o botaram para fora...
Pe. Manoel Rodrigues de Lima – saiu porque sofria horrivelmente do sistema nervoso e
sentindo-se cada vês peior, resolveu pedir ao Sr. Bispo D. Joaquim José Vieira a sua
transferência para Milagres, no que foi atendido; - não foram os filhos de Várzea Alegre
quem o botaram para fora...
Pe. Joaquim Manoel de Sampaio – saiu porque crismou muita gente sem a devida
qutorisação do Sr. Bispo Diocesano, sendo, portanto, julgada nula a tal crismação e o Pe.
Joaquim Manoel removido para Saboeiro; - não foram os filhos de Várzea Alegre quem o
botaram para fora...
Pe. José Gonçalves Ferreira – não saiu, suicidou-se, em conseqüência de um falso de
honra atirado a sua pessoa por dois sujeitos desclassificados, sem compostura moral nem
tão pouco social, no que penso não ter sido o povo de Várzea Alegre; pois dois tipos como
os do caso em apreço não se pode tomar, nem por pilheria, como representantes de um
povo.
Pe. José Alves de Lima – saiu porque mesmo quiz.
EXPLIQUEMOS:
Com a criação do termo judiciário foi nomeado Intendente municipal o coroneo Tomás
Duarte de Aquino, que governou de 1864 a 1880. Nesse tempo apenas havia, no Cear´,
dois partidos políticos: - Liberal e Conservador, que se dividiram, cada qual, em dois,
assim: o Liberal em Paulas e Pompeus, e o Conservador em Graúdos e Miúdos, tendo
como chefe dos Paulas – o Dr. Antonio Nogueira Pinto Acioli; dos Graúdos – o Barão de
Ibiapaba Joaquim da Cunha Freire e dos Miúdos – o Barão de Aquirás.
Com essa divisão de partidos ficou Várzea Alegre temporariamente sem chefe, até o
ano de 1891, devido a grande confusão e cisão reinante entre os partidos políticos locais
que, cada qual, si arvorava de chefe; pois bem certo é o ditado: “Panela que muitos
temperam ou sai insolsa ou salgada...
Passando o País a outro sistema de governo com a queda do Império a 15 de
novembro de 1889 e em fevereiro de 1892 sendo deposto do governo cearense o general
Clarindo de Queirós, e também, deportado, assumiu o governo do Estado o comendador
Antonio Nogueira Pinto Acioli, cuja oligarquia se estendera até fevereiro de 1912, quando
fora deposto e em cujo período foram prefeitos, digo Intendentes, respectivamente,
Raimundo Nonato de Morais e José Raimundo Nonato de Morais, aquele de 1892 a 1898 e
esse de 1898 a 1912.
Rebentando no Joazeiro do Cariri em 1914 uma revolução, sob o apoio moral do
governo da União, chefiada pelo Dr. Floro Bartolomeu da Costa, para deposição do
governador do Ceará – Cel. Marcos Franco Rabelo, triunfante a mesma, foi nomeado
prefeito Antonio Correia de Lima, visto os seus serviços prestados em prol da revolução,
mantendo-se no governo do município até outubro de 1930, tempo em que a Aliança
Liberal, acendendo o facho rubro da revolta, fez liberto o Brasil das suas inúmeras
mazelas, arvorando-se então de prefeito o Sr. Antonio Primo Filho, que logo após foi
nomeado legalmente, para aquele posto, pelo Exmo. Sr. Interventor Federal – Dr. Manoel
do Nascimento Fernandes Távora, administrando o município até Maio de 1931, quando
fora suprimido o supracitado e anexado a Cedro.
Finalmente é hoje prefeito o Sr. Leopoldo Serra.
A propósito disso passamos a narrar um fato em que ficará provada essa verdade.
No termo de Arneroz, Comarca do Príncipe, em S. João dos Inhamuns na fazenda
Riacho, banhada pelo rio Jucá, ali morava o tenente José Custodio de Oliveira, casado com
D. Matilde Pereira de Almeida, homem abastado e de qualidade boa e de muita
importância e respeito naquela terra.
Resolveu, não sabemos por que, matar a sua esposa, e, para ter fim desse intuito
satânico, lançou mãos de um irmão de D. Matilde de nome João Evangelista, ficando entre
os dois traçado todo plano sinistro...
Dias depois viajava José Custodio para a capital pernambucana, afim de tratar de
negócios de seu particular interesse...
Na sua auzencia João Evangelista fez uma carta falsa, em nome de uma amiga de D.
Matilde, convidando-a para ser madrinha de um seu filhinho em Saboeiro.
D. Matilde lamentou deveras não poder ir aquele convite, visto que o seu marido
estava auzente.
João Evangelista diz-lhe então: Isto não é motivo... porque eu estou aqui e irei consigo.
Prepararam-se, pois, para a viagem.
No dia, já tudo pronto, na ocasião da partida, uma escrava de D. Matilde chama-a á
parte e pondera-lhe: -Sendo eu minha Senhora não ia a essa viagem...
Porque? Pergunta-lhe D. Matilde.
Porque não ia...
Vou!... Tu bem sabes que na minha vida não há coisa alguma que pela qual eu receie
nada...
Despediu-se em seguida de todos de sua casa, deixando por ultimo um filhinho de sete
meses de idade, que levando-o de encontro ao seu peito dá-lhe um estremoso abraço de
mar, cravando-lhe na face um osculo de despedida...
Montaram e partiram os três de estrada afora: - João Evangelista, D. Matilde e Joaquim
Murici, este ultimo cabra de inteira confiança do tenente José Custodio; pois ia ali garboso
sabendo o que ia fazer... Chegados, que foram, a Vargem do Roçado, já meia légua
distante da fazenda Riacho, depois de atravessarem o apertado de umas pedreiras,
Joaquim Murici apeia-se subitamente e derribando D. Matilde do seu cavalo, mata-a
enforcada com o cabresto do animal, proferindo, com escarninho, essas palavras: - “Eu
pensava que para si matar uma pessoa rica e de uma família ilustre como a de minha
Senhora a gente sentisse algum remorso; mas não! Pois eu estou matando com o mesmo
gosto e satisfação como si estivesse matando uma galinha”...
João Evangelista, ali para um lado, presenciava toda essa cena tétrica, calmo, sereno,
imperturbável, como si a nada estivesse assistindo!...
Espalhando-se tão clamorosa e lamentável noticia por todas aquelas paragens dos
Inhamuns, produziu no espírito do seu povo uma consternação tal, um abalo moral tão
profundo, que a própria naturêsa parecia compartilhar, também, o peso acabrunhante
daquela grande dor...
Quatro dias, entretanto, já são passados... Tudo continúa envolto ainda de tristêsa e
dor!...
D. Mariquinha, mulher de sentimentos piedosos, irmã da desventurada Matilde Pereira
e casada com Antonio Alves – irmão do tenente José Custodio, sentada numa rêde a sala
de jantar; e, levando de quando em vês aos olhos um lenço, com que enxugava as
lagrimas, fala para o seu esposo: Antonio Alves fique certo que no dia em que José
Custodio pisar nesta terra eu mando mata-lo...
Não!... pondera-lhe, Antonio Alves: porque para você mandar assassinar José Custodio
é preciso mandar matar, também, João Evangelista, que na minha opinião tem muito mais
cumplicidade nesse caso d que José Custodio.
E, então, que si faz?... consulta-lhe D. Mariquinha:
- Mata-se o cabra e fica tudo resolvido,
- Pois seja; conquanto isso seja breve, concorda destarte D. Mariquinha.
Antonio Alves pega de uma pena e traça num papel a seguinte carta:
“Meu caro José de Holanda
Saúde:
Desejo, quanto antes, vê-lo em minha casa, pois tenho negocio importante e urgente a
tratar consigo.
Espero-lhe, pois, confiado.
Do amo. Certo
Antonio Alves”
Sem delonga alguma José de Holanda monta a cavalo e parte...
Seriam 6 horas da tarde quando á fazenda Areia chegou.
Alta noite, já tudo dormia; eis que José de Holanda, Antonio Alves e D. Mariquinha, os
três, somente, na sala de jantar, mergulhados no mais profundo silencio, de súbito dirige
Antonio Alves á José de Holanda essa pergunta: Sabe para que mandei chama-lo aqui?
- Não; mas estou aqui para saber...
Pois bem; diga-me se si atreve a matar o cabra Joaquim Muriri?!...
- No dia e hora que você quizer.
E proseguindo: - Mas é preciso morrer também um cavalo.
- Nem que morra cincoenta; morrendo o cabra Murici eu estou satisfeita, fala assim,
para José de Holanda, a D. Mariquinha.
Combinado todo plano para o assassínio de Murici, partiu José de Holanda no outro
dia, a fim de por em pratica aquele ato sinistro.
Poucos dias foram passados, quando por volta das 10 horas da manhã um homem de
boa aparência, montado num quartal possante e famoso, risca á porta de Murici,
saudando-o com um arrastado “Bom dia”.
- Apeie-se e arranche-se, disse-lhe Muricí. Sim Senhor seu Joaquim Murici, eu me
arrancho, porque hoje vim passar o dia consigo que você tem aquele cavalo muito bom e
tenho eu este que não é ruim, e, a tardinha, quero experimenta-lo, com o seu para ver dos
dois qual o melhor, si o seu ou o meu.
Muricí ficou muito contente, passando, os dois, o dia na mais animada palestra e
cordial harmonia.
Depois do jantar, seguiram ao passeio: - Joaquim Murici cavalgando o cavalo de José
de Holanda e este o de Murici. Antes, porem, a irmã de Murici, chama-o de parte e
pondera-lhe: - Sendo eu Joaquim não ia a este passeio!...
- Porque?
- Porque você vai, porem não volta...
- Não volto porque?!...
- Porque morre!...
- Murici solta uma gargalhada sarcástica e diz, confiado de si, para a irmã:- Não receio
isso; que nos Inhamuns não vejo quem se atreva a me matar.
Chegados a Vargem do Roçado, experimentaram repetidas vêses os cavalos numa
braia forçada; e depois resolvendo-se ambos a atravessarem o apertado de uma das
pedras, para o outro lado da Vargem, cuja passagem apenas daria para cada cavaleiro de
per si, quando Murici ia acabando de transpor aquele local um tiro de cravinote partiu de
detrás das pedras, atingindo o cavalo de Murici, que se despejou no chão, já sem vida.
Nesse ínterim José de Holanda já havia pulado por cima da cabeça do seu animal abaixo,
e, agarrando Murici pelas berturas da camisa, crava-lhe repetidas vêses a lamina
ponteagudo do seu punhal no peito, proferindo estas palavras em desafronta as que ele,
Murici, havia dito a D. Matilde, por ocasião do seu assassínio: - “Cabra eu pensava que
para se matar um cabra temível da tua marca a gente sentisse algum sobrosso! Mas
não!... pois eu estou ti matando com o mesmo gosto e satisfação como si estivesse
matando um bode!... O leitor que nos vem acompanhando com paciência beneditina
deve, naturalmente, querer saber quem desparara aquela arma. Diremos de bom grado.
José de Holanda havia adredemente posto ali por detrás das pedras um seu cabra,
ordenando-lhe que quando ele e Murici por ali passassem, fizesse fogo no cavalo de
Murici, que queria conversar de perto com ele...
De volta a Recife José Custodio cuidou de logo justar casamento com D. Eufrásia da
família Maia e Corrente do Cariri, cuja união conjugal enfim, se veio a realisar,
continuando, José Custodio, a residir na sua vivenda do Riacho.
Em 1859, adoecendo de sarampo, e um seu filho, - Bernardo, a D. Eufrazia, que servia
de enfermeira, preparou um chá, e pondo dentro de um pouco de veneno, deu uma
chicara do chá para cada um, matando, destarte, ambos os dois
João Evangelista, já muito velhinho, no ano de 1897, surrou uma viúva em Brejo
Grande de Santana do Cariri, e, dois filhos dessa, em desagravo a desfeita sofrida por sua
mãe, meteram dois cacetes na cabeça de João Evangelista, deixando-o sem vida.
Está tudo, pois, provado.
Ação generosa...
Duas ações...
Certo dia palestrava o capitão Pedro Alves Feitosa com pessoas de sua intima amisade,
na fazenda Papagaio, do município de Inhamuns quando aproximadamente das 11 horas
da manhã viu assomar ao longo da estrada uma criatura de maca as costas, que, num
passo largo e apressado, se encaminhava para ali.
De momento nenhum dos presentes reconheceu quem seria; porem instantes depois
ali chegava um negrinho que, saudando a todos com muita cortezia, perguntava: Quem de
Vas. Sas. é o capitão Pedro Alves Feitosa?
- Sou eu, diz-lhe Pedro Alves.
- Meu senhor moço o que me trouxe a vossa casa foi um negocio que me diz respeito...
- Sou cativo de um homem na Baía, que não é mau.
Deu-me licença para sair por este mundo afóra afim de ganhar o dinheiro preciso para
a minha carta de alforia.
Já tenho uma boa parte, faltando-me ainda 100$000 para completar o que meu senhor
exige.
Chegando por aquelas plagas, a noticia das generosidades praticadas por V. S. animei-
me de vir até cá convicto de que arranjaria essa importância faltante.
- Arranche-se, pois, ordena-lhe Pedro Alves Feitosa.
Instantes mais uma escrava aparece e anuncia para o dono da casa que o jantar estava
posto a mesa.
Entraram todos; excepto o negrinho que se ficara sentado num tosco banco de aroeira.
Perguntam para Pedro Alves: Capitão vai emprestar o dinheiro ao negro?
Vou!... O meu nomes está lá e se eu não emprestar dirão: - isso é lá homem! Portanto
tenho que emprestar.
Terminado o jantar o capitão Pedro Alves após dar janta ao negro, chama-o de parte e
interroga-lhe Quando pretende voltar?
- Quando V. S. me despachar...
Pois bem; a manhã conversaremos...
No dia seguinte, após o jantar, o capitão Pedro Alves Feitosa, sacando do bolço uma
sedula de 100$000 e entregando ao negrinho fala-lhe nestes termos: Está aqui meu negro
o dinheiro que você me veio tomar emprestado e esta égua arreiada para quando vier me
pagar, trazer um quarto de sal para mim.
- Sim Senhor. Despediu e partiu.
Decorrido fora um ano e tanto sem que os que haviam testemunhado aquela cena se
esquecessem, de vês por outra, perguntar ao capitão Pedro Alves pelo negrinho ao que
ele prontamente sempre respondia: - Nunca mais tive noticia...
Cinco anos mais tarde, já nem se lembravam do negrinho, quando ao lusco-fusco o
capitão Pedro Alves devulgou no pateo da casa uma pessoa que tangia um animal com
carga e outros adestros.
Reconhecendo quem seria solta para os presentes, essa exclamação: E é o negrinho!...
- Boa noite seu capitão Pedro Alves e meus outros senhores brancos, disse o negrinho
ao chegar.
Aqui está seu capitão a égua com a carga de sal que V. S. me pediu para traser quando
viesse deixar os 100$000 e estas quatro poldras, são as crias que ela produziu durante o
tempo que daqui saiu até esta data, receba-as, pois.
O capitão Pedro Alves, diz-lhe: Os 100$000 são seu; foi um pequeno auxilio que lhe dei
para sua carta de alforria e escolhendo a poldra mais velha: e esta poldra também é sua
para a viagem do seu regresso.
Agora, permitamos o leitor uma pergunta: - Qual dos dois fez melhor ação?...
Leandro do Vale Pedroso, conhecido por Nô, não sei por que razão, pediu
amistosamente a Leandro Custodio de Oliveira e Castro, que residia na fazenda Barra, no
rio Jucá a 1 e ½ légua distante da povoação de Cacocí, que deixasse de andar ali a noite e
que durante o dia podia ir as veses que entendesse.
Leandro Custodio responde-lhe: Ando a hora que quizer!...
- Leandrinho, eu lhe peço como parente e amigo que você não ande aqui a noite!...
Venho!...
Pois se você vier morre!... aforma-lhe Nô.
Três dias depois, alta noite, Nô presentiu que Leandro Custodio estava no Cacocí, e,
chamando um seu escravo de nome Pedro Adão, ordena-lhe: Olhe, pegue este bacamarte
e me acompanhe. Quando eu tomar a porta da frente você tome a de detrás e fale!...
Chegados lá o negro fez conforme ordenara o seu Senhor.
Leandro Custodio que se achava dentro de casa, conhecendo o perigo tenta escapulir-
se pela porta da frente, porem recúa, notando que havia gente pelo lado de fora; mas Nô
atira-lhe com um bacamarte, cujo projétil depois de atravessar a porta foi alcança-lo
adiante, produzindo-lhe morte instatanea.
A noticia do assassínio de Leandro Custodio causou de momento um certo pânico ao
par de serias apreensões; pois Leandro Custodio tinha uma irmandade numerosa, que era
uma verdadeira potencia naquela terra.
São eles os seguintes:
Capitão Pedro Alves Feitosa, do Papagaio.
>> Francisco Alves de Castro, do Olho dagua do Uricí.
Cel. Lourenço Alves Feitosa e Castro, da Varzinha.
Bernardo Freire Jucá, e José Alves Feitosa, de Cajazeiras.
O Coronel Lourenço Feitosa, irmão do assassinado e cunhado do assassino, vendo que
a derrota estava eminente no seio da família dos Inhamuns, com a morte de Leandro,
reuniu, pois, todos os seus irmãos e propoz-lhes a acomodação seguinte: Tira-se Nô daqui
para fora com a condição dele não voltar jamais nesta terra; viva agora os anos que
viver!...
Combinaram todos, embora que alguns deles não ficassem satisfeitos.
Foi-se Nô para Crateús e lá viveu até a idade de 93 anos, quando a morte o veio colher,
sem que jamais fosse aos Inhamuns.
ERRATA
Na pagina 6 – leia-se “DA FAMILIA Onofre e Pontes de Assaré e natural daquele lugar”.
Na pagina 6 – leia-se “de Várzea Alegre” em vez de “Arneiroz”.
Na pagina 8 – leia-se 1917 em vez de 1907.
“ “ 11 – leia-se “terras patrimoniais” em vez de “letras patrimoniais”.
Na pagina 23 – cancele-se a palavra “moça”, lendo-se somente “A jovem sempre
aflita”.
Na pagina 23 – leia-se “considere-a sua mãe” em vez de “considera-se”
Na pagina 29 – leia-se “Agora permita-nos” em vez de “agora permitamos”