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KENYON, GM. (1988).‘Basc assumptionsin theories of human aging" in: BIRREN. 1, eBENGSTON, VIL Bergen shcores of aging, Nova Yor: Springer pp. MOODY, H.R. (1992). "Gerontology and critical theory”. The Gerontologist 3.» 7 org.) Psicologia sovizis no Brasil, identifi Periodo 1975-1996" Congresso de Enfermagem Geniitiea. Floriandpolis: Univ Cone te Et \polis: Universidade Federal disciplina “Principios Bisicos em Geran Jradis of gerontology: On the scientitic he Gerontologist 3, v.32, pp, 318-326, policy and theories of azing: Constructing and age”. In: BENGSTON, V.L. © SCHAUE, K.W. (orgs). Handbook of theories of aging. Nova York: Springet pp. 361-377, Psicologia do envelhecimemto: Uma area emengente”. In: 6 ‘A MATURIDADE E A VELHICE: UM OLHAR ANTROPOLOGICO Neusa Maria Mendes de Gusmao q ‘A maturidadeea velhice desde sempre constituem desafios todas | Nes sociedades humanas,sobretudo no mundo modem, cuja dimensio social encontra-se centracia na juventude, como mito € como valor que rientam a perceprao de mundo e a compreensio possivel da vida. No entanto, a0 ser vivida, a pripria vida se encarrega de destruir 0 mito e expor a realidade humans em sua fragilidade biol6gica e-social. Para * — dialogar com essa fragilidade ¢ expor a diversidade na busca de cami- hos, perguntei-me entity: o que é maturidade? Para iniciar a busca de uma ou mais respostas possiveis, usei recursos diversos: 0 dicionério. a poesia, a literatura especifica e geral -mplo, assertivas comuns e outras mais gerais swaridade define-se. como 0 mesmo que rmadu- reza; idade imadura: estado em que ha maturacdo: amadurecimento, ns No fluxo da vida, maturidade ¢ encontrar e desenvolver em varias ‘um ponto de equilfbrio vital entre o corpo biol6gico, 0 social altura, intervém a fala do poeta,' para nos dizer que o primeiro, ide: maturidade € quando niio mais se consegue escrever em papel compreenderia também os sentidos de firmeza, preciso, exatid: q ‘como um trapezisia que afinal dispensa a rede de seguranga, jé ‘cunspecedo, siso, prudéncia, perfeigao, primor. : selma mis visivel aproximidade da morte. Segundo o pocta,é quando ‘do é mais em tecnicolor como na infincia, mas se faz em preto-e- restando a cada um ¢ a todos 0 desafio de vivé-la bem, o melhor fvel. Diante dos fatos, snte a inquietagao conduz a uma nova secé mesmo que inexistem mediagdes diversas das quese colocam de fora na vida dos que envelhecernfamadurecern? maturidade: “fase do cquilforio entre o recet 1994/1995. p. 422). Compreendi que, metaforicam: ermite-me, enfim, penetrar no enigma proposto: o que é mai Maturidade diz respeito a experiéncias vividas pelos s sociais ao longo de suas vidas, que resultam em qualidades conqui Por suas trajetdrias pessoais e coletivas| Supde-se que, dessas ex; Cias, decona o equilibrio entre o compo fisico na idade madura, quando Maturidade e velhice nas sociedades modernas ‘As sociedades modernas parecem estar imbuidas de que a velhice & em preto-e-branco e, cada vez. mais, refletem, discutem, propdem [ altemativas a idade madura: atividades fisicas, lazer, centros de convi- ; véncia e cursos. Criam especialidades e especialistas de diferentes -competéncias ¢ matizes. tudo em nome da qualidade de vida daqueles vvivido tanto, precisam agora contar com tudo 0 que outros _sTupos, saberes possam pensar ¢ fazer por eles. F seria o vetho 0 selvagem da sociedade moderna F gerida pela racionalidade ¢ pelo célculo? Seria o velho, tal como 0 selvagem do pasado ocidental. um ser destituido e dependente, que necessita ter asi, scus bens ¢ a propria vida geridos por outrem (ou, para ‘ocorrem perdas que ndio podem ser negadas, ¢ 0 que resulta de um longo processo de aprendizagem (recebimento) que acompanha as diferentes hist6rias de vida por eles constituidas, construfdas e em construgio fente. Antes de mais nada, porque, tal como o lago em seu ciclo i esto como presente, como passado, a buscar uma perspectiva de futuro, mesm. que finito. O fato € que estéo vivus (0 tago e os homens), estdo em relago continua com o que os constitui ~ simbolica- mente, suas Aguas recebidas e perdidas. 1. Tabaio a com ia de cents poms de Miho Quintin, qe alm da vets © de nidate Ver Quieana 198, na 15 ‘do ser to radical, 6 por estes?). Poderia o velho, ou aquele que adcnira hhamado terceiro ciclo, escother um caminho proprio e ser bom. ser 4 ‘Como pensar as fatos se, na literatura especializada, as virtudes it ‘idade madura (Neri 1993) constituem desafios para varios pensadores ¢ diferentes éreas e disciplinas, preocupados com a forma de vivé-la positi. 4 vamente? Na literatura especializada, a tonica dos debates est exposta em Does © concits como seno de contol, autoregulagt € senso de iaridade com os seemos do dicionésie: mente 2 inguin: 0 que tis de vida na velhice nos falam’? P epecificada vidade um individuo e, assim, concordo com Iturra quando: FP diz: “A maturidade tanto pode chegar zos 14 anos como aos 40, como Fos 80, nada tem a ver com a idade, tem a ver com o entendimento do ‘Num primeiro momento, uma resposta possivel parece ser aque! que fala da velhice como processo adaptative do individuo, do velho ¢ de seu grupo 20 status quo da sociedade instituids i ue nos parece ser nosso. 16 05 an0s nos tém e mas que a ela pertencemos. E assim, P nos inscrevem em grupos determinadas de idade. Ela nos faz perceber lhice.. Camo. pois, ‘Como compreendé-la para além dos ‘08 que atingem 0s que envelhe- ‘com que sejamos criangas, jovens, ‘grupos socialmente definidos” (pp. Mas a vida, ainda da perspectiva da autora, € us ‘ordem que constantemente espreita a desordem, um el Ao colocar esses questionamentos, nio estamos esquecendo que ‘fo cxiste um Gnico modo de ser velho e de viver a idade madura, fato também reconhecido pelos especialistas, que alertam para a interago té-la. Nesse sentido, o cariter do mundo moderno em sua natureza capitalista esti dado pela ordem produtiva que toma o joven ¢ 0 adulto ‘como produtores € compreende o velho e a velhice como uma irrupgiio perigosa da ordem, posto que jé no produtivos para o capital. Como tal, 2A liminridase pve sex eneadia como fendmeno de “rn” que nea pastes de trmformao ¢ cove a candgio ds de pessoa obj, par © sige rence leptin clo poder sinko. Ver aren Cabral 19%, 16 Se, como diz Iturra (1992), em sociedades como a nossa, dese que nascemos, actentramos jd o mundo das classificagdes ¢ das hierar- quias feitas, que comportam diferentes niveis de poder, & porque ess tenha de identificar sua posigao ¢ a dos demais, estabe- de retagbes que com eles pe ter. O realidad de su ialmente adaptado, Para Iturra (1997), 0 real 6 feito de alternativas dteis para a vivéncia ea subsisténcia; 6, a um s6 tempo, normalidade e normati de cada um. a obrigagio como a procura de alterna Por outro lado, ue servem para viver (p. 31). seguindo © pensamento de Tturra, 0 real & também parte de uma interag2o constante em que se desenvolvem alegrias, frustragbes, vontades, sentimentos, subjetividades. Diz o autor aque “o real muda conforme a pessoa que se 6, seu contexto, seu ineio 1 Osaxpectumot dia sciratrelcomespoc a pesca css, proceed secur estima one knit su Adesweotrapicr ov mpecornoumi ecole ‘aa ges epider ama frma Svinds cprenan Vt Cal ID p38 ‘seu trabalho e sua classe de pertenca” (p. 33). Assim, o simples Se expressa, expressan- aprendido desde que faz-se base de nossa tes momentos do ciclo de vida (1998, p. 53). E nesse campo de ‘confronto ¢ de tensio que, no caso da sociedade moderna. a fragilidade da ‘vida social se expde de modo mais intenso e, com ela, coloca-se em davida a persisténcia das condigdes que tomum a vida possivet para aquele que = envelhece, acenando com o fim préximo ¢ inexorével —_a morte. Desenca- és, ou Seja, uma corrida que institu! prticas valores que negam a velhice,o “estar velho", em nome de um real que jé imagem no espelho dissocia 0 real vivido GE. co real percebido. Como conseqiiéncia, tudo e todos tendem a demonstrar BB suas capacidades pessoais e coletivas como adequadas & manipulagio dos E recursos que tomnam a vida produtiva para o mercado e para nds préprios, F como afirma Itura, Nas sociedades modemas, de que fazemos parte, a divisio de trabalho aloca os sujeitos sociais entre 0s que sabem e podem e Fs que niio sabem ou no podem manipular saberes e experiéncias para falas “render” material simboticamente, (© saber acumulaco pelo velho o habilita a um lugar de destaque. Porém, numa sociedade centrada no jovem e no que representa sua forca de trabalho ¢ producio, o vetho toma-se aquele que jé nao pode responder 05 objetivos do sistema. A contradicao que the € inerente (e 2 velhice) coloca 0s limites do que € razodvel como comportamento, atitude que se espera daquele que envelhece. O que se espera € que nao impesa 0 rocesse social, ordenado de modo capitalist Por essa razio, a velhice constitui um desafio para os que a vivem para 0s que buscam compreendéta, Trata-se, portanto, de um jogo de ‘conflitos que fragiliza todos 0s envolvidos - da sociedade ao individuo—.e {que coloca em questi o que Cabral, ctandlo Turnbull, afirma ser 0 estado liminar. Segundo o autor, “o estado liminar é uma outra condigio de ser que € coexistente com o estado de ser do qual estamos normalmente conscien: tes” (1996, p. 34), ou, ainda, “tudo que estd nas margens” (p. 31). Eimponante lembrar que o fato de ser marginal fala da velhice como realidade periférica as Areas da vida cultural na qual ovelho es significa que 0 velho e a velhice passam a ser social, Simultaneamente, um mesmo e um outr €-distante; € um elemento do préprio grupo, tern uma posigio de membro, mas esté fora do grupo ¢ como tal é confrontado (Moraes Fo 1998). Mas, se 0 real € feito de obrigagées ¢ deveres que regem os comportamentos eas, atitudes de cada um, o real €também feito de direitos ¢ esse & outro aspecio Conflitivo ¢ perigoso para os que esto & margem. (0 perigo reside no fato de que a vida modema, por suas contradi~ Ses. origina movimentos de preservagio da autonomia, néo s6 individual como também coletiva. Dessa forma, tais movimentos dio origem a atores sociais ¢ que podem aderir a0 social de 12 ies maneiras, conforme sejam ou no aele integrados, eem razo forma assumida por tal integragio ou exclusio. faturidade e velkice da perspectiva antropolégica F _ Demodo geral, entre os antropdlogos, afirma-se que aidade éuma F construgio social. Para Debert (1998, p. 51), a idade ndio é um dado da E patureza, nem um principio natural dos grupos sociais, nem um fator ‘explicativo dos comportamentos humanos. O processo biolsgico que 00s P Sonslitui, afirma a autora, resulta da elaboragéo simbdlica que define BBE fronteicas entre as idades pelas quais os individuos passam e que no sio ecessariamente as mesinas em todas as sociedades. De igual modo, ‘Motta (1998, p.227) observa ques sociedades, em diferentes momentos qe hiist6ricos, atribuem um significado especifico ds etapas do curso de vida E dos individuos, conferindo-Ihes papéis e fungdes. Assim, alguém pode SHB ser socialmente velho sem estar biologicamente velho ou vice-versa, ou, © §Be ainda, um fato pode corresponder 20 outro. = ais circunstancias exigem que se olhe para determinadas reali- B dades empiricas, a fim de fazer-Ihes uma leitura que revele o lugar do G velhoe da velhice. Uma leitura que mostre alternativas de insergio social do velho, que rompa com papéis previstos ¢ prescritos, impondo uma F rebeldia que inove, conteste e mostre ser possivel A velhice atitudes & ‘comportamentos marcados por ages ¢ iniciativas inteiramente outras ¢, portanto, transformadoras. ‘Voltando o olhar para realidades empiricas diversas, selecionam- psaber cetimonial ¢, a0 mesmo tempo, representam divertimento € se casos que possam dialogar com os pontos que aqui se afirmam. © ia, Por tudo que fazem € representam, primeiro detes diz respeito aos suyés, grupo indigena estudado por Seeger (1980). 0 autor nos fala da velhice entre os suyis, da absoluta inmeveréncia de comportamento dos velhios para com os demais habitan- tes da aldeia e da perplexidade de alguém como ele, que, vindo de outra ‘vérias manciras so intermeditios entre © ideal suyé de homem adulto, © mundo menos social dos monas € 0 reino anim. Sao pessous marginais de quem se espera coisas hilriantes «que no slo censuraas por fozerem casas que ratando-se de otro assim que os velhos « {—suy, seria atamenteertcedss (1980. 72) jousam dizer, ou que, F: ‘ expressam por meio de MME. Portudoisso, espera-se queocomportamento do velhi atitudes cOmicas, bufas € comportamentos inversos o que h4 de mais, ‘© oposto daquele que o suys moralmente correto deve privado — a sexualidade, por exemplo -, tornando seus contetidos mais anto, de uma imagem que reflete seu contrario ¢, por cespontineos. “Voces querem cheirar minha vagina?" ~ diz. a velha dramética e humoristicamente no cotidiano do grupo sem softer pulando numa perna s6; 0 velho corre atris das mulheres segurando 0 SMM -represélias ou censura. © comportamento de vethos ¢ velhas (wikényi) penis até que elas o cutuquem e ele role no chio em falsa agonia em plena E & a um s6 tempo, marginal e socialmente previsto. Dessa forma, 0s luz do dia ¢ sob os olhares divertidos de toda a aldeia. ‘velhos na sociedade suy’ so um exemplo para os mais jovens €, 20 davelha Seriam (ais comportamentos fruto de uma inadequagao & vida mesmo tempo, o que pode ser marginale perigoso na velhice € posto sob social, coletiva? O autor responde que, entre os suy.s, aprendeu algo de controle do grupo. Os vethos tornam-se, assim, “os bobos da corte numa, grande importincia para si mesmo ¢ para a cigncia que pratica (a sociedade sem cone: divertem toda a populaclo suyée, paraiso, gozam antropologia): 0 que ele fregiientemente tomava como sentimentos ou de uma licenga e de beneficios especiais” (p. 69). ‘comportamentos individuais eram, na verdade, acxpressiodesentimen- ae Nessa breve ¢ parcial retomada do trabalho de Seeger, percebe-se 108 e comportamentas culturalmente definidos, adequados adeterminada a transigo para a idade madura. para a velhice, como algo incorporado ‘categoria de pessoas — no caso, os velhos (p. 62). RE pelas relagbes cotidianas e, talmente, como os velhos desem- Entre os suyds, envelhecer ou atingir a maturidade é assumir um penhan um papel importante n suyé, © velho & parte de uma x familia, de uma comunidade que vive finidamente, como diz Gid- 3 dens (1995), com independéncia da tra jedade da vida pessoal. O- F entorno cultural influi no comportamento, porém o faz nao de modo que Eo individuo se adapte aos moldes estabelecidos, como algo exterior que Ihe € imposto, mas na e pela interago do velho e da velhice com todos sao importantes em diferentes rituais ¢ ceriménias; so respeitados por 08 outros sujeitos e com seu mundo. E, assim, uma extensio do vivido 124 que envelhece. Apés essa visto de uma realidad segmento, aquela parte da vida em que a idéia de morte se apresenta assim frontalmente” (p. 15). Para Giddens, o relacionamento entre + morrie mais gente jovem do que s¢ sobrevivia até a velhice (1995, p. 15), Eno, pode-se dizer que, no mundo modemo, ating aidade madura, ‘2 maturidade, significa ter adquirido uma bagagem, um equipamento, como iz Drummond, «, como consta no dicionsrio, consiste em ter atingido um estado de completo desenvolvimento, Mas é também, o momento de ‘consciéncia da finitude do ciclo vital e da proximidade de seu fim. Da fala

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