condenado a 20 anos de prisão, já tinha cumprido os primeiros 10 anos da pena, que muito lhe custaram. Mas ainda faltavam quase outros tantos.
Só pensava que, no dia
em que saísse daquela prisão, a vida já não estaria à espera dele. Por isso, pensou e pensou e voltou a pensar num plano para escapar. E tanto pensou que o tal plano, um dia, chegou. Só precisava de que um dos presos morresse, e eles estavam sempre a morrer.
O preso 109 pôs o plano em prática e deu ao coveiro da prisão
grande parte do dinheiro que roubara e continuava escondido. Assim, quando morresse o próximo preso, ele seria enterrado vivo no lugar dele e, logo a seguir, desenterrado pelo coveiro. O cemitério da prisão era mesmo ali, do lado de fora. Saindo do caixão, estaria livre. Até que, por fim, morreu o preso 97, que ele bem conhecia. Teve pena, mas aquela morte era o seu passaporte para a liberdade. O coveiro, tal como combinado, livrou-se do corpo do morto e o preso 109 tomou o lugar dele no caixão, depois de tomar um comprimido para dormir e não entrar em stresse enquanto esperava que o desenterrassem. Quando acordou, horas depois, ainda estava dentro do caixão, que continuava enterrado. O que se passava?
A escuridão era total, mas conseguiu ver as horas no relógio
de pulso, que tinha ponteiros fluorescentes. Era quase meia- -noite. O coveiro já o deveria ter desenterrado e acordado há muito tempo. Bateu na tampa e gritou até se cansar.
Já começava a faltar-lhe o ar. Foi então que sentiu que
havia alguém ao lado dele, no mesmo caixão. Apalpou e percebeu que era o cadáver de outro homem; talvez o do preso 97, pensou ele. Lembrou-se, então, que tinha no bolso uma caixa de fósforos. Procurou-os, conseguiu acender um fósforo e então viu, com horror, que o cadáver, ao lado dele, era do coveiro, que morrera ao fim da tarde, com um ataque cardíaco fulminante.