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OS CONCEITOS DE SISTEMA SEMIÓTICO LITERÁRIO E DE CÓDIGO

LITERÁRIO

1. A obra literária é um processo de significação e de comunicação,


resultando daí um texto esquematizado por um sistema semiótico
num quadro comunicativo regido por código.
2. A obra literária funciona como mensagem que implica um
conhecimento partilhado entre um emissor e um número
indeterminado de receptores.
3. Sistema é um agregado de coisas que apresenta um conjunto de
relações entre seus elementos, tal que os mesmos possam
partilhar propriedades comuns. A experiência humana traduz-se
em signos, um imenso sistema de signos: a cultura (Lotman)
4. Um sistema semiótico é uma série finita de signos
interdependentes entre os quais, através de regras, se podem
estabelecer relações e operações combinatórias, de modo a
produzir semiose.
5. Por semiose deve entender-se o processo pelo qual os indivíduos
empíricos se comunicam, e os processos de comunicação
tornam-se possíveis através dos sistemas de significação. Os
sujeitos empíricos, sob o ponto de vista semiótico, podem ser
identificados, simplesmente, como manifestações deste duplo
aspecto (sistemático e processual) da semiose (Humberto Eco).
6. Código é o conjunto finito de regras que permite ordenar e
combinar unidades discretas, no quadro de um determinado
sistema semiótico, a fim de gerar processos de significação e de
comunicação que se traduzem em textos. Representa o
instrumento operativo que possibilita o funcionamento do sistema,
que fundamenta e regula a produção de textos. O código é
atinente ao plano paradigmático e a estrutura ao plano
sintagmático. Um código possibilita codificar e decodificar e
caracteriza-se sempre pela recursividade das suas regras
(aplicação dessas mesmas regras num número indefinido de
textos). Conclusão, segundo a teoria jakobsoniana da função

1
poética da linguagem: o código que subjaz ao texto literário, que
possibilita a sua produção e recepção, é o código linguístico.
7. Heterogeneidade da semiose estética: «toda a linguagem artística
é típica e explicitamente heterogénea, já que resulta da
combinação, da interacção sistémica de vários códigos.

LINGUAGEM LITERÁRIA VS. LINGUAGEM NÃO-LITERÁRIA

«O jogo das palavras é quase uma anormalidade: é a


loucura das palavras» (Todorov, 1978: 315).

Sabe-se que a «matéria-prima» da literatura são as palavras,


cujos traços peculiares manifestam-se no universo textual como
resultado de «jogos das palavras». São essas qualidades que se
apontam em seguida, não se (sub)traindoa necessidade de leitura da
obra Teoria da Literatura, de Victor Manuel de Aguiar e Silva, para o
aprofundamento desta matéria1.

1. A linguagem literária cria em parte a realidade que exprime

 A sua finalidade essencial é representar um mundo de ficção,


mundo imaginário que ela cria. Por outras palavras: a linguagem
literária não tem um referente histórico. A verosimilhança com a
realidade é o que a linguagem literária representa; não a
realidade em si.

2. A linguagem literária admite pluralidade de significações

 A linguagem literária é geralmente manejada pelo escritor como


um símbolo plurissignificante, daí o dizer-se que a obra de arte

1
Acrescentam-se os textos de Tzvetan Todorov, Os jogos das palavras, e de Domício Proença Filho, A
linguagem literária.

2
está plenamente realizada com a interpretação de cada
destinatário.

3. A linguagem literária estrutura-se sobre figuras e imagens

 A linguagem literária esforça-se por evitar a vulgaridade, os


lugares comuns, a rotina criada pela linguagem falada, a
monotonia da expressão científica. Com efeito, o escritor lança
mão de significações figuradas, projectando, deste modo, uma
visão muito subjectiva do mundo.

4. A linguagem literária vive de musicalidade inerente à fisicidade dos


vocábulos

 No discurso literário as palavras e as frases na essência física,


isto é, na sequência de sons, surgem como autênticos valores
estéticos de carácter acústico.

E fechamos com a mesma voz de abertura: Tzvetan Todorov com os seus


«jogos de palavras», que antecipa a nossa interrogação nos seguintes termos:
«será que, apesar de tudo, os jogos de palavras, semelhantes jogos de
palavras, terão um interesse real?» (idem: 330), para, depois, esboçar uma
resposta, em que a simplicidade parece ancorar a tónica do seu estilo. Diz ele:

Já se viu que, mesmo que se quisesse, não se podia excluir o


aspecto de ‘jogo’ da produção literária, nem do todo o discurso;
mas pode se variar a apreciação acerca dos diferentes jogos
de palavras. O seu interesse varia, parece-me, de acordo com
a importância das categorias da linguagem que eles destacam.
Os jogos baseados no alfabeto parecem ter relativamente
pouco interesse. Em contrapartida, aqueles onde predomina a
polissemia das palavras, a ausência de paralelismo rigoroso
entre significante e significado, têm a ver com uma das
características mais essenciais da linguagem e ensinam-nos

3
muito – quer se tenha ou não consciência disso – acerca do
funcionamento simbólico da linguagem (ibid. Itálico nosso).

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