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Capítulo

Controle de Enchentes e Inundações


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1. DEFINIÇÃO

Enchente - caracteriza-se por uma vazão relativamente grande de escoamento


superficial.

Inundação - caracteriza-se pelo extravasamento do canal.

2. CAUSAS

Enchente:

• Excesso de chuva

• Descarregamento de qualquer volume de água acumulado a monte


(rompimento de uma barragem ou a abertura brusca das comportas de um
reservatório).

Inundação:

• Excesso de chuva

• Existência, à jusante da inundação, de qualquer obstrução que impeça a


passagem de vazão de enchente (bueiro mal dimensionado que remansa o
rio).

3. DISTRIBUIÇÃO DAS ENCHENTES E INUNDAÇÕES DURANTE O ANO

As enchentes e inundações quando causadas pelo excesso de precipitação, têm suas


distribuição sazonal semelhante a do fenômeno que as geraram, sendo portanto necessário o
estudo das características das precipitações (origem, distribuição temporal e espacial) da região
onde se situa a bacia em questão).

É importante lembrar que em um país de dimensões continentes como o Brasil, vários devem
ser os sistemas organizadores de convecção, que, atuando isoladamente ou em conjunto, são
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responsáveis, pela estação chuvosa de setores distintos do país. Aqui só nos deteremos na Região
Nordeste do Brasil, e em especial, ao seu setor norte, onde se situa o Estado do Ceará.

4. MÉTODOS DE COMBATE ÀS ENCHENTES (extraído de WISLER, 1964)

Os danos causados pelas enchentes podem ser evitados de três modos diferentes:

• Pela construção de obras de proteção.

• Mediante a redução do nível de cheia, sem modificação apreciável de descarga de pique.

• Mediante a redução dos fluxos de cheia por meio de acumulação, modificação do uso da
terra ou métodos semelhantes.

4.1. PROTEÇÃO CONTRA INUNDAÇÕES

A proteção contra inundações é proporcionada, principalmente por meio de diques e


muralhas construídas ao longo das margens, que dão apenas proteção local à população e às
propriedades que se localizam ao alcance das águas da enchente. Sua finalidade é confinar aquelas
águas dentro do canal natural do rio. Assim fazendo, eles elevam o nível d'água nos pontos à
montante (devido ao represamento das águas) e à jusante (devido ao acréscimo de descarga,
resultante da redução da acumulação).

Este método embora proporcione, muitas vezes, proteção satisfatória contra inundações mais
freqüentes, ele acarreta um perigo. Graças a sensação de proteção gerada pela presença de diques
e muralhas de proteção, novas edificações são construídas em áreas antes evitadas. Um dique
protege somente enquanto não é ultrapassado; depois disso torna-se completamente inútil. Em
conseqüência, quando uma cheia excepcional ocorre e transborda dos diques, a devastação
resultante e as perdas de vida são, provavelmente, maiores do que se nada tivesse sido construído.
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4.2. REDUÇÃO DO NÍVEL

O risco de inundação pode ser reduzido, sem a redução da vazão de enchente, pelo
abaixamento do nível. Isto pode ser conseguido através de:

• A retificação e a drenagem do leito do rio. A dragagem pode ser feita para eliminar os
depósitos de fundos e das margens, aumentando assim a área da seção do canal. A
retificação permite um aumento de declividade do canal com conseqüente aumento da
capacidade de escoamento. Normalmente, a retificação deve ser seguida por
revestimento ou consolidação das margens (VILLELA, 1975).

• Construção de um "by-pass", ou canal adicional de enchente. Freqüentemente,


grandes cidades localizam-se junto de rios ou de outras massas de água. É aí que, por
causa dos estrangulamento provocados pelas pontes, edifícios e áreas aterradas, cria-se
um funil. Não se pode alargar o canal do rio, devido ao alto custo. Não é raro, entretanto,
que se possa construir, em torno da cidade, um canal para enchentes a custo razoável.
Ex: rio Mississipi em Nova Orleans.

4.3. REDUÇÃO DA DESCARGA DE PIQUE

As vazões de enchentes podem ser reduzidas por meio de:

4.3.1. ACUMULAÇÃO TEMPORÁRIA DE UMA PARTE DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL


ATÉ DEPOIS QUE O MÁXIMO DA CHEIA TENHA OCORRIDO.

A redução por acumulação pode ser feita através de: um grande número de pequenos
reservatórios individuais localizados nas cabeceiras do curso d'água principal ou de seus
afluentes; terraços que detenham o escoamento durante tempo suficiente para permitir a
infiltração no solo; e por meio de grandes reservatórios, localizados nos vales mais a jusante.

Independentemente das dimensões do reservatório, a dois tipos de acumulação: controlada


e não controlada. Na controlada, as comportas das estruturas de barragem podem regular o
deflúvio, do modo que julgar conveniente. Na acumulação não controlada, não há regulação da
capacidade de deflúvio. Essas estruturas geralmente dispõem de sangradouro para o deflúvio e as
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únicas vantagens delas, nas cheias, resultam dos efeitos da modificação e retardamento da
armazenagem.

OBS: Terraços são pequenos reservatórios de retenção, construídos acompanhando as


curvas de nível do terreno, com base de 1,50 a 1,80m de largura e altura usual de 15
a 20cm. São suficientemente próximos uns dos outros para que retenham o
escoamento superficial sem transbordamento.

5. ANÁLISE ECONOMICA DO CONTROLE DE ENCHENTES

Para determinar os benefícios anuais que resultariam de um programa de controle de


enchentes é necessário, primeiramente, estabelecer um certo número de perfis de cheias, pelo
menos nos trechos do rio nos quais ocorrem prejuízos consideráveis. Deve ser determinado um
perfil da cheia de projeto, bem como o perfil mínimo para o qual ocorrem danos apreciáveis. Um
levantamento local cuidadoso é então necessário, para determinar o montante dos prejuízos
causados pelas enchentes correspondentes aos perfis, em toda a zona afetada. Esses valores
podem ser locados, sob a forma de uma curva, e dela se poderá deduzir os prejuízos, para
qualquer nível intermediário.

Figura 10.1 - Curva prejuízos x descarga


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Em seguida deve-se determinar a freqüência com que podem ocorrer as cheias dessas
várias grandezas.

Exemplo:

Suponha que, na extremidade da jusante da zona prejudicada, o nível de enchente que


provoca danos é de 3,0 metros.

Suponha ainda que o montante dos prejuízos foi determinado, em toda a extensão da zona
atingida, para os perfis correspondentes aos níveis de cheias, na extremidade de jusante, de 0,60,
1,20, 1,80 e 3,00 metros, respectivamente. Foi determinado, também, o número de vezes em 100
anos, em que cada um desses níveis foi atingido ou excedido.

Tabela 10.1 – Prejuízos totais em 100 anos em milhões de cruzeiros. (Fonte: WISLER, 1964)

Altura de cheia No de vezes em 100 No de cheias dessa Prejuízos causados Prejuízos total
(m) anos que o nível de altura mas pela cheia Cr$ (x 106)
cheia é excedido não maiores Cr$ (x 106)
3,05 1 1 840 840
2,44 2 1 560 560
1,83 5 3 350 1.050
1,22 9 4 175 700
0,61 20 11 70 770

Caso seja encontrado um método pelo qual os níveis de enchentes sejam diminuídos de 1,20
m, uma nova tabela é organizada:
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Tabela 10.2 – Prejuízos totais em 100 anos em milhões de cruzeiros. (com redução da cheia) (Fonte: WISLER,
1964)

Altura de cheia No de vezes em 100 No de cheias dessa Prejuízos causados Prejuízos total
(m) anos que o nível de altura mas pela cheia Cr$ (x 106)
6
cheia é excedido não maiores Cr$ (x 10 )
3,05 0 0 0 0
2,44 0 0 0 0
1,83 1 1 350 350
1,22 2 1 175 175
0,61 5 2 70 210
735

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