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RESUMO

O seguinte trabalho visa expor conceitos do Poder Legislativo dentro do modelo inglês de
Common Law, de maneira a aprofundar conceitos de Acts of Parliament e Delegated
Legislation. Ademais, serão apresentados, inicialmente, concepções básicas do Poder
Executivo, a fim de facilitar o entendimento do funcionamento da tripartição dos poderes
inglesa. A monografia foi realizada a partir da leitura de bibliografias inglesas. Busca-se como
resultado a comparação entre o sistema apresentado para com o Civil Law brasileiro.

Palavras-Chave: Poder Legislativo na Common Law; Acts of Parliament; Delegated


Legislation.
ABSTRACT

The following work aims to expose concepts of the Legislative Power within the English
Common Law model, in order to deepen concepts of Acts of Parliament and Delegated
Legislation. In addition, basic concepts of the Executive Branch will be presented initially, in
order to facilitate the understanding of the operation of the tripartition of the English powers.
The monograph was made from the reading of English bibliographies. The result is a
comparison between the system presented to the Brazilian Civil Law.

Keywords: Legislative Power in Common Law; Acts of Parliament; Delegated Legislation.


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SUMÁRIO

1. O PARLAMENTARISMO INGLÊS 4
2. O PODER EXECUTIVO 5
3. HOUSE OF COMMONS 5
4. HOUSE OF LORDS 7
5. ACTS OF PARLIAMENT 8
6. DELEGATED LEGISLATION 11
7. CONCLUSÃO 13
REFERÊNCIAS 15
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1. O PARLAMENTARISMO INGLÊS

Para melhor compreender o poder legislativo inglês, é relevante estudar


simultaneamente seu poder legislativo. O Reino Unido adota como sistema de governo o
parlamentarismo, esse mecanismo governamental se nutre da cooperação entres os dois
poderes. Nele o executivo e o legislativo se entre observam e podem, se necessário, intervir
nas suas sustentações.
Quando há eleições para o parlamento, apura-se qual partido teve a maioria das
cadeiras. O líder do partido dominante na casa é apossado pelo Chefe de Estado como
Primeiro-Ministro. Nota-se que as eleições para o cargo do executivo são indiretas, pois os
cidadãos elegem um deputado de um partido, cujo líder eles desejam para o cargo de
primeiro-ministro.
Em seguida deve o apossado formar seu gabinete (conselho de ministros) e o
submeter a aprovação da Parlamento. O gabinete deve ser composto proporcionalmente por
membros do da Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns. Assim podem os parlamentares
da segunda casa aprovarem o gabinete (moção de confiança) ou o rejeitarem (moção de
desconfiança), situação em que novas configurações do conselho de ministros devem ser
apresentadas.
Se de um lado o parlamento pode censurar o arranjo de ministros do gabinete feito
pelo Primeiro Ministro, por outro, o executivo também tem certo controle sobre o parlamento.
O principal mecanismo de repressão do executivo sobre o legislativo trata-se da dissolução da
Câmara dos Comuns pelo Chefe de Estado. Tal hipótese ocorre quando a Câmara obstrui o
funcionamento regular do governo, de maneira a impossibilitar a sua administração pelo
Primeiro Ministro.
Com essa pequena introdução, a dependência entre os dois poderes, executivo e
legislativo, se torna evidente. Ambos têm recursos para atacar a atuação um do outro.
Contudo, na prática, o uso de tais recursos é incomum. O fato de o Primeiro Ministro
pertencer ao partido majoritário na casa legislativa possibilita uma governabilidade
harmônica, com poucos empecilhos.
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2. O PODER EXECUTIVO

O poder executivo inglês é fracionado em dois. De um lado se encontra o Chefe de


Estado (o monarca) e do outro O Chefe de governo (o Primeiro-Ministro). O primeiro tem um
grande valor histórico, por ser símbolo da magnitude do império britânico e das virtudes da
família inglesa. Logo, o chefe de estado representa a unidade nacional, acima dos partidos
políticos, e, por conseguinte, dos embaraços e empasses políticos. Enquanto o Chefe de
governo detém os poderes próprios do poder executivo, como a elaboração de leis delegadas,
a administração das políticas públicas.
O monarca, embora tenha majoritariamente um valor simbólico, possui ainda algumas
funções. A ele são delegadas a nomeação de membros para a Câmara dos Lordes e outros
cargos políticos, como diplomatas, o primeiro-ministro junto com os principais ministros que
formarão o governo, concessão de títulos e condecorações; assinatura de tratados e acordos
internacionais; apresentação de projetos de lei na abertura da sessão legislativa; sanção a
projetos de lei aprovados pelo parlamento; declaração; declaração de guerra; e assinatura de
acordos de paz. Contudo, o exercício desses poderes está na mão do gabinete ou do primeiro
ministro.
O Primeiro-Ministro, nomeado pelo monarca, nomeará os demais ministros que
comporão o gabinete. Destaca-se nessa relação a responsabilidade solidária entre estes e
aquele. Diferentemente do que ocorre com os ministros presidenciais, que são meros
assessores, os ministros de gabinete são responsáveis solidariamente pelos destinos da política
de governo, a qual é formulada e determinada em conjunto com o Primeiro-Ministro. Por
tanto, poderá haver a destituição de todos os membros do gabinete, na hipótese de má

condução ou insucesso, por meio de moção ou voto de confiança pelo parlamento.

3. HOUSE OF COMMONS

A Câmara dos Comuns surgiu depois que o poder do rei foi limitado pela magna carta,
junto com a Câmara dos Lords. É chamada de Câmara dos Comuns pelos membros não eram
parte da nobreza ou do clero. A câmara dos comuns é a principal casa legislativa do sistema
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legislativo britânico, tendo a maior capacidade de poder e influencia do Reino Unido. Ela tem
função representativa, cujo papel principal é o de representar o povo e elaborar leis,
assemelhando-se, no Brasil, a Câmara dos Deputados.
Compõem a Câmara dos Comuns cerca de 650 parlamentares. Eles são eleitos para um
mandato de 5 anos por voto direto da população nas eleições gerais, as quais ocorrem em um
único turno. Cada parlamentar representa cerca de 72 mil eleitores, mais ou menos a
quantidade presente em 1 distrito (existem 650 distritos). A cerca das funções, é a Câmara dos
Comuns que escolhe um de seus membros para o cargo de 1º Ministro e as suas principais
funções são elaborar e debater leis, fiscalizar e auxiliar o primeiro ministro na execução da
política nacional. Já faz algum tempo que dois principais partidos alternam-se no poder: o
Conservador, que hoje está no governo na figura de Boris Johnson, e o Trabalhista, que fazem
oposição um ao outro, mas também existem outros partidos e coalisões.
A sala da Câmara dos Comuns é muito menos luxuosa que a sala da Câmara dos
Lordes. Não há presença de ornamentos em ouro e é menos espaçosa comparada com a dos
Lordes, já que existem mais parlamentares que assentos. Na extremidade oposta a porta,
encontra-se o assento do presidente da Câmara. A sua direita, o Primeiro Ministro e os
parlamentares do governo, à esquerda e de frente para os parlamentares governistas, a
oposição da atual gestão do governo, e na mesa ao centro os secretários dos gabinetes.
Além disso não existe mais elaborações. Nos debates, por exemplo, tem a palavra
quem consegue chamar a atenção do presidente da Câmara e manter os demais interessados
em sua fala.
No chão da Câmara dos Comuns, existem duas linhas paralelas dividindo as bancadas
do governo e da oposição. A demarcação divide o espaço ocupado por parlamentares
governistas, o centro da sala ocupado por secretários e os parlamentares da oposição.
Historicamente, essa demarcação existiu como forma de manter o decoro e evitar duelos entre
os parlamentares dentro da Câmara. O cálculo da distância uma linha a outra se fez de
maneira a evitar que, em discussões mais acaloradas, duas espadas se cruzassem.
O espaço físico da Câmara dos Comuns não comporta a quantidade de parlamentares
eleitos, não havendo assentos suficientes para que todos os parlamentares permaneçam
sentados nas sessões. Nos dias em que há pautas importantes, exigindo a presença de todos os
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parlamentares, a Câmara é completamente ocupada pelos parlamentares, os quais


permanecem em pé amontoados nos espaços entre os assentos.
De acordo com relatos sobre a história, a insuficiência de lugares pode ser uma
escolha política. Ao ser atacada por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, a Câmara
dos Comuns foi reformada, mas o espaço não foi aumentado. "Se a câmara for grande o
suficiente para abrigar todos seus membros, nove a cada dez debates ocorreriam em uma
atmosfera deprimente, com uma câmara quase vazia", afirmou em 1943 o então primeiro-
ministro Winston Churchill1.
Uma tradição centenária que cerca a Câmara dos Comuns é que as sessões são
iniciadas por orações diárias. Os procedimentos só podem ser começados depois que um
clérigo da Igreja Anglicana faz uma oração e abre a sessão para os trabalhos.
Outra tradição que já dura centenas de anos, é o afastamento dos soberanos da
Câmara, por costume, os soberanos não entram nas Câmara dos Comuns. A última vez em que
se deu esse acontecimento, foi no século XVII, em que o então rei, invadiu a Câmara e tentou
prender a força alguns membros da Câmara que haviam sido acusados de traição ao reino.

4. HOUSE OF LORDS

Os Lordes surgiram como conselheiros do rei, que naquela época era todo poderoso e

reinava absoluto. Até que em 1215, o Rei João “Sem Terra” (John Lackland), assim chamado
por ser o mais novo de seus irmãos, foi forçado a assinar a Magna Carta, limitando, assim, o
exercício do poder dos monarcas da Inglaterra, extinguindo o absolutismo e compartilhando
parte desse poder com a nobreza.
Ao longo da história, o comércio tornou-se cada vez mais importante até que surge
uma nova classe na sociedade inglesa, a classe dos mercadores, que viriam a ter enorme
influência durante o período do mercantilismo e das chamadas grandes navegações (sécs. XV
e XVI). No século XIV, o Rei Eduardo III (Edward III) tinha dois grupos de conselheiros, que
eram divididos em duas câmaras: os Lords e os Comuns, composta por cavaleiros de menor

1 AVELAR, Daniel. Entenda o Parlamento britânico, palco dos debates do Brexit. Reino Unido: Gazeta do
Povo, 13 de abril de 2019. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/entenda-o-parlamento-
britanico-palco-dos-debates-do-brexit/>. Acesso em: 10 de setembro de 2019.
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status e mercadores. E é por isso que o parlamento inglês é composto por duas casas: a House
of Commons e a House of Lords.
Com o passar do tempo, os comuns tornaram-se cada vez mais poderosos, inclusive
executaram o Rei Charles em 1649. A sociedade evoluiu, a cultura foi moldada ao longo do
tempo e, claro, a mentalidade da população também, de sorte que cada vez mais tornaram-se
questionadores dos poderes e da legitimidade dos Lordes.
O povo, então, passou a criticar a hereditariedade da posição de Lorde, a população
sentia que a posição de Lorde era apenas para pessoas privilegiadas, uma vez que os Lordes
não eram eleitos. Os questionamentos não paravam por aí, questionavam também como
aqueles Lordes haviam, em primeiro lugar, ocupado aquela posição. As críticas da sociedade
levaram a mudanças significativas na composição dos Lordes. Em 1958, o “Life Peerages Act
of 1958” permitiu que mulheres ocupassem a posição de “Lorde”.
“The Lords Act of 1999”, por sua vez, reduziu o número de assentos hereditários da
Casa. Foi criado, então, um painel composto por pessoas que auxiliariam o Primeiro-ministro
a decidir quem ocuparia um lugar na Casa dos Lordes. Assim, nos dias de hoje a Casa dos
Lordes é composta por “Political Peers”, “Cross Benchers”, “Hereditary Peers” e “Bishops”.
Sabendo então o que é a Casa dos Lordes e quem são os Lordes, só resta agora
compreender qual a função deles. A Casa dos Lordes possui três funções principais:
questionar e fiscalizar o trabalho do governo; trabalhar com os comuns na elaboração das leis;
e investigar problemas por meio de comitês e debates.
Uma grande diferença entre os Comuns e os Lordes está no fato de que na Casa dos
Lordes não há maioria de nenhum partido político; o partido que está no poder não
necessariamente tem a maioria dos assentos, contribuindo para que suas funções sejam
exercidas de maneira mais eficiente.

5. ACTS OF PARLIAMENT

O Reino Unido apresenta um sistema jurídico diferenciado daquele utilizado no


Brasil, a chamada Common Law. Apesar desse sistema utilizar principalmente o histórico de
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decisões do poder Judiciário, também ocorre processos legislativos de formulação ou


alteração de leis, o qual se assemelha ao processo desenvolvido no Direito brasileiro.
O órgão superior de deliberação no Reino Unido é o Parlamento, composto pela
Câmara do Lordes, Câmara dos Comuns e pelo monarca. Um projeto de lei deve ser
deliberado e aprovado por ambas as Câmaras e pelo monarca para que ele possa se tornar uma
Lei do Parlamento (Act of Parliament) e passar a produzir efeitos. Todo o processo legislativo
que será explicado a seguir foi descrito por Gary Slapper e David Kelly2 e por Jacqueline
Martin3.
Primeiramente, um projeto de lei precisa ser introduzido no Parlamento, o que
ocorre muitas vezes por meio de resultados de decisões políticas do governo ou mesmo como
iniciativa de um membro de uma das Câmaras do Parlamento. Antes de ser deliberado, pode
ser dada a oportunidade das partes interessadas no assunto tratado no projeto de opinarem
sobre ele. Um projeto de lei formulado por juristas especializados pode proporcionar uma
melhor análise futura sobre o texto apresentado.
Com isso, o projeto de lei pode começar a sua tramitação pelo Parlamento, havendo
a possibilidade de introduzi-lo primeiramente em qualquer das Câmaras, apesar de existirem
especificidades, como as Money Bills que devem iniciar seu processo pela Câmara dos
Comuns. Em ambas as Câmaras ocorrerá o mesmo procedimento, devendo o projeto de lei
estar sujeito à deliberação dos dois órgãos.
A primeira etapa que ocorre no processo dentro de uma das Câmaras é a primeira
leitura, na qual apenas o título do documento é lido e uma data é determinada para a segunda
etapa. Essa é chamada de segunda leitura, em que ocorre uma grande deliberação acerca dos
princípios gerais que o projeto de lei trata. A segunda etapa é um momento importante para
determinar se o projeto de lei terá continuidade no processo, podendo ocorrer inclusive uma
votação para aprovar ou não a sua continuação.
A terceira etapa é a fase de comitê, na qual o projeto de lei estará sujeito a uma
análise de um comitê permanente. Serão deliberadas especificamente cada cláusula do texto,
podendo ocorrer modificações em sua formação, tomando como base as deliberações
realizadas durante a segunda leitura e que determinaram os princípios que aquela futura lei

2 SLAPPER, Gary; KELLY, David. The english legal system. Oxfordshire: Routledge, ed 18, 2017, pp. 81-94.
3 MARTIN, Jacqueline. English legal system. Oxfordshire: Routledge, 2014, pp. 36-41.
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deverá seguir. Nessa fase também existem procedimentos especiais que poderão ser tomados
dependendo do assunto tratado no projeto de lei e sua importância no contexto geral do país.
Em seguida, o projeto segue para a fase de relatório, em que tudo o que ocorreu na
fase de comitê é relatado pelo comitê permanente ao restante da Câmara, possibilitando assim
a última fase, a terceira leitura, em que poderão ser realizados novos debates sobre o projeto
de lei. Entretanto, essas novas deliberações apenas deverão tratar sobre o conteúdo do projeto,
já que as questões relacionadas aos princípios gerais já foram discutidas e acordadas na
segunda leitura.
Após a realização dessas cinco etapas em uma das Câmaras do Parlamento, o
projeto de lei será transferido para a outra Câmara, onde passará pelas mesmas etapas. O
projeto permanecerá nessa situação até o momento em que as duas Câmaras concordarem
com o mesmo texto, sendo que sempre que houver alguma alteração realizada por uma
Câmara, a outra deve deliberar e consentir.
Nesse processo, podem ocorrer situações em que a concordância por ambas as
Câmaras em um mesmo texto acaba sendo dificultada, prolongando as deliberações acerca do
projeto por um tempo exagerado. Entretanto, normalmente esse processo deve ser finalizado
sem ultrapassar o período de uma sessão parlamentar, correspondente a aproximadamente um
ano, com o risco de perder totalmente o projeto de lei se não houver um acordo entre as
Câmaras nesse período. Porém, também já foram determinadas exceções a essa regra,
havendo situações em que a deliberação sobre um projeto de lei possa ultrapassar esse limite
de tempo.
Por fim, quando existe a aprovação pela Câmara dos Lordes e pela Câmara dos
Comuns do mesmo projeto de lei, ele é encaminhado para receber o Royal Assent, ou seja, a
aprovação do monarca. Não existe uma norma determinando que o monarca deve assentir em
todas as situações, porém esse é um comportamento convencionado que, se não for seguido,
pode colocar em risco a posição da monarquia perante o Parlamento.
Com isso, o projeto de lei está pronto para se tornar uma Lei do Parlamento. Ele
entrará em vigor na data em que ocorrer o Royal Assent, salvo se no próprio texto da Lei
existir uma determinação de uma data específica para a sua entrada em vigor ou se delegar a
função de dar efeito à Lei para algum membro competente, que determinará em algum
momento futuro o início da produção de efeitos da Lei.
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Ademais, existem algumas maneiras de categorizar as Leis formuladas pelo


Parlamento do Reino Unido. Os Public Acts são aqueles que tratam sobre assuntos referentes
ao público em geral, podendo ser propostos pelo governo ou por um agente privado, enquanto
os Private Acts tratam de assuntos de interesse de indivíduos ou instituições específicas,
mesmo que possam afetar o público em geral. A Enabling Legislation é um tipo de Lei que
proporciona determinados poderes a uma pessoa ou organismo que a possibilitam
supervisionar assuntos específicos para gerar certas determinações estabelecidas por uma lei
superior.
Em relação às funções que a Lei pode realizar, existem aquelas que tratam de
assuntos que não foram deliberados em um momento anterior e outras que tratam de matérias
já existentes, modificando-as de alguma maneira. A Consolidating Legislation tem o intuito
de agrupar diversas normas já existentes sem alterá-las e a Codifying Legislation, por sua vez,
agrupa e também materializa normas que não necessariamente estavam escritas anteriormente.
A Amending Legislation procura realizar alterações em um texto de lei já existente,
seja por meio de uma textual amendment, a qual modifica literalmente o texto de uma norma,
ou por uma non-textual amendment, que determinará uma alteração no efeito que uma norma
produz, e não diretamente em seu texto. Ambos os tipos de modificações necessitam da
utilização dos dois textos – antigo e atual – para que seja possível a compreensão do efeito
intencionado pelos legisladores, sendo que as alterações textuais são ainda preferíveis em
relação às não-textuais.

6. DELEGATED LEGISLATION

O termo “Delegated Legislation” (legislação delegada) é formado a partir do verbo


“to Delegate”, que significa passar ou transferir poder, assim, em termos de legislação, isso
significa “passar para outro o poder de se fazer leis”.
O Parlamento inglês é o chamado “Supreme Lawmaker”, uma vez que os MPs
(“Members of Parliament”) são eleitos para que tomem decisões e legislem representando o
interesse do povo. Mas então porque o Parlamento gostaria de passar esse poder para outro? E
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quais as implicações de se passar esse poder? Isso não enfraquece o poder de legislar do
parlamento?
Antes de responder a essas perguntas há de se entender que o Parlamento não
funcionaria se não delegasse o poder de legislar. Em suma, a maioria das leis feitas pelo
parlamento são apenas “Legal Frameworks” (estruturas/armações legais), é claro que existem
leis “auto-suficientes”, mas a maioria delas representam apenas uma base. Essas bases trazem
o plano de fundo, os motivos e o que o Parlamento deseja atingir com a lei em questão, no
entanto faltam detalhes de como irá se atingir esse objetivo. Assim os detalhes são colocados
por outro alguém, e não o Parlamento.
Dessa forma, a “Delegated Legislation” faz com que o Parlamento economize muito
tempo, assim o partido que assumiu o poder se aproveita disso para que possa cumprir seu
programa eleitoral por completo.
As principais razões para que se delegue o poder de “preencher” os detalhes dessas
leis são:
1. Geografia: Os mais de 600MPs vêm das mais diversas áreas, e muitas vezes as
leis que têm que fazer são específicas para uma certa região, então o conhecimento local é
fundamental para formação dessa lei, assim, o Parlamento busca especialistas daquela região
para finalizarem os detalhes da lei;
2. Conhecimentos Técnicos: MPs precisam de técnicos em certos assuntos assim
como os juízes brasileiros precisam de peritos. Por exemplo, o Parlamento entende que uma
lei de saúde pública será melhor completada pelo “Department of Health”;
3. Velocidade: Em casos de emergência às vezes é necessário que se crie com
muita rapidez uma lei. Então a morosidade do processo parlamentar pode se tornar um grande
problema.
Isso quer dizer que frequentemente o parlamento delega essa função a outros. Mas
para que possam fazer isso é necessário que o Parlamento crie o chamado “The Parent” ou
“Enabling Act”, que nada mais é do que a “ideia bruta” (a “armação legal”) da lei. A criação
de um “The Parent/ Enabling Act” é chamada de “Primary Legislation”, e é o Parent/Enabling
Act que dá a outro a autoridade de concluir a legislatura daquela lei. A lei que completa o
Parent/Enabling Act é chamada de “Secondary Law” ou “Delegated Legislation”.
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O “Parent Act” deve constar o nome do departamento e o nome do ministro para


quem a lei será delegada; Então, por exemplo, um “Parent Act” de uma lei relacionada a
educação irá constar o “Department for Education” e o nome do “Minister for Education”
para que ele possa acrescentar os detalhes. No entanto, o “Parent Act” pode também delegar a
lei para uma autoridade local (e.g. Essex County Council) para que complete uma lei que seja
específica para aquele local. O “Parent Act” também pode passar o poder para uma pessoa,
física ou jurídica (e.g. Virgin Trains).
O “Parent Act” também irá especificar a área em que a lei será feita (e.g. Educação,
acesso ao mar), e é claro que deverá delegar a lei para quem tem o conhecimento e recursos
para sua finalização.
Por fim, vale apontar os principais três tipos de “Delegated Legislation”:
1. Orders in Council: Casos de emergências e situações novas.
2. Statutory Instruments: Criados por Ministros de Governo e são relacionados a
conhecimentos técnicos.
3. Bye Laws: Tratam das questões que necessitam de conhecimentos geográficos
específicos, são dadas a pessoas ou autoridades locais.

7. CONCLUSÃO

Percebe-se dessa forma que o poder legislativo da Inglaterra e País de Gales (referente
ao chamado direito inglês)4 difere-se bastante do direito brasileiro, no entanto existem ainda
alguns pontos que aproximam as estruturas do poder legislativo inglês do brasileiro, os quais
o presente subtítulo pretende tratar.
Em primeiro lugar, e talvez a mais óbvia das semelhanças, é o fato de que o
Parlamento Inglês possui uma estrutura bicameral assim como o Congresso Nacional do
Brasil; enquanto o Parlamento inglês é constituído pela House of Commons e pela House of
Lords o Congresso brasileiro também é composto por duas casas, a Câmara dos Deputados e
o Senado Federal.
O processo legislativo do Parlamento inglês e do Congresso Nacional também
possuem algumas semelhanças. Assim como no Brasil o projeto de lei se inicia na Casa

4 DAVID, René. O Direito Inglês. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. VII
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Iniciadora, seguindo todo o rito legislativo, passando posteriormente pelo crivo da Casa
Revisora, seguindo o mesmo rito, os projetos de lei ingleses seguem, guardadas as diferenças,
o mesmo caminho, de modo que um projeto se inicia em uma das casas e depois passa pela
revisão da outra, seguindo o mesmo rito em ambas as casas, sendo que, assim como no Brasil,
a aprovação do projeto depende da aprovação de ambas as casas.
Outro ponto em que se assemelham os processos legislativos ora analisados é a
presença do poder de veto após a aprovação do projeto de lei em ambas as casas. No direito
inglês quem possui esse poder de veto é o monarca, de sorte que o projeto de lei necessita do
Royal Assent para que seja aprovado, enquanto no Brasil é o Presidente quem possui o poder
de veto.
Por fim, vale ainda ressaltar, para que se evitem confusões, as diferenças entre a
Delegated Legislation e a Lei Delegada, que, apesar da semelhança entre os nomes, são
institutos muito diferentes. Enquanto na Delegated Legislation, como já exposto no subtítulo
5, o Parlamento, por iniciativa própria, delega a função de completar as “armações legais”, na
Lei Delegada, tratada pelo art. 68, da Constituição Federal5, é de iniciativa do Presidente
solicitar tal delegação ao Congresso Nacional, de modo que o Presidente será responsável
pela criação de toda a lei, limitado apenas pelas instruções da resolução do Congresso
Nacional que concedeu tal delegação.

5Matéria
Tratada no Art. 68, CF/88
(BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.)
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REFERÊNCIAS

AVELAR, Daniel. Entenda o Parlamento britânico, palco dos debates do Brexit. Reino
Unido: Gazeta do Povo, 13 de abril de 2019. Disponível em: <https://
www.gazetadopovo.com.br/mundo/entenda-o-parlamento-britanico-palco-dos-debates-do-
brexit/>. Acesso em: 10 de setembro de 2019.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível


em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.

DAVID, René. O Direito Inglês. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2006

FILOMENO, José Brito. Teoria Geral do Estado e da Constituição. 10ª edição. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2016.

GROFF, P. V.; Modelos de parlamentarismo: inglês, alemão e francês. Brasília: Revista de


informação legislativa, v.40, n. 160, p. 137-146, out./dez. 2003. Disponível em: <https://
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/910/R16011.pdf?sequence=4&isAllowed=y>.
Acesso em: 31 de ago. de 2019

MAPA DE LONDRES. O Que É A Câmara Dos Comuns E A Câmara Dos Lordes No


Parlamento Do Reino Unido. Mapa de Londres, 13 de maio de 2017. Disponível em:
<https://mapadelondres.org/o-que-e-a-camara-dos-comuns-e-a-camara-dos-lordes/>. Acesso
em: 10 de setembro de 2019.

MARTIN, Jacqueline. English legal system. Oxfordshire: Routledge, 2014, pp. 36-41.

SLAPPER, Gary; KELLY, David. The english legal system. Oxfordshire: Routledge, ed 18,
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www.parliament.uk/about/how/role/> acesso em: 10 de setembro de 2019.

VIEIRA, Eduardo Simão De Souza. Institutos Legislativos A Serviço Da Qualidade Das


Leis: uma análise comparada dos parlamentos brasileiro e britânico. Brasília: Instituto
Legislativo Brasileiro – ILB, 2016. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/
bitstream/handle/id/534716/TCC_Eduardo%20Simao.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.
Acesso em: 05de ago. de 2019

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