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Eleição e democracia

Marcos José Diniz Silva*

Em recente estudo publicado pela organização internacional e-Parliament, o


Brasil aparece ao lado de Estados Unidos, Canadá e Argentina, no topo da escala das
nações mais democráticas em termos eleitorais. Os quatro níveis da escala agregam os
países a partir de critérios como vigência de princípios democráticos, liberdade de
candidaturas, liberdade de expressão, condições de apuração, condições de registros
eleitorais.
Considero uma vitória brasileira na caminhada rumo à democracia plena.
Contudo, além de nos parabenizarmos pelo comportamento eleitoral, e aos órgãos
eleitorais pela competência que é exemplo para o mundo; é preciso atentar para outros
aspectos da vida democrática.
Ainda consideramos as eleições como o ponto final do processo político, elegendo
muitos políticos despreparados. E, pior, não implementamos mecanismos sistemáticos e
eficazes para a fiscalização, julgamento e cassação de mandatos legislativos e
executivos. Não controlamos verbas, salários e gastos do Legislativo. Não exigimos
prestação pública de contas. Também não se faz uso de referendos e plebiscitos para
solucionar questões vitais de interesse público, que dariam maior legitimação às leis e
qualificação ao eleitorado.
Os orçamentos do Executivo, nos três níveis, são um emaranhado de
terminologias codificadas onde as cifras se transfiguram confundindo os não iniciados
no varejo do jogo político. Nota-se, além da desconfiança histórica dos governantes à
participação popular, a permanência de uma atávica recusa à transparência nas práticas
políticas.
Enfim, embora tenhamos formalmente desenvolvido um moderno, gigantesco e
eficiente sistema eleitoral, ainda somos reféns de graves carências educacionais que se
refletem na qualidade da nossa participação política. Permanecemos a reboque das
iniciativas da imprensa, do Judiciário ou do Parlamento, para a fiscalização e renovação
dos costumes políticos em nosso país; muito pouco fazendo pelo desenvolvimento de
instituições da sociedade civil capazes de colocar o Estado e a classe política sob
controle da sociedade organizada.

(*) Professor da UECE.

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