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Chico Xavier

Marcos José Diniz Silva*

Em abril deste ano Chico Xavier completaria cem anos. Vasta programação, já
iniciada, promete relembrar as qualidades do médium mineiro, unanimidade nacional.
Aliás, pode-se afirmar que o Espiritismo no Brasil tem duas grandes fases. A primeira é
a do Espiritismo importado da França, sob os parâmetros de Allan Kardec, dos meados
do século XIX à década de 1930, marcada pelos embates entre elementos cientificistas e
religiosos, pelo advento da Federação Espírita Brasileira, pela popularização das curas e
da caridade, influenciando a criação da Umbanda e afirmando-se como mais uma
vertente religiosa.
Daí em diante dá-se o influxo da mediunidade caudalosa e missionária de Chico
Xavier, quando o Espiritismo se consolida institucionalmente reafirmando a moral
evangélica e os pressupostos racionalistas e evolucionistas que lhe deram origem, porém
negociando com o secular cristianismo das terras brasileiras. A psicografia de Chico
Xavier contribui então para consolidar o Espiritismo como religião de leitores, vindo a
atingir os de mais alta escolarização e renda, tornando-se a terceira religião dos
brasileiros. Além disso, pesquisas de opinião revelam altos níveis de aceitação da
reencarnação, da comunicabilidade entre vivos e mortos (espíritos) e das curas
espirituais, entre os brasileiros de diversas religiões.
Com vida e obra exemplares, Chico tornou-se a figura central da expansão do
nosso Espiritismo, por mais de setenta anos. Mas não foi fácil enfrentar a oposição de
religiosos exclusivistas que temiam a profusão da mensagem cristã sob a simplicidade
espírita. Alvo de perseguições, polêmicas judiciais, notícias injuriosas, o ‘Cisco de
Deus’- como preferia - perseverou, virando o jogo para tornar-se objeto de programas
de TV, biografias, estudos acadêmicos e, agora, produções cinematográficas.
Hoje, se Marcel Souto Maior, seu renomado biógrafo, o considera responsável por
tornar o Brasil o maior país espírita do mundo; o antropólogo Bernardo Lewgoy, por
sua vez, destaca Chico como o grande mediador entre o Espiritismo e a cultura
brasileira, ao promover ecumenicamente um Espiritismo cada vez mais cristão, em
harmonia com as tradições nacionais.
(*) Historiador. Professor da UECE.

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