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© PENHOR DE PARTICIPACOES SOCIAIS, NOTAS INICIAIS L. Miguel Pestana De Vasconcetos SUMARIO: 1. Inrodugio; 2. constuigto; 3. 0 exerccia dos diteits soias; 3.1.0 dieito wo Yon; 32. 0 direito a0 Iver; 3.3.0 dieto& quota de liqudagdo, 4 Ae. ‘eulagdo com o regime do penkor fnancsro, 1. INTRODUGAO I. O penhor de acgdes é uma figura com grande relevneia econémica € um aprecidvel grau de dificuldade, uma vez que 0 seu regime global articula disposigées diversas, provindas, quer 0 penhor de bancério, quer do penhor financeiro, quer 0 penhor comercial, para além, claro das dis- posipfes que decorrem do proprio Cédigo das Sociedades Comereiais. Na verdade ele tem que ser perspetivado de todos estes prismas que se har- ‘monizam depois na sua diseiplina global. I. A importincia desta modalidade de garantia no ambito do finan- ciamento & ébvia. As participagdes sociais, em particular as acgbes, sto bens de elevado relevo no patriménio de um sujeito empresarial (ou nao), sendo so especialmente aptas a servir como objesto de garantia sempre 4que tenham uma elevada liquidez, como sucede quando estiverem admi- tidas & negociagdo em mercado organizado. A liquidez permite transformar rapidamente esses bens em dinheiro, satisfazendo os valores em divida. Ora a exeougdo a baixo custo é um elemento central para a atractividade da garantia. Como se sabe, é muito comum no trifego econémico uma sociedade empenhar acyOes que detenha numa outra sociedade “ ®, Professor da Faculdade de Direto da Universidade do Por, { Sublinhado o seu reievo econémico, em particular no projet finance, Anos Ganzasco Pansna, Las derechos de garanta en fa ly concurel, 31 ed. Civitas/ Thomson Reuters, Pamplona, 2008, p. 41 m Miguel Pestana de Hsconcelos IIL Este estudo foi elaborado tendo em vista o desenvolvimento do meu livro sobre o Direito das garantias. Abordam-se alguns aspectos deste regime, tendo outros jé sido tratados noutra sede, como 0 regime com- plexo do penktor financeiro ®, pelo que no serdo aqui abordados. Este estudo é um simples trabalho inicil de uma matéria que conto com mais tempo desenvolver num futuro proximo. 2. A CONSTITUICAO L_Nos termos do art. 23.%, n 3, do Cédigo das Sociedades Comer- ciais (CSC), “e penhor de participagdes s6 pode ser constituido na forma cexigida ¢ dentro das limitapSes estabelecidas para a transmissio entre vivos de tais participagdes" Da aplicago destas regras, docorrem os seguintes resultados ©, 1, No que dz respeito ds SENG, openhor dees soiais ek que ser reduzido a escrito ¢ exige 0 consentimento expresso dos outros sécios (art, 182.° n Te 2, CSC), Quanto ao penhor de quotas ©), este teri que ser celebrado (também) Para a oneragdo de participagdes socials por uma SGPS, ver MicuEL PESTANA De Vasconcelos, 4 onerapio de partiipapdes rocais par uma SGPS deidas fd menos de um ano, ROA, 2010, op. 20, ss. M, PesTANA DE VASCONCELOS, Os contratos de garantiafinancelra. 0 dealbar {lo dirate exrepen das garantier, ie: Bxtudoo om Hones do Profesor Deutor Joxé de Oliveira Ascensio (coordenaeto dos Profesores Doulore Anténio Menezes Corio, Pedro Pais de Vasconcelos e Paula Cosa Silva), vol Il, Faculdade de Diveto da Universidade 4e Lisboa, Almedina, Coimbra, 2008, pp. 1273-1305, '© Quanto a penhor de participagdessocais, ver: Luis Menezes LerrAo, Garantie das obrigacées, 3° ed, Amedina, Coimbra, 2012. pp. 289-290; Jorce M. COUTUO DE ‘AaReU, Curso de dito comercial, vol. das sociedade, 3 ed, Almetina, Coimbra, 200, pp. 354.355; AnTonto Mevezes Conpaino, Comentirlo ao art 23 do CSC, in Cbg da sociedades comeciisanotado (cooré,Anténio Menezes Cordeia), 2" ed, Almodina, Coim- bra, 2001, pp. 148, ss; PAULO Oxavo Cinta, Direita das socledades comercais, 4* ed Almedina, UCP, 2010 pp. 417, 5; ALEXANDRE SOVERAL MaKIWNS, As cldusula do contrato de sociedade que limitam a tranemiblidade das acytes. Sobre os ats 328° € 329° do CSC, Almedina, Coimbra, 2006, pp, 392, 8.x MARCARIDA Costa ANDRADE, Comentirio ao ‘art. 23° do CC, in Cig das socdades comeccai em coment (coord. Jorge Coin Abreu), vo. i (artigos 1. $4°), Almedina, Coimbra, 2010, pp. 372, © "Para penhor de quota, em geral, ver M. NeCUEIRA SERBS, Penor de quota 1, 1986, pp 7 8 venhor de parieipaydes soca. Nota ints an Por escrito particular e exige-se o consentimento da sociedade, a no ser que se.realize entre cénjuges, entre descendentes ou ascendentes ou entre sécios (art. 228° n* 1 e 2, CSC). Em ambos os casos, esto sujeitos a registo: art. 3.° als. &) ©) [e arts. 242,°-A © 242.°-B CSC] do CRComercial M1, Relativamente ao penhor de ages © eseriturais ®, ele consti- twi-se pelo “tegisto na conta do titular dos valores mobilidrios, com indicapto da quantidade de valores mobilidrios dados em penhor, da obrigagio garantida ¢ da identificagio do beneficidrio” (art. 81.° n? 1, CVM). Se 0 direito de voto for atribuido 20 credor pignoraticio, 0 penhor pode ser constituido por registo em conta deste (art, 81.°, n° 2, CVM). Note-se que a entidade registadora onde esté aberta a conta de valores mobiliérios, aqui as ages, empenhados, néo pode efetuar a twansferéncia desses valores para conta aberta em outra entidade regis- {adora, sem prévia comunicagdo ao credor pignoraticio (art. 81.%, n2 3, cvM). Em qualquer caso, haveré aqui um acordo anterior, © contrato de penhor, entre as partes com vista a constituigao desta garantia. Dessa forma, celebrado este, quer 0 autor do penhor, quer o credor pignoraticio tm legitimidade para requerer 0 registo (art. 66.%, n° 2, CVM). Para o feito 6 necesséria uma ordem escrita do disponente (0 autor do penhor) ‘ou um documento bastante para a prova do facto a registar (ar. 67., n° 1, CM). Do penhor seri entdo feita mengao na conta de registo indivi- dualizado [art. 68. ne I, al. g), CVM] Se forem ages integradas em sistema centralizado, para além do registo,abre-se uma sub-conta especifica (art. 91, n° 7, CVM). E enquanto durar o penhor deixam de poder ser negociadas em mereado nos termos do art. 204°, n2 1, al a), CVM, © Sobre © pentior de acgées, ver: J.P. FAMEKDA Manrins, Diels reais de gaze de garantia sobre veloes mobllria, i, pp. 102, s8 (ainda 20 abrigo da legislacto anterior 20 atual CYM); Ti4Go SOARES DA’ FONSECA, O panor de aogdes, Aimed, Coimbra, 2005, pp. 58, ss. Para os limites: ar, 328°, n° 2 CSC. Sobre estes, ver A. Sovenat Manin, ds cldusulas do contrato de socedade que limitam a Irani ‘dads das aogdes. Sobre of arts. 328. e 329. do CSC, cit, pp. 39, 88 0 regime agora exposto para as agdes vale para outros valores mobilities am 1, Miguel Pestona de Vasconcelos IV. Por seu lado, © penhor de ages tituladas obedece aos termos fixados para a transmissGo da sua titularidade (art. 103.° CVM). Sendo agdes tituladas ao portador, o penhor constitui-se por entrega do titulo ao eredor pignoraticio ou 20 depositério por ele indicado (art. 101.° n° 1 CVM). Na eventualidade de os tialos estarem jé depositados junto do depositirio indicado pelo credor pignoraticio, no hi lugar a entrega, ‘mas a um simples registo na conta deste, com efeitos @ partir da data do requerimento do registo (art. 101°, n° 2, CVM). Para a constituiglo do penhor é necessério, para além da entrega do titulo (ou registo, conforme assinalado), nos termos gerais, também o proprio acordo entre as partes. Caso as agdes tituladas sejam nominativas, & exigida uma declarago «scrita no titulo de penhor a favor do beneficirio, seguida de registo junto do emitente ou de intermediério financeiro que o represente (art. 102.% no 1, CVM). A produgio de efeitos opera desde a data do requerimento de registo junto do emitente. (art, 102, n 5, CVM) ®, ‘Também neste caso se pressupie a existéncia de um acordo prévio. Se as ages tituladas estiverem integradas em ‘sistema centralizado, aplica-se 0 disposto para as agGes escriturais integradas em sistema cen- tralizado (art. 105° CVM) ®. 3. 0 EXERCICIO DOS DIREITOS SOCIAIS 1. Bmpenhadas as agdes ou as quotas, importa saber a qual das, partes no contrato de penhor cabe o exercicio dos direitos sociais que as Quanto a questo de saber, no émbito da tansmissto, soo reisto € necesério para ca se verfigus, vei-se no sentido airmail, A. Sovesa.. Mastin, eludes do ‘cntrato de sociedade que linitam a transmissibilidade des acedes. Sobre os ars, 328.* © 329. do CSC, cit, pp. 265, s8., © m0 sentido negative, consderando ser ume simples condiqdo de fics face & sociedudeemitente, J. M. Coutiwio De Aue, Curso de dieto comercil, vol. I, das sactedades, cit, p. 376 "1 analze dz respelio a parcipagdesindividualmente consieradas. Contudo rmuits vere, © penhor abrange cateiras muitas vezes sucederé 6 o penhor de carci, ‘composts por lies de ages de diferentes soiedades ¢ outros valores mobilcios, Nese ‘aso cada um desses valores mobilidrios (50 se pretender empenhar todos os valores da carters) te que ser empentado de ecordo com es regras exposis em texto. Ver FEk- Nanoo BavTista PEREZ, Prondla de accion y prnda de cartras de valores, in Garantie reales mobiliarias en Europa (coord. M." Elena LaroubafJoan Marea), Marcial Pons, ‘Mari, 2006, pp. 58, ss. Ess penhor sor na penerilidade dos casos um penhor finance ‘ajo regime € especialmente adaptado a esse objeto, que, em regs, nlo Seri eto. 0 penhor de partcpayise sacais. Notas initate 215 integram ‘9 — ao credo pignoraticio ou ao autor do penhor —¢ como deverd esse exercicio ser realizado. Quanto is obrigagdes face A socie- dade delas decorrentes, tudo se mantém: 6 0 sécio que teré de as cum- prir 0, Esta é uma matéria com uma grande amplitude e um assinalavel grau de complexidade, na medida em que exige o exame de uma extensa parte do direito sovietirio ?. Limitamo-nos, dado 0 caréter deste trabalho, a nalisar alguns pontos que consideramos mais relevantes ligados, sobre- tudo, 20 direito a0 voto (3.1,), 20 diteito 20 fucro (3.2.) ¢ 0 direito & quota de liguidago (ou o destino do penhor se se verificar a dissoluggo da sociedade) (3. Il. Antes de o fazermos, convém assinalar que as partes muitas vvezes regular esta matéria por acordo. $6 se no o fizerem & que funciona a regra supletiva do art. 238, n° 4, CSC , que atribui 0 cexercicio desses direitos ao autor da garantia, Diga-se que 0 referido acordo ndo tem necessariamente de abranger todo 0 periodo de tempo dda vigéncia do penhor, podendo estar limitado no tempo, assim como pode dizer somente respeito a certos atos (? (ndo vemos dificuldade, P. ex, a que se atribua o exercicio do direito de voto 86 para determi- nnadas assembleias gerais). Por vezes decorre do pacto a atribuigao do exerefcio dos direitos ao ‘redor pignoraticio, mas s6 se, e a partir do momento, em que @ outta parte incumpra a obrigagfio garantida ®, ‘Trata-se de uma forma de refor- 19 Quanto ao conteido das partiipagdes sola, ver J. M, Covmto De ABREU, CCwso de direito comercial, vol. 1, das sociedade, eit, pp. 207, (ah "Radu Vewtuka, Sociedades por quotas, vol. 1, 2° ed, Almedina, Coimbra, 1989, p. 425. (0 que significa que & sua completa andlse exigici a realizagdo de um estado ‘monogriico, o que seguramente ndo se pode empreender equ (2) Boat 81°, n° 4, CVM (‘Salvo convengdo em contro, os direitos ineremtes aos valores mobilisios empenhados slo exercidos pelo titular dos valores mobiléios ‘mpenhados.") pera os valores mebilifrias, panto também para as ages. (08 RAUL Ventuea, Sociededes por quotas, vl. 1, 2* ed, Almsdina, Coimbra, 1989, p. 425, (& "Sblinhando que &comum pactuese a atbuigao dos direitos soca a credor a parr do incumprimento do devedor, A. CaRRAsco PERExA/B, CoRDERO LoaxTOYM, J. MAR Loe, Traade de ios derechos de garantia, tomo H, Garantas mosiliarias,2* ed, Thom sonArazani, Navarra, 2008, p. 333, note 89. 26 L, Miguel Pestana de Vasconcelos ‘gar a posigho do eredor, permitindo-the proteger aquele que passa ser 0 seu objeto de satisfagao, 3.1, © dircito de voto 1. Em primeiro lugar, quando por convengio couber ao redor pig- noraticio 0 exercicio do direito de voto (®, ele tem igualmente dircito & informagao (art. 293.° CSC), devendo esta disposiglo aplicar-se analogi camente aos outros tipos sociais Depois, 0 exercicio desse dircito polo credor pignoraticio estaré em rogra regulado no proprio contrato de penhor, O mesmo sucederé igual- ‘mente quando 0 direito de voto continue a ser exercido pelo sécio. Estas disposigSes no so oponiveis & sociedade, mas 0 incumpri- mento do contrato por qualquer das partes dard lugar & constituiglo do direito de resolugao do contrato, acompanhado' de indemnizagio pelos danos causados. } Il, Nada tendo sido acordado quanto aos termos do exercicio do diteto de voto, ele serd regulado pelo principio da boa fé iluminado pelo fim do contrato. ‘Visa-se aqui criar uma posigio privilegiada do eredor sobre um bern do devedor (ou de terceiro), permitindo-the satisfezer-se preferencial- mente pela quantia decorrente da sua alienasdo. Por isso, para cle releva menos 0 objeto em si, ¢ mais 0 respetivo valor. seu interesse assenta na consisténcia ¢ valor da participaydo social como bem tran- sacionavel nesse quadro que se tem que inserir a atribuig&o do exercicio do direito de voto ao eredor. Nao se pretende, evidentemente, fazer dele sécio (embora cle o possa vir a ser, mas em sede de execugio, se se puder satisfazer apropriando-se do objeto da garantia “), mas conce- der-ihe um instrumento adicional de tutela da sua posigdo, do valor econdmico do bem a que ele recorrerd para se satisfazer se 0 devedor (9 im Ili, 0 exertcia do dicto ao voto cabo so credor pignoratici, salvo acordo em contro (a. 2352." Gadice Civile) "Assim, J, M, Curio be Apneu, Curzo de direto comercial, vol. I, das soviedades, ct, 9. 335, «nO que pode succder, p. ex, nos termos do penhorfinanecio, onde se consagra © pacto marciana 0 penhor de participagdes soctals. Notas Init a ‘do cumprir , E é a esta luz que deve ser lida a forma, ¢ 05 Simites, de exercicio do direito de voto pelo garantido. Daqui decorre que relativamente aqueles assuntos tratados em assem- bleia-geral que néo digam respeito a este seu interesse especifico, o credor ppignoraticio deverd atuar de acordo com as insirucdes da outra parte ©, ‘© que significa votar no sentido definido por ela, A situagdo torn neste aspeto, semelhante a um mandato sem representagio, Parece-nas mesmo possivel afirmar sempre que na assembleia-geral nfo fizer parte da ordem de trabalhos um assunto que possa direta, ou indirota- mente, tocar esse intresse do credor pignoraticio — limitado, como se disse, consisténcia econémica do objeto da gerantia —, ele deverd conceder poderes ao devedor para que este possa tomar parte na assembleia IIL. Por seu lado, se for 0 s6cio a exercer o direito de voto, ele terd que respeitar sempre o interesse do credor na manutenglo da consisténcia da garantia ®, A pratica de atos por parte do titular da participacto que diminuam o valor da garantia como objeto de tréfego negocial leva a que © credor passa, nos termos do art, 780.° ®, exigit 0 eumprimento imediato dda obrigago garantida. Se o dovedor niio cumprir, 0 ctedor poderé de imediato proceder & execugo, Resultando danos do mesmo facto ilicito e culposo, constitui-se ainda um dever de indemnizar. IV. Haveré pois que determinar o resultado efetivo de cada votagio para a consisténcia patrimonial da garantia. Assim, p. ex, se for aprovado, com 0 voto do devedor, um aumento de capital por incorporagio de reser- vas (art. 92° CSC) ®, com a emissio de novas quotas ou agbes, isso 109 te interesse do credor ne manuteneao da consstenia econdmics do valor da ‘arania o € incomum. la pode ditigitse-€ propria situacio parimonial do devedor E para tal que alo celbrados os denominados convenane. _Dizem respeit, em termes -gendrcos, 8 manutengfo de uma doterminada situagdo econémico-inancire do devedor ‘que 0 credortomeu po base ao conceder o crédito. Dat dirgiem-s,p. ex & dstribuigso ‘e dvidendos,@alienseSo de bea, & concessdo de garantias, a0 proprio rag do devedo. (Ch. BP. ExiiNGeRIE. Lownscka. V. M. Hate, Erlinger 3 modern banting law, 5° e. ‘Oxford, Oxford University Press, 2011, p. 774 (3 Neste seid, MARGARDA Costa ANERADE, Camentirio ao art. 28° CSC, sp. 397, 29 Nese semid, Marcaupa Costa AnaRADE, Comentirio ao art, 23 CSC, ct p. 398 Se 0 devedor for 0 ator do penhor. Caso o autor do penhor sea um fereeiro, splices 0 ar 7014, n° Le 2, (art. 678°. BD "Sobre est figura, ver PAULO ne Taso Dosonouts, Haragdes sobre capital socal, Amedina, Coimbra, 2008, pp. 420, 28 1. Miguel Pestana de Vasconcelos implicaria aperentemente, uma desvalorizago imediata daquelas sobre as quais foi constituida a garanti Poréim, neste caso, se se puder sustentar que @ garantia se estende imediatamente &s novas participagées sociais eriadas, esse voto nfo tradu- Zird 0 incumprimento do contrato do penhor, E essa 6, neste caso, a solugtio correta 9, ‘Com efeito, embora nto se trate de um caso de sub-rogapio real, uma vez. que as participagdes objeto da garantia se mantém oneradas, nao sendo substituidas por outras, a fungo desempenhada é semelhante: vise-se, ou por alterapdo (sub-rogaeao), ou acrescento do objeto da garantia, manter © seu valor patrimor Dada a latitude com que é admitida a sub-rogacio real no ambito do Penhor (relativamente & qual esta figura & um mint, porque 0 objeto da ‘garantia ndo é substituido, mantém-se, mas é ampliado), a par do disposto fem sede de usufiuto de participaggo (podendo mesmo, segundo eremos, esta rege, a. 928, n° 4 CSC, se aplicad ao"penhor por analog), parece-nos que a solugdo é clara. ‘Assim sendo, as novas agdes devem ser entregues ao credor pignora- ticio. Nao ha pois incumprimento (a nfo ser que, tratando-se de agdes tituladas ao portador,tenham sido entregues ao devedor e este ndo as tenha depois — as novas agées emitidas — entregue ao eredor) °°, 2 Sustentado que a grea passa ao crédito (mas sem explicar coma), Manca {ins Costs ANORADE, Comentiria ao art 23* CSC, et, p. 398, Delendendo igualmente A passager da guranta pre o rds, as 6 86 “ao consttaire o penhor sobre a pasti= ‘ipagdo social se tenham satsfeito os requisitos da eonstitugto 0 penhor de ereditos furs”, e no por sub-rogngio, como aqui propomos, A. Cantasco PEnsr/E. CoRDERO LovarorM. J. Maan Lonez, Tratado de lar derechos de garanti, como Ul, Garanties ‘mobilaras, cit, pp. 327-328, (29 Refra.se que se tratar de uina amortzagio de quota po inicaive da sociedede {ver sobre este regime, e sua delimitagdo CaRoLNA Cunta, Comendrio ao art. 233.” CCsgo das soiedades comerciais em comentiro (coord. Jorge Coutinho de Abr), vo I (ans. 1752 a 245°), Almedina, Coimbra, 2011, pp. 501, s5] em que 0 seio conn, ceventuslmente na propria dliberasao (at. 233., n° 3, CSC), 8 tora aeeestirio © con Sentimento do oredr pignoraticio (art 233, .° 4, CSC). Paece claro, de outa forma ficriaprivado da garantia e, como se sefere em texto, 0 seu mecaniomo de defes passa pelo recurso ao art. 780" que em si nada the grant Rav VesTuna (Sociedades por quotas, vol. 1, cit, p. 685) refere que solugio se ‘compreende, embora “assim possacria-se um conflite quanto ao cansentimenta, que ‘neessariamente acaretard a fla de pelo menos um dos consentiments”. NBo nos pargce ‘que ete seja 0 ponto. Se ndo fosse asim, se a quola pudesse ser amorizada sem set 0 penkor de partclpaydessociis. Notas iniciais 29 3.2, O direito ao luero I. Um outro ponto diz respeito a0 direito a0 lucro. Como & ébvio, © assim sucedera na generalidade dos casos, as partes no contrato de penhor podem logo regular essa questo, excluindo ou ineluindo 0 lueto istribuido no ambito da garantia. Quando o fagam, o penhor abrangerd igualmente um conjunto de créditos eventuais futuros, Podem mesmo as partes expressamente acordar um penhor de erédi- tos futuros, para 0 abarcarem, ‘Se nada for pactuado, os lucros cabem ao titular da participayao, nao se incluindo na garantia (art. 672°, n° 2). TL, Cabendo convencionalmente esse dirvito ao eredor, ele teri desde logo de os cobrar (art. 683.) e, de seguida, nos termos do art 6729, n? 1, satisfazer por essa via os juros vencidos (art. 672°, n° 1). Havendo ‘exeesso, nos termos da mesma disposigio, ¢ na falta de acordo em con- ttitio, deverdo ser utilizados para abater o cepital. Contudo, este resultado nem sempre serd 0 correto. Na verdade, a questo no pode ser tratada de forma desligada do regime do contrato donde emerge o crédito garantido, Assim, se estivermos face a uma abertura de erédito em conta cor- Tenfe, 0 recurso a estas quantias aproveita de imediato a0 eredor, porque repbe nesse montante a disponibilidade do capital e diminui os juros. No enfant, se tratar de um miétuo oneroso 0 pagamento antecipado tem outros efeitos, F que, nessa eventualidade, nos termes do art, 11472, 0 prazo presume-se estabelecido a favor co. ambas as partes e 0 mutuério sé pode antecipar, no todo ou em parte, o pagamento se pagar os juros por inte, sta disposigto corresponde aquele que & o normal ponto de equlibrio dos interesses de ambas as pares ¢, portato, da sua vontade, num contrato de mituo: disponibilidade de capital nesse periodo de tempo contra 0 ppagamento dos juros por inteiro. necessirio 0 consentimento do eredor, como podem ser outos atos que stinjam sua {garantia (embora ndo de forma tho dristca), esto simplesmente fiariaprivado dala A eventual ecusa deste no €fonte de qualquer confit, s6 um Inrumento bisio da sn dese. 29 Com a sepuinte prevengto, Esta disposigsa mais complexs do que se refoe em texto © exige uma interpretaeHo mais desenvolvde e refinada, que neste momento & neste quado no se pode fazer. Farse nouta alr 230 1, Miguel Pestana de Vasconcelor Dai que, quando as partes nfo tenham convencionado um regime diverso do art. 11475, atendendo a0 objetivo econbmico visado no con- trato, seré de interpretar 0 negécio, & falta — claro — de outros elementos, no sentido de afastar o art. 672°, n° 1 Repare-se que aquilo que as elas pretendem com a atribuigo do exercicio do direito aos Iucros ao eredor nao é criar um meio adicional de satisfagdo imediata da divida, mas reforgar a posigo deste para 0 caso de ineurmprimento do devedor. Com efeito, o eredor, além da participagdo social em si, passa a ter ‘como objeto da garantia 0 dinhciro do pagamento dos dividendos. A que ele poder — ¢ deverd — rocorrer, em primeira linha, para obter a satis fagao da obrigagao assegurada em caso de incumprimento (assim, p. ex., se aquando do incumprimento a garantia, nos termos referidos, consistir id em dinheiro e participagdes socieis, 0 credor deve comegar a satisfa- zer-se pelo dinheiro e, $6 depois, pela alienago das participagses, que s6 deve fazer na medida do necessério para satisfazer 0 seu crédito, sendo as restantes entregue ao devedor/autoe do penhor). ‘lids, cobradas essas somas ®” o credor deverd depositi-tas a favor do devedor, nos termos do penhor de créditos. A sua garantia passa a ficar consttuida por dois penores: de participagbes saciais ¢ de eréditos. Nestes termos, sempre que estejamos perante um métuo, a entrega dos montantes decorrentes dos lucros ao sécio faré todo 0 sentido quando ‘© valor da participasao social seja ja suficiente, mesmo atendendo & mar- ‘gem de seguranga, para tutelar 0 credor. De facto, assim sendo, a retengio dos referidos montantes ao credor setia desnecesséri para assegurar o seu crédito ¢ prejudicara a outa parte. Pelo contrério, essas quantias poderdo ser necessérias para se fortalecer @ posigio do credor quendo o valor da quota ou das agGes sejam insuficiente, ‘ou, mais provavelmente, nao cubra a margem de seguranga, 3. A quota de liquidagio 1. Um Giltimo ponto diz respeito a extingtio da participagdo, por dis- solugio da sociedade. Resta a quota de liquidaco. Consiste num crédito. 12 Ver, quan a este perdgrafo, MicuEL PESTANA DF VascoNcELOS, Direito das garontias, 2° cd. Almedina, Colma, 2013, pp. 262 ss. O penhor de paricipaptes socais. Notas tnitats 281 Extingue-se a garantia ou simplesmente altera-se 0 seu objeto, passando a incidir sobre o crédito 7 (© penhor de apdes (j4 nfo o de quotas) preenchera na generalidade dos casos os requisitos de aplicagdo do regime das garantias financeiras. Nesse quadro é admitida a substtuio do objeto de uma garantie por outro sem que aquela se atere: varia s6 0 seu objeto. Nao gera dificuldades a aplicasto desta regra aqueles caso em que o bem sobre o qual a garantia passa a incidir seja diverso do anterior ©. Para todos os efeitos, econo- tmicaments é esse o sucedéneo do outro. Para além disso, e fora do ambito j& da garantia financeira (como a garantia rotativa ©), s40 iniimeros os casos em que a lei admite a sub-rogagto legal ©”. "E mesmo que nao se chegue a afitmar « existéncia, dde um principio geral © que neste campo a consagre, ainda assim seria possivel recorrer & analogia legis, Passariamos pois a estar face a um penhor de eréditos, remetendo entio para o regime dessa figura 4, ARTICULAGAO COM O REGIME DO PENHOR FINANCEIRO 1. Como jé fomos referindo ao longo da exposiglo, sempre que se trate de agbes estaremos — muito frequentemente — também face @ um pponhor financeiro fart, 5, al. 5), do Dec.-Lei n° 105/2004, de 8/5], logo ‘que estejam preenchidos os seus (outros) requisitos sendo certo que quanto 4208 sujeitos, em regra, estario presentes (0 recurso a esta figura reali zar-sood essencialimente nas relagdes entre a banca e as sociedades comer- ciais) 12 Neste éltimo sentido, Rad, ViwruRa, Sacedades por quotas, voll, cits p. 424 © An. 17°, 4 a. 8} do Dee-Lei n® 10872008, do 5. Ver supra, n° 24.735. ‘A norma teria que ser aplicada,atendendo & sua rato, por interpreta extensiva Com leit, la s6 prove 0s obetes equivalents que estio deinides nor termos do art. 13° ‘Aqui o objeto tem uma natureze diferente: partcipagosocialerito, fer, sobre cla, M. Pestana Dr VasconceLos, Diveito das gorantias, cit, pp. 339, 53, o Ver: Ant. 6749 nS 2, ar 685° n* 1, art, 692° n° 1, 610 al. «) (att, 678°), at. 7012? 1 (art. 678°). © J. Ouvatea AsceNsko, O Divito. Inroduedoe teora geral, 13! ed, Almeding CCoimbrs, 2009, p. 446, L. Miguel Pestana de Vasconcelos [Nesse caso, aplicam-se igualmente as regras dessa figura. O regime eral do penhor de agies resultaré assim da articulagao dessas duas disci- plinas. Il Especial relovo de entre as regras do penhor financeiro fem aque- las relativas & atribuigd0, por acondo, ao eredor pignoraticio do direito de dispor das agdes, Este dircito confere-Ihe especial vantagem, porque, dentre outros aspetos, Ihe permite recorrer a estes bens para obter, onerando-os ot alienando-os, um refinenciamento pelo periodo de tempo de duragio do contrato de penhor e, portanto, também do contrato de mituo do qual decorrem os créditos garantidos (ao capital e aos juros) ©. E ainda expressamente admitido (com tutela também expressa ém sede insolvencial) que as partes possam convencionar a atribuigo ao devedor do direito de substtuir 0 objeto da garantia, o que Ihe permite uma mais cficiente gestdo das suas agdes (¢ outros valgres mobiliérios, como em particular obrigagses). ‘ IIL, © eredor tem sempre assegurado umm valor e, no menos impor- tante, a liquidez dos bens empenhados. Isto nfo impede que, assegurados ‘esses dois aspetos, possam variar por iniciativa do devedor aqueles bens que a cada momento sejam objeto da gatantia. Note-se que © conjunto de bens substitutos deverd estar previsto no

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