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ISBN 85-989-6642-7

9 788 598 96642 7


SEM MEDO DA MORTE
Construindo Uma Realidade Multidimensional
Vera Hoffmann

SEM MEDO
DA MORTE
Construindo Uma Realidade Multidimensional

Reimpressão: 2012

Foz do Iguaçu, PR – Brasil


2011
Copyright © 2011 – Associação Internacional Editares
1a Tiragem (2011): 1000 exemplares
2a Tiragem (2012): 1000 exemplares

Os direitos autorais dessa edição foram cedidos pela autora


à Associação Internacional Editares.
As opiniões emitidas neste livro são de responsabilidade da autora
e não representam necessariamente o posicionamento da Editares.
Os originais desta edição foram produzidos e revisados através de
editoração eletrônica (texto em AGaramond: 179.722 caracteres,
34.643 palavras e 1.564 parágrafos).

Editora: Tatiana Lopes


Revisão: Helena Araújo e Erotides Louly
Ilutrações: Pedro Marcelino
Capa: Luciano Melo
Editoração: Epígrafe Editorial
Impressão: Edelbra Editora e Gráfica Ltda

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

H711s Hoffmann, Vera


Sem medo da morte : construindo uma
realidade multidimensional / Vera Hoffmann.
-- Foz do Iguaçu : Editares, 2011.
182 p. : ; 21 cm.

ISBN 85-989-6642-7 (broch.)

Inclui bibliografia

1. Dessomática. 2. Projeciologia.
3. Conscienciologia. I. Hoffmann, Vera.
II. Título.
CDD 159.922
Tatiana Lopes CRB 9/1524

Conselho Editorial da Editares


Anna Maria Araújo Ferreira, Claudio Garcia, Eduardo Catalano, Luciana Ribeiro,
Luciana Salvador, Marcelo Inácio da Luz, Maximiliano Haymann, Oscar Kenji Nihei,
Rosemary Salles, Tamara Cardoso André, Tatiana Lopes, Ulisses Schlosser.

Associação Internacional Editares


Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 107, Cognópolis
Foz do Iguaçu, PR – Brasil • CEP: 85856-530
Tel/Fax: 45 2102 1407
E-mail: editares@editares.org – Website: www.editares.org
Esse livro é dedicado às pessoas que
enfrentaram perdas significativas e precoces
e, igual a mim, não possuíam subsídios de
ideias e experiências capazes de proporcio-
nar um real apoio e entendimento do que
acontecia.
Também a todas aquelas que buscam
o sentido da vida.
7

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Leandro (1974-1990) causa primeira


desta obra, pela nossa intensa e excelente convivência e, tam-
bém, pelas descobertas obtidas depois da sua partida desse
mundo. Meu desejo era saber notícias dele – terminei
descobrindo mais de mim. Nossos encontros “nos sonhos”
favoreceram uma grande virada e me motivaram a viver
outra realidade no universo multidimensional.
Agradeço a minha mãe, Alda (1931-2003), pelo senti-
mento profundo que nos une e pelo aprendizado propor-
cionado nessa vida e na outra onde ela está agora.
Às consciências amparadoras que, de outra dimensão,
conseguiram me apoiar a fim de que eu levasse adiante esse
projeto e me intuíram no modo de fazê-lo.
Agradeço aos meus dois primeiros leitores: minha filha
Fernanda e meu genro Júnior (o Moura Júnior). Eles conse-
guiram, genuinamente, me estimular para que eu acreditasse
na publicação deste livro.
Ao meu filho Rafael, pelo suporte técnico para resolver
os problemas relacionados ao computador que muito me
atrapalham.
Ao meu marido, agradeço os 42 anos de convivência
até agora e ao nosso crescimento conjunto.
8 • SEM MEDO DA MORTE

À minha família, pela confiança, principalmente às


minhas irmãs, Rejane, Márcia e Denize. Sempre me deram
a maior força.
Minha cara amiga Silda Dries que, ao me convidar
para ser uma das revisoras do seu livro “Teoria e Prática da
Experiência Fora do Corpo”, não imaginou quanto isso
significaria no processo de construção da minha autocon-
fiança intelectual. Obrigada, também, pela sua presença
constante, sempre me ouvindo atentamente.
Guardo uma lembrança muito especial dos bons papos
com Marisa Müller, orientadora de mestrado de minha filha
e nossa amiga. Suas palavras de ânimo, demonstrando uma
energia tão vibrante, muita força geraram – e olha, esse livro
era ainda embrionário.
A Kátia Arakaki e Dulce Daou revisoras e incenti-
vadoras.
A Tânia Guimarães pelo empenho na sua revisão.
Também a Ivo Valente e Tatiana Lopes.
E a uma pessoa muito especial que foi, durante todo
o tempo, minha amparadora, com suas correções bem colo-
cadas, seu carinho e dedicação e, especialmente, a sua
confiança e incentivo – minha querida amiga Jussara Moura.
9

SUMÁRIO

PREFÁCIO ........................................................ 11

O COMEÇO DA HISTÓRIA ..................................... 13


POSICIONAMENTO ................................................. 18
O QUESTIONAMENTO CLÁSSICO ............................... 22
A BUSCA DA FELICIDADE ......................................... 28
MECANISMOS DE DEFESA ........................................ 32
A INTERLIGAÇÃO PASSADO X PRESENTE ..................... 40
AS SINCRONICIDADES ............................................ 47
DESCOBRINDO OUTRO PARADIGMA .......................... 51
CONSCIÊNCIA EM SEGUNDO PLANO ......................... 55
SEPARANDO OS VEÍCULOS ........................................ 65
RENOMEANDO OS SONHOS ..................................... 73
A PROGRAMAÇÃO ................................................... 83
HERDEIROS DE NÓS MESMOS .................................. 89
SOBRE A MORTE .................................................... 94
EQM ................................................................ 101
A SEGUNDA MORTE ............................................. 106
A SOLIDARIEDADE ................................................ 109
10 • SEM MEDO DA MORTE

PREPARANDO-SE PARA PARTIR ................................. 115


PSICODRAMA EXTRAFÍSICO ..................................... 118
PREPARO INTRAFÍSICO ........................................... 122
A CRONOLOGIA DAS PROJEÇÕES ............................. 131
O APOIO NA HORA DO CERIMONIAL ....................... 141
AS ENERGIAS ....................................................... 146
O SENTIDO ......................................................... 151
SUPERAÇÃO ......................................................... 158

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............. 163


ALGUMAS OBRAS COSULTADAS .............. 164
FILMOGRAFIA .............................................. 165
ÍNDICE REMISSIVO ..................................... 167
11

PREFÁCIO

Uma das grandes questões existenciais da atualidade


é a procura por um sentido maior para a vida. Parece que as
pessoas acabam se dando conta, depois de levar a vida de
acordo com os ditames da sociedade convencional – estudar,
trabalhar, casar, ter filhos, ter sucesso na carreira e dinheiro
– que isto na verdade é pouco, na melhor das hipóteses,
representa os meios e não os fins de nossa existência na Terra.
Embora legiões de pessoas, em algum momento de
suas vidas, se deparem com questionamentos a cerca da
validade de suas escolhas, não é comum que empreendam
uma busca mais séria para reverter esta situação. A neces-
sidade de sair da zona de conforto, mergulhar fundo no seu
mundo interior e questionar os próprios valores, tem sido
um obstáculo quase intransponível para a maioria dos ques-
tionadores.
Por esta razão, muitas vezes necessitamos de algum tipo
de acontecimento externo impactante, algo que gere uma
crise existencial profunda, para finalmente nos dispormos
ao autoenfrentamento necessário à mudança de rumo que
nos levará ao encontro do sentido de vida que nos satisfaça.
A morte do filho adolescente foi o estopim que fez
a autora ir atrás das respostas às indagações existenciais
12 • SEM MEDO DA MORTE

há muito postergadas. Em suas próprias palavras: “meu desejo


era saber noticias dele – terminei descobrindo mais de mim”.
O livro mostra o resultado desta busca, onde Vera en-
controu, através da Conscienciologia, as respostas que lhe trou-
xeram não apenas a compreensão que necessitava a respeito
da experiência geradora do luto, mas, sobretudo, a valoriza-
ção da própria vida, agora entendida a partir de uma nova
perspectiva.
E o resultado – surpreendente para a maioria dos que
desconhecem o paradigma consciencial – foi se tornar uma
pessoa mais equilibrada, saudável e feliz do que era antes.
A morte não é um assunto bem vindo em nenhum
ambiente, ninguém e nada nos prepara para ela. A cultura,
a biologia e até as religiões colaboram para a manutenção
do medo e da negação em relação a esta passagem, verdadeira
crise de crescimento para a consciência, que é imortal e eterna.
Através de experiências parapsíquicas, principalmente
a projeção consciencial lúcida, a autora recompõe sua his-
tória com o filho à medida que vai entendendo mais sobre
a morte e o processo de morrer.
Querendo ou não, somos produtos de nossa visão de
mundo e esta visão costuma ser reduzida e apequenada nos
modelos materialista e religioso. De modo que a grande
contribuição deste livro pode ser, principalmente, a visão
mais abrangente do paradigma consciencial sobre a morte
e, por tabela, a vida.
Beatriz Tenius
13

O COMEÇO DA HISTÓRIA

“Não há livros pessoais, mas sim meras


referências distintas.”
(Mário Quintana )

Fui uma criança que adorava ler e as histórias infantis


tinham sobre mim um forte poder de sedução e magia.
A frase inicial “Era uma vez...” ou “Tudo começou”... me
fazia mergulhar instantaneamente numa história sem
antecedentes – o começo estava ali naquele exato momento.
Seria tão bom poder usar os mesmos recursos e iniciar
este livro assim:
“Tudo começou”....
É impactante pensar em nós como detentores do
poder de conhecer, com exatidão, a origem dos fatos. Por
outro lado, é uma ideia simplista demais porque estamos
inseridos num vastíssimo Universo, possuidor de um plano
diretor o qual inter-relaciona pessoas e acontecimentos para
fins determinados. Como saber, de verdade, onde inicia cada
história nessa intrincada teia de relações pessoais?
Além do mais, uma das ideias que pretendo abordar
trata justamente das implicações insuspeitas dos aconteci-
mentos. Coisas que só descobriremos estarem ligadas depois
14 • SEM MEDO DA MORTE

do fato consumado ou influências sequer percebidas por


quem as vivenciou.
Voltemos um pouco no tempo – era o ano de 1995,
quando meus sobrinhos ainda eram crianças.
Uma das minhas irmãs veio de Passo Fundo, cidade
situada a noroeste do estado do Rio Grande do Sul, passear
em Porto Alegre e se hospedou no meu apartamento com
a família. No sábado pela manhã, saímos, meu cunhado,
dois sobrinhos e eu, para comprar alguns periféricos para
o computador. Eu ia de “copiloto”, pois conhecia melhor as
ruas por onde precisávamos passar. Quando chegamos à loja,
meu cunhado desceu e ficamos os três dentro do carro. Não
consigo lembrar qual era o assunto discutido, quando, de
repente, o Arthur, naquela ocasião com 12 anos de idade,
me olhou e, sem mais nem menos, disse:
– Tia, por que não escreves um livro?
Fiquei completamente aturdida, sem saber o que
responder ao menino. De onde ele tirara tamanha bobagem?
Como assim – eu escrever um livro? Nunca havia
pensado nesta possibilidade. E, além do mais, sobre o que
poderia escrever? Para quem? Com que finalidade?
De onde surgira essa ideia na sua cabecinha? Seria sua
mesma ou teria ele dado voz a uma ideia soprada por alguém
de outra dimensão? Sabemos o quanto as crianças são mais
sensitivas que os adultos.
Passados alguns meses, eu fazia um curso de final de
semana num hotel em Canela, na serra gaúcha, comple-
tamente introspectiva, procurando conhecer-me para saber
SEM MEDO DA MORTE • 15
quais os melhores caminhos a seguir na vida, quando surgiu
novamente o assunto “escrever”. Ouvia uma voz dentro de
minha cabeça me dando umas dicas. Por exemplo, quem
seria o público para o qual eu poderia escrever: àqueles bus-
cadores menos superficiais, à procura de mudanças mais pro-
fundas através da expansão das ideias e da investigação de
um novo paradigma – o consciencial.1
Retruquei àquela voz: – já existem tantos bons livros
sobre o assunto.
– De fato existem, mas a intenção é extrair a com-
plexidade do tema e deixá-lo mais acessível.
Novamente, não levei a sugestão a sério. Tinha até ver-
gonha de contar aos outros sobre esses acontecimentos.
O que eles poderiam pensar? Era muita pretensão minha.
Nos meus pensamentos, escrever era somente para grandes
pensadores.
Os porquês encheram a minha cabeça. Por que essas
coisas estavam acontecendo comigo? Por que não davam essas
dicas a outra pessoa que tivesse o hábito de escrever, gostasse
disso e tivesse mais autoconfiança para fazê-lo? Não me
encaixava em nenhum dos itens. Isso não era para mim.
Será que não era mesmo? A dúvida começou a se
instalar. Qual poderia ser o meu diferencial em relação às
outras pessoas, o qual era responsável pelas injunções da vida
me apontarem esse caminho? Não me ocorria nada.

1
Paradigma consciencial: Modelo de estudo voltado para a consciência
multimilenar que somos e que se manifesta além do cérebro e além da di-
mensão física.
16 • SEM MEDO DA MORTE

Desde aquele sábado de setembro de 1995 para cá,


muita coisa mudou. Lentamente, mas mudou. Minha con-
cepção a respeito do ato de escrever se tornou mais realista,
a minha autoimagem passou por processos de amadu-
recimento e predominou a seguinte ideia: quem tem expe-
riências deve compartilhá-las. Afinal, sendo humanos temos
vivências muito parecidas e nossa forma de reagir pode
ajudar a outros na sua reflexão. É falta de maturidade pensar
que o nosso script é, assim, tão diferente do script dos outros
humanos. Mudam apenas alguns detalhes, dependendo das
tarefas necessárias para a sua execução nesta vida.
Tenho clareza quanto ao fato de existirem escritores
com “E” maiúsculo, que fazem do ato de escrever a sua
profissão, e pessoas que escrevem alguma coisa, pressionadas
pela necessidade de comunicar algo importante e, no meu
caso, estar na segunda categoria já é um privilégio.
Agora vejamos:
– Concretamente, onde iniciou o planejamento para
que eu escrevesse sobre essas ideias?
– Nesta vida? Nesta dimensão física? Ou em outra di-
mensão, antes de eu vir a renascer neste planeta?
Minha hipótese é: esse projeto vem de antes do renasci-
mento e tinha algumas senhas combinadas para provocar
o seu despertar. Por exemplo, a pergunta feita pelo meu
sobrinho me deixando com a “pulga atrás da orelha”.
O que você pensa – isso é possível?
Cada acontecimento sempre nos remete a um fato
anterior e este, a outro ainda mais antigo, parecendo ser um
SEM MEDO DA MORTE • 17
processo sem fim. E, em geral, só estamos analisando a di-
mensão física, portanto, tão somente esta vida humana.
Imaginem quando percebermos as interligações ou paralelos
existentes entre as dimensões física e a extrafísica. Esta última
representando a vida além da matéria.
18

POSICIONAMENTO

“Nenhum vento sopra a favor de


quem não sabe para onde ir.”
(Sêneca)

Eu já disse antes: não me ocorria nada a respeito do


diferencial que me levaria a escrever um livro. Era preciso
parar para pensar – se não tinha grandes conhecimentos
em nenhuma área da ciência para trazer novas ideias ao
mundo, e não me sentia inclinada a escrever sobre ficção
e muito menos sobre poesia, meu livro teria de tratar de
coisas reais, ou seja, as vivências e sentimentos responsáveis
pelas minhas mudanças.
Fazia-se necessário analisar os fatores mais importantes
da reciclagem pelos quais havia passado. Por que enfrentei
esse tipo de experiência em particular e como a superei?
Em geral, sem um empurrãozinho, ou mesmo um
grande solavanco, não encaramos uma mudança. Comigo
era assim. Hoje já dou alguns passos para me adiantar no
processo e resolver as coisas antes delas me perturbarem
muito. Em vez de vivenciar somente crises de “sofrimento”
e contar com o aprendizado que elas possam trazer, procuro
me adiantar provocando crises de “crescimento”.
SEM MEDO DA MORTE • 19
Ainda não dou garantia total na obtenção do sucesso.
Quem me assegura que não vou levar com a barriga situações
perturbadoras por medo de mudar e perder coisas já esta-
belecidas, ou por outros medos? Hum...?
Minha autopesquisa me apontava um difícil caminho:
devia escrever relatando as crises e superações. E as vivências
mais marcantes, responsáveis pelas maiores mudanças em
minha vida estavam relacionadas à morte – então este seria
o meu tema. Havia encontrado o diferencial tão procurado.
Porém, normalmente, morte é um assunto pesado.
A maioria dos indivíduos não quer ouvir falar. Eu sei, porque
vejo as reações desconfortáveis quando toco nesse tema.
Gostaria de mostrar uma visão diferente da morte, não
discorrer sobre tristeza e dor, mas expor o outro lado que
descobri. Evidenciar de que modo e porque consegui me
transformar numa pessoa mais equilibrada, feliz, apesar de
não ter mais, junto de mim nesta dimensão, pessoas muito
próximas, a quem amo muito. O verbo está no presente pro-
positadamente. Os sentimentos não sofrem ruptura, embora
estejamos hoje em dimensões diferentes.
Essa é uma história sobre a vida – o sentido que ela
tem, a razão de existirmos e a liberdade que podemos des-
frutar depois de tais descobertas. No entanto, não há meios
de entender a vida sem falar no que aparenta ser sua antítese
– a morte. Entender e viver bem uma, significa obriga-
toriamente desnudar e compreender a outra.
Existe uma frase atribuída a Martin Luther King Jr. –
ele teria falado: “uma pessoa não é realmente livre se não
dominou o medo da morte”. Concordo inteiramente.
20 • SEM MEDO DA MORTE

Esse medo interfere em tudo que fazemos, direta ou


indiretamente, e para curá-lo só através do conhecimento
e de experiências multidimensionais (vividas, também, em
dimensões além da física).
No planejamento da nossa vida, desejamos alcançar
a felicidade e a liberdade para viver. Mas será que não fugimos,
justamente, do conhecimento que nos daria essa liberdade?
Por exemplo, você é capaz de estudar o tema “morte”,
sem rejeição, sem ficar profundamente incomodado, sem
estar resvalando para outro assunto a cada passo? Sem medo?
Não expresso aqui o medo de sofrer algum tipo de
dor para morrer, da violência, das doenças. É natural ter
receios disso. Refiro-me ao medo da finitude, do processo da
separação, da perda, essas coisas engasgadas em nossa gar-
ganta durante a vida toda.
É possível dominar esse medo?
Não existe a fórmula mágica – cada ser é tão diferente
do outro, tem ideias tão díspares. Uma coisa, porém, é certa:
se você ainda tem receios, precisará desenvolver novas ideias
para vencê-los. As atuais não estão dando conta do recado,
pois seus temores não foram dissipados até agora. Será pre-
ciso um novo modelo mental para interpretar a morte e dar
sustentação a uma nova realidade e novas experiências.
Gostaria de conduzi-lo pelos caminhos trilhados por
mim, para que você, quem sabe, faça as suas descobertas de
maneira mais light, menos sofrida, tendo já alguma refe-
rência, o que me faltou no momento crucial.
Você, ser vivente do Século XXI, provavelmente já viu
muita coisa na mídia a respeito de alguns assuntos que vamos
SEM MEDO DA MORTE • 21
abordar. Hoje a televisão está mais aberta, as novelas apontam
fenômenos parapsíquicos com naturalidade, o cinema tem
títulos fantásticos, mas, mesmo assim, uma conversa mais
íntima e profunda é melhor.
Aliás, quando dou alguma palestra, a primeira coisa
imaginada é que os ali presentes são meus amigos e estão sen-
tados na sala de minha casa, assim podemos ter uma conversa
informal, uma troca de experiências e me sinto mais confor-
tável. Para eu ter coragem de escrever esse livro usei a mesma
técnica. Gosto de ter a sensação da proximidade com você,
leitor, porque isso me deixa à vontade para usar as palavras
e compartilhar minhas vivências.
22

O QUESTIONAMENTO CLÁSSICO

“Ao erguermos a vista não vemos fronteiras.”


(Ditado japonês)

Se analisarmos o pensamento de grandes filósofos,


desde a Grécia antiga, sobre a definição da filosofia, veremos,
por exemplo, que Epicteto reduz “todas as interrogações filo-
sóficas a uma única e mesma fonte: o medo da morte”. Mon-
taine com seu famoso adágio dizia: “filosofar é aprender
a morrer”.2 O tema do medo da morte é recorrente em
filósofos antigos e modernos. Ferrater Mora (filósofo consi-
derado o pensador espanhol mais original da segunda me-
tade do século XX)3: reforça que a história do pensamento
humano, na realidade, “é uma autêntica meditação sobre
a morte”.4
A morte sempre esteve presente no pensamento do
homem, e isso, muitas vezes, nos impede de viver bem.
A prova de que encarar a morte é o aprendizado mais difícil
a ser enfrentado é o fato de virmos morrendo há milhares

2
Luc Ferry; Aprender a Viver; p. 24, 25.
3
Wikipédia.
4
www. Infosarcomas.com/descargas/libros/16.pdf
SEM MEDO DA MORTE • 23
de anos, através de centenas de vidas e corpos e até hoje
nossa relação com ela ainda ser complicada, contraditória
e profundamente sofrida. Será que precisa ser assim?
Urge entender e melhorar nossa relação com a morte,
diminuir sua interferência negativa sobre a vida. Pensei, por
exemplo, em listar seus pontos positivos para entender seu
significado mais profundo, embora prefira deixar isso mais
para o final.
A morte traz em si o senso da paradoxalidade. As
pessoas reagem de maneira contrária umas das outras devido
ao seu modo de ver o mundo, o filtro usado para analisá-la.
Para algumas pessoas, que chamaremos de Grupo Um,
passar por uma experiência tão dolorida quanto a de perder
um ente querido, ou encontrar-se próximo da morte pode
representar um salto no seu processo evolutivo porque, nesta
hora, serão capazes de abrir-se a novas ideias. Sair de si
mesmas, enxergar o mundo com mais possibilidades –
a situação assim o exige.
No momento de uma experiência difícil como a da
morte, a vida parece destituída de uma razão lógica.
Importante é não sucumbir ao impulso de estagnar o pen-
samento por aí. É preciso encontrar uma nova realidade
para embasar a vida. Existe a urgência de afastar-se da zona
de acomodação, arregaçar as mangas e partir em busca de
respostas para seus questionamentos. Não dá para aguentar
do jeito que está. E uma pergunta fica ecoando:
– Qual o sentido desta vida?
A partir desta clássica questão da filosofia, pode ter
início um processo amplo de reciclagem, de mudança íntima.
24 • SEM MEDO DA MORTE

No momento da decisão e da vontade firme de encontrar


respostas, começam a acontecer as sincronicidades. Essas
levarão ao encontro de pessoas diferentes, novas ideias, estí-
mulos que culminarão numa nova maneira de atuar. É a ação
do fluxo do cosmos. Assim foi comigo.
A busca de um sentido para entender porque os seres
humanos vivem e morrem, geralmente traz implícita a desco-
berta do significado da sua vida em particular, isto é, o que
foi programado para ser executado por você nesta dimensão
física.
As pessoas desse Grupo Um são capazes de transfor-
mar a dor em combustível para uma caminhada mais pro-
dutiva e evoluída. São indivíduos detentores de uma força
chamada resiliência, ou seja, a “capacidade humana para
enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por
experiências de adversidade”5. Quantas fundações e ONGs
surgem a partir dessa reciclagem de vida para ajudar outros
seres humanos? Costumamos nos solidarizar com quem
possui problemas semelhantes aos nossos. Os jornais e revistas
estão cheios de exemplos. Costumo guardar recortes desses
casos para poder ilustrar minha pesquisa.
A ajuda aos outros, esse processo de interassistência6,
também, pode acontecer de maneira mais simples, sem
necessidade de grandes projetos, somente a partir da sua
nova postura, do seu autoexemplo perante a vida. Quantas

5
Melillo Aldo; Ojeda Elbio Néstor Suarez; Resiliência: Descobrindo as
Próprias Fortalezas; p.15.
6
Interassistência: assistência entre consciências fundamentada no princípio
de “quem é menos doente assiste ao mais doente”. É um trabalho de mão
dupla, onde o assistente também se beneficia.
SEM MEDO DA MORTE • 25
pessoas podem se espelhar em você, na sua atitude positiva
e você nem imagina?
Posso afirmar pela minha vivência: as palavras,
principalmente as escritas, deixam marcas profundas nessa
hora em que estamos perdidos de dor. E se é bom receber
esse conforto por que não dá-lo também a quem precisa?
Podemos escrever uma pequena carta, um bilhete
transmitindo um pouco de esperança. Não palavras vazias,
formais, mas impregnadas com o sentido da experiência
e da sua superação. O peso disto é bem alto. As suas energias
podem muito. Já escrevi a muitas pessoas que estavam passando
por um momento de perda, mesmo sem conhecê-las.
Voltando à paradoxalidade da morte – existem as pes-
soas do Grupo Dois, mais apegadas ao mundo material,
adeptas da ideia de finitude da vida. Para elas, passar por
uma experiência em relação à morte significa uma estagnação
evolutiva porque a consciência afetada mergulha no deses-
pero inerente ao desconhecimento da sua “realidade cons-
ciencial”. Para elas tudo que importava era o corpo e ele se
foi. Dessa forma, só conseguem se vitimizar, dramatizar ainda
mais o acontecido. E se fecham às ideias libertárias que po-
deriam ajudá-las a sair do sofrimento.
O mundo está cheio de exemplos de pessoas as quais
perdem a razão para viver a partir do momento que ficam
sem a companhia de seus seres amados. Simplesmente vão sendo
levadas pela vida. A dor sentida lhes parece única: ninguém
mais estaria vivendo situação igual. Passa o tempo e elas con-
tinuam mergulhadas no sentimento de mágoa e inconfor-
mismo a se perguntar:
– Por que isso foi acontecer logo comigo?
26 • SEM MEDO DA MORTE

Vejamos, então:
Para alguns indivíduos, enfrentar um processo de perda
de alguém pode ser uma alavanca, eles se reformulam inti-
mamente, encontram nova razão de viver, dão um longo
passo no processo evolutivo.
Outros se fecham num círculo vicioso de autopiedade
e apenas passam pela vida.
Existe ainda um terceiro grupo: quem resolve apro-
veitar a vida a partir da experiência com a proximidade da
morte. São os que se apegam aos prazeres e vivem a eterna
superficialidade, para “fugir” aos questionamentos clássicos.
Não desejam pensar no significado da vida e da morte,
preferem deixar isto, talvez, para quando chegar a hora de
partir.
Em geral, cometem abusos e imprudências em nome
do prazer ou simplesmente levam uma vida fútil. Como se
os atos de hoje não tivessem consequências futuras.
Claro, para este grupo dos céticos o futuro ou a vida
depois da morte não é sequer uma possibilidade, quanto
mais uma realidade concreta.
Nesse caso, também são incapazes de dar-se conta de
que não existe na vida “nenhum recebimento existencial,
pessoal, de dotação ou bem ocioso. Cada condição favorável do
homem ou mulher, na vida humana é destinada, sem privilégio,
a específica aplicação no contexto da programação existencial
predeterminada”.7

7
Waldo Vieira; Enciclopédia da Conscienciologia; verbete Interação dos
Recebimentos.
SEM MEDO DA MORTE • 27
– Você está desperdiçando seus talentos e recursos,
usando-os somente para seu próprio prazer? A finalidade
da vida não é esta, com certeza.
– Já parou para pensar, ou já teve experiências que
o fizessem posicionar-se em algum desses grupos? Em qual?
No da fuga, no da autopiedade, da vitimização ou já conse-
gue usar as perdas ao modo de alavancas evolutivas?
28

A BUSCA DA FELICIDADE

“Se nossa vida não tiver nenhum sentido além da nossa própria
felicidade, é provável que, ao conseguirmos aquilo que julgamos
necessário à nossa felicidade, constatemos que a felicidade em si
continua a esquivar-se de nós.”
( Peter Singer)

Desde a adolescência, vez por outra, fazia certos ques-


tionamentos. Afinal, qual a finalidade desta vida? Nascemos,
aprendemos a sobreviver, crescemos, estudamos, trabalha-
mos, casamos, temos filhos e quando pensamos ter uma boa
bagagem na vida, morremos.
Qual a razão de acumularmos essa bagagem se tudo
vai ser interrompido? Não seria perda de tempo e inves-
timento? Qual o mecanismo que move o universo?
Embora essas ideias me perturbassem de vez em quan-
do e até me entristecessem pela falta de respostas, achava
que apesar delas, poderia manter meu equilíbrio e ser feliz.
Com três filhos pequenos, a vida era agitada e o tempo para
pensar era pouco. Fui sendo feliz à minha maneira. Havia,
porém, um “quase” interferindo vez por outra – uma espécie
de pano de fundo. Era “quase” inteiramente feliz.
Dá para entender isso? Sei, é complicado. Tinha exce-
lente saúde, amava meu marido e meus filhos e o resto da
SEM MEDO DA MORTE • 29
família. Era amada por eles, tinha boa situação financeira,
minha casa era aconchegante e costumava ser tranquila, não
tínhamos grandes desentendimentos. Tudo corria muito
bem, mas algo dentro de mim sinalizava a falta de alguma
coisa e eu não tinha a mínima ideia do que seria, nem de
onde encontrar. Era uma espécie de vazio e provocava certa
melancolia. Mas como preencher esse vazio existencial se
não sabia sequer defini-lo, situá-lo?
Tinha alguns objetivos, algumas metas a serem alcan-
çadas, mas elas se restringiam a esta vida intrafísica e isso
tornava tudo sem sentido. Na época, eu não tinha o conhe-
cimento para chegar a uma conclusão dessas.
Não era capaz de enxergar o processo de evolução do
homem, a sua continuidade, vida após vida, na construção
de si mesmo. A infinita responsabilidade para conosco mes-
mos ao tomar nossas decisões. Hoje, de posse dessas infor-
mações consigo ficar mais serena, menos instável.
Para chegar ao meu conceito atual de felicidade foi
preciso entender a unidade indissolúvel representada pelos
pensamentos, os sentimentos e as energias. Não há possibi-
lidade, por exemplo, de se ter um pensamento sem que asso-
ciado a ele estejam um sentimento e um fluxo energético.
O mesmo serve para as outras combinações: não há ação ou
mobilização das energias sem ter pensamentos e sentimentos
por detrás. E o ponto mais importante é o predomínio do
equilíbrio dos três elementos. Em determinados momentos,
precisamos estar com a balança pendendo para um lado,
mas logo voltar ao centro.
Não podemos somente pensar na parte intelectual, sem
buscar a maturidade emocional, nem nos entregarmos aos
30 • SEM MEDO DA MORTE

sentimentos sem valorizar os pensamentos e as energias, tam-


pouco permitir que o corpo físico seja o centro de tudo. A har-
monia unindo os três representa um gerador de felicidade.
Quem está equilibrado e feliz, pela lei da afinidade,
desfruta boa companhia e um ambiente sereno. É igual
a uma bola de neve. Quanto mais pensamentos e sentimentos
harmoniosos e positivos, mais você percebe e recebe à sua
volta os mesmos padrões de energia.
Você é capaz de perceber claramente que a respon-
sabilidade sobre a sua felicidade advém das suas próprias
ideias e dos sentimentos gerados por elas?
A falta de clareza a respeito do significado da felicidade
é o problema. Somos puxados pela agitação do mundo
moderno e não costumamos parar para pensar a respeito de
coisas mais profundas, por exemplo, aquilo que dá sentido
a nossa vida.
Você pode argumentar: – Com esse contexto no pla-
neta, posso ser feliz?
Desde muito, se sabe: a felicidade é um estado subje-
tivo, portanto depende mais da maneira que você encara
o meio em que vive do que dos acontecimentos em si. Há
pessoas vivendo onde outras chamam de paraíso e, no en-
tanto, não são nada felizes. Já outras, ao contrário, suportam
condições bastante difíceis e se consideram satisfeitos, reali-
zados em suas aspirações. O que as diferencia é o entendi-
mento do mecanismo da vida.
Engraçado, todos sonhamos ter saúde, amor, dinheiro
e prazer, mas esses itens, embora muito importantes, não
são suficientes para tornar uma pessoa realmente feliz.
É preciso mais.
SEM MEDO DA MORTE • 31
A maioria das pessoas confunde a consequência com
a causa da felicidade. As pessoas felizes têm saúde, prazer,
amor, dinheiro suficiente para viver porque isso é o efeito
do equilíbrio íntimo no qual ela se encontra, e não a causa,
a origem da sua felicidade.
Confunde-se o ter com o ser. O dinheiro passa a repre-
sentar a condição para ser feliz. Ou o amor, ou a saúde. Na
verdade a felicidade pertence ao nosso recanto mais íntimo
(onde nascem os nossos pensamentos e sentimentos) e de
onde vem o equilíbrio capaz de motivar alguém a encontrar
a sua felicidade. Logo, felicidade é algo, a princípio, autopro-
porcionado, não depende dos outros. Também não é repre-
sentada somente pelo que temos, mas pela maneira que
reagimos ao fato de ter ou não ter, ser ou não ser.
Incute-se nas pessoas que a felicidade é algo vindo de
fora – se elas tiverem sorte. Ninguém diz: a sorte é você
quem faz, inicialmente, dentro da sua cabeça. E pode dar
trabalho, mas vale a pena.
Vou fazer uma coisa inusual, a qual nenhum autor expe-
riente faria, é claro, – encerrar o capítulo do modo iniciei –
usando outra frase de Peter Singer:
“Muito poucos, dentre nós seriam capazes de encontrar
a felicidade ao decidir, deliberadamente, desfrutar da vida sem
se preocupar com ninguém ou coisa alguma. Os prazeres que
então obteríamos pareceriam vazios, e logo nos fartaríamos
deles. Procuramos um sentido para a nossa vida que vá além
dos nossos prazeres, e encontramos alegria e satisfação em fazer
as coisas consideradas dotadas de sentido”.8

8
Peter Singer; Ética Prática; p. 349.
32

MECANISMOS DE DEFESA

“Onde o medo está presente,


a sabedoria não consegue estar.”
(Lucius C. Lactantius)

Passei boa parte da minha existência, até então, envol-


vida com alguns sentimentos de tristeza e vazio, os quais me
acometiam vez por outra, e cheguei a pensar que, talvez um dia,
fosse ficar maluca de verdade porque não achava uma razão
lógica para não me sentir feliz, comparando aos problemas
dos outros. Esse universo não parecia um lugar justo. Qual
era o critério por trás das coisas não entendidas por mim?
O que me faltava?
Àquela época, tinha uma crença religiosa, frequentava
a igreja, era católica mais por tradição de família do que por
vontade própria. Algumas vezes me afastei, mas sempre
acabei voltando.
Quando me afastava chegava a pensar que a tristeza
no meu peito poderia ser o resultado dessa atitude. Se insis-
tisse na busca da fé encontraria uma razão melhor para
a vida. Voltava, mas as dúvidas continuavam. E preciso admitir,
aqui entre nós, cheguei a me preocupar por estar abando-
nando os rituais domingueiros ou as missas. Embora eu fosse
SEM MEDO DA MORTE • 33
um pouco revoltada com essa noção de pecado incutida em
nossas cabeças, não tinha certeza das consequências ou do
que esse abandono poderia gerar na minha ficha pessoal.
Lá no fundo, mantinha receios de estar fazendo algo errado:
a velha noção de pecado entranhada até a raiz do cabelo.
Queria mesmo dizer o seguinte: a maioria das coisas
faladas na igreja não contribuíam em nada para eu me sentir
mais confortável, não faziam sentido, pelo contrário, inco-
modavam ainda mais. Por exemplo, não me conformava em
ficar dando Glória a Deus, por isso na hora em que todos
o louvavam, preferia me calar. Se “ele” era o Deus que eu ima-
ginava, seu ego não precisaria mais dessas homenagens e glórias.
Estava cheia de questionamentos, no entanto, pensava
não serem os motivos suficientemente fortes para encarar
uma mudança de posicionamentos e empreender uma ver-
dadeira busca por algo que me trouxesse respostas mais ló-
gicas e libertárias. A religião não preenchia minhas necessi-
dades, porém não encontrava substituto para ela.
Você sabe, a maioria das pessoas prefere continuar como
está a enfrentar uma situação nova, mesmo não estando satis-
feita. Melhor o velho conhecido do que o risco do novo. Eu
não era diferente. Hoje, enfrento melhor as mudanças.
Durante esse período, não queria ouvir falar em outras
vidas, não dava abertura a quem quisesse tocar no assunto
porque ele me assustava, me lembrava morte e perda. Nem
de longe, supunha que, talvez, esse tema, cuja base é o pro-
cesso da continuidade da evolução da consciência, poderia
ter dado uma pista para minhas indagações. Naquele mo-
mento, preferia ignorar essa matéria. Pensava: se mantiver
34 • SEM MEDO DA MORTE

bem trancado meu medo ele não me importunará mais. Mal


sabia eu que sufocá-lo só pioraria as coisas. Ele permanecia fer-
mentando e tomando dimensões cada vez maiores. “Passamos
uma parte enorme da vida evitando nossos medos em vez de re-
mover o poder que eles têm sobre nós tomando a decisão de
enfrentá-los.”9
Talvez esse fosse o tempo certo para um aprendizado
menos traumático – logo, você vai me entender melhor.
As oportunidades de aprendizado mostram-se diante
de nossos olhos, mas nem sempre pretendemos optar pela
mudança de posicionamento naquela hora. Talvez, falte
ainda lucidez para compreender a situação. Preciso exem-
plificar e dizer a que, exatamente, estou me referindo.
Vejamos o meu caso: só fui realmente buscar o sentido
da vida quando me confrontei com a morte de meu filho
mais velho. Em várias ocasiões anteriores, eu poderia ter
iniciado a preparação para tal vivência. Por exemplo, se eu
tivesse me permitido ouvir, sem medo e sem preconceito,
algumas pessoas que tentaram me esclarecer sobre a vida
após a morte e sobre a caminhada evolutiva das consciências.
Outra ocasião de aprendizado, também anterior à ex-
periência com o Leandro, surgiu quando uma colega de tra-
balho do meu marido enfrentou a morte do filho num pro-
cesso de leucemia. Sofri muito nesse período, pois nossos
filhos tinham idades parecidas e me colocava no seu lugar.
O que eu faria se acontecesse comigo? Que sentido tinha
perder um filho ainda tão novo e de maneira assim sofrida?

9
Stephen Simon; A Força Está em Voçê; p.130.
SEM MEDO DA MORTE • 35
Ao invés de tratar do assunto preferi me fechar. Pro-
curei me distrair. Ocupei minha mente com assuntos mais
leves.
Não é o que a maioria das pessoas faz? Isso resolve?
Não, só protela o enfrentamento do problema.
Oportunidades eu tive de buscar respostas para en-
tender essa passagem chamada equivocadamente de morte
(trataremos desse equívoco adiante). O tema, porém, parecia
muito distante de mim. Afinal, eu era jovem, a minha família
também era jovem, saudável. Continuei sem ter intenção de
saber do assunto. Faltava coragem para enfrentá-lo. O medo,
porém, era onipresente e enorme. Era como se eu pressen-
tisse que algo estava para acontecer.
Um ano antes de ocorrer a partida do meu filho Lean-
dro para a outra dimensão, ele sofreu um acidente de bici-
cleta e fui praticamente a única testemunha do fato. Antes
de sairmos de casa, insisti para que fosse comigo no carro.
Ele não quis. Preferia ir de bicicleta porque eu viria para
casa mais cedo e ele não queria voltar a pé.
Estávamos numa rua quase deserta: eu, em meu carro
e ele, na sua bicicleta, indo para a escola de inglês. Veio um
automóvel na direção contrária àquela que estávamos indo
e forçou-o a ir muito próximo da calçada. A consequência
foi a batida no meio-fio, o choque com a árvore e a queda
no asfalto.
O carro responsável pelo acidente foi embora sem parar.
Até hoje, não sei se quem o conduzia se deu conta do ocor-
rido porque não houve colisão. Talvez essa pessoa estivesse
muito distraída, pois, num primeiro momento não calculou
36 • SEM MEDO DA MORTE

direito as distâncias, e num segundo momento, parece que


sequer olhou para trás. No entanto, é difícil acreditar, diante
do pouco movimento da rua, ele não ter percebido nada.
Talvez tenha fugido mesmo, sabe-se lá...
Não havia ninguém na rua para me ajudar e eu pen-
sava estar ele morto. Gritei muito, até que saiu uma senhora
e um rapaz de uma casa para me auxiliarem a colocá-lo no
carro. Levei-o sozinha até o hospital sem que recobrasse os
sentidos. A sensação da morte perdurou por uns 10 minutos.
Foi o trajeto mais longo e difícil da minha vida. Dirigia aos
prantos.
O Leandro recebeu alta do hospital após algumas ho-
ras, depois de sair de um quadro de muita confusão mental,
no qual perguntava sempre a mesma coisa. Eu terminava
de lhe explicar e ele perguntava tudo de novo. Não sabia
onde estava, nem o que estava acontecendo, e não registrava
nenhuma informação. Isso devido à forte pancada na cabeça.
Desesperada, eu me questionava se esse quadro perma-
neceria, pois ninguém me explicara que era passageiro.
Quando saímos desse primeiro hospital, o Leandro
ainda não estava bem. Ficamos um tempinho em casa e de-
cidimos ir a outro hospital onde ele passou a noite em obser-
vação. No dia seguinte, deram-lhe alta e o neurologista nos
liberou para viajar a fim de passarmos os feriados da Páscoa
junto à família. Nessa época vivíamos em Curitiba e eles, em
Passo Fundo.
O Leandro, porém, em vez de sentir-se melhor, pio-
rava e não arriscamos viajar. Também nessa época, era o ano
de 1989, os exames de tomografia não eram nada comuns
por aqui.
SEM MEDO DA MORTE • 37
Meu marido precisou fazer um grande esforço a fim
de convencer o médico a se empenhar e conseguir marcar
uma tomografia de emergência, no único lugar da cidade,
onde se fazia esse exame. Devido aos feriados prolongados
conseguir um horário livre era ainda mais difícil.
Depois do exame, concluíram que o Leandro precisava
passar por uma cirurgia de emergência porque o trauma-
tismo craniano havia causado uma pequena hemorragia.
Foram momentos difíceis porque uma cirurgia na cabeça
traz muita inquietação. No entanto, ele reagiu muito bem
e se recuperou logo.
Enfim, a vida voltou a ser o que era antes – ou quase.
Na verdade, durante o ano após o acidente, os três mais
atingidos pelo fato, nosso filho, meu marido e eu começamos
a sentir estranhas sensações. Cada um à sua maneira, no
mais fechado silêncio, com medo de que os outros lessem
nossos pensamentos.
Parecíamos saber que o período de convivência restante
não seria muito longo. Recriminava-me por pensar e sentir
tais coisas, mas elas continuavam presentes. Parecia um
tempo de despedida. Meu marido também sentia o mesmo
e não queria nem imaginar que eu, ou qualquer outra pessoa,
pudesse perceber alguma coisa.
Quanto ao Le (era assim que o chamávamos), seus ami-
gos contaram depois de sua partida, que ele, a partir de um
determinado período, tinha muita dor de cabeça, tomava
remédios, escondido, para que não ficássemos sabendo.
Qual o motivo de não querer preocupar os pais? Pres-
sentia alguma coisa e temia o que estava para acontecer?
Não poderemos provar nada, apenas levantar uma hipótese.
38 • SEM MEDO DA MORTE

Os meus estranhos pressentimentos perduraram todo


aquele resto de ano. O que eu fiz? Fingi que tudo estava
bem. Recolhi-me assustada.
Tentar entender os sentimentos que me acometiam,
talvez tivesse dado chance para que as informações necessárias
chegassem para me calçar no derradeiro momento – sua
morte – agora para valer.
Você chegou a levantar a hipótese de os acontecimentos
do ano anterior à morte do Le representarem uma prepa-
ração intensa ao que estava para acontecer?
O acidente no qual pude experimentar, por uns dez
minutos, a sensação de ele já ter morrido, a cirurgia na cabeça
trazendo grande preocupação e medo de perdê-lo, o estra-
nho sentimento de que restava pouco tempo de convivência
seriam uma espécie de vacina para aguentar a dor maior?
A sensação de intuir o que estava para acontecer viria
do fato de ter existido uma pré-programação para essa
morte? E esse tipo de aprendizado teria até contado com
a concordância de todos nós?
Que bom se pudéssemos marcar uma entrevista com
o orientador evolutivo, consciência responsável pela orga-
nização e programação de nossas vidas, para saber detalhes
do que foi realmente acordado (antes de nascer) entre as
consciências mais próximas e que passam por experiências
mais traumáticas.
Faria parte do propósito da minha vida trazer ao
mundo esse filho que teria uma vida curta, abreviada devido
a algumas pendências do passado e eu concordado em apoiá-
lo, também devido aos comprometimentos de outras vidas?
SEM MEDO DA MORTE • 39
Ao que tudo indica esse é um dos mecanismos da evolu-
ção mútua através do qual ocorre a melhora dos relaciona-
mentos.
São muitas perguntas, mas para mim parece ficar claro
que as respostas sejam afirmativas. Sim, havia um planeja-
mento prévio e cada um tinha seu papel nessa representação.
40

A INTERLIGAÇÃO
PASSADO X PRESENTE

“São maus descobridores os que pensam que


não existe terra porque só podem ver o mar.”
(Francis Bacon )

Não podia imaginar que a perda do medo, o desfrute


da verdadeira liberdade e do equilíbrio dependiam de enten-
dermos certos assuntos, a princípio, impactantes e até depri-
mentes para muitos. É o caso da morte.
Pergunto: – Qual o ganho dessa procrastinação? Ga-
nhei mais tempo de incertezas e sofrimentos e descobri que
o mecanismo evolutivo para nosso aprendizado é inexorável.
Mais dia, menos dia, as respostas surgem.
Meu aprendizado se deu através de uma experiência,
considerada das mais dolorosas para o ser humano – presen-
ciar a doença e a morte de um filho. Um filho ainda adoles-
cente, possuidor de uma “saúde de ferro”, como se costuma
dizer. Raras foram as ocasiões nas quais apresentou pequenos
males, doenças de criança.
Era um ser humano especial, muito maduro para sua
idade biológica, incrivelmente determinado, cheio de planos
para o futuro e possuidor de uma contagiante alegria de
SEM MEDO DA MORTE • 41
viver. Sua risada gostosa ficou ecoando por longo tempo
nas lembranças.
Por falar em lembranças ...
Quando o Le passou para o segundo grau costumava
chegar em casa antes dos outros dois filhos os quais estu-
davam num colégio diferente. Todo dia ao chegar, ia até
a cozinha onde eu estava preparando o almoço e “beliscava”
o que já estava pronto enquanto contava muitas histórias.
Ele era bem falante. Pela sua maneira engraçada de relatar
as coisas, ríamos um riso fácil.
Outra característica sua que muito me impressionava
era a disciplina, porque os jovens não costumam ser assim.
Mesmo no período de férias, mesmo durante o inverno
muito frio, ele se levantava sempre cedo, no mesmo horário,
até nos fins de semana, para cuidar de seu cavalo. Um cavalo
de gênio difícil, o qual todos tinham receios de montar,
porém com ele respondia adequadamente aos comandos.
Os dois se entendiam maravilhosamente bem.
O Le teve um raro tumor localizado no cerebelo, de alta
malignidade, que, segundo nos foi dito pelos médicos na
época, é característico de crianças e adolescentes. Nem lem-
bro mais o tipo do tumor, até porque quando chegou o re-
sultado do estudo patológico, realizado fora do Brasil, o Le
já havia partido e não tivemos maior interesse nessa cultura
da doença.
Desde o momento da primeira investigação iniciada
com o otorrino, devido a uma dor que parecia ser no ouvido,
até a sua morte passaram-se dois meses e meio de muito
sofrimento. Esses poucos meses pareceram um longo período
e representaram um difícil exercício para o desapego.
42 • SEM MEDO DA MORTE

Lembro-me muito bem de estarmos, meu marido e eu,


fechados na sala conversando sobre o futuro de nosso filho.
Fizemos uma descoberta interessante: tínhamos a mesma
opinião sobre o assunto. Era convicção nossa que deveríamos
rezar e pedir para acontecer o melhor para o Le, não impor-
tando o significado disso, deixando de lado nossos apegos.
Isto deve tê-lo ajudado a se despedir de maneira mais rápida.
É bom que se diga: o Le estava consciente do seu estado
de saúde porque, assim que se recuperou da cirurgia, na qual
nada se pôde fazer, a não ser avaliar o tamanho e a malig-
nidade do tumor, ele quis ter uma conversa franca – de
homem para homem – com o médico.
Durante todo o período da doença, foi capaz de man-
ter a calma, e ter uma grande dignidade, apesar do medo
que eu percebia em seu olhar. Às vezes, era ele quem preci-
sava me acalmar.
Quando estava próximo a descartar o corpo físico,
aconteceu algo muito estranho.
Um dia ao aproximar-me, ele me disse:
– Mãezinha, não consigo suportar o cheiro tão horrível
que exalas. Por favor, mantenha-se um pouco afastada.
Fiquei em estado de choque. Baseado em que o Le
estava dizendo isso? Ele não tivera, até aquele momento, ne-
nhuma vivência incoerente. Não dissera frases insensatas.
O que isso significava? Estaria ele ficando perturbado?
Ao chegar o médico em nossa casa, contei-lhe a história
e perguntei se poderia me examinar. Afirmou-me que tudo
parecia muito bem e eu não tinha sequer mau hálito.
SEM MEDO DA MORTE • 43
Não consigo lembrar quanto tempo durou essa impres-
são. Apaguei da memória, provavelmente como defesa.
Talvez algumas horas depois ou no dia seguinte as coisas
voltaram ao normal. Ele não falou mais do assunto, mas eu
continuava profundamente incomodada.
Passaria, ainda, algum tempo até que as coisas se acla-
rassem. O fato continuou martelando na minha cabeça e me
angustiando. Precisava esclarecê-lo urgentemente. Mas como
e onde buscaria respostas para algo tão fora do comum?
Eu ia, frequentemente, a uma farmácia homeopática
onde sempre havia cartazes sobre terapia de vidas passadas,
porém tinha muito medo disso. Meses se passaram antes de
eu ter coragem para procurar um terapeuta especialista em
regressões.
Marquei hora, fui até lá e pensei:
– Eu bem que gostaria, mas duvido que esse homem
consiga me hipnotizar. Ele conseguiu.
Fui regredindo paulatinamente até o instante do nasci-
mento e, depois, até a hora da morte de uma vida anterior,
que, não necessariamente, seria a última.
Quando acessei essa vida, de imediato, entendi o que
meu filho havia sentido em relação a mim no momento que
me aproximei dele no outro dia.
Devido ao fato de estar tão perto da morte, o Le já
apresentava um enfraquecimento das ligações energéticas
com o corpo físico e se encontrava mais próximo da dimensão
extrafísica, conseguindo acessar informações da memória
integral, que preserva dados de outras vidas. Por hipótese,
deduzi que a lembrança emergida trouxe-lhe as sensações
44 • SEM MEDO DA MORTE

de um dos sentidos apenas, o olfato, que era, no caso, quem


carregava a cicatriz mais intensa devido ao trauma vivenciado
naquela vida. Se ele viu imagens, não comentou nada. Na
sua memória, o odor estava impregnado mais fortemente.
Aportar a esse passado, talvez remoto, me fez descobrir
que, naquela vida a causa da morte tinha sido enforcamento.
Eu me suicidara e estava putrefata, pendurada em uma árvore
na mata, quando uma criança me encontrou. Essa criança
devia ter em torno de uns oito anos e era ele. Casualmente
também era meu filho nesta outra vida. Esse episódio mar-
cou profundamente seu sentido do olfato.
Continuando a regressão, durante o processo do enter-
ramento do corpo, podia ler os pensamentos do Le com
clareza. Ele pensava: – Por que ela fez isso se éramos tão
felizes?
Ele não podia entender, nem me perdoar, pelo menos
naquele instante.
Chorei muito, com desespero, no momento da desco-
berta dessas verdades. Sentia fundo na alma o sofrimento
causado àquela criança. Embora as razões para esse desfecho,
o suicídio, tivessem ficado claras – eu era, na época portadora
de uma intensa depressão – exercitar a autocompreensão
e o autoperdão não foi fácil.
Depois da crise de choro, veio o alívio haurido do co-
nhecimento desses fatos, tirando um peso de minhas costas
pela compreensão das razões da atitude do Le.
Tínhamos criado aí, nesse passado remoto, uma con-
juntura que se chama “rabo preso”. Pela minha atitude
e pela sua reação de não aceitação, criou-se um conflito
SEM MEDO DA MORTE • 45
muito grande. Eu sentia culpa pelo sofrimento causado
e ele, mágoa profunda. Sentimentos que unem intensamente
duas consciências. Teríamos que resolver essa situação de
alguma forma no futuro. E tivemos, então, mais uma chance.
Não posso afirmar categoricamente se a vida atual ainda
tinha alguma pendência a respeito desse assunto. Parece que
sim, pois ele surgiu novamente entre nós com essa força
imensa. No entanto, precisaria de mais dados para esclarecer
melhor.
Apesar desse problema do passado e de muitos outros
que certamente existiram, ainda posso dizer que a convi-
vência na vida atual foi algo muito especial. Tínhamos imensa
afinidade. É provável que tenhamos, também, criado ao
longo das muitas vidas compartilhadas uma grande bagagem
de vivências positivas. O trauma, porém, ainda continuava
aí e, em determinado momento, gritou forte.
Depois desse episódio, voltei só uma vez para fazer esse
tipo de terapia obtendo uma rememoração importante sobre
o modo como havia morrido em outra vida e o reflexo no
meu corpo atual, o qual cessou a partir do conhecimento
da causa.
Apesar das preciosas informações obtidas, ainda sentia
insegurança porque havia a influência de outra pessoa, o tera-
peuta, que eu praticamente não conhecia. Muitas dúvidas
estavam na minha cabeça.
Será que podemos sempre confiar no terapeuta? Suas
vivências podem influenciar a nossa experiência? E quanto
à interação energética, o que ocorre? Podemos voltar a uma
experiência para a qual não estamos preparados, ou seja,
46 • SEM MEDO DA MORTE

não temos maturidade para assimilá-la adequadamente e isso


interferir de modo negativo em nossa vida?
Mais tarde, descobri que podia buscar, sozinha, através
de projeções ou saídas do corpo, as informações de vidas
passadas, ou retrocognições10 eliminando a mediação de ou-
tra consciência. Tive mais algumas experiências retrocogni-
tivas com o Le, com bons esclarecimentos.
Acho que vale a pena registrar algo sobre o terapeuta
que orientou minhas regressões. Ele morava em Brasília
e ia algumas vezes a Curitiba dar cursos e atender pessoas.
Ainda não estava assim tão difundida a Regressão a Vidas
Passadas. Havia poucas pessoas que a praticavam em 1990
em Curitiba.
Cinco anos mais tarde, quando morava em Porto Ale-
gre vi uma notícia no jornal: esse terapeuta ia dar uma palestra
na cidade. Comentei com minha vizinha de apartamento
e eis minha grande surpresa quando ela me disse – é o meu
cunhado.
Esse mundo não é mesmo pequeno? Esse fato sugere
uma sincronicidade. Que laços anteriores já nos ligaram ou
que experiências já partilhamos antes dessa para nos encon-
trarmos novamente nesta vida e ele me ajudar num problema
tão crucial?
Fui assistir à palestra, até porque ele fazia uns exercícios
de relaxamento muito bons.

10
Retrocognição: Parapercepção da consciência que lhe permite o acesso
às memórias de fatos, cenas, pessoas, lugares, objetos, sentimentos, emoções
e vivências pertencentes às suas vidas anteriores ou ao período passado
entre essas vidas.
47

AS SINCRONICIDADES

“Todos vivemos sob o mesmo céu, mas


ninguém tem o mesmo horizonte!”
(Konrad Adenauer)

Quando o Le partiu, eu não conhecia nada mais pal-


pável a respeito do que acontecia do “outro lado” conforme
dizem por aí. Possuía um sentimento, uma intuição de que
existiria outra vida. Não podia ser o fim de tudo. Também
não podia engolir histórias do tipo “Juízo Final”. Imagine
alguém ficar esperando, não sei onde, o seu corpo ressuscitar.
Essa ideia deve ter surgido da interpretação equivocada dos
textos bíblicos, onde a linguagem metafórica foi tomada “ao
pé da letra” pelos religiosos.
Ficar para sempre no céu, no inferno ou tempora-
riamente no purgatório também não me convencia. Aliás,
se precisasse optar por uma das três alternativas estaria mal.
O que eu gostaria mesmo era encontrar uma quarta possibi-
lidade para assinalar, ou seja, nenhuma das citadas acima.
O céu devia ser monótono e, também, me parece, lá se leva-
ria uma vida muito religiosa. As outras duas possibilidades
não é preciso nem comentar. Enfim, esses padrões não me
serviam, nem naquela época.
48 • SEM MEDO DA MORTE

Brincadeira à parte, a alternativa que esperava encon-


trar teria de ser algo com mais fundamento, mais concreta,
mais parecida com nosso dia a dia, talvez. Se a gente con-
tinuava existindo, devia manter o mesmo jeito de ser, os mes-
mos interesses.
Onde ficávamos e fazendo o que? Minha ignorância
era enorme.
Eu fazia parte do grande percentual da população que
acredita ser a morte não um fim, mas uma passagem. Uma
passagem para qual destino? Era algo um tanto vago, distante,
irreal. Não tivera nenhuma experiência associada ao tema,
portanto, para mim não havia provas dessa outra realidade.
Era mais um desejo de que existisse, de fato, essa vida no
outro mundo.
Buhlman diz: “A maior parte da humanidade morre
em completa ignorância da sua existência espiritual. Embora
muitas pessoas possuam sólidas crenças religiosas, seu conheci-
mento direto sobre a sua identidade espiritual e a continuidade
da sua existência após a morte é nulo.” 11
Faltava-me o conhecimento direto, extraído da expe-
riência pessoal, mas pelo menos tive o bom senso e muito
amparo12 ao tomar a seguinte decisão – em vez de ficar la-
mentando o ocorrido e sentir pena de mim mesma, concluí:
deveria haver uma explicação plausível e racional para a vida
e consequentemente para a morte, em algum lugar. E eu
chegaria a ela não importando onde estivesse essa verdade.

11
William Buhlman; Aventuras Além do Corpo; p. 135.
12
Amparo: Ajuda de auxiliares invisíveis na dimensão física que trabalham
pelo nosso bem.
SEM MEDO DA MORTE • 49
É sobre este caminho que desejo contar a você. Quan-
do estamos abertos e determinados a encontrar respostas, as
sincronicidades começam a acontecer.
Passo a passo, fui preparando terreno, vencendo meus
temores, permitindo novas ideias e cheguei ao que sei hoje.
Uma pessoa me apresentava à outra, esta conhecia outro
alguém e eu, nessas interações, ia me fortalecendo para as
próximas descobertas, pois não é fácil mudar um modelo
mental no qual toda sua vida está embasada.
Queria muito usar uma frase de grande impacto, den-
tro do meu entendimento, porém, não tenho a mínima ideia
se ela surgiu da minha cabeça ou se alguém a escreveu antes
e não lembrei de anotar a fonte: “Suas experiências o levarão
aonde pretenda chegar” ou seja, se houver firmeza em alcan-
çar determinado lugar ou determinadas ideias, as coisas vão
acontecer para que chegue lá.
Durante os primeiros meses após a partida do Le, um
processo alérgico no rosto me aborrecia muito. Já havia ido
algumas vezes ao dermatologista e as coisas só se resolviam
temporariamente. Resolvi, então, procurar um médico ho-
meopata.
Normalmente, médico homeopata pergunta tudo
sobre a vida da gente, até dos sonhos. Além da turma dos
psi – psicólogos, psiquiatras, psicanalistas – parecem ser as
únicas pessoas a ouvirem nossos sonhos com atenção e curio-
sidade.
Neste caso, iniciei falando a ele que seguidamente so-
nhava com o Le. Eram sonhos muito claros, pois eu fazia
questionamentos, aprendia coisas e, além de tudo, pareciam
ser reais. Como explicar isso?
50 • SEM MEDO DA MORTE

Para responder a essa pergunta, o médico me fez outra:


Gostarias de conhecer mais sobre esse tipo de sonho?
Fazer um curso onde explicassem essas vivências?
Que você acha? Qual foi a resposta? É claro que eu
gostaria de saber tudo sobre o assunto. Já estava preparada
para tal. No outro dia, cedinho, liguei e reservei uma vaga
para o próximo Curso de Projeciologia13. Mal podia esperar
chegar o dia marcado. Parecia criança a espera do aniversário.
Este médico atendia na Travessa da Paz. Serei sempre
grata a ele, não só por ter ajudado a curar o processo alérgico,
ou perder uns quilinhos com a dieta naturalista enfrentada,
mas também pela dica de onde poderia buscar o conheci-
mento necessário para a minha pesquisa e me proporcionaria
a paz de espírito tão almejada.
É impressionante a falta de alcance que temos das ações
praticadas. Mais tarde, em 1994, quando já morava em
Porto Alegre, tive um ímpeto irrefreável de escrever a esse
médico e dizer-lhe todo o bem que me havia feito. Enviei-lhe
uma carta (coisa ainda comum na época) contando o quanto
a minha vida havia mudado depois de conhecê-lo, porém
não sei se ela chegou ao destinatário, pois nunca recebi res-
posta. Até hoje quando penso nele, encaminho-lhe as minhas
melhores energias.

13
Projeciologia: Ciência que trata da passagem da consciência para o estado
projetado; que estuda a experiência fora do corpo físico.
51

DESCOBRINDO OUTRO PARADIGMA

“O que consideramos como nossa vida, não é nada


mais do que um dia da nossa vida como alma”.
(C. W. Leadbeater)

Voltemos um pouco a um dos assuntos do capítulo


anterior. Continuava eu no consultório médico narrando
os sonhos. Veja um deles, por exemplo, que tive pouco tempo
depois do Le ter partido desta dimensão:
Encontrava-me próxima da entrada de um hospital
e sabia – não me pergunte como – que não deveria entrar
ali. Mesmo assim insisti. Esperei a enfermeira desaparecer
no corredor e entrei me esgueirando. Imediatamente, estava
no quarto do Leandro. Ele, embora fosse um paciente e esti-
vesse na cama do hospital, parecia estar bem. Sua cabeça
conservava a grande cicatriz da última cirurgia no lado di-
reito, e ele ainda não recuperara os cabelos perdidos na radio-
terapia.
Conversávamos, enquanto eu analisava o ambiente.
Era um quarto amplo e muito limpo. Tudo era branco. Havia
uma grande janela mostrando uma vista esplendorosa
e emoldurando a montanha, ao longe, coberta pelo verde
das árvores. Pude sentir a serenidade do ambiente.
52 • SEM MEDO DA MORTE

Ele disse:
– Pode ficar tranquila, estão cuidando muito bem de
mim.
Neste momento, notei que não usava mais a sonda para
se alimentar e senti-me aliviada. Vê-lo preso à sonda sempre
fora um tormento para mim. Acordei leve e feliz por tê-lo
encontrado. O local onde o encontrei parecia ser bom
e, pelo jeito, estava bem atendido e tranquilo.
Eu estava era cheia de perguntas.
Seria mesmo só um sonho? Tudo me parecera tão real.
Mas, se não era um sonho, o que era afinal? Onde eu poderia
ter andado?
E por que a sensação de saber que não deveria entrar
ali? Hoje sei, não é o ideal perturbarmos as pessoas que estão
se recuperando na outra dimensão, logo após a sua chegada.
Eles também têm dificuldades de adaptação a enfrentar
e o nosso apego e sofrimento não ajudam em nada.
Agora sim, vamos falar do curso para o qual me ins-
crevi na ocasião e pelo qual esperava tão ansiosamente. Quan-
do o professor entrou na sala de aula e começou sua expli-
cação, tudo fez sentido. Aqueles conceitos se encaixavam
e se ajustavam às ideias inatas que eu trazia acerca da lógica
do mundo. Um universo novo se abria, porém, lá no fundo,
bem dentro de mim, era como se eu já soubesse sobre o que
ele estava falando. As ideias, apenas, não tinham ainda
aflorado, se tornado objetivas. Antes, eu estava no estágio
do sentir, do intuir e este curso inverteu a fórmula – passei
a pensar mais, a compreender mais.
SEM MEDO DA MORTE • 53
– Você me entende? Já passou por algo semelhante?
As ideias que transformaram a minha vida estão ba-
seadas, principalmente, nos livros que tratam de uma nova
ciência: a Conscienciologia14 e, muito especialmente, no
Tratado de Projeciologia15 de Waldo Vieira, médico, pes-
quisador e sistematizador dessas linhas de pesquisa sobre
a Consciência. Esse livro, pelo qual tenho um apreço especial,
hoje está na quinta edição, mas o conheci na primeira edição
de 1986. Ele representou um papel de divisor de águas:
o mundo conhecido por mim antes e o novo que se des-
cortinou diante de meus olhos.

14
Conscienciologia: O estudo científico da consciência de maneira integral,
considerando todos os seus corpos, dimensões em que ela se manifesta,
existências e interações energéticas.
15
Waldo Vieira; Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência
Fora do Corpo Humano; 1999.
54

CONSCIÊNCIA EM SEGUNDO PLANO

“O homem está sempre disposto a negar tudo


aquilo que não compreende.”
(Blaise Pascal )

Até descobrir a Conscienciologia minha maior pre-


ocupação era com o meu corpo físico e o medo de perdê-lo,
pois ele significava, praticamente, tudo: era sinônimo da mi-
nha vida. Sem ele o que restaria?
Restaria a alma ou a consciência num segundo plano,
representando algo abstrato, distante, sobre a qual eu pouco
sabia, a não ser o fato mais marcante de que ela parecia
continuar depois da morte. Mas ela fazia o quê pela eter-
nidade afora?
Sempre pensava: é melhor deixar esse assunto para
outra hora e a consciência ou alma era apenas um trunfo
guardado, o qual eu poderia lançar mão em algum momento
de necessidade, o que originava certa tranquilidade. Mas
essa não era uma acalmia falsa? De que maneira algo tão
pouco conhecido poderia tranquilizar-me? Existia aí um
paradoxo.
Pouco adiantava acreditar na existência de uma cons-
ciência se não era capaz de saber quem ela era ou o que
poderia fazer depois de não ter mais o corpo físico.
SEM MEDO DA MORTE • 55

Descobri, na prática, que a vida engloba muito mais


do que esse corpo tão prezado. Ele é somente a ponta visível do
iceberg, a mais descartável. A vida que ainda não vemos e da
qual sabemos muito pouco é imensa e reveladora. Ela é re-
presentada pelos outros três corpos usados pela consciência
para se manifestar: o corpo energético, o corpo das emoções
e o corpo mental (ver figura na página 56).
A consciência..., mas o que é a consciência?
É a nossa essência, a nossa individualidade, o nosso
eu, construído ao longo de milhares de vidas e é muito mais
abrangente do que nosso ego atual.
A consciência sobrepõe-se ao cérebro porque continua
sua caminhada quando já não o possui mais. Sendo um
elemento tão avançado e complexo, ela necessita de corpos
apropriados para manifestar-se e cada um deles tem a fre-
quência certa para a dimensão na qual pretende interagir.
O melhor exemplo que já ouvi até hoje para explicar a multi-
veicularidade, ou a existência dos diversos corpos ou veículos
foi a seguinte comparação: na terra o veículo mais apropriado
à locomoção é o carro, na água é o barco, no ar é o avião.
O mesmo ocorre com a consciência. Ela tem à mão os ins-
trumentos mais adequados para se expressar em cada di-
mensão.
O corpo físico, também chamado soma pela Medi-
cina, é próprio para ser usado na dimensão material ou física.
Esse, nós conhecemos bem ou, pelo menos, nos esforçamos
para nos manter atualizados. Nosso alvo são sempre as últimas
pesquisas da ciência.
56 • SEM MEDO DA MORTE
SEM MEDO DA MORTE • 57
E onde permanecem os outros veículos utilizados pela
consciência?
No corpo físico, iguais aquelas tradicionais bonecas
russas, geralmente de madeira, chamadas matrioskas que se
encaixam umas dentro das outras.
Mas você sabe – aprendeu ainda quando criança –
dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao
mesmo tempo. A não ser que estejam em diferentes dimen-
sões ou frequências.
A maioria da humanidade só está lúcida e ligada no
corpo físico e ele aparenta ser a única realidade. Em verdade,
acreditamos na matéria porque a podemos ver e tocar, expe-
rimentar com os cinco sentidos.
William Buhlman diz: “Nós supomos que nosso meio
físico é estável, e embasamento sólido para a realidade. Vemos
densidade e forma como prova definitiva do real. Mas e se
nossas suposições estiverem erradas? E se a realidade for
completamente relativa ao ritmo vibratório do observador?” 16
Se estivermos nos apresentando com outro corpo, que
não o físico, em outra dimensão, esse corpo terá a solidez
necessária ao ambiente em que está se manifestando. Por
isso costumamos ouvir muito por aí: – “era um sonho, mas
parecia tão real”.
Para você entender melhor contarei uma experiência
acontecida comigo:

16
William Buhlman; Aventuras Alem do Corpo; p. 83.
58 • SEM MEDO DA MORTE

Passei a sentir algo muito intenso pelo corpo. Chegava


até a incomodar e concluí ser essa percepção um estado
vibracional17. Pensei:
– Já senti outros estados vibracionais assim fortes,
porém, não na vigília física ordinária.18 Nesse momento,
parecia claro estar acordada.
Vi a porta do meu quarto ser aberta e entrarem quatro
pessoas: duas crianças, uma mulher e um homem de batina
preta. A mulher e as crianças permaneceram próximas de mim.
Gostaria de saber o que aquelas pessoas estavam
fazendo no meu quarto a essa hora da manhã. Na verdade,
era o horário em que costumo fazer uma tarefa de doação
de energias, no entanto, não entendi o fato de as consciências
estarem ali a fim de receber a assistência necessitada. Apenas
resolvi testar para ver se eram pessoas reais ou se eu estava
sonhando. Toquei o menino e achei-o tão sólido, logo concluí
estar mesmo acordada, interagindo no mundo físico. Nesse
momento despertei.
Havia cometido um enorme erro de interpretação.
Durante todo o tempo, o corpo estava dormindo e a minha
consciência estava desperta. Desperta, mas bem confusa sem
perceber estar projetada fora do corpo físico. Sequer entendi
ou me assustei com aquelas visitas inesperadas e desco-
nhecidas, em horário e local tão inusuais para se receber

17
Estado Vibracional: Condição na qual o corpo energético e o corpo das
emoções (psicossoma) aceleram suas vibrações ao máximo e as repercussões
são sentidas no corpo físico, por exemplo: forte vibração de energia da
cabeça aos pés.
18
Vigília Física Ordinária: Estado de quem está acordado e com o predomínio
de ondas cerebrais Beta.
SEM MEDO DA MORTE • 59

alguém. A não ser que elas estivessem ali projetadas, se mani-


festando com outro corpo que não o físico e a finalidade
fosse receber a assistência energética costumeira – o que não
me passou pela cabeça em momento algum. Há uma grande
possibilidade também de que fossem consciências que já pas-
saram pela morte biológica.
Pelo vivenciado e constatado através das experiências
projetivas, as pessoas que perderam o corpo físico vivem num
mundo, absolutamente real e palpável para elas.
O corpo usado pelas consciências para se manifestar
na dimensão extrafísica é praticamente igual, na aparência,
ao corpo físico, porém muito mais sutil, mais leve. É co-
nhecido popularmente como: alma, espírito, perispírito
e até fantasma pela sua aparência mais diáfana para nós,
ainda vivendo aqui na dimensão intrafísica, e por ser o corpo
que portam as consciências chamadas de mortas.
Esse corpo das emoções ou psicossoma, quando liberto
do corpo físico, tem extrema dificuldade em dissimular as
emoções, as quais brotam espontaneamente. Portanto, des-
coincidir (deixar o próprio corpo físico) é estar na vitrine em
relação aos nossos sentimentos verdadeiros.
Você já pensou nisso? Está preparado para mostrar
quem você realmente é? E os preconceitos, os apriorismos,
os bairrismos, a inveja, a raiva e tantos outros sentimentos
negativos do coração humano? Em que dose ainda os temos?
Importante é refletir sobre as intenções e o nível de
sinceridade apresentada por nós e manifestado pelo psicos-
soma.
60 • SEM MEDO DA MORTE

Deu para perceber a importância de não ser engolido


pelas emoções no dia a dia? Vamos, sim, tomar as rédeas
e dominá-las, ou seja, usar a razão para entender o que acon-
tece, de maneira mais lúcida, sem ser arrastado pelo torve-
linho. O produto resultante será sentimentos mais serenos
e ponderados.
Continua, ainda, muito em moda louvar as grandes
emoções e deixá-las aflorar. No entanto, inúmeras vezes elas
são causas de arrependimentos logo a seguir.
Qual o seu posicionamento sobre esse assunto?
Um dos motivos pelos quais voltamos aqui na Terra
para continuar o processo evolutivo é justamente o apren-
dizado quanto às emoções, o qual ocorre mais eficientemente
quando se tem um corpo humano para disfarçá-las e refreá-
-las, ou seja, a capacidade para responder ao pensamento
está um pouco amortecida.
Os veículos da consciência são quatro (4): corpo físico
(soma), corpo energético (energossoma), corpo das emoções
(psicossoma) e mentalsoma. Já expliquei sobre o soma e o psi-
cossoma, agora vou falar sobre o corpo energético, composto
pelos chacras principais e secundários que perpassam todo
o soma (ver figura na página 62). Ele já é assunto mais con-
hecido e também mais aceito por grande parte das pessoas.
Muitas terapias, hoje chamadas complementares, fun-
damentam-se no corpo energético e, quando a coisa aperta,
ou melhor, quando o assunto é manter a saúde sabemos que
a humanidade tende a ficar mais aberta e receptiva a novas
experiências. Expande-se um pouco o paradigma. Colo-
ca-se um pé lá e outro cá, conforme dizem por aí. Busca-se
SEM MEDO DA MORTE • 61
a Homeopatia, a Acupuntura, a Reflexologia, o Reiki, en-
fim, os vários tipos de tratamentos existentes.
Nesse momento, o processo energético será bem valori-
zado, no entanto, logo após a melhora física, muitas vezes,
será completamente esquecido.
Sem o corpo energético não seria possível nossa vida
neste planeta porque ele é quem faz a ligação entre o corpo
físico e o das emoções.
A consciência não adentra a carne. Ela se mantém em
contato através do corpo energético. A energia transita livre-
mente entre os vários corpos através dos chacras e mantém
a nossa vitalidade.
Você já experimentou olhar para alguém que esteja
em frente a uma parede bem clara, de preferência branca,
com o olhar desfocado, procurando não piscar e tentou se
concentrar para ver o corpo energético dessa pessoa? Outra
técnica interessante é fitar concentradamente suas próprias
mãos contra uma folha branca de papel. Experimente. Tudo
é uma questão de treino.
O mentalsoma é o veículo mais evoluído de todos
porque é o corpo das ideias. É um corpo sem forma, apenas
um ponto luminoso.
E como sabemos da sua existência?
Porque podemos projetar-nos para fora do corpo físico
portando apenas esse veículo. Não enxergamos a sua forma,
mas compreendemos tudo que se passa. As ideias se expan-
dem, somos capazes de ver, ouvir tudo e até de sentirmo-
nos unos com o universo. Quando projetados de mentalsoma
62 • SEM MEDO DA MORTE
SEM MEDO DA MORTE • 63
experimentamos uma grande serenidade que os outros
veículos não são capazes de proporcionar. Veja um trecho
do livro Projeções da Consciência, página 184 19 " ...encontro-me
consciente e enxergando tudo, sem estar completamente corpo-
rificado, em cima e atrás de mim mesmo. Sou uma consciência
sozinha, separada de tudo, incorpórea e viva. E foi aí que con-
segui conscientizar-me da extensão da realidade, afirmando
para mim mesmo:
– Eis uma prova das possibilidades e da existência do
mentalsoma que se desloca sozinho! Sou realmente “eu” incor-
póreo! Estou só no mentalsoma com a consciência móvel dentro
do meu quarto!”
Projeções de mentalsoma são fatos mais raros de acon-
tecer. Geralmente ocorrem quando a consciência apresenta
um bom nível de maturidade, um domínio maior das emo-
ções.
O mentalsoma da maioria das pessoas, no entanto, não
apresenta esse padrão de equilíbrio. Suas ideias são desor-
ganizadas, imaturas, inadequadas ou patológicas e, natu-
ralmente, gerarão sentimentos desequilibrados os quais irão
refletir esse modelo mental. Pensamentos e sentimentos de-
monstrando esse tipo de entropia originarão bloqueios ou
fugas energéticas pelos chacras. Está vendo a interligação
íntima entre as coisas?
Cada chacra se relaciona a algum órgão do corpo físico
e, se ali não flui corretamente o combustível mantenedor da
vitalidade, isso ocasionará uma doença. A doença é, portanto,

19
Waldo Vieira; Projeções da Consciência; p.184.
64 • SEM MEDO DA MORTE

o resultado deste efeito dominó. Inicia com o pensamento


em desequilíbrio, contamina as emoções, as quais refletem
esta energia nos chacras, terminando por atingir o corpo
físico, em um órgão mais sensível.
Felizmente a Medicina já está um pouco mais aberta
para falar desse efeito dominó, tabu até bem pouco tempo.
Só se tratava os sintomas e não se admitia outra possibilidade.
65

SEPARANDO OS VEÍCULOS

“De consciência alerta, com a atenção, comparação


e juízo crítico aptos para todas as operações psíquicas,
experimentei o estado vibracional e decidi firmemente
sair do soma na vertical. Depois de algum tempo,
percebi a saída da consciência para cima, sobre
a cabeça intrafísica.”
(Waldo Vieira)

Mais ou menos um ano antes de conhecer a Conscien-


ciologia em 1991, fiz um curso chamado “Poder da Mente”.
E foi aí, pela primeira vez, que ouvi falar, embora muito
rapidamente, sobre a consciência poder deixar o corpo.
Minha curiosidade foi despertada, mas, logo a seguir, blo-
queada pelo medo. O professor frisou bem: – algumas pes-
soas faziam isto, porém era muito perigoso. Poderia não se
voltar mais ao corpo e, também, não se sabia onde se ia parar.
E não deu maiores explicações. Mudou de assunto. Ninguém
insistiu, pois parecia haver um perigo iminente no ar.
Felizmente me livrei desse peso e descobri que a pro-
jeção da consciência é um processo natural, psicofisiológico.
Quando dormimos, ou relaxamos profundamente, nossos
corpos começam a descoincidir. O corpo físico dorme por-
66 • SEM MEDO DA MORTE
SEM MEDO DA MORTE • 67
que assim se recupera da fadiga, os outros corpos, enquanto
isso, podem seguir atuando em outra dimensão.
O sono é semelhante à morte biológica porque separa
os veículos de manifestação da consciência e a carrega para
a dimensão extrafísica. Esses veículos, porém, ficam ligados
ao corpo físico através de um cordão chamado cordão de
prata que mantém a vitalidade do soma quando a consciência
está fora dele.
Quanto a não se voltar mais ao corpo, quem já expe-
rimentou a projeção consciente sabe a dificuldade que
é permanecer projetado. Qualquer incômodo, físico ou
extrafísico ou qualquer espécie de emoção mais forte, seja
ela boa ou má, nos traz de volta “instantaneamente”. A maior
parte da humanidade não possui um nível evolutivo capaz
de lhe dar o poder da decisão sobre a permanência fora do
corpo de horas e horas. A maioria das projeções é bastante
rápida.
E sobre o fato de não saber onde vamos parar quando
projetados?
Na realidade, vamos parar nos lugares com os quais
temos afinidade de pensamento, de sentimento e energia,
ou seja, os da mesma frequência vibratória nossa. Quando
tivermos o pensamento sereno, otimista, fraterno, iremos
a determinados lugares. Agora se tivermos raiva, ou ganas
de brigar, se estivermos cheios de preocupações, vendo
apenas o lado ruim das coisas iremos encontrar lugares onde
as pessoas trazem consigo pensamentos afins.
De modo indireto, cada qual escolhe aonde vai parar.
Ao fazermos a evocação de certas pessoas antes de dormir,
68 • SEM MEDO DA MORTE

a chance de encontrá-las é bem maior do que a outras. Nos-


sos medos, também, são atratores a determinados lugares.
Enfim, partirá de nós o sentimento que fará a ligação ao lu-
gar aonde iremos visitar.
Segundo relatos de projetores mais lúcidos, durante
a projeção ou descoincidência, o psicossoma pode continuar
dormindo na outra dimensão. Ele permanece deitado, logo
acima do corpo físico, na mesma posição desse. Ainda, não
encontrei ninguém assim. Minhas experiências restringem-
se aos sonâmbulos que perambulam por aí sem saber o que
fazem.
Em algumas delas, encontrei meu marido neste estado
sonambúlico e tentei mostrar a ele que estávamos projetados
e poderíamos volitar (voar), no entanto, não logrei êxito.
Até o convidei para voltar ao corpo e acordar imediatamente.
Queria lembrar-me de tudo e ver o que ele tinha registrado.
Voltei naquela hora e acordei. Ele não.
Pequeno percentual de pessoas lembra-se de ter esta-
do fora do corpo com lucidez. Quando eu digo – com lucidez,
me refiro a uma elevada porcentagem de compreensão e cla-
reza da consciência, capaz de entender, naquele momento,
que o seu corpo físico está dormindo na cama, ou seja lá
onde for, e ao mesmo tempo analisar que está fora dele por-
tando um outro corpo semelhante ao soma, porém com
muito mais possibilidades. Por exemplo: pode atravessar as
paredes sem problemas, mudar a sua aparência extrafísica
ou agir igual ao homem borracha, pois apresenta os atri-
butos da plasticidade, da elasticidade.
Na projeção “lúcida” a pessoa analisa o que acontece
a sua volta. Pode mudar a experiência, de acordo com
SEM MEDO DA MORTE • 69
a vontade e, em geral, volita em vez de caminhar. O que traz
uma sensação de paz indizível. Nada melhor do que acordar
depois de uma boa volitação.
Esse processo é bem diferente do sonho, no qual não
sabemos quem somos, nem temos controle das situações, po-
dendo elas serem as mais absurdas. Sempre ouvi dizer que
não sonhamos, mas somos sonhados devido a essa incapa-
cidade para controlar os acontecimentos.
A situação mais comum, porém, é a do sonho lúcido,
equivalente a uma projeção semiconsciente. As vivências são
muito reais, até bastante lógicas, nossa vontade predomina
só não sabemos estar fora do corpo. Em quase todas as expe-
riências narradas até agora, isso aconteceu.
Tenho registro de muitos experimentos demonstrando
plena lucidez de estar projetada, inclusive percebendo a saída
e a volta ao corpo, porém, comparadas ao número das expe-
riências semilúcidas foram poucas.
A lucidez, ou clareza do pensamento, pode começar
a acontecer quando o nosso psicossoma já está (pouco ou
muito) afastado do corpo físico – a consciência que estava
adormecida ou inconsciente – desperta, de repente, sem
ter percebido a saída do corpo. Vem daí a dificuldade para
ver que estamos portando o psicossoma e não o soma, porque
não presenciamos o descolamento, a soltura e o afastamento
havido entre eles. Por tudo que já li, pelas experiências de
amigos e colegas e pelos registros em meu diário de projeções,
só posso dizer: essa é a situação mais comum. Já, a volta ao
corpo é mais fácil de ser percebida.
Raras são as pessoas que, iguais ao professor Waldo
Vieira, citado no início do capítulo, têm controle sobre sua
70 • SEM MEDO DA MORTE

saída lúcida fora do corpo. Tem muita gente fazendo esforço


para chegar a esse patamar atualmente, através de cursos,
laboratórios, tecnologias.
Certa vez, aconteceu comigo uma dessas experiências
que nos confundem quanto à dimensão e o veículo utilizado.
Acho que vale a pena contar a você.
De repente, afastei as cobertas e me levantei. Só neste
momento, olhei o relógio digital e vi: eram apenas 6 horas
e cinco minutos. Imaginei como poderia contornar a situ-
ação. Era muito cedo para levantar num sábado e, nessa hora,
ainda devia estar atuando na doação de energias, que é pra-
ticada por mim todos os dias: a tarefa energética pessoal.
– Quem sabe volto a deitar?
E respondi a minha própria indagação:
– Não adianta mais, já interrompi minha tarefa mesmo.
– Será que os amparadores me acordaram mais cedo
a fim de eu ter mais tempo para estudar, pois vou dar aulas
hoje pela manhã e a tarde? Vou aproveitar e dar uma revisada
na matéria.
Decidi permanecer acordada.
Fui ao banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes, me
penteei. Usei o banheiro da minha filha, pois não queria
acordar meu marido.
Quando passei pelo corredor, vi a porta do meu quar-
to de dormir aberta, o que me causou estranheza, pois ainda
há pouco a havia fechado quando passei para o quarto au-
xiliar, utilizado para fazer a doação de energias. Também
SEM MEDO DA MORTE • 71
ouvia muitas vozes, principalmente de crianças, e não en-
tendia por que isso estava acontecendo naquela hora, em
pleno sábado.
– Será que as vozes vinham do vizinho?
Elas davam a impressão de estar tão perto, pareciam
até originadas dentro do meu apartamento. Entretanto, eu
não via ninguém.
Concluí estar um pouco descoincidida nos meus
veículos de manifestação da consciência – a chamada des-
coincidência vígil – por isso ouvia as vozes. E me preocupei.
– Será que o fato de estar ouvindo coisas de outra
dimensão não iria me atrapalhar para dar aula?
Depois de muitas atividades, as quais não notei serem
extrafísicas, acordei. Agora, de fato, com o corpo físico.
Afastei o cobertor e me levantei. Olhei novamente
o relógio digital – eram 6h30m e voltei para o que chamamos
de realidade – uma realidade bem restrita. Eu havia estado
projetada desde as 6h05min, fazendo todas aquelas tarefas
sem me dar conta do que realmente acontecia.
Entenderam a dificuldade de não sentir a saída do
corpo e as confusões que isso pode vir a criar? Muitas vezes,
só nos damos conta de que estivemos projetados quando
voltamos e acordamos.
Pode ocorrer também que, embora o corpo físico esteja
no bom do sono, a consciência desperte ainda dentro dele
e perceba o processo da saída. Por exemplo, uma intensa
vibração produzida pelo aumento da frequência das energias
e as partes do psicossoma se soltando, as mãos, os braços, as
72 • SEM MEDO DA MORTE

pernas, a cabeça, enfim todo ele, enquanto podemos ouvir


barulhos internos, chamados sons intracranianos, causados
por este descolamento dos outros corpos, assemelhando-se
a um velcro se abrindo.
Se você está deitado de costas ou decúbito dorsal, o que
sucede com mais facilidade é a saída para cima. Pode ocor-
rer também a saída para baixo, por afundamento. Rolar para
o lado, na horizontal, também é uma possibilidade. Enfim,
pode até dar cambalhotas para deixar o corpo, mesmo não
sendo você adepto da ginástica olímpica. Eu já me vi até
saindo pela cabeça, tendo a sensação de ser puxada para
trás e para cima.
Difícil de acreditar? Muito bem, pois não é para você
acreditar em nada. Apenas mantenha uma postura de abertis-
mo em relação às ideias, o senso crítico, a tranquilidade e bus-
que a sua verdade através da própria pesquisa exaustiva e prá-
tica. Não tenha medo de experimentar e pergunte-se: qual
é a base para sua atual crença? Será que suas premissas estão
corretas?
Experimentar é uma viagem que vale a pena.
73

RENOMEANDO OS SONHOS

“A verdadeira viagem de descoberta não consiste


em sair à procura de novas paisagens, mas
em possuir novos olhos.”
(Marcel Proust)

Quando descobri a possibilidade da consciência sair


do corpo e interagir em outra dimensão, ficou claro: o que
eu pensava serem apenas sonhos, eram projeções nas quais
me encontrava, realmente, com o Leandro. Aos poucos, notava
ser ele possuidor de um bom conhecimento sobre as coisas
da dimensão extrafísica, verdades essas que eu somente agora
descobria. Esse adolescente já recobrava, pelo menos em
parte, a sua memória integral composta de dados armazena-
dos ao longo das muitas vidas. Teria ele já recuperado o nível
de lucidez apresentado antes de passar pelo restringimento
produzido pelo corpo físico?
E por que necessitamos esquecer tudo que já fizemos
ou fomos no passado?
É uma questão de lógica e sabedoria. Pensemos: qual
o nosso nível de maturidade atual? Será que somos um exem-
plo de pessoa em todos os momentos? E estamos exibindo,
hoje, um maior percentual de experiências e o nosso melhor
74 • SEM MEDO DA MORTE

desempenho no processo evolutivo. O que ficou para trás


possivelmente deixa muito a desejar – éramos ainda mais
inexperientes. Então, é melhor esquecer temporariamente
até nossa maturidade permitir lidar de modo mais adequado
com as situações passadas.
Voltando às minhas experiências noturnas... elas pare-
ciam muito reais. Somente as pessoas que passam por elas
sabem como é. O nível de lucidez, no entanto, não era bom
o suficiente para me fazer ver que minha atuação se dava
em outra dimensão e eu possuía um corpo, deitado lá na cama,
esperando pela minha volta a qualquer momento, o que
demonstrava visivelmente a influência preponderante da
dimensão física sobre mim.
Fico a pensar se minhas primeiras vivências aconte-
ceram dessa forma, com pouca clareza de certos fatos, para
que eu não ficasse assustada naquele momento. Imagine só,
me ver saindo do corpo lucidamente sem ter conhecimento
da maneira como isso funcionava.
Como seria minha reação? Seria de tranquilidade ou
de muito medo, talvez pensando ter morrido naquele ins-
tante? São muitos os casos em que as pessoas ficaram trau-
matizadas pela impressão de estarem morrendo. Prefiro
pensar na hipótese dos amparadores terem me ajudado para
a aprendizagem ocorrer aos poucos. Assim era mais fácil de
aguentar.
Em uma das mais emocionantes projeções acontecidas,
o Le se apresentava igual a um garoto de mais ou menos
doze anos e fiquei muito surpresa pelo fato de ele estar com
a aparência diferente da apresentada quando da sua morte.
SEM MEDO DA MORTE • 75
Quando partiu para a outra dimensão, ia completar dezesseis
anos e já estava se transformando num adulto. Lendo os
meus pensamentos, ele, telepaticamente, respondeu:
– Não sabe que aqui posso ter a aparência que eu quiser?
Nesse momento, transformou-se num bebezinho e acon-
chegou-se ao meu colo. A emoção foi tanta que retornei
imediatamente ao corpo físico, trazendo aquela sensação de
queda brusca que nos acomete algumas vezes, à noite e não
sabemos o porquê. É, justamente, a volta rapidíssima e não
consciente (ao corpo) a causadora dessa estranha sensação.
Em alguns casos, ocorre, também, ligeira taquicardia.
Em outra ocasião quando fui me deitar, tinha uma
certeza: naquela noite ia encontrar com o Le. O fato de ex-
perimentar toda essa segurança sobre algo ainda não concre-
tizado pode ter acontecido devido a uma evocação muito
intensa da minha parte, trazendo o Le para estar próximo
de mim e eu percebê-lo intuitivamente.
Outra hipótese: meu parapsiquismo poderia ter capta-
do alguma presença, talvez de amparo, me antecipando
a experiência. Alguém chegou a outras hipóteses?
O que eu previa aconteceu.
Lá estava eu junto a ele. Causou-me estranheza a sua
forma física: os olhos muito verdes, a pele bem bronzeada
e mais, estava adulto. Tudo diferente da última vida, quando
seus olhos eram castanhos, a pele era clara e estava apenas
na adolescência. Eu, no entanto, não tinha nenhuma dúvida
– era ele. E eram, principalmente, os olhos que me conven-
ciam através da energia emanada.
76 • SEM MEDO DA MORTE

Lembro-me de estarmos conversando por telepatia (só


depois tive a certeza), sentados à volta da mesa existente no
local, de frente um para o outro. Primeiro me dirigi a ele
usando a expressão “meu filho”, mas soou tão possessivo.
Chegou a me fazer mal. A palavra “meu” representava a ideia
de que aquela consciência me pertencia.
Já havia aprendido no curso de Conscienciologia que
as consciências exercem determinados papéis em cada vida
e os laços afetivos estão sempre a mudar. Ninguém é dono
de ninguém. Uns apenas colaboram no aprendizado dos
outros representando certos personagens dentro dos con-
textos da vida humana. Tomei-lhe a mão e disse:
– Quero que você seja uma consciência livre, no sen-
tido de não estar preso a esses laços afetivos e ao nosso sofri-
mento.
Ele repetiu:
– Livre?
– Sim. Disse-lhe saber da condição de filho ser apenas
passageira e não querer me apropriar disso. Ele, delicadamen-
te, me explicou:
– No início, você me perturbava, negando-me a liber-
dade através do seu forte apego, mas agora a sua harmonia
é grande.
Questionei por que ele não aparecia ao pai, só a mim
e aos irmãos. Argumentei: – Se você explicasse tudo e tentasse
convencê-lo, seu pai deixaria de ser tão cético a respeito des-
sas vivências.
SEM MEDO DA MORTE • 77
Ele sorriu, aquele sorriso habitual e encantador, e disse:
– Cada um tem o seu tempo. Não está certo se intro-
meter.
Depois disso, lembro de estar em pé, de costas para
ele e ter pensado em fazer-lhe uma pergunta sobre uma
amiga minha. Imediatamente recebi a resposta e compreendi
que a conversa era mesmo telepática. A comprovação desse
fato me trouxe boa dose de euforia.
Depois disso, estávamos sentados lado a lado num sofá
e eu desejava saber como era o lugar onde ele estava. Ele
titubeava. Eu insisti:
– Conta só um pouquinho... e, fiz o gesto com os dedos
polegar e indicador para mostrar isso.
Pretendia saber o que ele já sabia, o quanto já tinha
evoluído. Como era a paz desse lugar. Ele me disse:
– Na enfermaria em que estou...
Minha cabeça girou, entrei em pânico. Jamais pensei
que ele poderia estar ainda numa enfermaria. Já haviam se
passado três anos no tempo terrestre. Acordei. Apesar do final
traumático, originado pela minha imaturidade, sentia-me
extremamente feliz. Uma sensação de paz indescritível
transbordava do meu coração. E passei assim os próximos
dois dias.
Parece uma reação contraditória: afinal a última cena
havia me causado um choque. Por outro lado, compar-
tilháramos ótimos momentos e havia testemunhado seu
estado atual, que demonstrava ser ótimo. Ele dava a impres-
são de estar lúcido e sereno.
78 • SEM MEDO DA MORTE

Em outra experiência, bem anterior a esta registrada


acima, vi o Le carregando livros e ele me disse estar estu-
dando. Eu, na época, desconhecia completamente ser possí-
vel alguém ler, estudar ou fazer cursos na dimensão extrafísica
e tive momentos de dúvida. Seria algo só do meu sonho?
Depois, lembro de ficar admirada. Quando acordei,
procurei me informar sobre esta possibilidade e descobri
que, de fato, podemos fazer quase tudo na outra dimensão,
porém uma das melhores formas de aproveitar o tempo
e continuar no processo evolutivo é estudando.
Podem ocorrer experiências projetivas onde alguma
consciência se faça passar por outra através da autotrans-
figuração. Em janeiro de 1996 aconteceu uma desse tipo.
É uma experiência mesclada com onirismo, mas serve para
ilustrar.
Eu estava fora de casa e o meu marido veio me buscar.
No carro, ele me contou que o Leandro tinha voltado para casa.
Lembro-me de ter ficado cética.
– De que modo você explica esse tempo todo de
ausência?
– O Le está contando histórias fantásticas. Inventando
coisas estranhas.
Quando cheguei quis logo vê-lo. Aparentava ser um
menino crescido e brincava junto ao irmão. Eu disse:
– Le, vem dar um abraço na mãe.
Aquela consciência fazia de conta que não escutava
minhas palavras. Em nenhum momento, virou-se de frente
SEM MEDO DA MORTE • 79
para mim. Não me encarava. Saiu dali. Fui atrás dela e pedi,
outra vez, para vir me dar um abraço. Fugiu novamente.
Eu tinha certeza – aquele menino não era o Leandro.
Era um ser carente querendo usufruir de nossas energias,
uma consciência assediadora20 tomando as formas dele.
E este ser sabia que não poderia me abraçar porque minhas
energias conscienciais iam desmascará-lo completamente. Ele
não aguentaria minhas energias. Ao abraçar-me voltaria
a sua forma original.
Tive muitos encontros com o Le, porém muito menos
do que o meu egoísmo gostaria. A maioria deles recheados
de muita emoção e faltando lucidez. Pude abraçá-lo, beijá-
-lo e, talvez, em razão da constante presença da emoção, um
dia, quatro anos depois da sua morte aconteceu a seguinte
experiência:
Fui interceptada por uma consciência apresentando uma
aparência serena de um homem de bastante idade. Ele per-
guntou:
– Procura pelo Leandro?
– Sim.
Sugeriu-me desistir da minha busca, pois o Leandro
se encontrava em preparação para voltar à Terra. Segundo
a Conscienciologia, podemos dizer que estava na fase de
programação a fim de ganhar um novo soma e poder resso-
mar ou renascer, necessitando concentração e paz a fim de
escolher o melhor para sua próxima vida.

20
Consciência assediadora: Consciência que exerce ação negativa direta ou
indireta sobre outra.
80 • SEM MEDO DA MORTE

Sofri um impacto e voltei ao corpo frustrada.


Decepcionei-me porque, na minha imaturidade (de
novo!) achava cedo para ele voltar, embora eu não soubesse
quando isso ocorreria. Aquele homem disse apenas que ele
estava se preparando.
– Qual é o tempo de duração dessa atividade para
a consciência se tornar apta a voltar aqui, ao mundo físico?
Varia muitíssimo. As necessidades de cada um são dife-
rentes e depende do que a consciência vai realizar na sua
próxima existência.
Passou-se um longo tempo e não tive mais experiências
com ele, pelo menos nenhuma rememorada. Só em fevereiro
de 1997 aconteceu outra projeção na qual o abracei de-
morada e intensamente. Sentia tanta saudade e sussurrei
alguma coisa ao seu ouvido, que não lembrava ao acordar.
Durante a projeção sentia uma estranha sensação de
que uma experiência igual a esta já havia ocorrido antes
e eu não deveria estar à procura dele. Também, parecia claro
que alguém não deveria saber deste nosso encontro.
Se no final do ano de 1994, já me haviam pedido para
não procurá-lo mais, talvez venha daí a impressão de estar
fazendo o que não devia. Estaria ele ainda em fase prepa-
ratória? Qual seria o tempo de demora da sua programação
para a retomada de outro corpo?
O fato é que acordei logo em seguida sentindo uma
espécie de êxtase, um bem estar por tê-lo encontrado e dado
aquele abraço tão bom.
Passaram-se os anos e algumas experiências.
SEM MEDO DA MORTE • 81
Hoje, 2010, penso que o Le ainda está na dimensão
extrafísica e, talvez agora, mais próximo de voltar. Não tenho
certeza, pois quando o encontro quase sempre me falta luci-
dez para certos questionamentos.
Na última vez que estivemos juntos, ele se apresentava
como uma criança numa sala de aula. Após a experiência
acordei eufórica devido ao abraço que trocamos. Ainda sen-
tia seu calor no meu corpo. Eu o procurara bastante e o en-
contrara num lugar onde havia muitas ruas com edifícios,
todos parecidos, de dois andares. Lembrava um campus de
universidade. Primeiro, fui a uma determinada sala onde
pensei encontrá-lo e ele não estava. O local estava vazio. De-
pois, falei com um rapaz que parecia ser bem conhecido
meu, mas não creio conhecê-lo aqui no mundo físico. Quan-
do perguntei pelo Leandro, me mostrou um dos prédios
com uma torre na entrada e disse:
– Ele está lá.
E me acompanhou. A torre identificava determinado
povo.
Chegando, tive a sensação de que bati na porta, mas
acho que foi só a intenção de bater porque não esperei e fui
logo entrando sem cerimônia e sem abrir a porta. Havia
duas professoras e algumas crianças. Olhei de relance e não
vi o Le. Ele estava bem atrás na sala, deitado, tentando se
esconder de mim e rindo. Quando o vi nos abraçamos inten-
samente. Ele disse que sabia que eu estava ali.
Quando o abracei pensei:
– Vou levá-lo comigo. Como pude deixá-lo tanto
tempo aqui?
82 • SEM MEDO DA MORTE

– Preciso perguntar as professoras se ele está bem. Se


pode ir.
Essa criança, teria em torno de 6 anos de idade.
Estaria ele já voltando à fase infantil para retomar um
corpo logo? Talvez.
83

A PROGRAMAÇÃO

“O sentimento de se ter algo a realizar na vida intrafísica


é encontrado em milhões de pessoas pela vida afora.”
(Waldo Vieira )

Se somos, na verdade, consciências imortais que habi-


tam um corpo físico temporariamente, é lógico (pelo menos
para mim) que tenhamos um propósito a cumprir quando
nosso habitat é esta dimensão. Caso contrário, não preci-
saríamos retomar a vida no planeta.
Então, antes de voltarmos para a Terra, é preciso haver
uma seleção das tarefas a serem realizadas aqui porque não
temos capacidade para resolver todos os nossos problemas
de uma só vez. A pergunta é:
– Quais são as prioridades para alavancar a nossa
evolução?
Também tem outra coisa:
– Quem vai nos ajudar a planejar a seleção das tarefas
para a próxima vida?
Segundo a experiência de muitas pessoas, nossos aju-
dantes são aquelas consciências mais evoluídas, chamadas
Orientadores Evolutivos, responsáveis pela dinâmica do nosso
84 • SEM MEDO DA MORTE

grupo e a ele pertencentes. Os Orientadores podem dispor


da nossa participação ativa no planejamento da próxima vida
ou não. Vai depender da maturidade, cooperação, e enten-
dimento do processo evolutivo que apresentarmos na oca-
sião. Se o nosso trio aí for pequeno, a programação será com-
pulsória.
Crianças precisam aceitar as decisões dos pais em rela-
ção à sua vida e executam tarefas bem mais simples que os
adultos. Quando já têm maturidade, ou seja, têm discerni-
mento sobre o que fazem, podem escolher sozinhas e assumir
as responsabilidades pelos seus atos.
O mesmo acontece às consciências sem o corpo físico,
durante o período que antecede sua próxima vida. Podem
simplesmente ser escolhidas para determinados propósitos
dos quais não terão compreensão do porquê aquilo está acon-
tecendo, nem do que aconteceu antes, sequer do que virá
depois. Autodiscernimento evolutivo é uma ideia ainda dis-
tante.
Já outras consciências, durante o período entre as vidas,
terão participação no planejamento, nos projetos e decisões
quanto ao futuro. Farão treinamentos para uma tarefa de maior
porte a ser executada, envolvendo um número maior de
pessoas a serem assistidas e cuja prioridade é o esclarecimento.
A informação útil liberta as consciências das culturas
inúteis, dos medos, das patologias da sociedade.
Esses seres, que receberam treinamento e aprenderam
técnicas preparatórias para a retomada de um novo corpo
(ressoma) manifestam, desde cedo, um sentimento de ter
SEM MEDO DA MORTE • 85
algo importante a realizar. Através das ideias inatas, afloram
os objetivos maiores da programação existencial.
Nesses casos, há a priorização da evolução – as consciên-
cias tomam decisões e escolhem caminhos que lhes permitem
a satisfação íntima, principalmente, por estarem retribuindo
ao planeta e aos seres humanos tudo que já receberam de
bom em suas vidas.
Cada renascimento possui uma finalidade diferente,
mas segundo as hipóteses existentes, em primeiro lugar são
escolhidos alguns itens para serem melhorados em cada um
de nós. São dívidas adquiridas conosco mesmo em conse-
quência do uso inadequado do nosso corpo físico ou dos
nossos talentos em vidas anteriores. Também, podem estar
faltando traços importantes os quais precisamos desenvolver
para suprir nossa inexperiência.
O primeiro trabalho a executar a fim de melhorarmos
na escala evolutiva, é empregá-los (talentos e corpo) de modo
diferente, usando-os a nosso favor. Por exemplo: você teve
um estilo de vida nada saudável e isso abreviou sua vida an-
terior, agora é a hora de mostrar que já tem domínio sobre
o soma e vai cuidá-lo melhor para poder executar a progra-
mação estabelecida.
Se você era um excelente orador e terminou utilizando
seu talento comunicativo para seduzir e enganar as pessoas,
o mais inteligente e produtivo agora é usar este talento para
reparar o engano cometido.
Enquanto seres humanos nossas relações variam: ora
somos dependentes, principalmente na fase infantil, ora in-
terdependentes das outras pessoas. Nessas relações de grupo,
86 • SEM MEDO DA MORTE

deixamos rastros positivos e negativos. Tanto uns quanto os


outros podem ser retomados e melhorados. Se realizamos
uma grande parceria em outra vida, talvez seja importante
continuá-la para alcançar um resultado ainda melhor. Se
o resultado da parceria deixou a desejar, pode ser a hora de
retomá-la e mudar de atitude. Por isso temos uma progra-
mação voltada ao grupo. Esse grupo é representado por nos-
sos cônjuges, nossa família, pelos amigos e colegas de trabalho
– as pessoas com as quais convivemos em algum momento,
dentro de um determinado contexto.
Esse mundo, porém, é tão imenso. Já parou para pen-
sar que, além do pequeno grupo, existe o grande grupo, seres
que nem ao menos sonhamos existirem?
Temos algo a ver com eles e o seu universo?
Podemos ser responsabilizados pelos reflexos das nossas
atitudes na vida dessas pessoas?
Veja o caso dos livros que você lê: tanto podem clarear
suas ideias, iniciando pequenas ou grandes mudanças para
melhor, quanto podem aflorar seu lado mais patológico
e sombrio. Lembrei das aulas de literatura: na época do Ro-
mantismo, as pessoas supervalorizavam os sentimentos
e o sofrimento, consequentemente sentiam-se atraídas por
obras de enredo dramático. O romance “Os Sofrimentos do
Jovem Werther” de Wolfgang Goethe foi responsável por
uma onda de suicídios no período em que fez maior sucesso.
“Toda uma geração reconheceu-se na dor de Werther.” 21

‘21
Schwanitz Dietrich; Cultura Geral; p.203
SEM MEDO DA MORTE • 87
Goethe deixou acesa e pulsante a ideia de que a morte
era a solução, incentivando, mesmo inconscientemente, as
pessoas a cometerem esse ato de graves consequências.
Doce ilusão a de que a morte é o melhor recurso: ela
não elimina os conflitos porque o corpo mental ou das ideias
e o corpo das emoções – causadores do desejo de sumir deste
mundo – o acompanharão ao outro mundo. A pessoa se vê
sofrendo de igual maneira, porém sem o corpo físico e sem
condições de resolver os problemas deixados, os quais agora,
inclusive, estão acrescidos de outros, surgidos pela sua pre-
matura partida.
– O autor tem ou não responsabilidade sobre o que
escreve? No entanto, ele sequer sonha que eu ou você exis-
timos e o que fazemos, não é mesmo?
– E os filmes que você vê? Não seguem a mesma lógica?
Indo mais fundo nessa reflexão:
– E os seus pequenos atos, por exemplo, a maneira de
interagir com o planeta, tem reflexos para outras pessoas?
– E elas tomam consciência da sua existência? Não,
mas mesmo assim você tem responsabilidade sobre isso. Faz
parte do seu compromisso mais amplo.
Então, primeiro temos um acordo de executar tarefas
para o nosso benefício, ou para a nossa evolução pessoal, de-
pois com o grupo mais próximo e, por último, com o gran-
de grupo – a humanidade.
Você pode ainda ser descobridor de algo em benefício
da humanidade e este fato poderá até ser retomado por você
numa próxima vida em continuação ao seu projeto inicial.
88 • SEM MEDO DA MORTE

Quantas crianças já nascem gênios em determinada área.


Por que será? Naturalmente já foram experts nesse assunto
em outras vidas, tanto que agora recuperaram rapidamente
esse conhecimento.
A grande maioria, no entanto, não desenvolveu o para-
psiquismo a ponto de ter claro quem foi no passado. A me-
mória integral só principia a aflorar através do desenvolvi-
mento da maturidade das emoções e das ideias, enquanto
isso o esquecimento só traz benefícios – é um bálsamo apagar
um passado que as pessoas ainda não estão prontas para lem-
brar e assumir.
Poderíamos propor a seguinte meta: pensar seriamente
(mas, com boas intenções e maturidade) em buscarmos
o desenvolvimento do parapsiquismo para adquirir essas pre-
ciosas informações. Isso daria um aproveitamento bem me-
lhor à nossa vida.
– Por que temos determinadas habilidades e outros
não têm? Que vamos fazer de útil com nossos talentos e capa-
cidades?
89

HERDEIROS DE NÓS MESMOS

“Nós criamos a nossa realidade pela maneira como


dirigimos e focalizamos os nossos pensamentos. Somos
o produtor, o diretor e o ator da nossa vida”.
(William Buhlmann)

A ideia de que somos herdeiros de nós mesmos causou


uma forte impressão sobre mim. Remexeu todo o meu ín-
timo. Desacomodou idéias antigas, conceitos arraigados.
Tempos atrás, não queria admitir a ideia de outras vidas,
logo não poderia pensar que sou o somatório das minhas
decisões e vivências passadas. Ficava somente entregue aos
caprichos de alguém superior. Saber que o saldo atual da
minha conta corrente existencial foi um presente dado por
mim mesma trouxe, ao mesmo tempo, a sensação de alívio,
liberdade e acrescentou muita responsabilidade.
Não sei se consegui ser suficientemente enfática quanto
a esse tipo de libertação. Estar ciente da minha modelagem
através de incontáveis corpos físicos já descartados, de acordo
com o processo evolutivo do Universo me levava a outra
explicação para a vida o que me fazia um bem enorme por-
que apresentava um encadeamento coerente, um propósito
lógico.
90 • SEM MEDO DA MORTE

Quando me tornei ciente dessa particularidade, surgiu


a questão:
– Quer dizer então que podemos ter uma noção de
nosso futuro, de nossa próxima vida pelas vivencias do mo-
mento atual?
– É possível fazer prognósticos através da maneira que
estamos solucionando, hoje, nossas pendências de relaciona-
mento, sejam elas conosco mesmo ou com os outros, sejam
elas com os lugares onde nascemos, moramos e passeamos?
– E as tarefas executadas hoje, nesta vida, merecem
continuação?
Nossos pensamentos, sejam eles transformados em
ações ou não, deixam rastros, que terão de ser apagados, se
negativos ou continuados e melhorados, se positivos. Então
podemos prever de onde partiremos e com quem.
O Leandro estaria programando o quê para sua pró-
xima vida?
Onde renascerá?
Quando?
Para executar quais tarefas?
Terá ligação com que grupos?
A programação da próxima vida é um momento muito
importante para a consciência. Ela deve mesmo ser preser-
vada nesta hora em que faz análises e escolhas. Encontros
envolvendo emoções fortes podem interferir no seu equilí-
brio e concentração e atrapalhar o planejamento das ações
SEM MEDO DA MORTE • 91
posteriores. É uma hipótese lógica, não? Por isso a consciên-
cia, que parecia ser um amparador, me pediu para não pro-
curar o Leandro no momento dos preparativos para a vida
futura. Lembra do capítulo Renomeando os Sonhos quando
falo dessa projeção?
Para exemplificar os reflexos dos nossos atos no futuro
– nosso e de outros – existe um filme, lançado no ano 2000,
baseado em fatos reais, chamado “Minha Vida na Outra
Vida” com Jane Seymour no papel principal e direção de
Marcus Cole. Nessa história você verá que a consciência
renasceu, entre muitas outras coisas, para desfazer um com-
promisso de outra vida, gerador de sofrimento até os dias
atuais. A mãe na vida anterior, com a melhor das intenções,
na hora da morte, pediu ao filho mais velho que jurasse res-
ponsabilizar-se pelos irmãos. O menino fez o que pôde, po-
rém não foi possível, pelas circunstâncias da vida, cumprir
o prometido.
A situação originada afetou cruelmente o filho a quem
ela tanto amava. Ele vivia imerso num processo de culpa
e solidão. Era preciso encontrá-lo e libertá-lo daquele acordo
que reverberava desde então.
Outro aspecto interessante a ser analisado: o fato do
filho mais velho, agora um ancião, continuar a ir toda semana
ao cemitério levar flores para a mãe. A consciência que tivera
aquele corpo já estava renascida em outro país, naquela data
era uma adulta e mãe de um rapaz.
Será que muita gente não faz isso também?
As consciências amadas podem já estar renascidas
em outros corpos, vivendo outras vidas e os ex-familiares
92 • SEM MEDO DA MORTE

frequentando sistematicamente o cemitério. E mais, cho-


rando e lamentando coisas da vida anterior dessas pessoas.
A cremação ajuda muito nesse aspecto; evita as cons-
tantes visitas ao cemitério e a consequente evocação contínua
da consciência dessomada, sem contar outras grandes van-
tagens que abordaremos mais adiante. Eu sempre quis que,
após a morte biológica, meu corpo fosse cremado, mas, talvez,
até lá as coisas tenham evoluído neste aspecto e se use pro-
cessos melhores.
Por exemplo, dia 19 de maio de 2008, foi publicado
um artigo no jornal ZH,22 sobre a máquina para desmanchar
corpos: o dissolvedor. Esse aparelho desmancha os corpos
num processo chamado hidrólise alcalina que imita, em ritmo
acelerado (três horas), o processo natural de decomposição
do corpo e tem vantagens sobre a cremação por ser ecologi-
camente correto. Ele não emite dióxido de carbono, nem
libera o mercúrio que eventualmente possa estar contido
nas obturações dentárias.
Segundo as fontes do jornal, desde 90 o processo é usa-
do na Universidade da Flórida em Gainesville. Nos Estados
Unidos existem 40 ou 50 equipamentos sendo usados, por
exemplo, em escolas de veterinária, universidades, laborató-
rios farmacêuticos e agências do governo, mas até hoje ne-
nhuma funerária ainda o utiliza devido à rejeição das pessoas
ao descarte, no esgoto, do resíduo líquido resultante da dissolu-
ção do corpo humano – ele é dissolvido numa solução estéril
aquecida a 170ºC e submetida a uma pressão de 60 libras.

22
Zero Hora de Porto Alegre, RS; Ano 45; nº 15.603; segundo caderno
Global Tech; página inicial.
SEM MEDO DA MORTE • 93
Existe também um método chamado freeze-dry,23 que
congela o cadáver, o desidrata e depois o coloca numa esteira
vibratória até se estilhaçar e virar pó. O pó é transformado
em adubo. O problema é que, por enquanto está disponível
apenas na Suécia, o que torna as coisas bastante difíceis.
Sempre que surgem tecnologias impactantes iguais
a essas, a tendência é serem rechaçadas por um determinado
período até as pessoas acostumarem-se com a nova ideia
e a experiência provar ser realmente melhor do que as já
existentes, ou caírem em desuso devido ao preconceito. Qual-
quer um dos métodos me parece ótimo, melhor até do que
a cremação.

23
Matéria sobre o freeze-dry publicada na revista Super Interessante, Ed.
267, julho de 2009, página 48
94

SOBRE A MORTE

“O homem é uma alma e tem um corpo. O corpo não


é o homem. O que chamamos de morte não é senão o ato
de se desvestir de uma vestimenta que não serve mais”...
(C. W. Leadbeater)

– O que vem a ser a morte?


Do ponto de vista da ciência convencional é a parada
total e irreversível das funções encefálicas, ou seja, do con-
junto formado pelo cérebro, cerebelo e tronco cerebral.
Nem sempre foi assim. Esse é um conceito atual, datado
de 1968 quando, na Universidade de Harvard formou-se
um comitê para estabelecer quais seriam os critérios mínimos
de morte, devido ao avanço da tecnologia e uso de novos
aparelhos capazes de manter uma pessoa viva por longo
tempo.24
A morte é um processo dinâmico que, igual a todas as
outras coisas, evoluiu ao longo do tempo. A maioria dos mé-
dicos, até o século XIX mantinha-se fiel à antiga técnica de
verificação da morte: a putrefação. Eles sequer sabiam que

24
Revista Super Interessante; Ed. 220; dezembro 2005; p. 49.
SEM MEDO DA MORTE • 95
um homem considerado morto por afogamento poderia ser
ressuscitado enchendo-se os seus pulmões de ar.
Apenas em 1846, Eugene Bouchut lançou uma pro-
posta, conhecida como tríade Bouchut, sobre os sinais de
morte. Seriam eles: a ausência de respiração, de batimentos
cardíacos e de circulação. Porém, no final século XIX, veri-
ficou-se que o coração das pessoas decapitadas continuava
a bater por até uma hora. Conclui-se, então, que além do
coração e do pulmão o sistema nervoso era fundamental
para a definição da morte e ele somou-se à tríade.25
Hoje, a parada das funções encefálicas determina
a morte, mas daqui a algumas décadas, ou séculos prevalecerá
o mesmo conceito?
– Chegamos ao nível máximo de evolução nesse quesito
e agora vamos estancar?
E se os pesquisadores da ciência convencional desco-
brissem que a morte teria início na estrutura do cordão de
prata e não nas células do soma?
O conceito de morte e também a posição pessoal diante
dela é modificado pela cultura, pela sociedade, pelo avanço
da tecnologia.
Do ponto de vista da Conscienciologia, a morte é a de-
sativação e o descarte indolor de um veículo de manifestação
da consciência, nesse caso o soma. A consciência continua
sua existência com os outros corpos na dimensão extrafísica
da qual é originária.

25
Revista Super Interessante; Ed. 220; dezembro 2005; p. 48.
96 • SEM MEDO DA MORTE
SEM MEDO DA MORTE • 97
Durante o sono, quando deixamos o corpo físico e saí-
mos com os outros veículos de manifestação da consciência
ficamos ligados a ele por um cordão energético chamado
cordão de prata, assim denominado devido à luminosidade
prateada emitida.
A ruptura do cordão de prata é o que define a desa-
tivação do soma. Nesse momento, não é mais possível a trans-
ferência de energias conscienciais para esse veículo; ele
é descartado e a consciência segue com os veículos restantes.
A consciência projetada pode ver ou não o seu cordão
– depende do nível de lucidez no momento e da atenção
concentrada. Esse cordão é mais grosso quando próximo
ao corpo físico, depois vai se tornando muito fino, igual
a um fio de cabelo.
Ao dormirmos, estando lúcidos ou não para o fato,
saímos do corpo e mantemos nossa ligação com ele, fazendo
assim um ensaio para a morte biológica. A morte nada mais
é do que o rompimento do cordão energético impossibi-
litando a nossa volta para esse corpo físico.
Desconhecer a nossa essência multiexistencial e multi-
dimensional, ou seja, saber quem realmente somos é a razão
mais profunda do medo da morte. Se, através dos nossos
conhecimentos e experiências, tivéssemos a certeza de que
somos uma consciência (ou uma alma) que tem um corpo
e não um corpo que tem uma alma como eu pensava, quando
chegasse a hora de partir para a outra dimensão, simplesmen-
te voltaríamos para a casa depois de um longo tempo, para
a companhia de amigos muito queridos, com naturalidade.
Analise as implicações dessa descoberta – ela inverte o sentido
de tudo que estamos acostumados a pensar.
98 • SEM MEDO DA MORTE

Se o destino de todas as coisas do universo, a começar


pelos planetas, é a evolução, por que com a consciência, prin-
cípio inteligente mais avançado conhecido, seria diferente
do resto? E de que adiantaria evoluir nesta vida se não hou-
vesse uma continuidade? Seria uma evolução parcial e sem
lógica. Por hipótese, uma inteligência criadora que projetou
esse universo extremamente inteligente e interconectado não
iria falhar justo nesta questão. É preciso abrir a possibilidade
da existência de um sentido maior para nossa presença neste
mundo físico.
Eu citei antes: do ponto de vista da Conscienciologia
a morte é o descarte indolor... Você pode estar discordando
disso, mas veja, não estou me referindo aos momentos ante-
riores (doenças, por exemplo) e sim ao momento da passa-
gem ou do desligamento da consciência da dimensão física.
A própria ciência convencional admite o fato de esse mo-
mento ser indolor. Segundo Dr. Derek Doyle, médico escocês
pioneiro na área de Cuidados Paliativos (que testemunhou
a morte de inúmeras pessoas) em 99% dos pacientes a morte
em si é tão cheia de paz e tranquilidade que mal se pode
acreditar.26
A consciência agora se apresenta sem o veículo pesado,
denso, restringidor. Já pensou, por exemplo, o que representa
ficar livre da respiração e todas as complicações causadas
por ela? Psicossoma não precisa respirar. Esse fato sozinho já
seria motivo de comemoração.
Um impeditivo para uma boa morte são os apegos.
O ser humano é capaz de apegar-se até as coisas ruins porque

26
Philip Kapleau; A Roda da Vida e da Morte; 1997.
SEM MEDO DA MORTE • 99
elas acabam se tornando familiares, conhecidas. É o caso de um
corpo físico já desgastado, sem saúde e sem qualidade de vida.
Apesar do sofrimento que possa estar causando, ainda o que-
remos desesperadamente.
Em matéria de morte, o conhecimento da humanidade
não é lá essas coisas. Sócrates já dizia: “os homens temem
a morte como o maior dos males devido a vergonhosa igno-
rância de achar que sabem o que não sabem”.
– Como saber que a morte é realmente isso que falei?
Só tem um jeito: pesquisar por si mesmo – sem morrer,
é claro. A ferramenta mais adequada para tal estudo é a saída
lúcida do corpo ou projeção consciente. No entanto, até
que aconteça essa experiência lúcida, você pode, por exem-
plo, ler e estudar sobre EQM.
– Por quê? Porque EQM é o tipo de projeção mais
pesquisada atualmente. Muitos cientistas estão interessados
em desvendar esse assunto de difícil explicação e um enigma
para eles.
100

EQM

“Temos um grupo de pessoas tão gravemente doente que


chegou a atingir o ponto clínico de morte, mas ainda assim eles
relatam ter processos de pensamentos lúcidos e bem estruturados,
com argumentação e formação de memória daquela hora. Como
isso pode acontecer? Como pode haver processos de pensamentos
tão lúcidos quando o cérebro está, na melhor das hipóteses,
desligado e, tanto quanto pudemos medir, não funcionando?”
(Sam Parnia )

O que acontece às pessoas cuja morte clínica foi ates-


tada pelos médicos e depois de um tempo voltam à vida?
É possível voltar?
Elas passam por experiências chamadas EQM ou Ex-
periências de Quase Morte, termo criado pelo psiquiatra ame-
ricano Raymond Moody em 1975. EQM é uma “experiência
projetiva involuntária ou forçada por circunstâncias humanas
críticas, da consciência intrafísica, comum a doentes terminais,
pacientes morituros e sobreviventes da morte clínica.”27
Essas experiências servem para desmitificar a ideia cor-
rente de que ninguém volta para contar. Existe até um livro

27
Waldo Vieira; Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência
Fora do Corpo Humano; p. 141.
SEM MEDO DA MORTE • 101
sobre o assunto cujo título é bem sugestivo “Voltei para
Contar”.28 Se alguns voltam, apesar de terem sido consi-
derados mortos, isso não é um indício de que existe um
padrão de morte ainda não utilizado nem aceito pela ciência
convencional? Esse padrão vai além do tradicionalmente
admitido pela maioria.
Segundo a ciência Conscienciologia, é possível acon-
tecer à volta ao corpo considerado morto porque o cordão
de prata ainda não se partiu e parece que o fornecimento
de energias vitais para o corpo físico ainda continua, embora
não sejam detectados esses fluxos pelos aparelhos que a ciência
atualmente possui.
Dr. Moody é amplamente conhecido por ser autor de
livros sobre vida depois da morte e Experiências de Quase-
-Morte. Fundamentado nos depoimentos de cerca de 150
pessoas que sofreram de morte clínica, Dr. Moody concluiu
que existiam algumas experiências comuns à maioria das
pessoas que passaram pela Experiência de Quase-Morte, tais
como:

1. Ouvir um zumbido nos ouvidos;


Zumbidos nos ouvidos, podemos dizer, são comuns
durante a decolagem do psicossoma nas experiências de pro-
jeção ou saída do corpo e também durante a sua interiori-
zação no corpo físico. Parece que a causa principal é a deco-
lagem ou retorno súbito da cabeça extrafísica produzindo
efeitos de descargas energéticas intracranianas.

28
Lucy Lutf; Ed. Editares.
102 • SEM MEDO DA MORTE

2. Um sentimento de paz e ausência de dor;


A dor pertence ao corpo físico. Sem dor e “experimen-
tando” que a morte não existe a consciência sente-se invadida
por essa sensação de paz e livra-se definitivamente do maior
de todos os medos: o medo da morte.

3. Sentir a separação do corpo humano ou o desprendimento;


Na grande maioria das experiências, a pessoa se vê flu-
tuando ao nível do teto e nota um corpo deitado na cama.
Só então reconhece: aquele é o seu próprio corpo. Essa per-
cepção de independência em relação ao corpo doente pro-
voca um sentimento de liberdade bastante positivo.

4. Sentir-se a viajar dentro de um túnel em direção a luz;


Buhlman em “Aventuras Além do Corpo” lança uma
hipótese bastante lógica para a sensação do túnel: a dimensão
física seria separada da não física por uma espécie de mem-
brana que abre-se temporariamente para permitir a passa-
gem da consciência e causaria a sensação de passagem pelo
túnel.

5. Ver pessoas, principalmente familiares já falecidos;


EQMs, na grande maioria dos casos, são recursos
assistenciais utilizados para conscientizar o doente do valor
do seu tempo aqui na dimensão intrafísica, de suas responsa-
bilidades, da libertação de alguns medos ou mudança de
valores. Essas experiências podem ser patrocinadas pelos
próprios familiares já falecidos ou por consciências amigas
e amparadoras as quais já conquistaram a capacidade e o do-
mínio extrafísico de adquirir a aparência temporária dos
SEM MEDO DA MORTE • 103
entes queridos a fim de que a pessoa, que passa pela vivência
da quase-morte neste momento, sinta-se mais aconchegada.
É uma forma de acolhimento.
Lembram-se que o psicossoma é um corpo absolu-
tamente maleável podendo adquirir a forma segundo sua
vontade e dentro da sua competência? O amparador, se ne-
cessário, pode transformar-se momentaneamente naquele
parente tão amado.

6. Encontrar seres espirituais, por vezes identificados como


sendo Deus;
Os seres encontrados durante uma EQM dependem
muito das crenças pessoais de quem passa pela experiência,
bem como dos condicionamentos e do que causará impacto
sobre si mesmo. Há pessoas que automaticamente imaginam
– ao morrerem verão Deus. Então, qualquer ser luminoso
que apareça será considerado Deus. O importante é que “as
crenças religiosas da pessoa (homem, mulher, criança) influ-
enciam a interpretação da Experiência da Quase-Morte,
contudo não alteram a essência da experiência.”29

7. Ver na tela mental uma revisão retrospectiva do decurso da


própria vida, desde o nascimento até à morte;
Esse fato parece primordial para uma futura mudança
de comportamento. A consciência revisa a sua vida sem
o julgamento de ninguém mais a não ser dela própria. Ela
sabe perfeitamente se fez o que devia fazer ou não.

29
Waldo Vieira; Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência
Fora do Corpo Humano; p. 145.
104 • SEM MEDO DA MORTE

8. Sentir uma enorme relutância em regressar à vida.


É mesmo difícil desejar voltar de um lugar onde não
há dor, há uma extrema serenidade, onde não se é julgado
pelos outros e se está cercado de pessoas amorosas. Para que
voltar?
O que nos faz realmente pretender retornar é a lem-
brança da nossa responsabilidade para com determinadas
pessoas as quais, concluímos, não estão prontas para segui-
rem suas vidas sem nós, ou alguma importante tarefa ina-
cabada. A consciência sujeita-se, por vontade própria, a vol-
tar ao mundo físico.
No entanto, não vamos criar a ilusão de que toda a di-
mensão extrafísica ou todas as experiências extrafísicas são
assim tão boas quanto a maioria das Experiências de Quase-
-Morte. As melhores EQMs são geralmente patrocinadas
por amparadores, portanto aquele doente precisa ter alguns
méritos para receber essa ajuda, e têm objetivos específicos
como a perda do medo da morte, através da percepção de
que a vida continua e pode ser até melhor do que aqui.
Depois de Moody muitos outros médicos, princi-
palmente cardiologistas, têm feito pesquisas sobre EQM.
Não vou citá-los, pois seria uma longa lista. Pesquisar na in-
ternet pode ser bem mais interessante.
Apenas falarei de um cientista, Sam Parnia, cujo livro
“O que Acontece quando Morremos” (traduzido para o por-
tuguês em 2008) me caiu nas mãos em 2009. Sam Parnia
é um cientista inglês, um dos maiores especialistas do mundo
no estudo científico da morte. Ele está desenvolvendo um
trabalho bastante criterioso e amplo, com a colaboração de
SEM MEDO DA MORTE • 105
muitos hospitais e equipes médicas. Essa pesquisa deve durar
ainda alguns anos. Igual a todos os outros estudiosos dessa
área, Sam Parnia está buscando um modo de provar que
a consciência sobrevive ao cérebro – o que não é fácil.
A melhor prova é a vivência de cada um. Segundo
o princípio da descrença usado na Conscienciologia, não
devemos acreditar em nada dito pelos outros, por mais sérios
e bem intencionados que sejam. Precisamos ter nossa expe-
riência pessoal. Ela é que vai nos convencer definitivamente.
Portanto, desenvolver e qualificar a projeção lúcida e com
muita saúde é a melhor saída.
Quem desejar ver um filme sobre o assunto EQM
pode procurar “Salvo Pela Luz”, baseado no livro de Dannion
Brinkley e Paul Perry, que trata de um caso real.
106

A SEGUNDA MORTE

“Quem ensinasse o homem


a morrer o ensinaria a viver.”
(Montaigne)

O nascimento e a morte possuem mecanismos muito


semelhantes. Para acontecer o nascimento, é preciso o rompi-
mento do cordão umbilical, cujo coto permanece durante
algum tempo. Tempo esse, em que vai secando e perdendo
energia até cair, o que é variável de bebê para bebê. O um-
bigo cai em média de sete a quinze dias após o nascimento,
dependendo da higiene e também do organismo do bebê.
Para ocorrer a morte ou o descarte do corpo físico
(1ª morte) é necessário haver o rompimento do cordão de
prata, aquele que estabelece a ligação entre o psicossoma
e o corpo humano.
Analogamente ao cordão umbilical, permanecem no
psicossoma resquícios do cordão de prata após a morte,
devendo essa energia se dissipar depois de um tempo (2ª morte).
Tempo esse, variável de pessoa para pessoa. Mas será que,
da mesma forma que o cordão umbilical, o cordão de prata
dependeria de uma espécie de higiene (neste caso mental)
e das características dos corpos sobreviventes?
SEM MEDO DA MORTE • 107
A média é acontecer a 2ª Morte 30 de 2 a 3 dias após
a desativação do corpo físico.
Segundo Vieira, 31 na desativação e descarte do corpo
energético, os resquícios do cordão de prata variam conforme
a consciência que acaba de passar a outra dimensão tenha
ou não completado o período existencial pré-estabelecido
pelo orientador evolutivo, havendo ocorrido o desgaste par-
cial ou total do seu lastro de energia vital.
Pense, se a consciência morre muito jovem e inespera-
damente num acidente de percurso, o lastro de energias é bem
maior do que se morrer já idoso quando for apagando aos
poucos, por exemplo.
Por que motivo pode não sobrevir a segunda morte?
Pelo apego ao mundo físico, tanto que a consciência,
mesmo morta, pensa estar vivendo, ainda, nesta dimensão.
Ela deseja manter a qualquer custo a energia cujo padrão
é muito parecido ao do mundo que ela deixou para trás e ainda
não admite. Através do apego a essas energias, mantém-se
ligada a sua antiga vida e próxima das pessoas conhecidas,
realizando tarefas e buscando prazeres que eram habituais
antes da partida. Logo, a ocorrência de segunda morte pode
variar e demorar bem mais do que a média (2 ou 3 dias) ou
pode até não acontecer.
É importante, no entanto, estar livre de resíduos
energéticos para ter mais leveza e lucidez durante o período

30
Segunda morte é o fenômeno que acontece após a morte biológica, para
dissipar as energias restantes dos chacras.
31
Waldo Vieira; Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência
Fora do Corpo Humano; p.331.
108 • SEM MEDO DA MORTE

de vida extrafísica. Por outro lado, uma renovação total das


energias do corpo energético quando do renascimento nesta
dimensão, numa próxima existência, possibilitará mais mo-
bilidade e soltura à consciência e facilitará a saída do corpo.
Se, por um lado ficam energias residuais no corpo das
emoções ou psicossoma por ocasião da morte, também per-
manecem energias no soma, podendo essas serem dissipadas
pela própria consciência através da doação lúcida ou com
a ajuda de amparadores e usadas para assistência a outras
consciências. Também podem ser sugadas ou vampirizadas
pelas consciências extrafísicas ávidas de energia. Depende
de como foi a vida daquele ou daquela que acabou de morrer
e se ele tinha mais amparo ou mais assédio devido a sua ma-
neira de pensar e sentir.
A cremação ajuda a dissipar rapidamente essas energias
residuais, além de não deixar o cadáver ocupando lugar nos
cemitérios da cidade, já sobrecarregados. Vantagens sobre
as quais vale a pena pensar.
Existe, ainda, uma terceira morte, mas passar por ela
é algo tão distante de mim e das pessoas em geral... Nesta
morte ocorre o descarte do corpo das emoções ou psicosso-
ma, permanecendo só o corpo mental. Quando isso ocor-
rer (daqui a milhares de anos) é porque nosso nível evolu-
tivo chegou ao patamar mais alto conhecido hoje e não pre-
cisamos mais voltar a viver com o corpo físico. Pelo atual
nível de maturidade e evolução da humanidade o que você
conclui? A terceira morte está próxima ou distante?
109

A SOLIDARIEDADE

“Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados


a colher aquilo que plantamos.”
(Provérbio Chinês)

O aprendizado da solidariedade se constrói infe-


lizmente, na maioria das vezes, como consequência das pes-
soas terem enfrentado o mesmo tipo de sofrimento em si
mesmas ou com alguém muito próximo e querido. Este fato
lhes abre os olhos e lhes dá forças para se posicionarem e mos-
trar às outras pessoas a maneira de encarar um aconteci-
mento trágico. Encontram motivação para se dedicarem
a determinadas causas ou determinados estudos.
Longe de ser eu uma especialista no descarte do corpo
físico – até porque comigo acontece algo inusitado. Nunca
presenciei, pelo menos na dimensão física, o momento da
morte de alguém. Sempre o desligamento acontece longe
de mim. Quando os meus avós morreram, eu morava dis-
tante, meus filhos eram pequenos e por isso não fui aos fu-
nerais. Até a morte do Leandro e, depois, da minha mãe,
nenhuma outra pessoa próxima de mim havia partido ainda.
E, mesmo nesses dois casos, não estive presente. Sempre
ocorre algo para me afastar.
110 • SEM MEDO DA MORTE

Por que será?


Veja o que aconteceu quando o Le se foi. Estávamos
em casa e a mãe do melhor amigo dele (hoje já uma cons-
ciência extrafísica) foi até lá para cuidá-lo a fim de que eu
dormisse um pouco. A situação estava bastante difícil para
todos. Não consegui dormir, mas me recolhi em outro quar-
to. Ela ficou só com o Le e, segundo sua descrição, pediu
mentalmente, com muita força, para que ele partisse. Em
seguida ele entrou em coma.
Percebi a movimentação e levantei imediatamente.
Desesperada, corri e liguei para o médico. Expus a ele que
o Le não reagia mais. Perguntei se devíamos levá-lo ao hos-
pital. Sua resposta me pareceu fria e distante:
– Se vocês quiserem.
Meu marido e eu não quisemos entender a mensagem.
Colocamos o Le no carro e minha amiga me disse:
– Não se preocupe, eu vou junto enquanto você fica
e providencia alguém para ficar com os outros filhos. Não
deu tempo de chegar ao hospital e ele já tinha morrido,
portanto não sei como foi sua reação.
Bem, me faltam experiências quanto ao momento da
partida. Tenho, porém, algumas experiências parapsíquicas,
que me permitiram entender um pouco as várias fases do
processo, depois da morte. Também leio tudo que posso sobre
o assunto, assisto a filmes.
Há filmes cujos autores e pessoas envolvidas na sua
produção certamente tiveram uma intuição de origem extra-
física para fazê-lo porque as ideias são bastante condizentes
SEM MEDO DA MORTE • 111
com a realidade multidimensional. Talvez tenham tido suas
próprias experiências fora do corpo, buscando informações
“in loco”. Só para citar alguns excelentes filmes: Além da
Eternidade, Amor Além da Vida, Em Algum lugar do Pas-
sado, Ghost do Outro Lado da Vida, Os outros, Passageiros.
Segundo Stephen Simon32, “há quem diga que, se seres
de outras civilizações ou dimensões estivessem tentando nos
ajudar a evoluir, eles usariam o entretenimento como sua prin-
cipal ferramenta de ensino”. Acho uma ideia bastante lógica.
Isso atingiria milhares de pessoas ao mesmo tempo. Difícil
é esses amparadores (os seres de outras dimensões referidos)
encontrarem alguém disposto a apostar num tema tão po-
lêmico – múltiplas existências e múltiplas dimensões – dentro
de um realismo razoável e inteligível para a maioria das
pessoas.
Através de todos os meios possíveis, quero me capacitar
para, no momento em que as pessoas necessitarem de mim,
estar apta a esclarecer e apoiar. Talvez, por isso atraio determi-
nados seres humanos. Vou dar dois exemplos, mas poderia
dar muitos mais.
A pessoa que trabalha comigo desde 2002 é uma se-
nhora que, pouco tempo depois de conseguir esse emprego,
sofreu um grande revés na vida. Seu único filho foi assassi-
nado. Ela perdeu o chão, mas ao seu lado estava alguém que
também havia passado pela perda precoce de um filho
e tinha vivências para compartilhar. Pude mostrar a ela o que

32
Produtor de Em Algum Lugar do Passado e Amor Além da Vida; autor de
A Força Está com Você.
112 • SEM MEDO DA MORTE

já havia descoberto e me trouxera tranquilidade ao coração.


Era a sustentação ansiada por ela para ir assimilando os fatos.
Alguém acha que foi mero acaso?
Outro episódio: numa das vezes que viajei a Passo
Fundo, fiquei sabendo por uma tia, na festa da formatura
de um dos meus sobrinhos, que uma de minhas primas estava
internada no hospital desde aquela tarde, pois havia suspeitas
de um tipo grave de câncer. Nenhuma das minhas irmãs
ainda sabia do caso. Na manhã seguinte, fui até o hospital.
Eu não tinha muita intimidade com essa prima, pois, nos
últimos anos, nos víamos muito pouco principalmente pelo
fato de morarmos em cidades diferentes.
Eu estava ciente do que acontecera a ela nos últimos
meses – tempos difíceis, pois seu irmão mais velho, que mo-
rava em São Paulo, havia morrido um mês antes e ela é quem
cuidara dele no período da doença. De repente, era ela que
estava ali, também muito doente, o que devia afetá-la profun-
damente.
Cheguei ao hospital, começamos a conversar e os
assuntos fluíam tão naturalmente que, pelo visto, estava
armado um cenário, ou melhor, estabelecido um clima pró-
prio a fim de discutirmos determinados temas, os quais
poderiam trazer a ela um pouco de tranquilidade para seu
período final de vida. Era nítida sua avidez por certas ideias
a respeito da consciência, de sua imortalidade, de suas mani-
festações em outras dimensões. Foi uma longa e boa conversa,
cheia de questionamentos de sua parte.
Quinze dias depois, soube da sua dessoma. Certamente
os amparadores a estavam preparando para tal momento
SEM MEDO DA MORTE • 113
e aproveitaram a oportunidade do esclarecimento que eu
poderia dar. Espero ter contribuído para amenizar seus me-
dos e dar-lhe um pouco de tranquilidade através das minhas
experiências.
São inúmeros os casos de pessoas que se aproximam de
mim, ou para as quais sou impelida, no momento difícil do
enfrentamento da morte. Alguma razão deve existir.
114

PREPARANDO-SE PARA PARTIR

“Mesmo que não possamos descobrir as razões,


o simples fato de saber que qualquer relacionamento
pode ser uma intersecção de objetivos espirituais abre
nossos olhos para o potencial significado dos menores
encontros que cruzam nosso caminho.”
(Carol Bowman )

Que existem interligações entre as dimensões está claro


para nós. Agora vamos aprofundar um pouco mais sobre
esses acontecimentos paralelos no que se refere aos prepara-
tivos para a morte.
Antes, porém, gostaria de fazer uma justificativa. Está
mais do que na hora de parar de usar a palavra “morte”. Ela
é inadequada, dá uma falsa impressão, remete ao fim de
tudo. De agora em diante, usarei somente a expressão “des-
soma”, afinal, você já conhece a teoria dos 4 corpos de mani-
festação da consciência, sendo o soma apenas mais um, o me-
nos duradouro, o descartável a cada vida. Então, no mo-
mento que me desvencilho dele ao modo de uma roupa
que não serve mais, isto se chama “dessoma” – um neologismo
criado para o descarte do soma.
Pense comigo: não seria muito bom disseminar essa
palavra para trazer um novo sentido, uma nova conotação
SEM MEDO DA MORTE • 115
ao fato da nossa partida para a outra dimensão? Quem sabe
se cada um começasse a usá-la sem preconceito ela se espa-
lharia por aí melhorando a imagem da “morte”.
Agora podemos falar de paralelidade.
Desenvolvi essa ideia através de algumas experiências.
Minha hipótese é de que pode existir uma fase preparatória
para a dessoma ocorrendo paralelamente nas dimensões fí-
sica e extrafísica. Ela não deve acontecer a todas as pessoas,
por vários motivos, mas a algumas, ao que tudo indica, su-
cede. Alguns indivíduos, por exemplo, os adeptos do risco,
da adrenalina podem morrer antes do previsto e não há se-
quer tempo para preparações. Acidentes de percurso acon-
tecem a toda hora. Para outros, falta méritos a fim de rece-
berem ajuda de um amparador que lhes facilite a tarefa.
Pergunto: a fase de capacitação para a dessoma seria
um mecanismo semelhante ao da ressoma (renascimento), ou
seja, a passagem de algumas pessoas por cursos preparatórios
para dar esse passo?
Vejo você aí questionando e pensando – Afinal, ela não
explicou sobre esses cursos antes da ressoma, como posso
saber se é um mecanismo semelhante? Vou explicar.
Depois do descarte do soma (1ª dessoma) e do corpo
energético (2ª dessoma – o que não acontece com todas as
pessoas) algumas consciências frequentam cursos na dimen-
são extrafísica. Cursos esses chamados de Intermissivos por-
que ocorrem entre duas vidas intrafísicas, isto é, acontecem
num período entre uma missão e outra executadas aqui na
dimensão física. Realizam-se aulas teóricas e práticas com
116 • SEM MEDO DA MORTE

o objetivo de habilitar a consciência para que ela consiga


elaborar um plano e executar da melhor forma, com maior
nível de completude a sua tarefa na próxima vida na Terra.
O que é necessário para alguém se candidatar a um
curso desses? Primeiro apresentar clareza suficiente para
entender o que lhe passou (a dessoma), onde se encontra
e apresentar um nível razoável de maturidade.
Esses cursos têm níveis diferentes, da mesma forma
que aqui na Terra existe desde o maternal até o Pós-Douto-
rado. E é claro, há ressomas compulsórias, que independem
de cursos preparatórios porque falta às consciências um nível
mínimo de atributos para entrar nessas escolas.
Nos períodos intermissivos, elaboramos os planos de
vida detalhadamente, depois voltamos aqui na Terra para
cumpri-los. Quando retornamos à dimensão extrafísica, o passo
mais lógico é:
a) primeiro: a avaliação do quanto concluímos, o per-
centual efetuado das atividades programadas – o ba-
lanço enfim.
b)segundo: a análise de acertos e erros e quais as causas
do não cumprimento.
c) terceiro: iniciar a nova programação onde teremos
outra chance de completar nossa tarefa quando por-
tarmos um novo corpo.
Escrevi sobre o período que antecede a ressoma para
fazer ver de que modo as coisas são organizadas e amparadas
quando estamos em casa (dimensão extrafísica) preparando-
-nos para voltar à Terra.
SEM MEDO DA MORTE • 117
Não é de supor que, da mesma forma, quando estamos
na dimensão física tudo seja muito bem calçado para o nosso
retorno ao lar?
É aí que gostaria de chegar. Penso que, durante certo
período – não sei precisar quanto tempo antes, pois é muito
específico para cada consciência, começam as ações práticas
prévias para a volta à dimensão extrafísica o que acontece
tanto numa dimensão quanto na outra, paralelamente.
Se existem cursos preparatórios para a retomada de um
soma, porque não existiriam cursos ou treinamentos para
aprender a descartá-lo e preparar a volta para casa, pois na
maioria dos casos, conscientemente, não planejamos mais
voltar, tampouco nossos parentes querem permiti-lo?
A cada vida que estabelecemos raízes no Planeta Terra
esquecemos nossa origem e muitos desejam a vida eterna aqui,
neste Planeta que aparenta ser o único local para se viver.
Através de alguns exemplos ficará mais claro onde pre-
tendo chegar porque você ainda não sabe de que tipo de
preparação estou falando.
118

PSICODRAMA EXTRAFÍSICO

“Somente explorando além dos limites físicos


podemos chegar a compreender a nossa própria
essência e a do nosso universo.”
(Willian Buhlman)

Vamos pensar uma coisa: mais da metade da huma-


nidade até acredita que a consciência não se extingue após
a morte, mas quantos sabem exatamente de onde vieram
e para onde irão quando deixarem seu corpo físico?
Será que toda essa gente vai ficar perdida, sem ajuda nesse
processo de volta para casa? Minha experiência parece dizer
que não. Precisamos ser relembrados da nossa verdadeira
procedência. Necessitamos de informações para uma des-
soma preparada e assistida e com mais liberdade em relação
aos nossos pares evolutivos que ficam, ainda, por aqui.
Na maioria das vezes, precisamos ser lembrados de
fazer nossos acertos de conta e nosso aprendizado, porém
sem sermos intrafisicamente conscientes de que estamos
voltando para casa. Muitos não aguentariam a ideia da desso-
ma tão próxima. Creio, no entanto, que as pessoas pressen-
tem o que se aproxima.
SEM MEDO DA MORTE • 119
Minha hipótese é de que há representações, psicodra-
mas, miniencenações extrafísicas a fim de nos familiarizar
com a ideia da dessoma. Por exemplo, esta acontecida em
09 de fevereiro de 2001. Minha mãe, que se chamava Alda,
só viria a dessomar em 20 de novembro de 2003.
O início da experiência poderia ser interpretado como
um sonho apenas, mas a continuidade me fez concluir: seria
um sonho lúcido ou projeção semiconsciente.
Na época, a representação inicial não fazia sentido para
mim. Havia duas filas enormes de pessoas deitadas, no sentido
vertical. Todas estavam esperando a morte chegar. Tinham to-
mado algo, parecera uma injeção (não há clareza, só a sensação
de tal fato) e aguardavam o momento final. Minha mãe era
uma delas.
Notei seus olhos abertos e isso me causou certo incô-
modo, pois sabia que já iam colocá-la no caixão. Depois,
pensei algo do tipo: afinal, não tem importância ficar de
olho aberto, pois ela vai continuar da mesma forma.
Há um lapso de lucidez e memória na experiência
e quando as recupero, estávamos nos abraçando, minha mãe
e eu, intensamente e mantendo um diálogo emocionado de
um modo que nunca tínhamos tido, até aquela data, na di-
mensão intrafísica. Falávamos coisas do tipo:
– Nosso relacionamento tem sido muito bom, e a nossa
convivência é ótima.
Era um momento de consolidação desses sentimentos
e, ao mesmo tempo, tinha sabor de despedida. Parecia que
estávamos sendo preparadas para vivermos separadas. Nessa
hora, emocionei-me e acordei.
120 • SEM MEDO DA MORTE

Penso que minha mãe estava sendo conduzida através


desse psicodrama, dessa simulação, ao contato com a ideia de
abandonar o corpo e a dimensão física e perceber que tudo
continua, inclusive as relações. Ao mesmo tempo, eu também
precisava me preparar devido a nossa ligação profunda.
Houve um ensaio anterior e talvez seja importante con-
tar. Aconteceu em novembro de 2000 e não pude classificá-
-lo com clareza, pensando tratar-se de onirismo. Temos de
levar em conta que, às vezes, ocorrem experiências projetivas
com simbolismos para facilitar o entendimento e se gravar
melhor os fatos através de associações de ideias. Talvez se vá
entendê-los somente algum tempo depois.
Nesta outra experiência, também de sonho lúcido ou
projeção semiconsciente minha mãe chegava de carro para
me apanhar. Eu, sentada no banco traseiro do carro, ana-
lisava várias coisas:
Primeiro – minha mãe não dirigia há muitos anos. Que
estaria acontecendo? Por que ela estava dirigindo agora?
Segundo – ela havia deixado um grande número de
pessoas esperando por ela. Quem eram essas pessoas? E por
que a esperavam?
Terceiro – comecei a sentir uma tristeza profunda pare-
cida àquela que, muito antigamente, sentia quando qualquer
pessoa ligada a mim (ou eu mesma) ia viajar.
No momento da experiência faltou-me discernimento
e pensei que minha mãe me levava para uma viagem sem
volta. Equivocadamente concluí: eu estava para enfrentar
uma viagem a caminho da morte. No entanto, ela é que
estava se aprontando para a partida.
SEM MEDO DA MORTE • 121
Quando despertei, lembrei-me ser essa a segunda vez
nos últimos dias que sentia uma tristeza ao acordar, uma
sensação de ter de me separar de alguém. Pensei mesmo
que estava para dessomar e comentei com uma amiga:
– Se eu realmente partir, gostaria que contasse essas
experiências à minha família.
O que teria acontecido da outra vez quando acordei
assim e não recordava de nada? Provavelmente, acontecera
uma experiência e eu voltei ao corpo sem trazer a rememo-
ração. Talvez porque fosse muito dolorida ainda para trazê-
-la ao nível consciente. Restava só a tristeza para indicar que
havia acontecido algo importante. Às vezes, você não acorda
com certas sensações estranhas? Pode ser uma tremenda eu-
foria, uma leveza e vontade de cantar e dançar....
Faz sentido para você a ocorrência destas experiências
preparatórias rememoradas ou não?
122

PREPARO INTRAFÍSICO

“Poucos de nós conseguem olhar para o passado sem distinguir


um padrão de sincronicidade nos acontecimentos misteriosos que
concorreram para nos trazer à nossa carreira atual, ao nosso
cônjuge atual, ou à rede de amizades e alianças nas quais
confiamos; muito mais difícil, porém, é a percepção desses
acontecimentos no presente, na ocasião em que eles acontecem.
Já vimos que as coincidências podem ser impressionantes, mas
também podem ser muito sutis e fugazes, e assim facilmente
descartadas como mera casualidade – como mandava a antiga
visão materialista.”
(James Redfield )

Concomitantemente ao preparo extrafísico para o mo-


mento da partida desta dimensão, tenho muita clareza a respeito
de certos fatos acontecidos na dimensão intrafísica que foram
importantíssimos para calçar a passagem da minha mãe para
o outro mundo.
Por exemplo, o exercício do desapego aos bens mate-
riais. Meus pais moravam sozinhos num apartamento de três
quartos, com peças amplas, cuja sala possuía um pé direito
duplo no centro devido a grande inclinação do telhado.
O acabamento com forro e vigas de madeira e a bela lareira
faziam parecer uma casa e não um apartamento. Era acon-
chegante, bastante iluminado, pegava muito sol. Porém,
SEM MEDO DA MORTE • 123
ficava no terceiro andar e o prédio não tinha elevador, em-
bora as escadas fossem ótimas, largas, bem arejadas. Não era
adequado para pessoas que estavam envelhecendo e meu
pai já apresentava dores nos joelhos.
Minha mãe resolveu mudar. Compraram um aparta-
mento de dois quartos, bem menor que o outro. Com isso
ela resolveu se desfazer de muitas coisas antigas guardadas.
Fotos, por exemplo, – algumas ela colocou fora; fez uma
farta distribuição de outras entre os filhos. Quanto a roupas,
objetos, móveis – resolveu manter só o necessário e de prefe-
rência tudo novo ou repaginado. Um apartamento bem mais
clean. Modificou tudo que pôde.
Nem sempre as pessoas da terceira idade conseguem
desfazer-se das coisas materiais com facilidade. Essa atitude
parece sinalizar uma eficiente técnica que ela conseguiu apli-
car para o exercício do desapego, tão importante nessa pas-
sagem para outra dimensão.
Depois da mudança, fraturou o braço direito e enfren-
tou muita dificuldade para que o osso calcificasse. Colocou
gesso, tirou e o osso não “colou”. Ficou um tempo só com
fisioterapia, colocou gesso novamente, mais fisioterapia. Fo-
ram vários meses sem que pudesse utilizar o braço adequada-
mente. Enquanto isso, meu pai necessitou aprender a fazer
todo serviço de uma casa porque a faxineira vinha só uma
vez por semana. Tarefas como limpar, lavar roupa, passar,
cozinhar e até a fazer pão caseiro que ele tanto gostava,
tornaram-se habituais. Aprendeu a fazer doces maravilhosos
e continua até hoje a fazê-los para todos os filhos: ambrosia,
sagu, doce de abóbora, doce de laranja azeda, fios de ovos,
124 • SEM MEDO DA MORTE

pêssegos em calda. Durante mais ou menos um ano antes


de dessomar, ela foi a “mestra” nessas artes.
Ele aprendeu a ser independente e mais – uma forma
de agradar filhos e netos através de seus doces. Também,
uma maneira de preencher o tempo, pois ele não é um ho-
mem possuidor de hobbies. Dedicara-se inteiramente ao tra-
balho durante toda a vida. Estava agora mais preparado para
viver sozinho.
Na época, parecia apenas um grande transtorno o fato
de minha mãe ter quebrado aquele braço, mas foi um passo
fundamental para apoiar a sua despedida desta vida.
Quantas consciências têm aprendizados assim? Claro
que muitas, porém não se dão conta do que isto pode repre-
sentar.
No ano em que minha mãe dessomou, resolvi com-
parecer ao aniversário dela. Há alguns anos não passávamos
esta data juntas e estava sentindo um forte desejo de ir
a Passo Fundo, cidade onde meus pais residiam. Embora
estivesse assoberbada porque era semana de provas na
faculdade, tudo deu certo para que eu pudesse viajar. De
onde veio essa intuição forte para ir até lá, justamente, na-
quele último aniversário que passaríamos juntas? Meu
inconsciente estava me influenciando para tomar essa atitu-
de. Por quê? O que estava por trás disso? Seriam informa-
ções adquiridas nas projeções e não rememoradas conscien-
temente? Ou alguém extrafísico, sabedor do que estava para
acontecer, tentava fortalecer a ideia do encontro?
Outro fato considerado, por mim, um marco deste seu
último ano: em outubro de 2003, portanto, um mês antes
SEM MEDO DA MORTE • 125
da dessoma, minha mãe veio a Porto Alegre e resolveu hos-
pedar-se na casa de meu irmão, fato este inédito porque,
desde minha volta à cidade em dezembro de 1993, ela
nunca mais havia ficado lá. Eu era a filha mais velha, tínha-
mos muita afinidade e, desde o meu casamento em 1972,
morava longe da família. Primeiro vivi em Porto Alegre,
depois fui para mais longe, Curitiba, depois, Foz do Iguaçu
e, novamente, Curitiba antes de retornar a Porto Alegre.
Naturalmente ela queria estar perto quando podia.
Naquele ano, decidiu vir de repente, quando eu tinha
outros hóspedes já instalados e ficou na casa de meu irmão por
uma semana. Nem pude dar-lhe muita atenção. Lembro que
ela curtiu muito os netos (meus sobrinhos), saiu e conversou
bastante com minha cunhada. Parecia estar fazendo uma des-
pedida mais íntima, deixando tudo claro, sem pendências.
Dia 13 de novembro de 2003, minha mãe teve uma
parada cardíaca na UTI do hospital e pequena experiência
de EQM. Contou-nos – se tivesse deixado esse corpo físico de
vez teria sido muito bom. Não sentira nada de ruim, ao con-
trário, havia muita paz e uns rapazes de branco ajudando-a.
Não sentiu dor nenhuma. O pesadelo começou quando
ouviu a voz do médico tentando reanimá-la e voltou a sentir
o seu corpo dolorido.
Depois disso, melhorou e recebeu alta. No dia 18 de
novembro, “sonhou” ter morrido dormindo e contou ao meu
pai. Era uma projeção preparatória para ambos. O momento
da dessoma se acercava.
Não creio ter sido coincidência o fato de suas primas mais
queridas – uma residente nos EUA e outra, em Santa Maria
– estarem lá em Passo Fundo nesta época. Nem tampouco
126 • SEM MEDO DA MORTE

o caso da Gabi, a neta que mora nos EUA, ter ligado no dia
anterior, deixando-a muito feliz. Estava cercada de afeto.
Pergunto-me: qual o percentual de influência extra-
física nessas atitudes das pessoas? E de que forma isso acontece
mais frequentemente – consequência de projeções não re-
memoradas das quais sobram apenas sensações ou pela
intuição?
Reconheço como sincronicidades e não coincidências
puras e simples.
Eu mesma telefonei à minha mãe na noite anterior,
e falei por um tempo além do normal, coisa percebida pela
minha irmã. Ela pensou em brincar dizendo:
– Olha a conta! Assim a Alda nos falava às vezes em
que nós (irmãs) estávamos ao telefone já há bastante tempo.
Não o fez porque a mãe estava tão alegre e animada.
Não tenho a pretensão de imaginar, que todos os lei-
tores destes relatos concluam o mesmo sobre essas sincroni-
cidades, porém não custa nada ficarmos mais atentos às coisas
que acontecem e anotar tudo. Mais tarde essas informações
podem ser úteis para nossas próprias conclusões.
Tem algo relacionado a esta dessoma, até hoje não
entendido por mim. Se os acontecimentos não são fatos soltos,
por que, por duas vezes, fui impedida de vê-la nos seus últi-
mos dias?
Minha mãe tinha um cateterismo marcado para quar-
ta-feira. No sábado anterior, um belo sábado de novembro,
muito ensolarado, meu marido e eu fomos velejar e ele so-
freu um acidente.
SEM MEDO DA MORTE • 127
Estava anoitecendo. Passávamos por um veleiro an-
corado e o meu marido pôs-se de pé para falar com o ho-
mem do outro barco, quando o vento mudou, trocando
bruscamente de lado a vela grande – o chamado jaibe. Nessa
época, tínhamos um veleiro pequeno de 23 pés, um Oday,
e era preciso estar sempre atento quando se ficava em pé.
A retranca bateu nele na altura da sobrancelha e do
olho direito. Só podia ver, num primeiro momento, muito
sangue, sem saber de onde vinha. Olhei para meu marido,
ele colocava a mão tapando o olho a fim de eu não ver e não
entender o que se passava. Ele enxergava tudo escuro, tinha
a horrível sensação de ter perfurado o olho e não desejava
me deixar nervosa. Pediu-me bastante gelo para colocar ali
e esconder o ferimento.
Ocorreu um corte no rosto, na altura da sobrancelha
e um osso quebrado abaixo do olho direito. Só descobrimos
a história da fratura óssea na segunda-feira.
Num primeiro momento, chamamos nossos amigos
pelo rádio. Eles vieram em nosso socorro e colocaram mi-
croporo no corte pensando terem resolvido tudo. Meu ma-
rido, porém, continuou sentindo bastante desconforto no
rosto, dizendo que suas ações faciais pareciam interligadas –
mexia os lábios e sentia reflexos até o olho.
Dormimos, de sábado para domingo, no barco e passa-
mos o outro dia todo até quase o entardecer, quando voltamos.
Meu marido só foi ao médico na segunda-feira quando, en-
tão, soube que precisava fazer uma cirurgia. A técnica utiliza-
da foi retirar cartilagem da orelha e calçar o osso abaixo do
olho. A cirurgia foi marcada exatamente para o mesmo dia
128 • SEM MEDO DA MORTE

do cateterismo de minha mãe que morava em Passo Fundo.


Eu não podia cuidar dos dois ao mesmo tempo.
Por que teriam coincidido esses eventos?
Pode ser muito revelador o que aconteceu um pouco
antes do acidente. Íamos nos deslocando pelo rio Guaíba,
quando o meu marido olhou para a vela, de repente, e resol-
veu baixar a retranca. Não há meios de saber se essa atitude
foi para melhor ou para o pior. Se a retranca estivesse alguns
centímetros mais alta (como antes), talvez tivesse pegado na
região mais alta da cabeça e ocasionado um acidente ainda
mais grave.
Ou teria sido exatamente o contrário? Assim, teria
desviado de bater? O fato é que ele regulou para aquela
altura e o resultado dessa ação me impediu de ver minha
mãe. Que tipo de influência foi essa? Há muitas coisas da
outra dimensão a desvendar.
Por que eu não deveria ter ido visitá-la?
Passado o tempo de cuidados com o meu marido, resol-
vi ir a Santa Rosa entrevistar uma pessoa em função do meu
trabalho de conclusão do Curso de Letras e, na volta, passar
em Passo Fundo para visitar minha mãe. Liguei e combina-
mos que, no dia seguinte, passaria por lá para vê-la. Ela des-
somou durante a noite. Pela segunda vez, não pude visitá-la.
Não tenho sentimentos de culpa a respeito disso. Tenho
uma hipótese plausível para entender o caso. Um pouco
mais difícil é aceitar que seja assim. Talvez devido a nossa
ligação ser muito profunda e ao fato de nossos encontros
noturnos, nas projeções, serem corriqueiros, estar presente
fisicamente seria algo secundário. Resta uma dúvida:
SEM MEDO DA MORTE • 129
– Minha presença dificultaria de alguma forma o pro-
cesso do descarte do corpo físico? Ou esse assunto não tem
nada a ver? Se alguém tiver uma ideia...
Analisando agora, constato que a pessoa mais constante
nas minhas projeções foi minha mãe. Lembro de várias delas
onde eu a ensinava a volitar,33 também a mobilizar a energia
pelo corpo. Isso, antes dela dessomar.
Logo após a sua dessoma, encontrei-a muitas vezes,
geralmente no meu apartamento onde ela se sentia tão bem.
Em vista de tudo isso, concluo que a dessoma de minha
mãe foi muito amparada pelas consciências extrafísicas. Ela
foi preparada para essa passagem e os que viviam junto a ela
também. Apesar de tudo, ela parece ter demorado um pouco
para entender e aceitar (de uma vez por todas) a condição de
não mais pertencer a esta dimensão. Havia muita oscilação.
Em determinada hora parecia estar tudo resolvido e de re-
pente, agia como se não tivesse ainda captado o que se passava.
Parece um pouco incoerente, porém meu conheci-
mento a respeito da vida extrafísica ainda não me permite
levantar hipótese melhor que esta: a estabilidade, para algu-
mas pessoas, demora um pouco mais para se firmar devido
a dispersão.
Acontece o mesmo conosco na dimensão física. O pen-
samento voa solto, cria imagens mentais à vontade até reto-
marmos a concentração ao que estávamos fazendo, o que
dificulta o aprendizado.

33
Volitar: Termo utilizado para o voo com o psicossoma.
130 • SEM MEDO DA MORTE

Usamos a nossa imaginação sem dar rédeas a ela? Sem


direcioná-la positivamente?
Lamento dizer, não mudamos nada pelo fato de vi-
vermos sem o corpo físico. A nossa essência, nossa maneira
de ser continua intacta.
Aí está a razão da dificuldade para se entender as ex-
periências com as pessoas queridas que dessomaram. Em
determinado momento estão bem, há lucidez para sua condi-
ção e de repente estão fazendo tanta bobagem que nos decep-
cionam. Perguntamo-nos:
– Será que regrediram?
A melhor das possibilidades é: não o fizeram. Apenas
estão em um momento de atenção saltuária, dispersa e seus
pensamentos povoados de fantasias.
Vamos analisar os fatos baseados em cada um de nós.
– Qual é o tempo que conseguimos ficar concentrados,
raciocinando sobre determinado assunto sem desviar nossa
atenção para algo sem ter absolutamente nada a ver com
o assunto principal? Ficamos devaneando, criando imagens.
Na dimensão extrafísica, criamos formas objetivas com
os nossos pensamentos – os morfopensenes. Lembro de uma
projeção acontecida em maio de 2000 em que eu fazia um
curso no qual havia treinamento para a materialização dos
objetos. Eu pensava nas coisas e elas apareciam na minha
frente. Trocava a cor e a forma dos objetos de acordo com
a minha vontade. Sentia-me feliz por fazer aquele teste
e apresentar bons resultados pela minha vontade.
131

A CRONOLOGIA DAS PROJEÇÕES

“Nada se interpõe no nosso caminho


a não ser as nossas próprias limitações
autoinduzidas.”
(William Buhlman )

Na família, algumas pessoas tiveram projeções com


minha mãe. Quem mais experiências apresentou foi um
sobrinho e minha filha. Porém, a mais perturbadora delas
foi uma vivida por alguém de fora da família, mas que
apresentava um grande vínculo de amizade e respeito – uma
senhora que trabalhou mais de 15 anos de faxineira na casa
de meus pais.

Minha mãe dessomou dia 20 de novembro e, logo no


início de dezembro, essa senhora teve uma projeção (ela chamou
de sonho) na qual foi trabalhar na casa de meus pais. Lá che-
gando, tocou a campainha e minha mãe veio abrir a porta.
Ela estranhou porque estava ciente do fato de sua patroa estar
morta. Perguntou:
– O que a senhora está fazendo aqui?
Prontamente, minha mãe respondeu:
– Todos pensam que estou morta, porém o Darcy (o ma-
rido) foi me buscar e me trouxe de volta.
132 • SEM MEDO DA MORTE

Provavelmente meu pai quando ia dormir, saía do cor-


po, ia desesperado atrás dela, conseguia encontrá-la e volta-
vam para o apartamento, o que a fazia crer não ter morrido
e as outras pessoas estarem perturbadas ao acreditarem nesse
fato. Essa ideia de não acreditar na própria morte se chama
parapsicose pós-morte.

Nessa mesma semana, minha irmã Márcia, também,


disse ter tido um “sonho” no qual viu a mãe chegando à aula de
ioga, frequentada durante muitos anos e que lhe fazia tão bem
à saúde. Além de ser um hábito antigo, ela adorava essas aulas
e, ultimamente, minha irmã se exercitava junto. A mãe chegou,
não falou com ninguém, pegou seu colchonete e foi fazer os
exercícios.
– Por que será que ela não falou com ninguém? Pro-
vavelmente estava magoada por ter a certeza de estar viva
enquanto para os outros ela estava morta.
O fato é que ela parecia estar se mantendo fiel aos
velhos hábitos até aquele momento.

Menos de um mês depois da dessoma de minha mãe


ocorrida em novembro, realizou-se a formatura de Medicina
do filho mais velho de uma das minhas irmãs. Esse neto era
especialmente dedicado à avó, estava sempre controlando
sua pressão e preocupado com tudo que dizia respeito a sua
saúde. Enfim, cuidava-a de modo especial e ela o adorava.
Inclusive quando ela dessomou, estava passando uns dias na
casa de minha irmã. Meu sobrinho tinha cedido seus apo-
sentos para que a avó, quando deixou o hospital, não ficasse
só em nenhum momento e estivesse bem atendida.
SEM MEDO DA MORTE • 133
Certa noite, no início de dezembro, minha filha teve
a seguinte projeção:

Estávamos nos preparando para a festa de formatura desse


sobrinho quando a Fernanda enxergou a avó e pensou:
– Como pode ela estar aqui se já morreu?
A avó lendo seus pensamentos lhe responde:
– Só vim por dois dias, para a formatura.
Minha filha a abraçou, beijou e disse-lhe que a amava
muito.

Podemos perceber aí que nossos apegos, sejam eles aos


velhos hábitos (no caso de continuar frequentando as aulas
de ioga) ou às pessoas queridas, podem nos manter presos
a esta dimensão. Veja este outro exemplo de hábitos arrai-
gados: o churrasco de domingo, no apartamento de cober-
tura de uma das minhas irmãs, era um programa tradicional,
nos últimos anos, antes da minha mãe dessomar. Meu pai era
o responsável pelos assados. Logo, esse ambiente era extre-
mamente familiar e aí ela continuava a vir encontrar-se com
eles como mostra a projeção tida pelo meu sobrinho.

Depois do churrasco, estavam ele, sua mãe e a avó Alda


na cozinha.
A avó falou:
– Bem, agora eu vou para a minha casa (repetindo as
atitudes de quando vivia aqui). Olhou para ele e perguntou:
– Arthur, por que você não fala mais comigo?
134 • SEM MEDO DA MORTE

Então, ele a segurou nos braços e disse:


– Vó, você está morta. E repetiu isso, insistentemente,
olhando para o rosto dela. Percebeu que ela parecia mal com
isso, como se não quisesse acreditar.
Perguntou-lhe sobre a tia Ercy e sobre a bisavó Nena,
respectivamente a irmã e a mãe dela dessomadas. Pediu à avó
Alda para aceitar a ajuda da bisavó Nena, pois a mãe dela
a amava muito e só queria ajudá-la.
Minha irmã assistia a tudo, calada. O Arthur acordou
e pensou:
– Preciso ligar para a tia Vera e contar o que aconteceu.
Esclarecer as consciências sobre sua condição é impor-
tante, mas a insistência pode não ser produtiva e fraterna.
Nem sempre eles estão dispostos ou prontos para aceitar
o fato no momento que desejamos. É preciso tato para não
os magoar ainda mais.

A seguinte projeção ocorreu comigo e também refle-


te um comportamento habitual da consciência que parece
difícil abandonar. Ela tende a repetir as experiências e fre-
quentar lugares que prezava quando estava por aqui, de cor-
po físico.

Tudo se passou no meu apartamento e fazíamos coisas


costumeiras na cozinha, porém, quando acordei não lembrava
claramente quais eram. Só restava a sensação de familiaridade
das ações. O tempo todo eu sondava para ver o quanto minha
mãe poderia estar sabendo de sua situação real. Estaria ple-
namente convencida de estar morta? Cheguei à conclusão que,
SEM MEDO DA MORTE • 135
às vezes, ela desconfiava, porém, preferia ignorar. Quando foi
andando pelo corredor em direção ao meu quarto, que estava
com a porta fechada, pensei: vou prestar atenção e ver se ela abre
a porta ou se, simplesmente, passa por ela, ou seja, se está usando
alguns atributos do psicossoma. Nesse momento, minha visão
começou a ficar turva e fui perdendo a lucidez. Fiz um enorme
esforço para me fixar ali e não consegui. Voltei ao corpo físico.

No início de janeiro de 2004, Arthur teve uma experi-


ência na qual a avó caminhava devagar, aparentemente, man-
cando de uma perna. Ele acreditou estar sonhando porque
aquela consciência não parecia ser verdadeiramente a avó
e, também, pelo fato de apresentar esse problema não existente
quando estava viva. Concentrou-se, então, em “acordar” para
contar o sonho à tia Vera.
Na mesma experiência, a seguir, eu teria conversado com
ele e o aconselhado a voltar e dizer à Alda que todos a amávamos,
mas que ela não deveria ficar presa aqui conosco e sim, partir
para sua verdadeira casa ou sua verdadeira procedência.
Arthur, pensando estar acordado no momento do diálogo
com a tia, fechou os olhos, ou melhor, os paraolhos, 34 pois, de
acordo com seu raciocínio só encontrava a avó quando estava
dormindo. Logo a seguir, de fato, a encontrou. Abraçando-a
afetuosamente falou:
– Todos nós a amamos muito, mas a senhora deve pros-
seguir a sua jornada, não deve ficar presa aqui.
Ele seguiu a orientação da tia.

34
Paraolhos: O prefixo para deriva do grego, pará, “para além de “. Olhos
além do físico, ou seja, os olhos do psicossoma.
136 • SEM MEDO DA MORTE

Alguns pontos a serem comentados:


1. Arthur, na experiência, acreditava que acordava
e dormia pelo fato de abrir e fechar os olhos (não os olhos
físicos). Comigo, sua tia, ele pensara ter um diálogo na di-
mensão física, já que eu me encontrava viva e com a avó, na
dimensão extrafísica, pois ela estava morta. Tudo questão de
condicionamento. Estávamos todos na dimensão extrafísica,
nos manifestando com o mesmo veículo – psicossoma – ela,
porém, não tinha mais o cordão energético que a ligava ao
corpo físico e nós tínhamos porque só estávamos projetados.
Essa era a diferença entre nós.
2. Interessante ver o carinho que todos os filhos e netos
tinham por essa avó. Era algo fora do comum. Devia ser
uma pessoa com muitos méritos para ser assim tão amada.
Quando li as projeções do meu sobrinho enviadas por
e-mail questionei-me se estávamos usando a estratégia certa.
Estávamos sendo assistenciais com a Alda? Não parecia.
Se a técnica não funcionara até aquele momento (e já
fizéramos tantas tentativas), estava mais do que na hora de
revermos nossa postura. Quem sabe, em vez de ficarmos
tentando esclarecê-la à força, deveríamos pensar em somente
exteriorizar muita energia amorosa, com boa intenção e con-
vocar os amparadores dela e os nossos deixando eles fazerem
o que fosse melhor para todos?
Combinamos ocupar bastante nossa mente durante
o dia com essa ideia e acertar mentalmente com o amparador
a nova técnica.
Ainda durante o mês de janeiro, esse mesmo sobrinho
tem outra projeção. Ele e sua mãe estão no seu apartamento
e a Alda está no terraço, tomando sol. Rejane comenta com o filho:
SEM MEDO DA MORTE • 137
Não sei o que fazer com a minha mãe porque ela não
aceita o fato de ter morrido e continua fazendo as coisas como
se estivesse viva. Rejane, então pergunta à sua mãe, na tentativa
de fazê-la entender os fatos ocorridos:
– Mãe, você ainda toma os remédios para asma?
– Parei com quase todos, às vezes eu faço nebulizações.
O curioso disto é que alguns dias antes Rejane, minha
irmã, e eu estávamos caminhando (na dimensão intrafísica)
quando surgiu o assunto da dessoma da mãe. Eu disse ter
preocupações pelo fato de pensar que a mãe poderia estar
sofrendo devido à parapsicose, bastante comum após a desso-
ma. As consciências, sem perceber que morreram ou na
ignorância dos atributos do corpo em uso, podem continuar
padecendo de males pertencentes ao corpo físico. É uma
questão de condicionamento.
Veja você: alguns resquícios da doença ainda per-
maneciam. Ela “quase” não tomava mais remédios, mas ainda
havia algo, pois ela fazia nebulizações de vez em quando.
Também pudera, foram mais ou menos uns trinta anos de
sua vida sofrendo de asma. Era uma informação profun-
damente enraizada.
Voltando à projeção: depois que ela falou das nebuli-
zações, ocorreu uma troca de ambiente. Estavam numa sala,
o Arthur (de pé), a Alda e a Rejane, sentadas em meio a uma
plateia. Arthur perguntou para Alda:
– Você não tem visto o Leandro ou a tia Erci recen-
temente? Na ordem, o neto e a irmã também dessomados.
– Não.
138 • SEM MEDO DA MORTE

Era mais uma tentativa de fazer a dessomada entender


a sua situação. Parece que novamente não surtiu efeito, pelo
menos no momento. Alguma coisa deve permanecer na me-
mória e ajudar no futuro.
Na continuação dessa experiência tão rica, Arthur e Rejane
fazem um plano para ver se trazem lucidez a esta consciência
tão querida.
Minha mãe usava marca-passo e, na época havia menos
informações e mais receio quanto ao uso de celulares por
quem fosse portador desses aparelhos eletrônicos.
Até hoje ainda existem certas restrições ao uso do celu-
lar por pessoas com marca-passo, por exemplo: mantê-lo
a uma distância superior a 15 cm do marca-passo e usá-lo no
ouvido contralateral, além de não portá-lo próximo ao gera-
dor. O fato é que ele pode causar algumas interferências do
tipo inibição transitória.
Minha mãe procurava evitar o uso de celulares. O plano,
então, era o seguinte: O neto caminha com a avó pela rua e a mãe
dele liga para o seu celular. Arthur, então, passa o telefone para
Alda dizendo:
– A ligação é para a senhora.
A avó atende, e quando começa a falar, Arthur a lembra
do marca-passo e que não deveria usar assim o telefone celular.
Ela parece ter tido um choque, no momento do aviso.
Logo a seguir cai dizendo que o coração parou.
Arthur vê outro corpo extrafísico saindo do corpo que ela
estava portando. Segundo suas observações este veículo era muito
bonito, irradiava forte luminosidade e apresentava feições bas-
tante serenas.
SEM MEDO DA MORTE • 139
Seria ele o psicossoma sutilizado, livre das energias do
holochacra 35 deixadas para trás?
Seria a segunda dessoma? É uma boa hipótese.

As projeções com a Alda continuaram por mais um


tempo, geralmente com a Fernanda, minha filha, e o Arthur.
As últimas relatadas foram em 2006. Quanto aos outros
membros da família nunca se tocou no assunto projeção o que
não significa a inexistência de experiências projetivas. Pode
até ser que, ao tomarem contato com esse livro, lhes venha
à memória algumas experiências que desejem partilhar.
No primeiro mês de 2006 a Fernanda teve uma proje-
ção na qual conversava com a avó e outras pessoas não conhe-
cidas na vida intrafísica, sentadas em uma sala. De repente,
alguém pergunta:
– Alda, por que não foste em “tal” lugar? O nome do lugar
foi esquecido ao acordar.
– Não fui porque era muito longe e precisava pegar o ônibus.
Fernanda estranha, pois tinha plena consciência de que
a avó sabia estar dessomada e, portanto, poderia usar dos atri-
butos do psicossoma.
Então, a questiona:
– Vó, não lembra o que a Vera lhe dizia sobre volitar em
vez de andar?
– Aqui tudo é igual ao físico.

35
Holochacra: Conjunto de todos os chacras, também chamado Energossoma
ou Corpo Energético
140 • SEM MEDO DA MORTE

A neta, então, faz demonstrações de volitação para as pes-


soas ali reunidas as quais ficam olhando admiradas. Diz, tam-
bém, que é só pensar e a gente vai para o local escolhido. Dá
demonstrações disso desaparecendo do ambiente. Quando volta,
comenta ter ido à Austrália. Todos parecem ficar surpresos.
Percebe-se que a neta projetada tinha lucidez quanto
aos atributos do psicossoma e a avó os tinha esquecido, pelo
menos naquele momento.
Saber sobre projeção e fazer um treinamento ainda nesta
dimensão, possibilita que prestemos assistência aos que desso-
maram ensinando-lhes sobre novas ideias ou auxiliando-os
na recuperação de conhecimentos já adquiridos, quando
passam por períodos de baixa lucidez. Essa é uma das utili-
dades da projeção lúcida da consciência.

Em junho de 2006, Arthur estava projetado na sala do


meu apartamento quando avistou a avó Alda, toda de branco,
irradiando muita luz. Ela estava feliz e com ótimo aspecto. De
todos os contatos já acontecidos, neste, ela estava muito melhor.
Ao enxergá-la, mais uma vez abraçou-a, beijou-a e disse que
a amava. Ela retribuiu os carinhos e disse:
– Agora já me dei conta do ocorrido e estou muito bem.
De vez em quando venho dar uma olhadinha em vocês.
141

O APOIO NA HORA DO CERIMONIAL

“A sorte é o que é, mas a razão que está por trás


dela, é qualquer coisa dentro de nós. Na vida não há
elos perdidos. Todas as experiências constituem
um lembrete de que nada é irrelevante.”
(Edward Bach )

É importante dizer a você que, durante toda minha


vida, tive verdadeiro pavor a enterros e na hora de fechar
o caixão eu procurava estar sempre longe para não ver o que
acontecia. Imaginava o que ocorreria comigo quando al-
guém muito próximo de mim passasse pela experiência da
dessoma. Pensava não ter estrutura para aguentar.
Agora, era o meu filho mais velho que ali se encontrava
para as despedidas finais. E precisei enterrá-lo por que, na
época, não havia crematórios em Curitiba ou próximo dali.
Meu mundo ficou completamente abalado. Nesse dia
tive duas experiências marcantes e antagônicas. Na primeira
delas, mergulhada na minha dor, esperava que alguém pudes-
se me socorrer, dar uma ideia do caminho a seguir na busca
de um sentido para o que estava vivendo. Quem melhor do
que uma pessoa que passara por um problema semelhante
com seu próprio filho?
142 • SEM MEDO DA MORTE

Pois bem, essa pessoa se aproximou de mim e disse:


– Prepare-se, porque a saudade e o vazio só aumentam
ao longo do tempo.
Meu coração se acelerou e minhas pernas fraquejaram.
Senti como se recebesse uma punhalada. Esse era o meu medo
maior – que a dor e a saudade fossem ainda mais insupor-
táveis no futuro. Fiquei arrasada.
Não sei bem o que esperava ouvir, mas poderia ser mais
ou menos assim:
– Olha, os acontecimentos te jogaram numa espécie
de túnel, que pode parecer longo e escuro, mas há uma luz
no final. A vida tem sentido. Eu sou a prova disso. Estou aqui
para mostrar.
Infelizmente essa pessoa não havia descoberto o alívio
para seu coração atormentado nem preenchido o vazio que
o habitava.
Nunca mais a vi e meu desejo é que esteja hoje feliz,
tenha entendido as razões do que aconteceu e esteja em paz
com os acontecimentos.
A outra experiência foi animadora e inexplicável na-
quele momento.
“Incompreensivelmente”, na hora final, quando foram
dar a encomendação do corpo e colocar a tampa no caixão eu
fiquei calma, muito calma. Parei de chorar e disse à minha mãe:
– Ele não está mais aí. É só um corpo que se vai.
Mantive-me ali, num silêncio profundo, olhando tudo
e pude suportar a cerimônia até o final do enterramento.
SEM MEDO DA MORTE • 143

As pessoas devem ter até pensado que eu era uma pessoa


insensível. No momento do enterro do filho ela não tem
nenhuma crise aguda.
Por que isso aconteceu? Que forças misteriosas foram
essas que me sustentaram? De onde vieram semelhantes
ideias, de tamanha força, capazes de me convencer desta
maneira?
O meu estranhamento ficou no ar, sem respostas. Pas-
sados alguns dias, uma amiga telefonou dizendo precisar
muito falar comigo. Ela foi até minha casa durante a tarde.
– Tenho algo a contar e não sei de que modo você
reagirá.
Esse preâmbulo todo me deixou apreensiva, mas ela
me revelou algo maravilhosamente libertador.
Minha amiga era uma pessoa clarividente, ou seja, capaz
de ver as consciências que já não possuem um corpo físico
e que, mesmo assim, andam por essa dimensão. Aliás, isso lhe
havia trazido muitos sofrimentos, principalmente quando
era jovem e não tinha domínio sobre seu parapsiquismo. Não
é algo fácil de aprender a lidar, ainda mais quando falta
conhecimento e domínio energético.
Nunca vou esquecer o que sucedeu. Ela falou:
– No dia da cerimônia do enterro, na hora da benção
final, o Leandro chegou e se postou entre seu marido e você,
lhe deu um abraço e colocou o braço nos ombros do pai.
Permaneceu ali entre os dois. Minha amiga é que precisou
sair do ambiente devido a grandeza da emoção sentida .
144 • SEM MEDO DA MORTE

Então foi o próprio Leandro que me passou a mensa-


gem tão reconfortante naquele momento. Agora eu entendia.
Foi o seu abraço que me amparou e deu forças.
Há um detalhe importante a ser ressaltado: para haver
esse tipo de comunicação é necessário algumas condições
e certa sintonia de pensamento a fim de que a mensagem
possa ser ouvida. Caso contrário, ele não teria conseguido dar
seu recado e eu não teria dado crédito às ideias que me vieram
à cabeça. Naquele momento eu estava ali completamente
imóvel, muda, perdida, num estado de torpor ou acalmia
(mas não havia tomado nenhum remédio). Penso que pro-
movi uma pequena soltura dos corpos e por isso consegui
captar o que ele queria dizer.
Não sei se você pode entender e aceitar o que aconte-
ceu. Para mim, importa o fato de eu ter “vivido a experiên-
cia”. Sentia haver ocorrido algo muito diferente e não conhe-
cia o motivo. Quando ela explicou, tudo fez sentido. Foi só
ligar uma coisa à outra.
Entendeu agora o porquê da minha calma, o porquê
de eu ter dito aquela frase com tanta certeza íntima, sem ter
tido experiências anteriores para me provarem ser aquilo
realmente possível? O incompreensível estava agora compre-
endido.
O Le havia conseguido me passar ideias, sentimentos
os quais eu pensava serem meus, só não sabia de onde eles
tinham aparecido assim tão de repente.
Essa minha amiga já havia vivido em muitos lugares
do Brasil. Viveu, inclusive, em Foz do Iguaçu no mesmo
período que eu, durante a construção da barragem de Itaipu.
SEM MEDO DA MORTE • 145
Porém, não chegamos a nos conhecer ali, embora Foz, nesta
época, ainda fosse uma cidade bem pequena. Só nos encon-
tramos em Curitiba e ela protagonizou algo tão significativo
para mim.
E, veja, quando nos conhecemos, na década de 80, eu
não me esforcei nem um pouco para estreitar essa amizade.
Não por ela, mas porque ficava difícil acompanhar seu pa-
drão de vida, que era muito elevado para mim.
Mesmo tendo me afastado um pouco, na hora que ela
soube da doença do Le, fez-se bastante presente. Gostaria
muito de saber onde está vivendo esta mineira de Belo Ho-
rizonte e lhe dizer, por exemplo, que ela foi uma peça-chave
na minha vida. Tê-la conhecido foi uma dádiva. Acho que
não disse a essa minha amiga o quanto ela representou na
minha vida. E agora, não creio poder dizer-lhe mais, pelo
menos aqui na dimensão física, pois nunca mais tive notícias
suas. Por onde andará ela? Não acredito ter sido aleato-
riamente que nos conhecemos. Foi mais uma das sincro-
nicidades da vida.
146

AS ENERGIAS

“Eu acho divertido o fato de que, a cada dia, nós


nadamos num magnífico oceano de energias
multidimensional enquanto as nossas ciências
ainda estão examinando os grãos de
areia na praia.”
(William Buhlman)

As modificações ocorridas comigo ao longo dos últimos


20 anos me provaram o quanto é importante o domínio
energético para se obter certo equilíbrio. É claro, o conheci-
mento, as ideias vêm em primeiro lugar, mas sozinhas, pouco
resolvem.
Você já sabe daquele meu antigo companheiro – o vazio
existencial, que perdurou muitos anos, mas posso dizer ainda
mais dessa época. Num tempo no qual ainda não se falava
em TPM, a cada mês, um dia antes de menstruar chorava por
qualquer coisa, o dia todo. Também tinha muitas alterações
de humor. Meu marido queria saber porque eu chorava
e eu não sabia dizer. Ele ficava muito chateado. Como alguém
pode chorar sem saber por quê? Era uma coisa indefinida.
Naquele dia o mundo todo parecia cinza e negro, no outro
amanhecia radiante.
SEM MEDO DA MORTE • 147
Também sofria influências do tempo: ficava triste se
chovia. Se o dia estava nublado também me afetava. E se alguém
viajasse, ufa! sentia uma dor imensa dentro do peito, não
importando o tempo que a pessoa fosse ficar fora, nem o grau
de intimidade com ela, desde que saísse lá de casa. Sentia-me
abandonada. A despedida era algo assustador.
Lembro-me muito bem, um dia no qual meu marido
foi a São Paulo, a trabalho, e uma vizinha veio até a minha casa
falar comigo. Eu estava aos prantos e ela quis saber qual o tem-
po que meu marido ficaria fora. Respondi – até amanhã.
Ela não queria acreditar. Por que motivo, então, eu
chorava assim? Tudo que eu sabia era o tamanho da tristeza
sentida no meu coração.
Há muitos anos que não sofro mais essas alterações. Tanto
faz que chova ou faça sol. As pessoas já podem viajar e esse fato
não abala minhas estruturas. Não fico triste e nem tenho von-
tade de chorar por qualquer motivo. Aliás, é muito raro ter
vontade de fazê-lo. Quando sinto alguma coisa querendo me
pegar, uso recursos energéticos para não cair nessa. Começo
imediatamente a fazer um estado vibracional (EV) que
é a chave prática do domínio energético e também consciencial.
Quanto à TPM, já estou em outro período da vida – na
menopausa, mas posso dizer que durante meus últimos anos
parei de sofrer esse tipo de influência negativa. Todos os meus
dias têm poucas variações de humor e indisposições de tem-
peramento.
Nos cursos de Conscienciologia, teoria e prática vêm
sempre juntas. Todos os dias treina-se o domínio das energias.
Os movimentos energéticos, chamados MBE, Mobilização
Básica de Energias, que aprendemos a fazer, são exercícios
148 • SEM MEDO DA MORTE

simples que ajudam no autocontrole e na autodefesa ener-


gética. De tão simples, chegamos a duvidar de sua eficácia –
de início é claro, quando ainda não experimentamos seus
efeitos. Esses movimentos energéticos podem ser feitos a qual-
quer hora, em qualquer lugar, sem que ninguém perceba.
Basta exercer a sua vontade.
Aprendemos a circular a energia dentro do corpo,
a acelerá-la até atingir o estado vibracional, a exteriorizá-la
e absorvê-la conforme as necessidades.
O tempo todo interagimos com as energias das outras
pessoas, dos animais, dos objetos, dos locais e até podemos
sentir as repercussões geradas, mas, na maioria dos casos,
não associamos o efeito à causa. Às vezes, nos encontramos
cheios de vitalidade (leia-se energia) e nos deparamos com
alguma pessoa, ou falamos ao telefone e quando nos despe-
dimos estamos cansados, ou com sono, ou súbito mau humor.
A pessoa que estava sem nenhuma disposição agora está óti-
ma. Até nos agradece, pois foi muito bom ter falado conosco,
embora, em certas ocasiões a gente não tenha falado prati-
camente nada.
Esse é um caso em que aconteceu, de modo incons-
ciente e natural, a troca de energias entre duas consciências
na dimensão física, em que uma se recuperou e a outra saiu
defasada.
O resultado do encontro poderia ter sido diferente?
Sim, se houvesse conhecimento e controle sobre a energia
consciencial. Poderíamos ter doado conscientemente nossa
energia para o outro sem sofrer defasagem. Em alguns casos,
poderíamos até evitar maior interação mudando a frequên-
cia da nossa energia através do estado vibracional. Parece
SEM MEDO DA MORTE • 149
complicado, mas se um dia você resolver experimentar vai
ver que é muito simples. Exige, porém, persistência e domínio
da vontade porque no começo você pode não sentir nada.
Podemos também sofrer as interferências das energias
dos locais. E não se iludam com boa aparência, ela não é tudo.
Pode até ser um lugar bem decorado, bonito, porém não nos
sentimos confortáveis nele devido às repercussões desagra-
dáveis das energias ali gravitantes. Falta-nos, no entanto,
capacidade para fazer a leitura dos acontecimentos ocorridos
naquele lugar deixando esse rastro energético negativo que
permanecerá algum tempo exercendo influência nas pessoas
desavisadas igual a maioria de nós. Também é evidente que
algumas pessoas se afinam com a energia do local devido à com-
patibilidade dos pensamentos e sentimentos.
E quanto aos objetos que levamos para casa – preci-
samos ficar atentos. Qual o tipo de energia eles têm? Onde
estavam antes e como eram seus donos anteriores? É neces-
sário saber se temos competência para fazer o rastreamento
energético ou psicometria – técnica de verificação ou leitura
das energias dos ambientes e das coisas.
Se não conhecemos grande coisa de energias e o nosso
parapsiquismo não é dos mais desenvolvidos, pelo menos,
precisamos ter atenção focada e perceber como nos sentimos
em relação a esses objetos, se nossa energia é compatível. Às
vezes, começam a ocorrer muitas mudanças conosco e com as
outras pessoas da casa depois da chegada de um determinado
objeto. Se for para melhor, tudo bem. Se não for, é necessá-
rio nos livrar dele e de sua influência.
Consciências estão sempre ávidas das energias das ou-
tras, na grande maioria das vezes sem má intenção, apenas
150 • SEM MEDO DA MORTE

em função da carência. Daí a importância de se aprender a ter


domínio sobre as energias através da prática do EV.
E aqui não falamos somente de consciências vivendo
temporariamente na dimensão física, ou seja, nós. Consciên-
cias se influenciam mutuamente e trocam energias de uma
dimensão para a outra. Além do mais, a dimensão extrafísica
é muito maior e mais populosa que a dimensão física e energia
é o combustível que elas necessitam na outra dimensão.
– Quais têm sido as repercussões de suas trocas ener-
géticas?
151

O SENTIDO

“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás;


mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.”
(Søren Kierkegaard )

Duas experiências relacionadas à dessoma foram aqui


analisadas. Com as duas consciências eu tinha imensa afini-
dade, no entanto, gostaria que tivesse ficado visível a diferença
na superação da partida de cada uma delas.
Sei que não narrei aqui as dificuldades enfrentadas na
hora da dessoma do filho. Fugi da narrativa dos detalhes do
sofrimento porque a intenção é, justamente, mostrar o de-
pois, o processo da autossuperação. Procurei, com muita for-
ça e usando todos os recursos conhecidos, evitar o que
o professor Waldo Vieira chama de “permanecer no pódium
da estrela maternal sofredora”. No entanto, é tão mais fácil
entrar na roda da vitimização. A sociedade concede às mães
sofredoras consideração especial (status) de certa forma
incentivando-lhes a manutenção da dor.
As coisas que fiz para me recuperar foram instintivas,
provavelmente devido às ideias inatas trazidas. Por exemplo,
me orgulho de ter conseguido (não sei se tanto quanto eles
152 • SEM MEDO DA MORTE

gostariam) manter presente o fato de ter mais dois lindos


filhos que precisavam de mim.
Lembro da primeira festinha de aniversário da minha
filha após a dessoma do irmão – havia se passado apenas 2 meses
e meio. Ela completaria 10 anos e eu não poderia deixar
aquela menininha, que já enfrentara acontecimentos tão di-
fíceis, sem uma comemoração. Ela precisava estar entre suas
amigas, coleguinhas e vizinhos neste dia e sentir-se amada
e prestigiada.
Disse ao meu marido:
– Não importa o que as pessoas vão falar de mim, vou
fazer mesmo assim. E devem ter falado porque parece haver
um consenso – se alguém passa pela dessoma de um filho
precisa ter um longo período de sofrimento “demonstrado”.
Sofrer eu sofria, mas para os outros não, porque estava até
fazendo festinha.
Ninguém sabe o que isso me custou. Enquanto estava
sozinha e preparava tudo chorava sem parar, mas quando
alguém chegava, me continha. Procurava ficar alegre. Não
queria estragar tudo.
Voltemos às comparações. Ao enfrentar a primeira
dessoma, me senti no ar, sem nenhum apoio, sem saber como
seria viver no chão, outra vez, sem a presença daquela consciên-
cia que dividiu o dia a dia comigo por, praticamente 16 anos
(ele completaria 16 no mês seguinte). Não encontrava sig-
nificado para o que acontecera. A perda era para sempre,
a saudade eterna.
Na segunda, tudo pareceu seguir um caminho natural
do ser humano pelo fato de minha mãe já ter vivido setenta
SEM MEDO DA MORTE • 153
e três anos. Mas havia muito mais: a vida já fazia sentido,
a morte também. A saudade era passageira. Tinha certeza
de que não se perde ninguém.
Havia encontrado a minha ideia de verdade. O mundo
continuava o mesmo – eu me havia transformado. O resul-
tado dessas experiências foi algo extremamente libertador
e trouxe um propósito à minha vida.
No início deste livro, disse que usaria minha imagina-
ção numa forma de nos aproximar e fazer dos meus relatos
uma conversa informal entre nós. Espero que essa conversa
tenha sido proveitosa e tenha mexido um pouco nos seus
conceitos. Fiz minha tentativa.
O que vale é compartilhar porque ninguém é feliz se
pensar só em si e guardar suas ideias para usufruir sozinho.
A norma da vida é simples: o nosso bem estar aumenta na
proporção que fazemos algo pelo outro – interassistencia-
lidade – e de preferência para esclarecê-lo e libertá-lo de suas
amarras, de seus medos.
Você acha importante estar preparado para a dessoma
ou à volta para casa? Analise de que modo isso poderia ajudar
na economia do tempo em que ficaríamos perdidos e deso-
rientados ao passarmos pela experiência de surpresa. Muito
sofrimento seria poupado.
Gostaria que você, durante o percurso desta leitura
tivesse sido testemunha do meu entusiasmo e amor pela vida,
apesar dos acontecimentos maiores que me entristeceram
e me fizeram sofrer em determinados momentos desse ca-
minho. A intenção é mostrar que se pode – que há maneiras
de continuar vivendo feliz depois de passado o período
154 • SEM MEDO DA MORTE

crítico do luto. Que mesmo esse período, pode ser vivido de


maneira mais leve de acordo com os novos conceitos.
Já dei claramente a fórmula do que ajudou a manter meu
equilíbrio: o conhecimento de que existe uma outra vida
além dessa (ainda tão pouco conhecida) , as experiências pes-
soais vivenciadas em outra dimensão e a prática de exercícios
bioenergéticos ao longo desses anos – esse é o pulo do gato.
Tenho procurado desenvolver meu parapsiquismo
e minhas projeções conscientes para encontrar cada vez mais
informações a respeito de quem sou. Que história “de vidas”
tem a consciência que sou eu? O que estou aprendendo atra-
vés destes inter-relacionamentos?
As informações adquiridas através das retrocognições
(projeções com acesso a vidas passadas) me permitiram en-
tender melhor alguns dos motivos, pelos quais viemos juntos
– na condição de mãe e filho – Leandro e eu. Tive mais duas
importantes projeções retrocognitivas bastante esclarece-
doras. No entanto, elas envolvem outras pessoas e prefiro
deixá-las guardadas.
Todo relacionamento possui uma razão lógica nos seus
entrelaçamentos. Por que viemos com essa família? Qual
o motivo de escolhermos certos grupos de afinidade?
A razão são os chamados “rabos presos” ou interprisões
que necessitam ser resolvidos através das séries de vidas ao
longo da evolução da consciência.

Sobre minha mãe – nunca tive experiências extrafísicas


que me mostrassem, claramente, alguns motivos para estarmos
juntas. No entanto, sempre intuí que devia dar a ela muito
SEM MEDO DA MORTE • 155
apoio, carinho e, na medida do possível, fazer com que am-
pliasse sua visão religiosa da vida e da morte. Talvez em al-
guma outra vida eu tivesse feito exatamente o contrário –
permitido-lhe apenas uma visão bastante restrita das coisas,
não consentindo que expandisse as ideias. Por isso agora essa
ânsia de libertá-la dos condicionamentos restringidores.
Ela era bastante aberta, embora tivesse muitos medos
e condicionamentos de uma vida inteira. O importante era
dar a ela as informações que pudesse absorver aqui na dimen-
são intrafísica e o resto deixar para as vivências noturnas con-
juntas na outra dimensão, porque nas projeções ela demons-
trava saber mais do que parecia aqui.
No princípio, pisei na bola com a dose de informações
jogadas em cima de minha mãe, desestruturando um pouco
o seu mundo. Quando se descobre as ideias libertadoras da
Conscienciologia e elas têm reflexos tão positivos sobre nós,
a primeira coisa que desejamos é que todas as pessoas a nossa
volta, principalmente as da família, as tomem para si. Cada
um, porém, tem sua caminhada própria, seu tempo de apren-
der. Bem, erramos porque estamos sempre em fase de aqui-
sição de habilidades. Pelo menos, a intenção era boa.

Pelas experiências vivenciadas, parece que Leandro e eu


conseguimos aprender muito um com o outro e melhorar
bastante nossas amarras. Ele me ajudou a encontrar um sen-
tido maior para a vida e isso me livrou (acredito) de uma
futura depressão ou, talvez de um simples agravamento do
vazio existencial.
Na hora em que percebi a importância de ter desco-
berto o sentido da vida pensei:
156 • SEM MEDO DA MORTE

– Não posso ser egoísta e guardar o resultado dessa


caminhada só para mim. Algumas pessoas gostarão de ouvir
essa história e a certeza de desejar repartir minhas experi-
ências de vida me obrigou a enfrentar traços da minha per-
sonalidade que impossibilitavam colocar em prática essa
intenção. Por exemplo, não conseguia falar absolutamente
nada em público, mas pretendia dar algumas palestras. Fui
obrigada a construir novas sinapses para que isso acontecesse
e enfrentar o medo que me dominava. Garanto a você – não
foi fácil. Ainda não é fácil. Falta muito a desenvolver.
Também tinha verdadeiro trauma de escrever e me
posicionar e aqui estou abrindo meu coração, colocando os
meus pensamentos e sentimentos em palavras. Para isso,
busquei conhecer-me e entender-me melhor e, a partir daí,
desenvolver determinados atributos.
A autossuperação de traumas como: medo de falar em
público, medo de escrever, acredito, eram partes do pla-
nejamento individual de vida (egocarma) feito antes de nas-
cer. E levar o resultado dessa superação às pessoas era uma
segunda parte da programação – a parte grupal.
Por tudo que vivemos anteriormente (Le e eu) precisá-
vamos passar por essa experiência tão fugaz (aqui nesta vida),
mas ao mesmo tempo tão marcante e duradoura.
Sou muito grata a essa consciência especial e meu in-
tenso desejo é que consiga grande serenidade na continuação
de seu caminho.
Com o afastamento (veja que não coloquei perda) do
Leandro, pude chegar ao sentido da vida em geral e da mi-
nha vida em particular e espero que você possa descobrir
SEM MEDO DA MORTE • 157
o sentido da sua antes de passar por uma experiência pró-
xima da dessoma.
Temos duas maneiras de aprender na vida: através de
crises de sofrimento ou através de crises de crescimento.
A primeira é involuntária e reflexo de não termos optado
pela outra. A segunda significa antecipação e busca de res-
postas e soluções pela nossa vontade, gerando um estresse
temporário que aliviará ou eliminará o sofrimento, conforme
o caso. A opção, em última análise é sempre nossa.
Não posso afirmar se o Le está renascido ou preparan-
do-se para renascer. Espero, no entanto, encontrá-lo em pro-
jeções futuras e poder dizer:
– Até nosso próximo encontro no planeta Terra.
Fizemos uma ótima parceria. Vamos trabalhar juntos
outra vez?
Quais serão as metas para incentivar a nossa evolução
conjunta?
158

SUPERAÇÃO

“Quer acredite que pode, ou que


não pode, você tem razão.”
(Henry Ford)

Sempre me senti atraída pela palavra superação. Ela


parecia ser um imã a prender minha atenção, pelo fato de
suscitar muitas dúvidas sobre seu significado para cada indi-
víduo. Escuto as pessoas dizerem: – Eu superei tal coisa.
Fico intrigada pela reação diferente de cada um. Talvez
agora tenha entendido que superação é uma longa escada
e cada um encontra-se num determinado degrau. Uns con-
seguirão subir mais outros nem tanto.
Segundo o dicionário Houaiss superação é a ação de
vencer, alcançar, conseguir, elevar-se acima de. Alguns sinô-
nimos: afastamento, remoção, triunfo, vitória. Os dois últi-
mos significados, bem mais simpáticos. Superar é vencer,
triunfar – mas, afastar e remover... espera aí!
Todos desejam mesmo isso? É mesmo necessário con-
cordar em abrir mão daquele ser que partiu?
Muitos pensam que superaram, porém não esquecem
o assunto. Espalham fotos por todos os lugares, vão ao cemi-
SEM MEDO DA MORTE • 159

tério toda hora, guardam todos os objetos. Na verdade, com


esta evocação constante fica difícil o afastamento daquele
que partiu.
Você acha possível vencer a luta pela superação sem usar
os artifícios "afastar" e "remover" inerentes ao seu significado?
O que mais me deparo é com situações em que as pes-
soas dizem ter superado, mas mantém uma postura não con-
dizente com essa realidade.
Superar é libertar-se, soltar-se, dar ao outro e a si mes-
mo licença para seguir novos caminhos. É mudar de ideia.
É avançar.
Superar não é simplesmente ter a dor diminuída. É atin-
gir outro patamar. É abrir mão da dor, por mais disfarçada
que se apresente. Superar é permitir que a dor deixe de ser
uma dor e passe a ser apenas uma lembrança boa e distante.
Para muitos, no entanto, o significado de superação
é confundido com acomodar-se com a dor, acatar as leis da
natureza, ir levando a vida.
Penso ter conseguido superar a morte do Le porque
acessei, ainda que minimamente, essa vida tão difícil de ser
percebida e aceita e, por isso mesmo, ainda não vislumbrada
como algo que pode ser bom. Pude, enfim, abrir mão da
minha dor e deixá-lo seguir livre por que vi que estava bem.
Era o que importava afinal. Isso me trouxe equilíbrio e paz.
Ter essa vida mais presente (a vida extrafísica) facilitaria
muito, mas preferimos nos preocupar com outras coisas que
achamos mais importantes.
160 • SEM MEDO DA MORTE

Já li alguns autores que associam a morte a uma pers-


pectiva mais feliz. Afinal vamos continuar a viver, podemos
encontrar novamente nossos amores, por que tanta tragédia?
Todo acontecimento tem o lado positivo e o negativo.
Na dessoma a visão positiva vem sendo sistematicamente
esquecida em razão da fixação das pessoas, em geral, nos
aspectos negativos. Concentremo-nos em alguns aspectos
positivos:
01. Não há morte, apenas descarte de um veículo, mui-
to provavelmente, já gasto ou sem saúde.
02. Atuação através do psicossoma, veículo mais avan-
çado, maleável e com capacidade de transfigu-
ração.
03. O psicossoma permite viver livre da dor, da fadiga,
dos deveres e obrigações deste mundo como, por
exemplo, trabalhar para ganhar o sustento.
04. Possibilidade de mover-se em todas as direções sem
limitações quanto ao transporte.
05. É uma existência na qual não precisamos mais
respirar, se nossos condicionamentos permitirem
06. Representa uma chance de recuperar a memória
integral.
07. Probabilidade de recuperação das múltiplas capa-
cidades já adquiridas em outras vidas.
08. As realizações podem ser vistas com mais clareza
usufruindo-se os benefícios destas.
09. Alcança-se a oportunidade de planejar melhor
a próxima vida.
10. A comunicação pode ser por telepatia.
SEM MEDO DA MORTE • 161
11. Chance de encontrar extrafisicamente com os seres
intrafísicos projetados (nossos parentes e amigos)
12. Possibilita o reencontro com nosso grupo de afi-
nidade.
13. Retorno para casa.

Essas são realizações possíveis e acessíveis a todos. Basta


querer e preparar-se para tal. Se a pessoa nunca quis pensar
nisso, não entende o mecanismo e as possibilidades dos vários
corpos que possui estará desperdiçando-as mais uma vez.
A ideia corrente da morte é de algo terrível, um castigo
devido a super valorização da vida na Terra e deste corpo de
carne e osso. Tudo gira em torno do corpo físico – ele é tido
como o ponto central – uma ideia tão equivocada quanto a de
que a Terra era o centro do Universo antes de surgir Copér-
nico e Galileu Galilei.
Diante de você, existem duas possibilidades:
– Viver ainda na Era Medieval quanto ao conheci-
mento da consciência e ficar esperando um cientista dar-lhe
a prova de que o corpo físico é o corpo mais descartável da
consciência ou
– Ir atrás dos vislumbres dessa outra vida, o que poderá
mudar a sua realidade consciencial, tornando-a mais lúcida
quanto ao real significado da morte e da vida.
A escolha é sua.
162

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ricardo Aníbal Rosenbusch; 8 caps.; Ediouro; Rio de Janei-
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302 p; trad. Vera Lúcia dos Reis; Objetiva; Rio de Janeiro, RJ;
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Resiliência – Descobrindo as Próprias Fortalezas; 160 p.; trad.
Valério Campos; Artmed; Porto Alegre, RS; 20054.
4. Parnia, Sam; O que Acontece Quando Morremos; 246p.; trad.
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516 p.; trad. Beatriz Silke Rose, Eurides Avance de Souza, Inês
Antonia Lohbauer; WMF Martins Fontes; 2ª Ed.; São Paulo,
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163

ALGUMAS OBRAS CONSULTADAS

01. Alegretti, Wagner; Retrocognições – Lembranças de Vivências


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Ribeiro; Federação Espírita Brasileira; 9ª Ed.; Rio de Janeiro, RJ;
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Therezinha Batista dos Santos; Cultrix Ltda; 10ª Ed.; São Paulo,
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do Viver e do Morrer; 319 p.; Sextante; 4ª Ed.; Rio de Ja-
neiro,RJ;1998
07. Leadbeater, C. W.; Para os que Choram a Morte de Um Ente
Querido; 62p.; trad. Gustavo Llanes Caballero; Ed. Isis Ltda;
São Paulo, SP; s/d
08. Morse, Melvin; Perry, Paul; Transformados pela Luz; 236 p.;
trad. Beatriz Penna; Nova Era; Rio de Janeiro, RJ; 1997
09. Thiago, Glória; Vivendo em Múltiplas Dimensões; 366 p.; 32
caps.; Instituto Internacional de Projeciologia e Consciencio-
logia; Rio de janeiro, RJ; 1999
10. Vicenzi, Luciano; Coragem para Evoluir; 200 p.; 8 cap.;
Editares; 2ª Ed.; Foz do Iguaçu, PR; 2005
164 • SEM MEDO DA MORTE

11. Vieira, Waldo; Nossa Evolução; 168 p.; 15 caps.; Instituto


Internacional de Projeciologia e Conscienciologia; 1ª Ed.; Rio
de janeiro, RJ; 1996
12. Weiss, M.D., Brian L.; Muitas Vidas Muitos Mestres; 185 p.;
trad. Talita M. Rodrigues; Sextante; 37ª Ed.; Rio de Janeiro.
RJ; 1998
13. Idem; Só o Amor é Real – Uma História de Almas Gêmeas
que Voltam a se Unir; 206 p.; trad. Roberto Raposo; Sala-
mandra; 7ª Ed.; Rio de Janeiro, RJ;1996
165

FILMOGRAFIA

Aqui estão os filmes relacionados no texto e mais alguns.


Eles representam os que mais gostei e têm relação direta
com a vida depois da morte . Deixei de fora os filmes do
gênero terror.

Além da Eternidade (“Always”); EUA – 1989; Diretor:


Steven Spielberg.
Amor Além da Vida (“What Dreams May Come”); EUA-
1998; Diretor: Glenn Jordan.
Casa dos Espíritos, A (“The House fo the Spirits”); EUA –
1993; Diretor Bille August.
Ghost – do Outro Lado da Vida (“Ghost”); EUA – 1990;
Diretor: Jerry Zucker
Morrendo e Aprendendo (“Heart and Souls”) ;EUA –
1993; Diretor: Ron Underwood.
Olhar na Escuridão, Um (“They/They Watch”); França/
EUA – 1993; Diretor John Korty.
Outros, Os (“The Others”); EUA – 2001; Diretor:
Alejandro Amenabar.
Passageiros (“Passengers”) ; EUA – 2008; Direção: Rodrigo
García.
Salvo pela Luz (“Saved by the Light”; EUA – 1995; Diretor:
Lewis Teague.
166 • SEM MEDO DA MORTE

Sexto Sentido (“The Sixth Sense”); EUA – 1999; Diretor:


M. Night Shyamalan.
Simples Formalidade, Uma (“Una Pura Formalitá”); ITA/
FRA – 1993; Diretor: Giuseppe Tornatore.
Terceiro Olho, O (“The I Inside”); Inglaterra/EUA – 2003;
Diretor Roland Suso Richter
Último Pedido, O (“Scattering Dad”); EUA – 1998;
Diretor; Dennis C. Lewiston.
167

ÍNDICE REMISSIVO

A Auto-herança paragenética, 182


Autoassédio, 180
Abertismo, 72 Autocompreensão, 44
Acidente(s), 35, 126 Autoconsciencialidade, 180
de percurso, 115 Autoconscienciometria, 180
Acolhimento, 103 Autoconsciencioterapia, 181
Acupuntura, 61 Autocura, 181
Adrenalina, 115 Autodefesa energética, 148,
Alma, 54, 59 181
Amparador(es), 70, 74, 103, Autodesassédio, 181
104, 111, 112, 115, 178 Autodiscernimento
Amparo, 48 evolutivo, 84
Androssoma, 179 Autoenfrentamento, 11
Antepassado de si mesmo, Autoevolução, 181
179 Autoexemplo, 24
Anticosmoética, 179 Autoimagem, 16
Aparência Autoperdão, 44
boa, 149 Autopesquisa, 19
extrafísica, 68 Autopiedade, 26
Apego(s), 98 Autossuperação, 151
ao mundo físico, 107 de traumas, 156
Assediador(es), 79, 179 Autotransfiguração, 78
Assedialidade, 180
Assistência, 58 B
aos que dessomaram, 140 Biologia, 12
energética, 59 Bloqueios, 63
Atenção, 130 Bonecas russas (matrioskas),
saltuária, 130 57
Atributos do psicossoma, 140 Buhlman, 102
168 • SEM MEDO DA MORTE

C Corpo(s), 55, 57, 58, 59, 61,


67, 161
Canela (RS), 14 das emoções (psicossoma),
Capacidades, 160 55, 59 , 60, 87
Celular, 138 descarte do, 108
Cemitério, 92 das ideias, 61
Cérebro, 55, 105 decomposição do, 92
Cerimonial, 141 energético(energossoma),
Céticos, 26 55, 60, 61, 107, 108, 115
Chacras, 61, 63, 64 físico (soma), 54, 55, 59, 60,
Cheiro, 42 64, 65, 67, 69, 71, 83, 87,
Ciência convencional, 95 97, 99, 161
Clarividência, 143 uso inadequado do, 85
Coincidências, 126 humano, 60, 106
Condicionamento(s), 103, separação do, 102
136, 137 mental, 55, 87, 108
Conflito, 44 Cremação, 92, 93, 108
Conhecimento, 20 Crematórios, 141
Consciência, 53, 54, 55, 61, Crença(s), 72
63, 97, 98, 105, 161 pessoais, 103
assediadora, 79 religiosa(s), 32, 48
Conscienciologia, 12, 53, 54, Crianças gênios, 88
Crise(s), 19
65, 79, 95, 98, 101, 105,
de crescimento, 12, 18, 157
147, 155
de sofrimento, 18, 157
Conta corrente existencial, 89
existencial, 11
Continuidade da existência Critérios mínimos de morte,
após a morte, 48 94
Copérnico, 161 Cronologia, das, projeções, 131
Cordão Cuidados Paliativos, 98
de prata, 55, 67, 95, 97, Cultura(s), 12, 45, 95
101, 136 da doença, 41
ruptura do, 97 inútil, 84
umbilical, 106 Curitiba, 145
SEM MEDO DA MORTE • 169
Curso, 52 Dor, 20, 25, 102, 159
de Conscienciologia, 76, 147 ausência de, 102
de Projeciologia, 50
E
intermissivo, 115, 116
Efeito dominó, 64
D
Egocarma, 156
Decúbito dorsal, 72 Emoção(ões), 60, 67, 79, 90
Derek Doyle, 98 Encontros, 90
Desapego, 41, 122, 123 Energia(s), 25, 61, 64, 107,
aos bens materiais, 122 146, 148, 149
Descarte do corpo físico, 106 consciencial(ais), 79, 97, 148
Descoincidência vígil, 71 doação de, 58
Despedida, 147 dos locais, 149
Dessoma (ver: Morte) vitais, 101
Deus, 103 Energossoma (ver: Corpo
Diário de projeções, 69 energético)
Dimensão(ões), 16, 19, 57, Ensaio para a morte
biológica, 97
67, 70, 71, 74, 78, 83,
Enterros, 141
115, 150
Epicteto, 22
extrafísica, 17, 43, 59, 67,
EQM - Experiência da Quase-
73, 78, 81, 95, 104, 115,
-Morte, 99, 100, 101,
116, 130, 136, 150 102, 103, 104, 105, 125
física, 17, 74, 136 interpretação da, 103
interligações entre as, 114 Era Medieval, 161
intrafísica, 59, 122 Erro de interpretação, 58
material ou física, 55 Escala evolutiva, 85
múltiplas, 111 Escolhas, 11
Dinheiro, 31 Espírito, 59
Doação de energias, 70 Essência multiexistencial e
Doença, 63 multidimensional, 97
Domínio Eugene Bouchut, 95
da vontade, 149 EV - Estado Vibracional, 58,
energético, 146, 147 147, 148, 150
170 • SEM MEDO DA MORTE

Evocação, 67, 75, 159 G


Evolução, 98
Galileu Galilei, 161
da consciência, 154
do homem, 29 Gênios, 88
Exercícios bioenergéticos, 154 Grécia antiga, 22
Experiência(s), 40 Grupo, 86
com a proximidade da H
morte, 26
da morte, 23 Hidrólise alcalina, 92
fora do corpo, 111 Higiene, 106
multidimensionais, 20 Hipótese, 119
múltiplas, 111 Histórias infantis, 13
novas, 20 Holossoma, 55
parapsíquicas, 12, 110 Homeopatas, 49
preparatórias, 121 Homeopatia, 61
projetivas, 59, 78
próxima da dessoma, 157 I
relacionadas à dessoma, 151 Ideia(s)
F de outras vidas, 89
inatas, 52, 85, 151
Fantasias, 130 Imaginação, 130
Fantasma, 59 Informação útil, 84
Felicidade, 20, 29, 30, 31 Intenções, 59
Fenômenos parapsíquicos, 21 Interassistência, 24
Ferrater Mora, 22 Interassistencialidade, 153
Filmes, 87, 110, 111 Interligação
Filosofia, 22 passado x presente, 40
Fluxo do cosmos, 24 Interprisões, 154
Forma física, 75 Interrogações filosóficas, 22
Foz do Iguaçu, 144 Itaipu, 144
Freeze-dry, 93
Fugas energéticas, 63 J
Futuro, 90 Juízo Final, 47
SEM MEDO DA MORTE • 171
L perda do, 40
Melancolia, 29
Lastro de energia vital, 107
Membrana, 102
Lei da afinidade, 30
Memória integral, 73, 88, 160
Leitura das energias, 149
Mentalsoma, 60, 61, 63
Liberdade, 20, 40, 76
Modelo mental, 20, 49, 63
Libertação, 89
Montaine, 22
Ligações energéticas com o
Morfopensenes, 130
corpo físico, 43
Livro(s), 14, 15, 18, 86 Morte, 12, 19, 20, 23, 35, 48,
Lucidez, 68, 69, 74 87, 94, 99, 106, 160 114,
Luto, 154 115, 116, 118, 119
biológica, 67
M boa, 98
Mágoa, 45 conceito de, 95
Marca-passo, 138 do ponto de vista da
Martin Luther King Jr., 19 Conscienciologia, 95, 98
Matéria, 57 fase preparatória para a, 115
Maturidade, 73, 74, 84, 116 meditação sobre a, 22
MBE - Mobilização Básica momento da, 110
de Energias, 147 paradoxalidade da, 25
Mecanismo(s) pré-programação para, 38
evolutivo, 39, 40 preparação para a, 114, 117
de defesa, 32 primeira, 106, 115
Medicina, 64 segunda, 106, 107, 115
Medo(s), 20, 65, 84 significado da, 161
da finitude, 20 Multiveicularidade, 55
da morte, 19, 22
N
razão mais profunda
do, 97 Nascimento, 106
de escrever, 156
O
de falar em público, 156
de sofrer dor, 20 ONGs, 24
dominar o, 20 Onirismo, 78, 120
172 • SEM MEDO DA MORTE

Oportunidades de Porto Alegre (RS), 14, 50


aprendizado, 34 Preconceito, 93
Orientador evolutivo, 38, 83, Premissas, 72
107 Preocupações, 67
Os Sofrimentos do Jovem Preparativos para a vida
Werther (romance), 86 futura, 91
Preparo
P
extrafísico, 122
Parada das funções intrafísico, 122
encefálicas, 95 Princípio da descrença, 105
Paradigma, 51 Priorização da evolução, 85
consciencial, 12, 15 Procedência, 118
Paradoxo, 54 Processo evolutivo, 60
Paralelidade, 115 Prognósticos, 90
Paraolhos, 135 Programação, 79, 83, 85
Parapsicose pós-morte, 132 compulsória, 84
Parapsiquismo, 149, 154 da próxima vida, 90
Passo Fundo (RS), 14 de vida, 38
Patologias da sociedade, 84 existencial, 26
Pensamentos, 90 voltada ao grupo, 86
Pensene (pensamento, Projeção(ões) da consciência,
sentimento e energia) 29, 46, 65, 67, 74, 99, 80,
30, 67 129, 131, 136, 140, 154,
Pequenos atos, 87 155
Perda, 26, 152 de mentalsoma, 63
Período entre as vidas, 84 lúcida, 68
Perispírito, 59 não rememoradas, 126
Planejamento da próxima preparatória, 125
vida, 84 retrocognitivas, 154
Planos de vida, 116 semiconsciente, 69, 119, 120
Poder utilidades da, 140
da mente, 65 Projeciologia, 50, 53
de conhecer, 13 Psicanalistas, 49
SEM MEDO DA MORTE • 173
Psicodrama Resiliência, 24
Psicodrama(s), 120 Respiração, 98
extrafísico(s), 118, 119 Responsabilidade, 87, 89
Psicólogos, 49 Ressoma(s), 115
Psicometria, 149 compulsórias, 116
Psicossoma, 55, 59, 68, 69, 71, Restringimento produzido
98, 103, 106, 108, 136, pelo corpo físico, 73
160 Retrocognições, 154
Psiquiatras, 49 Revisão retrospectiva, 103
Putrefação, 94 Rio Guaíba, 128
R Risco, 115
Rompimento
Rabos presos, 154 do cordão de prata, 106
Rastros, 90 do cordão umbilical, 106
Raymond Moody, 100, 101,
104 S
Realidade, 71 Saída(s) do corpo, 46, 71
consciencial, 161 lúcida, 70
multidimensional, 111 por afundamento, 72
Reciclagem, 18 Sam Parnia, 104
íntima, 23 Santa Rosa, 128
Reencontro com grupo de Sensação
afinidade, 161 de queda brusca, 75
Reflexologia, 61 do túnel, 102
Regressão, 43 Senso crítico, 72
a Vidas Passadas, 46 Sentimentos, 19, 60
Reiki, 61 desequilibrados, 63
Relacionamentos, 154 negativos, 59
Religião(ões), 12, 33 verdadeiros, 59
Relógio digital, 70 Seres espirituais, 103
Relutância em regressar Séries de vidas, 154
à vida, 104 Significado da morte e da
Renascimento, 85 vida, 161
174 • SEM MEDO DA MORTE

Sinceridade, 59 Terapia(s), 60
Sincronicidade(s), 24, 46, 47, de vidas passadas, 43, 46
49, 126, 145 Terceira morte, 108
Sofrimento, 109 Terra, 161
Solidariedade, 109 Textos bíblicos, 47
Soltura dos corpos, 144 TPM, 146, 147
Soma, 55, 69, 114 Tratado de Projeciologia, 53
desativação do, 97 Trauma, 45
Sonâmbulos, 68 Travessa da Paz, 50
Tríade Bouchut, 95
Sonho(s), 49, 51, 52, 69, 73,
Túnel, 102
78
lúcido, 69, 119, 120 V
Sono, 67, 71, 97
Valorização da vida na Terra,
Sons intracranianos, 72 161
Suicídio, 44, 87 Vazio existencial, 29
Superação, 158 Veículos de manifestação da
Superação(ões), 19 consciência, 55, 57, 60,
T 61, 63, 67, 70, 71, 95, 97,
114
Talento(s), 85, 88 separando os, 65
Tarefas para a próxima vida, Vida(s), 17, 55
83 além da matéria, 17
Técnica(s), 61 depois da morte, 26, 34, 101
de verificação da morte, 94 extrafísica, 159
preparatórias para a ressoma, finalidade da, 27, 28
84 história sobre a, 19
Tecnologia(s), 93, 95 mecanismo da, 30
Telepatia, 76, 77, 160 norma da, 153
Televisão, 21 passada(s), 43, 46
Tenepes - Tarefa Energética terapia de, 43, 45
Pessoal, 70 propósito da, 38
Terapeuta de vidas passadas, sentido da, 11, 19, 23, 30,
46 31, 34, 155, 156
SEM MEDO DA MORTE • 175
significado da, 161 W
valorização da, 12
Waldo Vieira, 53, 69, 151
Vigília física ordinária, 58 William Buhlman, 57
Visão de mundo, 12 Wolfgang Goethe, 86
Vitimização, 151
Volitação, 69, 129, 140 Z
Volta ao corpo, 69 Zona de conforto, 11
Vontade, 69 Zumbidos nos ouvidos, 101
176

INSTITUIÇÕES
CONSCIENCIOCÊNTRICAS (ICS)

ICs. As Instituições Conscienciocêntricas – ICs – são


organizações cujos objetivos, metodologias de trabalho
e modelos organizacionais estão fundamentados no Paradigma
Consciencial. Sua atividade principal é apoiar a evolução
das consciências através da tarefa do esclarecimento pautada
pelas verdades relativas de ponta, encontradas nas pesquisas
no campo da ciência Conscienciologia e suas especialidades.
Voluntariado. Todas as Instituições Conscienciocên-
tricas são associações independentes, de caráter privado, sem
fins de lucro e mantidas predominantemente pelo trabalho
voluntário de professores, pesquisadores, administradores e
profissionais de diversas áreas.
CCCI. O conjunto das Instituições Conscienciocên-
tricas e dos voluntários da Conscienciologia no planeta
compõem a Comunidade Conscienciológica Cosmoética Inter-
nacional – CCCI – formada atualmente por 17 ICs, inclu-
indo a União das Instituições Conscienciocêntricas Interna-
cionais – UNICIN.

AIEC – Associação Internacional para Expansão da


Conscienciologia
Fundação: 22/04/2005
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 111, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1411
Site: www.worldaiec.org
Contato: aiec.comunicacao@gmail.com
SEM MEDO DA MORTE • 177
APEX – Associação Internacional da Programação Existencial
Fundação: 20/02/2007
Sede: Rua da Cosmoética, 1.511, Cognópolis – Caixa Postal
921, Centro, CEP 85851-000, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 3525-2652 – Fax: (45) 3525-5511
Site: www.apexinternacional.org
Contato: contato@apexinternacional.org

ARACÊ – Associação Internacional para Evolução da


Consciência
Fundação: 14/04/2001
Sede: Rua Goiás, 28, Vila da Mata, CEP: 29375-000, Caixa
Postal 16, Venda Nova do Imigrante, Espírito Santo, Brasil
Representação: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 102,
Cognópolis – 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1410 VOIP: (11) 3522-9190
Site: www.arace.com.br
Contato: associacao@arace.com.br

ASSINVÉXIS – Associação Internacional para a Inversão


Existencial
Fundação: 22/07/2004
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 106, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1406
Site: www.assinvexis.org
Contato: contato@assinvexis.org

ASSIPEC – Associação Internacional de Pesquisas da


Conscienciologia
Fundação: IC apresentada oficialmente na Tertúlia
Conscienciológica do dia 14/08/2011.
Sede: Rua XV de Novembro, 1681 – Vila Municipal –
CEP 13201-006 – Jundiaí, São Paulo, Brasil
Tel.: (11) 4521-8541
Site: www.assipec.org
Contato: assipec@assipec.org
178 • SEM MEDO DA MORTE

CEAEC – Associação Internacional do Centro de Altos Estudos


da Conscienciologia
Fundação: 15/07/1995
Sede: Rua da Cosmoética, 1.511, Cognópolis – Caixa Postal
921, Centro, CEP 85851-000, Foz do Iguaçu, Paraná,
Brasil
Tel.: (45) 3525-2652 – Fax: (45) 3525-5511
Site: www.ceaec.org
Contato: ceaec@ceaec.org

COMUNICONS – Associação Internacional de Comunicação


Conscienciológica
Fundação: 24/07/2005
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 206, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1409
Site: www.comunicons.org.br
Contato: comunicons@comunicons.org

CONSCIUS – Associação Internacional de Conscienciometria


Fundação: 24/02/2006
Sede: Rua da Cosmoética, 1.511, Cognópolis – Caixa Postal
921, Centro, CEP 85851-000, Foz do Iguaçu, Paraná,
Brasil
Tel.: (45) 3525-2652 – Fax: (45) 3525-5511
Site: www.conscius.org.br
Contato: conscius@conscius.org.br

DISCERNIMENTUM – Pólo Conscienciocêntrico


Discernimentum
Fundação: 14/10/2007
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 201, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1400
Contato: contato@discernimentum.org
SEM MEDO DA MORTE • 179
EDITARES – Associação Internacional Editares
Fundação: 23/10/2004
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 107, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1407 VOIP: (45) 4053-9538
Site: www.editares.org
Shopcons: www.shopcons.com.br (portal de compra de livros)
Contato: editares@editares.org

EVOLUCIN – Associação Internacional de Conscienciologia


para Infância
Fundação: 09/07/2006
Sede: R. Barão do Triunfo, 419, sala 302 – CEP 90130-
101 – Porto Alegre, RS
Representação: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 102,
Cognópolis – CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná,
Brasil
Tel.: (51) 3012-2562
Site: www.evolucin.org
Contato: evolucin@gmail.com

IAC – International Academy of Consciouness


Fundação: 28/10/2000
Sede: Campus IAC, EN18, Km 236 – Herdade da
Marmeleira – CEP 7100-300, Evoramonte, Portugal
Representação no Brasil: Av. Felipe Wandscheer, 5.100,
sala 204, Cognópolis – 85856-530 – Foz do Iguaçu,
Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1424
Site: www.iacworld.org
Contato: A/C de Verónica Serrano
veronica.serrano@iacworld.org ou brasil@iacworld.org
180 • SEM MEDO DA MORTE

IIPC – Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia


Fundação: 16/01/1988
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 103, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1448
Site: www.iipc.org.br
Contato: iipc@iipc.org.br

INTERCAMPI – Associação Internacional dos Campi de


Pesquisas da Conscienciologia
Fundação: 23/07/2005
Sede: Av. Antonio Basílio, 3006, sala 602, Lagoa Nova,
Natal / RN
Representação: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 102,
Cognópolis – CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (84) 3211-3126
Contato: A/C de Rute Pinheiro –
rutepinheiro@digizap.com.br

OIC – Organização Internacional de Consciencioterapia


Fundação: 06/09/2003
Campus: Av. Felipe Wandscheer, 5.935, Cognópolis –
CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 3025-1404 / 2102-1402
Site: www.oic.org.br
Contato: aco@oic.org.br

REAPRENDENTIA – Associação Internacional de


Parapedagogia e Reeducação Consciencial
Fundação: 21/10/2007
Sede: Rua da Cosmoética, 1.511, Cognópolis – Caixa Postal
921, Centro, CEP 85851-000, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 3525-2652 – Fax: (45) 3525-5511
Site: www.reaprendentia.org Contato:
contato@reaprendentia.org.br
SEM MEDO DA MORTE • 181
RECONSCIENTIA – Associação Internacional de
Pesquisologia para Megaconscientização
Fundação: 02/07/2011
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 104, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 9993-2000
Contato: pesquisologia@gmail.com

UNICIN – União das Instituições Conscienciocêntricas


Internacionais
Fundação: 22/01/2005
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 105, Cognópolis
– CEP 85856-530 – Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
Tel.: (45) 2102-1405
Site: www.unicin.org
Contato: unicin@unicin.org

UNIESCON – União Internacional de Escritores da


Conscienciologia
Fundação: 23/11/2008
Sede: Av. Felipe Wandscheer, 5.100, sala 109, Cognópolis
– Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil – CEP: 85856-530
Site: www.uniescon.org
Contato: uniescon@uniescon.org
182 • SEM MEDO DA MORTE

ÁREA DE PESQUISA:

DESSOMÁTICA,
ESPECIALIDADE DA CONSCIENCIOLOGIA.

PRINCÍPIO DA DESCRENÇA:
NÃO ACREDITE EM NADA, NEM MESMO
NAS INFORMAÇÕES EXPOSTAS NESTE
LIVRO, O INTELIGENTE É FAZER
PESQUISAS PESSOAIS SOBRE O TEMA.

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